sexta-feira, 26 de julho de 2013

UMA INVERSÃO QUE ALIMENTA A VIOLÊNCIA

A morte de um jovem é lamentável em qualquer circunstância. Ela foge da ordem cronológica da vida, interrompe fases, sonhos e aspirações e, por isso mesmo, provoca mais sofrimento entre os familiares, amigos e colegas. Quando a perda de vida é por violência, em especial assassinato, à dor soma-se a revolta, a indignação e o desejo irremovível de punição aos responsáveis.
O Mapa da Violência 2013, divulgado na semana passada pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), mostra que os homicídios de jovens brasileiros cresceram 326% entre 1980 e 2011. Revela ainda que o Brasil está em sétimo lugar no ranking mundial de assassinatos, uma posição muito desconfortável. E que os negros são maioria entre as vítimas – uma discriminação gestada pelo ambiente de desigualdades que o país conserva?
Os dados impressionam. Mas tão ou mais preocupante é o conteúdo de depoimento do responsável pelo estudo, Julio Jacobo Waiselfisz. Segundo ele, há no país a tendência de se culpar as vítimas de homicídio, o que acaba se tornando um grande entrave para combater a violência. Essa inversão, que com frequência se transforma em perversidade, acaba estimulando a tolerância aos crimes praticados contra grupos mais vulneráveis, justamente aqueles que deveriam ter proteção ampliada pelo Estado. Existe ainda um agravante: isso não ocorre apenas com crianças e jovens marginalizados, mas em geral.
Na pratica, isso significa que quem deveria combater a violência tenta justificá-la com a incriminação da vítima. Esse comportamento, reflexo de uma forma equivocada de encarar a realidade, é um atalho para a inação, um desvio para a omissão. Ou, como alegam especialistas, uma relevante contribuição para que a violência continue crescendo, ceifando vidas, produzindo injustiças e espalhando sofrimento.

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