segunda-feira, 30 de junho de 2014

PARA PENSAR: O CRIADOR E A SEMENTE.

Muito se fala, nestes tempos novos, de busca de raízes. Raízes familiares, religiosas e culturais. É a busca de fundamentos que deem sustento ao momento presente. No meio dessa conversa e busca surge uma questão. As raízes são importantes, mas há algo mais importante que as raízes.
Sim, as sementes são mais importantes que as raízes. A raiz é fruto e consequência de uma semente lançada e cultivada. Ter, plantar e cuidar da semente é o que importa. Ela guarda dentro de si o segredo do futuro. O segredo da vida. Porém, a semente me levou a dar mais um passo.
A terra é mais importante que a semente. Não existisse a terra de que valeriam as sementes? Não teriam lugar para germinar. Não teriam a umidade e o calor, o aconchego e o alimento da terra. Por isso a terra é chamada de mãe e irmã. É mãe porque gera, cria, sustenta e governa. Mas, a terra me lembrou outra realidade.
O semeador é mais importante que a terra. Não houvesse o semeador pouco valor teria a terra. Poderia ser ela bem cuidada, terra boa, mas se não houvesse o semeador que lançasse ali a semente, ela teria pouco valor. Seria simplesmente estéril. Porém, o semeador sem a semente não teria função e valor.
Voltamos novamente à semente. Ela é a fonte da vida. Tudo é consequência de uma semente. Tanto a vida da terra como a vida humana. A criatura humana é fruto da semente colocada no coração da mãe. É no interior de cada semente que está o mistério da vida. Vida que permanece no silêncio por anos e anos, até encontrar ambiente para desabrochar. Mas a semente não fica fechada em si mesma. Ela nos diz: a vida em mim nasce de outra fonte de vida. Entra em cena o Criador da semente.
O Criador é mais importante do que a raiz, mais importante que a semente, mais importante que a terra e o semeador. Deus é o grande celeiro de todas as sementes. Não há vida que não nasça de sua vida. Todas as sementes têm nele origem. Em cada semente há uma semente de Deus. O cientista, que pode ser descrente de Deus, vendo as grandes realidades do dia a dia da vida, necessariamente deve ajoelhar-se diante da semente do código genético, diante do DNA e de tantos outros segredos da vida, onde a ciência chega, e ali para. Feliz a pessoa que, parando diante do mistério da vida tem a humildade de confessar: eu creio. Tem a humildade de ajoelhar-se e declarar-se simples criatura, maravilhosa obra do Criador. O grande gesto de humildade de todo homem e mulher é saber declarar-se criatura, dependente do Criador. O mal e a desordem entraram no mundo e no coração do homem, no momento em que este declarou sua independência. No momento em que a criatura humana se fechou em si mesma, em sua autossuficiência. E o pecado que está na origem de toda criatura humana nada mais é do que essa permanente tendência de declarar-se o deus de si mesmo e de seus atos. Até que não nascer no coração das pessoas o gesto de humildade de declarar-se criatura e dependente de Criador, nada mudará em nossa sociedade.

domingo, 29 de junho de 2014

TÉCNICO É TÉCNICO, PROFESSOR É PROFESSOR, BOLA É BOLA.

Não sei de onde surgiu esta mania dos jogadores nativos de chamarem seus técnicos de "professores". Professores de quê? Técnico é técnico, professor é professor e bola é bola. Não é preciso reinventar a roda nem fazer mídia training e ficar falando difícil para montar um time competitivo que jogue para ganhar e não para não perder, e garantir assim o emprego do treinador. Mano Menezes, por exemplo, esteve dois anos à frente da seleção brasileira, convocou mais de 100 jogadores e nunca conseguiu montar um time.

Ao assumir seu lugar, em poucas semanas Felipão escalou sua seleção, que conquistou a Copa das Confederações e, com mudanças pontuais, está aí até hoje, com grandes chances de conquistar mais uma Copa. Já na reta final do primeiro turno do Brasileirão, os "professores" dos grandes times continuam escalando um time diferente a cada jogo, em busca da "formação ideal". O problema não está apenas em quem escalar, mas na mentalidade reinante na direção de todos os clubes que pagam fortunas para seus técnicos e se curvam diante de suas velhas idiossincrasias _ "o importante é não tomar gol" _ que cada vez mais afastam o público dos estádios e levam nossos melhores craques para fora do país.

Nem se trata de jogar feio ou bonito, dar ou não espetáculo, mas de ter fome de bola, jogar com garra, prazer e vergonha na cara, como têm demonstrado os jogadores desta Copa, incluindo os da seleção de Felipão. Está na hora dos milionários "professores" devolverem a alegria e a ousadia ao futebol brasileiro, soltando suas feras com um esquema tático bem definido antes de entrar em campo, em lugar de ficar gritando e xingando feito celerados à beira do gramado, durante todo o jogo.

Com a seleção erguendo ou não a taça, esta Copa pode ser um divisor de águas no futebol brasileiro. Um bom recomeço seria mandar nossos técnicos mais jovens fazerem um estágio lá fora, dispostos a aprender, deixando de lado as velhas certezas dos "professores", que estão levando os clubes à ruína. Faz muitos anos que são sempre os mesmos, revezando-se nos grandes clubes, incapazes de apresentar qualquer novidade a cada temporada.

Se os dirigentes do futebol brasileiro também são sempre os mesmos, fica difícil sair deste círculo de ferro, mas nunca é tarde.

Até a vitória, rapaziada!

sábado, 28 de junho de 2014

UMA CONSTATAÇÃO: DEUS ESTÁ DE VOLTA

A ideia da incompatibilidade de princípio da secularização com a religião entra decididamente em declínio. E os sintomas do que poderíamos chamar de uma volta de Deus aparecem como sinais visíveis de novos tempos. “Aquilo que muitos acreditavam que destruiria a religião - a tecnologia, a ciência, a democracia, a razão e os mercados -, tudo isso está se combinando para fazê-la ficar mais forte”, escreveram John Micklethwait e Adrian Wooldridge, jornalistas da revista britânica The Economist, no livro “God is back”. Para muitos e bem concretamente para os jovens, como diz o título do livro, Deus está de volta.
A recente reportagem de revista de grande circulação analisa a relação da juventude de hoje com a religião. E a conclusão não deixa de ser surpreendente: os jovens são religiosos. Não como seus pais ou avós, mas de outra maneira, própria, fazendo uma nova síntese entre a experiência da fé e sua expressão. E a internet é um dos recursos que mais intervêm na sede de transcendência do jovem que vai para diante do computador buscar interlocução para seus anseios espirituais.
A modernidade, com efeito, significa uma humanização do divino, a ascensão irreversível da secularidade. Foi um extraordinário progresso para o espírito humano, porque permitiu ao homem, enfim, pensar por si mesmo. Mas a modernidade também comporta um movimento oposto, que eleva e diviniza o humano.
No entanto, hoje se percebe ser possível, também, nas entranhas da imanência - da razão, do conhecimento e da ciência - pensar algo que a transborda, que a extravasa e a faz autotranscender-se. A força motriz dessa nova transcendência é o amor, que leva os seres humanos a ultrapassar sua interioridade solitária para alcançar o Outro e com ele entrar em relação.
Tal experiência e tal atitude não significam o banimento da razão; ao contrário, dão à ciência estatuto pleno de cidadania quando se trata de pensar esse Deus que volta a ser elemento constitutivo do conhecimento e do pensar humanos. A constatação da volta de Deus traduz a certeza de que nenhuma sociedade pode sobreviver sem a religião, já que a maioria dos homens considera insatisfatórias as respostas dadas pela ciência às perguntas existenciais sobre a vida e a morte.
Como impulso utópico e como consciência vigilante dos limites, a fé e sua expressão religiosa têm hoje um lugar assegurado na sociedade do conhecimento e na comunidade científica. Deus está de volta e muito concretamente ali onde menos se esperava que estivesse: entre as novas gerações, filhas da ciência e da técnica.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

TEM CARRO DE MAIS

O excessivo conforto gera o desconforto. Há pessoas que possuem tanto que nem sabem onde guardar o que amontoaram. Dinheiro demais gera enormes pepinos com o fisco e com os ladrões. Carros demais nas ruas e avenidas tornam a cidade mais lenta e mais irada.
As ruas de algumas cidades brasileiras mostram riqueza e desconforto. Quando um carro para cinco pessoas leva apenas o motorista, pode-se apostar que há carro demais nas ruas. Todo mundo sabe disso, mas poucos aceitam ir de metrô ou em coletivos para o trabalho. O carro que seria bom para o fim de semana vai ocupar uma garagem a preços nada convidativos e, duas vezes por dia, engarrafar a vida da cidade.
Mudaremos de hábito? As chances são pequenas. O mais provável e que assim prosseguiremos até quando não for mais possível usar o carro, porque as prefeituras, duas vezes por semana proibirão o seu uso, cobrarão pedágio para entrar em determinadas áreas, os estacionamentos custarão mais caro e as taxas ficarão cada dia mais extorsivas.
Um casal de amigos meus, em Munique, levou-me a conhecer a cidade por ônibus e metrô. Foi um passeio inesquecível. Por que não o fazemos aqui? Por uma triste razão: o Brasil chegou tarde e está em débito no quesito transportes. No dia em que ter carro em cidades grandes do Brasil não for mais questão de sobrevivência do emprego, talvez nossas ruas voltem a ser transitáveis. Mas a culpa é menos do usuário do que dos governantes. Adiaram demais o inadiável e como sempre, mais do que dinheiro, faltou vontade política.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O CÉU COMEÇA AQUI E AGORA.

A palavra amar, por si mesma, não diz nada. Quem diz que ama todo mundo, na verdade, não ama ninguém. O mesmo acontece com o amor universal, a fraternidade universal, a paz universal. Diz tudo e não diz nada. Um dia o mestre Jesus falava bonito do amor ao povo. Tentou resumir através da célebre frase: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Percebeu que as pessoas não o entendiam. Contou uma história. É a história do samaritano. Uma pessoa foi assaltada. Necessitava de ajuda. Passou um sacerdote da época e nada fez. Passou um político e nada fez. Passou um desempregado e estrangeiro no mesmo caminho, parou, ajuntou o assaltado e levou-o a um pronto-socorro e disse: “Cuidem dele! Na volta pagarei as despesas”. Todos entenderam o mestre Jesus. Aprenderam que amar é relacionar-se. Não é passar longe, mas chegar, tocar, abraçar e ajudar.Amar é relacionar-se em família. Sem usar a expressão “amor familiar”, que nada diz. Mas exercitando o amor no dia a dia, no abraço de pais e filhos, de esposo e esposa. No bom-dia, boa-noite e volto já. Viver em família é relacionar-se, é exercitar um gesto preguiçoso e bonito de sentar-se junto. De conversar os fatos. De planejar o hoje e o amanhã. De decidir a vida juntos, eliminando a dominação e a superioridade.
Amar é relacionar-se no dia a dia do trabalho. Se o trabalho não toma o jeito de relacionamento, se torna dominação, escravidão. O gesto do trabalho, além de criar relações com os companheiros, se projeta em muitas pessoas que recebem a consequência do trabalho. É como um gesto que estou fazendo: eu escrevo e você lê. Criamos um relacionamento.
Amar é relacionar-se em comunidade, em grupo, em sociedade. A maneira de relacionar-se é aceitar e exercitar um serviço, tanto profissional como voluntário. A pessoa que se fecha em si mesma está se auto destruindo. A pessoa que vive em condições de relacionamento está realizando seu destino.
Amar é relacionar-se para antecipar o céu. Há pessoas que se acham super espirituais, porque rezam muito, leem a Bíblia e conversam muito de Deus. Porém, essas pessoas vivem fechadas em si mesmas, tristes e lamentando seu destino. Complicam seu relacionamento quando se tornam línguas cortantes das atitudes dos parentes, vizinhos e conhecidos.
O céu começa aqui e agora, em cada atitude que cria relacionamento. Céu é relacionamento. Deus é relacionamento. Morrer é abri-se para um relacionamento total, que antes meu corpo impedira. Morrer é abraçar os céus e a terra. É abraçar todas as pessoas que buscaram comigo o mesmo relacionamento. É a festa do abraço com todos os salvos, com o universo, com os pássaros de todos os voos, com o jardim de todas as flores e com os frutos de todos os sabores. O universo com seu Senhor será a festa do relacionamento e do abraço, onde seremos tudo em todos, onde se realizará a profecia do “novo céu e nova terra”.

terça-feira, 24 de junho de 2014

A PREOCUPANTE HISTÓRIA DE UM ASTRO IRREAL.

Com todo respeito ao sofrimento de quem estava doente há tanto tempo e morreu em deplorável situação de debilitamento físico, pesando 51 quilos e com vários ossos quebrados, Michael Jackson parece mais fictício do que real. A fantasia sempre imperou sobre a realidade na vida deste menino pobre, o sétimo dos nove filhos de uma obscura família de Gary, Indiana, cujo pai era testemunha de Jeová e dava aos filhos rígida educação.
O talento dos rebentos, que faziam música sem sua permissão, foi um dia descoberto pelo severo patriarca Joseph. Ele percebeu que ali estava o segredo que o tiraria da pobreza. Mudou-se, para a Califórnia, onde primeiramente Michael começou a cantar num conjunto com os outros irmãos, o famoso Jackson Five, até iniciar, em 1971, a carreira solo que o transformaria num astro pop.
A partir daí, a vida de Michael Jackson foi marcada por um constante paradoxo entre uma história de sucesso entremeada com escândalos, anomalias, dramas e tragédias. Acusações de abuso sexual, operações várias para corrigir problemas de uma saúde frágil, transformações faciais e corporais, misturavam-se com milhões e milhões de cópias de discos vendidos, fãs se descabelando e gritando seu nome, querendo tocá-lo, imitando seu jeito de dançar, dando aos filhos seu nome.
Ao mesmo tempo em que fazia vultosas doações para entidades filantrópicas, Michael Jackson vivia em litígio com a justiça por acusações de abuso sexual, pedofilia, evasão de divisas, sonegação de impostos. Impossível esquecer a imagem terrível do cantor em delírio absoluto, balançando o filho recém nascido para fora da janela do alto do hotel onde se encontrava hospedado em Berlim, em 2002. Provocou terror no mundo inteiro e as acusações de abuso sexual recrudesceram fortemente.
A morte do cantor ganhou as manchetes do mundo inteiro. Sua saúde física parecia decair no mesmo ritmo vertiginoso que a saúde mental. A estrela do astro pop, que brilhava há tantos anos, decaía e empalidecia, enquanto sua vida ia se esboroando, assim como suas finanças. Morreu endividado, destruído fisicamente pela dependência química, pela insanidade mental, de forma melancólica.
Acima de tudo, Michael Jackson passou pela vida com ar de faz de conta. Parecia não ser de verdade aquele superstar que à medida que ganhava mais visibilidade semeava a dúvida sobre se era homem ou mulher, negro ou branco, caritativo ou desonesto, pai amoroso ou pedófilo cruel. Nada nele parecia real. E sua morte comprova essa aura de ficção quando, ao mesmo tempo em que ganha as páginas dos jornais, é objeto de declarações sobre casamentos não consumados, seguros milionários forjados de última hora, filhos assumidos como seus, mas de duvidosa paternidade.
E, no entanto, fãs do mundo inteiro declaram-lhe sua eterna saudade, desejam ser seus seguidores, dançam uma e outra vez o passo da lua, o célebre “moonwalk” que o imortalizou e sublinhava seu estilo light, juntamente com sua voz andrógina e inclassificável. Mais ainda: há informações de que o Rio de Janeiro erguerá uma estátua em sua homenagem no Morro Santa Marta, onde ele gravou um vídeo clipe em 1996.
Parece-me um tanto preocupante essa idolatria de um astro irreal, que não pisa no chão e dança lunaticamente. E propõe um modelo de humanidade que não possui consistência e carece de realidade. Por que nos repugna tanto voltar o olhar para os paradigmas reais, os heróis de verdade, que a cada dia arriscam a vida para salvar a de outros?
Que Michael Jackson descanse em paz. Certamente agora terá se defrontado com a verdade sobre si mesmo e sobre a vida. E que nós possamos descobrir modelos e paradigmas mais nobres e consistentes para inspirar nossa vida e nossa conduta. Para que não nos tornemos, nós também, seres de faz de conta.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A EXTINÇÃO DO SER HUMANO, DEVIDO A POBREZA E VIOLÊNCIA É O NOSSO MAIOR PERIGO.

Ecologia vem do grego “oikos”, casa, e “logos”, conhecimento. Portanto, é a ciência que estuda as condições da natureza e as relações entre tudo que existe - pois tudo que existe coexiste, pré-existe e subsiste. A ecologia trata, pois, das conexões entre os organismos vivos, como plantas e animais (incluindo homens e mulheres), e o seu meio ambiente.
Talvez fosse mais correto, embora não tão apropriado, falar em ecobionomia. Biologia é a ciência do conhecimento da vida. Ecologia é mais do que o conhecimento da casa em que vivemos, o planeta. Assim como economia significa ‘administração da casa’, ecobionomia quer dizer ‘administração da vida na casa’. E vale chamar o meio ambiente de mãe ambiente, pois ele é o nosso solo, a nossa raiz, o nosso alimento. Dele viemos e para ele voltaremos.
Essa visão de interdependência entre todos os seres da natureza foi perdida pela modernidade. Nisso ajudou uma interpretação equivocada da Bíblia - a ideia de que Deus criou tudo e, por fim, entregou aos seres humanos para que “dominassem” a Terra. O domínio virou sinônimo de espoliação, estupro, exploração. Procurou-se arrancar do planeta o máximo de lucro. Os rios foram poluídos; os mares, contaminados; o ar que respiramos, envenenado.
Ora, não existe separação entre a natureza e os seres humanos. Somos seres naturais, porém humanos porque dotados de consciência e inteligência. E espirituais, porque abertos à comunhão de amor com o próximo e com Deus.
O Universo tem cerca de 14 bilhões de anos. O ser humano existe há apenas 2 milhões de anos. Isso significa que somos resultado da evolução do Universo que, como dizia Teilhard de Chardin, é movida por uma “energia divina”.
Antes do surgimento do homem e da mulher, o Universo era belo, porém cego. Um cego não pode contemplar a própria beleza. Quando surgimos, o Universo ganhou, em nós, mente e olhos para se olhar no espelho. Ao olharmos a natureza, é o Universo que se olha através de nossos olhos. E vê que é belo. Daí ser chamado de Cosmo. Palavra grega que dá também origem à palavra cosmético - aquilo que imprime beleza.
A Terra, agora, está poluída. E nós sofremos os efeitos de sua devastação, pois tudo que fazemos se reflete na Terra, e tudo que se passa na Terra se reflete em nós. Como dizia Gandhi, “a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade dos consumistas”. São os países ricos do Norte do mundo que mais contribuem para a contaminação do planeta. São responsáveis por 80% da contaminação, dos quais os EUA contribuem com 23% e insistem em não assinar o Protocolo de Kyoto.
“Quando a última árvore for derrubada - disse um índio dos EUA -, o último rio envenenado e o último peixe pescado, então vamos nos dar conta de que não podemos comer dinheiro”.
O maior problema ambiental, hoje, não é o ar poluído ou os mares sujos. É a ameaça de extinção da espécie humana, devido à pobreza e à violência. Salvar a Terra é libertar as pessoas de todas as situações de injustiça e opressão.
A Amazônia brasileira é um exemplo triste de agressão à mãe ambiente. No início do século XX, empresas enriqueceram com a exploração da borracha e deixaram por lá o rastro da miséria. Nos anos 1970, o bilionário americano Daniel Ludwig cercou um dos maiores latifúndios do mundo - 2 milhões de hectares - para explorar celulose e madeira, deixando-nos como herança terra devastada e solo esgotado virando deserto. É o que pretende repetir, agora, o agronegócio interessado em derrubar a floresta para plantar soja e criar gado.
A injustiça social produz desequilíbrio ambiental e isso gera injustiça social. Bem alertava Chico Mendes para a economia sustentável (isto é, capaz de não prejudicar as futuras gerações) e a ecologia centrada na vida digna dos povos da floresta.
A mística bíblica nos convida a contemplar toda a Criação como obra divina. Jesus nos mobiliza na luta a favor da vida - dos outros, da natureza, do planeta e do Universo. Dizem os Atos dos Apóstolos: “Ele não está longe de cada um de nós. Pois Nele vivemos, nos movemos e existimos. Somos da raça do próprio Deus”. Todo esse mundo é morada divina. Devemos ter uma relação de complementação com a natureza e com o próximo, dos quais dependemos para viver e ser felizes. Isso se chama amor.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A BUSCA DA FELICIDADE

Conceituar o que é família hoje é uma proposta muito complexa já que, apesar de se ter em mente família como sendo o pai, a mãe e os filhos (grupo primário, família nuclear), implica em dimensões bem mais abrangentes, incluindo o escalonamento de gerações além das influências sócio-culturais. É, então, o produto de uma multiplicidade de interações com vínculos de toda a ordem, os quais podem se romper na medida em que vivências mais satisfatórias ou não acontecem.
Este “fio” que une as pessoas e satisfaz as necessidades individuais, refletindo-se no grupo como um todo num processo recíproco de realimentação, é que fornece os elementos para a conceitualização do grupo familiar.
A ideia tradicional de família como um “navio no ancoradouro” firme, baseada em laços consanguíneos com linhagem a ser preservada, bem como preceitos e normas, está em antagonismo com as inovações da família reconstituída, com meio irmão, pai biológico, substituto, 1ª, 2ª, 3ª núpcias, par de gays e lésbicas etc.
Os vínculos se rompem mais facilmente e o processo de readaptação contínua vai acontecendo. Pode-se concluir, contudo, que a família hoje é um “navio andando” e que está procurando equilibrar-se na busca do estabelecimento de vínculos mais efetivos, que sejam capazes de atingir objetivos pessoais e sociais.
Mudanças - Se no século XIX, família era o núcleo onde a preservação da honra, da tradição, dos valores transmitidos através das gerações, deveria ser mantido, independente do “sacrifício” pessoal, hoje a busca da felicidade norteia a caminhada da constituição familiar. É evidente que o ser feliz, a busca do prazer, a fuga da dor fazem parte dos instintos básicos do homem. A família se organizou, através da história, procurando atender as demandas internas e externas, sob a liderança dos pais. Como esta autoridade foi exacerbada, linhas filosóficas e psicológicas de cunho religioso e social foram introduzidas ideologicamente mudando direitos e deveres.
O processo de democratização reforçou o direito dos mais favorecidos e a criança deixou de ser o adulto em miniatura. Aliado a isto, a ideia do “não reprima” porque pode dar problema culpabilizou demasiadamente os pais que, por sua vez, se sentem muito inseguros e sem referências pela ausência de modelos substitutos mais eficazes que possam contribuir de forma mais adequada na educação dos filhos.
Por outro lado, a revolução industrial que colocou a mulher no mercado de trabalho também dificultou a convivência mãe/filho, assim como relação esposo/esposa. Esta minimização relacional oriunda do enfraquecimento dos papeis parentais mais o tempo reduzido para o “estar com”, vem exigindo readaptações por demais complexas a serem cumpridas.
As demandas do mundo moderno criaram tantas necessidades, além das básicas já existentes, que a corrida contra o tempo ocasiona situações difíceis até para as crianças que tentam acompanhar os adultos muitas vezes com pesadas mochilas nas costas.
Perdeu-se o encanto de olhar o outro
Todo o processo evolutivo pressupõe estas duas polaridades: é preciso dar um espaço para o que se vai colocar no lugar de algo que se perde. Claro que este perder tem a nuance de acumular, mas devem ser renovadas as emoções, os objetivos, as tarefas evolutivas para que se cresça. Percebe-se contudo que, como cada etapa da história e de vida parece acontecer mais rapidamente, a sensação e a percepção do homem moderno é a de que há mais perdas do que ganhos. O afã do ter, da busca se transforma num stress que os ganhos não são contabilizados, vividos, degustados, ou melhor, qualificados como deveriam ser, trazendo como consequência a desvalidação da experiência que foi anteriormente dimensionada como algo a ser muito importante. Como tudo isso repercute na família? Perdeu-se o encanto de olhar para o outro e apreciá-lo, os momentos de diálogos acontecem mais raramente, a habilidade de ouvir quase inexiste.
Os vínculos extra-familiares ou através da informática são tão pulverizados e os valores de reciprocidade mais íntima são vividos tão hedonisticamente que precisam ser avidamente repetidos, tornando-se cada vez mais sem sentido. Por que está acontecendo isto? São as circunstâncias? São desvios do caminho do crescimento pelas limitações humanas? É a necessidade de sobreviver? São defesas psicológicas para que o homem esqueça que é finito e não tem valores espirituais que possam dar um sentido à sua existência? É o conceito de felicidade que precisa ser revisto? Será que a ideia de ser feliz no ter, no aparecer, no possuir, no gozar, no usufruir não deve incluir o sufoco, a frustração, a dor e até a morte, desde que tudo seja considerado como algo próprio da contingência humana? Todos nós estamos sabendo de tudo isto e por que não somos capazes de praticar? A proposta não é excluir o que é bom, mas adicionar aquilo que já existe e negamos por não saber lidar.





quarta-feira, 18 de junho de 2014

A SEGURANÇA DO LÍDER É O ELEMENTO MAIS INFLUENTE

Tudo indica que a filosofia de fuga da dor está incluída também no processo de educação. Os pais passam aos filhos muito mais o que são do que o que falam. Todas as linhas psicológicas acentuam a internalização dos modelos, não só na infância como em toda a existência. Até que ponto a insatisfação das crianças e adolescentes não está mostrando o desconforto vivencial dos pais? A permissividade paterna pode esconder culpas por omissão, omissão até por não exigir o que deve. Sabe-se que a segurança do líder é o elemento mais influente na conduta e aquiescência do liderado.
Os pais, no geral, já estão se conscientizando que o agir é mais importante que o falar e que a autenticidade, até para assumir o erro, é mais valiosa quando alguém investe na mudança do outro. Pais não são infalíveis, mas a dissonância entre o sentir, pensar e falar, quando transmitida a novas gerações é como uma semente a ser germinada numa terra sem compostos nutritivos. Isto é válido para todo o educador, o qual seu medo e insegurança transmite uma fragilidade causando um desconforto tão grande no educando, que se defende agredindo. Como consequência de tudo isso, constata-se diuturnamente uma violência que impera em todas as camadas sociais, principalmente por parte de jovens sem orientação e sem normas internas. As figuras de autoridade e respeito necessitam voltar a seu posto, começando no seio familiar, sem a qual continuará este caos social pelos comportamentos sem lei.
A escola hoje está sofrendo por não se reestruturar e por ser também produto de um sistema que reforçou a educação excessivamente permissiva com regras tênues e condutas pedagógicas ineficazes. A supremacia dos conteúdos cognitivos “técnico-científicos” para atender as contingências do mundo do trabalho sobre as práticas formativas que estimulem o desenvolvimento da inteligência emocional e os valores espirituais está colaborando também para que se mantenha este processo “educativo” em vigência.
A necessidade de unir a família à escola é um imperativo para que se fortifiquem mutuamente tendo em vista o filho/aluno, é propalada há décadas, mas o que se vê é o inverso, tendo como resultados cidadãos pouco informados, com muitas defasagens no processo evolutivo. Há décadas está sendo propalado esse trabalho conjunto, mas os resultados têm apresentado defasagens evolutivas e formativas nada gratificantes.
Apesar dos aspectos negativos a família de hoje tem saldos positivos que podem ser ressaltados como ganhos evidenciando-se o valor da mulher, especificamente no mundo ocidental. O par conjugal tem direitos mais igualitários e, embora a mulher tenha a vida mais atribulada com a dupla jornada, hoje ela é mais validada em todos os setores. Isto é muito significativo e esperançoso na medida em que o casal deixa de se caracterizar como o dominador e o dominado por ter direitos iguais e deveres compartilhados. A figura da mãe para os filhos foi mudando de status no seio familiar e isto é importante, tanto para a realização egoica dos filhos, como para a sociedade como um todo. A mulher atuando nas mais variadas áreas trazendo sua sensibilidade e emocionalidade amplia a possibilidade de amorização das relações humanas.
Os pais, como consequência, estão mudando seu papel. As tarefas do homem no lar foram ampliadas. Hoje o pai ajuda nas lidas domésticas e cuida dos bebês, assumindo mais o papel de cuidador. Este é um grande bem para a família, na medida que externa mais seu lado emotivo, sensível, dando-se até o direito de chorar. A sensibilidade masculina objetivada numa lágrima é uma das grandes revelações humanas reativando esperanças de uma família mais afetiva em todos os sentidos.
Como resultado altamente positivo, claro que também atribuído a uma alimentação e melhoria de qualidade de vida, as crianças hoje são mais vivas, mais inteligentes, mais surpreendentes na linguagem e, principalmente na espontaneidade e criatividade.
Com referência às famílias reconstituídas que muitas vezes causam problemas sérios nas crianças, em especial na saída do lar de um progenitor, observa-se que apesar disso quando os pais não incluem a criança no seu conflito, ela supera o trauma com maior facilidade, aceitando melhor o padrasto, o meio irmão e os outros familiares do novo cônjuge.
Em todos os aspectos as crianças hoje brigam mais por seus direitos, mas se adaptam às variadas circunstâncias quando os adultos sabem conduzi-la. Diante de tudo o que está posto este é o nosso momento. Lutas, dificuldades, desafios, dores são contingências do ser. Cabe à família dar um valor maior ao bem, à vida com suas necessidades, redimensionando o que realmente constrói e se alimentando com a alegria de ser a grande responsável pela transformação de um mundo melhor.

terça-feira, 17 de junho de 2014

O IMPORTANTE NÃO É TER TUDO É VALORIZAR O QUE SE TEM.

Um grupo de empresários bem sucedidos reunia-se periodicamente, trocando experiências e recordando o passado. Numa oportunidade resolveram visitar um velho professor que marcara gerações inteiras. O luar iluminava a noite gelada e a lareira garantia um ambiente agradável na casa. Foram recordados tempos felizes, episódios humorísticos e preocupações em relação ao futuro. No final, o professor ofereceu um chocolate. Trouxe da cozinha uma grande vasilha com chocolate quente, juntamente com uma bandeja cheia de xícaras. Nem todas eram iguais. Algumas eram requintadas, de porcelana, outras de vidro, outras ainda de cristal, ao lado de outras muito simples e baratas. Cada um escolheu a preferida.
Com o bom senso e a doçura acumulados na vida, o professor observou que haviam sido escolhidas as melhores xícaras e deixadas de lado as mais simples. Pela lógica, cada um escolheu a melhor, mas a xícara nada acrescentou ao produto. E exemplificou: a vida é o chocolate quente, as xícaras são apenas uma mediação e nada acrescentam. Porém, muitas vezes na vida, esquecemos o chocolate e nos concentramos na xícara. Esquecemos o conteúdo e ficamos na aparência. A vida fornece o chocolate, a xícara é escolha de cada um.
As pessoas felizes não têm o melhor em tudo, mas valorizam o que possuem. Fazem o melhor com o que a vida lhes deu. Existem aquelas que esquecem de valorizar o chocolate, preocupadas com a xícara do vizinho, que parece mais bonita que a sua. Vivendo na superficialidade, perdem o foco: valorizam a xícara e dão pouco valor ao conteúdo.
A imprensa, recentemente, deu grande destaque aos atos secretos do Senado. Foram decretos e nomeações que não deveriam aparecer. Com isso, os representantes do povo podiam ostentar invejável padrão ético, sem mostrar as intenções escusas. Existem muitas maneiras de esconder a verdade. Pode-se mentir por palavras ou pelas ações. A pior mentira é aquela que se traduz em atitudes. Esconder a verdade também é mentir.
Nos aviões existe a caixa preta, onde são registrados, fielmente, os minutos que antecedem a um desastre. Cada um de nós carrega uma caixa preta - a consciência - onde é registrado tudo que fazemos. Não aquilo que aparentamos, mas as motivações que nos fazem agir. Não a xícara, mas o chocolate.
Mentir é sempre perigoso. Primeiramente queremos enganar aos outros, depois enganamos a nós mesmos. E acabamos por nos tornar escravos, reféns da própria mentira. E uma mentira exige sempre outra mentira para cobrir a retaguarda. O Evangelho nos lembra que somente a verdade nos libertará . Os heróis e os santos são pessoas que escolheram a xícara mais simples e valorizaram o chocolate quente, o conteúdo.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

COMO TORNAR-SE ETERNO.

Feliz a pessoa que consegue eternizar-se numa canção que o tempo jamais apagará e que a energia do espaço propagará indefinidamente.
Feliz a pessoa que se eterniza num poema, onde coloca ali seus desejos e sonhos da vida e de amor, que o tempo jamais apagará.
Feliz a pessoa que tem a alegria de eternizar-se numa obra de arte, numa pintura ou escultura, na construção de um edifício ou de um casebre de papelão, na construção de um muro ou de uma torre que atravessa séculos.
Feliz a pessoa que se eterniza na palavra que comunica e constrói relações, e sabe que todo o som permanece no universo, formando a harmonia das palavras que comunicam e eternizam.
A vida em si mesma não tem significado. Ela somente recebe significado se eternizar-se no que fizer. Se cada ato receber o colorido do eterno. Se cada gesto se prolongar para sempre.
Todos vivemos no tempo. Podemos apenas viver no tempo e morrer nele. Seria frustração total. Há um sonho em cada ser humano de viver sempre. Nascemos para viver, onde o morrer se torna apenas um ato dentro do viver. Porém, muitas pessoas não cultivam o sonho de viver. Preferem viver para morrer. Morrem, de fato, sem eternizar-se, frustrando seu destino e vocação de eternidade.
O trágico e, ao mesmo tempo, o belo da vida, é saber que somente nós podemos decidir sobre o nosso presente e futuro. Ninguém pode interferir em nossa liberdade e decisões. Nem Deus. Ele nos deixa livres em nossas escolhas. E se nem Deus interfere, muito menos os anjos e demônios, os astros e os espíritos iluminados e milagreiros, os pregadores e os abençoadores. Debaixo de nosso braço, na sacola de nossa bagagem, na caminhada de nossos anos, estão a tela, o pincel, as tintas e todos os instrumentos de trabalho. Podemos morrer com a tela limpa, frustrados e infelizes, ou podemos ter tido a alegria de pintar uma linda tela com nossas decisões e criatividade.
Há um segredo para eternizar-se. Estar e viver com o Eterno. Ser coocriador com o Criador. Ter certeza que este universo, obra perfeita saída das mãos do Eterno, não será destruído pela água ou pelo fogo, e sim, será apenas purificado das maldades. Tudo o que é passageiro, bens materiais e orgânicos, parentes e familiares, sexo, idade e tempo, tudo será espiritualizado e glorificado. E quem recusar espiritualizar-se em vida - e ali entram os materialistas e os autossuficientes - será destruído, porque perante o fogo do amor de Deus só permanece o que foi eternizado pelo mesmo amor. E o amor jamais acabará.
Consolado com estas verdades, também me pergunto desiludido: todos estes bilhões de seres humanos, no meio da paz e da violência, do amor e do ódio, do salvar-se e do matar-se a toda hora, do trabalhar e do sentar-se à beira do caminho sem nada fazer, para onde estão caminhando? Estão cultivando dentro de si o desejo do eterno? Ou tudo se torna fantasia?

sexta-feira, 13 de junho de 2014

O DESTINO DE BARBOSA.

Joaquim Barbosa tem muito em comum com o ex-presidente Jânio Quadros.

Ambos renunciaram aos cargos que eram o ponto máximo que cada qual almejou em sua carreira. Jânio largou a Presidência da República. Barbosa abdicou de seu trono no Supremo.

Jânio fez sucesso falando em acabar com a corrupção e tratando os políticos, genericamente, como bandidos - a principal vítima foi o presidente Juscelino Kubitschek. Barbosa fez algo muito parecido. Só não empunhou a vassourinha.

Jânio isolou-se politicamente. Depois que renunciou, só se falava de quem assumiria em seu lugar. No caso, era João Goulart, tratado como um perigo.

Barbosa saiu e seu futuro substituto na presidência do STF, Ricardo Lewandowski, é alvo de mil e uma hostilidades.

Barbosa deixou o STF para não descer do pedestal. Sem o mensalão, sua vida na Suprema Corte acabou. Não tem mais razão de ser. É ladeira abaixo.

Barbosa brigou e isolou-se de praticamente todos os seus pares e de todos os seus apoiadores.

A ojeriza é seu principal currículo. A desmoralização de tudo e de todos foi seu principal discurso e uma maneira fácil de conseguir muitos adeptos.

Nunca alguém em uma posição tão qualificada foi tão bom martelo para os golpes dos que se interessam não em mudar a política, mas simplesmente em desqualificá-la.

Para juízes, advogados e membros do Ministério Público, Barbosa começou como uma boa promessa e terminou como uma grande decepção.

Eles o consideravam sangue novo no Supremo. Era alguém que poderia levar adiante causas importantes e, muitas vezes, esquecidas.

Barbosa saiu do STF virando as costas para essas grandes causas. Nem mesmo aquelas que seriam óbvias para alguém com sua origem tiveram seu entusiasmo.

A demarcação de terras quilombolas e indígenas, por exemplo, continua intocada. É uma obra inacabada sobre a qual Barbosa não moveu uma palha.

A demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, objeto de uma decisão do STF em 2009, só teve seu acórdão publicado quatro anos depois - mesmo assim, sem que fosse considerada como regra geral a ser aplicada a outros casos.

Tribunais de todo o país aguardam, há anos, decisões sobre um número recorde de processos que dependem do STF. Um legado da gestão Barbosa foi o de transformar o STF no gargalo supremo da Justiça brasileira.

A AP 470, considerada por alguns como seu "grande legado" e, por ele mesmo, como ponto alto da história do STF, sequer estabeleceu critérios para se tratar casos homólogos, como o mensalão do PSDB e o do DEM.

O legado da AP 470 se resume a meia dúzia de presos, e não a qualquer avanço no combate à corrupção. Sequer firmou-se um critério de julgamento para casos futuros. Portanto, não é exemplo de nada.

Barbosa tratou seus pares a pontapés; generalizou acusações contra advogados e juízes, como se todos fossem maçãs podres; mandou jornalistas chafurdarem no lixo.

Tudo isso atraiu a atenção e até o entusiasmo de quem não gosta de advogados, juízes, jornalistas e políticos. Mas o que trouxe de construtivo para o País? O que gerou de mudança? Absolutamente nada.

Barbosa é tão importante para a história do País quanto um Jânio Quadros. Arrogância, destempero verbal e o gosto por tratar quem quer que seja como corrupto podem até angariar simpatia, mas até hoje não trouxeram qualquer contribuição efetiva para mudar a política.

Pouco importa o destino de Barbosa. A única dúvida relevante que fica é a mesma que Marx expressou em "O 18 Brumário de Luís Bonaparte": é preciso refletir sobre as "circunstâncias e condições que possibilitaram a um personagem medíocre e grotesco desempenhar um papel de herói”.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

AGRICULTURA FAMILIAR E AGRO NEGÓCIO.

Apesar da seca, das enchentes e da falta de estímulo oficial, a safra nacional de grãos deste ano foi a maior de todas, conforme dados preliminares divulgados pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Uma leitura superficial poderia atribuir ao agronegócio essa conquista. Na realidade, a maioria dos alimentos que abastecem a mesa dos brasileiros é produzida pela agricultura familiar, aí incluídos os assentamentos da Reforma Agrária. Os números não deixam qualquer dúvida. A agricultura familiar produz 79% do leite, 90% das aves, 79% dos suínos, 60% do milho. Isso sem falar nos hortifrutigranjeiros, produzidos, quase exclusivamente, pelas pequenas propriedades.
E isto é tanto mais espantoso quando se leva em conta a propriedade da terra. Cerca de 50% das terras agricultáveis, no Brasil, estão nas mãos de 2% dos proprietários. Os minifundios, com menos de mil hectares, fazem parte dos 98% dos pequenos e médios agricultores.
A região colonial no Rio Grande do Sul experimentou notável desenvolvimento a partir das pequenas propriedades rurais. Ainda hoje, a metade sul do Estado, onde predomina o latifúndio, apresenta uma renda anual média inferior a R$ 10 mil. Já na região norte do Estado, a média por pessoa supera a casa dos R$ 21 mil. Isso sem falar no ganho da ecologia.
Esses dados parecem não impressionar os tecnocratas do país. E por isso a reforma agrária não avança e o dinheiro oficial tem sempre o endereço certo: o agronegócio voltado para a exportação. O desenvolvimento econômico passa pelo desenvolvimento humano e pela correta redistribuição de terras. A falta de reforma agrária - que é muito mais que a distribuição de lotes - contribui também para o inchaço das grandes cidades e a crescente criminalidade.

terça-feira, 10 de junho de 2014

NADA SE PERDE EM FALAR BEM DAS PESSOAS.

Nada se perde em falar bem das pessoas. Nada se perde em sorrir para alguém. Nada se perde em amar alguém. Tudo vai e volta. Tudo é estrada de duas mãos. Vai o bem, volta o bem. Vai a destruição, volta a destruição. Já falou o mestre Jesus: “Com a mesma medida com que medirdes alguém, sereis medidos”.
Falar bem dos familiares. Por que desprezar o mesmo sangue? Por que falar mal do mesmo DNA? Por que querer destruir quem pertence à mesma história genética, cultural e racial? Nada se ganha em destruir e diminuir.
Sempre se ganha falando bem. Falar bem do pai e da mãe, do filho e da filha, dos tios e tias, dos primos e primas. Formar a corrente do bem. Onde está o bem, ali está Deus. Deus é bondade. Falar bem é estar no partido de Deus.
Falar bem da vizinhança. É comum dizer que o vizinho é o parente mais próximo. Na hora da necessidade busca-se o socorro em quem estiver mais perto. O vizinho representa toda a humanidade. É ali que eu posso exercer minhas boas relações e minha caridade. O mestre Jesus falou: “Ama teu próximo”. Não pediu para amar quem está longe. Não pediu para fazer caridade para quem aparece na tela do televisor. Estar de bem e falar bem de nosso vizinho é garantia de estar construindo o céu, que é vizinhança total.
Falar bem da cidade. É comum encontrar gente que fala: “Nunca vi uma cidade tão fofoqueira como a nossa! Nunca vi gente tão má como aqui”. Quem assim fala deveria se mudar de cidade. Experimentar outros ambientes. E onde esta pessoa for, perceberá a mesma realidade. O problema não está na cidade, mas está nela mesma. No dia em que começar falar bem das pessoas e da cidade, tudo mudará. O bem e o mal estão no coração de cada pessoa.
Falar bem do Brasil. Nos tempos detestáveis da ditadura militar criou-se um slogan sobre o Brasil que dizia: “Ame-o ou deixe-o”. Mau gosto dos tempos horríveis da ditadura. Amar nosso Brasil, não somente em tempos de Copa do Mundo do futebol, mas sempre. Mesmo com todos os escândalos de ladroagem e corrupção, de tráfico de drogas e de pessoas, de diversidade de raças e cores, com tudo isso é nossa obrigação falar bem de tudo o que nosso país faz e tem. O otimismo deve superar o pessimismo. A esperança deve superar o desespero. Falar bem dos nossos irmãos e irmãs brasileiros é condição de criarmos um clima de superação e de vitória.
Falar bem de todos. Não perdemos nada em falar bem de todas as pessoas. Só ganhamos em falar bem dos companheiros e companheiras de trabalho e de lazer, de festa e de serviço. Deixemos para que cada um faça seu próprio julgamento.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

AINDA NÃO INVENTARAM BUTOX PARA A ALMA

Hours concours em Cannes, um dos filmes de maior sucesso no badalado festival francês foi “Ágora”, direção de Alejandro Amenabar. A estrela é a inglesa Rachel Weiz, premiada com o Oscar 2006 de atriz coadjuvante em “O jardineiro fiel”, dirigido por Fernando Meirelles.
Em “Ágora” ela interpreta Hipácia, única mulher da Antiguidade a se destacar como cientista. Astrônoma, física, matemática e filósofa, Hipácia nasceu em 370, em Alexandria. Foi a última grande cientista de renome a trabalhar na lendária biblioteca daquela cidade egípcia. Na Academia de Atenas ocupou, aos 30 anos, a cadeira de Plotino. Escreveu tratados sobre Euclides e Ptolomeu, desenvolveu um mapa de corpos celestes e teria inventado novos modelos de astrolábio, planisfério e hidrômetro.
Neoplatônica, Hipácia defendia a liberdade de religião e de pensamento. Acreditava que o Universo era regido por leis matemáticas. Tais ideias suscitaram a ira de fundamentalistas cristãos que, em plena decadência do Império Romano, lutavam por conquistar a hegemonia cultural.
Em 415, instigados por Cirilo, bispo de Alexandria, fanáticos arrastaram Hipácia a uma igreja, esfolaram-na com cacos de cerâmica e conchas e, após assassiná-la, atiraram o corpo a uma fogueira. Sua morte selou, por mil anos, a estagnação da matemática ocidental. Cirilo foi canonizado por Roma.
O filme de Amenabar é pertinente nesse momento em que o fanatismo religioso se revigora mundo afora. Contudo, toca também outro tema mais profundo: a opressão contra a mulher. Hoje, ela se manifesta por recursos tão sofisticados que chegam a convencer as próprias mulheres de que esse é o caminho certo da libertação feminina.
Na sociedade capitalista, onde o lucro impera acima de todos os valores, o padrão machista de cultura associa erotismo e mercadoria. A isca é a imagem estereotipada da mulher. Sua autoestima é deslocada para o sentir-se desejada; seu corpo é violentamente modelado segundo padrões consumistas de beleza; seus atributos físicos se tornam onipresentes.
Onde há oferta de produtos - TV, internet, outdoor, revista, jornal, merchandising embutido em telenovelas - o que se vê é uma profusão de seios, nádegas, lábios etc. É o açougue virtual. Hipácia é castrada em sua inteligência, em seus talentos e valores subjetivos e agora dilacerada pelas conveniências do mercado. É sutilmente esfolada na ânsia de atingir a perfeição.
Segundo a ironia da Ciranda da bailarina, de Edu Lobo e Chico Buarque, “Procurando bem / todo mundo tem pereba / marca de bexiga ou vacina / e tem piriri, tem lombriga, tem ameba / só a bailarina que não tem”. Se tiver, será execrada pelos padrões machistas por ser gorda, velha, sem atributos físicos que a tornem desejável.
Se abre a boca, deve falar de emoções, nunca de valores; de fantasias, e não de realidade; da vida privada e não da pública (política). E aceitar ser lisonjeiramente reduzida à irracionalidade analógica: “gata”, “vaca”, “avião”, “melancia” etc.
Para evitar ser execrada, agora Hipácia deve controlar o peso à custa de enormes sacrifícios, mudar o vestuário o mais frequentemente possível, submeter-se à cirurgia plástica por mera questão de vaidade.
Toda mulher sabe: melhor que ser atraente, é ser amada. Mas o amor é um valor anticapitalista. Supõe solidariedade e não competitividade; partilha e não acúmulo; doação e não possessão. E o machismo impregnado nessa cultura voltada ao consumismo teme a alteridade feminina. Melhor fomentar a mulher-objeto (de consumo). Na guerra dos sexos, historicamente é o homem quem dita o lugar da mulher. Ele tem a posse dos bens (patrimônio); a ela cabe o cuidado da casa (matrimônio). E, é claro, ela é incluída entre os bens... Vide o tradicional costume de, no casamento, incluir o sobrenome do marido ao nome da mulher.
No Brasil colonial, dizia-se que à mulher do senhor de escravos era permitido sair de casa apenas três vezes: para ser batizada, casada e enterrada... Ainda hoje, a Hipácia interessada em matemática e filosofia é, no mínimo, uma ameaça aos homens que não querem compartir, e sim dominar. Eles são repletos de vontades e parcos de inteligência, ainda que cultos.
Se o atrativo é o que se vê, por que o espanto ao saber que a média atual de durabilidade conjugal no Brasil é de sete anos? Como exigir que homens se interessem por mulheres que carecem de atributos físicos ou quando estes são vencidos pela idade?
Pena que ainda não inventaram botox para a alma. E nem cirurgia plástica para a subjetividade.

domingo, 8 de junho de 2014

NOSSA MÃE TERRA.

Ecologia vem do grego “oikos”, casa, e “logos”, conhecimento. Portanto, é a ciência que estuda as condições da natureza e as relações entre tudo que existe - pois tudo que existe coexiste, pré-existe e subsiste. A ecologia trata, pois, das conexões entre os organismos vivos, como plantas e animais (incluindo homens e mulheres), e o seu meio ambiente.
Talvez fosse mais correto, embora não tão apropriado, falar em ecobionomia. Biologia é a ciência do conhecimento da vida. Ecologia é mais do que o conhecimento da casa em que vivemos, o planeta. Assim como economia significa ‘administração da casa’, ecobionomia quer dizer ‘administração da vida na casa’. E vale chamar o meio ambiente de mãe ambiente, pois ele é o nosso solo, a nossa raiz, o nosso alimento. Dele viemos e para ele voltaremos.
Essa visão de interdependência entre todos os seres da natureza foi perdida pela modernidade. Nisso ajudou uma interpretação equivocada da Bíblia - a ideia de que Deus criou tudo e, por fim, entregou aos seres humanos para que “dominassem” a Terra. O domínio virou sinônimo de espoliação, estupro, exploração. Procurou-se arrancar do planeta o máximo de lucro. Os rios foram poluídos; os mares, contaminados; o ar que respiramos, envenenado.
Ora, não existe separação entre a natureza e os seres humanos. Somos seres naturais, porém humanos porque dotados de consciência e inteligência. E espirituais, porque abertos à comunhão de amor com o próximo e com Deus.
O Universo tem cerca de 14 bilhões de anos. O ser humano existe há apenas 2 milhões de anos. Isso significa que somos resultado da evolução do Universo que, como dizia Teilhard de Chardin, é movida por uma “energia divina”.
Antes do surgimento do homem e da mulher, o Universo era belo, porém cego. Um cego não pode contemplar a própria beleza. Quando surgimos, o Universo ganhou, em nós, mente e olhos para se olhar no espelho. Ao olharmos a natureza, é o Universo que se olha através de nossos olhos. E vê que é belo. Daí ser chamado de Cosmo. Palavra grega que dá também origem à palavra cosmético - aquilo que imprime beleza.
A Terra, agora, está poluída. E nós sofremos os efeitos de sua devastação, pois tudo que fazemos se reflete na Terra, e tudo que se passa na Terra se reflete em nós. Como dizia Gandhi, “a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade dos consumistas”. São os países ricos do Norte do mundo que mais contribuem para a contaminação do planeta. São responsáveis por 80% da contaminação, dos quais os EUA contribuem com 23% e insistem em não assinar o Protocolo de Kyoto.
“Quando a última árvore for derrubada - disse um índio dos EUA -, o último rio envenenado e o último peixe pescado, então vamos nos dar conta de que não podemos comer dinheiro”.
O maior problema ambiental, hoje, não é o ar poluído ou os mares sujos. É a ameaça de extinção da espécie humana, devido à pobreza e à violência. Salvar a Terra é libertar as pessoas de todas as situações de injustiça e opressão.
A Amazônia brasileira é um exemplo triste de agressão à mãe ambiente. No início do século XX, empresas enriqueceram com a exploração da borracha e deixaram por lá o rastro da miséria. Nos anos 1970, o bilionário americano Daniel Ludwig cercou um dos maiores latifúndios do mundo - 2 milhões de hectares - para explorar celulose e madeira, deixando-nos como herança terra devastada e solo esgotado virando deserto. É o que pretende repetir, agora, o agronegócio interessado em derrubar a floresta para plantar soja e criar gado.
A injustiça social produz desequilíbrio ambiental e isso gera injustiça social. Bem alertava Chico Mendes para a economia sustentável (isto é, capaz de não prejudicar as futuras gerações) e a ecologia centrada na vida digna dos povos da floresta.
A mística bíblica nos convida a contemplar toda a Criação como obra divina. Jesus nos mobiliza na luta a favor da vida - dos outros, da natureza, do planeta e do Universo. Dizem os Atos dos Apóstolos: “Ele não está longe de cada um de nós. Pois Nele vivemos, nos movemos e existimos. Somos da raça do próprio Deus” (17, 28). Todo esse mundo é morada divina. Devemos ter uma relação de complementação com a natureza e com o próximo, dos quais dependemos para viver e ser felizes. Isso se chama amor.

sábado, 7 de junho de 2014

O QUE SE PODE PEDIR A DEUS.


No bairro do Brooklyn, em Nova York, existe uma escola que se dedica ao ensino de crianças especiais. Todas elas são portadoras de deficiências, em diferentes graus. Algumas delas permanecem nesta escola toda a vida escolar, enquanto outras podem ser encaminhadas para uma escola comum. Num jantar beneficente, o pai de uma dessas crianças foi o orador oficial. Após elogiar o excelente trabalho realizado pela escola, ele abordou um problema delicado: a perfeição divina.
E sinalizou o problema de seu filho. Tudo o que Deus faz é perfeito. Mas onde está a perfeição de meu filho Pedro? Ele não entende as coisas como as outras crianças, ele não consegue lembrar fatos e números como as outras crianças. E perguntou aos presentes: não terá sido Deus injusto com meu filho? Todos ficaram chocados com a pergunta e o sofrimento daquele pai...
Mas ele mesmo encaminhou a resposta. Deus criou o mundo perfeito, mas a humanidade estragou sua obra. Mas o amor de Deus não volta atrás. Mesmo diante dos quadros mais negros, resplandece a luz do seu amor. Deus quer a felicidade de seus filhos e filhas e o Pedro é e será muito amado. E do seu jeito, ele sabe amar.
A perfeição que Deus quer no mundo passa pelos pais e pela sua atitude diante de fatos deste tipo. Deus não é o responsável pela limitação. Ele espera que seus filhos e filhas amem essas crianças especiais. São limitadas no corpo, mas não na alma. Elas são infinitamente amadas por Deus.
Muitas vezes temos a tentação de atribuir a Deus deveres que são nossos. Deus não é responsável pelo câncer, pela aids, pelas guerras, pela fome, pelos acidentes. Ele nos dá inteligência, vontade e liberdade para que possamos exercer nosso direito de amar. Sabin, Fleming e tantos outros heróis da medicina continuaram a obra de Deus. Ele se revela em cada gesto em favor da vida.
Deus não pode servir de desculpa para preguiçosos. Em nossa prece não podemos pedir a Ele o que é tarefa nossa. Depois que tivermos esgotado nossas capacidades, podemos recorrer a Ele. Nem sempre Ele nos atende, mas sempre nos dá forças para carregar, com amor, o peso da cruz.
Diante de tantos problemas difíceis, podemos pedir a ajuda divina. Não para obter um milagre. O verdadeiro milagre é a capacidade infinita de amar que Deus nos deu. “Deus é amor e aquele que permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele”. Esta é a perfeição num mundo que não é como Deus quer, mas que continua sendo amado por Ele. E Deus ama através de nosso amor. Nós somos os braços de Deus na história.
Deus não socorre o ferido; espera que nós mesmos sejamos o bom samaritano

sexta-feira, 6 de junho de 2014

AÉCIO E SUAS IDEIAS ATRASADAS .(no Roda Viva)

Mais que tudo, Aécio me pareceu tomado por idéias atrasadas em algumas décadas. Essencialmente, ele repete clichês do thatcherismo num momento em que nem os conservadores ingleses se atrevem a fazer isso. 

“Medidas impopulares” é a expressão acabada do thatcherismo – a doutrina consagrada por Margareth Thatcher nos anos 1980.

Significa você favorecer o 1% em detrimento dos 99%. Armínio Fraga, o guru de Aécio na economia, é um thatcherista fanático.

Não surpreende que, recentemente, ele tenha dito que o salário mínimo cresceu demais nos anos do PT no poder.

Sabe-se hoje, com a distância de 30 anos no tempo, que a política econômica inspirada em Thatcher – e seguida por FHC em seus dois mandatos – leva a uma brutal concentração de renda.

O livro sensação dos homens públicos e economistas de todo o mundo hoje, O Capital no Século 21, do francês Thomas Piketty, trata exatamente disso.

Ora, o principal problema do Brasil é exatamente a desigualdade de renda. E Aécio vem com uma palataforma que não apenas ignora o problema como, se aplicada, o aprofunda.

É um caso de notável miopia e descolamento da realidade.

Em nenhum momento no programa Aécio usou a expressão “desigualdade social”, como se fôssemos uma Noruega ou uma Finlândia.

Na falta de ideias concretas, ele recorre a platitudes. Falou mais de uma vez no “aparelhamento” do Estado pelo PT.

Ora, que partido em todo o mundo ocupa os cargos públicos com pessoas de outros partidos?

Isso não acontece nem na Escandinávia.

No próprio PSDB, Serra deu cargos a Soninha e filhas no governo paulista. Em uma semana, a pedido do então impoluto senador Demóstenes Torres, Aécio, então governador de Minas, arrumou um emprego na máquina mineira para uma sobrinha de Cachoeira.

FHC deu um cargo vital em seu governo – diretor da Agência Nacional do Petróleo – a seu genro David Zylbersztajn. Bastou Zylbersztajn se separar da filha de FHC para sua posição na ANP ficar insustentável.

Outra platitude é “ética” – o último refúgio dos conservadores brasileiros desde a UDN de Carlos Lacerda.

Aécio, no Roda Viva, mais uma vez trouxe a “ética” ao debate. Ora, se não fosse um programa chapa branca, alguém lhe perguntaria: “Senador, como seu partido concilia ética com a permanência por tantos anos no Tribunal de Contas de SP de alguém como Robson Marinho mesmo depois de ser fartamente comprovado que ele se locupletou com propinas?”

Talvez Aécio pudesse ser convidado por algum jornalista ali no programa também a dizer algumas palavras sobre a conhecidíssima, mas jamais coberta decentemente pela imprensa, compra de votos no Congresso para que FHC pudesse se reeleger.

Mas não foi isso que se viu.

Sem que lhe fosse perguntado, Aécio se declarou contra a regulação da mídia, que chamou pejorativamente de “controle social”.

Ali mais uma vez ele mostrou que confia que o apoio dos barões da mídia – a voz do 1% — vai levá-lo longe na disputa pela presidência.

Ele parece esquecido do que aconteceu com seu antecessor na disputa presidencial, Serra. A despeito de todo o apoio -–que culminou no antológico Atentado da Bolinha de Papel do Jornal Nacional – a expedição terminou em lágrimas e em ruínas, à míngua de votos.

Serra entrou nas campanhas certo de que subiria a rampa do Planalto pelas mãos dos amigos donos das empresas jornalísticas e terminou batido até na tentativa de ser prefeito de São Paulo.

Aécio pode seguir um percurso parecido em sua Minas, pelo jeito como vem se  ncomportando.

Do DCM

quinta-feira, 5 de junho de 2014

É PRECISO PARAR E RETOMAR A CAMINHADA.

A história é feita de rumos escolhidos, de direções certas e erradas. O sucesso muitas vezes acontece por saber mudar de rumo em tempo. Assim aconteceu na história do navio Titanic. Navio todo poderoso. Navio com segurança total. Com instrumentos que davam segurança. Mesmo com tudo isso, afundou ao bater com um bloco de gelo em alto mar. Aquele que se considerava invencível se deixou vencer por um bloco de gelo. Aparentemente inofensivo, se tornou a força da destruição. Havia uma única maneira de vencer o inimigo. Era desviar o rumo do navio. Desviar a dificuldade. Tomar um outro rumo em tempo. Mas a pessoas estavam distraídas com a festa.
Nossa vida tem uma direção. A estrada é a mesma para todos. Para as pessoas de todos os tempos e raças. O coração humano tem uma mesma e única estrada. É a estrada da busca de relacionamento e convivência. É a estrada do amar e ser amado. É a estrada da solidariedade e da fraternidade. É a estrada do caminhar juntos. É a estrada que aponta para um mesmo destino, um mesmo ponto de chegada, um mesmo endereço. Andando e vivendo nesta estrada estamos no caminho seguro, e nossa cabeça dorme sossegada, e nosso coração fica satisfeito. É o endereço que o navio de nossa vida pode tomar com segurança.
Muitas pessoas buscam atalhos. Querem chegar a esse destino antes do tempo. Tentam buscar caminhos para responder aos anseios humanos em bens materiais, em contas bancárias, em prazer fácil, em drogas e alcoolismo, em ocupação total do tempo em trabalhos e atividades para não deixar espaço para a reflexão e a parada na vida. De repente se sentem perdidas, sem rumo ou fora do rumo. Coração cansado e mente confusa.
É preciso parar e retomar a caminhada. É preciso estar bem sintonizado com as exigências do coração. Escutar-se. Sentar-se na cadeira da vida, rever, decidir e tomar novos rumos. Os comandantes do navio Titanic estavam distraídos em festas e danças, enquanto o bloco de gelo vinha chegando. Não ficaram atentos e vigilantes. Assim é nossa vida. Ter a capacidade de parar, rever o caminho feito e, se necessário, tomar novo rumo.Um rumo em que podemos, ao longe, ver um horizonte de chegada, um porto seguro, um lugar para morar com coração descansado.
Chegar é sempre uma vitória. Parar no caminho é um fracasso. Lembro do grande formador de comunidades São Paulo, quando velhinho, avaliando sua vida, falou ao povo: “Terminei minha carreira... cheguei ao final da luta... me resta esperar a coroa da vitória.” É a certeza de ter vencido. É a certeza de não ter vivido em vão. De ter encontrado e vivido o rumo certo. De sentir-se um vitorioso pelas escolhas feitas. De tomar na mão e poder erguer perante a vida a taça de vencedor. Sempre há um rumo certo para os que desejam ser vencedores: seguir Aquele que é o exemplo de vencedor. Não somente Ele se tornou vencedor, mas todos os milhões  que o seguiram. Ele se chama Cristo, o vencedor.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

SABEMOS TUDO DO MUNDO E QUASE NADA DE NÓS

Todos os dias, invariavelmente, um grande mestre ia até a margem do rio, sentava e ficava horas naquela atitude. Aparentemente não fazia nada. Não pescava, nem parecia importar-se com o marulho das águas ou com a beleza das flores e do canto das aves. Depois de um certo tempo levantava e ia para casa. Essa estranha rotina despertou curiosidade num vigia de uma luxuosa mansão, diante da qual o mestre passava.
Depois de observar por algum tempo essa rotina, aparentemente sem sentido, o vigia resolveu interrogar o estranho personagem. Desculpe-me a curiosidade; muitas vezes vejo o senhor descer até o rio, mas não faz nada. Só fica sentado junto às águas e depois volta para casa. O mestre não respondeu, mas fez uma pergunta: eu também tenho observado o senhor, que fica parado diante da porta. O que mesmo o senhor faz? Ora, é muito simples, eu sou o vigia.
Que coincidência, disse o mestre, eu também sou vigia. Mas existe uma pequena diferença, o senhor vigia uma casa e eu vigio a mim mesmo. Estranho, observou o vigia, e quem lhe paga por isso? O meu ganho é a tranquilidade que não pode ser medida por nenhum tipo de remuneração deste mundo.
Conhecer a si mesmo é o ponto mais alto da sabedoria, a mais difícil das artes, observava o filósofo grego Sócrates. E Santo Agostinho ironizava os que viajavam para conhecer países, montanhas, lagos, templos, mas não conheciam a si mesmos.
A pressa, a velocidade e o barulho marcam nossa civilização. As agendas, quase sempre, estão lotadas. Em função disso, acabamos dispensando o que nos parece menos importante. E essa lógica nos leva a dispensar as coisas do espírito e gastar o tempo todo com tarefas. Nosso tempo é caracterizado pelo saber. Dominamos a técnica e sabemos tudo o que acontece no mundo, mas ignoramos o que está dentro de nós.
A cada noite, milhões ficam magnetizados diante do vídeo. Queremos saber o que aconteceu no mundo. Ou seguimos com emoção os capítulos das novelas e o drama pessoal de cada personagem. E como estamos habituados ao fazer, nem mesmo sabemos usar o tempo ocioso, disponível. Ativistas, nos sentimos culpados quando nada estamos fazendo. O silêncio nos assusta, pois temos medo de encarar a nós mesmos.
As coisas são importantes, as tarefas precisam ser feitas, mas não podemos pagar um preço absurdo por isso. Temos direito de tempos na fascinante caminhada pelo nosso interior, povoado de tesouros. São esses tempos que acabam por dar sentido às coisas que fazemos. É, sobretudo, no silêncio iluminado de nosso interior que está Aquele que dá sentido ao tempo e à eternidade, Deus. Só Ele pode dar significado à nossa vida. Deus é silêncio, Deus é música, Deus é paz, Deus é a chave para entender a nós mesmos e o nosso agir.

terça-feira, 3 de junho de 2014

UM BLOG DE ECOLOGIA TOTAL

Na compreensão comum, ecologia está associada ao cuidado com o meio ambiente entendido como natureza. Isso é verdade, mas a ecologia se estende a outros âmbitos que vão além do meio ambiente. Junto com a naturos e pelas instituições que servem a cidadania. Aqui também a ecologia encontra um campo de vasta realização. É a assim chamada ecologia social.
Ela estuda as formas pelas quais esta sociedade determinada se relaciona com a natureza, sob que forma garante a produção e sob que condições humanas e sociais é realizada a produção. Contempla também as estratégias de distribuição e o tipo de consumo que a população adotou e como trata os dejetos. Neste tipo de ecologia a grande preocupação é com a sustentabilidade. Quer dizer, como garantir o sustento humano de tal forma que atenda ao maior número possível de pessoas com os recursos daquele ecossistema, sem desgastar o capital natural não renovável e pensando solidariamente com as presentes e futuras gerações.
Hoje constatamos que a maioria das sociedades não são plenamente sustentáveis pois mantêm à sua margem milhares de pessoas, desempregadas ou vivendo em condições de pobreza. No processo produtivo muitos têm que trabalhar em condições insalubres ou até com trabalho infantil e em situação semelhante à escravidão.
Existe também a ecologia mental. Ela trabalha os conteúdos da consciência. Há no ser humano valores e contra valores. Por exemplo, a grande maioria não respeita os animais. Mata-os com facilidade. Derruba árvores sem se questionar acerca das consequências deste ato. Acha que o ser humano pode dispor de todas as coisas a seu bel-prazer. Quando, na verdade, cada ser, por simples que seja, possui um valor em si, intrínseco, revela algo do Criador e, geralmente, é muito mais velho que nós, pois apareceu antes que o ser humano no processo da evolução. Nossa missão que está claramente definida no Gênesis é esta: fomos colocados no jardim do Éden que é a Terra para cuidarmos dela e guardarmos todos os seres. Cuidar e guardar são gestos amorosos para com a realidade, destituídos de todo tipo de violência. A crise ecológica mundial se deriva, em grande parte, pelo descuido humano e pela sistemática agressão a todos os ecossistemas no afã de enriquecimento. Hoje mais do que nunca devemos cuidar da Casa Comum que é a Terra porque, devido ao aquecimento global, entrou num processo de febre alta e de doença que poderá produzir o desaparecimento de milhares de espécies vivas e de milhões e milhões de pessoas.
Por fim, existe ainda a ecologia integral. Esta vê a Terra como parte do universo e submetida às energias que estão sempre vindo sobre o planeta, desde as do sol até as das estrelas mais distantes, além do pó cósmico que viaja já há milhões e milhões de anos pelo espaço e se deposita na Terra. Há ainda as quatro energias que garantem o funcionamento harmonioso do universo como a energia gravitacional, a eletromagnética, a nuclear fraca e forte. Sem elas o universo entraria em caos e haveria uma destruição de seu equilíbrio. Por fim, todos estamos à mercê daquela Energia de Fundo que sustenta cada ser e que faz com que a evolução continue seu rumo na direção de formas cada vez mais ordenadas de realidade. Ela tem as características da divindade, pois é inefável e misteriosa. É Deus mesmo na criação, a Fonte originária de todos os seres.
Ora, essas quatro ecologias, mesmo que não apareçam sob este nome, estão permanentemente presentes neste blog.
Em cada edição se encontram dados sobre os climas, os níveis de desflorestamento, sobre a agricultura local, sobre transgênicos, sobre sementes, sobre formas de produção (ecologia ambiental).
Forte é também a ecologia mental. Há trabalhos sérios sobre valores, visões de mundo que auxiliam as pessoas a se orientarem por este mundo de tantas informações.  Noticiam-se descobertas científicas relativas ao universo, discute-se a missão do ser humano no conjunto dos seres e procura-se manter vivo o horizonte da esperança cristã que confere sentido de transcendência à peregrinação humana.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O MAIOR DESAFIO: A ECOLOGIA.

No primeiro livro da Bíblia, após o relato da criação do céu e da terra, Deus encarrega o homem de cuidar de sua obra: “O Senhor colocou o homem no Jardim do Éden, para que o cultivasse e guardasse”. A felicidade passaria pelo respeito à árvore do bem e do mal, tendo como consequência vida ou morte.
Durante séculos a humanidade não teve o menor respeito pela natureza, julgando que ela fosse inesgotável e a serviço dele mesmo, intitulando-se rei da criação. No final do século XIX, Darwin e Haeckel começaram a dar-se conta da interligação de todos os seres criados e das relações, amistosas ou não, na luta pela vida.
Os resultados práticos não apareceram e o homem continuou a explorar a natureza sem critérios, consumindo em excesso e poluindo a própria casa. E num nível crescente foram aparecendo as denúncias: águas poluídas, espécies extintas, escassez de determinados produtos. Depois veio o aquecimento global, a desertificação de grandes áreas, a diminuição da camada de ozônio... Enfim, a Terra estava decadente, transformada em lata de lixo. Num mundo com mais de 7 bilhões de habitantes, meu esforço é insignificante, desculpam-se muitos.
Cresceram os aglomerados urbanos, o consumismo, a poluição e o homem dá-se agora conta que este é o maior de todos os desafios já enfrentados. E diminui o tempo útil para reverter o quadro. A Terra já superou em 30% sua capacidade de recuperação.
A tarefa é urgente. A escola, os meios de comunicação, as igrejas, os governantes, os empresários são convocados. Ninguém pode ficar fora desta cruzada, porque afeta a todos. “Se um grão de areia cai no mar, a Europa fica menor” proclama John Danne. E conclui: “Não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.