sexta-feira, 30 de novembro de 2018

QUE OVOS SERÃO QUEBRADOS?

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Há momentos em que prefiro Bach, na expectativa de que me antecipe o céu. Em outros, Tchaikovsky, para que me suscite energias criativas. Nosso estado de espírito muda de acordo com as circunstâncias. Como reza o Eclesiastes, há tempo para tudo, de destruir e de construir, de chorar e de rir. Agora, vitoriosos e derrotados na eleição presidencial conhecem tempos distintos.

Passado o pleito, as fissuras abertas no estado de espírito do brasileiro ainda não cicatrizaram. Relações familiares foram rompidas, amizades se desfizeram, batalhas nas redes digitais se intensificaram.

Conhecida a preferência das urnas, os estados de espírito variam. Há derrotados que sofrem de melancolia e insônia, afogam-se em inquietações e lamúrias. Os mais politizados afirmam que é hora de o PT fazer autocrítica e se reinventar. Mas há quem insista que não há do que se arrepender; os acertos do partido teriam sido maiores que os erros. E há ainda os que estão convencidos de que o PT acabou, ainda que tenha elegido a maior bancada da Câmara dos Deputados e quatro governadores.

Do lado vitorioso, o estado de espírito varia da euforia desaforada, ao fazer eco ao eleito de que é hora de passar o trator na oposição, ao receio de que o novo governo não corresponda à expectativa criada. Depositou-se o voto na caixa de Pandora sem saber o que ela contém. A democracia será aprimorada ou a censura estará de volta? A Escola sem Partido criará um clima de terror nas salas de aula? Sérgio Moro fez bem ao se deixar picar pela mosca azul? O Brasil haverá de superar a recessão, retomar o crescimento e reduzir o desemprego?

Eleitores de um e de outro têm um sentimento comum: medo. Não do mesmo tipo. O dos antibolsonaristas é o de que vândalos antipetistas aprofundem o clima de intolerância e ameacem direitos constitucionais, como a liberdade de expressão. Alguns derrotados mais aquinhoados cogitam deixar o país.

Do lado da situação, o medo é ver tamanha esperança precocemente abortada. Desavenças na equipe de governo, nomeação de políticos acusados de corrupção, atropelos entre os poderes, e dificuldade de aprovar as tão propaladas reformas. Medo de ser feliz à custa do encolhimento dos direitos civis e do espaço democrático.

A eleição deste ano representou o canto do cisne da Nova República. Ninguém sabe o que virá pela frente, nem mesmo aqueles que se preparam para governar. O programa de governo apresentado é superficial. Prefere apontar prioridades, como a reforma da Previdência, o combate ao crime organizado e o equilíbrio das contas públicas. Mas como fazê-los?, eis o dilema.

"Não se faz omelete sem quebrar os ovos", diz o ditado. Que ovos serão quebrados? E quem haverá de comer o omelete? É bom lembrar que, dos 208 milhões de brasileiros, mais de 100 milhões sobrevivem com menos de R$ 954 (valor do salário mínimo) por mês. Destes, 52 milhões estão abaixo da linha da pobreza, ou seja, sobrevivem com menos de R$ 547,20/mês. Isso significa que 90% dos brasileiros ganham, por mês, muito menos que o auxílio-moradia dos juízes, que é de R$ 4.378.

Ora, o Brasil não terá futuro e o estado de espírito do brasileiro não haverá de melhorar enquanto o problema número 1 do país não for decididamente atacado: a desigualdade social. Só os cínicos e os ególatras conseguem aparentar felicidade com tanta infelicidade em volta.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

TEM TEMPO PARA TUDO.

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O calendário marca a passagem do tempo e se interrogarmos sobre o sentido de nossa vida, lembramos que ha:

Tempo de olhar para o futuro e tempo de lembrar nosso passado.
Tempo de realizar e tempo de refletir.
Tempo de ficar sós e tempo de ficarmos juntos.
Tempo de lembrar e tempo de esquecer.
Tempo de ensinar e tempo de aprender
Tempo de dar e tempo de receber.
Tempo de falar e tempo de calar.
Tempo de acreditar e tempo de duvidar.
Tempo de se sentir culpado e tempo de se perdoar.
Tempo de julgar e tempo de suspender o julgamento.
Tempo de se entregar e tempo de se dissociar.
Tempo de viver e tempo de morrer.
Tempo de rir e tempo de chorar.
Tempo de ser prudente e tempo de arriscar.
Tempo de trabalhar e tempo de descansar.
Tempo de semear e tempo de colher.
Tempo de ser orgulhoso e tempo de ser humilde.
Tempo de estar alegre e tempo de estar triste.
Tempo de ter ilusões e tempo de perdê-las.
Tempo de esperar e tempo de agir.
Tempo de amar sem ser amado e tempo de ser amado sem amar.
Tempos sem sentido e tempos com sentido.


E que a sabedoria se encontra em compreender que o tempo é sempre um, no qual:

Nosso passado esta sempre presente no nosso futuro.
Quem faz deve refletir e quem reflete deve agir.
Porque os mortos continuam vivos em nos e a vida não pode desconhecer a morte.
Paramos de falar para ouvir e ouvimos para entender o que estamos falando.
A prudência não deve eliminar nossa coragem para ariscar e o risco deve ser responsável.
Quem recebeu já retribuiu e quem deu já recebeu.
Só aprendemos desaprendendo e só se ensina aprendendo.
Quem semeou já recolheu e quem recolheu não deixa de semear.
Não podemos ser orgulhosos se não somos humildes e somos humildes porque somos orgulhosos.
Estamos sós quando estamos juntos e estamos juntos quando estamos sós.
Acreditamos sem dogmatismo e duvidamos sem deixar de lutar pelo que acreditamos.
Só somo livres para encontrar sentido à vida quando descobrimos que ele simplesmente é o que fazemos de nossas vidas.
Choramos de alegria e rimos para não chorar.
No há culpa sem perdão, nem julgamentos que não sejam questionáveis.

Porque o tempo nos permite amar e aprender, e ambos são o maior dom da vida, agradecemos:

Que vivemos, que existimos, que chegamos, a este momento.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O DIA É HOJE


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Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim. 
Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos. Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali. Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim. Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo. Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem para dizer. Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias nem contentamentos nem sabores bons. Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão. Ontem é uma lembrança. No fundo, só existe o hoje.

 

O DECRETO

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Fica decretado que, neste Natal, em vez de dar presentes, nos faremos presentes junto aos famintos, carentes e excluídos. Papai Noel será malhado como Judas e, lacradas as chaminés, abriremos corações e portas à chegada salvífica do Menino Jesus.

Por trazer a muitos mais constrangimentos que alegrias, fica decretado que o Natal não mais nos travestirá no que não somos: neste verão escaldante, arrancaremos da árvore de Natal todos os algodões de falsas neves; trocaremos nozes e castanhas por frutas tropicais; renas e trenós por carroças repletas de alimentos não perecíveis; e se algum Papai Noel sobrar por aí, que apareça de bermuda e chinelas.

Fica decretado que, cartas de crianças, só as endereçadas ao Menino Jesus, como a do Lucas, que escreveu convencido de que Caim e Abel não teriam brigado se dormissem em quartos separados; propôs ao Criador ninguém mais nascer nem morrer, e todos nós vivermos para sempre; e, ao ver o presépio, prometeu enviar seu agasalho ao filho desnudo de Maria e José.

Fica decretado que as crianças, em vez de brinquedos e bolas, pedirão bênçãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo o supérfluo que entulha armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus.

Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone e, recolhidos à solidão, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito, lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade. Entregues à meditação, fecharemos os olhos para ver melhor.

Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecendo ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão. Finita, a vida é um rio que sabe ter o mar como destino, mas jamais quantas curvas, cachoeiras e pedras haverá de encontrar em seu percurso.

Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza.

Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seus custo convertido em cestas básicas a famílias carentes. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal do empregado que a serve.

Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro, nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar o “Pai Nosso” se o pão também não for nosso, mas privilégio da minoria abastada.

Fica decretado que toda dieta se reverterá em benefício do prato vazio de quem tem fome, e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou escusas intenções. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços.

Fica decretado que as mesas de Natal estarão cobertas de afeto e, dispostos a renascer com o Menino, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém.

Fica decretado que, como os reis magos, todos daremos um voto de confiança à estrela, para que ela conduza este país a dias melhores. Não buscaremos o nosso próprio interesse, mas o da maioria, sobretudo dos que, à semelhança de José e Maria, foram excluídos da cidade e, como uma família sem-terra, obrigados a ocupar um pasto, onde brilhou a esperança.

sábado, 24 de novembro de 2018

JULGAR

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Nos coloca a pergunta: o que aprendemos no ano que está terminando?
O tempo nos lembra de que o mais difícil é aprender a julgar.

Por isso neste período refletimos sobre a nossa relação com os outros, pois é neles que espelhamos nossos desejos e nossos temores, nossas idealizações e nossos preconceitos, nosso egoísmo e nossa solidariedade.

Em cada julgamento que realizamos estamos julgando a pessoa que somos.

O tempo nos lembra de que a capacidade de julgamento é o que nos faz humanos, mas também pode nos desumanizar, quando:

Julgamos em forma apresada, e fomos injustos.
Julgamos sob o efeito da cólera ou do medo, e agimos errado.
Julgamos em forma preconceituosa, e humilhamos.
Julgamos em forma dogmática, e desrespeitamos quem pensa diferente.
Julgamos em função da opinião dos outros e não do que sentimos, e nos tracionamos.
Julgamos a forma e não o conteúdo, e fomos banais.
Julgamos quando o que deveríamos ter feito era só compreender.
E usamos o poder no lugar do dialogo, e oprimimos.
E valorizamos o que não merecia e desvalorizamos o que não devia.
E humilhamos com nosso olhar ou com um comentário, incapazes de sair de nossa forma estreita de ser.

Porque neste período de fim de ano deve ser o momento em que nos propomos mudar nossa forma de julgar.

E sermos mais prudentes e menos afobados.
E sermos mais compreensivos e menos preconceituosos
E sermos mais cautelosos e menos apressados.
E sermos mais curiosos e menos dogmáticos.
E sermos mais generosos e menos egoístas.
Valorizando o essencial e não o supérfluo.
Protegendo nossos interesses sem pisar nos outros.
Levando em conta nossos sentimentos sem perder a noção de justiça.
Superando nossos preconceitos que são uma couraça empobrecedora.
E não permitindo que os medos nos dominem.

De forma que possamos chegar ao próximo ano tendo julgado menos porque nos conhecemos mais, nos colocando ainda que seja por um instante na pele do outro, acumulado assim menos arrependimentos e mais atos de amor, produzido menos dor e mais satisfação.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A CANECA DE ALUMÍNIO DO OMAR.

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Na casa do meu amigo Omar, há uma caneca de alumínio. Daquele antigo, bom e brilhante. O cabo é velho, o que lhe confere um ar de antiguidade. Nela beberam os filhos, de pequenos a grandes. Ela acompanhou a família nas muitas mudanças. Da roça para a vila, da vila para a cidade. Houve nascimentos, houve mortes. Ela participou de tudo. Esteve sempre junto. É a continuidade do mistério da vida na diferença de situações vitais e mortais. Ela permanece. Sempre brilhante e antiga. Creio que quando chegou à casa dele já era velha. Dessa velhice que é mocidade porque gera e dá vida. Peça central da cozinha.

Sempre que se bebe nela não se bebe água, mas o frescor, a doçura, a familiaridade, a história familiar, a recordação da criança sedenta que se sacia da sede. Pode ser qualquer água. Nesta caneca ela é sempre fresca e boa. Na casa, todos que tem sede bebem desta caneca. Como num rito, todos exclamam: ‘Como é bom beber nesta caneca! Como a água aqui é boa!’

No entanto, trata-se da água que vem do rio sujo que corta a cidade. Maltratada, segundo os jornais, portadora de riscos e doenças. Para prevenir enchem-na de cloro. Mas por causa da caneca a água se torna boa, saudável, fresca e doce...

Tantas fontes, tantas águas, uma única sede.

O filho regressa. Percorreu o mundo. Estudou. Chega. Beija a mãe. Abraça os irmãos. Matam-se saudades sofridas. As palavras são poucas. Os olhares, longos e minuciosos. É preciso antes beber o outro com os olhos para depois amá-lo. Os olhos que bebem trazem as palavras do coração. Só depois do olhar é que se pode permitir à boca falar de superficialidades desimportantes: ‘Como você engordou e está careca . Mas já está um adulto. Mas ficou ainda mais bonito!’ O olhar não perde tempo com nada disso. Ele fala o essencial do amor quando o filho se dirige à mãe: ‘Mãe, estou com sede, quero beber da velha caneca’...

E o filho bebeu de tantas águas. Tantas águas, mas nenhuma é como essa. Ele bebe da caneca. Não para matar a sede do corpo. Essa, as outras águas matam. Mas a sede do ambiente familiar. Sede dos carinhos paternos, a sede fraternal, das raízes donde vem a seiva da vida. Esta sede, só a caneca pode matar.

Bebe sofregamente. Terminou com um suspiro longo, como quem mergulhou profundamente e veio à tona. Depois bebe outra caneca, lentamente, para saborear o mistério que ela contém e significa.

Porque será que a água desta caneca é assim, sempre boa e doce, saudável e fresca? É porque a caneca é um sacramento. A caneca/sacramento confere a qualquer água bondade, doçura, frescor e saúde.

A caneca de alumínio está lá, na cozinha, na sua tranquila dignidade, entre tantos objetos e coisas domésticas. É velha. Mas só ela conserva a perene juventude da vida. Só ela vive entre coisas mortas, só ela é sujeito entre tantos objetos. Só ela fala entre tantas coisas mudas.

Só ela é doce lembrança, na humildade de uma cozinha familiar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A HISTÓRIA SE REPETE.

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As Rãs Que Pediram Um Rei.

A tradução é de 1941, da lavra de Nicolau Firmino, conhecido filólogo e latinista português. “As rãs, divagando pelas livres lagoas, pediram a Júpiter um rei com grande gritaria, rei que reprimisse pela força os costumes dissolutos. O pai dos deuses riu-se e deu-lhes um pequeno madeiro, que atirado subitamente às águas aterrou a raça medrosa com o movimento e com o barulho.

Como este madeiro jazesse por muito tempo mergulhado no limo, uma rã, por acaso, levanta tacitamente a cabeça para fora da lagoa e, examinado o rei, chama todas as rãs. Aquelas, deposto o temor, aproximam-se nadando ao desafio e a turba insolente salta para cima do madeiro.

Como o tivessem infamado com toda a espécie de insultos, enviaram a Júpiter rãs pedindo outro rei, porque era inútil o que tinha sido dado. Então, Júpiter enviou-lhes uma cobra-d’água, que começou a agarrá-las e comê-las uma a uma com dente cruel.

As rãs fracas, sem arte, impotentes, em vão fogem à morte, o medo fecha-lhes a voz. Por isso, secretamente dão recados a Mercúrio para Júpiter, a fim de que socorra as aflitas. Então o deus, em resposta, diz: “Porque não quisestes suportar o vosso bom rei, aguentai o mau”.

Na Terra Brasilis, a coisa anda mal, porque os homens-massa são insistentemente convocados pelos senhores do dinheiro, da informação e do poder a colocar seus sentimentos (e, digamos, impulsos) pessoais acima das regras da convivência civilizada.

Essa prática de sempre teve seus efeitos potencializados pela utilização das engrenagens tecnológicas das redes sociais, espaços utilizados para a opressão arbitrária e desatinada de um indivíduo sobre o outro.

A violência desabrida termina por solapar a vida civilizada, lançando a sociedade no desamparo e na violência sem quartel. A “solução final” imaginada pelos totalitários é a confirmação do destino que aguarda os virtuosos individualistas e antissociais: a infâmia e a barbárie.

A experiência histórica demonstra cabalmente que o totalitarismo não tem limites. Os tiranos de todas as eras e ocasiões concentraram em seus egos avantajados os desvarios das forças sociais que odiavam as Liberdades e Diversidades. Odiavam os Outros.

Nesses momentos de exaltação, os indivíduos que se proclamam “livres e excelentes” procuram desesperadamente o aprisionamento nas cadeias de manipulação e de controle. Adaptados, conformados, até mesmo confortados e felizes, são incapazes de compreender que sua individualidade é uma maçaroca sufocada nas aluviões de massas, vagalhões coletivos que promovem o aniquilamento pessoal.

Os inumanos agentes do novo totalitarismo são os funcionários da estupidez que pretendem decidir e controlar o destino do outro. O totalitarismo do terceiro milênio não usa coturnos nem câmaras de gás. Usa a informação que não pensa a si mesma.

A frase preferida do candidato Jair Bolsonaro expõe a natureza e a qualidade dos significados que informam suas relações com os eleitores: “Vamos acabar com tudo isso aí”.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

FAMÍLIA.


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Sabemos que o lar é a primeira escola do mundo e da vida. É uma escola de enriquecimento humano.

Deus quis que a atividade educadora e criadora da família fosse o reflexo da obra. O casal que constitui uma família está participando com o Pai na criação do mundo. A família é a célula originária da vida social. É a sociedade natural na qual o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida.

Podemos perceber, ao refletir sobre tudo isto, que a vivência do amor, da justiça, da solidariedade nasce na família para, depois, se expandir por toda sociedade. Para seguir o projeto de Deus, e, consequentemente, para vivermos a felicidade em plenitude, é preciso, aqui na Terra, aqui neste mundo que tanto tenta destruir a família , que saibamos defendê-la por que ela é o esteio da sociedade e é nela que podemos cultivar, desde a mais tenra infância, a fé, a esperança e a caridade, virtudes que farão deste mundo um mundo melhor e que, com toda a certeza, nos levarão à glória do Pai. Somos chamados a fazer com audácia a proposta de família como uma grande responsabilidade nossa e, ao mesmo tempo, com todo direito enquanto membros dessa sociedade.

A família vive um projeto onde não deve jamais haver o "meu" ou o "teu", mas o "nosso". E isso só acontece porque nela se vive o amor. Este amor nasce de uma profunda admiração pela pessoa do outro, na certeza de que só se é feliz quando se faz o outro feliz. Este amor faz com que a relação homem e mulher seja estável e duradoura. Casamento não é algo descartável. Essa ideia deve estar clara, principalmente na mente dos jovens, constantemente bombardeados pela televisão, revistas e novelas que os fazem acreditar que o casamento é coisa provisória. Parece que hoje pouco importa a realidade dos filhos neste tempo em que a infidelidade está na moda. Essa realidade desvirtuada sobre casamento, infelizmente faz com que casais acabem se machucando pela vida e pelos problemas que aparecem na convivência do dia a dia. Eis a nossa grande responsabilidade de educar os jovens nos valores, e a importância do testemunho de casais felizes nessa sociedade hodierna.

Muitas vezes, ao adormecerem os filhos recém-nascidos, a mãe e o pai entregam-nos a Deus para que vele por eles; e, quando se tornam um pouco maiores, põem-se a recitar, juntamente com eles, orações simples, recordando carinhosamente outras pessoas: os avós, outros parentes, os doentes e atribulados, todos aqueles que mais precisam da ajuda de Deus”.

A família também não pode se fechar sobre si mesma! Pais, mães e filhos devem “sair fora” dos limites de seus lares para santificar seus vizinhos, sua rua, seu bairro. Participar de suas comunidades para, junto com outras famílias, mudar estruturas, corações e mentalidades.

A família semeia esperança dentro do lar e é semeadora da mesma para fora, para a sociedade que necessita arejar os ambientes com os valores do respeito, da vida, da fé e da paz. “A família mais bela, protagonista e não problema, é aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro”.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

SAUDADES DO CÉU

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Andando em uma calçada, ouvi por acaso a expressão “saudades do céu”, que chegou não só aos meus ouvidos, mas ao meu coração. Conectei-a com o que ela representava para mim naquele momento.

Céu de quem? Meu, teu ou nosso? Quem constrói esse céu? Que jeito ele tem e como se constitui? Em meio a tantas direções, refleti sobre qual caminho deveria seguir...

Saudades de bem-estar, de me sentir confortado, de algo conhecido, imaginado, sentido ou almejado ou simplesmente saudades de algo que me recoloca dentro de mim, um útero para me reacomodar, repousar em alguém: Deus!

Ser amparado de um novo modo – não conhecido até então –, confiar minhas dores, angústias e solidões de toda uma vida e vê-las transformarem-se de história vivida em quem sou hoje.

Nesse movimento percebe-se que muita gente sem conhecer, e sem conseguir imaginar, tem saudades... Saudades do céu... Saudades de um lugar idealizado nas suas melhores divagações. Saudades de um lugar que remete à amplitude, ao conforto, à tranquilidade, à comunhão consigo mesmo e com o universo – é preciso algo mais para descansar?

sábado, 17 de novembro de 2018

COSTAS ARQUEADAS

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Prostrado, ele mostrava quão difícil era seu andar e quantas desilusões precisava carregar. Muitas pedras neste caminho ele necessitava reassentar para encontrar vida em seu viver e poder caminhar.

Nas costas arqueadas, expunha a fragilidade de uma vida e a força que empenhou para continuar acomodando tudo e todos que perto dele seguiam; reivindicações que não media esforços para atender. Na imensidão de tudo fazer, a tudo acolhia e se encolhia. Ficava evidente que esse peso era maior que sua força.

Força e sentimentos prostrados nele se encontravam, os olhos arqueados, em queda livre caíam a amargar o chão, até que pudesse erguer-se e aprumar seu olhar.

Precisava em algum momento, enxergar o que ainda não tinha visto. Entrar em contato com o muito que deixou para trás e o quanto também se deixou abandonar. A plenitude no seu olhar precisava encontrar.

Ele é humano e, como nós, humanos sensíveis ao que vivemos. Não há estar sempre bem, mas desenvolver maneiras de ficar bem diante de situações que nos fragilizam. Aqui o limite é necessário para nós e para o outro. É ele que ajuda aliviar o peso carregado nas costas.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA


Sobre o 15 de novembro e a proclamação da República:

1. A proclamação da República é um dos momentos decisivos da formação do Estado burguês no Brasil, assim como a abolição da escravidão (1888) e a promulgação da primeira Constituição (1891) do período republicano.

2. Embora a República tenha nascido por meio de um golpe do Exército que derrubou Dom Pedro II, os militares não tinham condições de permanecer no poder durante muito tempo. Rapidamente, o latifúndio agroexportador mostrou que era o único setor que tinha condições para reivindicar, e com exclusividade, a direção do aparelho de Estado. Depois de Deodoro e Floriano, ficou patente a hegemonia dos partidos republicanos de SP e MG.

3. Os republicanos eram defensores de um liberalismo excludente: não eram democratas, e sim profundamente autoritários. Defendiam o laissez-faire no terreno da economia. E na política, eram contrários ao sufrágio universal (mulheres, analfabetos e imigrantes residentes no país não podiam votar).

4. A República coincide com o processo de “americanização” do Brasil. Rapidamente, o eixo diplomático deixa de ser Rio de Janeiro-Londres e se transfere para Washington. Os EUA foram a primeira grande potência a reconhecer o governo provisório de Deodoro. Até o nome oficial do país era uma cópia do modelo estadunidense: “Estados Unidos do Brasil”. Rui Barbosa, membro da Assembleia Constituinte em 1891, reconheceu que nossa Constituição era uma “cópia” da Constituição dos Estados Unidos da América, com sua excessiva descentralização (bastante autonomia para os Estados-membros).

5. O “republicanismo”, na ciência política, está ligado à ideia de que os interesses coletivos estão acima dos interesses privados: a lei vale para todos, e não se admite o estabelecimento de privilégios ou discriminações. Por exemplo: uma atitude “republicana” seria o repúdio a qualquer forma de nepotismo ou favorecimento pessoal. Sendo assim, podemos afirmar que tínhamos uma República, mas não republicanos verdadeiros. Tal como hoje.

6. A economia brasileira continuou sendo “essencialmente agrícola”. Os representantes do complexo agroexportador abraçaram com entusiasmo a teoria das vantagens comparativas do economista inglês David Ricardo, reiterando assim a nossa “vocação agrícola”. Os poucos industrialistas da época viviam como profetas no deserto…

7. Todos nós aprendemos nas aulas de história que na Primeira República “a questão social era um caso de polícia”. Deixa eu dizer uma coisa: é verdade, mas a questão social continua sendo um caso de polícia até os dias atuais…

8. Com o fim da escravidão, foram realizadas tentativas de “branqueamento” da sociedade. Incentivou-se a imigração de trabalhadores europeus, enquanto os negros foram relegados ao esquecimento, quando não eram submetidos à violência direta. Deixo aqui como dica de leitura “A integração do negro na sociedade de classes”, de Florestan Fernandes.

9. Apesar da proclamação da República ser um exemplo de “revolução pelo alto”, não podemos esquecer as lutas das classes subalternas: as revoltas de escravos que ocorreram durante todo o período colonial e também durante o Império, a resistência indígena, a Guerra de Canudos, as greves operárias, o movimento anarco-sindical, a fundação do PCB em 1922, a revolta dos marinheiros liderados por João Cândido, as revoltas tenentistas da década de 1920, a Coluna Prestes, as campanhas pelo voto feminino e diversas revoltas espontâneas da população, das quais a Revolta da Vacina foi a mais conhecida.

10. Michel Temer, Bolsonaro e toda essa quadrilha golpista colocaram o Brasil de volta ao século XIX.

VOCÊ ESTÁ SENDO DESTRUÍDO! SORRIA!


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Por mais otimista que sejamos ou tentemos ser, não existe a possibilidade de enxergarmos com bons olhos, o futuro governo de Jair Bolsonaro. Todas as medidas, até agora anunciadas pelo presidente eleito e sua equipe, visam causar prejuízos aos trabalhadores. Principalmente, aos mais pobres. O mais curioso, é que ao invés de provocar revolta e indignação em todos aqueles que serão prejudicados com as medidas, o que eu vejo é uma euforia débil diante de uma covardia legitimada, a qual muitos chamam de mudança.

De que doença, os pobres e médios que ajudaram a eleger Bolsonaro, sofrem? Que tipo de deficiência os acomete, que não permite-os perceber que escolheram o seu próprio carrasco? Ele anuncia que vai acabar com o Ministério do Trabalho, e eu vejo trabalhadores dizendo que a pasta nunca serviu para nada. Ele quer acabar com o ministério da cultura, e eu vejo gente dizendo que artista não tem nenhuma utilidade na sociedade. Ele quer acabar com os direitos trabalhistas, e eu ouço empregados dizendo que esses direitos, só atrapalham a relação com os patrões e os fazem perder dinheiro. Oi?

Ele quer uma reforma ainda mais radical na previdência, e tem gente dizendo que é necessário abrir mão da aposentadoria integral, ou, até mesmo, ficar sem aposentadoria, para o país voltar a crescer. Ele quer armar a população, para que nos matemos uns aos outros, e eu vejo gente vibrando com essa possibilidade. O que está acontecendo com essas pessoas? Tenho a impressão, de que se ele decidir revogar a Lei Áurea, haverá pretos apoiando a medida e dizendo que, pelo menos, na época da escravidão eles tinham trabalho.


Eu acho que se ele decidir queimar "hereges" na fogueira, os seus eleitores cristãos dirão que é a vontade de Deus. Acredito ainda, que se ele decidir revogar os direitos conquistados pelas mulheres, apesar de toda a nossa cultura machista e misógina, ouvirei mulheres dizendo que, é só vadia quem gosta de liberdade. Onde fica o botão que desliga essa gente? Sério! Não dá para perceber que a nossa sociedade está doente e elegeu um representante a altura da sua patologia, para nos governar?

A mudança que muitos desejavam, é a perda de sua liberdade existencial e dos seus direitos sociais? Quem se beneficia com isso? Sei lá! Parece que estamos diante de uma possessão social coletiva, na qual a maioria está entregando o seu corpo e a sua mente, a um obsessor ideológico que vai fazer o que bem entender com eles e com a devida permissão dos obsediados. Ando me sentindo em outra galáxia e sei que muitos compartilham desse mesmo sentimento. A surrealidade está sendo normatizada e adotada como um novo padrão a ser seguido.


Estamos assistindo a passagem de um trio elétrico fascista. E quem não tiver "abadá", e ainda assim quiser acompanhá-lo, vai morrer na avenida atropelado ele. A estupidez foi oficializada. A bestialidade virou virtude. A ignorância se tornou o nível de conhecimento mais elevado, nesse momento que estamos atravessando. Tudo isso nos levará a uma auto destruição progressiva e cronometrada pelos idealizadores dessa nova sociedade. Eles quiseram o seu país de volta e arrumaram a maneira mais sórdida e legítima para realizarem esse sonho. Convencendo a maioria de que o melhor para ela, é ser oprimida, marginalizada e dizimada.

Sorria! Você está sendo destruído!

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

MISSA DE RÉQUIEM

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Não me alegra a ideia de perdedores na política, nem me rejubilo com a epidemia prisional que se abate no país. Seja no cumprimento da justiça ou como irresistível ânsia predatória, diante de uma Suprema Corte altamente politizada ou partidária. Tampouco festejo o impeachment considerado como antídoto de nossa imensa crise, segundo pregam partidos de exuberante narcisismo.

A demonização da política interrompe fluxos de diálogo e produz uma democracia de baixo impacto. O combate à corrupção, contudo, deveria ser feito nos limites do estado de direito. Trata-se de razão necessária, mas insuficiente para mudar o país.

A saída do senhor Temer, no entanto, é um imperativo moral, ação de legítima defesa. A acusação da Procuradoria Geral da República de crime de corrupção passiva sela o deplorável buraco negro em que se afoga o inquilino do Jaburu com seu “ministério de notáveis”. Sobram razões para imediato afastamento. Ocasião para esclarecer a extensão de possíveis malfeitos. Seus aliados poderão avaliar, então, os dividendos políticos do irrestrito apoio que lhe deram, liderados pelo senhor Eduado Cunha, alter ego e iminência parda do senhor Temer.

Ainda que fosse varão de pureza proverbial, como Lohengrin, as manobras na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e a compra acintosa de votos demonstram cabalmente a espessura do horizonte ético de certa vida política e de sua relativa precificação. A paz romana de que o senhor Maia é depositário não seria capaz de iluminar o fim do túnel. A unção das urnas jamais se mostrou, nesses últimos anos, tão dramática e urgente.

Uma democracia de impacto minimamente razoável depende de uma instituição invisível e progressiva: a confiança. Como diz Pierre Rosanvallon, em “A Contrademocracia”, a confiança não apenas amplifica o valor da legitimidade, mediante um acréscimo de ordem moral, como também “pressupõe o caráter da continuidade no tempo dessa legitimidade ampliada". A confiança é fator de equilíbrio institucional, capaz de poupar todo “um conjunto de mecanismos de prova e verificação”.

A confiança, bem entendido, não é milagre, mas fruto da mediação do diálogo dos agentes da República, sem excluir sua extrema capilaridade. Resulta de um concerto republicano, de um pacto negociado em torno de um núcleo duro capaz de amalgamar aspirações da retomada do crescimento e o combate à desigualdade.

Não poderemos ampliar a ação eficaz da confiança, como legitimação de nossa democracia, se não atacarmos as estruturas de nossa desigualdade, agora que voltamos ao mapa da fome e aos números estratosféricos de desempregados. As reformas não dependem apenas da força dos tratores da base aliada na tramitação dos projetos de lei. Quando um governo não se envergonha de seus atos, não se defende das acusações delituosas e não dialoga com a sociedade é porque está morto. Não merece uma pálida missa de réquiem.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

CARISMA PARA ATRAIR MULTIDÕES.

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Desde a década de 60 a Igreja Evangélica Brasileira viu nascer dentro de si um movimento que tem sido chamado de novo pentecostalismo. Como qualquer outro fenômeno humano, este também é um feixe complexo no qual se entrecruzam, além da dimensão religiosa, as sociais, políticas, psíquicas e econômicas. Apesar desta complexidade é necessário que tentemos descrevê-lo, ainda que parcialmente.

O "apóstolo" Estevão Hernandes e sua esposa, a "bispa" Sônia, líderes da Igreja Renascer, são em muitos aspectos uma síntese deste movimento. Ressalte-se enfaticamente que nem todas as igrejas e pastores neo-pentecostais podem ser medidos pela maneira como este casal tem vivido e pregado sua fé. Todavia, não se pode negar que o "apóstolo" e a "bispa" trazem em sua trajetória a marca que tem caracterizado boa parte do mundo neo-pentecostal: líderes com um enorme carisma, dissociado de caráter e alimentado por uma teologia do consumo e da prosperidade.

O carisma de atrair multidões e saber lidar com elas, faz do líder de qualquer organização uma pessoa muito poderosa e na igreja não é diferente! Isto porque, um líder com forte carisma é capaz de seduzir seguidores a ultrapassar até mesmo os limites do razoável, pois o senso crítico de um grupo de pessoas diminui na proporção exata da incidência do carisma do líder sobre ele. O caráter por sua vez, é a fronteira do carisma. É através dele que se resiste às armadilhas do carisma. Então, quando um se desliga do outro, o líder perde o seu crítico interior, destrói seu super-ego ficando ao sabor do ego inflado pelos resultados advindos de sua liderança carismática.

Esta equação daninha de carisma sem caráter somente se sustenta no contexto da fé porque ganha contornos divinos. É a chamada teologia da prosperidade, que justifica diante dos fiéis os abusos financeiros de um estilo de vida socialmente nababesco vivido por muitos deles. Prega-se dentro desta visão teológica, que Deus deseja que os seus filhos prosperem, por isso, eles devem ofertar ao máximo, pois fazendo assim, serão recompensados. Ou no limite de suas angústias ou puramente interessadas numa barganha sobrenatural na qual a benção de Deus é comprada mediante o dízimo, pessoas vão embarcando nesta que é a curto, médio e longo prazo, uma canoa teologicamente furada. Obviamente que não para os líderes carismáticos pregadores de tal teologia que, diga-se de passagem, são os únicos realmente a prosperarem numa medida de milhões de reais.

A rigor, o quadro até aqui descrito não é novo, sendo já conhecido e tratado pela grande mídia. A novidade do presente momento, fica por conta das denúncias do Ministério Público Paulista que qualificam uma igreja como organização criminosa e responsabilizam seus líderes por ações ilícitas. Estas denúncias em si mesmas, independente do seu desfecho, devem constituir-se em uma séria advertência a todos, de que falta de caráter no âmbito da fé poderá trazer sérias implicações judiciais para aqueles que ultrapassem os limites legais. Sendo assim, a cadeia não pode ser encarada nem como punição divina e nem uma armação do diabo (como têm insinuado os líderes da Igreja Renascer), mas sim uma conseqüência natural que deve se abater sobre todos os infratores da lei.

Em tudo isso, é curioso notar que um outro Apóstolo (Tiago, este sim sem aspas!), escreve na Bíblia que a fé sem obras é morta. O que ele não disse, mas implícito está, é que uma fé morre não apenas pela ausência de obras, mas pela qualidade delas e dos meios usados para produzí-las. Portanto, uma fé sem ética está morta apesar dos muitos resultados. E uma vez morta, só nos resta fazer sua autopsia e torcer pelo seu breve sepultamento, para então renascer líderes que com integridade cumpram sua missão amando a Deus e a este povo tão sofrido!

sábado, 10 de novembro de 2018

BUDAS DE BAMIYAN E CRISTO REDENTOR.

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Bamiyan é um vale como outros tantos vales no centro do distante Afganistão. No seu centro, uma pequena vilazinha à beira da estrada que liga Herat, na fronteira com Iraque, à capital Kabul. Seguindo em direção ao Oriente, depois de Kabul, a rota segue, para o sul, em direção a Islamabad, já no Paquistão e mais adiante, para a Índia. Ou então, de Kabul, outra alternativa é pender para o Norte e, transitando entre os vales que separam o Tibet de Xingiang, chegar até a China, o Império do Centro. É a Rota da Seda que, durante milênios, fez a conexão entre o Oriente e o Ocidente. Marco Polo, no final do séc. XIII e início do séc. XIV, fez o percurso e tornou-o conhecido no mundo mediterrâneo. Hoje, a China, em seu anseio de firmar-se como liderança econômica mundial, está reconstruindo a Rota da Sede não mais com camelas, mulas e cavalos mas com modernos sistemas de transporte ferroviário, rodoviário e naval.

Voltando a Bamiyan... O que torna este vilarejo tão importante e tema deste nosso texto é que, nas encostas dos vales que a circundam, estavam as famosas estátuas dos Budas gigantes de Bamiyan. A maior das duas tinha 54 metros de altura. A outra, 36 metros. Escavadas dentro das cavernas, sua construção teve início no séc. VI quando a região era ocupada por dezenas de mosteiros budistas. No ano de 630, um chinês budista que passou pelo local descreveu-as como “decoradas com ouro e pedras preciosas”. Com o passar do tempo e a destruição dos mosteiros pela invasão árabe do séc. VIII, o ouro e as pedras preciosas foram levadas para o tesouro de alguma corte da região e só resistiram os Budas de pedra impávidos em suas cavernas dominando a região habitada pelos pashtuns e alternadamente dominada pelos impérios persa, árabe, turco e, finalmente, de 1830 a 1919, pelo Império Britânico. Com a saída dos britânicos, a região viveu décadas de instabilidade até que, em 1978, um golpe militar, apoiado pela então União Soviética, instalou uma república socialista no Afganistão.

Em plena Guerra Fria, o novo governo foi visto pelos Estados Unidos como uma ameaça para seus interesses na região. Com o apoio do Paquistão e da Arábia Saudita, o serviço secreto norte-americano começou a arregimentar, treinar e municiar grupos de opositores ao novo governo pró-soviético. Para dar-lhe coesão ideológica, fez recurso ao fundamentalista islâmico sunita. Nasceram assim os talibãs ou mujahidin. Traduzidas, estas duas palavras significam estudante ou guerreiro santo. Professando uma interpretação literal do Al Corão, financiados, armados e assessorados pelos Estados Unidos, lançaram-se à luta para expulsar os invasores soviéticos e seu regime ateu e construir um Emirato Islâmico na região. A operação foi a mais cara da Guerra Fria norte-americana e concluiu com a derrocada, em 1997, do governo pró-soviético e a instauração do Emirado Islâmico do Afeganistão. Nele, os estudantes do livroimpuseram a sharia como legislação reguladora de todas as instâncias da vida do país. E, como manda a sharia, toda representação humana ou divina, deveria ser destruída. Entre estas representações, a mais simbólica, os Budas gigantes de Bamyian, tornaram-se alvo dos talibãs.

Os apelos da UNESCO e a pressão diplomática dos países ocidentais não foram suficientes para demover os guerreiros. Pelo contrário, tal ato tornou-se, para eles, simbólico do seu poder e de sua autonomia ante os antigos mestres. Para financiar a compra de armas não mais necessitavam de ajuda americana. O comércio do ópio lhes fornece os recursos de que precisam. Em março de 2001 as duas gigantescas estátuas foram transformadas em disformes blocos de pedra pela explosão de centenas de quilos de dinamite. Tudo filmado e disponibilizado na internet. Era o fim das estátuas dos Budas gigantes de Bamyian. O governo norte-americano lamentou o episódio mas foi incapaz de reconhecer que aquela barbárie só se tornou realidade porque, na década anterior, havia colocado armas na mão de fundamentalistas religiosos que, ao darem-se conta de seu poder, não mais obedeciam às ordens de seus antigos patrões e resolveram continuar o seu percurso fundamentalista independentes de seus antigos tutores.

O governo japonês se dispôs a reconstruir as estátuas assim que a guerra na região terminar. Talvez demore... mas será uma reconstrução importante. Afinal, aquelas duas estátuas talvez só sejam comparáveis, em seu poder simbólico, á estátua da Liberdade na entrada do porto de Nova Iorque e à do Cristo Redentor do alto do Morro do Corcovado, no Rio de Janeiro. A estátua da Liberdade está bem protegida pelos serviços de segurança norte-americanos. Já a do Cristo Redentor, talvez tenha que ser protegida antes que seja dinamitada pelas milícias fundamentalistas que começam a ser formadas no Brasil. Oxalá que não..., mas é bom precaver-se!

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

POPULISMO EVANGÉLICO, UM GRANDE PERIGO!


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O populismo enquanto fenômeno político e o jeito populista de governar já são velhos conhecidos de parte da sociedade brasileira, pois desde a era Vargas vem marcando presença significativa na história do nosso país. O que é relativamente novo neste cenário é um outro fenômeno que aqui chamaremos de populismo evangélico. Na essência, os dois são a mesma coisa, a diferença esta na aparência. Isto porque na versão evangélica este populismo aparece em uma embalagem própria para conquistar o público a que se destina.

São essencialmente semelhantes por ambos se sustentarem e perpetuarem-se na figura do político carismático que sabe muito bem usar o palanque nos comícios, as câmeras na TV e as ondas no rádio, meio de comunicação de massa ainda muito forte entre as classes mais suscetíveis a este tipo de apelo. Uma vez eleito, o político populista, evangélico ou não, vai ter na sua prática de governo um comportamento idêntico em um ponto central: o uso da máquina do Estado para promover ações de curto prazo visando a resolver necessidades imediatas dos menos favorecidos, isto sem criar políticas públicas capazes de, a médio e longo prazo, influenciar na transformação das estruturas socioeconômicas geradoras da nossa desigualdade. Obviamente, os maiores e reais beneficiários destas ações não são sequer aqueles para quem elas teoricamente se destinam, mas sim quem as promove quando delas auferem significativo lucro eleitoral.

Este populismo assume uma roupagem evangélica quando a mesma habilidade verbal do palanque é usada no púlpito a serviço de uma idéia, que, por assim dizer, é a chave mestra capaz de abrir as comportas do voto evangélico. Refiro-me especificamente ao uso que se faz do corporativismo de classe celebrizado na frase "irmão vota em irmão". Com isto busca-se convencer o eleitorado a escolher um governante tão-somente pelo fato de ser evangélico. Ora o discurso populista de caráter puramente assistencialista, que já em si mesmo é extremamente sedutor, quando acrescido desta dimensão espiritual dá a este populismo evangélico uma combinação com muito poder de voto na disputa eleitoral. Esta é a razão pela qual vai se vendendo sistematicamente a ilusão de que, por ser o governante um evangélico, Deus naturalmente abençoará o seu governo, transformando tudo pelo poder das orações e a liderança do seu eleito.

Esta falácia pode ser facilmente desmontada ao lembrarmos que quando escolhemos um governante os critérios desta escolha são mais amplos do que aqueles usados para escolher um líder religioso de uma igreja. Estamos elegendo alguém convocado pela sociedade para dirigir um povo marcado pela pluralidade, inclusive e principalmente de crenças. Não se governa uma cidade, estado ou país simplesmente apresentando como única credencial sua fé e denominação religiosa. Existem outras qualidades que um postulante ao governo de qualquer instância do nosso país deve apresentar, qualidades estas que os políticos representantes deste populismo evangélico fazem questão de não trazer a cena. É exatamente nesta manobra onde se verifica a clara instrumentalização da fé com fins puramente eleitorais, quebrando despudoradamente um mandamento bíblico dos mais sagrados, o de não usar o nome de Deus em vão! Importa ainda ressaltar que tais políticos não teriam sucesso não fosse a cooperação dos pastores orientando os seus rebanhos a votarem cegamente no candidato "ungido pelo Senhor". Reedita-se então a histórica relação entre o rei cujo poder político era sustentado pelo poder espiritual do sacerdote!

Infelizmente a Igreja Evangélica como hoje se configura é um terreno fértil para a proliferação deste populismo. Isto, por ser em sua maioria composta por denominações cuja presença maciça se faz sentir nas franjas sociais do nosso país, onde existe uma população marcada pela exclusão social, presa fácil deste esquema político-religioso. Todavia, há uma minoria em meio a esta grande massa disposta a marcar sua posição contrária a esta onda populista, pois enxerga nela graves perigos para a Igreja e para o país!

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

PERDÃO

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Em algum momento alguém vai ter que ser perdoado, pelo que fez ou pelo que deixou de fazer. Por não ter compreendido. Por ter deixado de lado, por não ter deixado claro. Por ter machucado. Pelo que pensou em fazer, mas não teve a coragem, pelo que se omitiu ou pelo que não conseguiu.

Em algum momento alguém vai ter que se perdoar, pelo que fez, não fez, deixou para trás... E hoje isso tudo bate à porta de sua vida e soa por reclamação. A voz dentro de si grita por libertação...

Em algum momento alguém vai pedir perdão. Vai se dar conta de algo ainda não visto. Vai compreender a vida que passa e como passou pela vida... Vai entender que o coração se transforma, que a verdade grita. E que podemos transmutar o sentimento e o pensamento. Desvela-se a inocência perdida.

Em algum momento o perdão vai acontecer. De uma parte, de ambas, mas calma e tranquilamente vai estar presente abrandando dores, lamentos e as tristezas escondidas que reaparecem para uma redenção.

Em algum momento alguém vai se sentir abraçado pelo perdão. Outros vão abraçar em vida, ou na vida que pulsa nas pessoas.

Em algum momento que não nos pertence, pois não é o nosso tempo, e sim o tempo de outrem. Não é a nossa verdade, mas a verdade do universo que impera. A luz, a palavra, a compreensão palpitam pelo momento oportuno em que as duas vontades obedecem a um plano maior.

Em algum momento a vida anda, os aprendizados se constroem e a mudança ocorre.

Em algum momento o ser humano evolui.

Em algum momento o perdão acontece...

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

UM SHOW CHAMADO CORRUPÇÃO

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Comecemos pelo lugar-comum: a corrupção no Brasil não é um vírus que vez por outra ataca o corpo da nação; nem é tampouco uma epidemia generalizada, como uma doença de passagem pela alma nacional. A corrupção brasileira deve ser mais apropriadamente comparada a um câncer sempre presente na trajetória histórica do nosso povo, uma doença nacional cujos efeitos nefastos encontram raízes no passado, mostram suas garras no presente e tendem a eternizar-se em nosso futuro.

Das muitas facetas da corrupção neste país, uma em particular me tem captado a atenção ultimamente. É inegavelmente notório o nível dos argumentos usados por pessoas públicas envolvidas recentemente em casos de corrupção. A falta de consistência das respostas às acusações e das investigações feitas é tão flagrante, que chamar tais tentativas de defesa de argumentos seria um exagerado elogio. A falta de coerência de tais discursos está muito mais para desculpas ridículas incapazes de convencer o mais ingênuo dos cidadãos do que para argumentos de defesa.

Espera-se de um ladrão inteligente não apenas a sagacidade no ato de roubar, mas também a engenhosidade de um álibi consistente. Hoje no Brasil os que lesam o patrimônio da nação parecem não se preocupar nem com planos inteligentes para deitar a mão naquilo que não é seu, nem, muito menos, com explicações elaboradas para tentar se defender. Tal atitude pode ser sintoma de duas realidades: ou essas pessoas não têm mesmo argumentos para se defender por estarem envolvidas em atos indefensáveis, ou são suficientemente cínicas a ponto de roubarem mal e ainda se explicarem mal, confiadas que estão no chão da impunidade que as sustenta. Lesados que somos por eles, mereceríamos uma atuação melhor, um discurso mais polido. Já que nos roubam descabidamente, mereceríamos no mínimo atores melhores, com falas mais convincentes. Ao menos isso nos daria um pouco mais de ânimo para assistirmos a esta "festa pobre". Eles já nem se estão preocupando em se dar ao trabalho de sequer nos enganar com maestria. Na verdade, quando algumas dessas pessoas vêm a público para se defender eu me sinto ultrajado na minha inteligência. Sou e somos, portanto, lesados duplamente, no nosso bolso e na nossa dignidade de merecer ouvir uma mentira mais elaborada. Por mais absurdo que possa soar, em alguns casos já nem espero mais pela verdade; estou num nível abaixo: quero pelo menos mentiras melhor contadas. Isso porque, quando alguém se preocupa em mentir bem, a situação não é resolvida, mas pelo menos da parte de quem está mentindo se detecta um mínimo de preocupação com a inteligência de quem está ouvindo.

Aos corruptos desta nação peço - já que detestam a luz da verdade e da justiça sobre seus atos - que pelo menos não nos privem do show. Por favor, no mínimo isto: não nos roubem a última coisa que vocês poderiam nos oferecer - um belo espetáculo composto das mentiras mais bem fabricadas; uma grande peça na qual todos saberíamos quão falsas seriam as falas, mas pelo menos nos divertiríamos com a cínica e brilhante interpretação de vocês diante das câmeras. Quem sabe dessa maneira seríamos forçados a encarar o dinheiro que nos foi tirado como uma espécie de ingresso compulsório para assistirmos - no teatro da corrupção - a uma montagem de mentiras públicas visando esconder verdades privadas.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

A FELICIDADE QUE TANTO ALMEJAMOS

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Ninguém é feliz todos os dias. Há dias nos quais levantamos, mas parece que tudo em nós gostaria de ter ficado na cama. Há dias nos quais nossos corações parecem estar nublados, somente nuvem, chuva e frio.

Sentimo-nos desanimados, achando-nos o pior de todos os mortais. Dias de fastio da alma, uma certa náusea da vida, um enjôo da existência. Tudo fica muito rotineiro, o novo tornar-se velho, o belo, comum, a alegria se despedaça em pequenos fragmentos de tristeza, parece que a felicidade escorreu pelo ralo da nossa vida.

Se este é um dos seus dias, você saberá exatamente do que estou falando. É sempre assim, somos mais capazes de compreender a dor ou a alegria quando passamos por elas. Contudo, esteja como estiver o seu dia hoje, é bom lembramos algumas verdades.

Existe dentro de nós uma imensa sede de felicidade e bem-estar. Tudo quanto fazemos na vida, desde o mínimo detalhe, até a coisa mais complicada, é em busca desta felicidade. Daí nossa dificuldade de lidar com esses dias nos quais a felicidade parece ter desaparecido.

Infelizmente, o alvo consciente ou inconsciente da nossa vida tem sido a felicidade. Mas este não é o alvo de Deus para sua vida. Neste dia, quem sabe infeliz para você, Deus quer que você olhe para um outro alvo da vida. O alvo de Deus para você é o crescimento. Isto não significa que Deus não queira sua felicidade, apenas quer alertar para o fato de que a felicidade é uma conseqüência do seu crescimento.

Crescer, desenvolver nossa maturidade, desenvolver nosso potencial, este é o alvo primeiro de Deus para mim e para você. Sem crescimento não haverá felicidade. Se não crescermos, viveremos como crianças desfrutando das pequenas alegrias que os nossos brinquedos nos dá, mas jamais experimentaremos a real felicidade que vem dele.

Todo crescimento passa pela dor. A dor é o sinal de uma nova vida, é o prenúncio de uma nova experiência, é o grito de um novo ser nascendo em nós. Sem dor não haverá crescimento, sem crescimento, novamente, não haverá felicidade.

Neste dia quem sabe de dores, você pode não estar se sentindo feliz, mas você pode estar crescendo. Saiba que apesar das dores de hoje, o crescimento virá e com ele a felicidade que você tanta almeja.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

COMEÇA A MORRER UM SÍMBOLO ÉTICO DO PAÍS.

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As conseqüências mais graves da onda de corrupção que tem assolado o nosso país desde longa data, não são aquelas que nossos olhos podem ver, encontram-se no mundo subjetivo, no inconsciente coletivo, "lugar" onde o povo cultiva seus símbolos e valores. Tome-se por exemplo desta verdade, os recentes escândalos envolvendo repasses generosos de vultosas verbas para ONGS suspeitas de servirem como ponte de financiamento ilícito, posto que, boa parte desses recursos retornava a sua fonte em forma de doação para campanhas políticas.

Ao transformar ONGs é um manto para esconder manobras escusas, dá-se mais um tiro no ideário simbólico da nossa nação. Isto porque, as ONGs simbolizam, ou pelo menos simbolizavam, a nobre luta por um ideal de sociedade que passava pelo caminho da ética. Lembremos que foi por constatar a incapacidade e ineficiência do estado brasileiro de cumprir suas obrigações mais elementares (saúde, educação, transporte...), que um número significativo de cidadãos começou a se organizar não governamentalmente numa bela tentativa de unir a força do poder público, os recursos da iniciativa privada e o voluntariado, a fim de formar uma grande aliança que fosse capaz de minorar os efeitos do nosso caos social. Surgia assim o chamado terceiro setor trazendo ares de esperança e se constituindo numa referência real e simbólica de que ainda era possível crer em organizações sociais não manchadas pela corrupção. Agora depois dos referidos escândalos, parte da população que já lançava um olhar de suspeição sobre as ONGs, encontra as melhores razões para delas desconfiar.

Assim começa a morrer mais um símbolo ético no nosso país e aí está a gravidade das ilicitudes cometidas, a dilapidação do patrimônio simbólico do Brasil, levando-nos a desconfiar de tudo e de todos, colocando num mesmo saco todas as farinhas! Não bastasse a pobreza social que nos cerca, assistimos como fruto da corrupção o gradativo empobrecimento existencial do nosso povo, visto que um país torna-se ainda mais pobre quando as entidades que simbolizam pureza ética e esperança são destruídas pelo carimbo da corrupção.

Se guardadas bem as devidas proporções da comparação, é isto que igualmente tem acontecido no âmbito da fé. A igreja, outro símbolo de integridade no imaginário coletivo, vê seu púlpito maculado por discursos eivados de manipulação psicológica em nome de Deus, aparece presente nas manchetes dos jornais protagonizando escândalos econômicos e administrativos dignos de intervenção judicial, torna-se plataforma para pessoas lançaram-se na construção de impérios pessoais marcados por fortes posicionamentos anti-éticos. O desdobramento deste quadro não poderia ser mais grave: na vida cotidiana as pessoas assumem uma atitude de cinismo desesperado diante da vida, na qual se sentem a vontade para "roubar", pois afinal todo mundo rouba, até mesmo os símbolos de valores como as ONGs, as igrejas...

Diante de tal cenário nunca foi tão premente o desafio de interpretar. Somente o discernimento, que etimologicamente significa ver no escuro, pode nos ajudar a evitar generalizações infantis e perceber um veio de resistência ética, pequeno é verdade, neste mar de corrupção no qual estamos inseridos. Por isso me solidarizo aqui com todos aqueles que trabalhando no terceiro setor não se prostituíram diante das ofertas fáceis e mantêm-se fieis aos ideais mais nobres de continuar sendo instrumento de vida, paz e bem neste país tão marcada pela morte. Esta santa resistência nos lembra que o pleno crescimento deste país passa pela recuperação do seu patrimônio simbólico. E isto acontecerá somente quando as organizações que por natureza são referências da nossa sociedade, assumirem sua responsabilidade de modelos inspiradores para uma revolução ética. Mas enquanto elas forem reféns de pessoas inimigas do bem público, resta-nos pouca, porém, imorredoura esperança!

domingo, 4 de novembro de 2018

ENTÃO POR QUE MENTEM?

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Uma antiga anedota judaica estava entre as preferidas de Freud. Conta que dois rivais no mundo dos negócios se encontram numa estação de trem. O primeiro pergunta: "Para onde você está viajando?" "Para Minsk", responde o segundo. "Para Minsk?! Que cara-de-pau! Você está me dizendo que vai para Minsk só para que pense que está indo para Pinsk. Mas acontece que eu não sou bobo e sei que vai mesmo para Minsk. Então por que você está mentindo para mim?"

A anedota nos confronta com questões profundas: a verdade existe de per si, ou dependente do entendimento de quem a escuta? Haveria distinção entre uma verdade ambientada em confiança e outra em suspeita?

Poderíamos dizer que a verdade que não leva em consideração a escuta do outro é uma verdade pequena, falsa, em contraposição a uma verdade genuína que inclui a percepção do outro?

Mesmo quando a verdade nasce na fonte, o leito por onde esta transita tem o potencial de poluí-la ou de transmutá-la em mentira, tão-somente pela exposição à malícia e ao blefe em seu percurso.

Encontramo-nos hoje num mundo tão competitivo e pragmático que raramente nos defrontamos com a verdade, ou é uma mentira deslavada ou é uma verdade mentirosa talhada por espertezas e segundas intenções. Ao mesmo tempo não somos mais gente comum, somos rivais em um mundo de negócios e nossas interações e encontros acontecem de alguma forma em "estações de trem".

O embuste atinge hoje níveis recordes e é cada vez mais rara a ingenuidade que o recicla. A ingenuidade tem como característica quebrar as ligações da maldade e recompô-la em probidade. Infelizmente a ingenuidade está escassa, mais exatamente em extinção. Há bolsões no interior e na mata, mas estes não se comunicam, e fica cada vez mais frágil seu ecossistema de candura e simplicidade.

A emissão de mentira in natura na atmosfera acinzenta o entardecer, mas pior destrói uma fina camada de confiança da qual tudo que é vivo depende. E, sem essa camada de confiança, penetram radiações lesivas que sentimos na pele. A exposição constante a essas radiações pelo rareamento da confiança é cumulativa pela vida a fora e pode evoluir para alienações que geram metástases destruindo tecidos vitais, particularmente os afetivos e solidários. Sua manifestação mais freqüente ocorre nos sensíveis e nos ternos para quem o potencial é altamente letal.

O individualismo aquece o consumo e derrete culturas coletivas que há milênios eram blocos maciços de humanidade e diversidade. Desse derretimento de diversidade vem mais semelhança, mais rotina, mais insatisfação. Tudo isso vai para o mar que era o colosso que a tudo sorvia. Era um todo que a toda parte fundia, era um todo que não se enchia. Mas não é mais assim. Adensado de corriqueiro e banal, o mar da aventura heterogênea é um caldo que abarrota - um muito que é pouco, um gigante anão que transborda.

E as sutilezas e as manhas evaporam e causam grandes tempestades. Logros e omissões se acumulam em grandes intempéries. É bíblico que quando o homem se corrompe há dilúvios. Ventanias de ondas magnéticas de celulares e roteadores perpassam o mundo e sempre pouca verdade, muita mentira e muito ardil. Tudo sub-reptício e subliminar com um efeito cumulativo cataclísmico.

Sem ter no que ou em quem acreditar, falta chão não só ao urso-polar. Sem ter privacidade e quietude falta ar não só aos peixes da lagoa. Sem criatividade e na mesmice falta território não só aos felinos. Sem compaixão e sem afeto falta água não só ao planeta, mas aos olhos humanos.

E ainda há dúvidas se tudo isso é causado por fatores humanos.

Esse é o clima, meus amigos. Há pouca visibilidade, alta pressão e muita instabilidade.

Mas pensam que sou tolo. Pensam que não peguei a manha. Dizem que o mundo está aquecendo. Muito provavelmente dizem isso para eu achar que não está aquecendo, mas está aquecendo. Então por que mentem?