quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

SONHAR...


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“Faz escuro mas eu canto porque a manhã vai chegar”, proclamou o poeta Thiago de Mello na época sombria da ditadura civil-militar de 1964.

“Está confuso mas eu sonho” digo eu, nestes tempos não menos sombrios. O sonho ninguém pode prender. Ele antecipa o futuro e anuncia o amanhã.

Ninguém pode dizer o que vai ser deste país após o golpe parlamentar-jurídico-mediático de 2016. Faz escuro e tudo está confuso mas eu sonho. Este sonho está rodando em minha cabeça há muitos dias e resolvi expressá-lo para alimentar a nossa inarredável esperança.

Sonho ver um Brasil construído de baixo para cima e de dentro para fora, forjando uma democracia popular, participativa e sócio-ecológica, reconhecendo como novos cidadãos com direitos, a natureza e a Mãe Terra.

Sonho ver o povo organizado em redes de movimentos, povo cidadão, com competência social de gerar as suas próprias oportunidades e moldar o seu próprio destino, livre da dependência dos poderosos e resgatando a própria auto-estima.

Sonho ver a utopia mínima plenamente realizada de comer pelo menos três vezes ao dia, de morar com decência, de ter frequentado a escola por oito anos, de receber por seu trabalho um salário que satisfaça as necessidades essenciais de toda a família, de ter acesso à saúde básica e depois de ter labutado por toda uma vida, ganhar uma aposentadora digna para enfrentar, serenamente os achaques da velhice.

Sonho ver celebrado o casamento entre o saber popular, de experiências feito, com o saber acadêmico, de estudos feito, ambos construindo um país para todos, sem excessos e também sem carências.

Sonho ver o povo celebrando suas festas com muita comida e alegria, dançando o seu São João, o seu Bumba-meu-Boi, seu samba, seu frevo e seu esplêndido carnaval, expressão de uma sociedade sofrida mas que se encontrou na 'fraternura' e na alegre celebração da vida.

Sonho ver aqueles que foram condenados a sempre perder, sentir-se vitoriosos porque o sofrimento não foi em vão e os amadureceu para, com outros, construírem um Brasil diferente, uno e diverso, hospitaleiro e alegre.

Sonho contar com políticos que se abaixam para estar à altura dos olhos do outro, despojados de arrogância, conscientes de representar as demandas populares, fazendo da política cuidado diligente da coisa pública.

Sonho andar por aí de noite sem medo de ser assaltado ou vítima de balas perdidas podendo desfrutar da liberdade de poder falar e criticar nas redes sociais sem logo ser ofendido e difamado.

Sonho contemplar nossas florestas verdes, nossos imensos rios regenerados, nossas soberbas paisagens e a biodiversidade preservada, renovando o pacto natural com a Mãe Terra que tudo nos dá, e reconhecendo seus direitos e por isso tratá-la com veneração e cuidado.
Sonho ver o povo místico e religioso, venerando a Deus como gosta, sentindo-se acompanhado por espíritos bons, por forças portadoras da energia cósmica do axé, dando um caráter mágico à realidade com a convicção de que, no fim, por causa de Deus-Pai-e-Mãe de infinita bondade e misericórdia, tudo vai dar certo.

Sonho que este sonho não seja apenas um sonho mas uma realidade ridente e factível, fruto maduro de tantos séculos de resistência, de luta, de lágrimas, de suor e de sangue.

Só então, só então, podemos rir e cantar, cantar e dançar, dançar e celebrar um Brasil novo, o maior país latino do mundo, uma das províncias mais ricas e belas da Terra que a evolução ou Deus nos entregaram.

Assim o quer o brasileiro e nos ajude Deus.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

É TEMPO DE FOLIA


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No grande picadeiro federal, os ministros olavetes endoidaram de vez.

Ficam batendo palmas para ver louco dançar, enquanto os generais do Planalto não se entendem sobre o que fazer com a Venezuela.

A porta-bandeira Damares e o mestre-sala colombiano evoluem com garbo pela avenida da insensatez, trocando o samba pelo Hino Nacional ao pé da goiabeira.

O chanceler aloprado quer guerra a qualquer preço e, sem saber o que fazer, o capitão sumiu até das redes sociais.

Tudo bem que é tempo de folia, os blocos tomam conta das ruas, a cerveja corre solta, mas esse ano parece que estão exagerando na dose.

Já não dá para separar o noticiário de Brasília da cobertura de Carnaval, a fantasia da realidade, as crasy news da ordem do dia do general porta-voz

Virou tudo um pacote só, misturando Previdência do Guedes com Lava Jato do Moro e comissão de frente com laranjais de caixa dois.

Nunca se falou tanto de "Deus acima de todos!", mas o Brasil está ficando é do jeito que o diabo gosta, com vaca estranhando bezerro e poste mijando em cachorro.

Stanislaw Ponte Preta e Nelson Rodrigues não sabem o que estão perdendo.

Só mesmo um Gabriel Garcia Marquez para descrever o que se passa neste verão brasileiro, que supera qualquer realismo mágico.

Apresentado pelo jornal como "precursor do humor jornalístico", José Simão, o Macaco Simão da Folha, virou o melhor comentarista político da imprensa brasileira.

É tudo tão trágico que acaba virando comédia, mas ninguém deveria achar graça nas legiões de deserdados jogados nas calçadas das grandes cidades, atrapalhando o trânsito de pedestres.

A cada dia, um escândalo supera o outro, o festival de hipocrisia e cinismo se alastra, com dirigentes da Vale e do Flamengo mangando das vítimas.

"Vamos salvar a Previdência", clama Nizan Guanaes, anunciando a salvação da lavoura: "Já se calcula que US$ 100 bilhões estão para serem investidos no Brasil, mas esperam a aprovação das mudanças". De onde o amigo tirou isso?

Vão esperar sentados, se depender das grandes corporações do funcionalismo público civil e militar, que mandam no Brasil e já avisaram que não aceitam reforma nenhuma, como já aconteceu tantas outras vezes, desde o século passado.

Antes diziam que era só derrubar a Dilma e prender o Lula que tudo se resolveria, choveria dinheiro nos céus do Brasil, todos os nossos problemas estariam resolvidos, como anunciavam os tabajaras do Casseta & Planeta.

"Sou do Mato Grosso. Lá a gente lida com chantagista assim: é matar ou morrer", reagiu o grande jurista Gilmar Mendes, ao saber que caiu na malha-fina da Receita Federal.

Como as armas agora estão sendo liberadas, e há muita gente graúda nesta malha, corremos o risco do Carnaval 2019 virar um grande bangue-bangue, que não vai respeitar nem mulher pelada.

Para não ficar fora da folia, o governador paulista João Doria já lançou a doidivanas Joice Hasselmann, uma bolsonarista de raiz, para candidata a prefeita de São Paulo em 2020, dando um chega para lá no tucano Bruno Covas, seu herdeiro político.

Já tinha feito o mesmo para trair seu padrinho Geraldo Alckmin para apoiar Bolsonaro na eleição passada.

Como nos velhos carnavais do lança-perfume e da serpentina, ninguém é de ninguém, acabaram-se os partidos e as lealdades. É o salve-se quem puder.

Agora, nos folguedos momescos desta cabulosa era da nova ordem, com os generais de pijama disputando espaço com os filhos do capitão, nem tudo vai acabar na Quarta-feira de Cinzas.

O pior é isso: pode estar só começando...





Texto de Ricardo Kotscho

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

VIVER EM COMUNIDADE


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Sem sombra de dúvida, hoje o grande meio de comunicação com o mundo é a internet. Pelo computador e smartphones as pessoas se conectam com todo o mundo. Contudo, isto é insuficiente para a conexão entre as pessoas. A comunicação via internet pode representar facilidade e rapidez. Mas também representar a superficialidade, transitoriedade, autossuficiência, isolamento, rompimento de relações comunitárias. A verdadeira conexão com as pessoas e o mundo acontece pela vida de comunidade.

A procura por relacionamentos via internet tem sido um fenômeno social de nossa era. Milhões de pessoas buscam sua felicidade por essa vertente do mundo virtual. Pelas redes sociais se configura a cultura secular, sob a rubrica do direito e da liberdade de compartilhar a vida pessoal. Porém, as trocas de informações com pessoas de outro lado do mundo configuram-se às vezes como relações que ficam embaçadas, confusas. Às vezes as pessoas passam boa parte da vida vivendo na trivialidade, do frugal, do frágil e do vulnerável. O mundo virtual pode significar um comportamento enfeitado pela ideia de autonomia, sob a égide que encobre o distanciamento da comunidade, das pessoas próximas. Por maiores que sejam as conexões virtuais, serão insuficientes no campo afetivo e efetivo.

A realização da vida humana passa por mediações e relações que compartilham esperanças, por valores imprescindíveis, como o da comunidade. Homens e mulheres jamais se realizam plenamente sem laços afetivos e efetivos com a comunidade. Com efeito, viver em comunidade implica colaborar com os comportamentos éticos, morais e sociais plausíveis à vida comunitária. Para tanto, requer a lealdade de cada membro com a capacidade de catalisar e estimular a vida de comunidade. O viver num espaço comum, como o da comunidade ou da cidade, implica políticas públicas que levem a responsabilidades éticas e vínculos sociais garantidos de forma coletiva.

Porém, a cultura secular prende o ser humano às raias da trivialidade que desfaz qualquer sentido de viver em comunidade. Essa situação exige privatizar e individualizar também a vida humana, com as posses, os bens, a economia. A separação da comunidade aumenta as angústias, os tormentos e inseguranças, desprotegendo o ser humano. O movimento que afasta da comunidade reveste-se de solidão e de um subjetivismo incapaz de aceitar a coexistência e a vida compartilhada.

Em contexto de indiferenças, intolerâncias e desigualdades sociais são razões para pensar na importância da comunidade. A reinserção na comunidade significa desfrutar do privilégio da liberdade pessoal e da segurança existencial, social. A vida comunitária representa emancipação do sujeito que pleiteia enfrentar as patologias da sociedade contemporânea. Frente a tantas patologias do mundo virtual, a reinserção na comunidade parece ser caminho a contemplar a significação da vida humana e trilha de um agir coletivo e global focalizado no bem comum e na segurança pública.



domingo, 24 de fevereiro de 2019

VENEZUELA RESISTE

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Funciona assim: você enche o quintal de seu vizinho de brita, arrebenta a calçada da casa dele, joga merda no telhado, corta a água, corta a luz, espalha que ele é corno, bêbado e bate na mulher. E convence o banco a bloquear a conta dele, com base em denúncias mentirosas, e corta o fornecimento de comida.

Depois de algum tempo, você usa a mídia para convencer os outros vizinhos que esse canalha tem que ser contido, porque, além de tudo, as crianças, os cachorros e gatos da casa estão começando a passar fome.


Então, quando todo mundo está convencido que esse ditador sem alma passou de todos os limites, enfiam dentro da casa um contraparente sem caráter que se declara, a partir dali, chefe interino da família.

Passado um tempo, esse mesmo conjunto de usurpadores decide levar ajuda humanitária à família que eles difamaram e levaram à ruína.

Só não esperavam que tanto o chefe da família, como a própria família, iria mandá-los enfiar essa ajuda no rabo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O CONTROLE DE SUAS FRONTEIRAS.


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O controle sobre as próprias fronteiras é o primeiro pressuposto para o exercício da soberania de qualquer país.

Quanto à decisão do governo venezuelano de fechar temporariamente a fronteira com o Brasil, é importante assinalar que:

1. A Venezuela jamais representou qualquer tipo de ameaça ao Brasil. É um país amigo, de conduta irretocável nas relações bilaterais.

2. O fechamento da fronteira é uma atitude defensiva, de caráter preventivo, diante da instalação, em território brasileiro, de atores que ameaçam cruzar a fronteira, sem autorização da Venezuela, levando uma suposta "ajuda humanitária" -- na realidade uma provocação voltada para deslegitimar e desestabilizar o governo venezuelano.

3. O governo de Bolsonaro age de forma irresponsável ao facilitar o envolvimento do Brasil na campanha dos EUA para a derrubada do governo Maduro. Jà foi um grave erro romper relações com Caracas e reconhecer um usurpador que não tem legitimidade jurídica para exercer o cargo de presidente e que, na prática, não controla nem sequer um único milímetro quadrado do território venezuelano. Mais grave ainda é colocar o Brasil numa posição de guerra iminente contra um país vizinho e pacífico, sem qualquer motivo para isso.

4. O envolvimento do Brasil nas provocações contra a Venezuela é algo que vai contra qualquer concepção do interesse nacional brasileiro. Não é interesse do Brasil uma guerra na nossa fronteira norte, tampouco é do nosso interesse a invasão da Venezuela por tropas dos EUA ou teleguiadas pelo governo estadunidense. Ao contrário:um confronto desse tipo só trará problemas e dificuldades ao Brasil, a começar pelo ingresso de multidões de refugiados.

5. O discurso dos EUA em favor da "ajuda humanitária" é uma grande palhaçada. Ajuda humanitária verdadeira, quem faz são organizações idôneas, qualificadas para essa tarefa, como a Cruz Vermelha Internacional, a Cáritas e os Médicos sem Fronteiras. Nenhuma dessas entidades tem qualquer relação com a ação provocativa dos EUA e inclusive a Cruz Vermelha já denunciou a manipulação política que está por trás dessa operação. Vale ressaltar, também, que os próprios EUA são os principais responsáveis pela falta de alimentos e de remédios na Venezuela, em consequência das sanções e do boicote econômico implementados a partir de Washington. Se o governo Trump quisesse, de fato, ajudar os venezuelanos, bastaria suspender as medidas cruéis adotadas contra o povo da Venezuela.

6. Com sua conduta, o governo Bolsonaro joga na lata do lixo toda uma tradição da diplomacia brasileira, que há décadas tem entre seus princípios a não ingerência nos assuntos internos de outros países, a solução pacífica dos conflitos e a manutenção da América do Sul como uma zona de paz.


7. Cabe a todos nós, brasileiros de bom senso, denunciar a conduta irresponsável das autoridades brasileiras perante a crise venezuelana e defender o direito à soberania do país vizinho, contra qualquer tipo de interferência externa.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O SÍNODO DA AMAZÔNIA.


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O noticiário desta semana informa que os cardeais brasileiros estão sendo espionados pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que relata ao governo recentes encontros deles com o papa Francisco, no Vaticano, para prepararem o Sínodo (do grego, ‘caminhar juntos’) sobre a Amazônia, a se reunir em outubro, em Roma.

“Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí”, declarou o general Augusto Heleno. Isso faz recordar a famosa pergunta de Stálin na Segunda Grande Guerra: “Quantas divisões possui o Vaticano?”

Segundo o Documento Preparatório do Sínodo, predomina na Amazônia a “cultura do descarte”, somada à mentalidade extrativista, que convertem o planeta em lixão. “A Amazônia, região com rica biodiversidade, é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja”. (...) “É de vital importância escutar os povos indígenas e todas as comunidades que vivem na Amazônia, como os primeiros interlocutores deste Sínodo”.

A Igreja denuncia situações de injustiça na região, como o neocolonialismo das indústrias extrativistas, projetos de infraestrutura que destroem a biodiversidade, e imposição de modelos culturais e econômicos estranhos à vida dos povos.

Nos nove países que compõem a Pan-Amazônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo Guiana Francesa como território ultramar), registra-se presença de três milhões de indígenas, no total de 390 povos. Vivem nesse território também entre 110 a 130 “Povos Indígenas em Situação de Isolamento Voluntário”.

A bacia amazônica representa uma das maiores reservas de biodiversidade (30 a 50% da flora e fauna do mundo); de água doce (20% da água doce não congelada de todo o planeta); e possui mais de 1/3 das florestas primárias.

Segundo os bispos, “o crescimento desmedido das atividades agropecuárias, extrativistas e madeireiras da Amazônia, não só danificou a riqueza ecológica da região, de suas florestas e de suas águas, mas também empobreceu sua riqueza social e cultural, forçando um desenvolvimento urbano não integral nem inclusivo da bacia amazônica.”

Lamentavelmente, “ainda hoje existem restos do projeto colonizador que criou manifestações de inferiorização e demonização das culturas indígenas. Tais resquícios debilitam as estruturas sociais indígenas e permitem o desprezo de seus saberes intelectuais e de seus meios de expressão.”

O papa Francisco afirmou em Puerto Maldonado, Peru, em janeiro de 2018: «Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios com o estão agora».

O pontífice denunciou esse modelo de desenvolvimento asfixiante, com sua obsessão pelo consumo e seus ídolos de dinheiro e poder. Impõem-se novos colonialismos ideológicos disfarçados pelo mito do progresso que destroem as identidades culturais próprias. Francisco apela à defesa das culturas e à apropriação de sua herança, que é portadora de sabedoria ancestral. Essa herança propõe uma relação harmoniosa entre a natureza e o Criador, e expressa com clareza que «a defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida».

Hoje, o grito da Amazônia ao Criador é semelhante ao grito do Povo de Deus no Egito (cf. Ex3,7). É um grito desde a escravidão e o abandono, que clama por liberdade e escuta de Deus. Grito que pede a presença de Deus, especialmente quando os povos amazônicos, ao defenderem suas terras, têm seu protesto criminalizado, tanto por parte das autoridades como da opinião pública.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

SER FELIZ.

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Ele teria sido feliz se tivesse se posicionado, se não omitisse fatos e sentimentos, se tivesse aprendido a se amar, se a vida tivesse sido fácil.

Ele teria sido feliz se tivesse aprendido a se proteger das invasões dos outros. Aprendido a cuidar-se um pouco mais.

Ele teria sido feliz se não tivesse medo de ser feliz. Se não seguisse tão amargo pelos dias. Se a alegria por dentro e por fora tivesse lhe inundado, descongestionando-o inteiro.

Ele teria sido feliz se em alguns momentos não tivesse se encolhido e sim se acolhido.

Ele teria sido feliz se sua aprovação não passasse pela aprovação do outro.

Escolher ser feliz nem sempre é o caminho mais fácil. Muitas vezes implica em renúncias e em aprendizados. Em escolhas difíceis de decidir e de manter.

Honesto é consigo quem escolhe ser feliz no coração que palpita pela alegria e sabe que ela pode não ser alcançada de imediato, mas pouco a pouco se consolidar. Escolher o caminho mais longo pode ser difícil de suportar, mas a direção e a determinação fazem encontrar o destino e em alguma curva desse andar possa enfim a felicidade se mostrar, no momento em que esteja pronto para enxergá-la com a alma.

Felicidade é a alegria serena a contemplar. É esse deleite a conquistar. É ser feliz na essência.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

EXTRA.

Reprodução


"Eu, tu e todo mundo, no fundo tememos por nosso futuro. E.T e todos os santos, valei-nos! Livrai-nos desse tempo escuro." Gilberto Gil, um dos nossos gênios da MPB, compôs os versos com os quais iniciei esse texto. Eles fazem parte da música "EXTRA", faixa homônima do título do seu disco, lançado em 1983. No ano seguinte, Gil lançou o disco "Raça Humana", e gravou uma espécie de continuação da mesma composição. "EXTRA 2 – O rock do segurança" é a música que abre o álbum, que entre outras faixas, tem "Pessoa Nefasta", "Feliz por um triz" e "A mão da limpeza", que aborda o nosso racismo estrutural com um realismo poético, que só o mestre Gil poderia fazer.

Falando em "extra", segurança e raça humana, presenciamos na tarde da última quinta-feira no Rio de Janeiro mais um crime brutal praticado com os requintes da legitimidade que o pacote anti crime do ministro da justiça propõe. Um segurança de uma das lojas da rede de hipermercados EXTRA, localizado na Barra da Tijuca, aplicou um "mata leão" em um jovem que, supostamente, teria tentado roubar a sua arma. A imagem é chocante. No vídeo, o funcionário, digo, o assassino, está sobre o jovem – a esta altura totalmente imobilizado e sem representar nenhum risco aos presentes ao estabelecimento – o asfixiando por estrangulamento, apesar dos apelos de muitos dos presentes para que ele soltasse o rapaz, que já estava desfalecendo.


Ao contrário do que diz a letra da canção de Gil, o segurança desse EXTRA não pediu o crachá ao jovem. Talvez porque o mesmo já estive identificado pela cor de sua pele. Nesse caso, a mão da limpeza também era preta, como os capitães do mato de outrora, e não reconheceu no outro um espelho que poderia refletir a sua imagem, caso não ele não estivesse usando o seu crachá. Há quem esteja batendo palmas para o segurança, entendendo que ele fez o seu papel. Os justiceiros de plantão, mesmo não sabendo ao certo quem era o jovem assassinado, concluíram que ele pudesse estar errado.

A cada dia que passa, a nossa estrutura social tem feito mais vítimas do achismo e de outros "ismos", que infestam a mente impoluta e insana, dos cidadãos de bem desse país. O racismo tem o seu lugar cativo entre esses casuísmos plantados feito sementes, pelas mãos do colonizador. Essa ideia enganosa, tipifica o ser preto como uma espécie de crime contra a sociedade escravocrata. O que, automaticamente, o faz ser rotulado, ou até condenado, ainda que não seja culpado de nada. Mais uma vez, recorro aos versos do genial e preto, Gilberto Gil, para mostrar como ser preto num país racista, é ser feliz por um triz.


"Sou feliz por um triz. Por um triz sou feliz. Mal escapo à fome. Mal escapo aos tiros. Mal escapo aos homens. Mal escapo ao vírus. Passam raspando tirando o meu verniz." O nosso racismo estrutural é tão podre e convincente, que até pretos apresentam-se como voluntários para colaborar com a eugenia racial tão sonhada por boa parte da nossa elite branca e escravagista. A injustiça social instituída, faz com que pobres odeiem-se e culpem-se uns aos outros, pelo caos social promovido pela omissão do estado. A normatização da morte, está fazendo com que muitos sintam-se no direito de matar, para restabelecer a ordem, a moral e os bons costumes.

A raça humana, que é uma semana do trabalho de Deus, deve estar provocando uma imensa tristeza em seu criador. O que era para ser uma beleza tem resumido-se em ferida acesa e podridão, expostas num gesto de desumanidade que estrangula impunemente, o direito que o outro tem à vida. O segurança do Extra já está nas ruas. Pagou a sua fiança e foi liberado. Se não fosse um pobre preto o assassinado, ele ainda estaria preso e inafiançável pela sociedade. O jovem estava drogado. Dizem. O jovem tinha problemas mentais. Dizem. O jovem tentou roubar a loja. Dizem. O jovem mereceu morrer. Dizem. O jovem não representava mais riscos. Dizem. Ao mesmo tempo, tudo e nada do que dizem, justifica a sua morte.


Ei! Pessoa nefasta! Não te dói no peito a dor da morte cruel e covarde de outro ser humano? Não? Será que o que tens dentro de si é aquilo que "de resto restaria aos urubus"? Em sua foto de perfil no Facebook, o segurança posa apontando uma arma para a lente da câmera, enquanto um tema de apoio ao presidente eleito, emoldura a sua imagem. Qualquer semelhança entre a sua atitude violenta e desproporcional contra o jovem por ele assassinado e o discurso do candidato que ele ajudou a eleger não é mera coincidência. É a ode à barbárie. É a exaltação da estupidez. É a entronização da violência contra a vida.

Parece que boa parte da raça humana brasileira, é fruto de 45 dias do trabalho de um messias que não gosta de paz.

Ô, raça!



Neggo Tom

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

UM MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO.


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Hoje eu gostaria de abordar um tema, que tem me chamado bastante a atenção e me causado espanto. O feminicídio. Segundo uma matéria publicada no G1, a cada duas horas, uma mulher foi assassinada no Brasil, no ano de 2016. E esses números foram superados nos anos seguintes. Segundo levantamento feito pelo ACNUDH (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos), o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial do feminicídio. Isso deveria nos preocupar.

Por mais que tentemos, não há como desvincular tradições e costumes de ontem, de ideologias políticas de hoje. O conservadorismo, que hoje ressurge no país sob a máscara de uma nova era, é o responsável pela origem, e também pela manutenção de tamanha monstruosidade. No período colonial, por exemplo, éramos regidos por leis que permitiam esse tipo de crime contra a mulher, sob a égide da legítima defesa da honra. Se o marido fosse traído por sua esposa, e a encontrasse em flagrante com outro homem, o mesmo teria o "direito" de puni-la com a morte.

Até meados do século 20, a nossa justiça foi branda com esses crimes, cuja motivação poderia ser o "amor" ou uma "forte paixão", que induzia o réu a sair de si e eliminar a vítima de seu descontrole emocional. Qualquer semelhança com a licença para a Polícia matar, recentemente apresentada pelo ministro da Justiça, não é mera coincidência. Em 2015, o Código Penal Brasileiro foi alterado e o crime de feminicídio tipificado como assassinato, em função do gênero da vítima. E foi justamente, a partir dessa mudança na lei, que a violência contra a mulher começou a ficar mais evidente no país.

Seria mais do que natural também, que esse "Basta!" não fosse bem digerido pelos defensores dos costumes e da moral distorcida. Por eles, ainda estaríamos chicoteando pretos rebeldes e punindo mulheres independentes. Não à toa, eles insistem em relativizar a dor do outro. Seja sofrida através do feminicídio, do racismo, do preconceito social ou da homofobia. É preciso manter a tradição. E ela sempre tratou esses assuntos com a maior naturalidade possível. Nunca representaram um problema para a sociedade de outrora, muito menos representarão agora, para os defensores da mesma.

Os saudosistas do tempo em que, lugar de mulher era na cozinha, de preto era na senzala e que pobre não podia "atravessar o túnel", reuniram-se por aqui para resgatar tais origens e costumes. E eles estão dispostos a tudo, para manterem acesa a chama da ignorância e da estupidez, que seus antepassados acenderam na terra de santa cruz. A avidez em portar uma arma, e a sangria desatada para que se libere indiscriminadamente o seu uso, pode ser um agravante nos índices de violência doméstica, conjugal e social do país.

Nós Homens, também precisamos contribuir no combate ao feminicídio. Brancos, também precisam ajudar a combater o racismo. Membros da elite, também precisam combater o preconceito e a desigualdade social. Quando não o fazem, estão cultivando costumes e tradições nefastas, que são os responsáveis pela construção de uma sociedade injusta, preconceituosa, desequilibrada e doente, que estabeleceu o descaso com as minorias representativas, como uma das normas do seu regimento interno.

Eu sou pai de uma menina, e eu não gostaria que ela fosse vítima de feminicídio ou de qualquer outra agressão motivada pelo seu gênero. Você pode não ser preto, mas deve ter algum parente, amigo, conhecido ou colega de trabalho, que convivam com você no dia a dia, que não deve sentir-se confortável sendo vítima de racismo. Você é rico, mas, aquele seu funcionário leal, aquela babá que cuida dos seus filhos, aquele cara que lava o seu carro com todo capricho, são pobres e também merecem ser tratados de forma digna.

O termo "Conservador", na minha opinião, é nocivo ao bem estar coletivo, pois remete a tempos sombrios, nos quais a humanidade cometeu as maiores injustiças já vistas sob o sol da hipocrisia reinante. Quando pessoas pouco humanizadas, identificam-se com tal característica, elas podem tornar-se violentas, assassinas, ou, no mínimo, "terrivelmente cristãs". O que já é uma grande perigo. Em nome de algumas tradições e costumes, foram promovidas verdadeiras demonizações a determinados grupos, que sevem de estímulo, relativizam ou, até mesmo, legitimam a violência praticada contra eles até hoje.

Atenção!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

AS PESSOAS SÃO VALORIZADAS PELO QUE POSSUEM


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Desde o chamado “descobrimento” do Brasil, o território brasileiro foi coberto de sangue, violência, guerras, conquistas, tratados políticos de interesse dos poderosos, das elites. No entanto, as pessoas e cidadãos vitimados clamam por solução: segurança social.

Certamente, há um preço a ser pago pela forma errônea da conquista do território nacional. Em muitas páginas registra-se o derramamento de sangue de nativos, indígenas, escravos, pobres, peões, operários, mulheres e crianças. A justiça às classes vitimadas só acontece mediante o quesito partilha social dos bens, dos direitos e da distribuição de oportunidades iguais a todos. Bem como, pela superação das desigualdades sociais, pelo fim dos injustos privilégios como auxílios-moradia, vestuário, alimentação e viagens a juízes, políticos e outros. O contrassenso entre privilegiados e empobrecidos é sinônimo de abandono da justiça, ética social e responsabilidade na redistribuição de renda no país.

Ao continuar a política de beneficiar ricos e poderosos o governo incrementa o arsenal da insegurança e violência social. Com isso, torna-se o principal promotor de insegurança e violência social. Igualmente, facilitar venda das armas é a projeção de medos sociais. O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman diz que uma humanidade segura nasce da inserção de seus cidadãos na comunidade como espaço de proteção às liberdades equilibradas. A proteção à integridade corporal e ética do cidadão só pode vir da comunidade, do viver o comunitário.

Hoje, governos optam por solucionar a tensão e a insegurança social armando a população, colocando o exército na repressão da população, liberando o uso de práticas violentas nas corporações militares. Historicamente, estas medidas não solucionaram o problema de assaltos, roubos, estupros, homicídios, etc. Nenhuma medida que venha da força, das armas, da repressão social tem condições de solucionar as tensões e conflitos sociais. Em contrapartida, há cidadãos que venceram seus temores pela educação, formação e trabalho sem jamais apontarem um dedo em riste aos outros.

Na sociedade capitalista o que importa por excelência é o dinheiro. As pessoas são valorizadas pelo que possuem e compram. Sem uma boa quantia de dinheiro não existe cidadão. A identidade do cidadão é medida pela estética do ter, do poder. A sociedade capitalista substituiu o espírito de comunidade pela prática da individualidade. Contudo, sem a comunidade o ambiente social perde sua estabilidade humana. Na ausência do ser comunidade não há futuro estável para nenhum cidadão do mundo.

A segurança social e a liberdade são valores preciosos a qualquer nação, povo e indivíduo. Somente o bem comum do bem-estar coletivo pode gerar compromisso ético entre os cidadãos. Sem este valor coletivo supremo corre-se o risco de viver numa sociedade sectária a preferir a comunidade que estimula o encontro e reconhecimento do estado de segurança social. Logo, se sociedade capitalista leva à desigualdade social e rompe os elos de irmandade entre os cidadãos, o projeto comunitário procura superar estas patologias ao tutelar a coexistência e uma vida compartilhada. O empecilho para ter uma humanidade em comum é o sistema do capital que ergue muros e ataca a comunidade como espaço de segurança social.