quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

POR UM MUNDO SEM CALENDÁRIOS


Muita gente me disse esta semana que o ano de 2013 ainda não começou. Primeiro de janeiro é uma data simbólica, mas o Brasil só engrena num novo ano um pouco depois. Para uns, é uma semana, para outros, o ano começa com o fim das férias, e para muitos e muitos o ano começa no Brasil só depois do Carnaval.
Há quem ache que esta história do ano novo ser depois do Carnaval começou na Bahia, com as festas que se iniciam em 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, se estendem por dezembro, depois janeiro, passando por muitas festas, como a da Lapinha e a do Bonfim, e só encerram com o Carnaval, que aliás é meio espichado. Foi-se o tempo em que o Carnaval terminava na terça-feira.
Mas isso do baiano ser festeiro é só meia verdade. Pelo menos hoje em dia, baiano trabalha muito.
De qualquer jeito, podemos dizer que o ano novo em primeiro de janeiro é uma formalidade. Se considerarmos a volta do país funcionar, a data varia.
Mas isso não devia ser encarado como algo errado, a escolha do primeiro de janeiro é mesmo uma formalidade iniciada na Europa e espalhada no mundo. Para muitos povos, o início de um novo ano começa em datas diferentes, e em boa parte deles a data é móvel, se baseia no calendário lunar ou outro qualquer.
E mesmo a contagem dos anos é diferente, o 2013 é uma contagem cristã, a partir do suposto nascimento de Jesus Cristo.
Vejamos os judeus… Para eles, o Ano Novo, a que chamam Rosh Hashaná ― expressão que significa “cabeça do ano” ― é uma data móvel. O próximo ano novo deles vai ser em 5 de setembro, quando começará, para os judeus, o ano 5774.
Para os chineses, que também têm uma data móvel para o ano novo, em 10 de fevereiro começará o ano 4711, e ano da cobra, pois eles homenageiam cada ano dando a ele a representação de um animal. São 12 os animais que teriam atendido a um chamado pelo Buda, para uma reunião. Gozado é que o dragão é um desses animais. Pela seqüência, os animais que dão nomes aos anos são o rato, o búfalo (ou boi), tigre, coelho, dragão, cobra, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e porco.
Para os povos islâmicos, o ano 1435 ano se iniciará em 14 de novembro. Eles contam os anos a partir da Hégira, nome que se dá à fuga de Maomé de Meca para Medina, no ano 622 da era cristã.
Bom… Até séculos podem começar fora da data oficial. Para alguns historiadores, o século XX, por exemplo, começou de fato com a Primeira Guerra Mundial, em 1914. E ouço muita gente falando também que o século XXI começou de fato em 11 de setembro de 2001, data do atentado contra as torres gêmeas de Nova York.
Mas bom mesmo é gente tão despreocupada que não conta os anos e nem mesmo os dias. Não estou falando dos nossos índios, mas de um povoado que já foi muito importante em Minas Gerais. Chama-se Desemboque, fica no município de Sacramento, teve uma população grande enquanto se explorava ouro, e é considerado um centro de formação da cultura mineira. Com o fim do ouro, foi-se esvaziando. Hoje restam algumas dezenas de casas e uma população minúscula.
Certamente, hoje contam os dias e os anos lá, mas não foi sempre assim.
Na década de 1960 ouvi um ator contar uma história, de que estava com esgotamento nervoso, nome que se dava na época ao que hoje chama-se estresse, e queria um lugar bem calmo pra descansar.
Foi então levado por um amigo, que acho que era o Lima Duarte, que nasceu lá, para passar um tempinho no Desemboque.
Um dia, de manhã, o cara perguntou ao amigo se era quarta ou quinta-feira, e o amigo não sabia. Bateu a curiosidade e perguntaram pro pessoal que os recebia, mas eles também não sabiam. Perguntaram ao vizinho, que nem ligava pra isso. Foram de casa em casa, ninguém sabia que dia da semana era.
Com aquela ânsia de querer saber que dia era, coisa de quem dá importância a datas, o que não acontecia lá, acabaram contratando um cavaleiro para ir à cidade só para perguntar em que dia da semana estavam e voltasse.
Ô, lugar que era bom de se viver!
Uma vez, já faz mais de uma década, fui passar o Carnaval na minha terra . Encontrei um amigo  que trabalhava numa TV da capital  e perguntei:
– E daí cara, te deram folga no Carnaval? Nessa época uma equipe reduzida de televisão, como a sua, não dá folga pra ninguém.
– Pedi demissão – respondeu calmamente.
Sabendo das dificuldades para jornalista arrumar emprego na região, ainda mais para alguém especializado em jornalismo televisivo, quis saber que projetos ele tinha.
Mais calmamente ainda, naquela sexta-feira modorrenta do início de fevereiro, ele respondeu:
– Vou descansar esse restinho de ano.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

PIOR QUE MORRER, É VER UM FILHO MORRER.


Todos os grandes filósofos se detiveram na questão da morte.
Montaigne dizia que o teste real de caráter de uma pessoa era a maneira como ela se comportou diante da morte.
Ele citava Sócrates e Sêneca. Sócrates consolou seus discípulos, um dos quais Platão, antes de tomar serenamente a cicuta que a abjeta justiça ateniense lhe impôs.
Sêneca fez a mesma coisa, alguns séculos depois, quando seu antigo aluno Nero, já então desvairado, o obrigou a cortar os próprios pulsos e se matar.
Os romanos tinham um dito para se acostumar à ideia da morte: “Memento mori”. Em latim, lembre-se de que vai morrer.
Paradoxalmente, quanto mais você reflete sobre a morte, menos sufocante o fantasma dela é em seu dia a dia. Milarepa, um sábio tibetano, morava perto de um cemitério para se lembrar de que um dia morreria, e tinha uma caveira com o mesmo propósito.
Mas e quando a morte aparece para você não direta, mas indiretamente? Seu filho moço deu um beijo em você, avisou que ia a uma boate e acabou envolvido numa tragédia absurda como a de Santa Maria?
É uma daquelas situações em que você aprende que existem coisas piores do que morrer. Ver seu filho morrer, por exemplo.
Em sua imensa precariedade, a vida não poupa ninguém da possibilidade de uma catástrofe dessas. Pais enterraram, enterram e enterrarão filhos.
Príamo, o rei de Troia, tivera uma vida perfeita: dinheiro, poder, a admiração de seu povo. Velho, próximo do fim, foi obrigado a ver seu filho Heitor ser arrastado pelo chão, morto, no curso da guerra entre gregos e troianos.
“Ninguém pode dizer que foi feliz até o último momento da vida”, disse um filósofo com base no martírio sofrido por Príamo quando ele parecia prestes a encerrar uma existência gloriosa.
Para casos de pais que enterram filhos, a melhor consolação deriva do budismo, a singular religião oriental em que não existe Deus.
Na soberba fábula budista dos grãos de mostarda é contada a história de uma mãe desesperada com a morte de seu filho.
Ela recorre a Buda, de quem ouvira dizer que era capaz de fazer milagres. Buda a ouve e diz a ela que vai ressuscitar seu filho desde que ela leve a ele grãos de mostarda.
Não quaisquer grãos. Mas de alguma casa que não houvesse experimentado uma grande perda. Ela bate de porta em porta, e não encontra uma única casa sem perda.
A mãe entende então que o sofrimento é universal, e que estava irmanada à humanidade pela dor.
A dor solitária é a pior delas. A dor compartilhada é suportável. A mãe acaba virando monja, e se junta ao grupo de Buda. Aceitou sua sorte, que é a de todos – o sofrimento ao longo da jornada.
Penso nos grãos de mostarda, penso nas mães e pais e avós e avôs de Santa Maria, e por um momento sou tomado pela esperança de que, como na fábula budista, eles encontrem consolação que lhes permita seguir adiante, seja lá para onde for.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

POLÍTICAGEM E DEBOCHE SOBRE A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA


Confesso que adiei a composição deste texto o quanto pude. Passado o choque inicial com a tragédia épica que se abateu sobre Santa Maria, ainda que pouco confiante em que não acontecesse não quis considerar a hipótese de que sobreviesse o espetáculo de selvageria que se seguiu neste país.
Lembro-me de que, no domingo, durante a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes nas Ilhas do Chafariz ouço as pessoas falar sobre a tragédia, interrompendo a boa festa, volto para casa e vou à internet em busca de maiores informações.
Naquele instante, senti vergonha do pensamento que me tomou. Um horror humanitário como aquele e eu fui logo pensar em que arrumariam um jeito de criticar Lula ou Dilma ou até o PT pelo que ocorrera. Senti-me fanático e insensível.
Não tive que esperar muito para me redimir, ainda que preferisse ter me sentido mal comigo mesmo a ter que encarar a dura realidade de que há uma infestação de desumanidade no país.
Jornalistas conhecidos, órgãos de imprensa e internautas anônimos das redes sociais protagonizaram um show dos horrores. Frases e até imagens repugnantes foram construídas a toque da mais absoluta insensibilidade e falta de limites éticos.
Tudo em que o blogueiro e colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo conseguiu pensar, poucas horas após a tragédia vir a público, foi em criticar o ex-presidente Lula por ter sido postado em seu perfil no Facebook uma mensagem de solidariedade às famílias das vítimas de Santa Maria (?!!).
No jornal O Globo e no site “Blog do Noblat”, hospedado no portal da Globo na internet, uma charge de Chico Caruso espantou multidões pelo mau-gosto, pelo oportunismo, pela insensibilidade e até pela burrice.
O que tem Dilma Rousseff a ver com a falta de fiscalização de uma casa noturna em um dos mais de cinco mil municípios brasileiros? Nada? Pois o cartunista que serve à família Marinho achou relevante colocá-la à frente de uma jaula flamejante exclamando “Santa Maria!”.
Que mensagem o cartunista mandou? O que ele quis dizer? Por que Dilma tinha que ser associada à tragédia? Não seria mais inteligente uma charge crítica à falta de fiscalização das autoridades de Santa Maria ou ao descaso do empresário inescrupuloso que dirigia aquela arapuca?
Por que não fazer uma charge poética sobre o sofrimento de toda uma nação? Não havia idéia melhor para aquele cretino usar em uma charge, já que, por alguma razão, julgou que tinha que fazer uma?
O envolvimento de Dilma no episódio via essa cretinice da charge se conectava com os comentáristas dos blogs de Noblat e Azevedo, que se uniam para acusá-la pela tragédia sob razões malucas, ininteligíveis, que nem seus formuladores souberam explicar.
Mas, tragicamente, não foi só. O jornal O Estado de São Paulo começou a espalhar, acriticamente, matéria insultuosa ao Brasil divulgada por um dos dois jornais ingleses que abriu guerra contra o governo Dilma. O subtítulo da matéria fez troça do lema de nossa bandeira.
O diário Financial Times trocou o lema Ordem e Progresso por “Idiotia e Progresso”. Ou seja: 200 milhões de brasileiros se tornaram “idiotas” por um tipo de tragédia que vem ocorrendo em várias partes do mundo, até nos Estados Unidos (2003).
Pior que tudo isso têm sido perfis nas redes sociais Twitter e Facebook, entre outras. Internautas anônimos estão se fartando de debochar do sofrimento que se abateu sobre o país inteiro usando, sem piedade, o que há de mais estupefaciente e repugnante no “humor negro”.
O que está acontecendo no país? Tenho 70 anos. Já vi muita coisa, mas essas pessoas capazes de não sentir um pingo de comiseração em um momento de tanta comoção não existiam. Ou, se existissem, ao menos tinham um mínimo de pudor.
Explorar politicamente uma tragédia como essa, no entanto, talvez seja o pior. Porque essa conduta asquerosa não veio de algum moleque cretino e mimado ou revoltado com o mundo, mas de homens supostamente esclarecidos e maduros.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A MORTE NÃO CESSA DE NOS DIZER

A dor provocada por tragédias como a ocorrida neste final de semana na cidade de Santa Maria sacode a sociedade como um terremoto, despertando alguns de nossos melhores e piores sentimentos. Um acontecimento brutal e estúpido que tira a vida de 233 pessoas joga a todos em um espaço estranho, onde a dor indescritível dos familiares e amigos das vítimas se mistura com a perplexidade de todos os demais. Como pode acontecer uma tragédia dessas? A boate estava preparada para receber tanta gente? Tinha equipamentos de segurança e saídas de emergência? Quem são os responsáveis? 

Essas são algumas das inevitáveis perguntas que começaram a ser feitas logo após a consumação da tragédia? E, durante todo o domingo, jornalistas e especialistas de diversas áreas ocuparam os meios de comunicação tentando respondê-las. As redes sociais também foram tomadas pelo evento trágico. Os indícios de negligência e falhas básicas de segurança já foram apontados e serão objeto de investigação nos próximos dias. Mas há outra dimensão desse tipo de tragédia que merece atenção.

É uma dimensão marcada, ao mesmo tempo, por silêncio, presença e exaltação da vida. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, disse na tarde deste domingo que o momento não era de buscar culpados, mas sim de prestar apoio e solidariedade às milhares de pessoas mergulhadas em uma profunda dor. Não é uma frase fácil de ser dita por uma autoridade uma vez que a busca por culpados já estava em curso na chamada opinião pública. E tampouco é uma frase óbvia. Ela guarda um sentido mais profundo que aponta para algo que, se não representa uma cura imediata para a dor, talvez expresse o melhor que se pode oferecer para alguém massacrado pela perda, pela ausência, pela brutalidade de um acontecimento trágico: presença, cuidado, atenção, uma palavra. 

Quem já perdeu alguém em um acontecimento trágico e brutal sabe bem que o caminho da consolação é longo, tortuoso e, não raro, desesperador. E é justamente aí que emerge uma das melhores qualidades e possibilidades humanas: a solidariedade, o apoio imediato e desinteressado e, principalmente, a celebração do valor da vida e do amor sobre todas as demais coisas. A vida é mais valiosa que a propriedade, o lucro, os negócios e todas nossas ambições e mesquinharias. Na prática, não é essa escala de valores que predomina no nosso cotidiano. Vivemos em um mundo onde o direito à vida é, constantemente, sobrepujado por outros direitos. Tragédias como a de Santa Maria nos arrancam desse mundo e nos jogam em uma dimensão onde as melhores possibilidades humanas parecem se manifestar: o Estado e a sociedade, as pessoas, isolada e coletivamente, se congregam numa comunhão terrena para tentar consolar os que estão sofrendo. Não é nenhuma religião, apenas a ideia de humanidade se manifestando.

Uma tragédia como a de Santa Maria não é nenhuma fatalidade: é obra do homem, resultado de escolhas infelizes, decisões criminosas. Nossa espécie, somo se sabe, parece ter algumas dificuldades de aprendizado. Nietzsche escreveu que muito sangue foi derramado até que as primeiras promessas e compromissos fossem cumpridos. É impossível dizer por quantas tragédias dessas ainda teremos que passar. Elas se repetem, com variações mais ou menos macabras, praticamente todos os dias em alguma parte do mundo e contra o próprio planeta. 

PALAVRAS DE UMA AMIGA GAÚCHA SOBRE A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA

“Hoje o Patrão Velho resolveu deixar o céu um pouco mais gaudério... Levou uma gurizada pra matear com ele e deixou a nossa Querência tapada de tristeza e dor.
Patrão Velho, esperamos que esta gurizada tão faceira e cheia de sonhos, alegre teus pagos e que eles encontrem no aconchego do teu poncho, luz e paz.
Guarde-os contigo para que muito em breve o céu vire um Fandango de Galpão e não te esqueças de amparar aqueles que aqui ficaram sofrendo por ter de matear sozinhos...”

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O ETERNO PROBLEMA: SER FELIZ.

Na famosa universidade norte-americana de Harvard, uma disciplina está fazendo sucesso. Mesmo sendo uma cadeira opcional, registra cerca de 1.400 alunos por semestre, superando cadeiras tradicionais como as que estudam a área econômica. Trata-se de uma disciplina que ensina a ser feliz. Ela parte da comparação entre a vida humana e uma empresa comercial. Para ser rentável, uma empresa precisa ter um balanço positivo, exige constantes investimentos e não pode fechar em vermelho.
A disciplina parte de algumas coisas práticas, afinadas com o bom senso. É caso dos exercícios físicos, que substituem com vantagem os antidepressivos. Outras indicações: autoimagem positiva, escrever, diariamente, a partir da própria vida, dez pontos que geram felicidade. A universidade aconselha gastar mais dinheiro em experiências do que em bens materiais. 
Enfrentar e resolver imediatamente os problemas, ser amável com todos, cuidar da postura corporal, escutar música, evitar muito açúcar e amidos e fortalecer a confiança pessoal: o mundo não está contra você. Ela alerta que uma simples árvore pode esconder uma floresta inteira.
Uma observação pode desanimar possíveis alunos. A universidade não ensina ser feliz, mostra caminhos onde existe felicidade maior. O diploma não fornece a sonhada felicidade.Ser feliz é o maior e mais universal dos 
desejos humanos. Desde que nascemos, todos os nossos atos visam a felicidade. E esta procura nos acompanha a vida toda. Aristóteles já dizia que o homem sempre quer ser feliz e um pessimista moderno, Arthur Schopenhauer, acrescenta: mesmo quando se enforca. Jovens e velhos, sábios e iletrados, homens e mulheres, independente de épocas e países, todos correm atrás da felicidade. Mas isto não garante o êxito. “Os homens morrem e não são felizes” (Albert Camus).
Cada um tem uma ideia de felicidade e este conceito pode mudar ao longo da vida. Para uma criança pode ser um brinquedo, para um jovem, uma namorada. Outros objetivos: um diploma, um bom emprego, uma casa de praia, uma viagem pelo mundo, o dinheiro, um time de futebol, um copo de bebida, uma noite de amor. No Evangelho encontramos o caso de um 
jovem que planejou ser feliz longe da casa do pai . Santo Agostinho (354 a 430) tentou todos os caminhos da felicidade humana. Um dia, decepcionado, encontrou a felicidade em Deus. Ele deixou sua descoberta: “Fizeste-nos para ti, ó Deus, e nosso coração não será feliz longe de ti”. Deus quer que 
seus filhos e filhas sejam felizes. E deixou uma receita jamais desmentida, não sei se assumida ou não por Harvard - os Dez Mandamentos, caminhos de felicidade.

É DE PASSO E PASSO QUE A VIDA SE FAZ

Apesar dos mais sofisticados meios de locomoção e os novos recursos para encurtar distâncias, não podemos dispensar os passos do caminho. Os passos pequenos das crianças ou os grandes passos dos atletas e gigantes fazem parte do dinamismo humano que não nos permite parar. Uma das mais esperadas e agradáveis surpresas das crianças para seus pais são os primeiros passos. Mesmo que exijam maiores cuidados, são a expressão de uma vida saudável a desabrochar.
A capacidade de dar passos é própria do reino animal. As pedras não andam, nem as árvores saltam quando são ameaçadas. Nós pertencemos ao reino animal, porém sabemos que o animal segue o rumo que lhe é imposto pelos instintos. Para nós, humanos, não basta dar passos, ou caminhar. No cotidiano da vida somos chamados a ter consciência dos passos que damos, a fim de dar passos certos na direção certa. Antes dos pés se movimentarem, a mente precisa saber o rumo, a consciência deve discernir o caminho melhor. Então nossos passos andam movidos por nossas decisões livres, conscientes e responsáveis.
Às vezes, a impaciência de chegar, a ansiedade de estar no lugar em tempo e a pressa dificultam a valorização dos passos que damos. Bom é poder acordar e dar-nos conta que “passo a passo o caminho se faz”. Aprender a valorizar os passos revela a grandeza do coração humilde que vive a caminho, sem a pretensão de já ter chegado. Aliás, a cada provisória chegada, há sempre um novo horizonte que nos chama a prosseguir. Só chegamos quando nossos pés se tornarem imóveis e a vida no amor será o passo para a eternidade.
O salmista sabe utilizar a realidade simbólica dos passos como uma experiência religiosa decisiva nos caminhos da vida. O Senhor, que é todo segurança, firma os nossos passos! 
Certo dia uma senhora cadeirante me dizia: “Eu sei que sou paraplégica por causa de um acidente. Não poderei mais andar com meus pés, mas meu espírito caminha sempre ao 
encontro daqueles que eu amo e dos meus sonhos que não estão paralisados. Meu maior desejo seria voltar a andar. Hoje eu andaria diferente e daria um imenso valor a cada passo que eu pudesse dar. Mas, a estas alturas já estou integrando a minha situação de cadeirante. Com a graça de Deus estou aprendendo a caminhar de outro jeito, pois a vida não para e nem se esgota com alguns passos”. 
Finalmente, fica o convite para que lembremos o valor do passo a passo, de um caminho já percorrido e o breve ou longo caminho que temos ainda a percorrer.

A ARTE E A MEDITAÇÃO


A arte desperta-nos a intuição e a emoção. Nos re-liga com algo que, até então, escapava à razão. Daí sua relação com a religião. Ela emite sinais que não são controlados nem pelo artista nem pelo apreciador. 
A arte, como a meditação, nos induz ao mergulho no próprio eu, lá onde o ego se desfaz qual botão de rosa a se abrir em flor, e nos aproxima da ideia de beleza e harmonia. Enleva-nos, faz-nos apalpar o Mistério, balbuciar o impronunciável.
Ao contemplar ou desfrutar da obra de arte – pintura, balé, música – ela se metaboliza em nossa sensibilidade. Ao meditar, refluímos os cinco sentidos no núcleo axial que nos remete ao verdadeiro eu e que, na verdade, é um outro que funda nossa verdadeira identidade.
O que é, hoje, obra de arte? Há uma dessacralização da arte. O início desse processo talvez possa ser demarcado pela obra “A fonte”, de Marcel Duchamp, criada em 1917, e representativa do dadaísmo. Trata-se de um urinol de porcelana, idêntico a milhares encontrados em mictórios públicos. Exposto em Paris, está avaliado em 3 milhões de euros.
Hoje em dia o valor da obra de arte, sua aceitação pelo público, tem muito a ver com a performance do artista. Vide os cantores pop. E é o mercado, apoiado na mídia, que determina o que tem ou não valor. 
Muitos artistas morreram sem serem reconhecidos, como Van Gogh, que em vida jamais vendeu uma tela. Presenteou seu médico com o quadro “Rapaz de quepe”, que o doutor aproveitou para tapar um buraco no galinheiro de sua casa... Há pouco esta tela foi vendida por US$ 15 milhões!
Todo artista se julga digno de valor e reconhecimento. Isso, entretanto, depende dos críticos, da mídia, da reação do público.
O que pode ser admirado hoje, pode ser desprezado amanhã. É o caso de um dos autorretratos de Rembrant. A cada vez que deixava a Holanda, a tela era assegurada em US$ 4 milhões. Uma comissão de peritos e críticos, que analisou todos os quadros atribuídos ao genial pintor holandês, concluiu que um dos autorretratos não pode ser atribuído a ele. A obra caiu no ostracismo...
O nosso olho, a nossa sensibilidade para a obra de arte, são condicionados pela opinião pública. Esta tende a ser elitista. Considera arte o que atrai o público pagante; e folclore o que atrai pessoas desprovidas de recursos. 
A meditação, como a arte, exige cuidado, ascese, empenho, confiança na própria capacidade criativa. Tanto a arte como a meditação nos conectam com o Transcendente, nos fazem emergir da esfera da necessidade para a da gratuidade, dilatam em nós potencialidades que nos fazem “renascer”. 
Não é sem razão que as religiões, sobretudo em suas liturgias, tanto recorrem à arte e têm sido, ao longo dos séculos, escolas de artistas.
Infelizmente o mercado nos impõe, pela mídia espetaculosa, o mero entretenimento como se fosse obra de arte. Nisso se parecem às liturgias que exacerbam nossa emoção sem nada acrescentar à nossa razão e, muito menos, ao caráter ético de nossa ação. Vide as showmissas. 
A arte não há de ser de esquerda ou de direita, moralista ou inescrupulosa. Há de ser bela. Consta que eram nuas todas as esculturas e figuras pintadas por Michelangelo no Vaticano. Até que um papa escrupuloso pediu a Daniele Volterra, discípulo do genial artista, para cobrir com uma pincelada os órgãos genitais... censura removida recentemente por peritos japoneses. Volterra ganhou o apelido de “Il Braguetone”, O Braguilha...
Todo artista é clone de Deus. Extrai de sete notas musicais, dos movimentos do corpo, do desenho, do barro, do modo de narrar uma história, o que há de belo no humano e na natureza. Recria ao criar. E sempre o faz partir de um estado de concentração comparável à meditação.

CADA UM NA SUA E TUDO FUNCIONA.

Por trás da grama verdinha e da terra fértil de onde brotam belas flores e plantas, há um exército de trabalhadores que atuam, às vezes, de forma invisível, para manter tudo funcionando.O Beija-flor: ele passa o dia atrás de néctar. Quando acha, fica parado no ar, batendo suas asas 90 vezes por segundo, enquanto se alimenta. Depois, espalha o pólen de uma flor para a outra. É polinizador de um grande número de espécies. No Brasil, existem cerca de 80 espécies diferentes de beija-flores.
A Borboleta: atraída pelas cores das pétalas, ela desenrola a língua para chegar ao néctar. Entre uma e outra refeição, bota até 400 ovos e também desempenha a função de polinizadora.
A Minhoca: ver uma minhoca passeando não é fácil. Elas são sensíveis ao calor e ficam embaixo da terra. São tão úteis ao solo que são chamadas de arado natural. Minhocas ajudam a decompor material orgânico, digerindo-o e transformando-o em nutrientes, que são repostos no solo. No subsolo cavam túneis e, assim, criam passagens na terra para o ar, para a água e para as raízes das plantas. 
O Tatuzinho: ao contrário do que parece, o tatuzinho não é um inseto, mas um crustáceo. Ele vive sob pedras ou matéria orgânica, como folhas e galhos. Alimenta-se de matéria orgânica em decomposição. Causam danos às raízes e folhas das plantas, mas são eficientes decompositores. Encontrados comumente em jardins, cujo solo apresenta bastante umidade. 
O Grilo: basta a noite chegar e os grilos começam a cantoria. Para produzir o som, que atrai as fêmeas, os machos raspam as asas.
A Aranha: o que não falta no jardim são aranhas, de várias espécies. Existem aproximadamente 38.000 espécies de aranhas no mundo, sendo 4.000 só no Brasil. Todas as aranhas são carnívoras e alimentam-se principalmente de insetos. Sua função nos ecossistemas é muito importante, pois atuam como reguladoras da população de insetos.
A Abelha: jardins e abelhas trabalham em conjunto: elas pegam o néctar para fazer mel e, em troca, polinizam muitas e muitas flores.
A Joaninha: os besouros mais incríveis vivem em jardins. O mais charmoso é a joaninha, que come pulgões, ácaros e outras pragas que destroem plantações.

A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO

A uma jovem senhora a quem um conselheiro mais radical dissera que pecava por desejar sexo todos os dias, diante de um marido que não tinha o mesmo apetite, respondeu lhe o padre  com duas perguntas: - É errado gostar de alimento saudável e querê-lo todos os dias? É errado seu marido não gostar de comer todos os dias o mesmo prato que a senhora deseja?
Ela começou a rir. Valeu-se o padre  do momento para lembrar que tinham três filhos, uma convivência bonita e que o mesmo Deus que pôs nas pessoas o instinto sexual e o desejo, pôs também a capacidade de falar e dialogar. Ele deveria levar em conta sua necessidade e ela deveria considerar a dele. Haveria um meio termo que satisfaria a ambos, sem maiores cobranças ou mágoas.
Há um desejo sexual que se transforma em obsessão e há outro que se torna caridade. Mas nenhum cristão deve sentir culpa porque casou-se com alguém cujos carinhos deseja. O conselheiro que a deixou confusa faria bem em estudar melhor o Catecismo da Igreja que diz: No casamento, a intimidade corporal dos esposos se torna sinal e um penhor de comunhão espiritual . A sexualidade é fonte de alegria e de prazer. Pela união dos esposos realiza-se 
no casamento, quem se nega aos carinhos do outro vai contra a caridade. Quem acha que não tem para dar tudo o que a pessoa bem amada deseja, dialogue. 

O MAL NUNCA É TÃO RUIM QUE IMPEÇA A PRESENÇA DO BEM.

 Ninguém melhor o expressou que o pobrezinho de Assis ao rezar: “Onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver trevas que eu leve a luz, onde houver erros que eu leve a verdade...”. Não se trata de negar ou anular um dos polos, mas de optar por um, o luminoso, e reforçá-lo a ponto de impedir que o outro negativo não seja tão destrutivo.
A que vem esta reflexão? Ela quer dizer que o mal nunca é tão mau que impeça a presença do bem; e que o bem nunca é tão bom que tolha a força do mal. Devemos aprender a negociar com estas contradições.
Num artigo anterior tentei um balanço do macro, negativo; assim como estamos, vamos de mal a pior. Mas dialeticamente há o lado positivo que importa realçar. Um balanço do micro nos revela que estamos assistindo, esperançosos, ao brotar de flores no deserto. E isso está ocorrendo por todas as partes do planeta. Basta frequentar os Fóruns Sociais Mundiais e as bases populares de muitas partes para notar que vida nova está explodindo no meio das vítimas do sistema e mesmo em empresas e em dirigentes que estão abandonando o velho paradigma e se põem a construir uma Arca de Noé salvadora.
Anotamos alguns pontos de mutação que poderão salvaguardar a vitalidade da Terra e garantir nossa civilização. O primeiro é a superação da ditadura da razão instrumental analítica, principal responsável pela devastação da natureza, mediante a incorporação da inteligência emocional ou cordial que nos leva a envolvermo-nos com o destino da vida e da Terra, cuidando, amando e buscando o bem-viver.
O segundo é o fortalecimento mundial da economia solidária, da agroecologia, da agricultura orgânica, da bioeconomia e do eco-desenvolvimento, alternativas ao crescimento material via PIB.
O terceiro é o eco-socialismo democrático que propõe uma forma nova de produção com a natureza e não contra ela e uma necessária governança global.
O quarto é o biorregionalismo que se apresenta como alternativa à globalização homogeneizadora, valorizando os bens e serviços de cada região com sua população e cultura.
O quinto é o bem viver dos povos originários andinos que supõe a construção do equilíbrio entre seres humanos e com a natureza à base de uma democracia comunitária e no respeito aos direitos da natureza e da Mãe Terra ou o Índice de Felicidade Bruta do governo do Butão.
O sexto é a sobriedade condividida ou a simplicidade voluntária que reforçam a soberania alimentar de todos, a justa medida e a autocontenção do desejo obsessivo de consumir.
O sétimo é o visível protagonismo das mulheres e dos povos originários que apresentam um nova benevolência para com a natureza e formas mais solidárias de produção e de consumo.
O oitavo é a lenta, mas crescente acolhida das categorias do cuidado como pré-condição para realizar uma real sustentabilidade. Esta está sendo descolada da categoria desenvolvimento e vista como a lógica da rede da vida que garante as interdependências de todos com todos assegurando a vida na Terra.
O nono é a penetração da ética da responsabilidade universal, pois todos somos responsáveis pelo destino comum nosso e o da Mãe Terra.
O décimo é o resgate da dimensão espiritual, para além das religiões, que consente nos sentir parte do Todo, perceber a Energia universal que tudo penetra e sustenta e nos faz os cuidadores e guardiães da herança sagrada recebida do universo e de Deus.
Todas estas iniciativas são mais que sementes. Já são brotos que mostram a possível florada de uma Terra nova com uma Humanidade que está aprendendo a se responsabilizar, a cuidar e a amar, o que afiança a sustentabilidade deste nosso pequeno Planeta.

TRANSFORMAÇÕES ESTÃO OCORRENDO

A evolução trouxe inúmeros benefícios. A tecnologia fez acontecer uma verdadeira revolução. Os meios, cada vez mais sofisticados, eliminam distâncias, antecipam projeções. A vida melhorou significativamente. A longevidade está deixando de ser privilégio de alguns para se tornar uma realidade coletiva. Evidente que há ainda um longo itinerário a ser percorrido, principalmente no que diz respeito ao bem comum. No individual, houve acréscimos quantitativos e qualitativos. Porém, a defasagem parece estar mais incisiva na questão do coletivo. Ao pensar somente em si, o homem esquece que viver só é possível se houver um pacto com a conivência.
Estruturas governamentais não deveriam estar voltadas para a autopromoção. Muitos dos que ocupam cargos são incapazes de implementar um novo modelo de crescimento. Sem prioridades, o estratégico cede espaço para o convencional, comprometendo as urgências, minimizando as possibilidades de um novo tempo. É urgente repensar os formatos das instâncias políticas e o perfil dos que se apresentam para ocupar postos de representatividade. 
Chega em bom momento a proposta de crédito fundiário voltado aos jovens, no intuito de que possam adquirir propriedades rurais e, assim, continuar na agricultura. Evidente que a questão é muito mais ampla. Porém, não deixa de ser um indicativo de sensibilidade e preocupação. Ações deverão ser implementadas para que haja dignidade e meios adequados aos que atuam no primeiro setor. Se não houver quem cultiva a terra, a mesa estará vazia. 
Oscilações econômicas e estruturais vão formando e deformando o cenário global. O humano necessita recompor sua interioridade não apenas para responder aos desafios desse tempo, mas para garantir seu protagonismo. Não existe mudança consistente sem a garantia da dignidade humana. Além da saúde física, há que se pensar na saúde emocional e espiritual. Só assim novos tempos serão portadores de novas esperanças. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

IPHONE, IPAD E ISPERTEZA

real____apple_logo_by_exklamationmark-d4ztcv3

O que aconteceu no mundo desenvolvido nos últimos trinta anos foi, basicamente, um assalto legalizado das grandes corporações e dos bilionários aos cofres públicos por meio de artifícios que lhes permitiram pagar cada vez menos impostos.
Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher no Reino Unido comandaram uma concentração indecente de renda. Os dois levaram ao estado da arte o conceito de governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos sob a fachada da desregulamentação e em meio a odes fanáticas à liberdade do mercado.
Não chega a ser surpresa a revelação neste final de semana pelo New York Times da imensa criatividade da Apple para pagar o mínimo de impostos – tudo dentro da lei. O mesmo engenho no marketing e na feitura de novos produtos, nota o NYTimes, a Apple mostrou na contabilidade.
Embora o grosso de suas operações esteja nos Estados Unidos, a Apple dá um jeito de transferir o pagamento de boa parte do imposto devido para países em que as taxas são baixíssimas. Um especialista calculou que apenas no ano passado a Apple deixou de pagar entre 2,4 e quase 5 bilhões de dólares à Receita Federal.
No esforço de não pagar impostos, a Apple — cujo quartel general é na Califórnia — montou uma operação em Nevada, onde a taxa é zero. Nevada hospeda, pelas mesmas razões, também a Microsoft de Bill Gates.
Do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, um levantamento recente do Sunday Times mostrou que em 2011 os multimilionários ingleses ficaram ainda mais ricos – enquanto o país estacionava numa recessão que vai cobrando um preço alto dos chamados 99%.
Como esperar que os 99% aceitem os sacrifícios que muitos governos pedem para combater a crise econômica quando o 1% acumula cada vez mais dinheiro?
O caso da Apple está provocando um enorme barulho.
Mas é apenas um entre tantos, e tantos, e tantos.

DILMA EM CADEIA NACIONAL: ELES ERRARAM FEIO

" Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram. O Brasil não deixou de produzir um único kilowatt que precisava(...). Cometeram o mesmo erro de previsão os que diziam, primeiro, que o governo não conseguiria baixar a conta de luz. Depois, passaram a dizer que a redução iria tardar. Por último, que ela seria menor do que o índice que havíamos anuciado. Hoje, além de garantir a redução, estamos ampliando seu alcance --e antecipando sua vigência. Isso significa menos despesas para cada um de vocês e para toda a economia do país (...)Todos, sem exceção, vão sair ganhando(...) Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que eu estou dizendo.Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades.Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros". 

INSCRIÇÕES PARA HORIZONTINA EM EXPOSIÇÃO





Estão abertas as inscrições para as empresas de Horizontina que querem expôr no Jeep Country - Horizontina em Exposição. Num primeiro momento, será disponibilizado um box gratuito para cada empresa, mediante cumprimento das normas constantes no edital  caso as inscrições não preencham todos os espaços, espaços adicionais poderão ser adquiridos pelo valor de R$ 280,00 cada.
A documentação pode ser entregue na ACIAP ou na Secretaria Municipal de Indústria e Comércio.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

ESTÁ FALTANDO O DEBATE.


No debate político que se trava no Brasil não se discutem estratégias, mas o quanto o país já está maravilhoso, próximo ao Éden, ou, então, como está falido, ao nível do inferno. Conforme o lado, estamos no inferno ou no paraíso. Não há meio termo. É o pensamento binário em estado sólido, e recendendo ao que é: uma merda.
Porque a vida não é feita de branco ou preto, quente ou frio, baixo ou alto, tênue ou esmagador. A vida é feita, justamente, de nuanças, de meios-tons, de ambiguidades. A vida é uma falta de certezas, mas o debate que se trava hoje é o da certeza absoluta até nas questões que mais desafiam a humanidade há milênios.
Claro que temos que denunciar a corrupção, combatê-la, fiscalizar o poder público, mas não desse jeito em que um lado vira bandido e o outro vira idiota, pois o que se tem hoje é isso: os escândalos em um lado decorrem de ingênua idiotia enquanto que os que acontecem do outro são sempre “os mais graves da história”, mesmo quando iguais aos que pesam contra o lado A.
E escolha você quem é lado A ou B. No fim, não fará diferença. Não mudará o nível do debate e o seu principal preço, que é atrasar a agenda do país por falta de foco no que deveria estar mobilizando as atenções.
Nos próximos três anos, o Brasil sediará os dois eventos esportivos mais importantes da atualidade. Está sentado em uma reserva de petróleo de proporções épicas, que será explorada por uma empresa genuinamente nacional. A população vai se tornando mais escolarizada e tem expectativa de futuro em alta.
Mas temos, também, uma pobreza que certamente não irá sumir quando o governo diz que irá, uma infra-estrutura para lá de atrasada, um nível de escolaridade médio baixíssimo e, inclusive, superestimado, pois um jovem brasileiro com onze anos de estudo não sabe tanto quanto equivalentes de países de qualidade de vida média como o nosso.
Nossas cidades são hostis, com raríssimas exceções. Nosso sistema de saúde ainda tortura os enfermos. Nossas escolas públicas e até as privadas não preparam nossa futura força de trabalho de forma minimamente análoga à que preparam as escolas de países muitas vezes até mais pobres e com muito menos recursos.
Esperaríamos que esses fossem os assuntos mais importantes, entre tantos outros, mas, enquanto temos tudo isso a resolver, em vez pôr mãos à obra ficamos nos masturbando com um julgamento cheio de nuanças políticas e em torno do qual parecemos ter apostado o futuro dos nossos netos e bisnetos, como se realmente alguém acreditasse que da degola de meia dúzia de políticos decorreria alguma diminuição da impunidade.
Ficamos discutindo um racionamento de energia cujas probabilidades de ocorrer sempre foram mínimas em vez de nos debruçarmos sobre como aproveitar a janela de oportunidades que está aberta para o Brasil em tantas áreas. Inclusive, negamo-nos a enxergar a própria janela, que dirá aquilo que ela mostra.
E ainda se discutíssemos essa inutilidade com modos, não seria nada. Mas é à base do nós contra eles, do tudo ou nada, da desqualificação completa de um lado pelo outro, não restando nada a quem estiver de fora que não seja entrar na pancadaria ou esquecer que política existe, com todas as consequências trágicas que a segunda opção encerra.
Tirei dois dias para refletir. Agora ponho a reflexão em texto. Nem sei o que está se passando na política. E, hoje, nem quero saber. Estou cheio dessa disputa pelo nada. A reflexão, portanto, é a de que temos que achar um jeito de elevar o debate ao rés do chão que se trava hoje no país. Você, por exemplo, leitor, não teria alguma idéia para doar?

IMPRENSA NÃO MERECE CRÉDITO DOS EMPRESÁRIOS


"Presidentes de empresas brasileiras ficam em 4º lugar em ranking de otimismo", revela o sempre bem informado e competente Clóvis Rossi, enviado especial da "Folha" ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suiça.  
Só posso chegar à conclusão de que os empresários que enfrentam a vida real da nossa economia não acreditam no que é publicado pela imprensa brasileira, que deixa o país sempre à beira do abismo esperando pelo pior, apostando em previsões pessimistas.
O próprio Rossi mostra esta contradição: "Fatia substancial do empresariado brasileiro não compartilha o catastrofismo que, nos últimos meses, acompanha as análises sobre as perspectivas da economia do país".
Talvez esteja na hora dos editores da grande mídia brasileira trocarem seus analistas ou recomendarem aos seus profetas de plantão que busquem outros oráculos além dos habituais.
Sem dar bola para a urubologia reinante, 44% dos empresários brasileiros estão muito confiantes no crescimento das receitas das suas companhias, segundo a 16ª pesquisa anual feita pela PricewaterhouseCoopers, que entrevistou 1.330 executivo - chefes em 68 países, no último trimestre do ano passado, justamente quando começaram a aparecer críticas sobre os rumos da economia brasileira.
O otimismo dos basileiros só perde para o dos russos (66%), indianos (63%) e mexicanos (62%).
Quando lhes foi perguntado sobre qual país parece o mais importante para o crescimento futuro de suas empresas, a nossa situação ficou melhor ainda: 15% indicaram o Brasil, à frente da Índia (10%).
A América Latina foi a região em que o empresariado mostrou maior otimismo: 53% esperam um crescimento das receitas, ao contrário do que acontece no resto do mundo, que está menos confiante a curto prazo do que no ano passado.
De Davos, pelo menos, chegam boas notícias para o Brasil.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

CUIDEMOS DE NOSSAS CRIANÇAS


 Nossas crianças...Sim, são nossas. As crianças são universais. 
As crianças são um patrimônio da humanidade. 
São a semente viva do universo.
As crianças retratam o nosso passado. As crianças são o futuro.
As crianças são a alegria, a esperança. 
São o amor, são a paz. São a brancura da inocência, a pureza, a transparência, a humildade.
As crianças são o que nós fomos e também a essência de como devemos, ou pelo menos deveríamos ser.
Salvem as crianças! Afastemo-las do perigo, da desordem, da preocupação. Deixemo-las livres para brincar, para correr, para rir, colorir e cantar! 
O mundo precisa delas e elas precisam de nós.
Não relutemos em sorrir para uma criança, seja quando ela vem ao nosso encontro, seja quando cruzamos com uma no elevador ou na esquina de nossa casa.
Transmitamos ternura em nossas palavras ou em um simples olhar. 
Transmitamos confiança, seja num forte abraço ou num singelo piscar.
Não permitamos que valores errados deem lugar aos verdadeiros princípios morais e aos bons costumes.
Não achemos graça naquilo que um dia poderá ocasionar em um desvio de conduta e que poderá se voltar contra ela mesma quando adulta. 
Corrijamos, com rigor e amor, quaisquer atitudes de desobediência, desrespeito e falta de educação.
Jamais sejamos complacentes, muito menos usemos de violência para com tais seres. 
Afinal, o respeito não nasce de gestos bruscos. 
E o respeito tem de ser mútuo. 
Devemos respeitar - coerentemente e sabiamente - o seu espaço, suas vontades, seus traços de personalidade.
E nesse maravilhoso intercâmbio, deixemo-nos envolver pela luz desses pequenos homens e pequenas mulheres. 
Viajemos com essas crianças em seus sonhos.
 Peguemos delas a forma como vêem ao mundo e como interagem com ele.
 Resgatemos, através delas, a sinceridade, regada a certa inocência. 
Vistamo-nos da mesma alegria e admiração pelo novo.
Sejamos também crianças! Cuidemos de nossas crianças!

SILENCIO...COMO ESTÁ FAZENDO FALTA.


O silêncio é uma condição necessária para que as palavras ganhem sentido e se transformem em algo mais do que sinais físicos. Silêncio interior e exterior, de minutos, não segundos. Convivemos hoje com uma proliferação desenfreada de palavras que vêm ao mundo cercadas de barulho e urgências discutíveis. Há um sistema de comunicação e de entretenimento em expansão ininterrupta que trabalha diariamente contra o silêncio, a reflexão e o sentido, oferecendo velocidade, euforia, instantaneidade, celebridade ou, simplesmente, alguma distração.
Somos convocados a emitir opiniões rápidas sobre os “fatos do dia”, quer sejam ele fatos reais ou meros boatos ou especulações. E, de um modo geral, essa convocação vem sendo atendida com entusiasmo, alimentando um exército de opinadores e opinadoras, comentadores e comentadoras, mais ou menos avessos à reflexão, que não se intimidam a “compartilhar” seus pontos de vista e convicções sobre os temas mais variados. Há pouco lugar para a dúvida ou a reflexão neste campo de batalha repleto de pessoas apaixonadas pela própria voz, de egos inflados e/ou desesperados.
E, de um modo crescente, há pouco lugar também para bons modos rudimentares. Não é preciso muito para a agressão, a intolerância, a irracionalidade, a proliferação de imperativos e o obscurantismo assumirem o comando de certos “debates”. Novos tipos de “especialistas” e “ativistas” surgem a cada dia. É difícil não utilizar aspas para designar esses personagens virtuais, pois não se trata estritamente de especialistas, ativistas ou debatedores, ao menos nos termos mais ou menos estabelecidos até aqui.
Exércitos de um homem (ou mulher) só também proliferam, lançando campanhas, abaixo-assinados, cartas dirigidas a autoridades, divulgando frases e fatos muitas vezes atribuídos falsamente a determinadas personalidades. A fauna é variada e crescentemente diversificada. Essa nova realidade não é resultado de nenhuma propriedade maligna das redes sociais ou de outras inovações tecnológicas na área da comunicação. Como ferramentas tecnológicas, elas podem servir para distintas finalidades. A poluição opiniática não nasce nas ou das redes sociais. O problema é bem mais complexo e está associado à indústria da comunicação de um modo mais geral que vem se dedicando com afinco a transformar desde as mais singelas e primitivas formas de expressão em mercadoria.
A questão aqui não é o direito de termos opiniões e de expressá-las do modo que achamos mais conveniente, mas sim a transformação desse direito em um fenômeno bizarro e com implicações nada inocentes. Não somos mais apenas convidados e convocados a consumir, mas também a compartilhar, a curtir, a enviar torpedos, a participar de campanhas interativas, a dizer o que estamos pensando a cada instante, o que estamos fazendo, não importa se é lendo um livro de Platão ou escovando os dentes. E, por trás desses convites, cada vez mais, há uma iniciativa destinada a ganhar dinheiro. Por trás de toda essa poluição semântica há uma dimensão de acumulação econômica. Uma nova fronteira de acumulação monetária e de esvaziamento semântico.
As consequências desse “mundo novo” ainda são imprevisíveis. O que é perceptível, por enquanto, é um crescente desconforto que já vem levando muita a gente a se desconectar ou ao menos se afastar desses espaços. De modo similar à história de ficção científica sobre o mundo saturado pelo ruído, é como se estivéssemos respirando um ar cada vez mais pesado, carregado de opiniões, frases, citações sobre todo e qualquer tema, sobre tudo e sobre nada, tudo ao mesmo tempo agora. Uma saída, assim como na história do mundo insuportavelmente barulhento, seria recusar essa realidade em busca de um território onde o silêncio e a reflexão não estejam soterrados por debates que não são debates, pautas que não são pautas, campanhas que não são campanhas, palavras que não chegam a ser palavras, pois não chegam a constituir sentido. A tentação é grande. O ruído está ficando insuportável.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

QUE IDADE VOCÊ TERIA SE NÃO SOUBESSE A DATA EM QUE NASCEU?

O conflito entre gerações, o conflito entre pais e filhos, entre jovens e velhos, sempre existiu. No alvorecer da história, Adão e Eva tiveram problemas com o filho Caim. E, ao que tudo indica, esse conflito, com tendência a se agravar, continuará até o fim do mundo. No meio de tudo isso, a geração madura, entre trinta e cinquenta anos, garante: os velhos não valem nada, os jovens menos ainda, sobramos nós!
“Não tenho nenhuma esperança no futuro se ele depender da juventude de hoje. Os jovens são insuportáveis e levianos. Ai do mundo no momento que eles chegarem ao poder”. A frase, que pode ser ouvida hoje, numa reunião familiar, foi proferida pelo filósofo grego Sócrates, que morreu 429 antes de Cristo. O poeta grego Hesíodo é ainda mais duro: “Os jovens de hoje não têm educação. São insolentes, preguiçosos, julgam que sabem tudo, não respeitam os pais e não cedem seu lugar aos mais velhos. A juventude do meu tempo não era assim”. Em tempo, Hesíodo morreu no ano 720 antes da Era Cristã.
Hoje é muito difícil encontrar alguém que já não tenha dito a frase “no meu tempo não era assim”. O jovem se rebela e explica: o meu tempo é hoje; deixa-me viver o meu tempo! Algumas vezes, aqueles que apelam para “o meu tempo” têm péssima memória! 
No falar do povo, na juventude ateamos fogo para nos tornarmos bombeiros vinte anos depois. Acabamos por repetir, alguns anos depois, os conselhos de nossos pais que um dia ridicularizamos. E isso porque a vida é uma grande escola. Nela aprendemos até mesmo pelos erros cometidos.
Um mundo só de jovens seria inexperiente e condicionado a cometer erros graves. Um mundo só de velhos seria um mundo triste e rotineiro. O ideal é que jovens e velhos se encontrem na ponte do diálogo. E, neste sentido, a responsabilidade maior é dos adultos. Eles precisam ir até os jovens, entender seus pontos de vista, muitas vezes confusos e radicais, para ajudá-los a amadurecer. Isso não será possível sem uma grande dose de amor. Os jovens não amam os que não amam os jovens. E isso é básico.
Porque já foram jovens, os velhos precisam ter a experiência necessária para entender outros pontos de vista.  Dom Hélder Câmara, que morreu jovem aos 90 anos, observava: “Se discordas de mim, me enriqueces”.
Nem todo o idoso é amargo e saudosista, nem todo o jovem é rebelde. Os conflitos de geração são saudáveis. Nem tudo o que podia ser feito já foi feito e o que foi feito pode ser feito de uma forma melhor. 
Juventude e idade madura nem sempre dependem dos anos. Com vinte anos, alguém pode já ser velho, e continuar jovem um coração que bate há 80 anos ou mais. Uma pergunta inteligente: que idade você teria se não soubesse em que ano nasceu?

ESPERAR QUE ACONTEÇA OU FAZER?

Difícil a inspiração ao pensar no novo ano. Difícil porque se termina em geral o ano com o cansaço acumulado de tudo o que foi vivido, trabalhado, sofrido e frustrado, defraudado, perdido. E, no entanto, é preciso tentar animar-se, reerguer-se, preparar-se.
E como viver este ano novo sem esperança? Sem essa expectativa de que tudo será melhor, como enfrentar a longa sucessão de mais de 300 dias que se desdobra à nossa frente? Como acolhê-la, saudá-la? 
O fato é que, como dizia o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, “Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que, por decreto de esperança, a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”]
Pois então vamos lá. Sigo o poeta e penso: em lugar de esperar que aconteça, o que devo fazer para que o ano seja novo? O que em mim tem que nascer, renascer, ser recriado para que o ano tenha cheiro e gosto de manhã e não sabor murchado e dormido de anteontem? 
Creio que a primeira coisa é sacudir a poeira dos hábitos e acomodações instalados em meu interior. Com a idade vamos ficando ranzinzas, acostumados a certas coisas, horários, atitudes, sequências... Tentarei deixar que os mais jovens – filhos, netos, alunos - baguncem minha vida e meus esquemas. Que inventem e reinventem horários, prioridades, posição dos móveis, ordem de alimentos, programas. Deixar-se surpreender e passar o bastão de comando deve ser bom. Agora é a vez de eles inventarem a vida. Quem sabe não a inventam melhor do que eu?
Depois, em seguida, vem a atenção à minha renovação particular. Já que o tempo passa e certo declínio é inevitável, é bom no Novo Ano fazê-lo ao menos mais trabalhoso. Renovar-se fisicamente, com atenção, carinho e cuidado ao irmão corpo para que o mesmo não pife. Alimentá-lo saudavelmente, movimentá-lo para que não chie com artrites e males afins. Ou chie menos. Cuidar-se, respeitar os ritmos do corpo, ouvir suas queixas e clamores. Para oferecer aos outros uma presença mais tranquila e menos incômoda. 
Em seguida, e não digna de menos atenção, está a renovação interior, que anda muito descuidada e negligenciada. O acúmulo de trabalho acaba sempre obstruindo veias e artérias da integridade intelectual e sobretudo espiritual. O ativismo é febril e chega a sufocar. No cansaço que marca este fim de ano, quem sabe não tento no ano que vem discernir melhor os compromissos, separar tempo em quantidade adequada para a leitura, a oração, o lazer. E, assim, não atravessar madrugadas ou passar noites insones para dar conta de tudo. 
Renovar igualmente o cuidado com as relações. Refazer laços antigos que por alguma razão afrouxaram ou ameaçam romper-se. Cuidar com especial atenção dos novos amigos que ainda são plantas frágeis no jardim da vida e merecem olhar mais profundo e comunicação mais intensa. Incluir os distantes e os tristes, os sozinhos e os abandonados, aqueles que não percebemos que foram se afastando porque não podem mais participar das nossas circunstâncias por vários motivos: falta de forças, de dinheiro, de tranquilidade... enfim todas as faltas que cavam em nós abismos intransponíveis. 
E se tudo isso não conseguir ser feito, aportar ali onde sou sempre esperada e onde meus tantos anos já tão vividos são sempre renovados por um amor que jamais se desgasta, diminui ou envelhece. Em Deus, que é sempre novo e que a cada manhã me desperta como um Pai, ou um noivo, ou um Amigo maior, dizendo-me que a vida me espera e que sou sempre convidada a vivê-la intensa e plenamente. 

SUPERAR O VELHO PARA TER UM ANO NOVO

Por que desejar Feliz Ano-Novo se há tanta infelicidade à nossa volta? Será feliz este ano para afegãos e palestinos, e os soldados usamericanos sob ordens de um governo imperialista que qualifica de “justas” guerras de ocupações genocidas? 
Serão felizes as crianças africanas reduzidas a esqueletos de olhos perplexos pela tortura da fome? Seremos todos felizes conscientes dos fracassos de Copenhague, que salvam a lucratividade e comprometem a sustentabilidade?
O que é felicidade? Aristóteles assinalou: é o bem maior a que todos almejamos. Tomás de Aquino alertou: mesmo ao praticarmos o mal. De Hitler a ma
dre Teresa de Calcutá, todos buscam, em tudo que fazem, a própria felicidade. 
A diferença reside na equação egoísmo/altruísmo. Hitler pensava em suas hediondas ambições de poder. Madre Teresa, na felicidade daqueles que Frantz Fanon denominou “condenados da Terra”.
A felicidade, o bem mais ambicionado, não figura nas ofertas do mercado. Não se pode comprá-la, há que conquistá-la.
Estimulado pela propaganda, nosso desejo exila-se nos objetos de consumo. Vestir esta grife, possuir aquele carro, morar neste condomínio de luxo – reza a publicidade – nos fará felizes.
Desejar Feliz Ano-Novo é esperar que o outro seja feliz. E desejar que também faça os outros felizes? O pecuarista que não banca assistência médico-hospitalar para seus peões e gasta fortunas com veterinários de seu rebanho, espera que o próximo tenha também um Feliz Ano-Novo? 
Na contramão do consumismo, Jung dava razão a São João da Cruz: o desejo busca sim a felicidade, “a vida em plenitude” manifestada por Jesus, mas ela não se encontra nos bens finitos ofertados pelo mercado.
A arte da verdadeira felicidade consiste em canalizar o desejo para dentro de si e, a partir da subjetividade impregnada de valores, imprimir sentido à existência. Assim, consegue-se ser feliz mesmo quando há sofrimento. Trata-se de uma aventura espiritual. Ser capaz de garimpar as várias camadas que encobrem o nosso ego.
Porém, ao mergulhar nas obscuras sendas da vida interior, guiados pela fé e/ou pela meditação, tropeçamos nas próprias emoções, em especial naquelas que traem a nossa razão: somos ofensivos com quem amamos; rudes com quem nos trata com delicadeza; egoístas com quem é generoso; prepotentes com quem nos acolhe em solícita gratuidade. 
Se logramos mergulhar mais fundo, além da razão egótica e dos sentimentos possessivos, então nos aproximamos da fonte da felicidade escondida atrás do ego. Ao percorrer as veredas abissais que nos conduzem a ela, os momentos de alegria se consubstanciam em estado de espírito. Como no amor.
Feliz Ano-Novo é, portanto, um voto de emulação espiritual. Claro, muitas outras conquistas podem nos dar prazer e alegre sensação de vitória. Mas não são o suficiente para nos fazer felizes. Melhor seria um mundo sem miséria, desigualdade, degradação ambiental, políticos corruptos! 
Essa infeliz realidade que nos circunda, e da qual somos responsáveis por opção ou omissão, constitui um gritante apelo para nos engajarmos na busca de “outros mundos possíveis”. Contudo, ainda não será o Feliz Ano-Novo.
O ano será novo se, em nós e à nossa volta, superarmos o velho. E velho é tudo aquilo que já não contribui para tornar a felicidade um direito de todos. À luz de um novo marco civilizatório há que superar o modelo desenvolvimentista-consumista e introduzir, no lugar do PIB, a FIB (Felicidade Interna Bruta), fundada na economia solidária e sustentável. 
Se o novo se faz advento em nossa vida espiritual, então com certeza teremos, sem milagres ou mágicas, um Feliz Ano-Novo, ainda que o mundo prossiga conflitivo; a crueldade travestida de doces princípios; e o ódio disfarçado de discurso amoroso.
A diferença é que estaremos conscientes de que, para se ter um Feliz Ano-Novo, é preciso abraçar um processo ressurrecional: engravidar-se de si mesmo, virar-se pelo avesso e deixar o pessimismo para dias melhores. 

ONDE O EGOÍSMO PODE NOS LEVAR

Noventa e cinco dentre cem jovens cederiam o lugar. A maioria respeita os anciãos e os enfermos. Ele fazia parte dos cinco por cento que não perdem para ninguém, não cedem um milímetro de seus direitos não adquiridos e não dão a mínima para anciãos, enfermos ou portadores de alguma deficiência, até porque, deficiência por deficiência, a deles 
é pior: falta-lhes o essencial. Amam demais a pessoa errada, isto é, a si mesmos.
A companhia chamara os passageiros e, como de costume, idosos, pessoas com alguma deficiência, crianças e gestantes, tinham sido atendidos. Faltavam os demais. Um senhor, já nos seus 85 anos, chegou atrasado e, meio trôpego, quis passar à frente. O rapagão de 23 anos chiou. Ostensivamente, não permitiu passagem, alegando que também estava cansado e tinha viajado de longe. Era sua vez e não cederia! Ato contínuo, a atendente fechou a porta de vidro e disse que ninguém mais passaria, até que o ancião fosse atendido. Os da fila aplaudiram. O rapagão emitiu um sonoro palavrão. Fizeram-no ver que ele estava errado e que o “tiozão” tinha todos os direitos. Soltou outro palavrão. A menina que o acompanhava saiu da fila e fez menção de ir embora. Era demais par a cabeça dela.
Caso resolvido, ela teimou em ficar por último, o que o obrigou também a ir para o fim da fila, não sem resmungar e puxar briga com ela. Não foi preciso comentar. Todos perceberam a que extremos pode levar o egoísmo. Malquisto e malvisto, o rapaz não teve outra solução senão dormir o tempo todo. Ainda bem!

AGENDAS E CALENDÁRIOS

Parece ingenuidade pensar em algo tão comum, familiar e aparentemente insignificante: ano novo, novos calendários e novas agendas. Nós, humanos, temos tantas dependências e necessidades de ajuda que muitas vezes não paramos para pensar o que significam os pequenos auxílios que nos são oferecidos por realidades tão simples. Assim pode acontecer com o amigo calendário e a companheira agenda de um novo ano.
Mesmo com calendários que carregamos nos celulares e agendas eletrônicas, ainda contamos com o calendário de parede e de mesa como um instrumento de rápida consulta e auxílio de cada dia para nos situar no tempo. Não é difícil nos perder no tempo! A rotina da vida parece nos convencer de que todos os dias são iguais. Se não vamos ao calendário, quando menos pensamos, nos vemos desatualizados e perdidos no tempo.
Por ser este companheiro tão importante, na maioria das casas e repartições públicas achamos um calendário. Em todos temos as mesmas datas, comuns ou especiais. Porém, os formatos são os mais diferentes possíveis. Alguns apresentam o ano todo numa página, outros veiculam mensagens e disponibilizam a cada mês um espaço especial; outros ainda, com estampas religiosas, fotos regionalizadas e familiares parecem trazer o tempo mais dentro de nossa história.
Uma coisa é certa: podemos nos servir do calendário para exercitar a nossa fé. Posso encará-lo além de um objeto e perceber que, num simples número de um mês e de uma semana, estão vinte e quatro horas do dia a meu dispor. Posso então dizer: “Obrigado, Senhor, por este dia que amanhece e me é concedido como preciosa oportunidade para viver e fazer o bem!” Mas sendo uma graça, o dia que me é concedido também se faz responsabilidade. Posso administrá-lo do melhor ou do pior modo, dependendo de minhas intenções, decisões e respostas concretas.
Bem-vindo é o calendário de minha visibilidade permanente. Assim vou me dando conta que um dia chega e passa. Sem retorno, o dia de cada semana deverá me ajudar a perceber “o tempo favorável e oportuno!”. O calendário de minha casa ou do meu espaço de trabalho ajuda-me a me manter vigilante e atento, pois não sabemos nem o dia, nem a hora.
Falei de calendário e pouco falei de agenda. Mesmo que tenha calendário, esta se torna um instrumento diferenciado em nosso uso cotidiano. Nela estão nossos compromissos e tarefas, as cobranças de nossa família, de nossa missão, os serviços a serem prestados em dia e hora marcada e as ocupações que não podem falhar.
Diante da agenda há quem se sinta pressionado; há quem treina a sua liberdade responsável; há os compromissos e comprometidos e, enfim os que conseguem valorizar ao máximo o tempo da vida. Agenda cheia pode revelar a vida de pessoas organizadas, determinadas e comprometidas, mas também de gente apressada e atropelada por um ativismo desmedido, arriscando comprometer a saúde, a qualidade de vida e convivência. Tudo vai pela justa medida. Abençoados sejam os calendários e agendas do ano que começamos!