quinta-feira, 31 de março de 2016

CORRUPÇÃO

Millor Fernandes, ilustre humorista brasileiro já falecido, dizia que o incorruptível é aquele que ainda não recebeu uma boa oferta. Essa frase será apenas mais uma das belas frases de efeito ou realmente porta uma verdade incontornável? No Brasil a sensação que se tem é que, pelo menos no espaço público, não há como negar que a frase seja realista. Seria de se perguntar se vale somente para o espaço público, isto é, para os políticos que estão constantemente expostos a ofertas, ou se também vale para o cidadão comum. A integridade moral, em nosso tempo, tem se tornado coisa rara. A impressão que dá é que já não há homem justo em que se possa “por a mão no fogo”.

Pitágoras, matemático e filósofo grego, dizia que se o homem fosse educado não precisaríamos de cadeias. Talvez seja otimismo pensar que, em conhecendo o que se deve fazer, de fato, faz-se o que se conhece. Talvez seja otimismo! Mas não há outra via senão apostar na educação moral dos indivíduos, que ao internalizar valores e normas morais armam-se contra as tentações que vêm do mundo exterior em forma de ganhos e benefícios materiais.

Platão, no livro A República, através do personagem Sócrates, também postula a ideia de que o bem pode ser ensinado e na medida em que se sabe o que é o justo, justo se é. Na medida em que se sabe o que deve ser feito, feito será. Na medida em que se sabe o que não deve ser feito, não será feito e ponto.

Mas, os sofistas, esses sábios meio céticos meio cínicos e relativistas, contestam Sócrates e dizem que esse racionalismo moral é balela e que na verdade só praticamos a justiça contra a própria vontade ou porque não temos boas oportunidades e capacidade de fazer o que eventualmente dizem que não devemos fazer. Nesse caso, não há justo ou injusto, corrupto ou incorrupto, pois dadas certas condições todos seríamos propensos a agir em interesse próprio e egoísta. Em outras palavras, somos todos corrompidos

Para defender a tese sofística o personagem Glauco, interlocutor de Sócrates, conta uma lenda e tira a conclusão. Trata-se da lenda do anel de Giges. Giges era pastor de ovelhas e, numa ocasião, estava ele pastoreando e ocorreu uma terrível tempestade que o obrigou a se abrigar numa caverna. Na caverna havia um cavalo morto e ao lado do cavalo um homem também morto. O homem morto portava um anel e Giges o toma para si e o coloca no dedo. Até aí nada demais. Acontece que o anel tinha estranhos poderes de tornar o seu possuidor invisível sempre que a pedra do anel girasse em direção do corpo do possuidor. Ora, ora, ora...! Giges não teve dúvida. Voltou para o castelo, seduziu a rainha e, com a ajuda dessa, matou o rei e assumiu o reinado. A pergunta é, diz Glauco: haveria algum homem supostamente honesto que, se tivesse os poderes de invisibilidade não seria tentado e cairia na tentação do ter, poder e prazer? Glauco conclui que não haveria e que se só somos justos por imposição e por medo e dadas circunstâncias favoráveis, como é o caso da invisibilidade, todos seríamos corruptos e egoístas...

Será? O que você não faria, mesmo se tivesse o poder de invisibilidade? O que você não faria? Você não esbofetearia um desafeto ou um inimigo político? Você não roubaria um anel ou uma joia qualquer numa joalheria. Numa fábrica de chocolate, o que você não faria? Com seu patrão ou autoridade que você não nutre amores, o que você não faria? O que você não faria? O que você não faria, eis o que sobra de moralidade em você.

quarta-feira, 30 de março de 2016

VALORES IMUTÁVEIS

A maior herança que os filhos podem receber de seus pais não são os bens materiais e sim os valores imutáveis. Para garantir a herança que não se corrói, é imprescindível um bom processo formativo educacional para os filhos. Ou seja, são os bens que nunca podem ser roubados e tornar-se corruptíveis. Por isso, deixar uma herança para a vida toda é uma tarefa importante em nosso contexto.

Considerar esta a herança fundamental, em âmbito onde imperam valores materiais, constitui algo a ser pensado para as futuras gerações. Em busca das heranças materiais e imediatas as relações entre as pessoas passaram por profundas transformações. Consequentemente, às vezes, por um simples desentendimento com outrem se recorre a meios de reparação de direitos. Usar medidas extremas revela a perda da capacidade de diálogo das pessoas. Vive-se em tempo no qual por qualquer motivo aplica-se a tolerância zero. E se não bastasse, em defesa desta postura subjetiva, impetra-se uma ação em qualquer instância jurídica. Dessa forma, a palavra perdeu seu valor entre as pessoas, já não é sinônimo de garantia. Caiu por terra a expressão “fio de bigode”. A expressão traduz um tempo em que a palavra era garantia. A origem da expressão “fio de bigode” é incerta, mas pronunciada no termo alemão “bi gott” significa “por Deus”. Isto expressa um juramento em que a palavra precisa ser honrada.

Em contraposição a esta postura tende-se a fortalecer a "lei de Gerson": “o importante é levar vantagem em tudo”. Por vezes, obter vantagens ignorando até mesmo os valores éticos, morais, sociais. Pôr-se nesta postura faz aparecer posicionamentos que cegam as mentes e corroem o coração das pessoas. Isto é, compromete a fundamental herança. É preciso reagir a essa tendência para que os filhos recebam uma herança que não comprometa a esperança no futuro.

Em defesa dessa herança não há uma volta ao passado ou um saudosismo, mas o acreditar em ser possível algo mais substancial para o ser humano. Se isto for aceito, significa repensar todo o processo de educação familiar e social, demonstrando ser possível uma nova sociedade que inicia pela mudança de berço. Em um país como o Brasil, historicamente repleto de desigualdade social e humana, pode ser ensinado o valor da ética e das relações sociais justas às crianças, aos adolescentes e jovens.

Viver em sociedade submetida ao legalismo e à tolerância zero reduz a essência da vida humana. Construir uma verdadeira herança que garanta um futuro melhor a todos envolve a articulação entre as instituições família, escola, sociedade e governos. Exige de todas as pessoas responsabilidades com renovadas orientações familiares, pedagógicas, políticas e civis.

terça-feira, 29 de março de 2016

OS ANIMAIS SÃO DE DEUS A BESTIALIDADE É DOS HOMENS

Ser nazista não é nenhum elogio. Conectada a essa palavra está a prática do horror praticado por humanos, pretensamente superiores, contra outros humanos, supostamente fracos e débeis, na segunda guerra mundial. O nazista se atualiza no comportamento intolerante, violento, insensível com os outros, negador do outro, sobretudo os mais vulneráveis. Até a palavra nazista assusta. Não creio que alguém faça questão de ser chamado de nazista. Nazista é, como a gente diz para as crianças, “coisa feia”.

Ainda assim persiste em nossa sociedade um latente e cada vez mais manifesto espírito nazista no comportamento de alguns grupos minoritários que atacam, violentam e banalizam o bem mais precioso do humano que é a vida e o bem mais caro da civilidade que é o diálogo e a tolerância. E isso é muito perigoso!

Mas não é do horror, violência e intolerância de humanos para humanos que pretendo falar. A questão é a relação dos humanos para com os animais que muito precisamente pode ser qualificada de prática nazista de holocausto em campos de concentração. Há um holocausto diário em ação e as vítimas são os mais inofensivos e inocentes possíveis, os animais. Os animais são de Deus, a bestialidade é dos homens (Platão). Animais inocentes que só desejam liberdade, bem-estar e vida, e pelo seu ser dão glória a DEUS, diz o Papa Francisco, nós os confinamos em campos de concentração doméstico, no uso de seus corpos no ensino e pesquisa, na indumentária e revestimentos, nos jogos e divertimento e, sobretudo, os matamos aos bilhões para alimentarmo-nos de seus corpos já em decomposição. Os animais são de Deus, a bestialidade é dos homens!

A humanidade só se eleva moral e espiritualmente lá onde o amor é universalmente ampliado. Mas como dizer que somos elevados moral e espiritualmente se torturamos animais inocentes e sensíveis como as vacas para tira-lhe o leite? Como podemos nos considerar elevados espiritualmente se torturamos galinhas para lhe roubar os ovos? Como nos chamar de humanos se escravizamos, torturamos e matamos seres de outras espécies pelo prazer do saborear seus corpos esquartejados e servidos sem cerimônia em nossas mesas?

Adeus a inocência! Todos já sabemos o que a indústria dos ovos, carne, leite e seus derivados fazem para continuar lucrando com a nossa cumplicidade. No holocausto de 60 bilhões de animais assassinados por ano, 160 milhões todos os dias e 7 milhões a cada hora, somos todos nazistas cúmplices. Adeus a inocência! Os animais são de Deus, a bestialidade é dos homens!

segunda-feira, 28 de março de 2016

AS QUATRO SOMBRAS SEGUNDO L.Boff.

Em momentos de crise, assomam quatro sombras que estigmatizam nossa história cujos efeitos perduram até hoje.

A primeira sombra é nosso passado colonial. Todo processo colonialista é violento. Implica invadir terras, submeter os povos, obriga-los a falar a língua do invasor, assumir as formas políticas do outro e submeter-se totalmente a ele. A consequência no inconsciente coletivo do povo dominado: sempre baixar a cabeça e levado a pensar que somente o que é estrangeiro é bom.

A segunda sombra foi o genocídio indígena. Eram mais de 4 milhões. Os massacres de Mem de Sá em 31 de maio de 1580 que liquidou com os Tupiniquim da Capitania de Ilhéus e pior ainda, a guerra declarada oficialmente por D.João VI em 13 de maio de 1808 que dizimou os Botocudos (Krenak) no vale do Rio Doce manchará para sempre a memória nacional. Consequência: temos dificuldade de conviver com o diferente, entendendo-o como desigual. O índio não é ainda considerado plenamente “gente”, por isso suas terras são tomados, muitos são assassinados e para não morrerem, se suicidam. Há uma tradição de intolerância e negação do outro.

A terceira sombra, a mais nefasta de todas, foi o escravidão. Entre 4-5 milhões foram trazidos de África como “peças” a serem negociadas no mercado para servirem nos engenhos ou nas cidades como escravos. Negamos-lhes humanidade e seus lamentos sob a chibata chegam ainda hoje ao céu. Criou-se a instituição da Casa Grande e da Senzala. Gilberto Freyre deixou claro que não se trata apenas de uma formação social patriarcal, mas de uma estrutura mental que penetrou nos comportamentos das classes senhoriais e depois dominantes. Consequência: não precisamos respeitar o outro; ela está aí para nos servir. Se lhe pagamos salario é caridade e não direito. Predominou o autoritarismo; o privilégio substitui o direito e criou-se um estado para servir os interesses dos poderosos e não ao bem de todos e uma complicada burocracia que afasta o povo.

Raymundo Faoro (Os donos do poder) e o historiador e acadêmico José Honório Rodrigues (Conciliação e reforma no Brasil ) nos têm narrado a violência com que o povo foi tratado para estabelecer o estado nacional, fruto da conciliação entre as classes opulentas sempre com a exclusão intencionada do povo. Assim surgiu uma nação profundamente dividida entre poucos ricos e grandes maiorias pobres, um dos países mais desiguais do mundo, o que significa, um país violento e cheio de injustiças sociais.

Uma sociedade montada sobre a injustiça social nunca criará uma coesão interna que lhe permitirá um salto rumo a formas mais civilizadas de convivência. Aqui imperou sempre um capitalismo selvagem que nunca conseguiu ser civilizado. Mas depois de muitas dificuldades e derrotas, conseguiu-se um avanço: a irrupção de todo tipo de movimentos sociais que se articularam entre si. Nasceu uma força social poderosa que desembocou numa força político-partidária. O Partido dos Trabalhadores e outros afins, nasceram deste esforço titânico, sempre vigiados, satanizados, perseguidos e alguns presos e mortos.

A coligação de partidos hegemonizados pelo PT conseguiu chegar ao poder central. Fez-se o que nunca foi pensado e feito antes: conferir centralidade ao pobre e ao marginalizado. Em função deles se organizaram, como cunhas no sistema dominante, políticas sociais que permitiram a milhões saírem da miséria e terem os benefícios mínimos da cidadania e da dignidade.

Mas uma quarta sombra obnubila uma realidade que parecia tão promissora: a corrupção. Corrupção sempre houve entre nós em todas as esferas. Negá-lo seria hipocrisia. Basta lembrar os discursos contundentes e memoráveis de Ruy Barbosa no Parlamento. Setores importantes do PT deixaram-se morder pela mosca azul do poder e se corromperam. Isso jamais poderia ter acontecido, dado os propósitos iniciais do partido. Devem ser julgados e punidos.

A justiça focou-se quase só neles e mostrou-se muitas vezes parcial e com clara vontade persecutória. Os vazamentos ilegais, permitidos pelo juiz Sérgio Moro, forneceram munição à imprensa oposicionista e aos grupos que sempre dominaram a cena política e que agora querem voltar ao poder com um projeto velhista, neoliberal e insensível à injustiça social. Estes conseguiram mobilizar multidões, conclamando o impedimento da Presidenta Dilma, mesmo sem suficiente fundamento legal como afirmam notáveis juristas. Mas o PT respondeu à altura.

As quatro sombras recobrem a nossa realidade social e dificultam uma síntese integradora. Elas pesam enormemente e vêm à tona em tempos de crise como agora, manifestando-se como ódio, raiva, intolerância e violência simbólica e real contra opositores. Temos que integrar essa sombra, como diria C.G.Jung, para que a dimensão de luz possa predominar e liberar nosso caminho de obstáculos. O PT, apesar de seus erros, a causa que defende será sempre válida: fazer uma política integradora dos excluídos e humanizar nossas relações sociais para tornar a nossa sociedade menos malvada.

domingo, 27 de março de 2016

UM OLHAR CRISTÃO AO MUNDO DA COMUNICAÇÃO

Geralmente dá-se à comunicação uma definição empírica: Comunicar é “dizer alguma coisa a alguém”. Esta “alguma coisa” pode se ampliar em nível planetário, por meio do grande mundo das redes sociais, que vieram se unir aos meios de comunicação clássicos e tradicionais. Também este “a alguém”, num plano global, nem se pode imaginar e nem se pode calcular quem seja.

Esta consciência empírica, à luz da amplidão das prospectivas da atualidade, onde sempre mais nos comunicamos sem ver o rosto do outro, fez surgir o problema maior da comunicação. Aqui alimenta-se a informação, sem que aquele que comunica sinta-se comprometido com o outro que recebe.

Um olhar cristão ao mundo da comunicação pode nos sugerir algo novo e grandioso, mais do que a sofisticação dos meios. Partimos da comunicação de Deus para nós, humanos. A teologia pode nos ajudar a uma nova experiência. Este novo da comunicação não vem de uma teoria, nem de uma invenção histórica e humana.

Por incrível que pareça, no sepulcro de Jesus, na noite da Páscoa, realiza-se o gesto da comunicação mais radical de toda a história da humanidade. O Espírito Santo, vivificando Jesus Ressuscitado, comunica ao seu corpo a força incontida de Deus. Comunicando-se a Jesus, o Espírito se comunica à humanidade inteira e abre o caminho a toda a comunicação autêntica que supõe o dom de si, superando a ambiguidade da comunicação humana, na qual não se confirma nenhum compromisso mútuo.

Neste horizonte da Páscoa a comunicação passa a ser aquela que o Pai faz de si a seu Filho amado, Jesus. Esta comunicação fundamental de Deus passa a cada homem e cada mulher e dali àquela que nós cultivamos reciprocamente no modelo desta comunicação divina. Esta é a espinha dorsal de uma comunicação comprometida e comprometedora de vida e dignidade. A dimensão pascal da comunicação não nos permite manipulações, mas respeito; não tolera o jogo de conveniência, mas a sinceridade do amor que liberta e promove.

O Espírito Santo que recebemos, graças à morte e ressurreição de Jesus e que nos faz viver no próprio Jesus, preside em nós a comunicação, imprimindo as marcas de dedicação e amor pelos outros. Desta realidade fundamental da fé cristã tiramos algumas conclusões para nossas relações comunicativas:

- Na raiz de cada comunicação está a grande comunicação de Deus que se dá ao ser humano por meio de seu Filho Jesus e do Espírito Santo.
- Cada comunicação, para ser verdadeira, necessita ter presente a grande comunicação de Deus, para não se tornar vazia. Só nesta raiz a comunicação pode garantir o ritmo e a medida justa a cada gesto comunicativo.
- Toda a confusão que atualiza a o clima da ‘Torre de Babel’, é resultado da rejeição desta comunicação de Deus.
- O novo da comunicação que nos vem da Páscoa, necessariamente, precisa efetivar a comunicação ‘coração a coração’.

sábado, 26 de março de 2016

JESUS OU BARRABÁS ?



Essa semana, santa, comemoramos o martírio de um líder politico, preso, torturado e morto ele foi entregue aos verdugos após uma delação premiada.
Judas Iscariotes, é o que consta no meu Livro Negro, foi o primeiro malandro beneficiado pelo instituto da delação premiada.

o sacana entregou o chefe, ganhou a liberdade e ainda saiu com uma sacola cheia de moedas.

com a grana que levou da patranha, dizem que o malandro abriu um resort no deserto da judeia, com ofurôs de ébano cheios de leite de camelas.

o chefe, coitado, foi atirado aos cães.

conta a história que o carismático líder político, ao cair nas garras de um juiz desajuizado, foi julgado e condenado pela voz raivosa de uma turba que batia panelas nas ruas.

o cabra se chamava Jesus Cristo.

na varanda de Caifás, uma espécie de Paraty House, o líder político é exposto à multidão.

ele tem um sítio com dois pedalinhos, gritava o juiz.

ladrão, filho da puta, vai pra Cuba, bradava a turba ensandecida.

intoxicado pela imprensa judáico-romana, o povo branco e endinheirado pedia a morte do líder político e a absolvição de dois bandidos: Cunha e Aécio, que à época eram conhecidos como Barrabás.

é o que tá aqui no Livro.

midiotas erguiam cartazes pedindo a morte do ex-retirante de Belém, enquanto babacas obrigavam babás a empurrar seus bebês em meio à turba odiosa.

a história teima em se repetir.

nesse instante, Poncius Morus Pilatus, o jovem, acaba de lavar as mãos sujas nas águas sujas da bacia imunda trazida à boca do palco por Gilmar Mendes.

conhecido também como Mendestófelis, por causa de suas infaustas diabruras.

no entanto, o jogo aqui parece que virou.

um mar vermelho de gente corre em socorro do líder condenado por crime nenhum.

arrancam a cruz de suas costas, golpeiam centuriões, zelotas apunhalam traidores.

e pedem a cabeça de Barrabás; assim, no plural.
todos os Barrabás.

há uma lista com 200 deles.

mas o barbudo não consta em nenhuma lista.
seu crime, dois pedalinhos.

a multidão o absolve o o leva nos braços.
Poncius Morus Pilatus, é açoitado em praça pública, chibatadas vergastam seu lombo jovem, o povo lhe cospe a cara, um mais exaltado lhe atira as próprias fezes.

cai o sol e todos vão pra casa.

Lula é o nome do líder que estavam tentando pegar para Cristo.
hoje ele flana livremente.

foi visto ainda essa manhã caminhando sobre as águas turvas do Laguinho de Atibaia, distribuindo aos pobres pães e tilápias frescas.

não vai ter golpe, escreve o escriba, atualizando as escrituras.

palavra da salvação.

lele teles

TODOS QUEREM VENDER...

Desde 2008 o sistema capitalista enfrenta uma das piores crises de sua história. A economia globalizada tornou a crise mundial. Atualmente não estamos vivendo uma nova crise, mas o prolongamento da mesma. E o sistema financeiro o que propõe para sair da situação? Vender é a resposta. Produzir é fácil. Difícil é vender. Todos querem vender. Mas, ninguém compra. Eis o problema crucial do sistema econômico no início do século XXI.

Esta crise foi deflagrada com a falência das hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos, com a quebra do banco Lehman Brothers. O sistema entrou em crise basicamente quando as instituições financeiras emprestaram dinheiro para quem não podia pagar. Na época a situação obrigou a intervenção governamental e houve transferência de dinheiro público para os bancos e grupos privados a fim de evitar o colapso do sistema financeiro e a recessão econômica. Por um lado o governo aumentou os gastos públicos ao injetar recursos em bancos e empresas privadas; por outro, a economia mundial não respondeu com crescimento. Hoje, é notório o encolhimento e a redução das taxas de crescimento econômico. Se não bastasse transferir recursos públicos para o setor privado, o resultado foi catastrófico devido ao aumento do déficit público que já era bem elevado. Por conta da quebra do sistema financeiro, todos os países aumentaram seu déficit público. Entre eles a Grécia, os países da zona do euro, da América Latina e outros tidos como emergentes.

Na realidade, diante da crise econômica mundial há todo um esforço para vender. Isto significa exportar mais e, por conseguinte, importar menos. Comprar se possível nada ou o mínimo necessário. Em regime de recessão do mercado global é preciso oferecer algo que corresponda ao desejo do sistema: consumir. A recessão mundial gera uma constante tensão e pressão por observância aos acordos e contratos bilaterais. Prova desta tensão é o mercado que vive em constante nervosismo, num verdadeiro sobe e desce.

A desigual concorrência econômica entre os países está um caos total, não é simplesmente resultado de maus contratos, mas de um comportamento subserviente ao jogo do mercado em recessão. No jogo da economia globalizada não tem a palavra justos acordos bilaterais ou iguais taxas, apenas ganhos. Isto constitui uma situação que faz pensar que a superação da crise não será para todos os países, mas sim para os mais desenvolvidos. Em suma, o deterioramento do quadro econômico mundial prolonga-se amargamente para os países pobres enquanto os poderosos entusiasmam-se em fazer destes as novas colônias da economia global.

sexta-feira, 25 de março de 2016

OS DOIS FILHOS


Os Livros Sagrados não foram escritos, assim como figuram nas bíblias atuais. O texto era corrido, sem divisões. Para tornar o texto mais compreensível, ao longo do tempo, os teólogos dividiram os livros em capítulos e, mais tarde,em versículos. O arcebispo Estevão Langton, em 1220, dividiu a Bíblia em capítulos. Mais tarde - 1555 - Roberto Stephanus dividiu os capítulos em versículos. Outros trataram de colocar intertítulos para designar os diferentes temas. Finalmente o Papa Gregório VIII tornou oficiais as mudanças, em 1592.


Os intertítulos não são oficiais e podem ser mudados. O evangelista da misericórdia - Lucas - é o único que narra a parábola do pai com seus dois filhos. O texto foi conhecido como o Filho Pródigo. Edições mais recentes da Bíblia o denominam “Os dois filhos”. O espírito do ensinamento fica mais claro se usarmos o título; O pai misericordioso. Jesus não quis ressaltar a infelicidade do filho, mas a misericórdia do Pai. Foi a resposta de Jesus aos doutores da Lei que o acusavam de acolher os pecadores.

O filho mais novo não apenas exigiu a parte da herança que lhe cabia, mas desprezou todas as coisas do pai. Teve a pretensão de ser feliz sozinho, voltou as costas ao pai, ao seu passado e todos os seus valores. A experiência desastrada o levou a cuidar dos porcos, considerados pelos judeus animais imundos. Foi ali, no fundo do poço que teve saudade do pai. Sua redenção começa com a determinação: voltarei a meu pai.

Na contraluz aparece o filho mais velho, certinho, sem rebeldias e sem amor. Não estava preocupado com o irmão e não entendeu a misericórdia do pai.

O Ano Santo da Misericórdia, promulgado pelo Papa Francisco, pode sugerir um final diferente para a parábola. O filho mais novo dirige-se ao irmão e diz: pequei contra o céu e também contra ti. Por sua vez, o filho mais velho complementa: eu também te peço perdão porque nunca soube te amar, ajudar e aconselhar. Então o pai abraça os dois filhos, chora com eles e diz: nunca haverá festa igual a esta.

A Semana Santa torna atual a Misericórdia do Pai, que enviou seu Filho, não para condenar, mas para salvar. A Semana Santa não coloca em primeiro lugar o sofrimento de Jesus, mas seu amor, que o levou a assumir todas as consequências, inclusive a morte na cruz. E suas últimas palavras estão cheias de misericórdia: Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem.
 Todos nós, em diferentes momentos, temos o rosto do filho mais novo e do filho mais velho.

SEXTA-FEIRA SANTA.

Curiosamente foi refletindo sobre o significado profundo da sexta-feira santa que o jovem estudante de teologia e depois um dos maiores filósofos da história F. Hegel tirou a sua famosa chave de leitura da história e da vida humana: a dialética. Ele via realizada na saga de Jesus a realização destes três passos: vida-morte-ressurreição.

A vida é a tese da positividade. A morte é a antítese da negatividade. A ressurreição é a síntese que incorpora a tese e a antítese numa síntese superior. A ressurreição é mais que a reanimação de um cadáver, pois significaria a volta à vida anterior. A ressurreição é a introdução de algo novo, nascido das afirmações e contradições do passado. Esse "insight" sempre lembrado por ele, foi chamado de a "sexta-feira santa teórica".

Se bem reparamos, a semana santa, para além de seu caráter religioso, representa um paradigma do processo histórico e da própria evolução. Tudo no universo, nos processos biológicos, humanos e biográficos se estrutura na forma da dialética. O primeiro momento é a tranquila serenidade e paz infinita daquele pontozinho quase infinito de onde viemos (tese). De repente, sem sabermos por quê, ele explode. Produz um incomensurável caos(antítese). A evolução do universo significa um processo de criar ordens cada vez mais altas e complexas que culminam com a emergência do espírito e da consciência (síntese).

Dentro desta síntese, transformada agora em nova tese, carrega sua antítese que desemboca numa nova síntese mais fecunda. E assim corre o devenir da história do universo, das sociedades e de cada pessoa.

Concretizando para a nossa situação atual. O Brasil entrou num processo de crise, cujas causas não cabe aqui referir. Algo entrou em processo de caos. Deste caos deve irromper uma nova ordem que possa dar horizonte e esperança ao país. Precisa-se descobrir novas estrelas-guia que nos orientem face à crise atual. A crise tem a função de acrisolar, purificar e tornar a todos mais maduros.

A questão toda se resume: quem possui a proposta político-social que supere a crise e crie uma convivência minimamente pacífica? Não será através de fórmulas já testadas e gastas que virá a superação da crise dando centralidade a políticas e a grupos de poder à custa do sacrifício da maioria da população.

Promissora é aquela que realiza para o maior número de pessoas um bem-estar mínimo, que lhe garanta trabalho, que lhe assegure uma moradia modesta mas digna e lhe abre janelas de possibilidades de desenvolvimento e crescimento através da saúde e da educação sustentáveis. Em todo esse processo dialético há a experiência de vida, de morte e de transfiguração; de ordem, desordem e nova ordem; de tese, antítese e síntese. A complexidade segundo E. Morin se estrutura nesta dialética que é a da semente: "se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, ficará só, mas se morrer, produzirá muito fruto", como disse o Mestre.

Hoje a natureza, a humanidade e nossa sociedade vivem sob pesada sexta-feira santa ameaçadora. A nossa esperança é que este padecimento se ordene a uma radiante transformação. O corrupto seja punido e o que politicamente se fez errado seja corrigido.

Importa definir um rumo que de certa forma já foi apontado. Se o rumo estiver certo, o caminho pode conhecer subidas e descidas mas ele nos leva ao destino certo: a uma nova ordem de convivência onde não seja tão difícil tratarmos a natureza com compaixão e nossos próximos com humanidade e com cuidado.

l.boff

quinta-feira, 24 de março de 2016

OMBROS QUE CARREGAM

Cheguei a virar para trás para contemplar aquela cena: um pai carregando seu pequeno e sorridente filho nos ombros. A confiança era tão plena que o filho esbanjava espontaneidade. Quando a infância é rodeada da necessária proteção familiar, a construção da personalidade experimenta o que de mais natural a vida pode oferecer: a confiança. Aquele menino não pesava nos ombros do alegre pai. Ambos provavam do privilégio da pertença mútua, da proteção e do amor, como laços que entrelaçam o viver.

Carregar algo nos ombros não é cena incomum. No passado, a ausência de outros meios forçava o trabalho braçal. As lidas do campo e o cultivo da lavoura obrigava o uso dos ombros para transportar desde ferramentas até um feixe de pasto. A força física era medida também pela resistência e capacidade de suportar peso. O ombro participa de todos os movimentos na musculação. Nem todas as articulações exercem tal flexibilidade, em ângulo e grau de movimentos.

Especialistas afirmam que os ombros, além da resistência e força para suportar peso e movimentos, concentram a tensão muscular. Depois de um dia de exigente trabalho, os músculos e tendões podem necessitar de exercícios que aliviem a sobrecarga que fora acumulada. Quando o emocional se distancia do necessário equilíbrio, a tensão pode se tornar ainda mais intensa. Os mesmos ombros que carregam o sorridente menino podem se tornar como que um depósito das energias que tencionam o corpo, como um todo.

Todos os ombros são abençoados. Porém, os ombros que transformaram a história da humanidade jamais serão esquecidos. Jesus de Nazaré emprestou os humildes ombros para carregar a pesada cruz. A consciência da missão não impediu que o madeiro provocasse três quedas. No entanto, Jesus se ergue e continua o caminho em direção ao Calvário. Não era apenas o peso da madeira que estava nos ombros do Filho de Deus. Os pecados da humanidade eram transportados para o alto monte, lugar do castigo e da remissão.

Os tempos são outros, mas a cruz continua pesando em frágeis ombros, que não conseguem erguer-se das forçadas quedas. Uma certeza ecoa: aqueles ombros suportaram o peso de nossos pecados. Nos ombros de Jesus, a cruz se transformou em luz. O menino sorridente, carregado nos ombros de seu pai, traz presente a vitória da vida. No terceiro dia, Ele ressuscitou. Felizes os ombros que carregam a esperança.

terça-feira, 22 de março de 2016

DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Nesta terça-feira, 22 de março, celebrou-se o Dia Mundial da Água. A água é uma necessidade básica da humanidade e a sua escassez e contaminação podem comprometer irreversivelmente a existência humana na Terra. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso a abastecimento adequado.

No Brasil, 94% da população têm acesso a serviços de água potável. Nas cidades, esse percentual alcança 98%, contra 92% em 1990, de acordo com o relatório da Unicef. Entre a população rural, o avanço foi bem mais expressivo nos últimos 25 anos: apenas 38% acessavam redes de água limpa nestas regiões, contra 70% em 2015.

Porém, o Brasil enfrenta o desperdício, que gira em torno de 40%. Essa é uma das questões mais relevantes para a gestão hídrica: a mensuração e o controle contínuo das perdas, principalmente na etapa de distribuição dos sistemas de abastecimento. Essas perdas podem ser provenientes de vazamentos, erros de medição e consumos não autorizados (ligações clandestinas).

Isso traz impactos negativos para o meio ambiente e para a receita financeira, elevando os custos com tratamento da água, energia elétrica, entre outros. Estudo do Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, apontou que cidades com padrão de excelência em perdas têm indicadores menores do que 15%.

Gestão - O índice geral de perdas foi de 39,07% (6,53 bilhões de metros cúbicos ao ano) e o índice de perdas na distribuição foi de 36,95% (5,95 bilhões de metros cúbicos ao ano). Os dados evidenciam urgência em acelerar o ritmo de gestão e investimentos em programas de controle e redução do extravio de água, já que os prejuízos econônicos chegam a R$ 8 bilhões ao ano.

“Esse valor poderia ser aplicado em melhorias, ampliações e novas obras em prol da universalização do saneamento básico no”, opina Guilherme Girol, especialista em saneamento.

A EMOÇÃO PODE MUDAR O SEU DIA.

Os três primeiros meses do ano já se foram. Vamos aproveitar bem o restante do ano “A vida é mais emocionante quando se é ator e não expectador.” Ao receber o dom da vida, todos recebem dons. O que fazer com a vida é uma das primeiras escolhas. Ao longo dos anos, assume-se diferentes papeis. Alguns gostariam de encontrar tudo pronto. Uma grande maioria nasceu para ser ator. Até exercitam a posição de expectador, mas não foram feitos para isso. Como é maravilhoso desempenhar bem o papel recebido.

A vida proporciona muita satisfação, para quem caminha um tanto distante da acomodação. Apequenar a existência é uma lástima. Não cultivar sonhos é uma agressão à grandiosidade do existir. As emoções dão colorido aos dias. Viver sem emoção é aproximar esse dom maravilhoso do abismo da indiferença. Viver com emoção é descobrir o melhor, mesmo que tenha que ser em meio aos destroços da maldade alheia. A acomodação não apresenta outra opção a não ser de expectador.

A vida é dada a quem sabe ser ator, que descobre que o papel principal não pode ser delegado. É tão bom arregaçar as mangas e fazer acontecer! Quanto dinamismo quando a vida é assumida e encaminhada. Há tanta gente especialista em lamentações! Leitores de tragédias e páginas policiais dificilmente se encontram com o melhor da vida. Não se trata de negar fatos e acontecimentos negativos. Mas porque tão pouco espaço para o positivo? Não há escassez de emoções.

Tem diminuído os protagonistas. Tem gente demais querendo apenas assistir e torcer por este ou aquele. Que emoção desbravar novos caminhos, que alegria dar formato ao bem, que felicidade ultrapassar os limites da acomodação. É importante se emocionar com as pequenas conquistas, com os simples detalhes. A emoção pode mudar os seus dias.

segunda-feira, 21 de março de 2016

GETSEMANI, O PRETÓRIO E O CÓLGOTA

Estamos nos aproximando da Semana Santa e mais uma vez vamos reler o relato da Paixão de Cristo. Jesus é o Único Justo que nos poderia acusar de nossos pecados, mas não nos acusa. Busquemos compreender e acolher a justiça realizada por Jesus, pois ela é paradoxal e escandalosa à nossa realidade de consumo e política.

A vitória de Jesus sobre o mal não foi pelo viés da justiça humana, mas pela vitória de um amor posto a toda prova cuja medida é incondicional, superior a todos os amores deste mundo e capaz de curar todas as expressões de maldade vivida pela humanidade.

Os três os momentos que caracterizam a Paixão de Cristo e sua resposta ao mal são o Getsêmani, o Pretório e o Gólgota. Naqueles momentos terríveis vividos por Jesus estiveram presentes, de modo condensado, todas as nossas contradições, sofrimentos e maldades.

No jardim do Getsêmini se configurou todas as angústias, traições, beijos mentirosos, infidelidades, lágrimas sujas, palavras inúteis e maliciosas, maquinações noturnas e conspirações.

No Pretório se configuram todos os tribunais com pretensões ‘injustas’ pela sede de vingança, todas as mãos impuras e contaminadas pelo ter, prazer e poder. Toda a liberdade mal vivida e desprezada, todos os vícios, baixarias, egoísmos, falsidades, risos e aplausos maldosos.

No Gólgota, se configuram todos os sofrimentos e sentimentos humanos, todos os gritos úteis e inúteis, todas as gozações e ridicularizações, todos os crimes e criminosos, todas as quedas e feridas, amarguras, ofensas e punhaladas pelas costas, mágoas e rancores da humanidade.

Enfim, a morte de Cristo na cruz revela, de um lado, toda maldade de que o homem é capaz, mas, pelo outro, a ressurreição revela o amor infinito e misericordioso de Deus.

sábado, 19 de março de 2016

O QUE MAIS NECESSITAMOS É ALEGRIA!

Ao percebermos algo importante, em retirada na vida, volta-se a falar e, com insistência, se mostra o desejo de ver a sua volta, provando que é necessário e possível. Mas não basta provar que seja possível. Precisamos encontrar o caminho e o modo como isto possa acontecer. Um destes componentes atuais de nosso viver e conviver em retirada, de que muitos necessitamos, é a alegria.

O primeiro sinal que denuncia a carência de alegria está estampado no rosto das multidões de homens e mulheres, jovens e crianças que correm dia e noite pelas cidades, carregados de preocupações, limites e angústias. Dizem que nosso povo brasileiro gosta muito de se divertir e até se exceder nos limites, mas não prova ser um povo alegre. Certamente não é só o povo brasileiro. O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho”, afirma:

“O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros. Já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem”.

A psicologia nos confirma que a intensidade da alegria é uma expressão que pode variar de pessoa a pessoa, segundo a diversidade de temperamentos. Porém, a alegria é um direito e um dever de todos. Uma pessoa que cultiva a alegria tem trânsito livre em todos os setores da vida e da atividade humana. Além de ser um benefício para a pessoa, cultivar a alegria é também um benefício social. Tudo flui com mais leveza e espontaneidade. Onde há alegria, diz um antigo pensador, até as paredes aprendem a sorrir.

Há motivos passageiros que suscitam alegria: é uma boa notícia que recebemos; é um êxito obtido; é um elogio sincero que nos é dado; é um encontro festivo que promovemos etc. Há incontáveis razões para a alegria. Mas há uma alegria que nem o mundo pode nos tirar. É a alegria garantida por Cristo. Ele não só nos garante esta alegria, mas se torna nosso mestre.

Parece estranho pensar em Jesus Cristo – o perseguido e crucificado, o austero profeta da interioridade, da renúncia e da cruz – como mestre da alegria. Sua vida e sua mensagem são a “jubilosa novidade” do reino. Geralmente a tristeza nasce em nós, porque nos sentimos sozinhos ou porque provamos a esterilidade do nosso trabalho e o vazio de nossa vida. Mas, com sua vinda a nós e para nós, Jesus preenche o vazio; existe a cruz pascal para fecundar e dar importância ao trabalho.

Desde o começo, Cristo nos convida a sermos alegres. O sermão da montanha abre-se à solene proclamação da alegria dos pobres, dos pacientes, dos aflitos, dos que têm fome e sede de justiça, dos misericordiosos, dos puros de coração, dos que promovem a paz, dos perseguidos por causa da justiça.

sexta-feira, 18 de março de 2016

BASTA QUERER

Sempre gostei de plantações de milho. Minha mãe chegava quase a contemplar o germinar das sementes. Depois de uma chuvarada, ela dava umas voltas na lavoura para observar o crescimento das plantinhas. Dias atrás, passamos por uma grande extensão, onde o milharal estava muito bonito, promessa de ótima colheita. Enquanto meu olhar quase se perdia naquela verdadeira imensidão de alinhadas plantas, recordei de uma história sempre atual, que inspira e provoca boas lembranças.

“Um determinado fazendeiro produtor de milho, já por muitos anos recebia o prêmio de melhor produtor de milho num determinado concurso da sua cidade. Uma vez, um repórter o entrevistou e aprendeu algo interessante sobre como ele fazia seu cultivo. Descobriu que o fazendeiro compartilhava a semente do seu milho vencedor com os vizinhos. Intrigado, o repórter perguntou: ‘como pode você se dispor a compartilhar sua melhor semente de milho com seus vizinhos, uma vez que eles estão competindo com você todo ano?’ O fazendeiro respondeu: ‘então você não sabe? É que o pólen do milho maduro é levado através do vento de campo para campo. Se meus vizinhos cultivam milho inferior, a polinização continuada degradará a qualidade do meu milho. Assim, se eu desejar cultivar milho de boa qualidade, tenho que ajudar meus vizinhos a cultivar milho bom.’”

Querer o melhor para os outros é uma atitude sábia. Quem deseja e faz o bem está apto para receber o próprio bem. O egoísmo tem prejudicado e interrompido muitos laços. São infindas as histórias de intrigas e de divisão familiar. Os desentendimentos entre vizinhos provocam estragos emocionais e físicos. A espontaneidade é a grande prejudicada por verdadeiras batalhas, onde o poder e a ganância se revezam, dissipando o bom senso e o respeito. O amor cede facilmente lugar para o ódio e o rancor.

Assim como o pólen do milharal multiplica a qualidade e quantidade da produção, que a convivência humana seja resgatada de forma criativa. A paciência aguarda por mais espaço, o perdão está em prontidão para instigar a expansão da paz. O amor quer ser multiplicado, impactando diretamente na eliminação da vingança que só faz estragos. A felicidade aspira por menos apego e maior afago. Há muitos laços que ainda podem provocar intensos abraços. Basta querer.

quinta-feira, 17 de março de 2016

O QUE SIGNIFICAM OS NOVOS TEMPOS?

É comprovado que os assuntos mais comentados, hoje, nos encontros informais, nas ruas, nas famílias, no trabalho e também nos meios de comunicação social, são os relacionados a crises, doenças, dificuldades, decepções e desalentos. E o pior é que, em lugar de melhorar o discurso do cotidiano, parece complicar-se cada vez mais, porque os problemas de hoje são globalizados. Rapidamente mudam os cenários e também as disposições de investir no melhor.

Nessa situação, corremos o risco de encarar os tempos novos como sendo tempos que devemos viver inevitavelmente. Por isso, nos resignamos passivamente; afligimo-nos e vamos tecendo nossas lamentações, ampliando a lista de nossas agruras. Outra forma de nos trair é procurar fugir do nosso momento presente, repetindo o refrão: “No passado era melhor!”. Com o pretexto de que estamos envolvidos na incerteza e nos desafios dos tempos novos, arriscamos duvidar de tudo e de todos. Na queda da confiança deslizamos para um isolamento no tempo e no espaço, aumentando a multidão dos solitários.

A primeira coisa que se pede a nós, cristãos, é que amemos o nosso tempo, que não vivamos de amargas lamentações e nem sonhemos com uma paz que não nasça da cruz. Cada um de nós é chamado a descobrir e cultivar a responsabilidade, a dor e o júbilo da nossa hora, as exigências renovadoras de nosso tempo. É importante para a vida e a fé repetir sempre de novo a sábia pergunta: “O que me pede hoje o Senhor?”. O que esperam e aguardam hoje de mim os meus irmãos e minhas irmãs?

Diante dos novos e muitos desafios do nosso tempo, resta uma única resposta: a fidelidade ao nosso momento, a alegria insubstituível de viver este único tempo colocado por Deus à nossa disposição. “Minha alma está agora conturbada! O que direi? Pai livra-me desta hora? Foi precisamente para esta hora que eu vim” (Jo 12,27).

O que significam os tempos novos? Como se apresentam? É lógico que qualquer tempo, vivido em plenitude, é novo todo dia. Quando entramos na monotonia da vida e nos deixamos envolver pela ideia de que os dias são irremediavelmente iguais, envelhecemos logo. Assim tudo se torna pesado e triste, seja o trabalho, a convivência familiar e social e até mesmo nossas práticas religiosas. As coisas repetidas diariamente, com superficialidade e sem amor, nos cansam.

Os tempos novos, com suas incontáveis descobertas e progressivos avanços em seus meios, pressionam sempre mais as pessoas à exterioridade e à superficialidade. Possivelmente aqui está uma grande causa de nosso desconforto e insegurança. É neste contexto que se manifesta o incontido clamor de nossa interioridade a fazermos a experiência de Deus.

Os tempos novos são também fecundados pela ação do Espírito Santo e tempos favoráveis. É alegria de viver agora, nestes tempos difíceis do reino, mas providenciais para uma fé mais vigorosa, uma esperança mais animadora e um amor mais sincero.

quarta-feira, 16 de março de 2016

REDE GLOEBELS...

Me dá nojo ao ver as claques montadas ao estilo dos programas de auditório da Globo, ao redor das câmeras móveis sendo regidas pelos "animadores de platéia" para gritarem "Fora PT", na transmissão da passeata na Paulista.

Que vergonha ver o povo brasileiro sendo levado como uma manada de gado pelos profissionais habilíssimos da Rede Gloebels.

Interessante notar também que durante todo o dia 13, cada um dos apresentadores/jornalistas que aparecia no vídeo da Rede Gloebels dizia mais ou menos assim: "Estamos aqui na demostração contra o PT, Lula e Dilma...." exatamente nas mesmas palavras, ensaiado (ordenado) por um diretor tipo o próprio Marinho, na abertura de sua transmissão. Ouvi isso milhares de vezes, no mesmo estilo, nas mesmas palavras e no mesmo momento de entrada do apresentador(a).

As tomadas de câmera eram invariavelmente defronte a um boneco da Dilma ou do Lula ou de cartazes acintosos, degradantes para um programa noticioso.

Nas transmissões de estúdio também era usada a mesma frase, como que um "must" para todos os jornalistas (jornalistas????) que começava seu discurso tendencioso e malicioso.

Será que o povo não percebe o facciosismo e a manipulação da realidade por estes cafajestes transvestidos de jornalistas?

Fica aqui minha dúvida pois me parece que não percebem MESMO, o que poderia ser considerado uma CATARSE coletiva em nível nacional, exatamente como na Alemanha de 1930 onde a multidão erguia seus braços na saudação nazista quando aparecia o Füher.

Cadê a manifestação contra corrupção?????

Resposta: Foi sequestrada pela Gloebels e transformada em manifestação para o Golpe.

Mel Dels.... Que Vergonha !!!

terça-feira, 15 de março de 2016

A NATUREZA É FEITA DE INFINITOS SINAIS.

Há quatro anos um pedreiro aposentado salvou um pinguim. Ele encontrou o pássaro encharcado de óleo em uma praia perto da sua casa, no Rio de Janeiro. Na época, ele lavou adequadamente o pinguim, alimentou a ave com sardinhas e, quando ela ficou forte novamente, o pedreiro levou-a até a praia para que seguisse adiante junto com as outras aves. Só que o pinguim decidiu ficar. O pedreiro tentou novamente, com um barco, soltá-lo em alto mar, mas quando chegou em casa, lá estava o pinguim esperando por ele.

Eles ficaram amigos e a ave ganhou o nome de JingJing. O pinguim passa cerca de oito meses por ano com seu amigo, na praia carioca, e vai para o mar durante dias, ou mesmo meses, mas sempre volta. A própria natureza é capaz de ensinar gratidão. Voltar, para aquele pinguim, é a forma mais adequada para agradecer. Longe de possíveis explicações racionais, ser agradecido é uma atitude encantadora, expressão profunda de afeto e reconhecimento pelo bem recebido.

A gratidão é um necessário aprendizado, condição para fortalecer os laços fraternos e provocar profunda alegria. Além do convencional ‘muito obrigado’, é importante que vire rotina gestos de profundo agradecimento. Mesmo não havendo necessidade, nunca é demais agradecer. Os gestos de gratidão falam mais do que as palavras. São marcas que eternizam, sinais que permanecem, lembranças que harmonizam, laços que se entrelaçam.

O pinguim não se importa em ter que enfrentar temperaturas bem diferentes do seu habitat natural, mas não deixa de voltar para onde foi acolhido e cuidado. A ciência, talvez, se ocupe em decifrar se é instinto ou algo específico da própria espécie. Olhos sensíveis experimentam profunda alegria ao saber da trajetória anual daquele pinguim, salvo pelas mãos calejadas de um humilde pedreiro. Um ensinamento com muitas lições de vida.

Para o equilíbrio do meio ambiente e proteção das espécies, é necessário que surjam muitos ‘pedreiros’, com coração sensível e cuidador. O planeta é a casa comum onde todos podem se abrigar. A consciência, quanto ao valor do meio ambiente, deve ser lapidada continuamente. Gestos generosos sempre serão recompensados. A gratidão pode ser percebida de muitas formas. Todos os anos, o pinguim volta para agradecer. A cada amanhecer a luz do sol se faz gratidão. A natureza é feita de infinitos sinais.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O TEMPO.

Com o término do chamado horário de verão, ganhamos uma hora a mais. Na realidade, não ganhamos, mas nos devolveram um hora roubada no início da estação. Diferente é o ano bissexto, quando realmente ganhamos um dia a mais. Uma pergunta curiosa: o que fizemos - ou faremos - desta hora e deste dia a mais?

A pergunta precisa levar em conta o ‘tempo’. Ele é abstrato e concreto. Falamos de perder tempo, ganhar tempo, recuperar o tempo perdido, passar o tempo, avaliar quanto tempo ainda temos. É algo bem concreto e nós o manejamos todo dia. Mas também é abstrato, invisível, inelástico. Lembrando o velho Santo Agostinho: todos sabemos o que é o tempo, mas não sabemos explicar quando nos interrogam.

Concreto ou abstrato, o homem, desde o tempo das cavernas, tentou medir e calcular o tempo. Há, pelo menos, 3.500 anos, surgiu o relógio do sol. Depois, o relógio de areia - conhecido por ampulheta. Por volta de 1504, um certo Peter Henlein fabricou o primeiro relógio de bolso. O relógio de pulso é recente - 1904 - obra de Louis Cartier. A última palavra é o relógio atômico - 1956 - que atrasa poucos segundos a cada 100.000 anos.

Ao lado dos diversos tipos de relógios apareceram os calendários, espécie de atacadistas do tempo. Logo surgiram os conflitos entre o tempo real e o virtual. O imperador Júlio Cesar pode ser considerado o pai do ano bissexto, que acontece, de maneira geral, a cada quatro anos. O sexto dia, antes das calendas de março, era repetido. O calendário Juliano durou séculos e foi substituído pelo atual calendário Gregoriano, do Papa Gregório XIII. Naquele ano - 1582 - o calendário deu um salto: passou da quinta-feira 4 de outubro para a sexta-feira dia 15. Literalmente, foram acertados os relógios e os calendários.

Medimos, mas não dominamos o tempo. Passado, presente e futuro - ontem, hoje e amanhã - são maneira de situar nossos gestos. Os teólogos falam do tempo como o espaço do amor de Deus. Todas as horas, todos os dias são iguais. Depende como nós os ocupamos. O imperador-filósofo, Marco Aurélio (120 a 160 dC) costumava dizer “Perdi o dia”, quando não tivesse feito uma boa obra.

O tempo é um presente de Deus. Ele o concede para nosso amadurecimento humano e espiritual. É com o tempo que preparamos a eternidade. A misericórdia de Deus é infinita, mas o nosso tempo é limitado. Uma hora, um dia, podem fazer a diferença.

domingo, 13 de março de 2016

VAMOS CERRAR OS PUNHOS

Acredito que estamos vivenciando um momento de mudanças em nossa sociedade. Essas mudanças estão acontecendo graças à resistência das chamadas minorias. A reação dos tradicionalmente oprimidos ainda é tímida, mas naturalmente irá se intensificar. Digo naturalmente, porque é inerente ao instinto de defesa do ser humano, reagir quando não mais suporta ficar acuado. Historicamente, o pau que sempre deu em Chico, nunca deu em Francisco, principalmente se Francisco tiver um sobrenome imponente. Talvez Chico tenha demorado muito a perceber tamanha desigualdade, mas agora que despertou, ele ergue o punho e clama por justiça e igualdade.

O punho cerrado é um gesto político de força e resistência, que se popularizou com os Panteras Negras nos EUA, grupo que combatia o racismo e lutava pela igualdade racial e social. Alguns, mais coxinhas, atribuem o gesto ao socialismo que resiste ao sistema capitalista. Outros, mais românticos, lembram-se de Sócrates, não o Grego, mas o de Ribeirão Preto, craque do Corinthians nos anos 80, que ao fazer um gol, comemorava com os punhos cerrados em protesto contra a ditadura militar. Eu, um pouco mais realista, atribuo a cada cidadão que tem sede de justiça. A cada um de nós que já está cansado de ser tratado como gado de corte a caminho do matadouro. A cada ser humano que tem a consciência de que o mundo só desfrutará da tão sonhada paz, quando houver justiça e igualdade social.

O discurso não deve ser utópico e muito menos esquerdista, como alguns costumam sugerir quando se fala em igualdade. Ele precisa ser humanitário. Cerrar os punhos é dizer não a opressão social, a qual a maioria da população é submetida. Cerrar os punhos é não aceitar que o coronelismo e a tradição do favorecimento hereditário ainda imperem nesse país, mesmo quinhentos anos após o seu descobrimento. Cerrar os punhos é não aceitar que a cor da pele determine o caráter do indivíduo e sentencie o seu destino. Cerrar os punhos é não se manter na sua zona de conforto, enquanto muitos passam fome porque são vítimas de um sistema covarde e desumano, que faz com que o rico fique cada vez mais rico e o pobre cada vez mais fique mais pobre.

Cerrar os punhos é ter um Cristo interior, que deu a própria vida por ao amor a humanidade e desafiou os poderosos do seu tempo, trazendo à luz toda a hipocrisia praticada por aqueles que se julgavam donos da sabedoria e da justiça. Cerrar os punhos é não temer o peso da cruz sobre os ombros, por ajudar o próximo a carregar o seu fardo. Cerrar os punhos é abrir mão do pensamento covarde e acomodado de que o mundo é assim mesmo e que não se pode fazer nada para mudá-lo. Pois o mundo muda quando a nossa mente começa a pensar diferente. Cerrar os punhos é lutar pela verdadeira meritocracia, na qual todos os cidadãos tenham oportunidades iguais, sem que sejam lesados pelos conchavos e pelos apadrinhamentos que insistem em abençoar apenas a alguns ditos filhos de Deus.

Cerrar os punhos é deixar de lado os preconceitos e enxergar no outro um cidadão com os mesmos direitos e deveres que você possui. Nem mais e nem menos. Cerrar os punhos é não se deixar alienar por uma mídia, por vezes golpista, cujo comprometimento é apenas com os interesses de quem a controla. Cerrar os punhos é não abrir mão das políticas afirmativas e de inclusão, só porque a casta mais nobre da sociedade não abre mão de continuar oprimindo os menos favorecidos e de lhes negar o acesso à dignidade plena, a qual todo cidadão deve desfrutar. Cerrar os punhos é não se deixar seduzir por políticos oportunistas, que se aproveitam de um momento desfavorável que o país atravessa, para se apresentarem como a solução do problema.

Cerrar os punhos é se libertar da chibata institucional que sempre tenta açoitar o raciocínio libertário daqueles que querem fazer valer os seus direitos. Cerrar os punhos é impedir que os seus pulsos sejam cortados, que a sua dignidade seja roubada, que a verdade seja corrompida e que os seus sonhos sejam destruídos. Cerrar os punhos é ter coragem para tomar a atitude necessária para a mudança. Se hoje cada um de nós cerrarmos os punhos para lutar por igualdade e justiça, amanhã estaremos de mãos dadas celebrando a vitória.

Um punho cerrado jamais será cortado.

sábado, 12 de março de 2016

O SAGRADO DIREITO DA VIDA DO OUTRO

Em meio a um contexto social de corre-corre e de ativismo, de ruídos e de tantas seduções é preciso refletir sobre a razão da existência humana. Na sociedade pós-moderna são muitas seduções que ocupam a vida. Qualquer pessoa que se ponha a pensar na essência do ser humano, com certa seriedade e serenidade, concorda que a nova cultura produziu condições para mudar o ritmo de vida das pessoas. No entanto, isto nos obriga a pensar no sentido da vida. Convenhamos que, a respeito do consumo exacerbado da nova cultura capitalista globalizada, não é exagero dizer que provocou mudanças de comportamento em todas as pessoas: crianças, jovens, adultos e idosos.

Na visão do teólogo espanhol José Maria Castillo (1929), a sociedade moderna é marcada por três acontecimentos com determinada influência no comportamento humano. Castillo aponta primeiro a quantidade e a rapidez da informação que circula em todo o mundo. Em questão de segundos interage-se com outro extremo do mundo pela internet, correio eletrônico e telefonia móvel. É uma conquista importantíssima de nosso tempo.

O segundo fato é a migração e a circulação de pessoas de um país ao outro, de um continente ao outro. É uma situação que ganhou contornos de problemática mundial com a crise econômica do sistema capitalista. O terceiro fato é o crescimento da violência em todas suas formas possíveis. Atos de terrorismo são organizados e praticados por grupos especializados no assunto. São cenas de violência que impõem pavor pela tamanha monstruosidade e bestialidade da ação humana.

O alcance de tais fatos produz um imaginário social em que ninguém está seguro. Em tudo isto há algo que assusta a sociedade moderna: quanto mais tecnologia, mais insegurança e mais frágil vê-se o ser humano. Diante desses acontecimentos, seguramente é preciso pensar numa sociedade alternativa com elementos de equilíbrio humano, social e global. As coisas que eram seguras ontem, hoje se tornaram inseguras, abaladas, inconsistentes.

É preciso dar um passo em direção a algo que assegure outro horizonte para a humanidade. E a direção é clara, até decisiva ao pressupor: a indagação pelo respeito ao direito à vida de todos; a indagação pela consolidação de valores comuns, como a paz, dignidade, preservação do planeta, harmonia mundial. Mais do que uma nova situação mundial, é o amor que se considera indispensável, inteiramente necessário, para assegurar o sagrado direito da vida do outro.

sexta-feira, 11 de março de 2016

MORTE E VIDA

Este título pode parecer estranho e complicado. Refletindo e meditando no dia de finados, surgiu-me esta reflexão que decidi escrever. É possível que algum leitor discorde, ou duvide desta verdade. Se acontecer, creio que haja razões para isso. Para tanto vamos pensar juntos. Quando se fala em morte, logo temos a ideia de que seja o fim de tudo. Terminou a ação, os recursos humanos se foram, a medicina não tem o que fazer senão registrar a causa do fato. Enfim, revestimos a morte como a realidade que tudo paralisa.

Olhando com realismo, sabemos que o sofrimento e a morte são realidades humanas que estão sempre provocando a capacidade científica para encontrar soluções, remédios e cuidados para que as pessoas tenham qualidade de vida e longevidade em sua existência aqui na terra. Viver mais, viver melhor, viver sem morrer, parece o sonho motor que mais impele reais investimentos de tempo, capacidades, meios de defesa e mesmo bens econômicos.

Apesar de tanto empenho, tantas descobertas, tantos êxitos, tantos recursos e tantos discursos, a morte continua sendo inevitável para todo o ser humano. Se a razão se vê sem argumentos ou até derrotada, se os apegos e afeições encontram barreiras inexpugnáveis diante da morte, o coração e a raiz do ser da cada pessoa continuam se sentido fortemente provocados pela morte.

Como nos certificamos desta provocação tão forte que habita em nós? Como podemos atribuir à morte, aparentemente inerte, tamanha força provocadora? Certamente essa inquietação que nos acompanha e habita as profundezas de nosso ser, não é uma realidade circunstancial, mas essencial. Nós não queremos morrer! Nem queremos que morram aqueles e aquelas que amamos e nos amam.

Nossa condição mortal nos provoca para a imortalidade. A eternidade nos provoca a superar os limites do tempo. Toda a questão está em nos dar conta de que Deus nos chama para a “vida em plenitude”. E a plenitude não se fecha no limite do tempo e nem do espaço. Somos mais! Nosso viver é maior do que o período de tempo que aqui vivemos e datamos em nossos túmulos. Teimosamente queremos que nossa vida continue e se eternize.

Neste anseio incontido de eternização de nosso viver, há um único investimento que garante o êxito. São João da Cruz dizia que nós seremos julgados pelo amor. Na vida e na história, tudo passa, só não passa o amor. O amor tem muitas faces. Revela-se na paciência, na fidelidade, na bondade, na generosidade, no perdão, na ternura, nas muitas obras de misericórdia, na alegre participação da comunidade, na oração, na acolhida dos sacramentos e na celebração do Mistério Pascal de Cristo, que se renova em cada oração participada.

Deixar-nos provocar pela morte, significa encostar a nossa vida com nossas cruzes e luzes, limites e superações, naquele que deu a maior, melhor e definitiva resposta à provocação da morte: Jesus Cristo, o Crucificado Ressuscitado. Amém!

quinta-feira, 10 de março de 2016

EU E O OUTRO

Na diversidade da comunidade de vida somos todos outros uns aos outros. O bárbaro é aquele que se fecha sobre si e ainda não aprendeu que o mundo é maior que seu umbigo, sua família, sua tribo, sua aldeia, sua cultura, sua nacionalidade. Bárbaro é o que diminui, nega e mata o outro.

O outro é o não-eu. O outro é o diferente, o fora do círculo do eu. O outro é aquele que está além da margem da identidade. Identidade que só é possível ser definida na relação com o outro. Negando o outro, nego-me, pois o eu só é verdadeiramente eu na relação. Elimine a relação e o que sobra será uma abstração. Quão sem vida é uma abstração!

Civilizado é aquele que aprendeu a conviver com o outro. Civilizado é aquele que aprendeu a respeitar o outro. Civilizado é o homem urbano que saiu da caverna e aperta a mão, dá bom dia, trabalha junto com o outro, convive e ama o outro que pode ser negro, índio, branco, amarelo, mulher, deficiente físico, homossexual, transexual, prostituta, estrangeiro... Civilizado é o homem e a mulher que inclui o outro no seu universo de relações e de respeito. Civilizado é o humano que aprendeu a tratar o outro com dignidade, respeito e hospitalidade. Civilizado é o que superou o racismo, o machismo, o nacionalismo. Civilizado é o que abriu o leque da consciência e da ação efetiva na vivência harmoniosa da biodiversidade da comunidade de vida.

A civilização é uma permanente vigilância e cerceamento dos nossos instintos de exclusão e de negação do outro. Civilizado é aquele que trocou a violência pelo diálogo, pela acordo, pela conversa, pelo olhar no face a face, pela escuta do apelo que vem do outro. Civilizado é o que superou o olho por olho dente por dente. Civilizado é o que incorporou a ideia de que a vida do outro vale a sua. Civilizado e o humano ético que cai fora do círculo de violência que o desejo mimético lhe impõe. Civilizado é o que não faz vítimas, sobretudo vítimas inocentes. Civilizado é Jesus que morre para desnudar a violência de um sistema de morte que se alimenta do sangue inocente.

Ético e civilizado é aquele que inclui o outro, respeita o outro, defende o outro, aprende do outro, se solidariza com o outro. Ético e civilizado é o que não se sente bem quando o outro sofre e morre. Ético é o que ainda experimenta os sentimentos morais de culpa, vergonha e indignação sempre que o outro sofre e é vítima inocente. Ético é o que é incapaz de fazer mal ao outro. Ético é aquele que reconhece que o outro por excelência é o Animal.

quarta-feira, 9 de março de 2016

HOSTÓRIA E MITOS

Contar histórias é da cultura humana. Desde a infância ouvimos nossos pais contarem histórias. Com sabedoria, seriedade e serenidade contavam histórias em linguagem de fácil compreensão. É verdade que entremeado às histórias falavam também do juízo e do castigo divino. Embora a infância tenha ficado distante, as lições permanecem na memória. Orientam e iluminam nossos passos na vida. É desafio hoje recuperar essa conversa pedagógica familiar, algo de imprescindível felicidade.

É preciso lembrar que em realidade familiar pobre e humilde a criança de outrora vivia ouvindo belas histórias ao redor da mesa, do fogão e no caminho da roça. Todos os enredos visavam transmitir ensinamentos e conselhos para os filhos vencerem na vida com dignidade e com moral. Em mundo corruptível que impede o dar-se conta das coisas de que não se pode abrir mão, se faz necessário discernimento do essencial e prioritário. Do contrário, corre-se perigo de viver sem a finalidade da qual a vida consiste.

Uma narrativa da mitologia grega ajuda a recordar o imprescindível para a vida. É o mito de Sísifo. A narrativa grega inspirou o autor francês Albert Camus (1913-1960), que em 1941 escreveu O Mito de Sísifo, obra na qual introduziu sua filosofia do absurdo, sobre um homem fútil em busca do sentido da vida num mundo ininteligível, sem Deus e sem eternidade. Sísifo é um pastor de ovelhas e filho de Éolo, o deus dos ventos. Sísifo era considerado a pessoa mais ardilosa que já existiu em sua cidade, Corinto. Porém, em sua esperteza pretendia driblar a frágil natureza humana.

Diante desta pretensão de Sísifo, a mitologia narra sobre os absurdos aos quais a vida humana se submete. O absurdo de Sísifo é, por ter dedurado Zeus, deus do Olimpo, submeter-se a passar o resto da vida no subterrâneo onde vivem os condenados. Para libertar-se do castigo é obrigado a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma alta montanha. Porém, quando chegava perto do topo, por meio de uma força irresistível a pedra rolava montanha abaixo até o ponto de partida. Sem sucesso, repetia isto diariamente, milhares de vezes e quando estava para alcançar o topo a pedra novamente retornava para o ponto de partida. E o povo vendo o absurdo a que Sísifo foi submetido aprendeu que ninguém devia enganar a morte. Isto é, ninguém tente ser deus, viver eternamente neste mundo.

O mito denuncia que a pretensão humana de reduzir o mundo a um princípio racional é um verdadeiro absurdo. Em tempo no qual se privilegiam os bens, as posses, o capital e o consumo, conduzir-se neste princípio é absurdo. O enfrentamento deste absurdo só pode ser dado pelo próprio homem, libertar-se desta condição que lhes é insuflada inúmeras vezes pelos pais ausentes, que não tem tempo de contar histórias edificantes, pois estão ocupados com privilegiar os bens, o capital, o consumo.

segunda-feira, 7 de março de 2016

UM PAÍIS SE CONSTROI COM EDUCAÇÃO;

Os artigos 35 e 36 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), lei que trata da formação do cidadão no país, referem-se ao Ensino Médio. O Ensino Médio possui, no mínimo, três anos de duração e a sua finalidade é consolidar os conhecimentos adquiridos durante o Ensino Fundamental, possibilitando continuar os estudos, preparar o educando par ao trabalho e a cidadania, bem como dar condições básicas de adaptação aos estudos posteriores, aprimorar o educando como pessoa humana, oportunizar uma formação ética que desenvolva a autonomia intelectual e o pensamento crítico, fornecer uma compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos, relacionando a teoria e a prática.

O currículo do Ensino Médio tem por finalidade o desenvolvimento do educando, assegurando a formação indispensável para o exercício da cidadania e o ingresso no mercado de trabalho e nos estudos posteriores. O artigo 36 ainda diz que o currículo para o Ensino Médio deve levar em conta os seguintes parâmetros: a compreensão do significado da ciência, das letras, das artes, da sociedade, da cultura, da língua portuguesa, uma metodologia de ensino e avaliação que estimulem a iniciativa dos alunos e uma língua estrangeira optativa.

Esses dois artigos da LDB abordam a finalidade básica do Ensino Médio, porém são muito sucintos e há uma distância enorme entre o almejado e as reais condições oferecidas nas escolas. Também o prazo de no mínimo três anos é pouco tempo para se alcançar tudo o que a lei contempla. Portanto, os objetivos são um tanto utópicos.

O problema maior não está na lei, pois ela apenas quer ser um farol para a criatividade na produção de metodologia e estratégias eficazes para auxiliar na formação em nosso país, porém pouco se produz nesse sentido.

Um país se constrói com a educação. A educação que se pretende é fundamentada por um currículo amparado pelas condições necessárias a sua concretização, pois por ele se está formando o cidadão. Que cidadão o país necessita? O Ensino Médio colabora para o exercício da cidadania, a formação ética, intelectual e o pensamento crítico?

sexta-feira, 4 de março de 2016

HUMANOS X ANIMAIS

Às vezes os defensores dos direitos dos animais precisam exercitar a paciência com os que não se preocupam com os animais, quando estes dizem que o que importa, de verdade, é a defesa do humano e que, via de regra, os que se preocupam com os animais o fazem porque não gostam de gente, não amam as criancinhas e coisa e tal.

A bem da verdade, os que processam essa crítica aos defensores da causa animal são, comumente, insensíveis também com as causas humanas. É muito comum os conservadores antropocêntricos e especistas também serem insensíveis com o direitos dos pobres, dos homossexuais, das mulheres, dos indígenas, dos negros, estrangeiros etc. São do tipo: “eu até tenho amigos homossexuais”...”eu até tenho um empregado negro”, “eu até sou a favor da reforma agrária” etc, “só não gosto dos movimentos que os defendem”....

Talvez não se deva universalizar. Mas, preste atenção nos que são contra os direitos humanos nessas categorias acima referidas e verá que também são insensíveis aos direitos dos animais. É nesse sentido que o conceito “os outros” pode ajudar na compreensão das disputas ideológicas e culturais da sociedade moderna e pós-moderna. Os conservadores sempre são sutis em diversionismo para se autojustificarem....

É claro que pode haver exceções e que alguns defensores dos direitos dos animais são insensíveis e não movam uma palha para defender os humanos, sobretudo os “outros” verdadeiramente outros configurados nas categorias acima referenciadas. Alguns ativistas dos direitos dos animais prestam um desserviço à causa animal na medida em que se apresentam como homofóbicos, racistas, machistas, xenófobos etc... Mas não é regra, parece-me!

A regra é: os que defendem os animais no sentido filosófico, ético e religioso o fazem por princípios inclusivos de tal forma que seria uma incoerência radical não postular e viver a paz, a não violência, a inclusão, o respeito, a confraternização, a solidariedade para com todos os seres vivos, máxime o humano.

Na minha modesta percepção, penso que há um falso dilema na relação humano x animais quando a acusação se dirige aos defensores dos direitos dos animais e há uma correta crítica quando os defensores dos direitos dos animais acusam os humanos (geralmente conservadores de vários matizes) de estes sim não defenderem nem um nem outro.

Como conclusão: não despreze os defensores dos animais por achar que o que importa é defender a dignidade humana! Não despreze os defensores dos direitos humanos por achar que o que importa são os direitos dos animais. Não se trata de ou/ou, mas antes, de e/e!

quinta-feira, 3 de março de 2016

NUNCA FALE MAL DE VOCÊ MESMA

Uma pesquisa, feita com duas mil mulheres, revela que elas falam mal de si mesmas, pelo menos, oito vezes por dia. Para cumprir a agenda é necessário começar bem no início do dia. As reclamações mais freqüentes que elas se fazem: você está muito gorda, seu cabelo está uma bagunça, você não está usando maquiagem suficiente, além de criticas contra membros do próprio corpo, achando que são muito grandes ou muito pequenos. A pesquisa foi feita com mulheres entre 18 e 60 anos. O pior é que não guardam para si essas lamentações, mas as ficam proclamando aos quatro ventos.

Os homens também têm motivos para lamentar, mas preferem o silêncio. Homem algum espalha sua autocrítica, apontando para a barriga grande demais, para os cabelos que já se foram, para as rugas impossíveis de disfarçar ou para o cada vez mais fraco desempenho em suas atividades. Pelo menos, neste quesito parecem ser mais inteligentes do que suas parceiras.

Grande parte do sucesso ou do fracasso depende da autoimagem. A pessoa que está convencida de que é feia, desastrada, que não sabe se apresentar, que é inferior aos demais, caminha para o fracasso. E cada fracasso é para ela uma confirmação de que não vale nada. Mas a pessoa que cultiva sua autoimagem, que sabe perceber suas qualidades, que não desanima com um fracasso, acaba conseguindo o sucesso. Todos nós nos programamos: alguns se programam para vencer, outros para perder.

De resto, a pior prova é aquela que você fornece. Se você proclama seus defeitos, os outros começarão a observá-los. Isso vale para os tribunais. Os advogados insistem: mesmo que todas as provas sejam contra você, mesmo que tenha sido flagrado em circunstâncias comprometedoras, negue tudo, continua negando. Não há delação premiada.

Você não tem obrigação de ser o primeiro em tudo, competindo com todos, superando a todos. Você tem obrigação de competir com você mesmo, dando a melhor resposta possível. A vida pode ser comparada a um jogo: você pode não ter as melhores cartas, mas tem obrigação de jogar da melhor maneira possível com as cartas que tem em mãos. Proclamar que suas cartas são péssimas é dar grande vantagem o adversário.

Cada pessoa é uma obra-prima de Deus. Todos temos qualidades e possibilidades. Deus não dá a um só todos os dons, nem deixa alguém sem dom nenhum. Todos somos amados por Deus. E por isso precisamos acreditar que somos bons, amáveis, competentes e felizes. Não precisa sair por ai proclamando isso. Vão achá-lo pretensioso. Mas diga isso para si mesmo/a. E acredite nisso. Acredite que você ainda pode tornar-se melhor.

quarta-feira, 2 de março de 2016

VIRTUDES CARDEAIS ?

Na opinião dos teóricos que estudam os comportamentos influenciados pela cultura contemporânea, um dos problemas da sociedade moderna é a ausência de virtudes cardeais. As virtudes cardeais são inseparáveis de um projeto de vida. São elas: a sabedoria ou prudência, fortaleza ou coragem, temperança e justiça. A origem das virtudes cardeais é atribuída a Platão, que na obra República indica as qualidades para constituir o bem comum da cidade.

O termo cardeal vem de gonzo, significa dobradiça. Quer dizer, são as virtudes essenciais nas quais todas as outras se apoiam. Isto é, as virtudes básicas para toda e qualquer ação humana. Virtude é a disposição de praticar o bem, algo que vai muito além de um simples potencial ou capacidade de praticar boas ações. Trata-se de uma indiscutível inclinação.

A constatação dos teóricos pode ser verdadeira. Porém, as objeções às suas afirmações são lógicas e compreensíveis, pois o comportamento humano tem demonstrado abrigar-se nessas virtudes. A sociedade é reflexo de seu agir, mas o problema da sociedade moderna não se restringe ao comportamento humano. Atualmente o homem vivencia a liberdade, o autoconhecimento e o livre-arbítrio. Mesmo assim, teóricos entendem que as virtudes cardeais estão distantes dos hábitos comportamentais.

Na verdade, todo comportamento está relacionado a um projeto de vida que possui o seu centro e a sua razão de ser assumido. Ao considerar isto, parece evidente que a razão de ser de quem se dedica à política pública é o trabalho pelo bem comum. Para os desportistas, vencer é o aceitável. Transmitir conhecimento e aprendizagem é ofício dos pedagogos. Cuidar da saúde da população é meta dos profissionais da medicina.

Olhando assim, o projeto de vida pessoal é muito importante, até decisivo. Quer dizer, é como as virtudes pessoais se realizam. Em tudo isto é fácil perceber que a vida depende muito das virtudes empregadas. Salvo por vezes, quando não é fácil conciliar e harmonizar o projeto pessoal com as circunstâncias. Em contexto de liberdade projetos incompatíveis são intoleráveis ao livre-arbítrio. Por isso, não é de estranhar que com frequência as pessoas tenham atos de intolerância com os demais e até mesmo sintam-se incapazes de tolerar os que se opõem às suas opções. Ademais, o projeto de vida pessoal tem sua originalidade e grandeza. Em última instância, é o motivo palpitante de suas escolhas.