domingo, 13 de março de 2016

VAMOS CERRAR OS PUNHOS

Acredito que estamos vivenciando um momento de mudanças em nossa sociedade. Essas mudanças estão acontecendo graças à resistência das chamadas minorias. A reação dos tradicionalmente oprimidos ainda é tímida, mas naturalmente irá se intensificar. Digo naturalmente, porque é inerente ao instinto de defesa do ser humano, reagir quando não mais suporta ficar acuado. Historicamente, o pau que sempre deu em Chico, nunca deu em Francisco, principalmente se Francisco tiver um sobrenome imponente. Talvez Chico tenha demorado muito a perceber tamanha desigualdade, mas agora que despertou, ele ergue o punho e clama por justiça e igualdade.

O punho cerrado é um gesto político de força e resistência, que se popularizou com os Panteras Negras nos EUA, grupo que combatia o racismo e lutava pela igualdade racial e social. Alguns, mais coxinhas, atribuem o gesto ao socialismo que resiste ao sistema capitalista. Outros, mais românticos, lembram-se de Sócrates, não o Grego, mas o de Ribeirão Preto, craque do Corinthians nos anos 80, que ao fazer um gol, comemorava com os punhos cerrados em protesto contra a ditadura militar. Eu, um pouco mais realista, atribuo a cada cidadão que tem sede de justiça. A cada um de nós que já está cansado de ser tratado como gado de corte a caminho do matadouro. A cada ser humano que tem a consciência de que o mundo só desfrutará da tão sonhada paz, quando houver justiça e igualdade social.

O discurso não deve ser utópico e muito menos esquerdista, como alguns costumam sugerir quando se fala em igualdade. Ele precisa ser humanitário. Cerrar os punhos é dizer não a opressão social, a qual a maioria da população é submetida. Cerrar os punhos é não aceitar que o coronelismo e a tradição do favorecimento hereditário ainda imperem nesse país, mesmo quinhentos anos após o seu descobrimento. Cerrar os punhos é não aceitar que a cor da pele determine o caráter do indivíduo e sentencie o seu destino. Cerrar os punhos é não se manter na sua zona de conforto, enquanto muitos passam fome porque são vítimas de um sistema covarde e desumano, que faz com que o rico fique cada vez mais rico e o pobre cada vez mais fique mais pobre.

Cerrar os punhos é ter um Cristo interior, que deu a própria vida por ao amor a humanidade e desafiou os poderosos do seu tempo, trazendo à luz toda a hipocrisia praticada por aqueles que se julgavam donos da sabedoria e da justiça. Cerrar os punhos é não temer o peso da cruz sobre os ombros, por ajudar o próximo a carregar o seu fardo. Cerrar os punhos é abrir mão do pensamento covarde e acomodado de que o mundo é assim mesmo e que não se pode fazer nada para mudá-lo. Pois o mundo muda quando a nossa mente começa a pensar diferente. Cerrar os punhos é lutar pela verdadeira meritocracia, na qual todos os cidadãos tenham oportunidades iguais, sem que sejam lesados pelos conchavos e pelos apadrinhamentos que insistem em abençoar apenas a alguns ditos filhos de Deus.

Cerrar os punhos é deixar de lado os preconceitos e enxergar no outro um cidadão com os mesmos direitos e deveres que você possui. Nem mais e nem menos. Cerrar os punhos é não se deixar alienar por uma mídia, por vezes golpista, cujo comprometimento é apenas com os interesses de quem a controla. Cerrar os punhos é não abrir mão das políticas afirmativas e de inclusão, só porque a casta mais nobre da sociedade não abre mão de continuar oprimindo os menos favorecidos e de lhes negar o acesso à dignidade plena, a qual todo cidadão deve desfrutar. Cerrar os punhos é não se deixar seduzir por políticos oportunistas, que se aproveitam de um momento desfavorável que o país atravessa, para se apresentarem como a solução do problema.

Cerrar os punhos é se libertar da chibata institucional que sempre tenta açoitar o raciocínio libertário daqueles que querem fazer valer os seus direitos. Cerrar os punhos é impedir que os seus pulsos sejam cortados, que a sua dignidade seja roubada, que a verdade seja corrompida e que os seus sonhos sejam destruídos. Cerrar os punhos é ter coragem para tomar a atitude necessária para a mudança. Se hoje cada um de nós cerrarmos os punhos para lutar por igualdade e justiça, amanhã estaremos de mãos dadas celebrando a vitória.

Um punho cerrado jamais será cortado.

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