terça-feira, 31 de maio de 2016

NÃO DEIXE A CHAMA APAGAR

Um homem, que regularmente frequentava um grupo de espiritualidade, sem nenhum aviso deixou de participar de suas atividades. Após algumas semanas, o Mestre daquele grupo decidiu visitá-lo. Era uma noite muito fria. O Mestre encontrou-o em casa, sozinho, sentado diante da lareira, onde ardia um fogo brilhante e acolhedor. Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas-vindas ao Mestre, conduziu-o a uma grande cadeira perto da lareira e ficou quieto, esperando. No silêncio que se formara, ambos apenas contemplavam as chamas. Após alguns minutos, o Mestre examinou as brasas e cuidadosamente selecionou uma delas, a mais incandescente, empurrando-a para o lado. Voltou então a sentar-se, permanecendo silencioso. Aos poucos a chama da brasa solitária diminuía, até que houve um brilho momentâneo e seu fogo apagou-se de vez.

Em pouco tempo, o que antes era uma festa de calor e luz, agora não passava de um pedaço de carvão recoberto de uma espessa camada de fuligem acinzentada. Nenhuma palavra tinha sido dita desde o cumprimento inicial. O Mestre, antes de se preparar para sair, apontou para o carvão, colocando-o de volta no meio do fogo. Quase que imediatamente ele tornou a incandescer, alimentado pela luz e calor dos carvões ardentes em torno dele. Quando o Mestre alcançou a porta para partir, o dono da casa olhou-o ternamente e disse: ‘obrigado pela visita e pelo ensinamento. Estou voltando ao convívio do grupo.’

A experiência do afastamento tem roubado o brilho de muitas relações. Em alguns lares, a chama do amor nem sempre é alimentada adequadamente. As consequências se tornam bem visíveis, quando da chegada das crises. O amor não termina, mas se não for cultivado perde o encantamento. O relacionamento entre pais e filhos também pode tornar-se frágil se não houver encontros e trocas contínuas. Para distanciar-se não há a necessidade de esforço, basta deixar a indiferença ocupar o espaço do amor.

A chama que inspira e sustenta os laços de amizade aguardam por maior entrelaçamento; o relacionamento profissional não deve ser relativizado; a vivência da fé supõe intensa relação. Há uma luz que insiste em brilhar. Saber cultivar é o segredo da felicidade. Que a participação ativa e criativa possa iluminar a família, o grupo, a comunidade e a nossa sociedade, tão necessitada de luz. Não deixe a chama se apagar!

segunda-feira, 30 de maio de 2016

DO TEATRO E OUTRAS TEATRALIDADES.

A história foi-me contada por um frade que já passou dos setenta. Ela aconteceu na segunda metade da década de 1950 na então Vila Ipê, naquela época um vilarejo a meio caminho entre a Região de Colonização Italiana e os Campos de Cima da Serra. Na vila os capuchinhos haviam instalado uma Escola Seráfica para a formação de futuros frades. No local residiam, no sistema de internato, mais de 100 jovens rapazes.

Na formação daqueles jovens, a arte ocupava um espaço importante. Em primeiro lugar, a música. Todos eram instados a aprender a tocar pelo menos um instrumento musical e a cantar, principalmente o canto coral. Para estimular a desinibição e a capacidade de falar em público, o teatro também tinha destaque. Organizados em grupos, os jovens preparavam peças teatrais e, regularmente, eram organizadas exibições. Normalmente, a representação era para o público interno. Extraordinariamente, para mostrar o trabalho desenvolvido na Escola Seráfica à comunidade local, o convite era estendido a toda a toda a população da vila.

Tais sessões abertas eram concorridíssimas. A sala de teatro do Seminário lotava. Todos os moradores da vila queriam assistir. Naquele sábado à noite não era diferente. Os jovens, orientados pelos frades, tinham preparado uma peça sobre a crise da família. No enredo, depois de uma forte discussão, o filho tomava de uma espingarda e desferia um tiro mortal contra o pai. A cena era representada com o maior realismo possível. A espingarda era de verdade e o tiro também era de verdade. Mas a carga era só de pólvora. Não havia chumbo... Mas o efeito era impressionante! O estampido, a fumaça, o cheiro, o grito, a tinta escorrendo pela roupa do pai, o desespero da mãe e dos outros filhos... Cena de arrepiar.

Na platéia, todas as reações se misturavam: silêncio, gritos, suspiros, risadas, choro... De repente, na calmaria que se seguiu à cena trágica, enquanto o pai morto era arrastado para fora do palco, em meio à platéia, um senhor de uma comunidade do interior, não conseguindo distinguir, pela força da emoção, entre a realidade e a representação, levantou-se e, estendendo o dedo acusador contra os jovens atores gritou em vêneto: I scherza lùri, ma un l’è belche ‘ndà! O que poderia ser traduzido como “Eles brincam, mas um já se foi!”

Corte no tempo... Sessenta anos depois, na metade da segunda década do séc. XX, o que prende a atenção das pessoas, tanto nas grandes cidades como no interior, não é mais a arte, a música, o teatro e suas representações. O mundo é vista através da tela. A cada noite, um percentual significativo de brasileiros e brasileiras, depois de um dia de trabalho exaustivo, senta à frente da televisão ou do computador para ver as informações do dia. Das telas, num teatro minuciosamente preparado, apresentadores e repórteres jogam sobre o público telespectador rios de lama que vão engolindo instituições públicas, empresas, pessoas e reputações. As pessoas são reais, as empresas são reais, as instituições são reais, a corrupção é real... Mas e o enredo, será que ele é real ou é uma teatral construção fruto da imaginação daquela pessoa que, por trás das telas e longe dos holofotes, orienta os atores?

Talvez seria desejável que, entre a tela e os telespectadores, se levantasse um colono que, mesmo por desavisado ou não conseguindo distinguir entre o real e o teatral, pronunciasse outra vez o grito indignado: I scherza lùri, ma un l’è belche ‘ndà!

sábado, 28 de maio de 2016

HUMANOS DIREITOS E DIREITOS HUMANOS

Gosto de uma frase de efeito. Admiro os frasistas e poetas, esses que dizem o que todos nós gostaríamos de dizer, mas chegam antes. Uma boa frase vale mais do que um discurso inteiro. É como um gesto ou uma imagem que valem mil palavras, ou uma obra de arte que condensa universos paralelos. Ah uma bela e boa frase, todo escritor anda em busca de uma.

Há algumas belas frases que me encantam. Exemplo: quando duas pessoas pensam iguais, uma é dispensada; viva todos os dias como se fosse o último, um dia tu acertas; não importa o que fizeram de ti, o importante é o que tu fazes com o que fizeram de ti; só sei que nada sei; a saudade é a presença da ausência; o que não mata, fortalece; a esperança é o sonho do homem acordado etc.

Uma frase é bela quando ao ser pronunciada ou escrita, o pensamento festeja. O que não faz rir e não faz pensar não pode ser uma bela frase. A bela frase desata o pensamento das cadeias do óbvio. De repente alguém junta as palavras como ninguém tinha feito até então e, bingo, eis a frase que estava esperando para se dita.

Eu gosto da frase que diz: os direitos humanos não são só para os humanos direitos. Essa frase dá o que pensar. Há uma narrativa conservadora e elitista que teima em se opor aos defensores dos direitos humanos dizendo que estes só defendem marginais, homossexuais, pobres, negros e excluídos. Os supostos críticos vêm com uma conversinha de que é necessário defender os “humanos direitos”, os que se comportam bem, os que não pressionam, os que não transgridem as normas da boa convivência e do status quo, as normas da tradição. Claro, eles, os conservadores, estão bem posicionas na escala social e por isso querem a todo custo manter o que tem. Nada há nada de incorreto nisso, se os seus direitos forem direitos e não privilégios.

Os direitos humanos são direitos que temos simplesmente por sermos humanos e por isso, claro, mesmo os ricos, bem constituídos e conformes com as tradições e os bons costumes, têm. Defender os direitos humanos significa defender os humanos, todos os humanos, mas sobretudo os que são mais vulneráveis e mais propensos a serem tratados como fora do círculo dos direitos. Os bem constituídos se defendem, os vulneráveis necessitam de defesa.

Os estudiosos costumam classificar os direitos humanos em quatro gerações. A geração dos direitos individuais e civis, a geração dos direitos políticos, a geração dos direitos sociais e econômicos e a geração dos diretos de solidariedade e ecológicos.

Das quatro gerações, a menos garantida é a geração dos direitos sociais e econômicos. É aí que reside a maior parte da violação dos direitos humanos. São os direitos dos pobres e os direitos de reconhecimento das parcelas da sociedade que estão à margem por razões de sexo, cor e condições econômicas. Os liberais conservadores não gostam que se diga, mas eles são conservadores e liberais exatamente por terem parado na primeira geração dos direitos e não se atualizaram e não incorporam as conquistas e avanços do século XX. Pararam no século XVIII e por isso pensam que defender os homossexuais ou os pobres e negros é coisa de comunista. Quem para de ler, continua dizendo que direitos humanos é somente para os “humanos direitos” e para os direitos de propriedade. Duas coisas impossibilitam avanços nos direitos humanos: a imbecilidade e o egoísmo.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

QUAL É O CUSTO DE NAVEGAR NA INTERNET?

Você sabia que uma pessoa que usa os meios tecnológicos de forma moderada consome 130 kg de carbono por ano? Segundo pesquisa realizada pela empresa britânica Carbon Analytics, para compensar esse consumo online, estima-se que cada ser humano teria de plantar, anualmente, quatro árvores, uma vez que cada planta absorve, em média, 34 kg de CO² anualmente.

A pesquisa teve o auxílio do aplicativo Earth Mode, criado pelo Google. Essa ferramenta é uma calculadora que permite que as pessoas vejam a quantidade de gás carbônico liberada à atmosfera em suas atividades diárias.

Ao medir o uso online durante quatro semanas, o Earth Mode calcula o consumo anual de energia do usuário e sua contribuição para a “pegada de carbono”. Esse termo, por sua vez, representa a área terrestre necessária para depósito das emissões de carbono oriundas da queima de combustíveis fósseis, da produção de energia elétrica por meio de fontes não-renováveis e da fabricação de cimento.

A pegada de carbono da humanidade é a principal causa das mudanças climáticas. Devido ao fato de emitir gás carbônico em ritmo muito mais rápido do que é possível absorver, existe um acúmulo de gás carbônico na atmosfera e no oceano.

De acordo com Michael Thornton, diretor executivo da Carbon Analytics, “cada vez que uma pessoa usa um website ou faz uma busca na internet, há um gasto muito grande de energia para o fornecimento de dados. De forma cumulativa no mundo todo, isso cria uma grande pegada de carbono”.

A MISERICORDIA NÃO TEM FOLGA.

Todos necessitamos e desejamos ter uma pausa no programa de nosso dia a dia. Não podemos andar sempre no mesmo ritmo. A rotina faz parte de nosso viver, mas não podemos tornar a vida rotineira. Algumas pausas, alguns feriados, tempos de férias, intervalos e alternâncias ajudam no cultivo da leveza da vida. Na verdade, o que é circunstancial de nosso viver é assim. Somos seres necessitados de alternâncias. Porém, o que é fundamental e permanente para a vida não pode parar, nem ter feriado, nem ser dispensado, nem barrado por leis. Assim acontece com o amor, a fé, a esperança e a misericórdia.

Às vezes, na experiência humana e nas muitas exigências circunstanciais da vida que nos envolvem, corremos o risco de experimentar a sensação do abandono de Deus. Então nos ocupamos e nos preocupamos, como se tivéssemos que aprender a nos virar sozinhos. Não é estranha a ideia de que Deus nos tenha criado e nos tenha deixado ao léu da sorte, num mundo que ele criou e agora nada mais faz, nem por nós e nem pelo mundo.

Não está longe, de um mundo secularizado, o imaginário de um Deus aposentado e sentado num trono, assistindo o conturbado cenário da humanidade perdida. Em consequência desta visão, tanta gente se revolta ou prefere ser indiferente, outros arriscam tornar-se deuses para si mesmos e aventurar um poder sem limites que oprime e rouba as esperanças de um povo.

A fé cristã se firma na pessoa de Cristo e em sua Palavra. Esta fé nos traz a luz para reagir e superar uma vivência humana e religiosa truncada. Para não ficar divagando, creio que devamos focar nossa atenção numa cena emblemática de Jesus e numa frase decorrente de sua ação.

No Evangelho de João, descreve-se a participação de Jesus numa segunda festa, em Jerusalém, onde vai encontrar a primeira oposição à revelação. No cenário está a piscina de Betesda que significa“casa da misericórdia”. Ao redor, deitados pelo chão, estão numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos, esperando pelo borbulhar das águas. Diante de um enfermo que há trinta e oito anos lá estava na fila de espera, sem poder contar com a ajuda de ninguém, Jesus ordena que se levante e se ponha a andar, carregando o seu leito.

A apelação por uma lei fria e sem vida suscitou um conflito injusto tanto ao que fora curado, como a quem o curou em dia de sábado. Então deflagrou-se uma perseguição intensa contra Jesus, por transgredir a lei do sábado. Aos perseguidores Jesus pronuncia esta frase reveladora da verdadeira e permanente atuação de Deus misericordioso: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho”.

Na verdade, jamais se ouviu falar que o verdadeiro amor de mãe faça feriado. Assim é a misericórdia de Deus, revelada em Cristo e que necessita ser sempre atualizada na Igreja. Não há folga e nem proibição humana para a misericórdia de Deus.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O TEMPO E A TEMPORALIDADE

A existência humana tem seus limites não no tempo, mas na temporalidade. A temporalidade não se confunde com o tempo. Temporalidade é viver o tempo que dá sentido à existência humana. Nisto a contingência humana é elevada além do tempo cronológico. Para os cristãos o tempo é conduzido pela esperança da salvação. Para os não cristãos o tempo em que a existência histórica é conduzida na responsabilidade. Então, para crentes e não crentes é vital alimentar um fascínio chamado futuro considerável. Eis o desafio da existência humana.

Considerar a temporalidade do tempo como categoria e como orientação de atitudes, sentimentos e pensamentos amplia o valor do ser humano. Contudo, o tempo presente pode ser definido em muitos conceitos. Assim, o tempo é o período de duração das coisas. O tempo é chamado de passado, presente e futuro. O cronológico é medido pelo calendário, pelo relógio, pelos dias, pelas horas. O tempo psicológico se refere à vivência dos personagens. O tempo da natureza é o do envelhecimento. Para o filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a. C.) o tempo é a medida do movimento segundo o "antes" e o "depois". Já para o filósofo alemão Kant (1722 – 1804) “o tempo é um conceito subjetivo criado pela sociedade humana, para explicar a base das transformações da sociedade”. A existência humana se passa no tempo chamado hoje.

Em atenção por vezes excessiva a viver o presente, ou ao passado, é comum ignorar o futuro enquanto tempo considerável para todos os humanos. Por outro lado, a temporalidade do viver humano é fortemente marcada pelo futuro no tempo que se situa no hoje. Esse modo considera que apenas o tempo presente existe e é preciso marcá-lo de esperança. Ao tempo de hoje é preciso agregar a temporalidade necessária para a existência humana. Isto é, a consciência de que temos um passado e que teremos um futuro na perspectiva da consciência e da responsabilidade disponível no presente.

Neste sentido, os teólogos e os filósofos pensam a existência humana como um futuro aberto, indeterminado e preenchido com esperança. Isto não é a situação de passividade daquele que espera o tempo e o futuro. Também não é idolatria do futuro e da história da posteridade ou alienação da esperança. Se assim fosse a espera do tempo, a esperança torna-se disfarçada e impotente. Enquanto houver esperança na temporalidade existirá possibilidade do surgimento do novo, da transformação e do que sustenta a existência humana rumo às coisas futuras, à criação de outra realidade, como a eternidade. Então, para todos a esperança na temporalidade acalenta expectativas além do seu presente mais imediato.

terça-feira, 24 de maio de 2016

OS CAMINHOS DA VIDA

A vida se presta a muitas comparações. Ela pode ser comparada a um rio, a um livro, a um jogo ou a uma novela. Todas as comparações são boas, mas nenhuma esgota as alternativas.

Vamos optar por uma viagem feita de automóvel. O pressuposto é estar no caminho certo, evitar acidentes e chegar ao ponto desejado. A experiência nos mostra que a vida nada tem de monótona. Cada dia, cada curva do caminho, trazem novidades.

Há momentos na vida que é necessário ‘acelerar’. Porque é preciso andar rápido, você deve estar preparado. Mas não queira ficar muito tempo neste ritmo. Há um ponto onde você precisa ‘desacelerar’. A vida, de vez em quando, deve lembrar uma viagem a passeio. A velocidade impede de perceber as paisagens e ver que há outras pessoas à margem ou no mesmo caminho. Assim sendo, de vez em quando, é preciso ‘trocar de marcha’.

Se você andar rápido demais, pode ocasionar um acidente, se você andar muito lento pode ser ultrapassado pelos outros ou nem sequer chegar ao lugar para onde se dirige.Em algumas ocasiões, você precisa ‘parar’. Isto para relaxar um pouco, consultar o mapa do caminho, ver as condições do carro e a reserva de combustível.

O ato de parar pode evitar acidentes ou tomar o caminho errado. E não está excluída a possibilidade - e necessidade - de uma ‘marcha à ré’. Nunca você estará sem opções desde que saiba engatar o ré. Não importa o tempo e a velocidade, importante é chegar.

Lembre também que, na vida, ninguém anda sozinho. De alguma maneira sua família anda com você ou depende de sua viagem. Ao seu lado também viajam outras pessoas. Aí entra a alternativa de direitos e deveres. A prudência e o respeito pelos outros fazem parte da viagem. Você pode precisar deles e eles podem precisar de você. E não esqueça: respeite os sinais de trânsito.

Numa viagem complicada como é a viagem da vida é necessário um mapa confiável. A Palavra de Deus é necessária para situar onde você está. É importante também consultá-la nas encruzilhadas. A escolha não deve levar em conta as condições da pista de rolamento e a largura da rodovia. Essencial é estar no caminho certo.

Nos momentos difíceis, lembre que alguém pode socorrê-lo e ajudá-lo a mudar de caminho. O Evangelho aponta a Jesus como Caminho, Verdade e Vida. Segui-lo é a certeza de estar no caminho certo e chegar até onde você precisa ir: a casa do Pai.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O EMPEACHMENT (FINAL)

Com este texto encerro os comentários sobre a votação de 17 de abril pela cassação da presidente Dilma, abordando a repercussão do fato pelo mundo nos principais meios de comunicação. Trata-se da verificação de algumas manchetes sobre a posição do mundo no processo de impeachment.

A primeira manchete é de jornal online e do colunista Jeferson Miola, do jornal 247: "na guerra pela verdade, como não contam com uma Rede Globo mundial, os golpistas estão perdendo; e estão perdendo de goleada”. Quanto às manchetes internacionais, dos jornais mais lidos como: The Economist, Guardian, El país, Le monde, Financial Times, Reuters “dizem que é golpe”; Wall Street Journal, Washington Post, El País, Le Parisien, Irish Times, New York Times, Pravda, Granma “também dizem que é golpe”; La Nación, La diaria, El observador, Clarín “dizem é golpe”; Al Jazeera, Fox News Latina, CNN e outras dizem o mesmo: “é um golpe de Estado". Como se pode verificar nenhum se posicionou a favor do processo de impeachment.

Visto o que pensa o mundo, sabe-se que o domingo dia 17 de abril prossegue nos dias seguintes em chacotas internacionais. Por tudo isto, o povo brasileiro não pode ser culpado por ter ocupado as ruas e por ter escolhido seu lado. A responsabilidade pela instabilidade política do país é façanha dos parlamentares da Câmara e Senado Federal. Alguns deputados tiveram o luxo de usar jatinho particular pago pelos empresários para votarem contra a presidenta. E mais, para bradar o espírito nacionalista, uns portavam a bandeira do Brasil, outros lenços no pescoço. Se não bastasse, uns recitavam frase de torturadores. É impossível defender o indefensável. Isto é, estes nunca irão respeitar a democracia e respeitar a legitimidade das urnas. Seus mandatos estão comprometidos com os financiadores de suas campanhas.

Por tudo que se viu e ouviu, é impossível acreditar que vão defender os interesses coletivos. Fizeram do Brasil a república da banana. Vê-se o vice-presidente conspirando com o golpe de Estado. Alguém poderia acreditar nestes atores políticos? É verdade que os honestos cidadãos que apostam na democracia se envergonham e os corruptos cantam vitória.

Em todo caso, a admissibilidade do impeachment representa um problema colocado para o governo, pior para a oposição e quem perde é o povo brasileiro. O problema é sério demais para ficar à distância. Boa parte dos deputados e senadores está envolvida com corrupção. Contudo, para construir à esperança na justiça social e para ter ética na politica defender a democracia é legítimo e corroboram. As orações também ajudam para esta conquista.

sábado, 21 de maio de 2016

INPEACHMENT

A pedido dos leitores a coluna continua a reflexão sobre a votação do dia 17 de abril. O texto anterior abordou o surgimento do processo e os políticos envolvidos. Neste, trato de algumas interpretações do acontecido. Para isto, recorro à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que publicou duas cartas a respeito da crise política instalada em Brasília. Uma publicada anteriormente à abertura do processo na Câmara e outra lançada a 14 de abril, no encerramento do encontro dos bispos em Aparecida, SP.

Para adentrar na interpretação do acontecido, é preciso acessar o site da Câmara dos Deputados e verificar os projetos que foram aprovados no ano. É algo improdutivo. O relator do processo de impeachment, Jovair Arantes, deputado do PTB, apresentou 20 projetos, todos beneficiando seus patrocinadores. Mas, sob o processo de cassação da presidente Dilma, esconde interesses.

Primeiro, o fato é que o impeachment por não ter ato jurídico sustentável, torna-se falho e passa a ser golpe. A cassação está repleta de interesses políticos, econômicos, religiosos, globais, menos de estofo jurídico. Sem este último, o processo nasce duvidoso. Segundo, para maquiar essa verdade, a mídia estrebucha-se para provar o contrário. Para tanto, seus jornalistas carregados de ódio semeiam divisões e intolerâncias. Quanto a isto, não é de causar estranheza. A Rede Globo defendeu o golpe de 1964. A bem da verdade, para esta a luta do povo nunca será manchete do telejornal.

A terceira interpretação da votação pela cassação da presidente é que rejuvenesceu a política brasileira, sobretudo do caráter sexista e excludente. Aliás, os deputados inovaram nas expressões impróprias para o debate político. A votação do dia 17 serviu para revelar a face dos deputados que representam o povo brasileiro. Há de convir, atingiram a sabedoria de qualquer cidadão digno deste país. A quarta interpretação é referente ao combate da corrupção e dos corruptores. Nunca na história brasileira se investigou tanto este problema. Aqui é que se esconde a finalidade de cassar a presidente da República. Impedir que o Ministério Público e Polícia Federal avançassem nas investigações. Uma lista da Odebrecht aponta para mais de 200 deputados e senadores envolvidos em corrupção.

A quinta razão pela cassação é favorecer aos interesses de grupos nacionais, internacionais, privatizar a Petrobras, entregar o petróleo e o gás brasileiro, mudar as leis trabalhistas, reduzir os direitos dos trabalhadores, impedir que a esquerda ganhe as eleições presidenciais de 2018, atender o interesse da mídia, em especial do grupo Rede Globo, socorrer o neoliberalismo em falência, etc.
No decorrer da semana farei uma novo coluna com as repercussões do acontecido pelo mundo.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

OS SOFISTAS ESTÃO RENASCENDO?

Os sofistas foram geniais educadores da polis grega. Eles foram os primeiros mestres e pedagogos da cultura ocidental. Exímios debatedores. Afiadíssimos dialéticos e imbatíveis na arte de argumentar e contradizer. Eles arrebatavam multidões, num tempo de mudança cultural e política que exigia novos ensinamentos no âmbito político, jurídico e moral. Na democracia insipiente da Grécia antiga, em que o direito e a moral já não eram compreendidos como produto da natureza, típico da cultura aristocrática decadente, mas da sociedade, eles se apresentam como os defensores de uma nova ordem ancorada em um único soberano, o homem.

O homem é a medida de todas as coisas, diziam. Se o homem é a medida de todas as coisas, e não deus ou a natureza, então tudo é relativo ao homem e não existe a menor chance se levar a sério uma verdade que pretende ser universal e absoluta. Sem valores perenes, verdades universais e normas jurídicas absolutas, tudo vira uma questão de ponto de vista e de força suficiente para impor o seu ponto de vista, caindo inevitavelmente no ceticismo e no relativismo.

O bem comum, por exemplo, em política, é só uma aparência externa para fazer crer que os interesses próprios, dos mais fortes, tenha legitimidade. Por trás do discurso do bem comum, age-se com interesses escusos e inconfessos e quem é mais expert e mais bem articulado impõe o que para ele ou seu grupo parece ser interesse a todos.

Assim resumida a filosofia dos sofistas, que semelhança há com o que estamos vivendo hoje no Brasil? Estamos ou não reeditando os sofistas? Há laboratório melhor do que o Brasil para a ressurreição dos sofistas?

A disputa, a guerra de posições, o argumento e contra-argumento, a luta incessante de posições opostas, é a regra em política. Em uma sociedade desigual como é a brasileira, é natural que se leve para o âmbito político estatal os interesses em disputa na sociedade civil. A disputa na defesa de interesses é, portanto, legítima.

Na disputa legítima de interesses diversos, há os que defendem os empresários e ruralista e há os que defendem os trabalhadores e sem-terra, por exemplo. Há os que defendem os homens brancos e ricos e há os que defendem as mulheres pobres e os negros. Há os que são contra os homossexuais e há os que defendem os direitos dos homossexuais. Não há como ser diferente. Não há uma posição neutra e universalista em abstrato e nisso os sofistas tem razão.

Mas, não haverá um mínimo de bem comum, de interesse público, de direitos humanos elementares que tanto um quanto outro deveríamos defender? Não há um mínimo comum que não poderíamos recuar sob pena de comprometer a vivência pacífica e justa da sociedade? Ou não dá para almejar vida pacífica e justa na sociedade? Se não há, então a própria política vira uma guerra de todos contra todos como se estivéssemos em um estado de natureza.

Ora, a política é justamente a nossa capacidade de superar a natureza belicosa, interesseira e mesquinha, em nome de valores mais altos formulados por acordos humanos para nos tornar mais humanos.

Há nisso uma pequena dose de idealismo e de utópico, mas não custa sonhar e tentar acordos mínimos de interesse comum. Fora isso, a barbárie piscará seu olho grande e nos atrairá para seus braços logo aí adiante!...

quinta-feira, 19 de maio de 2016

SENTIMENTOS

Sentimento é um componente da vida e da história diária de todo o ser humano normal; é a aptidão para sentir. Essa aptidão sugere vida, normalidade e sensibilidade. A insensibilidade tende a registrar morte, apatia e indiferença. Porém, não precisamos fazer muito esforço para nos dar conta de que há sentimentos bons e ruins. Podemos despertar sentimentos de amor, afeição, compaixão e ternura, como sentimentos de ódio, rejeição, indiferença e agressividade.

Os sentimentos acompanham nossas ações e decisões, podendo permear e definir a qualidade de nossas opções fundamentais da vida. Em qualquer estado de vida que estejamos, podemos acordar com sentimentos positivos ou negativos, com argumentos que nos entusiasmam para a missão do dia ou nos deixam desanimados. Há sentimentos que nos fecham e nos tentam a fugir dos compromissos e há outros que nos animam a prosseguir, custe o que custar, na luta do dia a dia.

Os sentimentos são um campo imenso onde nos movimentamos com as mais diferentes reações. É por isso que, às vezes, nos surpreendemos conosco mesmos, sem ter clareza de nossas escolhas. Do mesmo modo, os que convivem conosco podem se surpreender com nossas reações, palavras e atitudes. O que se passa em nosso íntimo? Na verdade somos um mistério para nós mesmos e os sentimentos afloram de modos diversos, mesmo sem saber de sua intensidade e as razões como nos atingem.

Ter sentimentos diversos é normal de todo o ser humano. Porém, temos que nos policiar constantemente para que nossas reações, o mais possível, sejam equilibradas. O que mais nos ajuda a ajustar nossos sentimentos, na administração da vida e de nossa missão, são as motivações que nos garantem ânimo e coragem de continuar.

Às vezes carregamos conosco motivações simplesmente humanas e passageiras. Essas podem alimentar bons sentimentos e determinação por alguns momentos e, depois, facilmente perdemos o ânimo e voltamos à rotina que é sempre o terreno fértil da monotonia da vida e dos sentimentos pessimistas. O cuidado com os sentimentos depende muito do cuidado com a qualidade de nossas motivações de viver e agir.

Em tempos de instabilidade, como os nossos, necessitamos superar as motivações pequenas e passageiras e nos agarrar em motivações grandes, fortes e duradouras. Em nosso chão, as motivações simplesmente humanas parecem ter sempre menos durabilidade. Para que consigamos usufruir sentimentos arejados, necessitamos de motivações que nos são liberadas a partir do amor misericordioso de Deus, sempre fiel.

Paulo exorta a Timóteo para que “instrua os ricos deste mundo, para que não sejam orgulhosos, nem coloquem a esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que nos dá tudo com abundância, para que nos alegremos. Que os ricos pratiquem o bem, se enriqueçam com belas obras, sejam generosos, capazes de partilhar”.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

ALGUMAS SELETIVIDADES

Era o fim da década de 1980. O Brasil vivia o fervor do retorno da democracia. Depois das “Diretas Já” que acabaram elegendo indiretamente Tancredo Neves que, ao morrer antes de tomar posse, deixou lugar a José Sarney que com o Plano Cruzado conseguiu eleger uma Constituinte não exclusiva nem democrática, estávamos finalmente vivendo o frêmito da primeira campanha presidencial que, depois de quase 30 anos, iria eleger diretamente o máximo mandatário do país.

Pois foi nesta época que, nas Ilhas do Guaíba em Porto Alegre e nos fundos do Bairro Mathias Velho, em Canoas, começaram as primeiras experiências de Coleta Seletiva de resíduos urbanos no Brasil. A alma da iniciativa – como de tantas outras que nasceram da organização popular – foi o Irmão Antônio Cecchim. Com sua fé inabalável no Deus da vida e na capacidade de organização dos mais pobres, ele começou a organizar os carrinheiros, carroceiros e catadores de materiais. Ao ar livre, sob a sombra das árvores ou em galpões precários, fazia-se a separação dos vários tipos de papel, as muitas categorias de plásticos e, o que era mais valioso, os metais e, entre estes, o alumínio, verdadeira pedra preciosa.

Na Mathias Velho, quem assumiu a causa da coleta seletiva foram os frades capuchinhos e as irmãs de várias congregações que ali atuavam junto aos miseráveis das vilas recém formadas em consequência do êxodo rural. Os freis Volmir Bavaresco e João Carlos Romanini foram, durante anos, os companheiros e assessores daqueles homens e, na maior parte dos casos, daquelas mulheres que, coletando e selecionando materiais, conseguiam dali tirar um sustento para suas famílias e, de lambuja, ajudar no funcionamento da vida das cidades e na preservação do meio-ambiente.

A importância da coleta seletiva iniciada de forma tão artesanal e na base da cara e da coragem foi sendo pouco a pouco reconhecida, ganhou amplitude e qualidade e, em muitas cidades, foi incorporada às práticas de gestão das cidades e transformou-se numa atividade econômica que movimenta milhões.

Lembrei dessa história nestes dias em que nosso País passa por um outro momento importante da sua história de democracia nem sempre tão democrática e o princípio da seletividade está sendo usado com intensidade no campo da justiça e da operacionalidade democrática. No campo da justiça, um mesmo ato, quando cometido por umadeterminada pessoa ou por um membro de um determinado partido, é considerado crime e, quando cometido por outra pessoa ou por membro de outro partidonão levam a nenhuma punição... Ou então, uma eleição, quando vencida por determinado partido, é considerada ilegítima e quando um outro partido toma de assalto o poder sem ter passado pelo crivo das eleições, isso é visto como se fosse a maior normalidade democrática!

Tudo ao contrário do que nos ensinaram nossos mestres catadores. Eles separavam papel, plástico, metal e material orgânico. Mas sabiam que papel é sempre papel, plástico sempre é plástico e metal sempre é metal e que cada um tem um valor inerente que independe da preferência pessoal que eu possa ter por um deles.

Talvez tenhamos que aprender com nossos catadores como se recicla a vida política de um país e possamos aprender com eles o que pode ser reaproveitado ou não daquilo que sobrou de nossa precária convivência democrática.

terça-feira, 17 de maio de 2016

O QUE FAZER COM O NOSSO TEMPO

As estatísticas constituem-se em obsessão de nosso tempo. Institutos especializados encarregam-se de fazer levantamentos preciosos e tabular as mais diferentes questões. Recente pesquisa revela como o cidadão comum, classe média e alta, gasta seu tempo. As cifras indicam que a vida ficou, hoje, bem mais fácil, com menos trabalho e mais lazer.

Os números revelam que o cidadão pesquisado trabalha, em média, 1.784 horas anuais, algo parecido com cinco horas diárias, descontando férias, dias santos e outros dias não trabalhados. Contrastando com estas cifras, o mesmo cidadão ocupa 3.354 horas anuais com o lazer. Das 8.760 horas do ano, 2.920 horas são gastas com o sono, 548 com as refeições e 154 horas adoentado. Resumindo: nove horas por dias são ocupadas pelo lazer, oito horas dormindo, cinco horas trabalhando, uma hora e meia comendo e bebendo e a doença consome trinta minutos, em média.

Gastando o tempo de modo dispersivo, todos reclamamos com a falta de tempo. Na realidade, todos temos o mesmo tempo, o que acontece é a má distribuição do nosso tempo.

Todos temos o mesmo tempo. Para o executivo, para o atleta, para o líder político, para o santo, para o herói, para o motorista de táxi, o dia tem 24 horas, a semana tem sete dias, o dia 24 horas e a hora 60 minutos. São, portanto, 168 horas semanais, fatiadas em 1.440 minutos.

Na pesquisa, por um esquecimento significativo, não entraram as horas gastas com os outros, nem os minutos dedicados a Deus. Será justo usar o tempo apenas em atividades e em nosso próprio benefício? Será inteligente desperdiçar tantas horas, sabendo que elas nos farão falta? Tanto mais que a vida não oferece nenhum minuto de prorrogação.

O povo grego, o mais sábio da antiguidade, dava ao tempo dois nomes: cronos e kairós. Cronos era o tempo comum, o tempo do calendário, dos anos, meses e dias. Já kairós era o tempo de Deus. Pensador e político indiano, Mahatma Gandhi dizia que uma vida sem fé, sem oração, é como um barco sem leme. Pelo menos, um minuto em cada dia nos dirá onde estamos, para onde navegamos, onde estão os perigos e onde está o porto desejado. Um momento de oração dá sentido aos 1.440 minutos de cada dia.

Muitos alegam que não têm tempo, não sobra tempo, para rezar. Um dia até pode ser. O que diríamos a um companheiro que garante não sobrar tempo, que nunca tem tempo, para tomar banho? Na realidade, tempo é uma questão de escolha.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O MERCADO PERDEU A VERGONHA

A vergonha talvez seja uma das mais dolorosas experiências humanas. Ela é fruto das humilhações impostas às pessoas. Humilhações podem ser de muitas naturezas. Ela tem uma estreita relação com a esperança destruída. Isto é, a vergonha estabelece condições para as disfunções no convívio mais íntimo da natureza humana e em outros relacionamentos. Destarte, o risco de perder a vergonha pode expor a pessoa ao ridículo ou causar o embaraço dos outros. Em cenário político mundial o menosprezo pela política pública é uma força dominadora aliada natural ao poder do dinheiro. Em defesa do poderio econômico, sem escrúpulos reduziram o papel da política pública.

Em cenário político nacional assistimos as ameaças às esperanças do povo brasileiro. Direitos garantidos tornam-se inseguros diante das aspirações em relação ao campo da economia e do mercado. O discurso político pela estabilidade da economia se distancia do bem comum, coletivo. Em situação de crise mundial da economia globalizada na qual se materializa profundamente o fracasso do sistema injusto e excludente apela-se outra vez para o sacrifício das nações pobres. Em nossa pátria, se não bastasse, reproduz-se um velho discurso de 500 anos, favorável aos detentores de muitas posses, que impõe culpa social ao alto salário mínimo que prejudica o sistema, inviável à estabilidade econômica. Atrás deste velho discurso esconde-se a incapacidade do sistema econômico se sustentar sem a exploração dos trabalhadores.

Na mesma direção, obriga-se ao Estado incrementar políticas públicas na seguridade social avessa à classe trabalhadora, às organizações sociais, sindicais e populares. Há um discurso internacional de promulgação de reformas políticas necessárias em socorro ao sistema neoliberal. Mais objetivamente em nível nacional, pretende-se alinhavar o país com as políticas neoliberais que até então só tem favorecido ao mercado mundial. Essas políticas são o desvanecimento da esperança dos pobres e de um país soberano. A expectativa dos países latino-americanos é de serem desrespeitados nos direitos básicos da existência humana por novas políticas neoliberais.

Em cenário mundial que anula a democracia e reduz os direitos humanos, mais uma vez os indivíduos são penalizados. Na reviravolta das políticas públicas perderam a vergonha em defesa do mercado. Na verdade, é basicamente a frustração e o fracasso da economia que conduzem ao ódio e à violência entre países, povos, indivíduos. Tal ocorre diante do faminto mercado por este não cumprir as promessas de bem coletivo, o que igualmente conduz para a destrutibilidade social e política dos países subservientes ao neoliberalismo. No mesmo rodo o cenário político nacional perdeu a vergonha. Nele há vontade política de implantar medidas nada esperançosas para a nação. Pior, os sacrifícios dos pobres serão benefícios econômicos para a sociedade internacional.

sábado, 14 de maio de 2016

UMA IMAGEM SINGELA E PURA

Homenageando a Fifi, Belinha, o Bono e o Jymmi, uma foto singela, sem recursos técnicos, feita no improviso do providente celular, captando uma cena de quatro cachorrinhos devidamente alinhados e postados na soleira da porta de entrada de uma igreja e, pronto, empatia e curtição imediata e contagiante. A foto teve repercussão em dois jornais e de lá para as redes sociais em compartilhamentos incontáveis. Essa cena de “cachorrinhos rezadores” que mobilizou uma instintiva empatia de todos os que puderam ver, pode receber interpretações variadas, além da curtição visual. Eu arrisco uma interpretação em quatro pontos.

1-No limiar do céu e a terra, sagrado e profano: os cachorrinhos não estão nem dentro da igreja, nem fora, estão no limite entre o espaço sagrado e o profano. É como se a cena evocasse uma ligação entre o céu e a terra mediada pelos animais. Tradicionalmente temos dito que os humanos são de Deus e os animais são dos humanos. Na cena que a foto capta, não aparece o humano, a não ser como expectador. É como se os animais, representados pelos quatro, reivindicassem o direito de fazer parte da sacralidade e da intimidade com Deus, usurpada pelo homem que se acha feito a imagem e semelhança de Deus e põe tudo o mais ao seu dispor. Os animais na porta da igreja solicitam, inconscientemente, direito de cidadania moral e religiosa. Eles estão aí para nos dizer que respeitam os limites que nós humanos lhe impusemos, isto é, ficar do lado de fora da igreja mas, ao mesmo tempo, eles nos instigam a pensar de que, talvez, eles mereçam também fazer parte da assembleia dos eleitos. Eles postos, quase de joelhos, no limiar da porta da igreja, tem um poder simbólico que nos obriga a pensar, mesmo que o pensar nos faça doer.

2-Uma posição de reverência quase espiritual: A posição dos quatro cachorrinhos é emblemática. Nenhum dele está com os pés dentro da igreja. Todos com os pés fora, com o corpo projetado para dentro. Eles estão numa posição que alia uma escuta fiel e um respeito canino. Parece uma ensaiada posição de reverência. Solícitos, entregues, curiosos mas respeitosamente atentos e concentrados. Que maravilha!

3-Empatia para com os cachorros: O fato de serem cachorros faz com que a sensibilidade aflore. Nós amamos os cachorros. Eles são fofos. Sem eles seríamos mais pobres, menores, sem graça. A vida humana sem os cachorros seria um erro, parafraseando Nietzsche que dizia que “sem a música a vida seria um erro”. A questão que nos faz pensar aqui é o que não está na cena da foto. Todos os outros animais não estão ai. Só os cachorros estão. O fato de serem cachorros nos mobiliza e nos desperta empatia, e isso não é errado, pois eles são, como já dito, fofos e amáveis. Mas, e os ausentes? E os outros animais? Eles nos mobilizam da mesma forma? Claro, creio que se quatro vacas ou quatro porcos estivessem no lugar dos cachorros, uma foto que registrasse a cena, também repercutia pelo inédito, mas, será que a tal ponto de dizermos: que fofos! Que lindos! Que gracinhas!....

4-Um alívio para a vida dura do cotidiano: Talvez a empatia despertada pela foto captando a cena se dê devido ao fato de estarmos cansados de coisas brutas, duras, malandragens, noticiários e cenas de violência e desrespeito aos direitos humanos e aos direitos dos animais. Uma cena delicada de animais, inocentes como uma criança, singela, espontânea e sem maldade, nos arrebata por um excesso de stress e por um excesso de maldade que somos cotidianamente obrigados a suportar. Uma imagem singela e pura nos alivia a alma e nos traz novamente a esperança que, quem sabe, a vida continua valendo a pena!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

OS MANIPULADORES



O vale-tudo pela disputa de audiência na TV aberta tem levado ao ar telejornais que são um atentado contra a sabedoria, os valores e a consciência democrática. Os conteúdos dos telejornais são agressivos à consciência, intolerantes e parciais com os fatos. Escondem-se nos manipulados comentários dos telejornais não somente a disputa do mercado, mas o interesse de criar uma cultura dependente e de opinião manipulável. Eis uma necessária reforma a ser feita, a do sistema de televisão.

O sistema de televisão no Brasil iniciou em 18 de setembro de 1950 com a TV Tupi, por Assis Chateaubriand. É o governo federal que autoriza as concessões de televisão aberta. No Brasil as emissoras de TV são controladas por grandes grupos de comunicação. Os maiores detentores das concessões são o grupo Globo, SBT, Record, Bandeirantes, BBC do governo britânico. Sem sombra de dúvida o aparelho de televisão é o eletrodoméstico mais popular e conhecido da humanidade. Em cada sala, quarto, espaço público, ali está um aparelho. É um verdadeiro altar que prende a atenção da grandiosa assembleia devota. Devido a sua importância os espaços, os cômodos das casas, construções, são arrumados em função do aparelho de TV.

Os monólogos do telejornal, das novelas, substituíram os diálogos e as conversas em família. Antes mesmo da criança saber escrever assiste a centenas de horas de emissão. Com o desenvolvimento tecnológico dos aparelhos e do sistema de transmissão por satélite a televisão tornou-se um sistema onipresente, onisciente e onipotente. Isto é, a televisão domina todas as informações e programas das pessoas. A assembleia devota segue à risca a cartilha televisiva e esta se dá o luxo de usar sempre mais imagens, tom humorístico, recurso da emoção, a superficialidade das notícias. Adotam a verdade conforme seus interesses comerciais e ganhos econômicos. No Brasil, a TV tornou-se o palco central da vida política, sem a imparcialidade. Por essa razão, todos querem ambicionar ser o presidente da Câmara, ministros, presidente dos poderes públicos. A TV converteu-se do quarto poder para o primeiro poder, manda e desmanda sobre assembleia devota. Pior, não há contrapoder capaz de detê-lo.

A bem da verdade, o que menos fazemos é ver televisão. É ela que nos vê por primeiro. Dita hábitos, orienta como agir, faz assumir cegamente sua tendência, bombardeia quem é contra seus interesses. Escamoteia com a verdade dos fatos políticos. Instrumentaliza um controle social pelo ódio. Vende a própria mensagem. Conspira e censura as ideias contrárias. Manda nos leitores. A mediocridade dos telejornais atinge nossa consciência. A informação virou mercadoria. Sem uma reforma do sistema de comunicações, torna-se o poder midiático perigoso para a democracia e a cidadania.

O AMOR NUNCA SE ATRASA

São cheios de detalhes, criatividade em ação. Alguns discretos, outros mais ousados. Cada qual registra uma história, esconde um mistério, ressalta o sonho de eternidade. Sempre personalizados, os convites de casamentos são uma pequena amostra das incontáveis facetas do amor. É uma questão cultural: não basta usar a palavra para expressar a alegria do acontecimento mais aguardado: a realização de um sonho acalentado há tempo. O convite de casamento oficializa o desejo dos noivos de partilhar o maior de todos os eventos. Ser convidado para uma celebração de casamento é uma honra e uma distinção.

Procuro guardar os convites recebidos. A coletânea já é significativa, bem como o espaço ocupado. Em cada convite, uma vitoriosa história de amor. Além dos criativos detalhes, presto atenção nos pensamentos ilustrativos. Alguns são de uma profundidade incrível, provocando verdadeiras reflexões, permitindo inúmeras pontuações. Num convite que recebi nos últimos tempos, estava a seguinte inscrição: ‘Não acreditamos que o amor possa chegar cedo ou tarde. O amor é pontual. Chega sempre na hora certa, seja a hora que for.’

Ambos haviam feito uma experiente caminhada existencial. Quando tudo parecia definido, os caminhos se cruzam, o interesse se reacende, a capacidade de amar se restabelece. Podiam ter lamentado o atraso da manifestação desse sentimento, simplesmente se empolgaram. A maturidade acabou dando as devidas medidas ao sonho e à celebração. De fato, o amor nunca chega cedo ou tarde. Se tem sentimento pontual é o amor. Não há atraso, nem precipitação. Talvez falte compreensão quanto ao tempo do amor e isso pode interferir na intensidade que o próprio amor supõe.

Nunca será tarde para recomeçar, nem para experimentar novos sentimentos. O amor é capaz de surpreender e rejuvenescer, independente da questão cronológica. Em cada etapa da vida, ele se manifesta de um jeito e com uma tonalidade ímpar. Mesmo que haja uma certa demora em entender determinadas situações, o tempo que restar será suficiente para confirmar que valeu a pena viver e amar. Outros convites de casamento foram recebidos. Todos são únicos. Este será guardado com carinho por ter proporcionado inspiração e aprendizado. Maturidade e amor guardam uma certa e eterna cumplicidade. Verdade, o amor nunca se atrasa.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

SONHAR

“A vida é feita de sonhos”. “A vida termina quando se deixa de sonhar”. Muitas vezes ouvimos estas afirmações. Na vida é preciso projetar algo melhor para o futuro. Para tanto, empenham-se energias e esforços. O ser humano está sempre em busca de algo, é quase um insaciável desejo. Nessa esperança, busca dar um salto para a transcendência de modo a atingir um estágio mais elevado para sua felicidade. Sendo assim, sonhar fecunda de esperança uma humanidade mais perfeita.

No que se refere ao sonho, não é o noturno ou o do repouso, mas o de ideias que aperfeiçoem a natureza humana e espiritual da pessoa. Claramente, não é uma situação de sacralizado e de endeusado, mas preferir, na condição humana, dar mais sentido aos dias e à própria vida. Almejar tal condição pressupõe buscar ensinamento e fundamento para que o sonho seja seguro e realizado. Quer dizer, sonhar tem muito a ver com o que a pessoa pensa. O lugar, o contexto, a situação social em que vive influenciam as possibilidades. Cada dia se veria a pessoa, sem dúvida, em maior necessidade de aperfeiçoar o próprio cotidiano e legitimar verdades e normas para sua felicidade inquestionável.

Para muitos em estado de exclusão humana não se oferecem todas as condições e motivações para sonhar com dias melhores. Nestas condições, a vida está condicionada e profundamente limitada à possibilidade de sua plena felicidade. Então, sonhar tem relação com o contexto da vida. Sem dúvida alguma, o desejo de conquistar algo sempre mais valioso está submetido ao imperativo do contexto social. Isto significa que o sonho se organiza de forma consciente e enaltece chegar a elevados níveis de dignidade humana. Antes de tudo, sonhar é um sinal evidente do desejo de construção de melhor qualidade de vida, sendo livre de qualquer dominação e da condição de marginalidade.

Então, sonhar potencializa o ser humano, embora seja mais complexo do que imaginamos conquistar sua plena felicidade. É lógico que aqui não se aposta no sonho advindo do inconsciente durante o período de sono. Este tipo de sonho, para a ciência, é uma experiência da imaginação do inconsciente. Para Freud, tais sonhos são gerados na tentativa de realização de um desejo reprimido.

Aqui se compreende o sonho como capacidade do ser humano pensar e buscar motivações e fazer projetos em busca de melhor realização e felicidade. Porém, a realização de tais sonhos também depende de razoáveis ambientes da sociedade e de contextos favoráveis ou suficientes para superar problemas e dificuldades. Nesse sentido fica difícil para um pobre fundir sonho e realidade. Neste caso, a realização do sonho inviabiliza-se quando faltam solidariedade e políticas públicas de combate à pobreza. Derrotar a pobreza e a exclusão humana seria um verdadeiro sonho. Um ótimo legado deixariam as políticas públicas e a humanidade para as gerações futuras.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

IMPEACHMENT: 60% DOS SENADORES TÊM PROCESSOS NA JUSTIÇA E NOVE FORAM ELEITOS SEM NENHUM VOTO.



Do El Pais e do Congresso em Foco:



De acordo com levantamento do Atlas Político, 49 dos senadores (60%) são alvos de processos na Justiça. Dentre os parlamentares favoráveis ao impeachment, o porcentual é de 61% (30 de 49), e entre os contrários 63% (12 de 19). Sete dos 13 indecisos estão envolvidos em querelas judiciais. As acusações variam, mas as de lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem financeira, corrupção e crimes eleitorais predominam.

“O Senado não pode ser considerado uma Casa moralmente superior à Câmara dos Deputados se levado em conta o nível de corrupção dos seus integrantes”, afirma Andrei Roman, cientista político formado em Harvard e um dos idealizadores do Atlas. Ele critica ainda o fato de que atualmente 11 senadores da Casa são suplentes. “Geralmente os suplentes do Senado não receberam voto algum, diferente do que acontece na Câmara. Muitas vezes eles são escolhidos apenas por serem grandes doadores de campanha”, afirma. Para Roman isso gera um déficit de representatividade “sensível” e prejudicial “em um momento como esse”.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também é alvo de nove inquéritos da Lava Jato. As suspeitas contra ele giram em torno de irregularidades que vão de recebimento de propina em acordos com a Petrobras, propinas em contratos com a Transpetro (subsidiária da petroleira) e favorecimento à Serveng, uma das empresas envolvidas no esquema. Ele é investigado por lavagem de dinheiro e corrupção. A defesa do peemedebista nega qualquer irregularidade.

Nove dos 80 parlamentares chegaram ao Senado sem ter recebido diretamente um único voto. A cassação do mandato de Delcídio do Amaral (MS) por quebra de decoro parlamentar reduziu o número de parlamentares votantes, mas ampliou a bancada dos parlamentares sem voto na Casa. Com exceção do suplente de Delcídio, o empresário Pedro Chaves (PSC-MS), que não será empossado a tempo, todos poderão decidir pelo afastamento ou não da presidente da República.

Com a posse de Chaves, que estreia na política sem jamais ter recebido um único voto nas urnas, o Senado terá dez senadores que chegaram ao Parlamento pela suplência. Destes, apenas Donizeti Nogueira (PT-TO), que substitui desde o início do ano passado a senadora licenciada Kátia Abreu (PMDB-TO) enquanto ela comanda o Ministério da Agricultura, está sujeito a voltar para casa a qualquer momento. Os demais têm direito a exercer plenamente o mandato até o derradeiro dia. Por diferentes motivos, viraram titulares.

Além de Pedro Chaves, Wilder Morais (PP-GO) também foi alçado ao Senado devido à cassação do mandato do titular, no caso, Demóstenes Torres (GO), em 2012. Três senadores herdaram, literalmente, a vaga com a morte dos colegas de chapa: Zezé Perrella (PTB-MG), Ataídes Oliveira (PSDB-TO) e Dalírio Beber (PSDB-SC). Eles seguem o mandato para o qual foram eleitos os senadores Itamar Franco (PPS-MG), falecido em 2011, João Ribeiro (PR-TO), morto em 2013, e Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), que morreu no ano passado.

Primeiro suplente de Itamar, Perrella herdou sete anos de mandato no Senado mesmo ter sido votado. O ex-presidente da República voltou ao Senado em fevereiro de 2011 e faleceu em julho daquele mesmo ano. Ele só conseguiu cumprir seis meses dos oito anos para os quais havia sido eleito. Como mostrou a Revista Congresso em Foco, o senador mineiro foi o segundo mais ausente em 2015: deixou de comparecer a 48 das 127 sessões reservadas a votações no período. Ou seja, mais de um terço dos dias em que a presença era obrigatória na Casa.

Presidente da comissão especial do impeachment, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) foi efetivado no mandato em 2014 com a ida do titular Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) para o Tribunal de Contas da União (TCU). Embora possam alegar que foram votados juntamente com os titulares, os suplentes raramente têm visibilidade na campanha eleitoral. Muitos são convidados para a suplência por motivos eleitorais, seja para atingir determinado eleitorado, seja para financiar a eleição.

O HOMEM MAIS LIVRE DA HISTÓRIA

Chama atenção o título deste artigo, mas quem o confirma é  Irineu de Lion, nos primórdios do cristianismo. “Jesus foi o primeiro homem livre da história”. A liberdade é um bem supremo. Poder desfrutá-la torna a pessoa realmente ela mesma.

Sabemos como é difícil ser livre. Muitos são os condicionamentos que criam barreiras à possibilidade de optar e escolher. Sabemos quantos condicionamentos de ordem econômica, psicológica e, sobretudo, moral, interferem em nosso caminho de liberdade. Porém, o que mais impede o desabrochar de nossa liberdade são os preconceitos e compromissos de conveniência.

Jesus não tinha nenhum preconceito e nenhum compromisso de conveniência, a não ser com a vontade do Pai. Jesus não tinha preconceito nem mesmo contra os fariseus. Dialogava com eles e até frequentava suas casas. Não tinha compromisso de conveniência com ninguém a não ser compromisso com o Pai. O maior elogio dado a Jesus, quem o deu foi um doutor da lei: “Mestre, sabemos que és franco e que ensinas o caminho da Deus com lealdade, sem te preocupares com quem quer que seja, pois não olhas a posição das pessoas”.

Por ser assim livre, Jesus podia enfrentar com absoluta independência o poder religioso e político de sua nação. Esta liberdade de espírito Ele a confirmou, sobretudo, na hora de sua paixão. Não perdeu, em momento algum, a sua dignidade, como não fez concessão nem resistência alguma a quem o julgava e nem a seus algozes.

Diante das autoridades, o sumo sacerdote o questionou sobre sua doutrina e sobre seus discípulos e Ele respondeu: “Eu falei abertamente ao mundo, sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem e não disse nada em segredo. Por que me interrogas? Interroga os que ouviram o que lhes falei. Eles bem sabem o que eu disse”.

Um dos algozes repreendeu Jesus e lhe deu uma bofetada: “ É assim que respondes ao sumo sacerdote?”. Impassível, Jesus respondeu: “Se falei mal, mostra o que lhe disse de mal. Mas de falei bem, porque me bates?”. Evidentemente, Jesus é livre e paciente, mas não é covarde. Preso e amarrado, reivindica a liberdade de expressão.

É impressionante a postura do Homem mais livre da história diante de Pilatos: “Tu és rei?”. Jesus responde: “Sim, tu o dizes. Eu sou rei”. Confirmou que veio ao mundo para dar testemunho da verdade. Pilatos pergunta, mas não espera resposta: “O que é a verdade?”. Busca clarear com os acusadores motivo de sua raiva e percebe que Jesus se dizia “Filho de Deus” e isto deixou Pilatos inquieto.

A verdade é que o governador nunca ouvira um acusado com tanta dignidade. Sua independência absoluta foi manifesta sobretudo na corte do rei Herodes. Há muito tempo Herodes queria conhecê-lo. Tinha curiosidade de ver algum milagre. Mas a Herodes Jesus não disse sequer uma palavra. Seu silêncio o levou a silenciar na cruz, mas a proclamar a liberdade absoluta em sua ressurreição.

terça-feira, 10 de maio de 2016

UM BILHETE PREMIADO,

O casamento se constitui no mais arrojado e ambicioso projeto que duas pessoas podem assumir. Num passado recente, se admitia: casaram e foram felicidades para sempre. Trata-se de uma loteria, onde todos os números são premiados. E o prêmio é a felicidade. Deus não nos criou para a solidão, mas para a comunhão. Sua história começa já nas primeiras páginas da Bíblia. Vinicius de Morais garantia que a vida é a arte dos encontros.

A prática mostra que muitos destes encontros acabam em desencontros. No Brasil acontecem mais de 140 mil divórcios por ano. Isto a partir do ordenamento jurídico.

O casamento cristão foi elevado à dignidade de sacramento. Trata-se de arquitetura humana e divina. Todos os cuidados devem ser assumidos para que o projeto dê certo. E este projeto desenvolve-se em três tempos: antes, durante e depois.

Por vezes são cometidos equívocos em relação ao antes e depois, não respeitando as etapas. Outro equívoco é apostar tudo no durante, que dura pouco mais de meia hora,

O antes do casamento deve ter razoável duração - dois ou três anos. É o tempo de organizar o projeto a dois, é tentar construir comunhão de vida. É tempo de deixar-se conhecer e conhecer o outro. É tempo de educação mútua. Não se trata apenas de sonhar, mas entram coisas muito práticas: onde vamos morar, qual será nosso orçamento, quando e quantos filhos planejamos ter? É interessante também esboçar o tipo de relacionamento do casal com a família de cada um.

Quando o projeto está maduro, vem o segundo momento. É o durante. É o menos importante. É meia hora de sonhos e representação. Cada pequeno detalhe é longamente preparado. Trata-se de dizer sim ao projeto sonhado. É um momento fugidio, eternizado num vídeo ou em fotografias.

Os convidados vão embora, a festa termina, as luzes se apagam e começa o terceiro tempo, que não deve terminar nunca. É o depois que deve transfigurar o cotidiano. É a hora de implementar as linhas mestras do projeto. É a hora de transformar o sonho em realidade. É a hora da rotina, que precisa ser transformada em eterna novidade.

O Evangelho lembra duas possibilidades: construir sobre a areia ou sobre a rocha . A areia lembra o comodismo, as aparências, o caminho fácil. Constroem sobre a areia os que pensam e dizem: nós nos amamos e isto basta. Construir sobre a rocha implica em conhecer e aceitar a realidade do outro. Implica em continuar conversando, um cuidando do outro, implica a necessidade de perdoar e pedir perdão. Implica em parar e perguntar-se: onde estão os nossos sonhos, onde erramos, quais as soluções? Não se pode rasgar ou jogar fora o bilhete: ele é premiado.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

0S MOTIVOS DA ANULAÇÃO DA VOTAÇÃO PELA CÂMARA

Waldir Maranhão acatou parte de um recurso encaminhado pela Advocacia-Geral da União que pedia a anulação da votação realizada pela Câmara em 17 de abril. Esse documento da AGU foi protocolado em 25 de abril e, segundo o presidente interino da Câmara, não havia sido analisado até então.

Segundo ele, “ocorreram vícios” durante a sessão que anulam a votação realizada naquele dia. Foram eles:
Orientação do voto
Os líderes dos partidos não poderiam ter orientado como os deputados de suas bancadas deveriam votar. Isso ocorreu momentos antes de os 513 deputados anunciarem seus votos. Cada um dos líderes de bancada subiu na tribuna e disse como os filiados de seu partido deveriam votar no impeachment. “[Eles] deveriam votar de acordo com as suas convicções pessoais e livremente”, diz o ofício de Maranhão.
Voto antecipado

Deputados anunciaram publicamente como votariam “antes da conclusão da votação”. O ofício não detalha se o erro ocorreu quando parlamentares declaram voto em conversas com a imprensa, por exemplo, ou quando discursaram em plenário momentos antes da votação. A prática, segundo o documento, configura prejulgamento e desrespeitara o “amplo direito de defesa”, previstos na Constituição.
Ausência de defesa
O ofício acolheu o argumento da AGU de que a sessão violou os princípios de ampla defesa ao não autorizar que um representante da presidente falasse antes do início da votação. A Advocacia-Geral afirmou que a Câmara desrespeitou o rito previsto para a sessão ao autorizar o relator da Comissão Especial do Impeachment, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), a discursar, em 17 de abril. Ele era favorável ao impeachment. Para a AGU, a defesa também deveria ter tido direito a fala naquele dia, e não só no dia 15.
Resultado da votação
O ofício de Maranhão diz que o resultado da votação realizada dia 17 deveria ter sido formalizado por meio de uma Resolução. Resolução é o dispositivo adotado pela Casa para oficializar matérias e decisões de competência privativa da Câmara. Segundo a AGU, o então presidente Eduardo Cunha formalizou o resultado apenas por meio de um ofício, o que desrespeita as regras previstas pelo Regimento Interno da Câmara e pelo rito estabelecido para o impeachment.
Quais as ligações políticas de Maranhão#
Maranhão assumiu a presidência da Câmara interinamente na quinta-feira (5), após o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter seu mandato suspenso por decisão do Supremo.

Ele é próximo de Cunha, mas votou contra o impeachment de Dilma na votação de 17 de abril por razões eleitorais. O deputado também é aliado do governador do Maranhão, Flavio Dino (PC do B-MA), contrário ao impeachment, e com quem esteve reunido no fim de semana.

Políticos da base e da oposição a Dilma reagiram ao ofício de Maranhão, apontando que o deputado agiu por interesses políticos. Lideranças de partidos como o PMDB e PSDB dizem que Maranhão quer atrasar o processo, beneficiando Dilma. Políticos petistas atribuíra a decisão ao cumprimento estrito do regimento da Casa.
O que acontece agora?#

O presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou na segunda-feira (9) que pretende manter o trâmite do impeachment como previsto inicialmente. A sessão que poderá decidir pelo afastamento de Dilma está marcada para quarta-feira (11).

A Secretaria-Geral da Mesa da Câmara não soube informar se há um prazo para Renan responder ao ofício encaminhado por Maranhão.

Os principais partidos da oposição, PSDB e DEM, afirmam que vão recorrer ao Supremo e à Mesa da Câmara contra o pedido de anulação da votação.

sábado, 7 de maio de 2016

QUANDO APENAS UM GESTO É SUFICIENTE.

Todas as pessoas deparam com situações de muitas dificuldades, sofrimentos, problemas. É comum ouvir afirmações do tipo “problemas sempre existiram”. Isto é verdadeiro. Enquanto existir o ser humano os problemas estarão presentes. A natureza humana está sujeita a esta condição. Ao surgirem situações difíceis somos obrigados a pensar formas de superação, a no mínimo oferecer o necessário a quem precisa.

Sendo a natureza humana frágil e exposta a muitas dificuldades, é preciso buscar formas de preservar a vida com dignidade. Para as pessoas em estado de sofrimento o que interessa é livrar-se de sua penosa realidade. Obviamente ninguém busca criar problemas para si mesmo. Ao surgirem afetam toda a vida, causando sofrimentos capazes de impor grandes limitações, às vezes com elevado preço. Muitas doenças têm causas humanas que poderiam ser combatidas se houvesse controle e diagnósticos mais completos.

Ficar indiferente diante dos sofredores é algo absolutamente exagerado. Também parece pouco razoável entregar para a ciência o cuidado das doenças e dos sofredores. O problema em questão é muito sério. Surgem situações que a ciência e a estrutura da saúde pública não resolvem. Este é um problema mais real e mais forte que as pessoas precisam enfrentar. Lógico, se a ciência e os planos de prevenção ajudassem, assegurariam melhor qualidade de vida às pessoas. Como facilmente pode ser constatado, há problemas que abalam as pessoas e causam dificuldades maiores. Hoje somos orientados para viver hábitos saudáveis, contudo somos atordoados por graves situações que vão além de um sábio hábito de vida. Não é aceitável que diante das dificuldades assumamos uma postura de resignação e de indiferença com os sofredores da sociedade.

Para imaginar o que representam essas situações, comecemos pelo sentido da palavra problema. Etimologicamente a palavra problema significa “lançar-se à frente”. Surgiu do prefixo grego pró, que se traduz por “diante, à frente”, ou “pôr, colocar, lançar”. Problema, então, significa algo que precisa ser transposto. Por isso, quando surge algo dificultoso na vida, exige-se empenho e vontade de superação. Contudo, isto não é o suficiente. É credível nessas situações usar o poder da solidariedade com os sofredores. Muitíssimas pessoas relatam que o problema principal é que, na hora do sofrimento, sentem a distância da família, dos amigos, e a falta de solidariedade. Ao nos sensibilizarmos com relação ao que isso representa e sobre a gravidade do problema, há muitas maneiras de ajudar aos afligidos. Eis uma tarefa humana possível.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

APOSENTDORIA AOS 65 ANOS PARA HOMENS E MULHERES

Em matéria de destaque do jornal O Globo, de 28 abril, Robert Brand fala de suas ideias – uma verdadeira caixa de maldades para o futuro do trabalhador brasileiro.

Para os que não se recordam, Roberto Brand foi ministro da Previdência do governo FHC, o mesmo que elaborou a reforma previdenciária daquele governo.

Com ela encerraram várias conquistas dos trabalhadores como a aposentadoria especial de todos os trabalhadores que tinham aposentadoria especial, inclusive dos vigilantes.

Foi ele que implementou o fator previdenciário – aquele cálculo que dificilmente permite que os aposentados recebam o valor do teto das aposentadorias mesmo depois de 30 anos de contribuição.

Cotado para ser o ministro da Previdência num eventual governo Temer, o grau de detalhamento aberto ao público por Brand um dia depois de Temer ter se reunido com sindicalistas e prometido que não mexeria em direitos trabalhistas, segundo o próprio O Globo denunciou um dia depois, “desagradou o círculo íntimo de Temer.”

Mas isso não importa. Brand é a cara de um governo neo liberal e qualquer outro a ser escolhido rezará na cartilha do documento Ponte para o Futuro, escrito por Brand e lançado por Temer com o intuito de se colocar como o grande pacificador da crise no país.

Desde então, abrimos o olho dos trabalhadores a respeito de todas as medidas lá colocadas, uma mais outros menos claras, mas todas retrógradas, ocasião quando qualificamos a proposta de A Ponte Para o Abismo.

Por que é preocupante ter esse gênero de homem ocupando a pasta da Previdência ? porque eles, obviamente, vão de novo alterar as regras da Previdência contra os interesses do trabalhador.

Brand disse que vai implantar a aposentadoria com 65 anos de idade, tanto para homem como para mulher. Você pode ter contribuído com 40 anos para a previdência mas só se aposentará com 65.

E as trabalhadoras rurais que hoje se aposentam aos 55? E os trabalhadores que começam a trabalhar muito cedo e que possivelmente terão 40 anos de contribuição bem antes dos 65 ? Como ficam estas pessoas ? Não poderão descansar ?

Brand disse mais: que vão fazer uma reforma previdenciária tirando quase todos os direitos; e uma reforma trabalhista, onde o negociado vai prevalecer sobre o legislado.

Ele explicou porque querem fazer isso : é para que o 13 º possa ser parcelado, as férias possam ser parceladas, a jornada de trabalho possa ser ampliada, o salário negociado possa ser diminuído, mesmo o que está na lei possa ser diminuído.

Estes são os absurdos que apontam o perfil de candidatos a ministro da Previdência de Temer. Esse é o pensamento do Temer, o pensamento da Fiesp, o pensamento e o desejo da direita brasileira.

Aí eu pergunto : o que vão fazer agora aqueles que foram para a rua defender o impeachment da Dilma e não quiseram ouvir quando os defensores dos trabalhadores, o PT e a esquerda brasileira unida dizia que era golpe ?

Aqueles trabalhadores que foram iludidos pela Fiesp, que os convenceu de ir pra rua se manifestar para dar suporte a sua campanha com o slogan Não vamos pagar o pato.

Os industriais da Fiesp se pagassem todos os impostos que devem ao governo estariam contribuindo efetivamente para que os trabalhadores, esses sim, que sempre pagam o pato, não pagassem o pato.

Antes mesmo de Temer tomar posse estas pessoas já podem perceber que um futuro com Temer seria um futuro amargo.

Não dizíamos que era golpe pura e simplesmente. Sabíamos que era golpe e vínhamos avisando e explicando o que significava ter Temer e a turma de Eduardo Cunha no poder.

Vínhamos listando todas as medidas antissociais que eles por questões de interesse de classe e de visão política iriam tomar. Aí está, agora eles mesmo estão confirmando o que pretendem fazer, se não nos mobilizarmos contra de todas as formas possíveis.

E sabe porque eles estão fazendo isso? Porque eles não precisam de voto popular. Eles só precisam da quadrilha que tem dentro do Congresso Nacional para arremessar absurdamente contra a Constituição e as leis brasileiras.

O que cabe a nós trabalhadores brasileiros, agora ? resistir, ocupar as ruas, cada praça, cada espaço, e não arredarmos mais o pé, para que direitos conquistados não nos sejam retirados.

A maior parte deste Congresso que ai está não nos representa. Aquela parte do Congresso composta de latifundiários, corruptos, fundamentalistas e defensores da ditadura militar não defende os interesses do Brasil.

Não vamos permitir que a sociedade brasileira seja golpeada como um todo e que direitos dos trabalhadores, especificamente, sejam roubados por verdadeiros ladrões de direitos travestidos de salvadores da pátria.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

OLHA ONDE PISA!!!

Andando em meio à floresta, um elefante quase esmagou um grilo. A atitude irritou o grilo que reclamou: olhe onde pisa! Foi a vez do elefante observar: você não existe, tente se olhar no espelho. Tentando engrossar a voz, o grilo exclamou: fique sabendo que a floresta não é sua. O diálogo ficou cada vez mais exaltado e irracional. Surpreendentemente, o grilo provocou: se você quiser guerra, haverá guerra! E foi marcada a grande batalha para o dia seguinte: o grilo com sua turma e o elefante com os seus aliados.

Numa clareira da floresta, na manhã seguinte, o elefante estava preparado para a guerra. Ele tinha receio de cair no ridículo. E se o grilo - simplesmente - não aparecesse? E se ele tivesse alguma inimaginável surpresa? Por via das dúvidas, o elefante convocou seus aliados: o leão, o tigre, o urso, o hipopótamo e o jacaré. A floresta estava silenciosa e não havia sinais do grilo. Quando o papagaio proclamou o início da batalha, de toda a parte surgiram nuvens de mosquitos, moscas, abelhas, vespas e formigas. Atacaram os adversários nos olhos, na boca e em todas as partes sensíveis. Depois de alguns minutos, o exército do elefante fugiu vergonhosamente e encontrou abrigo nas águas sujas de um pântano.

Os grandes têm força, enquanto a força dos pequenos está na união. Este é o segredo das cooperativas, dos sindicatos, das comunidades, dos diferentes grupos. A própria fé deve ser vivida em comunidade. A sabedoria popular garante: a união faz a força. É fácil quebrar uma vara, mas impossível dobrar um feixe de varas.

O Talmud, livro sagrado dos hebreus, fala das coisas fracas e fortes: “ Há dez coisas fortes. O ferro é forte, mas o fogo o funde. O fogo é forte, mas a água o extingue. A água é forte, mas as nuvens a evaporam. As nuvens são fortes, mas o vento as leva. O homem é forte, mas o medo o subjuga. O medo é forte, mas o sono o dissipa. O sono é forte, mas a morte é mais forte ainda. Apesar disso, a bondade é mais forte que a morte”.

Na vida cotidiana, a cada passo, vemos a fraqueza inteligente vencer a força. Uma frágil semente acaba afastando pedras e crescendo. Mas é, sobretudo, no relacionamento humano que a fraqueza vence a força. Você pode vencer um inimigo à força, mas ele estará pronto a reiniciar a luta. Somente desistirá da luta quando for vencido pela bondade.

Na educação, também, o amor e a bondade conseguem muito mais que a força, a disciplina e o castigo. A bondade demora um pouco mais, por vezes demora bastante, mas é uma maneira certa de triunfar. Algumas palavras são decisivas para o sucesso: união, partilha, misericórdia e, sobretudo, amor.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

CINISMO DE ONTEM E DE HOJE

Eu amo os cínicos gregos. Diógenes de Sínope, aquele da lanterna que saia em pleno dia a procura de um homem de verdade, um homem honesto, é meu preferido. Como nenhum outro filósofo da tradição ele desafiou os costumes, os valores dominantes, os consensos morais, as tradições e regras de comportamento que faz de um homem um homem pretensamente correto.

Ele era um abusado! Desprezava o intelectualismo de Platão, preferia a prática da virtude a o conhecimento do que é certo e o que é errado. E a vida virtuosa é para ele a vida natural, sem supérfluos e sem frescuras. Quem muito precisa, com nada se satisfaz e por isso ele vivia num barril para não ter nada que pudesse lamentar por ter perdido. Acreditava que a felicidade está no domínio de si e no controle interior que suporta as adversidades externas. E, sobretudo, na liberdade de espírito e de pensamento...

De Diógenes se preservou vários ditos e feitos memoráveis. Vou lembrar apenas alguns.

Quando, por exemplo, foi capturado para ser vendido como escravo e lhe perguntaram o que sabia fazer, Diógenes teria respondido: “Comandar os homens”, e deu ordens ao leiloeiro para chamá-lo, caso alguém quisesse comprar um senhor.

Um dia Diógenes estava tomando banho de sol e Alexandre, o Grande, chegou, pôs-se à sua frente e falou: “Pede-me o que quiseres!” Diógenes respondeu: “Sai da minha frente, deixe-me o meu sol”.

Perguntado por que as pessoas dão esmolas aos mendigos, mas não dão aos filósofos, Diógenes respondeu: “Por que pensam que podem tornar-se um dia aleijados ou cegos, porém filósofos nunca”.

Certa ocasião Alexandre, o grande, o encontrou e exclamou: ‘Sou Alexandre, o grande rei’ ao que Diógenes respondeu: ‘Sou Diógenes, o cão’.

Há uma série de ditos irônicos, sarcásticos, com sacadas pitorescas e presença de espírito prático que faz de Diógenes um filósofo sagaz e ao mesmo tempo desconcertante, instigador e, às vezes, arrogante.

Por exemplo, quando alguém lhe diz que era para repousar, pois estava velho, Diógenes responde: “Como? Se estivesse correndo num estádio eu deveria diminuir o ritmo ao me aproximar da chegada? Ao contrário, deveria aumentar a velocidade”. A um eunuco de mau caráter que escrevera na porta da sua casa ‘Não entre aqui nenhum mal’, Diógenes comentou: “E por onde entra o dono da casa?”. Vendo ratos subirem à sua mesa, o filósofo disse: “Vede! Até Diógenes sustenta parasitas”.

Platão definira o homem como um animal bípede, sem asas e recebeu aplausos por essa definição. Diógenes, que ironizava constantemente Platão, depenou um galo e o levou ao local das aulas, exclamando: “Eis o homem de Platão!”.

A alguém que lhe perguntou a que horas deveria almoçar a resposta de Diógenes foi: “Se fores rico, quando quiseres, se fores pobre, quando puderes’. Quando numa ocasião Diógenes viu um serviçal sendo arrastado pelos guardiões do templo, porque roubara uma taça pertencente ao tesouro sagrado, disse: “Os grandes ladrões arrastam o pequeno ladrão’. Quando viu um jovem que atirava pedras numa cruz Diógenes exclamou: “Muito bem! Atingirás o alvo’, querendo dizer com isso que se ele continuasse a apedrejar a cruz ele mesmo seria crucificado.

Certa feita Diógenes pediu esmola a uma estátua e a um transeunte que viu o feito e lhe perguntou a razão respondeu: “Para habituar-me pedir em vão”. E compelido pela pobreza a pedir uma esmola a alguém, acrescentou: “Se já deste a outro, dá-me também, se não, comece por mim”. Vendo uma mulher pendurada numa oliveira Diógenes exclamou: “Seria ótimo se todas as árvores produzissem frutas como essa”. Perguntaram-lhe o que havia feito para ser chamado de cão, e a resposta foi: “Balanço a cauda alegremente para quem me dá qualquer coisa, ladro para os que recusam e mordo os patifes”. A alguém que lhe perguntou se a morte era um mal, Diógenes respondeu: “Como poderia ser um mal se quando está presente não a percebemos”?

Que falta faz uma personalidade assim no nosso tempo! O que não faria e diria um Diógenes num tempo cínico como o nosso? Só que o nosso cinismo é outro. O cinismo atual é desprezo vil, sem causa, sem charme, sem inteligência, sem bom humor. Os cínicos atuais assaltam o poder, pisam no que há de mais sagrado, mas não em nome de alguma filosofia, mas em nome próprio, em nome do poder pelo poder, em nome do que há de mais baixo e vil. Diógenes, o cão, seria hoje um cínico crítico do cinismo dos homens do poder!

terça-feira, 3 de maio de 2016

A NOSSA CASA:TRÊS DE MAIO.

No dia 3 de Maio, Três de Maio comemora 61 anos de emancipação. Com certeza uma data que orgulha a todos os tresmaienses, pois comemora-se uma história municipal construída com a participação de todos os cidadãos. Nesta história ninguém é alheio, mas sim protagonista do município emancipado. Além de abranger o direito de pertencer e usufruir dos benefícios municipais, o cuidado com Três de Maio - nossa casa -, é um dever dos cidadãos.

Desde a Antiguidade, o homem sempre buscou viver em cidades, e uma decorrência disso é a necessidade de uma atuação participativa do cidadão. Nesta relação cidade e cidadão há mútua pertença e colaboração. A cidade dá identificação ao seu cidadão. E o cidadão, com sua participação, engrandece a cidade. É imprescindível a relação de mútua colaboração. Equivale a um permanente construir a identidade um do outro, e a identidade de ambos resultaria da unidade, cuja condição persegue toda história da cidade e dos cidadãos.

Sendo essa uma condição para a existência da cidade e do cidadão, parece lógico que todo o movimento das partes tem a garantia de um critério de convergência. Portanto, não cabe ruptura com uma das partes. Desta natureza, todo trabalho municipal está a serviço de seus cidadãos. E o movimento do cidadão deve estar tutelado na regra dos bons princípios morais, éticos e cívicos. Tanto para a cidade como para o cidadão cada um é um bem inestimável para o outro e exige pertença e mútua identificação. Aliás, este processo histórico de cumplicidade vem desde sua origem, da cidadania da Grécia Antiga, Romana, da Idade Média, Moderna, Contemporânea, e certamente assim continuará no futuro.

O filósofo grego Platão, em sua obra República, entende ser a cidade a polis, local de viver bem. Este local é a comunidade organizada, que abrange todos os indivíduos, suas diferenças, suas atividades, aqueles que sacrificam o múltiplo em prol da unidade. Para esta unidade convergem todos os cidadãos. A primeira preocupação da comunidade organizada é a pertença do indivíduo. Para Platão, a cidade é o local onde o indivíduo justo pode viver sem medo de ser condenado ao exílio ou à morte. Portanto, a cidade é base para a civilização. É solo em que o homem nasce livre e igual ao outro.

Gratos pela pertença à cidade celebremos os 61 anos de Três de Maio: nossa casa, local digno de se viver e de exercer relações de convivência com o outro.

 Para Liane, um amor de tresmaiense.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

UM GOLPE PARLAMENTAR E A VOLTA REACIONÁRIA DA RELIGIÃO, DA FAMÍLIA, DE DEUS E CONTRA A CORRUPÇÃO


Um golpe parlamentar e a volta reacionária da religião, da família, de Deus e contra a corrupção
Leonardo Boff*

Observando o comportamento dos parlamentares nos três dias em que discutiram a admissibilidade do impedimento da presidenta Dilma Rousseff parecia-nos ver criançolas se divertindo num jardim da infância. Gritarias por todo canto. Coros recitando seus mantras contra ou a favor do impedimento. Alguns vinham fantasiados com os símbolos de suas causas. Pessoas vestidas com a bandeira nacional como se estivessem num dia de carnaval. Placas com seus slogans repetitivos. Enfim, um espetáculo indigno de pessoas decentes de quem se esperaria um mínimo de seriedade. Chegou-se a fazer até um bolão de apostas como se fora um jogo do bicho ou de futebol.

Mas o que mais causou estranheza foi a figura do presidente da Câmara que presidiu a sessão, o deputado Eduardo Cunha. Ele vem acusado de muitos crimes e é réu pelo Supremo Tribunal Federal: um gangster julgando uma mulher decente contra a qual ninguém ousou lhe atribuir qualquer crime.

Precisamos questionar a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal por ter permitido esse ato que nos envergonhou nacional e internacionalmente a ponto de o New York Times de 15 de abril escrever: “Ela não roubou nada, mas está sendo julgada por uma quadrilha de ladrões”. Que interesse secreto alimenta a Suprema Corte face a tão escandalosa omissão? Recusamos a idéia de que esteja participando de alguma conspiração.

Ocorreu na declaração de voto algo absolutamente desviante. Tratava-se de julgar se a presidenta havia cometido um crime de irresponsabilidade fiscal junto a outros manejos administrativos das finanças, base jurídica para um processo político de impedimento que implica destituir a presidenta de seu cargo, conseguido pelo voto popular majoritário. Grande parte dos deputados sequer se referiu a essa base jurídica, as famosas pedaladas fiscais etc. Ao invés de se ater juridicamente ao eventual crime, deram asas à politização da insatisfação generalizada que corre pela sociedade em razão da crise econômica, do desemprego e da corrupção na Petrobrás. Essa insatisfação pode representar um erro político da presidenta mas não configura um crime.

Como num ritornello, a grande maioria se concentrou na corrupção e nos efeitos negativos da crise. Apostrofaram hipocritamente o governo de corrupto quando sabemos que um grande número de deputados está indiciado em crimes de corrupção. Boa parte deles se elegeu com dinheiro da corrupção política, sustentada pelas empresas. Generalizando, com honrosas exceções, os deputados não representam os interesses coletivos mas aqueles das empresas que lhes financiaram as campanhas.

Importa notar um fato preocupante: emergiu novamente como um espantalho a velha campanha que reforçou o golpe militar de 1964: as marchas da religião, da família, de Deus e contra a corrupção. Dezenas de parlamentares da bancada evangélica claramente fizeram discursos de tom religioso e invocando o nome de de Deus. E todos, sem exceção, votaram pelo impedimento. Poucas vezes se ofendeu tanto o segundo mandamento da lei de Deus que proibe usar o santo nome de Deus em vão. Grande parte dos parlamentares de forma puerial dedicavam seu voto à família, à esposa, à avó, aos filhos e aos netos, citando seus nomes, numa espetacularização da política de reles banalidade. Ao contrario, aqueles contra o impedimento argumentavam e mostravam um comportamento decente.

Fez-se um julgamento apenas politico sem embasamento jurídico convicente, o que fere o preceito constitucional. O que ocorreu foi um golpe parlamentar inaceitável.

Os votos contra o impedimento não foram suficientes. Todos saimos diminuidos como nação e envergonhados dos representantes do povo que, na verdade, não o representam nem pretendem mudar as regras do jogo político.

Agora nos resta esperar a racionalidade do Senado que irá analisar a validade ou não dos argumentos jurídicos, base para um julgamento político acerca de um eventual crime de responsabilidade, negado por notáveis juristas do país.

Talvez não tenhamos ainda suficientemente amadurecido como povo para poder realizar uma democracia digna deste nome: a tradução para o campo da politica da soberania popular.

domingo, 1 de maio de 2016

DIA DO TRABALHO OU DIA DO TRABALHAOR


Desde o fim do século XIX, nos Estados Unidos da América, no Brasil e em vários outros países ocidentais, o dia 1º de maio é tido como o Dia do Trabalho ou o Dia do Trabalhador. Tal data foi escolhida em razão de uma onda de manifestações e conflitos violentos que se desencadeou a partir de uma greve geral. Essa greve paralisou os parques industriais da cidade de Chicago(EUA), no dia 1º de maio de 1886. Para compreendermos os motivos que levaram os trabalhadores a tal greve e o porquê da escolha desse dia como marco de memória, é necessário conhecer um pouco do contexto do período.

Sabemos que, durante o século XVIII, ocorreu, em solo inglês, um dos acontecimentos mais importantes da história da humanidade: a Revolução Industrial. Da Inglaterra, o processo de industrialização alastrou-se, inicialmente, pela Europa e, depois, para outros continentes, como o americano. Uma das consequências mais patentes da Revolução Industrial foi a formação de grandes centros urbanos, fato que gerou, consequentemente, uma grande concentração de pessoas em seu entorno, sobretudo de operários, cujo trabalho nutria as indústrias.

A formação da classe operária demandou uma série de necessidades que nem sempre era efetivamente cumprida pela burguesia industrial. As horas trabalhadas eram, muitas vezes, excessivas e a relação entre empregado e empregador nem sempre era amistosa. Nesse contexto, surgiram os sindicatos e os movimentos de trabalhadores, orientados por ideologias de esquerda, como o anarquismo (anarcossindicalismo) e o comunismo.

A principal forma de ação das organizações de trabalhadores com vistas à exigência de direitos era a greve. A greve geral tornou-se um instrumento de pressão frequentemente usado. Entretanto, às greves também se juntavam outras práticas, como a ação direta, que consistia em manifestações violentas. A greve geral de 1º de maio de 1886, em Chicago, resultou em forte repressão policial. Tal repressão estimulou ainda mais manifestações que transcorreram nos dias seguintes.

No dia 04 de maio, em uma manifestação na praça Haymarket, na cidade referida, uma bomba explodiu matando sete e ferindo dezenas de pessoas, entre policiais e manifestantes. A explosão de tal bomba provocou o revide dos policias com tiros sobre os manifestantes. Outras dezenas de pessoas morreram na mesma praça. Esse conjunto de eventos, desencadeados a parir de 1º de maio, tornou-se símbolo para as manifestações e lutas por direitos trabalhistas nas décadas seguintes em várias partes do mundo.

No caso específico do Brasil, a menção ao dia 1º de maio começou já na década de 1890, quando a República já estava instituída e começava um processo acentuado do desenvolvimento da indústria brasileira. Nas duas primeiras décadas do século XX, começaram a formar-se os movimentos de trabalhadores organizados, sobretudo em São Paulo e no Rio de janeiro. Entre esses movimentos, também figuravam ideologias como o anarcossindicalismo, de matriz italiana, e o comunismo.

Em 1917, a cidade de São Paulo protagonizou uma das maiores greves gerais já registradas. A força que o movimento dos trabalhadores adquiriu era tamanha que, em 1925, o então presidente Arthur Bernardes acatou a sugestão que já ventilava em várias partes do mundo de reservar o dia 1º de maio como Dia do Trabalho no Brasil. Dessa forma, desde esse ano o 1º de maio passou a ser feriado nacional. Na época do Estado Novo varguista, a data era deliberadamente usada para eventos de autopromoção do governo, com festas para os trabalhadores e muitos discursos demagógicos.

JESUS DO POVO, NÃO POPULISTA.

Em Jesus, tudo chama atenção, mas algo é mais notório nos Evangelhos. Trata-se de sua aceitação popular, por ser homem do povo. Para os chefes de Israel, Jesus foi um problema que despontou como indesejável, por seu procedimento que não se enquadrava em suas perspectivas messiânicas. Porém, o povo simples encontra em Jesus uma resposta que vem confirmar: o que é de Deus, o que é bom, o que é luz e um tempo novo que vai começar. Este é o Reino chegando!

Foi entre os pescadores e camponeses que Jesus recrutou os seus primeiros discípulos e escolheu seus apóstolos. Jesus não tinha qualquer preconceito. Como homem do povo recebia os publicanos e se hospedava em suas casas. Conhecia a verdadeira situação do povo sofrido e excluído; sintonizava com sua mentalidade religiosa e suas aspirações políticas.

Jesus não viveu num mundo ideal, numa Palestina de sonhos, onde só havia problemas de ordem religiosa. Viveu num país ocupado por estrangeiros e pelos zelotes, guerrilheiros daquele tempo. Quando inaugurou sua pregação, anunciando a chegada do reino, suas palavras repercutiam fortemente em seus contemporâneos inquietos, esperançosos, mas também confusos, confiavam que Jesus declarasse guerra santa aos romanos.

A expectativa messiânica colocou Jesus num cenário conturbado e perigoso, mas o povo o procurava sempre mais e se comprimia para ouvi-lo, vê-lo e alimentar suas esperanças. Jesus era simples e identificado com seu povo. Não era uma pessoa estudada, nem era da classe alta, nem sacerdotal. O povo sintonizava muito com sua mensagem, pois falava tudo diferente e dizia coisas novas que tocavam a vida.

O que impressionava o povo em Jesus era seu jeito de ensinar e o poder que saia dele para purificar. “Todos se admiravam perguntando uns aos outros: Que é isso? Um ensinamento novo com autoridade! Até mesmo aos espíritos impuros ele dá ordens e eles lhe obedecem!”. Seu modo de ensinar e a questão da pureza eram o espinho no pé que incomodava as autoridades religiosas da Galileia.

O povo notava a diferença e ficava encantado com o que vinha acontecendo. Todos viam o mesmo Jesus, escutavam as mesmas palavras e observavam os mesmos fatos, mas a reação não era a mesma. O povo simples vibrava, mas as autoridades se irritavam. Se de um lado o povo sintonizava, de outro, os fariseus e os escribas se viam ameaçados e preocupados em defender a religião.

Na verdade, Jesus de Nazaré quis viver até as últimas consequências sua condição de homem do povo. Sobre ele recaiam todas as suspeitas, mas Ele sempre prosseguia seu caminho e assumia até a última consequência a fidelidade à sua missão. Como qualquer homem do povo não conheceu nenhum privilégio. Ninguém jamais intercedeu por ele, a não ser depois de sua morte e, mesmo assim, para obter o seu cadáver.

Jesus era homem do povo, mas em momento algum permitiu ser populista. O risco do fanatismo era de todo possível diante dos milagres, mas ele sempre proibia qualquer declaração de sua intervenção prodigiosa.