quinta-feira, 26 de maio de 2016

A MISERICORDIA NÃO TEM FOLGA.

Todos necessitamos e desejamos ter uma pausa no programa de nosso dia a dia. Não podemos andar sempre no mesmo ritmo. A rotina faz parte de nosso viver, mas não podemos tornar a vida rotineira. Algumas pausas, alguns feriados, tempos de férias, intervalos e alternâncias ajudam no cultivo da leveza da vida. Na verdade, o que é circunstancial de nosso viver é assim. Somos seres necessitados de alternâncias. Porém, o que é fundamental e permanente para a vida não pode parar, nem ter feriado, nem ser dispensado, nem barrado por leis. Assim acontece com o amor, a fé, a esperança e a misericórdia.

Às vezes, na experiência humana e nas muitas exigências circunstanciais da vida que nos envolvem, corremos o risco de experimentar a sensação do abandono de Deus. Então nos ocupamos e nos preocupamos, como se tivéssemos que aprender a nos virar sozinhos. Não é estranha a ideia de que Deus nos tenha criado e nos tenha deixado ao léu da sorte, num mundo que ele criou e agora nada mais faz, nem por nós e nem pelo mundo.

Não está longe, de um mundo secularizado, o imaginário de um Deus aposentado e sentado num trono, assistindo o conturbado cenário da humanidade perdida. Em consequência desta visão, tanta gente se revolta ou prefere ser indiferente, outros arriscam tornar-se deuses para si mesmos e aventurar um poder sem limites que oprime e rouba as esperanças de um povo.

A fé cristã se firma na pessoa de Cristo e em sua Palavra. Esta fé nos traz a luz para reagir e superar uma vivência humana e religiosa truncada. Para não ficar divagando, creio que devamos focar nossa atenção numa cena emblemática de Jesus e numa frase decorrente de sua ação.

No Evangelho de João, descreve-se a participação de Jesus numa segunda festa, em Jerusalém, onde vai encontrar a primeira oposição à revelação. No cenário está a piscina de Betesda que significa“casa da misericórdia”. Ao redor, deitados pelo chão, estão numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos, esperando pelo borbulhar das águas. Diante de um enfermo que há trinta e oito anos lá estava na fila de espera, sem poder contar com a ajuda de ninguém, Jesus ordena que se levante e se ponha a andar, carregando o seu leito.

A apelação por uma lei fria e sem vida suscitou um conflito injusto tanto ao que fora curado, como a quem o curou em dia de sábado. Então deflagrou-se uma perseguição intensa contra Jesus, por transgredir a lei do sábado. Aos perseguidores Jesus pronuncia esta frase reveladora da verdadeira e permanente atuação de Deus misericordioso: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho”.

Na verdade, jamais se ouviu falar que o verdadeiro amor de mãe faça feriado. Assim é a misericórdia de Deus, revelada em Cristo e que necessita ser sempre atualizada na Igreja. Não há folga e nem proibição humana para a misericórdia de Deus.

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