sexta-feira, 30 de maio de 2014

VOLTANDO AO PÓ

No Paquistão se esconde um paraíso onde ninguém envelhece e todos vivem felizes. Situado no Vale do Hunza, a 2.438 metros de altitude, o famoso paraíso atende pelo nome de Karimabad ou Shangrilá. Isolada pelo Himalaia, a localidade exibe uma natureza quase intocada, sem poluição e cercada por montanhas de neves eternas. Foi cenário do romance Horizontes Perdidos do escritor norte-americano James Hilton. Ele ajudou a criar o mito sobre a juventude e felicidade eternas.
A Fonte da Juventude aparece em muitas lendas antigas, com diferentes versões. Uma delas sustenta que se situa no Ártico. Os que nela se banharem, em noite de luar, se manterão jovens para sempre. Os descobridores espanhóis, além do ouro, procuravam a famosa Fonte. Alguns garantem que ela se situa numa misteriosa ilha, ainda não descoberta pelo homem. O filme Piratas do Caribe apresenta até um mapa que pode guiar ao local.
A juventude eterna situa-se entre as utopias humanas. Adão, no paraíso, apostou no fruto proibido, que poderia colocá-lo acima das limitações humanas.
Na realidade, não fomos feitos para morrer. A morte, com seus subprodutos - velhice, doença, frustrações - entrou na Criação pelo pecado. Os poetas falam de anjos caídos, com saudades do céu.
Sonhos à parte, desde que nascemos, caminhamos para a finitude.
Porém, existem dentro de nós duas dimensões distintas. O físico, depois da exuberância, da juventude, começa a sentir acentuadas perdas e volta ao pó. No fim a morte sempre triunfa, admitia Stalin. Mas a dimensão espiritual não termina. Ela vai se fortalecendo aos poucos e acaba mergulhando na eternidade, uma dimensão que estamos construindo agora, para viver depois.
Independente dos paraísos e fontes milagrosas, o homem pode e deve construir sua felicidade permanente. E mesmo, de alguma maneira, pode continuar jovem, apesar dos anos, dos cabelos brancos e das rugas. A fonte da juventude e da felicidade está dentro de nós. Deus nos fez para a felicidade. Ele quer seus filhos e filhas felizes. E nos indica o caminho para isso. Ele mesmo é o Caminho. Santo Agostinho, após ter procurado o segredo da felicidade, escreveu: “Fizeste-nos para ti, ó Deus, e nosso coração só ficará feliz em Ti”.
De resto, uma vida sadia, uma vida de qualidade total, garante um elevado nível de saúde e felicidade. Ter um ideal, partilhar da vida, apostar em coisas novas, deixar-se conduzir pelo entusiasmo são condições de juventude, em qualquer idade. É possível ser jovem aos 80 ou ser velho aos 18 anos. A fonte da juventude e da felicidade existe; ela está dentro de nós, em nosso coração.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

A VIDA É UM JOGO DE SOBREVIVENCIA.

A vida é um jogo de sobrevivência. Entre milhões de espermatozoides em busca do aconchego do óvulo, um o consegue. Este um é você, sou eu, e todos os bilhões de habitantes deste planeta. Todos nós sorteados pela loteria biológica. Nenhum escolheu a família e a classe social em que nasceu. O que não deveria representar privilégio para os que estão livres da miséria e da pobreza, e sim dívida social.
O frágil milagre da existência exige duas condições básicas, cada vez mais precárias: oxigênio e nutrição. Ora, sabemos todos que, por culpa da ambição de lucro e falta de consciência de sustentabilidade, contaminamos o ar que respiramos.
Em São Paulo, sobretudo crianças e idosos sofrem com a forte poluição. O elevado índice de desenvolvimento da mais industrializada cidade do país exige, em contrapartida, um preço igualmente alto de seus moradores, obrigados a absorverem poluentes que ferem os olhos, contaminam os pulmões, provocam alergias.Dez milhões de veículos que rodam pela capital paulista exalam o gás carbônico que torna o ar quase irrespirável.
Assegurar ao organismo alimentos em quantidade e qualidade suficientes significa obter trabalho e renda capazes de garantir vida digna e saudável a cada família. No Brasil, ainda estamos longe do patamar de Cuba, onde todos os 11 milhões de habitantes têm direito a uma cesta básica, além de acesso gratuito à educação e saúde.
Hoje, com a crise do capitalismo neoliberal, vemos o desemprego ameaçar a sobrevivência de milhões. Como ninguém suporta passar fome e viver ao desabrigo, é inevitável o aumento da violência urbana.
Todos sabemos que o ser humano se defronta com suas limitações intransponíveis: defeito de fabricação e prazo de validade. É o que a Bíblia chama de pecado original. Haveremos de morrer, ainda que sejam longos nossos anos de vida. Só não sabemos como e quando. Por isso, buscamos imprimir um sentido à nossa breve existência, através da religião, da arte, da profissão e, sobretudo, do amor (a família).
Uns procuram o que todos buscamos - a felicidade - na via equivocada da posse dos bens finitos. Passam a existência a adquirir e preservar bens supérfluos que tanto poderiam ser úteis àqueles que foram injustamente privados de acesso a uma vida digna - os pobres. Outros fazem de sua trajetória existencial um acúmulo de bens infinitos, como amizade, solidariedade e partilha.
Sabemos todos que a felicidade não consiste na soma dos prazeres, como tenta nos incutir a publicidade dessa sociedade consumista. Mas como é difícil cultivar o exercício das virtudes, o rigor ético, a eco biologia interior que nos livra do apego, da língua ácida, da inveja, do ressentimento, e preenchem-nos o coração e a mente de espiritualidade, altruísmo, sabedoria e fome de justiça
Como dizia Jesus, a respeito de nossa morte não sabemos nem o dia nem a hora. E nem o modo. Certamente não teremos a sorte de Francisca, personagem do conto de Jorge Onelio Cardoso (1914-1986), “Francisca e a morte”. A morte, ciosa de seus deveres, foi cedo em busca de Francisca na região em que ela morava. Procurou-a em casa, na roça, nos vizinhos. Aonde chegava, Francisca havia saído pouco antes, sempre dedicada a cuidar dos outros. Vendo que as horas passavam e o último trem da tarde estava prestes a sair, a morte desistiu de encontrar Francisca e levá-la consigo.
Pouco depois, um velho conhecido passou a cavalo e viu Francisca cuidando do jardim da escola. Saudou-a: “Então, Francisca, você não morre nunca?” “Nunca”, retrucou ela, “sempre há algo a fazer”.

terça-feira, 27 de maio de 2014

TEMOS A VER COM UM OUTRO MODO DE HABITAR

Se reconhecermos que a Terra é Gaia, Mãe generosa, geradora de toda vida, então devemos a ela o mesmo respeito e veneração que devotamos às nossas mães. Em grande parte, a crise ecológica mundial deriva da sistemática falta de respeito para com a natureza e a Terra.
O respeito implica reconhecer que cada ser vale por si mesmo, porque existe e, ao existir, expressa algo do Ser e daquela Fonte originária de energia e de virtualidades da qual todos provém e para a qual todos retornam (vácuo quântico). Numa perspectiva religiosa, cada ser expressa o próprio Criador.
Ao captarmos os seres como valor intrínseco, surge em nós o sentimento de cuidado e de responsabilidade para com eles a fim de que possam continuar a ser e a coevoluir. As culturas originárias atestam a veneração face à majestade do universo, o respeito pela natureza e para cada um de seus representantes.
O budismo ensina a ter um profundo respeito, especialmente por aquele que sofre (compaixão). Desenvolveu o Feng Shuy, que é a arte de harmonizar a casa e a si mesmo com todos os elementos da natureza e com o Tao.
O Cristianismo conhece a figura exemplar de São Francisco de Assis (1181-1226). Seu mais antigo biógrafo, Tomás de Celano (1229), testemunha que andava com respeito por sobre as pedras em atenção daquele, Cristo, que foi chamado de “pedra”; recolhia com carinho as lesmas para não serem pisadas; no inverno, dava água doce às abelhas para não morrerem de frio e de fome.
Aqui temos a ver com um outro modo de habitar o mundo, junto com as coisas convivendo com elas e não sobre as coisas dominando-as.
Extremamente atual é a figura do humanista Albert Schweitzer (1875-1965). Elaborou grandiosa ética do respeito a todo o ser e à vida em todas as suas formas. Era um grande  e famoso concertista das músicas de Bach. Num momento de sua vida, largou tudo, estudou medicina e foi servir hansenianos em Lambarene, no Gabão.
Em seu hospital no interior da floresta tropical, em Lambarene, entre um atendimento e outro, escreveu vários livros sobre a ética do respeito, sendo o principal este: O respeito diante da vida (Ehrfurcht vor dem Leben).
Bem diz ele: “A ideia chave do bem consiste em conservar a vida, desenvolvê-la e elevá-la ao seu máximo valor; o mal consiste em destruir a vida, prejudicá-la e impedi-la de se desenvolver. Este é o princípio necessário, universal e absoluto da ética”.
Para ele, o limite das éticas vigentes consiste em se concentrarem apenas nos comportamentos humanos e esquecerem as outras formas de vida. Numa palavra: “A ética é a responsabilidade ilimitada por tudo que existe e vive”.
Daí se derivam comportamentos de grande compaixão e cuidado. Numa predica conclamava: “Mantenha teus olhos abertos para não perder a ocasião de ser um salvador. Não passe ao largo, inconsciente, do pequeno inseto que se debate na água e que corre risco de se afogar. Tome um pauzinho e retire-o da água, enxugue-lhe as asinhas e experimente a maravilha de ter salvo uma vida e a felicidade de ter agido a cargo e em nome do Todo-poderoso. A minhoca que se perdeu na estrada dura e seca, retire-a e coloque-a no meio da grama. ‘O que fizerdes a um desses mais pequenos foi a mim que o fizestes’. Esta palavra de Jesus não vale apenas para nós humanos, mas também para as mais pequenas das criaturas”.
Essa ética do respeito é categórica no momento atual em que a Mãe Terra se encontra sob perigoso estresse.

SOMOS: FRÁGEIS, POBRES, PEQUENOS E IMPOTENTES.

Vou contar uns fatos para evidenciar que as criaturas humanas devem viver como simples criaturas, frágeis e necessitadas, e que devem respeitar a grandeza e o poder de Deus.
John Lennon foi morto por um fã. Um dia, numa entrevista, Lennon falou: “O cristianismo vai acabar, vai desaparecer. Hoje nós, os Beatles, somos mais populares que Jesus Cristo”. Tempos depois Lennon foi morto com cinco tiros por um fã.
Tancredo não subiu a rampa. Tancredo Neves numa declaração à imprensa falou: “Se eu tiver quinhentos votos do meu partido, nem Deus vai me tirar da presidência da República”. Tancredo não subiu a rampa e nem assumiu a presidência.
Cazuza morreu miseravelmente. Num show musical no Canecão, o cantor Cazuza deu um trago num cigarro de maconha, soltou a fumaça para cima e falou: “Deus, essa é para você!”. Cazuza acabou seus dias ainda jovem, vítima da Aids.
Marilyn Monroe morreu na solidão. A atriz, visitada pelo grande pregador do evangelho Billy Grahn, que foi oferecer a mensagem de Cristo para sua vida, recebeu da boca de Marilyn essa resposta: “Não preciso de seu Jesus”. Uma semana depois foi encontrada morta em seu apartamento.
Um construtor fracassado. O construtor do navio Titanic, em entrevista à imprensa, sentenciou: “Nem Deus poderá afundar meu navio”. Na primeira viagem afundou.
No carro não havia lugar para Deus. Em Campinas um grupo de jovens programou uma festa. Quatro já estão no carro, todos um tanto bêbados. Vão buscar uma última pessoa, uma jovem. Quando a jovem entrou no carro, a mãe tomou a mão dela e recomendou: “Filha, vai com Deus. Deus lhe proteja”. E a filha, rindo, respondeu: “Só se ele for no porta-malas, porque aqui dentro não tem lugar para Ele”. Uma hora depois chegou a notícia do acidente. Todos os cinco jovens morreram. O porta-malas ficou intacto. Nenhum dos dezoito ovos que estavam numa bandeja no porta-malas se quebrou. Deus estava lá.
Muitos outros fatos aconteceram e fazem perceber que com Deus não se brinca. A história é mestra da vida. Ela mostra que todos os orgulhosos e soberbos acabaram mal. Todos os que desafiaram Deus ficaram destruídos e perderam o desafio. Todos os que desejaram concorrer com o poder de Deus ficaram arrasados.
A grande lição é a da humildade. Reconhecer que Deus é Deus. Ele continua dizendo como na Bíblia: “Eu sou vosso Deus”. Ninguém poderá nada contra Ele. A humildade nos ensina que somos frágeis e pobres, pequenos e impotentes.
Reconhecer a grandeza de Deus e ajoelhar-se perante ele é a melhor atitude de toda criatura humana.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

EDUCAR PARA A PAZ.

Uma lenda peruana fala de uma cidade onde todos eram felizes. Seus habitantes faziam o que desejavam e se entendiam bem. A exceção era o prefeito, que vivia triste porque não conseguia governar nada. A prisão estava vazia, o tribunal nunca era usado e o tabelionato não dava lucro, pois a palavra valia mais que o papel. Um dia a população foi surpreendida pela presença de operários vindos de longe, que fecharam com um tapume o centro da praça principal e começaram a construir qualquer coisa.
A população estava curiosa sobre o que estava acontecendo. Martelos cravavam pregos, picaretas escavavam e serras cortavam a madeira. Depois de uma semana, o prefeito convidou toda a população para a inauguração. Com solenidade, os tapumes foram retirados e apareceu uma forca... As pessoas se perguntavam o que aquela forca estava fazendo ali? Com medo, passaram a procurar a justiça para qualquer coisa que antes era resolvida de comum acordo. Recorriam ao tabelião para registrar documentos, colocaram proteção nas portas e janelas da casa e voltaram a escutar o prefeito, com medo da lei. A lenda diz que a forca nunca foi usada, mas bastou sua presença para mudar tudo. Em vez do amor e da amizade, o medo e a desconfiança assumiram o comando.
O Menino do Dedo Verde, um romance de Maurice Druon, vai no sentido contrário. Em vez de armas e prisões, a paz foi conseguida plantando flores. Brotaram flores em toda a parte, no lamaçal, nas favelas, nos terrenos baldios, nos muros das prisões. As cadeias foram desativadas e os próprios canhões, em vez de explosivos, despejavam flores.
A humanidade imagina que sua segurança repouse nas leis, nas cadeias, nas armas, nas forcas. E o medo e a violência crescem sempre mais. Será mais inteligente pensar em outras soluções. É a solução das flores. Quando a humanidade semear flores de justiça, de educação, de amor, de partilha, a paz e a felicidade chegarão. É preciso apostar na cultura da paz e não da guerra. O homem e a mulher são seres movidos pelo amor. Este é o combustível ideal.
Os manuais de história insistem em apontar heróis guerreiros. Na realidade eles conseguiram muito menos que o “guerreiros” da paz: São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Teresa de Calcutá, Marechal Rondon. Os grandes guerreiros podem estar nos livros de história, os homens e as mulheres da paz têm seus nomes esculpidos para sempre no coração da humanidade. As flores que eles semearam jamais murcharão. Construir uma forca ou uma prisão é relativamente fácil e rápido. Educar para a paz pode demorar, mas seus frutos serão duradouros.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

ONDE ESTÁ O BEM?

Nada se perde em falar bem das pessoas. Nada se perde em sorrir para alguém. Nada se perde em amar alguém. Tudo vai e volta. Tudo é estrada de duas mãos. Vai o bem, volta o bem. Vai a destruição, volta a destruição. Já falou o mestre Jesus: “Com a mesma medida com que medirdes alguém, sereis medidos”.
Falar bem dos familiares. Por que desprezar o mesmo sangue? Por que falar mal do mesmo DNA? Por que querer destruir quem pertence à mesma história genética, cultural e racial? Nada se ganha em destruir e diminuir.
Sempre se ganha falando bem. Falar bem do pai e da mãe, do filho e da filha, dos tios e tias, dos primos e primas. Formar a corrente do bem. Onde está o bem, ali está Deus. Deus é bondade. Falar bem é estar no partido de Deus.
Falar bem da vizinhança. É comum dizer que o vizinho é o parente mais próximo. Na hora da necessidade busca-se o socorro em quem estiver mais perto. O vizinho representa toda a humanidade. É ali que eu posso exercer minhas boas relações e minha caridade. O mestre Jesus falou: “Ama teu próximo”. Não pediu para amar quem está longe. Não pediu para fazer caridade para quem aparece na tela do televisor. Estar de bem e falar bem de nosso vizinho é garantia de estar construindo o céu, que é vizinhança total.
Falar bem da cidade. É comum encontrar gente que fala: “Nunca vi uma cidade tão fofoqueira como a nossa! Nunca vi gente tão má como aqui”. Quem assim fala deveria se mudar de cidade. Experimentar outros ambientes. E onde esta pessoa for, perceberá a mesma realidade. O problema não está na cidade, mas está nela mesma. No dia em que começar falar bem das pessoas e da cidade, tudo mudará. O bem e o mal estão no coração de cada pessoa.
Falar bem do Brasil. Nos tempos detestáveis da ditadura militar criou-se um slogan sobre o Brasil que dizia: “Ame-o ou deixe-o”. Mau gosto dos tempos horríveis da ditadura. Amar nosso Brasil, não somente em tempos de Copa do Mundo do futebol, mas sempre. Mesmo com todos os escândalos de ladroagem e corrupção, de tráfico de drogas e de pessoas, de diversidade de raças e cores, com tudo isso é nossa obrigação falar bem de tudo o que nosso país faz e tem. O otimismo deve superar o pessimismo. A esperança deve superar o desespero. Falar bem dos nossos irmãos e irmãs brasileiros é condição de criarmos um clima de superação e de vitória.
Falar bem de todos. Não perdemos nada em falar bem de todas as pessoas. Só ganhamos em falar bem dos companheiros e companheiras de trabalho e de lazer, de festa e de serviço. Deixemos para que cada um faça seu próprio julgamento.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O RÓTULO DEVE CONCORDAR COM O CONTEÚDO.

Consagrado como o maior guerreiro da antiguidade, Alexandre - Iskander - tornou a Macedônia, pequena província grega, a maior potência militar da época. Seus exércitos foram até os confins da Ásia. Com apenas 20 anos, Alexandre chorava por não mais ter territórios a conquistar. Seus batalhões de elite provinham da nobreza, enquanto o restante do exército era integrado por populares.
Numa oportunidade, Alexandre passou em revista sua tropa. Em meio aos soldados perfilados, um deles destoava pela sua negligência. Alexandre olhou para ele, de alto a baixo, e quis saber: soldado, como é teu nome? Envergonhado, ele respondeu: Alexandre, o mesmo nome do Imperador. Com um olhar severo, mas ao mesmo tempo com um pouco de ternura, o imperador apontou duas alternativas: troca de vida ou troca de nome!
Nas prateleiras de uma cozinha estavam diversas vasilhas com alimentos e cada uma delas estava assinalada por um rótulo: farinha, açúcar, sal, arroz... Mas houvera um descuido: em vez de açúcar, a vasilha continha sal, em vez de farinha, arroz... O rótulo não concordava com o conteúdo.
No dia a dia, muitos rótulos não concordam com o conteúdo, muitos nomes não concordam com a vida. Existem, por exemplo, os cristãos de batismo e de recenseamento. São cristãos apenas nominais. Existem os discípulos de Jesus que se restringem a determinados tempos. São crentes aos domingos e pagãos durante a semana. Outro tipo pode ser denominado o seletivo: ele escolhe as verdades em que vai acreditar, as mais convenientes. Na prática, cada um deles é fundador de uma religião, uma religião à moda da casa. Podemos lembrar ainda os cristãos virtuais e não reais.
Outra categoria é a dos fregueses: eles não se preocupam com Deus e com os irmãos. Querem apenas os favores de Deus. É possível perceber isso em algumas religiões novas, seguidoras da chamada Teologia da Prosperidade. Para esses grupos Deus não é importante, importante são seus dons. Não seria de estranhar se, à semelhança do personagem do Doutor Fausto, vendessem a alma ao Diabo.
Mesmo tendo vivido pelo ano 350 antes de Cristo, Alexandre intui uma das linhas mestras de Jesus: a possibilidade de recomeçar. Não precisamos mudar de nome, mas devemos mudar de vida. Nada contra o rótulo, mas deve concordar com o conteúdo. O domingo é importante, a oração é importante, mas a vida também é importante. Unir fé e vida é o objetivo. Jesus queixava-se dos que o louvavam com os lábios, mas seus corações estavam longe dele (Mc 7,6).

terça-feira, 20 de maio de 2014

TUDO É MEU, TUDO É MEU!

Donos das sementes e das cadeias alimentares, dos produtos de fertilização do solo, das fontes de informação e, em breve, das águas do planeta, esses poucos homens poderosos que se reúnem em corporações sentem-se os novos deuses da história. Nada os detêm. Se der lucro, eles fazem e, se clonar um ser humano for vantajoso, eles darão um jeito de consegui-lo.
Há sempre um jeito de calar os religiosos e de convencer uma população inteira de que isso é bom para o futuro da humanidade. Se puderem comprar um púlpito e uma igreja, é o que farão. Talvez eles não sejam o anti Cristo, mas certamente são o anti-homem. Não lhes interessa a sorte e o futuro de bilhões de pessoas, contanto que a deles esteja garantida.
Como animais que urinam numa área da floresta para delimitar seu território, eles delimitam o seu. Só que o seu território está ficando cada dia maior. E se decidirem que querem a terra e o espaço dos outros, é isso o que farão. Corporações, indústrias, políticos, países, máfia, grupos religiosos avançam impiedosamente no território e nas ovelhas dos outros.
Ouve-se no mundo inteiro um só grito: “É meu, é meu, é meu!”. Nada que é do outro é sagrado, mas o que é deles é intocável! É nesse tipo de mundo, onde milhões não agem como irmãos e não querem ser irmãos, que você escolheu ser irmão (ã) de todos. Não se iluda: é muito difícil! Alguém quis isso, o fez da maneira mais altruísta possível e acabou torturado e crucificado.
O mundo sofre há milênios a “síndrome do filho único”, e não quer ter irmãos e ter que dividir os seus bens com os outros. Ele até aceita, desde que joguem na bolsa, tussam, orem, cuspam, invoquem a Deus exatamente como ele. Então aceita chamá-lo de irmão, desde que você admita que o escolhido é ele e que a maior parte da herança a ele pertence. Segundo eles, não existem direitos iguais e se alguém insistir nessa pregação, há uma cruz à sua espera em algum lugar do planeta.

QUEM É DONO DA TERRA?

No Brasil se discute muito a questão da internacionalização da Amazônia ou a quem pertence essa rica porção do planeta Terra. Sem querer entrar nesta discussão que um dia retomarei, percebo que ela remete a outra ainda mais fundamental: a quem pertence a Terra?
Muitas são as respostas possíveis, algumas verdadeiras, outras insuficientes ou até falsas. Com certa naturalidade poderíamos responder: a Terra pertence aos humanos. Apelamos até à palavra das Escrituras que nos dizem: “Entrego-vos tudo...propagai-vos pela Terra e dominai-a” (Gn 9,3.7). Estranhamente, os humanos irromperam no cenário da evolução quando a Terra estava em 99,98% pronta. Eles não assistiram ao seu nascimento nem ela precisou deles para organizar sua complexidade. Como pode lhes pertencer? Só a ignorância unida à arrogância os faz pretender a posse da Terra.
Poderíamos ainda responder: a Terra pertence aos seres mais numerosos que a habitam. Então ela pertenceria aos micro-organismos - bactérias, fungos, vírus - pois constituem 95% de todos os seres vivos. Segundo o conceituado biólogo E. Wilson, um grama de terra contém cerca de 10 bilhões de bactérias de 6 mil espécies diferentes. Todos estes têm mais direito de posse da Terra do que nós, seja por sua ancestralidade, seja pela função de garantir a vitalidade do planeta.
Ou ela pertence à totalidade dos ecossistemas que servem à comunidade de vida, regulando os climas e a composição físico química do planeta. Esta resposta é boa, mas insuficiente porque esquece as relações que a Terra entretém com as energias e os elementos do universo.
Assim, a Terra pertence ao sistema solar que, por sua vez, pertence à nossa galáxia, a Via Láctea que, por fim, pertence ao cosmos. Ela é um momento de um processo evolucionário de 13,7 bilhões de anos.
Mas esta resposta não nos satisfaz, pois ela remete a uma pergunta ulterior: e o cosmos a quem pertence? Pertence àquela Energia de fundo, ao Vácuo Quântico, à Fonte originária de tudo. Esta é a resposta que os astrofísicos e cosmólogos costumam dar. E é correta. Mas não é ainda a última.
Cabe uma derradeira pergunta: a quem pertence a Energia de fundo do universo? Alguém poderia simplesmente responder: ela não pertence a ninguém, pois pertence a si mesma. Esta resposta nos coloca diante de um muro. Ela nos remete à teologia, a Deus.
Caindo na nossa realidade cotidiana e brutal dos negócios: a quem pertence a Terra? Ela, na verdade, pertence aos que detêm poder, aos que controlam os mercados, aos que vendem e compram seu chão, seus bens e serviços, água, genes, sementes, órgãos humanos, pessoas feitas também mercadorias. Estes pretendem ser os donos da Terra e dispõem dela como bem entendem.
Mas são donos ridículos, pois esquecem que não são donos deles mesmos, nem de sua origem nem de sua morte.
A quem pertence à Terra? Fico com a resposta mais sensata e satisfatória das religiões, bem representadas pela judaico-cristã. Nesta Deus diz: “Minha é a Terra e tudo o que ela contém e vocês são meus hóspedes e inquilinos” (Lv 25,23). Só Deus é senhor da Terra e não passou escritura de posse a ninguém. Nós somos hóspedes temporários e simples cuidadores com a missão de torná-la o que um dia foi: o Jardim do Éden.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

COISAS QUE NÃO VOLTAM MAIS.

Somos responsáveis por nossas palavras e atitudes, nossas decisões e realizações, nossa saúde e doença, nossa felicidade e infelicidade.
Não há Deus e nem santos, não há demônios e nem espíritos, não há anjos e nem protetores, não há pastores e nem curadores, não há médicos e nem sábios, não há astrólogos e nem cartomantes que possam assumir a responsabilidade de nossas decisões e ações. Ninguém vive andando de carona nas costas de outras pessoas. Somos as costas de nós mesmos.
Pedra atirada não volta mais. Se quebrou o vidro, o vidro está quebrado. Se bateu na cara de alguém, não tem como retirar. Se caiu no terreno ou na casa do vizinho, ali chegou para não voltar. Temos que pensar muito antes de colocar uma pedra em nossas mãos. Se as emoções estiverem quentes, ninguém segura a pedra. Em vez de atirar a pedra é melhor com ela bater no próprio peito. Reconhecer os próprios erros. Confessar-se pecador. Assim feito, vai passar a vontade de atirar pedras nas outras pessoas e fatos.
Palavra pronunciada não volta mais. Não adianta pedir desculpas. Não adiante explicar-se. Não adianta retratar-se. A palavra que partiu de nossa boca não volta mais. Nem mais é destruída. Anda solta pelo espaço. É uma energia que não volta. Como é bom saber pronunciar palavras que fazem bem, palavras de ternura e otimismo, de apoio e bondade, de fé e esperança. Na verdade, somos nossas palavras. A boca fala do que o coração está cheio. Pelo falar das pessoas sabemos o que são e o que se passa em seu coração e em sua mente.
Oportunidade perdida não volta mais. A vida é feita de oportunidades. É o negócio que chegou. A possibilidade de um curso. Um novo trabalho que se apresenta. Uma viagem que é proposta. Um serviço a assumir. A possibilidade de um retiro espiritual. Novas pessoas para se relacionar. Um novo programa de vida pessoal. Deixar de beber exageradamente. Deixar o cigarro. E assim chegam as oportunidades, que são assumidas ou simplesmente descartadas. E as oportunidades passam. Não há arrependimentos que possam fazer voltar. Não há volta do que se foi. Pessoa esperta, acordada e inteligente é aquela que sabe perceber as oportunidades. E percebendo que são um novo passo para o crescimento e realização, não as deixam passar. E para todos aparecem novas oportunidades. Tudo é questão de vigilância e vontade.
Tempo perdido não volta mais. Diz a sabedoria da Bíblia que há tempo para tudo: começar e acabar, nascer e morrer, plantar e colher, amar e desamar, sorrir e chorar, ganhar e perder, falar e calar. Ser sábio é saber aproveitar o tempo. Viver é encher o tempo. Saber com o que encher o tempo é viver na sabedoria. Tempo perdido não volta mais. Não há como recuperá-lo. O tempo-agora é um novo tempo. Não é possível trazer o tempo passado para o tempo presente. Aproveitar cada momento d
o tempo para realizar os sonhos da vida é viver com sabedoria.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

NADA PODE ME PREJUDICAR. O PROBLEMA É O EXCESSO!

Excesso de imagem pode prejudicar a mensagem. Excesso de mensagem pode prejudicar a imagem. Chocolate demais prejudica. Até água em excesso prejudica. Excessos machucam. Pela mesma razão, religião, política e comunicação, quando passam dos limites, produzem rejeição.
É o que os governos ditatoriais não percebem quando monopolizam as notícias. jornais, rádios,Igrejas, governos, partidos, redes de comunicação, pregadores, políticos e artistas precisam refletir sobre o excesso de comunicação. Quanto mais falam de si mesmos, mais rejeição podem provocar. Por um tempo dá certo, mas depois a popularidade começa a cair.
Os partidos  de muitos países caíram por excesso de informação. Quando se deram conta das mudanças, o povo já não acreditava em mais nada do que diziam. Atores, pregadores ou políticos que aparecem demais na mídia com frequência perdem a credibilidade de que gozavam no começo, isso vale também para os jornais e rádios. Na falta de novidade, acabam se repetindo. A mesmice prejudica o diálogo. Fica difícil dialogar quando já sei o que o outro vai dizer!
Quem tem a chance de falar aos microfones ou diante das câmeras e escrever nos jornais escolha a moderação. Cuidado para não cansar os ouvintes , telespectadores ou leitores. Há uma linha à qual, depois de cruzada, fica difícil retornar. Rostos, tom de voz, repetição de palavras, mensagens e canções cansam. A grande maioria dos que precisaram demais das câmeras, da mídia e do marketing perdeu-se no excesso. Está exilada. Foi comunicação demais. Se discorda, mostre o meu erro. Nos últimos 50 anos de mídia no Brasil, quantos cantores resistiram mais de 15 anos?

quinta-feira, 15 de maio de 2014

QUAL A DIFERENÇA ENTRE OS PIRATAS DE ONTEM E DE HOJE,

Os “piratas” somalianos são pescadores afetados em seus direitos e em busca de compensação frente ao saque e à contaminação de suas águas

São estarrecedoras as notícias sobre piratas nas costas da Somália. Para mim, é quase como encontrar, hoje, dinossauros em plena Amazônia. Piratas eram, até agora, lendários personagens de minha infância. No carnaval, fantasiados ou não de piratas, cantávamos alegres a famosa marchinha de 1947: “Eu sou o pirata da perna de pau / do olho de vidro / da cara de mau...”
Súbito, eis notícias de que, em pleno século XXI, há piratas de verdade atacando grandes embarcações no litoral da Somália. É Homero quem, na Odisseia, cita pela primeira vez ‘pirata’, termo que deriva do grego ‘assaltar’.
Entre os séculos XVI e XVIII, os piratas infestaram os mares do Caribe. A atual Ilha da Juventude, em Cuba, era conhecida como Ilha do Tesouro e ensejou várias histórias de aventuras. Ali os piratas escondiam seus botins.
Todos os piratas são bandidos? O historiador usamericano Marcus Rediker, no livro Villains of all nations (Vilões de todas as nações), descreve as dramáticas condições em que trabalhavam os marujos ingleses nos séculos passados. Viviam num inferno flutuante, tratados como escravos. Quem se rebelasse era chicoteado como o nosso João Cândido, o “almirante negro” da Revolta da Chibata (1910). Os reincidentes, atirados aos tubarões; os sobreviventes, recebiam salários de fome.
Os marujos foragidos da desumana marinha de suas majestades tornaram-se piratas e criaram, diante disso, uma “outra marinha possível”: aboliram a tortura, passaram a escolher seus comandantes por eleição, partilhavam entre si os botins. Enquanto eles assaltavam navios, a marinha europeia saqueava países - na Ásia, na África e na América Latina. A história de nosso Continente que o diga...
Segundo Rediker, os piratas, que acolhiam a bordo escravos africanos para libertá-los, implantaram “um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século XVIII”.
A Somália entrou em colapso em 1991 e, desde então, seus nove milhões de habitantes vivem em situação de miséria. O litoral do país é utilizado pelas nações metropolitanas como lixeira da sucata nuclear. Junto ao lixo atômico, outros tipos de dejetos têm sido jogados no mar da Somália, causando enfermidades na população, como erupções de pele, náuseas e bebês ma lformados. Após o tsunami de 2005, muitos apresentaram sintomas de radiação. Morreram cerca de 300 pessoas. E inúmeros navios europeus pilham a pesca do litoral da Somália. Por ano, carregam dali toneladas de atum, camarão e lagosta.
Assim, os “piratas” somalianos - que se auto nomeiam “Guarda Costeira Voluntária da Somália” - são pescadores afetados em seus direitos e em busca de alguma compensação frente ao saque e à contaminação de suas águas por nações europeias. Em entrevista ao jornal The Independent, Sugule Ali, um dos líderes dos “piratas”, declarou: “Não somos bandidos do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam o nosso peixe.”
Johann Hari, colunista do jornal inglês, se pergunta: “Por que os europeus supõem que os somalianos deveriam deixar-se morrer de fome passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistir passivamente aos pesqueiros europeus (dentre outros) que pescam o peixe que, depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores reagiram e intrometeram-se no caminho pelo qual passam 20% do petróleo do mundo, imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra.”
No século 4 a.C., um pirata foi levado preso à presença de Alexandre, o Grande, que indagou se ele pretendia tornar-se senhor dos mares. O homem respondeu qual era a sua intenção: “O mesmo que você, fazendo-se de senhor das terras; mas, porque meu navio é pequeno, sou chamado de ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é chamado de imperador.”
E hoje, quem é o principal ladrão?

quarta-feira, 14 de maio de 2014

AS REAÇÕES DO MEU CORPO SÃO UMA MARAVILHA!

Fala-se das sete maravilhas do mundo. De tempos em tempos, uma pesquisa é feita para o povo descobrir e declarar novas maravilhas. Há maravilhas que sempre entram no rol da escolha: Muralha da China, Canal de Panamá, Torre Eiffel, Cristo Redentor, Pirâmides do Egito e outras.
Porém, as maiores maravilhas estão perto e dentro da gente e dão de dez a zero nas maravilhas escolhidas pela pesquisa humana. Além das maravilhas da natureza, do vento e da chuva, da fonte e do fogo, do espaço e do tempo, do firmamento e dos interiores da terra e dos mares, há muito mais do que sete maravilhas em nosso corpo.
Ver é uma maravilha. Nossos olhos fotografam mais de duas mil imagens por segundo. Não só fotografam, mas elaboram e projetam. É uma maravilha! Somente a valorizamos quando percebemos que nossa visão está perdendo a força e quando a idade vai diminuindo a distância da visão. É preciso encantar-se com a maravilha da visão. Ver o preto e branco. Ver o colorido. Ver tudo automaticamente. Qual cientista humano faria isso? Qual máquina digital produz isso? De repente nos maravilhamos perante as máquinas e esquecemos da máquina que está em nosso corpo.
Ouvir é uma maravilha. Muito mais maravilha do que uma Torre Eiffel é nossa audição. Somos muito mais do que um rádio e um televisor que captam sons e imagens emitidas por fontes emissoras. Mais do que ouvir sabemos distinguir. É o pássaro que canta, é o choro da criança, é o barulho do vento, é a passagem de um carro na rua. Tudo é distinto. Tudo é percebido. Que pena que muitas pessoas não respeitam a quantidade de sons que o ouvido pode receber! Estragam esse aparelho sagrado com sons acima do suportável. Mas o fato do ouvir continua sendo uma maravilha, que somente os surdos podem avaliar, por não usufruírem de seu benefício.
Falar é uma maravilha. Pensar, sentir e comunicar o pensar e o sentir através de nossa boca é uma maravilha! Maravilha maior do que as pirâmides do Egito. O instrumental da comunicação que usamos em todos os momentos supera todos os meios de comunicação que a ciência e a técnica inventaram. Penso e sinto, e meu pensar e sentir, automaticamente, chegam aos meus lábios e, numa linguagem feita de sinais, posso fazer chegar a outros ouvidos e olhos o que penso e sinto.
Sentir é uma maravilha. Meu corpo é sensibilidade. Através de meus cinco sentidos e de minha pele sinto o frio e o calor, o toque e o abraço. Sou sensibilidade e a cada toque em meu corpo respondo com minhas emoções, pensamentos e ações. Assim me torno uma cadeia de maravilhas. Viver e amar, caminhar e dormir e todas as reações de meu corpo são uma maravilha! Por isso antes de admirar as maravilhas fora de mim tenho que ler as maravilhas de minha vida.

terça-feira, 13 de maio de 2014

A VIDA E A FELICIDADE DEPENDEM DAS NOSSAS ESCOLHAS

No final de uma tarde, um jovem estudante e seu professor saíram a caminhar nas cercanias da cidade. O professor era conhecido por sua bondade e pela amizade que dedicava a todos. Depois de passarem por macieiras floridas, uvas maduras e campos cultivados, viram um pobre agricultor lavrando a terra. Junto aos arbustos, à beira da estrada, ele deixara seus sapatos, gastos pelo tempo e pelo uso. O estudante sugeriu ao professor: Vamos pregar uma peça inocente ao camponês: escondemos seus sapatos e depois vamos ver sua reação.
Sempre ponderado, o professor observou: nunca devemos rir dos pobres. Proponho uma brincadeira diferente. Você é rico e pode fazer isso. Coloque uma nota de certa importância em cada um dos sapatos. Depois sim, nos esconderemos para presenciar sua reação. Meia hora depois, cansado, suado, o camponês foi calçar os sapatos. Naturalmente viu o dinheiro no primeiro sapato, olhou ao redor e não viu ninguém. Tomou o outro sapato e mais uma surpresa. Seu rosto, tostado pelo sol, era à prova de emoções. Mas não resistiu: ajoelhou-se e as lágrimas rolaram de seus olhos. Sempre olhando para o alto, rezou: obrigado, meu Deus, por este dinheiro. Era tudo o que eu precisava para comprar pão para meus filhos e o remédio para minha mãe.
Francisco de Assis observava: é melhor dar do que receber. Mais ainda, é dando que se recebe. Existe uma alegria infinita em fazer o bem. Especialmente quando isso é feito de forma gratuita, sem esperar uma recompensa ou um simples agradecimento. E a ocasião pode ser única, irrepetível. O estadista inglês Benjamim Disraeli afirmou: “O segredo da vida do homem é aproveitar as ocasiões que se apresentam”.
Deus nos deu a extraordinária possibilidade de escolher. Nossa vida e nossa felicidade dependem das escolhas feitas. Algumas escolhas podem nos dar momentos mais ou menos felizes, outras escolhas nos trazem felicidade. Em vez do ódio, devemos escolher o amor, em vez da agressividade, devemos escolher a ternura, em vez da vingança, o perdão, em vez da morte, a vida. Aí se situa o segredo de nossa felicidade.
E o bem e o mal que fizermos, de alguma maneira, voltarão para nós. Podemos semear espinhos ou flores. Podemos também nada semear. Somos livres em escolher as sementes, mas, um dia, seremos obrigados a colher aquilo que semeamos.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O DESABAFO DE UMA MÃE


"Porque sou mãe, controlam minha vida. Controlam minhas roupas, meus passos, minhas palavras. Porque sou mãe, controlam meus decotes e minhas saídas. Minhas atitudes e minhas escolhas. Porque sou mãe, porque sou mulher. Mãe não pode pensar na carreira. Coitados dos filhos dessa aí, só pensa em trabalho. Quem vai criar? Como se os filhos brotassem sozinhos. Mãe também não pode escolher ficar sozinha. Coitada, essa aí ninguém quer mais. Quem vai querer mulher usada, gasta, que já vem com problema? Filho de outro é problema, todo mundo sabe. Mãe, quando se sustenta, é porque só pensa em trabalho. Quando ganha pensão, é sem dúvida uma aproveitadora sem vergonha. Mãe não pode ser livre. Vagabunda! Quantos homens já passaram por esse corpo? Uma vergonha! Desonra! Suja! E também não pode beber. Beber não é coisa de mulher direita. E não pode dançar que nem prostituta. Não pode usar roupa curta, não pode cair na noite, não pode, não pode. Mãe não pode se apaixonar. E as crianças? Vai largar tudo? Que vergonha. Mãe tem que se dedicar, tem que esperar os filhos tomarem rumo. Mãe também não pode querer um tempo a sós. Tem que passar com os filhos, tem que passar todo o tempo com os filhos, todo o tempo livre de todo o resto da vida deles, até que eles não queiram mais. Um tempo sozinha? Desnaturada. Mãe safada. E cadê o pai? Ah, casou de novo, sabe como é. Cadê o pai? Ah, mora em outro estado, sabe como é. E cadê o pai? Ah, ele visita a cada 15 dias. E cadê o pai? Não existe. E cadê o pai? Ah, ele até ajuda."Ajuda" porque a responsabilidade é da mãe. O fardo é da mãe. Na hora de fazer foi bom, né? Agora aguenta. Por que não se cuidou? Métodos anticoncepcionais não faltam por aí. E jamais falham, né? Se falhar, não dá nem pra pensar em tirar aquela vida. É uma vida! Uma vida não se tira assim, por egoísmo. Não tem idade? Não tem dinheiro? Não tem ninguém pra dividir a responsabilidade? Não tem vontade? Aguenta. O pai ninguém julga pela roupa. O pai ninguém julga pela vida sexual. O pai ninguém julga se casa de novo, se sai com uma ou muitas, se bebe, se fuma, se transa. Homem pode tudo. Ser pai é um detalhe que jamais os desumaniza. Quando o pai exerce sua função, é tratado como herói. Que homem! Vê os filhos, colabora em casa, educa. Que homem especial é aquele que faz o mínimo de sua obrigação. Porque sou mãe, porque sou mulher, sou julgada o tempo inteiro. Porque sou mãe e porque sou mulher, vou peitar todo esse conservadorismo, esse machismo, essa palhaçada, e vocês vão ter que me engolir, porque a vida é minha, o filho é meu, eu crio como eu quiser, eu beijo quem eu quiser, eu faço o que eu quiser. Eu sou uma mulher livre e vocês vão ter que me suportar. Eu sou uma mãe livre."

sexta-feira, 9 de maio de 2014

MULHER E MÃE

Mãe... o que falar de você... és uma grande mãe e uma grande mulher. O teu amor de mãe sensibiliza os corações e Deus tem se manifestado através de ti. Quando choras pelos filhos, Deus tem enxugado as tuas lágrimas e tem contemplado o teu sofrer. Quando aconselhas, és sábia nas palavras, e essa sabedoria vem do alto, pois o Senhor é contigo. Quando reprimes as travessuras, os erros, é por amor, por amar demais e, se algumas vezes errou, foi tentando acertar. Existe uma mulher no mundo que merece a nossa admiração, o nosso carinho, o nosso cuidado, o nosso amor. Essa mulher és tu. Essa mulher és tu que, se preciso for, darás a vida pelos filhos. Essa mulher és tu MÃE, preciosidade de Deus. A ti a nossa eterna gratidão pelo que és e pelo que somos. Que neste dia tão especial o Senhor esteja na tua frente para te mostrar o caminho certo... Que o Senhor esteja ao teu lado, para te abraçar e proteger... Que seus caminhos permaneçam sempre iluminados, para que você possa continuar a iluminar também aqueles que têm a oportunidade de trilhar com você, um trechinho desta longa jornada! ... Mãe, você é a mulher que um homem escolheu para passar o resto da sua vida... Sabe por que ele casou com você? Pra te fazer feliz. Quando um homem escolhe uma mulher pra casar ele tem que desejar, em primeiro lugar, fazê-la feliz. Esse é o enfoque correto: desejar a felicidade plena de quem amamos. Por isso ele é o cara mais feliz do mundo. Ele é casado com a melhor mulher do mundo e só tem olhos pra você. Obrigado. Você é uma dádiva de Deus. Generosa, sempre mostrando caminhos sem fazer alarde. Temos muito a agradecer a você, Mãe você é uma companheira exemplar. uma mulher incrível. Sinto orgulho de tê-la ao meu lado como esposa e mãe. Quanto mais tempo passamos juntos, mais cresce o amor que sinto por você. Ter uma esposa tão maravilhosa como você foi o grande prêmio da minha vida. Que neste seu dia a sua vida seja ainda muito mais enriquecida com a presença de Deus. Muita saúde, paz , felicidade e alegria dos seus filhos e de seu grande e eterno amor... Tudo de melhor para você... neste dia tão especial ! Nós te amamos. Feliz dia das mães - homenagem deste BLOG.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

MÃE ADOTIVA



Eu sei, mamãe, que por um capricho do destino, ou simples desejo Divino não foi em seu ventre que me formei . Quis a vida que eu fosse escolhido não pelo acaso, mas pelos próprios caminhos apontados por Deus.
Eu sei que a primeira vez que você me sentiu mexer foi em seus braços e não em seu ventre. Mas...mãe! Há algo mais forte que os laços de sangue: são os laços do coração, aqueles que por uma razão inexplicável nos ligam para sempre a uma outra pessoa. Assim eu nasci, não da sua barriga, mas do seu ser.
E você me acolheu com braços quentes, como se eu fosse carne da sua carne. Me pôs contra seu peito e eu pude ouvir a voz do seu coração me acalmava me dizendo para não ter medo, que eu encontrei um lar.
Você me devolveu a dignidade de ser chamado de filho e a honra de ter uma verdadeira mãe, exatamente como deve ser...
... Mas quero que você saiba que meu coração não pensa o que digo e gostaria que me perdoasse. Mãe não só é aquela que põe no mundo, mas aquela que, vivendo ao nosso lado, nos prepara para enfrentar o mundo. Aquela que cura a dor com beijos e se alegra quando nosso coração se alegra.
Talvez você não tenha me dado a vida, mas deu certamente uma razão para viver...
Deus sabia, mamãe, que você era o anjo na medida exata para fazer a minha felicidade.
Te amo! Homenagem deste Blog pelo dia das mães.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

ESSA SOCIEDADE MERECE VIVER?

Todos estão conscientes de que os integrantes do G-20, por mais importantes que sejam, não conseguem representar os demais 172 países onde vivem as principais vítimas das turbulências atuais. D’Escoto pretende nos dias 1º, 2 e 3 de junho reunir na Assembleia da ONU todos os chefes de estado dos 192 países membros para juntos buscarem caminhos sustentáveis que atendam toda a humanidade e não apenas aos poderosos.
O mais importante, entretanto, reside na atmosfera que criou de diálogo aberto, de sentido de cooperação e de renúncia a toda a violência na solução dos problemas mundiais. Sua sala de trabalho está coberta com os ícones que inspiram sua vida e sua prática: Jesus Cristo, Tolstoi, Gandhi, Sandino, Chico Mendes entre outros. Todos o chamam de Padre, pois continua padre católico, com profunda inspiração evangélica. Ele é homem de grande bondade que lhe vem de dentro e que a todos contagia.
Foi sob sua influência que o presidente da Bolívia Evo Morales pôde propor à Assembleia Geral que se votasse a resolução de instaurar o dia 22 de abril como o Dia Internacional da Mãe Terra, o que foi aceito unanimemente. 
 Tudo isso parece natural e óbvio e de um humanismo palmar. Entretanto - vejam a ironia, representantes de países ricos acham o comportamento do padre muito esquisito. Apareceu há pouco tempo um artigo no Washington Post fazendo eco a esta qualidade. Dizia o articulista que Miguel d’Escoto fala de coisas estranhíssimas que nunca se ouvem na ONU tais como solidariedade, cooperação e amor. Em seus discursos saúda a todos como irmãos e irmãs. Mais estranho ainda, diz o articulista, é o fato de que muitos representantes e até chefes de estado como Holande estão assumindo a mesma linguagem estranha.
Meu Deus, em que nível do inferno de Dante nos encontramos? Como pode uma sociedade construir-se sem solidariedade, cooperação e amor, privada do sentimento profundo expresso na Carta dos Direitos Humanos da ONU de que somos todos iguais e por isso irmãos e irmãs?
Para um tipo de sociedade que optou transformar tudo em mercadoria: a Terra, a natureza, a água e a própria vida e que coloca como ideal supremo ganhar dinheiro e consumir, acima de qualquer outro valor, acima dos direitos humanos, da democracia e do respeito ao ambiente, as atitudes do Presidente da Assembleia da ONU parecem realmente estranhíssimas. Elas estão ausentes no dicionário capitalista.
Devemos nos perguntar pela qualidade humana e ética deste tipo de sociedade. Ela representa simplesmente um insulto a tudo o que a humanidade pregou e tentou viver ao longo de todos os séculos. Não sem razão está em crise que, mais que econômica e financeira, é crise de humanidade. Ela representa o pior que está em nós, nosso lado demens. Até financeiramente ela se mostrou insustentável, exatamente no ponto que para ela é central.
Esse tipo de civilização não merece ter futuro nenhum. Oxalá Gaia se apiede de nós e não exerça sua compreensível vingança. Mas se por causa de dez justos, consoante a Bíblia, Deus poupou Sodoma e Gomorra, esperamos também ser salvos pelos muitos justos que ainda florescem sobre a face da Terra.

terça-feira, 6 de maio de 2014

NEM UMA AGULHA SEQUER.


Trabalhara muito na vida, acumulara milhões de moedas, e ainda queria aumentar sua fortuna. E o pior de tudo, não se sentia feliz. Não muito longe dele, na encosta de uma montanha, vivia um homem solitário. Morava numa choupana e vivia absorto nas coisas de Deus. E era muito feliz. Buscando o rumo da felicidade, o homem rico dirigiu-se, um dia, à morada do eremita. A entrevista foi curta e, no final, o santo deu-lhe uma agulha, com uma recomendação: que lhe fosse devolvida no outro mundo.
Imaginando possíveis poderes mágicos da agulha, o homem rico retornou ao seu palácio e mostrou à esposa o presente, recomendando: guarda esta agulha com segurança. Eu terei de devolvê-la ao santo homem no outro mundo. Você está louco? Perguntou a esposa. Como você foi capaz de aceitar essa condição, uma vez que não podemos levar qualquer coisa para a vida futura!
O bom senso começou a funcionar e o homem rico regressou à montanha. Devolveu a agulha, dizendo: por favor, pegue sua agulha agora, pois não poderei devolvê-la no outro mundo. Compadecido, o homem de Deus olhou para ele e disse: então, qual a utilidade que seus milhões terão para você? E ainda você gasta seu tempo acumulando mais. Quando você vai estar pronto para a jornada inevitável?
A mensagem acertou em cheio o pobre homem rico, que reconheceu: vejo-me partindo para o outro mundo com as mãos vazias... Diga-me, por favor, o que devo fazer? É muito simples, garantiu ele: invoque o nome de Deus e gaste seus milhões a serviço daqueles que sofrem. Um dia - no outro mundo - eles devolverão seus tesouros.
Esse é o ponto de vista do Evangelho. Nele é narrada a história do homem rico, cujas terras lhe deram grandes colheitas e para isso precisou de celeiros maiores. E ai sentiu-se realizado e feliz. Possuía riquezas para a vida inteira. Deus, porém, lhe disse: “Insensato! Ainda nesta noite morrerás e para quem ficará tudo aquilo que acumulaste?” (Lc 12,16).
As pessoas, hoje, dependem cada vez mais do dinheiro, real ou virtual. Lutar por ele se constitui um dever, pois isto significa bem-estar para si e para a família. É sagrado o dinheiro gasto com a comida, os remédios, os estudos. É sagrado, sobretudo, o dinheiro que serve para fazer o bem. Quando o dinheiro ocupa o lugar que lhe é devido, torna-se um excelente auxiliar, um excelente empregado. Mas quando ele mesmo alcança o lugar de patrão, torna miserável a vida de quem dele depende.
O único dinheiro nosso é aquele que gastamos. O resto é dos bancos ou dos herdeiros, que brigarão por ele. O único dinheiro que podemos transportar para o outro lado é aquele que gastamos com os outros, especialmente os mais pobres. Este é o tesouro que tem cidadania no céu.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A UMA VELHA:


 Para Nina Garcia Azevedo.

Querida amiga Nina,

Por que a trato com familiaridade? Ora, agora você me conhece intimamente: meu nome é Velhice. É bem verdade que muitas pessoas de avançada idade se sentem constrangidas, até humilhadas, ao se aproximarem de mim. Como se a Velhice fosse um mal a ser evitado.
Não se conformam com a progressiva e irrefreável degradação do organismo: a audição reduzida, as restrições alimentares, a mobilidade contida, o uso de bengala etc. Por isso, até se recusam a pronunciar meu nome. Esquecem que, à decadência do corpo, deveria corresponder a ascendência do espírito. Mas a vida ensina que não se colhe o que não se plantou.
Já não convém chamar uma pessoa de velha. Inventam-se eufemismos, como se a cobertura do bolo modificasse o sabor do recheio: terceira idade, melhor idade, dign/idade... Ora, se devemos encarar a realidade, sugiro ‘eterna idade’, já que os velhos estão mais próximos dela.
Aterrorizadas pela certeza de que um dia serão velhas, e iludidas pela busca ilusória de imortalidade, muitas pessoas, respaldadas pelos simulacros científicos que prometem juventude perene, se esforçam ao máximo para evitar o encontro comigo. Ingerem drágeas que prometem reduzir o desgaste das células, fazem cirurgias plásticas, passam horas a malhar o corpo. E ainda se dão ao ridículo de se fantasiarem de jovens, de adotar vocabulário de jovens, de frequentar festas de jovens. Como é triste ver uma velha de 70 anos bancando a mocinha de 20! Peruca na cabeça vai bem, mas na alma...
Nina, sei o quanto a sua vida valeu a pena: a família, a fé, as flores de seu acalanto, a sabedoria de permanecer numa cidade do interior e não acompanhar os filhos no rumo das metrópoles.
O que a faz longeva? O que lhe permite celebrar saudáveis 95 anos sem ter recorrido a nenhum desses artifícios? A paz de espírito. Você escolheu cultivar bens infinitos, aqueles que se guardam no coração, e não bens finitos, que envaidecem sem jamais saciar a sede de Absoluto. Você escolheu a amorosa maravilha da cotidianeidade, essas miudezas que, como miçangas, colorem a linha da felicidade: a oração, a frequência à igreja, o encontro com as amigas, o socorro aos pobres, o cuidado da casa e, no crepúsculo da vida, dar-se ao direito de espiar o mundo pelas janelas dos livros, dos jornais, da TV.
Sonho com o dia em que as mulheres descobrirem que o auge da beleza reside em encontrar a mim, a Velhice. Essa beleza emoldurada pelas rugas da intensidade de vida e pelos cabelos alvos, fundada na sabedoria de espírito, na capacidade de relativizar tantas coisas que os mais jovens encaram como absolutas. Beleza de quem já não recorre a artifícios exteriores para enfeitar a vaidade; basta o sorriso luminoso, a delicadeza dos gestos, o dom de recolher-se em silêncio ainda que, em volta, todos disputem a palavra aos gritos.
Você bem sabe, Nina, que estar comigo é experimentar algo que, cada vez mais, poucos conhecem: a serenidade. Uma pessoa se torna serena quando se dá conta de que vive num palácio de inúmeros aposentos - a vida -, mas já não sente o menor ímpeto de percorrê-los, perdeu toda curiosidade em relação a eles. Basta-lhe um aconchegante quartinho onde suas plantas recebam um pouco de sol.
Nina, acolhe o meu afetuoso abraço de feliz idade! Curta a minha companhia sem nenhuma ansiedade frente aos desígnios de Deus. Ele a colherá desta vida, como um jardineiro à sua flor, no momento oportuno. Então, sim, você descobrirá que, do outro lado, a vida é terna.
O carinho de sua companheira, Velhice.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O DIA DAS MÃES ESTÁ CHEGANDO. QUANTO VALE UM PRESENTE?

Um garoto pobre, cerca de 12 anos, entrou numa loja e pediu um sabonete. Deveria ser embrulhado em papel para presente e explicou: é para minha mãe. O dono do estabelecimento ficou comovido e pensou em ajudar a criança, colocando no pacote algo mais valioso. Quem sabe uma joia, um relógio ou perfume. E recordou sua infância pobre. Muitas vezes desejou presentear a mãe, mas não tinha condições. Agora ela morrera. Poderia, quem sabe, pagar esta dívida de gratidão a uma mãe desconhecida.
O menino não estava entendendo a demora em ser atendido. Será que desconfiavam da sua possibilidade de pagar? E colocou, ostensivamente, as moedas sobre o balcão. Entendendo o gesto, o dono falou de sua infância pobre, de sua frustração em não poder presentear à mãe, retribuindo sua ternura. Foi a vez do menino estranhar: como, nunca pudera dar um presente, nem mesmo um sabonete? E o vendedor entendeu que nada poderia tornar mais valioso o presente do menino, pois estava envolvido em amor.
As normas da boa educação mandam tirar o preço do produto quando ele será presenteado. Está implícita a certeza de que o presente não tem um valor puramente comercial. Ele está envolvido de afeto, cumplicidade, carinho, ternura, lembranças do passado, promessas do futuro. E por isso, um sabonete para a mãe pode valer muito mais que um automóvel dado por um pai com a consciência pesada pelo tempo e pelo amor que nunca teve para o filho.
A vida é tecida pelo cotidiano. Os grandes momentos são poucos e os pequenos momentos podem se revestir de uma grandeza insuspeitada. Há momentos que podem se tornar mágicos e recordados muitos anos após. E isso não depende do dinheiro. Aquele sabonete, aquela pescaria com o pai, aquela mão afagando os cabelos, aquele sorriso que pode significar tanta coisa: eu te amo, eu te perdoo, eu confio em ti...
A dimensão do cotidiano vale também para a fé. Não podemos reservar para Deus apenas um espaço dominical. Ele deve ser a referência para todos os pequenos e grandes gestos de nosso dia. Devemos cultivar uma certeza: mesmo quando não lembramos Dele, Ele lembra de nós.
Falando das conquistas marítimas, das vidas perdidas nas tempestades de mares desconhecidos, dos insucessos, de viagens decepcionantes, o poeta português Fernando Pessoa perguntava: valeu a pena? E antes de qualquer resposta, esclarecia: Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.