terça-feira, 29 de abril de 2014

TEMPOS BICUDOS.

Em tempos de crise mundial, os consumidores param de consumir e, com isso, os produtores param de produzir. Quando o comerciante não vende porque o consumidor não compra, o industrial não fabrica porque seu produto vai encalhar e quem empresta dinheiro aumenta o juro porque o tomador de empréstimos não terá como pagar.
A isso chama-se “ciranda”, mas é ciranda que agora gira ao inverso. Um não compra porque não tem dinheiro, o outro não vende porque um não compra e o outro não faz porque não venderá ao revendedor. E outro não empresta para quem produz porque o produto não será comprado. Mesmo sem você entender os complicados mecanismos de produção, venda, revenda, compra, empréstimo, mercado futuro, commodities, já percebeu que os produtos ficarão mais caros e o parcelamento da dívida será mais complicado.
O mundo ficou mais pobre, o cinto do mundo apertou mais e parece que a fivela não está resistindo. Pelo ralo escorreram cerca de 30 trilhões de dólares que já causaram o fechamento de milhares de fábricas na China e a perda, por enquanto, de milhões de empregos na Europa e nos EUA. Não escaparemos ilesos. Vem sofrimento mais adiante...
Onde entra a religião? Ela falou e falou contra a usura e os juros, mas não foi levada a sério. Casamento de consanguíneos é sempre um casamento de risco. Dinheiro que casa com dinheiro para gerar mais dinheiro acaba gerando um aborto econômico.
Estavam certos Lv 25,33; Dt 23,19-20.30; Ez 18,17 e centenas de outras passagens da Bíblia que sugerem cuidado com o dinheiro que gera dinheiro. Já dizia São Paulo: “O amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se transpassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tim 6,10).
Alguém achou que o trabalho humano valia menos do que o dinheiro no banco. E muitos bancos, ao invés de pôr o dinheiro para trabalhar, puseram-no para descansar. O dinheiro que faria, não fez! Era dinheiro errante e sonâmbulo. Aqueles trilhões de dólares perdidos estão doendo. Doerão por muito tempo.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

FILHO DE TIGRE, TIGRINHO É,

Há um dito popular que expressa muito bem os fatos da vida, onde percebemos que os filhos, muitas vezes, seguem o caminho dos pais, especialmente no sentido artístico da vida - “filho de peixe, peixinho é”.
Há muito de genético nesta realidade. Também há muito de cultural. Nós não somos frutos apenas de nós mesmos, isolados. Somos a soma do “nós e as circunstâncias”. Quer dizer, decidem muito em nossa personalidade a cultura, os costumes e as vivências do meio ambiente.
Filho de músico, músico é. Nem sempre acontece assim, mas em geral é isso mesmo. Nas histórias de instrumentistas e de cantores entram as histórias do pai ou da mãe cantores ou musicistas. Num clima de música em que a criança nasce e cresce, vai se formando um novo músico. Os gênios se fazem. Nada é de graça. Nem é fruto de vidas passadas. Nem são encarnações de outros gênios. Tudo é fruto da genética e do meio ambiente.
Filho de escritor, escritor é. Num ambiente onde se nasce ouvindo o pai e a mãe falar de livros, de autores, de histórias, somente pode crescer alguém que também desperte para esse dom. Deste fato nasce a importância de se criar em casa um clima de leitura, um clima cultural, onde os pequenos gênios vão assimilando a mesma seiva todo dia.
Filho de ladrão, ladrão é. Não precisamos nos transportar para ambientes de corrupção e ladroagem de nossos políticos e governantes. Não precisamos ir longe. Não precisamos chegar no ambiente político do Senado e da Câmara de Deputados, onde há professores de ladroagem. Nem precisamos pensar nos ladrões clássicos que estão na cadeia ou andam soltos por aí. Nossos ambientes de família e escola, de empresa e de rua, de boteco e de mercado, são uma escola permanente de engano e ladroagem. A criança que nasce e cresce nesse ambiente, simplesmente vai se tornando outra pessoa na corrente da ladroagem. Onde estão, e quando é que pais e mães vão decidir educar os filhos, pela sua vida e palavras, para a justiça, a verdade e o respeito?
Filho da justiça, justo é. Não estou falando de justiça-instituição. No Brasil a justiça é uma lição de injustiça. Quando se nasce e se cresce num ambiente de justiça, fica mais fácil crescer como pessoa justa. Num pomar de justiça, a árvore ali plantada também crescerá, florirá e frutificará em obras de justiça. Pai e mãe justos, filhos justos. Professores e professoras justos, alunos mais justos. Ambiente regado com a água da justiça produzirá obras de justiça. Macieira só poderá dar maçãs. As modificações genéticas estão transformando muitas realidades, mas o princípio é sempre o mesmo. É bom andarmos no caminho do natural. Assim como cada fruteira produz os frutos de seu destino, assim cada casal produzirá os frutos filhos, dependendo da árvore que são. Se constatamos em nossa sociedade muitos filhos agressivos, revoltados e violentos, é porque, em vez de duas macieiras, dois espinheiros se encontraram e produziram novos espinhos.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

VONTADE DE VOAR: QUEM NÃO TEVE?

Quem nunca desejou voar como os pássaros? Desde os primórdios da história, o homem vem tentando domar os ventos. Alguns com a intenção de experimentar a liberdade dos pássaros, outros para se aproximar dos deuses. Motivos não faltavam, o fato é que todos tinham uma mesma meta: voar. Abaixo, as diferentes invenções que ajudaram o homem a conquistar o ar.

Balonismo - A primeira demonstração de um objeto voador foi feita pelo padre brasileiro Bartholomeu de Gusmão. Em 1709, ele apresentou ao Rei João V de Portugal um balão que subiu cerca de quatro metros, mas incendiou. Só em 1783 ocorreu o verdadeiro nascimento das atividades aéreas, com o vôo do balão dos irmãos franceses Joseph e Etienne Montgolfier, que atingiu 2.000 metros de altura.
No começo, os balões serviam à espionagem nas guerras. Napoleão Bonaparte usava-os para observar as movimentações na retaguarda do inimigo e estudar o terreno da batalha.

Asa delta - Surgiu depois da II Guerra Mundial. O pesquisador Francis Rogallo foi o primeiro a registrar a patente das asas flexíveis, em 1951.
A história no Brasil começou quando um piloto francês fez um vôo do alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, em 1974. A façanha despertou a atenção e logo surgiram interessados em aprender. O primeiro brasileiro a voar de asa delta foi Luiz Cláudio, em 7 de setembro de 1974, no RJ. Atualmente, a Associação Brasileira de Vôo Livre possui afiliadas em 11 Estados e o esporte é praticado por mais de 2.500 pilotos.

Parapente - A história do parapente começou nas pesquisas para retorno de cápsulas espaciais à Terra. O pára-quedista norte-americano e engenheiro em aerodinâmica David Barish dedicou-se à criação de um novo pára-quedas, especialmente destinado ao projeto Apolo, da NASA. David produziu alguns protótipos, até que, em 1965, ele construiu uma nova espécie de pára-quedas, batizada depois de parapente ou paraglider.
No Brasil, o parapente surgiu em meados da década de 80. Hoje o esporte é praticado por mais de 100 mil pessoas em todo o mundo.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

PARA BEM VIVER

Na vida, todos somos aprendizes. O aprendizado não é igual para todos. Há os que repetem os erros, outros, mais inteligentes, procuram aprender com os erros dos outros. A pior nota fica com aqueles que se recusam a reconhecer os próprios erros. E para isso procuram sempre culpados para as próprias falhas. Grande parte de nossa vida transcorre no cotidiano. Logicamente, nossa felicidade, nossa realização e nosso sucesso passam pelo dia-a-dia. Ou seja, pelas pequenas coisas. Aposte nestas pequenas coisas.
01 - Domine sua língua. Diga sempre menos do que pensa. Sobretudo, não diga coisas amargas e não fale nos momentos de irritação. Os antigos aconselhavam, na hora da irritação, contar até 100 antes de falar.
02 - Pense antes de fazer uma promessa, sobretudo na vida familiar. Uma vez feita, mantenha a palavra, mesmo sendo tarefa difícil.
03 - Nunca deixe passar uma oportunidade para dizer uma palavra agradável à pessoa ou a respeito dela. Deixe que os outros sintam a ternura que existe em você. Isso vale também para o homem. Não guarde o carinho para as grandes ocasiões. O amor se revela também nos pequenos gestos.
04 - Interesse-se pelos outros, pelas suas ocupações, pelo seu bem-estar, pela sua família. É importante que os outros percebam que você está mesmo interessado neles. Evite começar a frase com o pronome pessoal eu. É importante que o foco esteja sempre na outra pessoa.
05 - Mantenha o bom humor e a alegria mesmo quando as coisas não vão bem. O coração é seu, pode chorar, mas o rosto pertence aos demais e você deve sorrir. Quando erra, com toda a tranquilidade, admita que errou. Afinal, você é humano.
06 - Conserve a mente aberta para todas as questões. Tente perceber o alcance das novas ideias. Diante de uma proposta nova, admita para você mesmo: talvez ele tenha razão. Existem sempre alternativas novas. A humanidade ainda não descobriu tudo o que tinha de descobrir.
07 - Recuse-se a falar das falhas - reais ou aparentes - dos outros. Procure falar apenas coisas boas dos outros e da vida. Com elegância, tente desviar conversas que diminuem as pessoas. Abelha e vespa sugam a mesma flor, mas somente a abelha produz mel.
08 - Tenha cuidado com os sentimentos dos outros. Gracejos, ironias e críticas podem magoar. Não faça ou não diga aos outros o que você não gostaria que os outros fizessem ou dissessem de você. São Paulo aconselhava: alegrar-se com os que estão alegres e chorar com os que choram.
09 - Não deixe que as críticas o derrotem. Quando acontecerem, procure ver o que existe de real e não deixe que a amargura tome conte de seu espírito. A crítica pode mostrar seus pontos fracos e, nesse sentido, ela trabalha a favor de você. A vida é curta demais para ser preenchida com amarguras.
10 - Jamais descreia do amor. Existem dois grandes mandamentos: amar a Deus e amar o próximo. O caminho da felicidade passa por aí. Há mil maneiras de amar o próximo, mas uma só maneira de amar a Deus: amando o próximo.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

DIFICULDADES NA VIDA...

Como diz a música do padre Zézinhoi: Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor. Que nenhuma mulher seja jamais a mesma depois que gerou sua criança. Que seja meio pata-chóca, meio coruja e meio águia. Pata-chóca para viver pelos filhos, coruja para incentivá-los, águia para ensinar-lhes o valor das alturas.
Que seu colo tenha o tamanho da carência e da dor do filho. Que as mães sejam sábias, serenas, exigentes e brincalhonas. Nunca me esqueço daquela jovem mãe com um pequeno ao lado e uma barriga de sete meses. Dei-lhe o meu lugar na fila do sorveteiro, porque é bom ser cortês com toda mulher, mais ainda com a mulher que espera um filho e carrega outro.
Ela agradeceu. Insisti. E ela disse:
- Por favor. Estou educando meu filho a saber esperar a vez dele. Se ele aprender a furar todas as filas só porque é menino, vai crescer errado. Se eu precisar eu aceito, mas estamos bem...
Gosto das mães que ensinam cidadania e convivência. Que as mães sejam esta escola pequena, mas rica de ensinamentos. Que o beijo das mães seja gostoso de estalar e o abraço gostoso de querer mais e o puxão de orelhas, suficientemente dolorido de a gente nunca mais repetir.
Que as mães saibam a hora de chamar para perto e de deixar ir. Que as mães não sejam possessivas, neuróticas, medrosas, grudentas. É chato ter mãe chata, daquelas que falam demais e protegem demais. Que as mães saibam a justa medida, como o tempero da cozinha!
Há duas coisas que fazem um país maduro: boa escola e bom colo de mãe. Quem não teve os dois tem mais dificuldade na vida!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

APRENDER A SUPORTAR-SE É UMA ARTE

Não falo do suportar a dor e a doença. Nem falo do suportar a cruz e o peso da vida, ou do suportar as pessoas e o tipo de vida que se escolheu Falo das pessoas que não se suportam como gente e nem suportam sua solidão e seu isolamento. Porque não se suportam, as pessoas buscam fugas e compensações.
A BUSCA DO BARULHO é uma fuga de si mesmo. Um sinal do não suportar-se. É o rádio ligado todo o tempo e a todo volume e o televisor criando a ilusão de presença de gente. É o carro passando na rua, invadindo espaços privados com um som violento. É a banda estourando os tímpanos nos salões, danceterias e baladas. São os fones nos ouvidos, batendo de perto um som louco, que faz esquecer problemas e solidões. As pessoas não se suportam e buscam no barulho uma fuga permanente.
A VIDA NA PRESSA E NA VELOCIDADE faz a pessoa fugir de si, cultivando o pensamento acelerado. A pressa não permite que a pessoa sente e se sinta em sua realidade.
AS PESSOAS NÃO SE SUPORTAM em sua ansiedade e insegurança e alimentam farmácias e drogarias, sabendo que tudo é paliativo, mas que no momento é a solução mais fácil para enganar as emoções e frustrações.
AS PESSOAS BUSCAM NAS DROGAS E NO ÁLCOOL uma tentativa de abafar a solidão e a vida insuportável. Os efeitos da droga e do álcool passam e permanece o desastre no corpo e o vazio na mente.
AS PESSOAS SE LANÇAM NO PRAZER sem medida para tentar preencher a fome de paz e felicidade e esbarram com o ilusório. Busca-se o prazer pelo prazer. O sexo, como nunca, se tornou uma válvula de escape paras todas as idades. Deixou de ser encontro de pessoas para ser uma tentativa de preenchimento do vazio do coração.
AS PESSOAS NÃO SE SUPORTAM MAIS e tentam compensar no comer e no beber uma maneira de enganar a natureza. A obesidade tornou-se um problema e uma doença.
AS PESSOAS CRIAM DOENÇAS para si para poder atrair para si, através da compaixão, parentes, pessoas amigas e médicos. Muitas doenças são criadas porque as pessoas se cansaram de não se sentirem amadas.
PESSOAS SE LANÇAM NUMA RELIGIOSIDADE doentia para superar a solidão. Estão presentes em todos os atos religiosos, de todas as religiões, fazem todo tipo de oração e promessas, mas permanecem sempre na mesma situação, numa religião de fuga em vez de realização.
É PRECISO TREINAR-SE PARA SUPORTAR-SE. Treinar-se para permanecer em si. Ser capaz de estar só. Conversar consigo. Gostar-se. Criar dentro de si uma ligação com todas as pessoas e todos os seres e com o Criador. Buscar a própria identidade. Sentir-se amado e amar. Sentir-se envolvido pelo universo e pela humanidade. Somente assim, uma a uma, as fugas e as compensações serão dispensadas. Aprender a suportar-se é uma arte.


sábado, 19 de abril de 2014

A TRISTE MORTE DO MENINO BERNARDO.

Alegre, puro, inocente... todos esses adjetivos são poucos e parcos para dizer desse sorriso que há dias enche os olhos, o coração e os lares brasileiros. O rostinho de Bernardo virou personagem obrigatório da leitura dos jornais diários, da escuta de Jornais de TV. Mais que isso, tornou-se figura central das indagações interiores, dos medos, dos fantasmas de todo cidadão deste país.
No sorriso de Bernardo, de repente todos nós vimos aterrados os rostos de nossos filhos, netos, sobrinhos; filhos e netos de amigos ou crianças várias a quem queremos bem. Todos tomamos consciência de que Bernardo é qualquer criança brasileira ameaçada por uma fatalidade impensável, que chega e ceifa sua vidinha que mal começa a brotar, sem explicações.Bernardo é o retrato da infância do Brasil e do risco que representa ser criança hoje, aqui e agora.
Não se trata de uma criança de rua, abandonada, que tem de lutar desde cedo pela sobrevivência. Pelo contrário. As fotos que circulam pela internet, nos blogs e na mídia, nos enchem os olhos com um menino que possui todos os objetos de desejo com que sonham as crianças de hoje. Vê-se também que os que a cuidavam se preocupavam com suas roupas, seu cabelo. Veste-se , arruma-se para ir a um aniversário ou a uma festinha.
Tampouco é uma criança a quem faltou afeto. Aparece abraçada à família que procurava nas horas de solidão , aos colegas e amigos. As manifestações destas pessoas por ocasião de sua morte nos dão a certeza de que Bernardo certamente foi muito amado por muitos nos onze curtos anos em que viveu. Deixou muita saudade, lágrimas, pena atrás de si. Por isso mesmo é maior a perplexidade quando nos perguntamos: quem pode ter assassinado essa criança, meu Deus? A quem interessaria acabar com essa vidinha que a ninguém ameaçava e que tinha a fragilidade e a vulnerabilidade próprias da infância?
A perplexidade triplica e começa a receber tintas de verdadeiro horror quando os principais suspeitos passam a ser o pai e a madrasta do menino. O tempo passa, os dois negam e colaboram com a polícia. Mas o fato é que estão sozinhos no cenário do crime. E à medida que o cerco se fecha, mais e mais se vai chegando à conclusão de que naquele dia,  só havia três personagens: o pai, a madrasta e a criança a quem tristemente coube o papel de vítima.
São perguntas que nos habitam e nos tiram o sono de noite e de dia. E tão intrigados nos deixam pelo fato de Bernardo ser tão próxima de nossa realidade e, por isso, tão íntimo que parece que a conhecemos desde que nasceu. Trata-se talvez de mais uma criança inocente que, de repente, se vê como pivô de um conflito amoroso ou passional. Uma criança a mais que se vê dilacerada entre dois amores, duas famílias. Em meio aos amores frustrados, às uniões fracassadas, às novas uniões problemáticas e conflitivas, Bernardo flutuava como um anjo até o momento em que se encontrou, talvez no momento errado, no meio de uma explosão de afetos mal resolvidos. Isso lhe custou a vida. Os dias passam e a palavra final sobre o crime ainda não foi dita. No fundo de meu coração, rezo e espero que os culpados não sejam o pai e a madrasta. Bernardo, que agora está em paz, não merece ter vivido em seus últimos momentos o terror de ver a figura do pai ou da madrasta, que horas antes o acariciavam, agredindo-o, machucando-o e matando-o.
A Justiça prossegue sua pesquisa e seu caminho. Nós, que a tudo assistimos, continuamos com nossa perplexidade e nosso horror. O sorriso de Bernardo nos persegue, lembrando-nos que a vida é bela e deliciosa. Mas a vida do outro, sobretudo do outro pequeno e indefeso, que não pode falar por si ou defender-se, é algo de extrema seriedade, que não pode ser colocada em risco quando os conflitos e os problemas pessoais explodem como bombas traiçoeiras.

AS VELHAS IDEIAS SE DESMORALIZARAM, SÓ NOS RESTA CONFIAR NAS NOVAS.

O sofrimento é a grande escola do aprendizado humano. Contém verdade a frase atribuída a Hegel: “O ser humano aprende da história que não aprende nada da história, mas aprende tudo do sofrimento”. Prefiro a formulação de Santo Agostinho em suas Confissões: “O ser humano aprende do sofrimento, mas muito mais do amor”.
O amor fati (o amor à realidade crua e nua) dos antigos e retomado por Freud se impõe nos dias atuais em que a humanidade se vê assolada por grave crise de sentido, subjacente à crise econômico financeira. Devemos reaprender a amar de forma desinteressada e incondicional a Terra, todos os seres, especialmente os humanos, os que sofrem, respeitá-los em sua diferença e em suas limitações. O amor é uma força cósmica que “move o céu e as estrelas” no dizer de Dante. Só quem ama transforma e cria.
Os grandes estão confusos e não sabem o que fazer. É que amam mais o dinheiro que a vida. Se amor houvesse, aprovariam o que está sendo proposto: uma “Declaração Universal do Bem Comum da Humanidade”, base para uma “Nova Ordem Global e Multilateral” contemplando toda a humanidade, a Terra incluída. Mas não. Perplexos, preferem repetir as fórmulas que não deram certo. Caberia, entretanto, perguntar: que capacidade possuem 20 governos de decidir em nome de 172? Onde estão os títulos de sua legitimidade? Apenas porque são os mais fortes?
Mesmo assim, vejo que se podem tirar algumas lições úteis para as próximas crises. A primeira é que os governantes, para além de suas diferenças, podem se unir face a um perigo global. Mesmo que suas soluções não representem saída sustentável da crise, o fato de estarem juntos é significativo, pois dentro de pouco enfrentaremos uma crise muito pior: da insustentabilidade da Terra e dos efeitos perversos do aquecimento global. Este trará consigo a crise da água e da insegurança alimentar de milhões de pessoas. Tal situação forçará uma união dos povos e dos governos, maior do que essa do G-20 em Londres, caso queiram sobreviver. Se grande será o perigo, maior será a chance de salvação, dizia um poeta alemão, mas desde que ocorra esta união. A solução virá somente de uma política mundial assentada na cooperação, na solidariedade, na responsabilidade global e no cuidado para com a Terra viva.
A segunda lição: não podemos mais prolongar o fundamentalismo do mercado, o pensamento único que arrogantemente anunciava não haver alternativas à ordem vigente, como se a história tivesse destruído o princípio esperança. Nem podemos mais confiar na mera razão funcional, desvinculada da razão sensível e cordial, base do mundo das excelências e dos valores infinitos (Milton Santos, nosso grande geógrafo) como o amor, a cooperação, o respeito, a justiça e outros. Desta vez, ou elaboramos uma alternativa, um novo paradigma civilizatório, com outro modo de produção e um novo padrão de consumo solidário e frugal ou então teremos que aceitar o risco do desaparecimento de nossa espécie e de uma grave lesão da biosfera. A Terra pode continuar sem nós. Nós não podemos viver sem a Terra.
A terceira lição é constatar que a economia, feita eixo estruturador de toda a vida social, se torna hostil à vida e ao desenvolvimento integral dos povos. Ela deve ser reconduzida à sua verdadeira natureza, a de garantir a base material para a vida e para a sociedade.
Vivemos tempos de grandes decisões que representam rupturas instauradoras do novo. Bem notava Keynes: “A dificuldade não estriba tanto na formulação de novas ideias mas no sacudir as velhas”. As velhas se desmoralizaram. Só nos resta confiar nas novas. Nelas está um futuro melhor.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O QUE SOMOS E O QUE DEVEMOS SER.

Somos originariamente bons. Nossa raiz está na bondade de Deus. Nascemos na fonte do amor de Deus. Somos raios de calor, energia e luz nascidos, não de um buraco negro, mas da estrela que energiza, não somente as estrelas do universo, mas cada estrela humana que marca presença nesta humanidade.
Somos naturalmente pessoas boas. Ao contrário de filósofos, inventores de religiões e movimentos religiosos, que afirmam que a pessoa humana é naturalmente má, cremos em sua origem totalmente feita de bondade. Se isso não fosse verdade, sentiria muita pena do artista da vida, Deus, que não soube expressar sua bondade e amor em sua obra. Seríamos uma obra degenerada. Infelizmente, muitos movimentos religiosos e igrejas que exploram a desgraça humana voltam a afirmar essa verdade. Como resultado desta concepção nasce a “fuga na religião.” A pessoa humana tem que fugir deste mundo mau e buscar a salvação na graça de Deus. Essa maneira de pensar cria uma mentalidade que somos filhos da maldade. Filhos do demônio. Filhos de espíritos maus.
Somos filhos do amor e da bondade. Nossa raiz está na beleza e bondade, no amor e na ternura, na paz e na justiça, na misericórdia e na eternidade de Deus. A semente da vida que está em nós é de bondade total. A pessoa, que é, desde pequena, cuidada e cultivada nesse clima, certamente desabrochará em flor e fruto de beleza e de amor. Irá se tornando e se fazendo sempre mais parecida com o artista da vida. Porém, nossa vida, e especialmente nosso inconsciente, mesmo tendo nascido na bondade, pode se tornar um espinhal. A erva daninha da guerra e do ódio, do orgulho e do materialismo, da inveja e do egoísmo, da agressividade e destruição, pode ser semeada nesse mesmo terreno, com possibilidades de sufocar a matriz original de bondade e amor.
Somos a bagagem que acumulamos. Como é necessário ser bem concebido e não ser fruto de um relacionamento egoísta! Como é bom ser mãe e pai, imagens de Deus, para continuar a obra linda que tem como fonte a beleza e o amor de Deus! Como é bom nascer e crescer num clima de otimismo e amizade, de vida e respeito, de paz e de luz! Como é bom ter cultivadores ao nosso redor que não deixam faltar o calor da vida, o adubo do amor, a luz da sabedoria e a energia da fé! Como é bom alimentar nossas emoções e ideias, cada célula de nosso corpo com o sadio alimento da esperança e da certeza de vitória!
Seremos o que queremos nos tornar. Somos um sonho de Deus. O que vem de Deus não é pesadelo. É sonho de felicidade e alegria. Não podemos decepcionar o artista. Não podemos pisar em cima de nós mesmos, não aceitando o que somos e o que devemos ser. Nem deixaremos que outras pessoas nos pisem e estraguem a imagem e o sonho de Deus em nós. Temos o direito de realizar nosso destino. E tudo neste universo conspira para nosso sucesso e vitória.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

FLORES DE 85 MILHÕES DE ANOS.

Há muito tempo, as orquídeas fascinam a humanidade por sua beleza, perfume e variedade de espécies, mas antes do surgimento do homem já embelezavam o planeta. Elas surgiram quando os dinossauros ainda pisavam a superfície do planeta, bem antes do que imaginavam os botânicos.
Uma equipe de cientistas encontrou, na República Dominicana, grãos de pólen de uma orquídea grudados nas asas de um abelha de 20 milhões de anos. Tudo estava perfeitamente preservado no interior de uma pedra de âmbar. A descoberta, publicada na revista científica Nature, sugere que as orquídeas surgiram há 85 milhões de anos. Até então, os botânicos eram obrigados a basear os seus cálculos em alguns poucos exemplares fossilizados.
As orquídeas foram descritas pela primeira vez em um livro de história natural do grego Teofrastos, o “pai da botânica”. Essa família é a maior e mais diversificada do universo das plantas florais, com mais de 25.000 espécies catalogadas até agora. A cada ano, cerca de 300 novas orquídeas são acrescentadas à lista. Cientistas estimam que ainda há mais de 5.000 espécies de orquídeas “escondidas” na natureza, ainda não descobertas.
Embora pareçam frágeis, as orquídeas são muito resistentes. Evoluíram e se adaptaram para sobreviver em quase todos os habitats, só não reagem bem à água e aos desertos. Em todos os continentes, é possível encontrar uma espécie da planta, com exceção da Antártida. Algumas orquídeas são fertilizadas por pássaros ou morcegos, mas cerca de 85% delas são polinizadas por insetos.
A baunilha é um raro exemplar de orquídea utilizada na alimentação humana. As sementes e a polpa encontradas nas bagas da baunilha são usadas para a produção do extrato de baunilha, produzido principalmente em Madagascar, na África.

terça-feira, 15 de abril de 2014

SOMOS O QUE SOMOS, PELA EDUCAÇÃO OU POR FALTA DELA

Nascida numa família pobre, mas carinhosa, Isabel aprendeu a ternura dos pequenos gestos. Como professora, privilegiava as crianças mais problemáticas e tristes. “Eu amo você tal como é” era sua frase costumeira. Essa foi a frase que ela disse a um aluno rebelde - Wilson - que acabou em sua classe. Se não desse certo, seria expulso da escola. Aos poucos a semente foi germinando e o menino rebelde começou a chamar a professora de mamãe.
Anos depois, Isabel recebeu um convite para a formatura em psicologia, de um antigo aluno, chamado Wilson. Espero que mamãe se lembre de mim! Eu era aquele moleque terrível que ia ser expulso da escola e você me acolheu e me deu uma oportunidade. A professora imaginou que a palavra mamãe objetivava apenas recordar quem era ele. Wilson havia sido escolhido o orador da turma e iniciou dizendo: quero compartilhar a alegria deste dia com vocês e com minhas duas mães... E esclareceu: tive o privilégio de ter duas mães e ambas, hoje, estão aqui.
“A primeira mãe se chama Josefa. Ela me deu a vida e passou a juventude esfregando o chão e lavando a roupa para que eu crescesse sadio e forte. E jamais fez qualquer coisa que eu pudesse me envergonhar dela. A segunda mãe se chama Isabel, minha professora, a pessoa que me gerou para uma vida com sentido, alimentou meu coração e acreditou em mim. Sem ela eu teria sido, provavelmente, um malandro, um desocupado e, só Deus sabe onde estaria hoje. Por isso, quero que ela ouça, diante de todos vocês, que eu a chamo de mamãe, não por brincadeira, mas porque assim a considero”.
Toda a criança tem duas chances de ser feliz. A primeira delas é o próprio lar, onde ela tem o direito de amar e ser amada, o direito de sonhar e ser encaminhada na vida. A outra chance é dada pela escola. E essa chance cresce de valor quando a criança vem de um lar desfeito onde é maltratada física e moralmente. Aí ela entende que um mundo diferente é possível. É no lar e na escola onde fazemos a provisão de ternura que nos acompanhará o resto da vida.
Ser amada assim como ela é - direito fundamental da criança. A partir dessa aceitação, a criança começa a mudar. Essa é a maneira de Deus agir. Ele nos ama assim como somos. E isso porque o amor não parte de nós, mas Dele. A medida do amor de Deus não é determinada pelo nosso merecimento. Ele nos ama, não porque merecemos, mas por que precisamos.
O amor exigente é a única maneira de mudar uma pessoa. Um indivíduo chega a ser o que é pela educação ou pela falta dela. Quantas pessoas, que hoje nos assustam, seriam pessoas maravilhosas se tivessem encontrado uma verdadeira mãe, uma verdadeira mestra. Educar é encaminhar alguém na direção da felicidade. É a semente mágica que um dia produzirá frutos.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

DEVORAR E DEMOLIR.

Era para ser assim ou os animais que engolem os outros se tornaram assim à medida que evoluíam ou involuíam? Era para ser assim ou o homem se tornou carnívoro e guerreiro por circunstâncias que não soube controlar?
Era para ser assim ou os religiosos e políticos, para chegarem ao poder ou ao controle de multidões, precisam brigar, diminuir os outros, falsificar os números, exaltar-se acima do que realmente são e inventar que Deus disse o que nunca disse? Se reuniram 200 mil dizem que foram 2 milhões, se venderam 200 mil dizem que venderam um milhão. Seria o marketing da fé mais importante do que a verdade da fé?
Era para ser assim ou o ser humano aprendeu a querer ser mais do que os outros para sobreviver? Quem inventou as expressões o melhor, o primeiro, o maior, o vencedor, mais santo, mais salvo, queria mais poder econômico, político ou espiritual? Era para ser assim, ou tínhamos que arrasar as florestas para viver em comunidade?
O caminho mais fácil é destruir, eliminar, amordaçar, silenciar, mentir e mostrar que o outro deve ser silenciado para que nós vençamos. O mais difícil é dialogar. A humanidade, em geral, escolhe o caminho mais fácil. Matar é mais fácil do que conviver! Vai levar séculos até conseguirmos formar seres humanos capazes de ouvir os outros e aplaudir quem fez melhor do que eles. Não é o que vemos no mundo de agora onde vale mais a promoção do que a devoção e muito mais a melodia do que a harmonia.

domingo, 13 de abril de 2014

NA VERDADE, SOMOS TODOS APRENDIZES.

Uma poderosa multinacional fabricava diferentes produtos de limpeza. Uma das máquinas - setor de dentifrício - começou a apresentar um pequeno problema. Algumas caixas passavam pela esteira, mas sem o tubo. E isso acabava criando sérios problemas. A empresa perdeu alguns contratos e foi acionada pelo Procon. Para solucionar o problema foram contratados dois peritos. Depois de dois meses de trabalho apresentaram a solução. Um sofisticado programa de computador, agregado a uma balança supersensível denunciava a falha. A máquina parava e o sistema hidráulico estendia um braço mecânico, que recolhia a caixinha vazia. A empresa desembolsou cerca de 900 mil reais na operação.
Passaram-se dois meses e não apareceu nenhuma reclamação. O fato merecia uma comemoração. Foram chamados os engenheiros e os diretores da empresa para uma foto oficial. Por curiosidade, um dos diretores examinou o livro de ocorrências e lá se dizia que o complicado sistema estava desligado há 45 dias. Chamaram os operários encarregados e eles confirmaram o fato. O novo sistema funcionava, mas ocasionava outros problemas, inclusive a diminuição da produção.
Aí eles resolveram o problema do jeito deles. Buscaram no almoxarifado um ventilador, que colocaram ao lado da esteira. A simples pressão do ar jogava no chão as caixas vazias. Os engenheiros haviam solucionado o problema à sua maneira, não a melhor das maneiras. Mas os empregados, a custo zero, resolveram o problema.
O ventilador foi mais importante que o computador. O bom senso superou a técnica.
De um perito na Idade Média - Pico De La Mirandola - dizia-se que conhecia todas as coisas e... algo mais. Ninguém sabe tudo. A sabedoria não é privilégio de ninguém. Uns sabem algumas coisas, outros sabem outras coisas. Todos têm sua verdade. E todos, na família, na empresa, na sociedade e na Igreja devem ser ouvidos. De resto, aquele que não ajuda a construir um projeto não terá muitas motivações para obedecê-lo.
O próprio Cristo teve palavras duras contra os autossuficientes do seu tempo que imaginavam saber tudo. Não iriam entrar no céu e procuravam dificultar o caminho dos outros. Na Igreja não são apenas uns poucos que têm o privilégio do Espírito Santo. As pessoas simples, muitas vezes, podem ensinar aos doutores. O próprio Jesus garantiu que Deus esconde a sabedoria aos orgulhosos e a revela aos pequeninos. Ninguém é tão sábio que não possa aprender e ninguém é tão simples e ignorante que não possa ensinar alguma coisa.

sábado, 12 de abril de 2014

É PRECISO TIRAR TEMPO PARA LER, O TEMPO EXISTE.

Vivo numa cidade onde há treze farmácias e uma livraria. Sei que não é diferente em outras cidades. Sei que há outros estabelecimentos com nome de livraria, mas que na verdade poderiam ser chamados de papelaria, cadernaria, brinquedoria e outros nomes que se queira dar, porque o recanto dos livros ocupa apenas cinco por cento do espaço. Todo o espaço é ocupado com material escolar, brinquedos, cartões, plásticos etc.
As farmácias têm seu lugar e o nome que levam também é enganoso. Um engano sadio. Têm cara de farmácia, mas seu conteúdo e espaço são muito mais dedicados a material de higiene do corpo e a cosméticos. É o povo que vai nesse caminho. É cosmético para todo tipo de gente. É ridículo, mas uma menina de oito anos já estar envolvida em cosméticos parece mascarar o lindo rosto de quem tem tudo de beleza.
As livrarias estão vazias, mas não são elas as culpadas. A culpa está na mente doentia do povo. O povo tem uma mente vazia e não sente fome de leitura. Não sente fome de conhecimento. É como sentar-se numa mesa cheia de alimentos saborosos, mas não sentir vontade de comer. Ler não dá lucro imediato. A mentalidade geral é que gastar dinheiro em livros é jogar dinheiro fora. É preferível gastar dinheiro em cerveja e festa. E as cabeças e os corações permanecem vazios.
Vazias estão as livrarias de conteúdo. Lembro do professor de Sofia, no saboroso livro O Mundo de Sofia, menina de quinze anos, que entra numa livraria com o professor. O professor conduz Sofia para uma determinada estante de livros e diz: Sofia, aqui estão os livros de pornografia. Ela olhou e não viu nem mulher nua e nem figuras escandalosas. O professor continuou: aqui estão os livros de pornografia mental. Olhe bem, menina! São todos livros de “autoajuda, vidas passadas, anjos e demônios, astrologia, numerologia e tantos outros assuntos que alienam as mentes humanas.” Na verdade, o próprio livro se tornou objeto de consumo. É como novela. Vai se conduzindo o conteúdo ao sabor dos telespectadores. Assim os livros. São pensados e escritos em vista do consumo e do filme que vai ser produzido para se ter mais lucro.
A imagem está sufocando os livros. Há mais farmácias que livrarias. Mas, também há demais videotecas. Há muito mais lojas de videogames, DVDs e filmes do que livrarias. Passa-se muito mais tempo vendo filmes e videogames do que com livros na mão. Tudo é útil e gostoso. Mas tudo no seu tempo. A nova geração está sendo educada pela imagem e dentro da imagem. Como vai ser uma vida dirigida pela imagem? Não se sabe. Sabe-se que a capacidade de refletir e raciocinar está diminuindo. A pessoa humana continua sendo o único ser que tem o privilégio de usar a razão. Perdendo essa capacidade estará se igualando aos outros seres.
É preciso dar-se tempo para ler. O tempo existe. É questão de preferência. É certo que o ato de ler faz nossa mente crescer. Nosso mundo pessoal se tornar grande. Cada livro que leio é uma nova pessoa que entra em mim.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

ENQUANTO OS VENTOS SOPRAM

Um fazendeiro possuía uma vasta lavoura no litoral. As tempestades eram frequentes e devastadoras. Havia ainda o problema com os empregados. Eles tinham pouca iniciativa e não permaneciam no emprego. O problema maior estava com o gerente. Era difícil - mesmo com bom salário - encontrar a pessoa ideal. Um homem tranquilo, faixa dos 40 anos, se candidatou ao emprego e como maior qualidade ele declarou: eu posso dormir enquanto os ventos sopram.
Sem entender a afirmação, mas precisando de um gerente, o patrão determinou que ele assumisse imediatamente. Durante o dia ele permanecia sempre ocupado, embora os resultados não fossem visíveis. Parecia saber o que estava fazendo.
Algumas semanas depois, a tempestade chegou, no começo de uma noite. Ventos muito fortes, nuvens carregadas, relâmpagos, desenhavam um quadro de medo e perigo. O patrão procurou o gerente, que estava dormindo. Irritado, o fazendeiro pediu que ele tomasse as providências necessárias, mas ele - aparentemente de maneira irresponsável - limitou-se a dizer: eu posso dormir enquanto os ventos sopram. E voltou a dormir.
Amanhã ele será despedido, determinou o patrão. Agora precisava agir rapidamente para enfrentar a tempestade. Logo notou que nenhuma providência era necessária. O gerente amarrara os feixes de feno, trancara as portas dos galpões, os currais e os galinheiros estavam em segurança e em perfeita ordem. Aliviado, o patrão entendeu a filosofia do empregado: mesmo na tempestade ele poderia dormir. Ele se antecipara aos problemas.
As tempestades fazem parte da vida das pessoas e comunidades. Muitas vezes, as borrascas são repentinas e não dão chances de providências na última hora. É inteligente a pessoa preparar-se para a tempestade. “São as tempestades que fazem a história avançar” afirma o historiador inglês Arnold Toynbee. Mas não podemos ser surpreendidos por elas. E devemos aprender com elas.
A solução dos grandes problemas passa sempre pela educação. Educar é ensinar como lidar com as tempestades. E aprender a perceber seus sinais, quando ainda estão além dos horizontes. O Evangelho fala das tempestades que podem causar ruína ou não. As casas com alicerce sobre a rocha resistem aos ventos e à fúria da natureza. Os que constroem sobre a rocha, podem dormir.  Mas quem constrói sobre as areias, só pode esperar o pior. E de nada adiantará ficar acordado enquanto os ventos sopram.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

PRECISAMOS URGENTEMENTE UM NOVO MODELO DE SOCIEDADE.

Indaguei: diante da atual crise financeira, trata-se de salvar o capitalismo ou a humanidade? A resposta é aparentemente óbvia. Por que o advérbio de modo? Por uma simples razão: não são poucos os que acreditam que fora do capitalismo a humanidade não tem futuro. Mas teve passado?
Em cerca de 200 anos de predominância do capitalismo, o balanço é excelente se considerarmos a qualidade de vida de 20% da população mundial que vivem nos países ricos do hemisfério Norte. E os restantes 80%? Excelente também para bancos e grandes empresas. Porém, como explicar, à luz dos princípios éticos e humanitários mais elementares, estes dados da ONU e da FAO: de 7 bilhões de pessoas que habitam hoje o planeta, cerca de 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, dos quais 1,3 bilhão abaixo da linha da miséria. E 950 milhões sofrem desnutrição crônica.
Se queremos tirar algum proveito da atual crise financeira, devemos pensar como mudar o rumo da história, e não apenas como salvar empresas, bancos e países insolventes. Devemos ir à raiz dos problemas e avançar o mais rapidamente possível na construção de uma sociedade baseada na satisfação das necessidades sociais, de respeito aos direitos da natureza e de participação popular num contexto de liberdades políticas.
O desafio consiste em construir um novo modelo econômico e social que coloque as finanças a serviço de um novo sistema democrático, fundado na satisfação de todos os direitos humanos: o trabalho decente, a soberania alimentar, o respeito ao meio ambiente, a diversidade cultural, a economia social e solidária, e um novo conceito de riqueza.
A atual crise financeira é sistêmica, de civilização, a exigir novos paradigmas. Se o período medieval teve como paradigma a fé; o moderno, a razão; o pós-moderno não pode cometer o equívoco de erigir o mercado em paradigma. Estamos todos em meio a uma crise que não é apenas financeira, é também alimentar, ambiental, energética, migratória, social e política. Trata-se de uma crise profunda, que põe em xeque a forma de produzir, comercializar e consumir. O modo de ser humano. Uma crise de valores.
Desacelerada a ciranda financeira, inútil os governos tentarem converter o dinheiro do contribuinte em boia de salvação de conglomerados privados insolventes. A crise exige que se encontre uma saída capaz de superar o sistema econômico que agrava a desigualdade social, favorece a xenofobia e o racismo, criminaliza os movimentos sociais e gera violência. Sistema que se empenha em priorizar a apropriação privada dos lucros acima dos direitos humanos universais; a propriedade particular acima do bem comum; e insiste em reduzir as pessoas à condição de consumistas, e não em promovê-las à dignidade de cidadãos.
Há que transformar a ONU, reformada e democratizada, no fórum idôneo para articular as respostas e soluções à atual crise. Urge implementar mecanismos internacionais de controle do movimento de capitais; de regular o livre comércio; de pôr fim à supremacia do dólar e aos paraísos fiscais; e assegurar a estabilidade financeira em âmbito mundial.
As Metas do Milênio e, em especial, os sete objetivos básicos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, de 1995, devem servir de base a um pacto para uma nova civilização: 1) Escolaridade primária universal; 2) Redução imediata do analfabetismo de adultos em 50%; 3) Atenção primária de saúde para todos; 4) Eliminação da desnutrição grave e redução da moderada em 50%; 5) Serviços de planificação familiar; 6) Água apta para o consumo ao alcance de todos; 7) Créditos a juros baixos para empresas sociais.
A experiência histórica demonstra que a efetivação dessas metas exige transformações estruturais profundas no modelo de sociedade que predomina hoje, de modo a reduzir significativamente as profundas assimetrias entre nações e desigualdades entre pessoas.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

QUEM É UMA PESSOA INTELIGENTE?

Quem é a pessoa inteligente? Em geral, classifica-se de inteligente uma pessoa que tem facilidade de armazenar muitos conhecimentos. Que se sai bem na escola. Quem é um profissional eficiente. Mas a vida do dia-a-dia mostra que nem sempre isso é verdade. Mostra que ser inteligente ultrapassa a capacidade do conhecimento.
Inteligente é a pessoa que tem a arte de amar a vida. A história da humanidade revela que existiram filósofos e escritores que se suicidaram. Nessas pessoas faltou o amor pela vida e por tudo aquilo que promove a vida. Precisamos pessoas inteligentes, não para criar poluição e destruição do planeta Terra, mas para promover tudo o que favorece a vida.
Inteligente é a pessoa que aprecia o belo. Ver, amar e contemplar a beleza é sinal de inteligência. O materialista nunca diz: olhe que beleza! Ele só sabe dizer: isso vai me dar lucro. É tão curto de inteligência que somente é capaz de ver o mundo material e não sabe ultrapassá-lo para ver seu significado.
Inteligente é a pessoa que vive a serenidade. Sabe fazer a distinção. Sabe dar um passo por vez. Sabe separar os fatos e penetrá-los. A pessoa inteligente não se altera. Antes de falar e criticar, sabe parar, olhar e deixar o fato falar. Fala pouco e somente o que é necessário. Quem muito fala é pouco inteligente, porque precisa de muitas palavras para dizer o pouco que sabe.
Inteligente é quem sabe gerenciar os pensamentos. Gerenciar é tomar a direção dos pensamentos. É ser dono de si mesmo. É ter autodomínio. É ter autocontrole. Gerenciar os pensamentos é cultivar a capacidade de reflexão para falar na hora certa, do jeito certo e para as pessoas certas.
Inteligente é a pessoa que se coloca no lugar do outro. É o respeito pelo outro. Sabe que todos são inteligentes. Todos são fonte de pensamentos. Todos têm sua opinião a respeito dos acontecimentos e da vida. A pessoa de pouca inteligência fala sem pedir licença para chegar. Fala sem perceber se a outra pessoa está interessada em escutar. Colocar-se no lugar do outro é saber que cada pessoa tem suas emoções e problemas, suas limitações e frustrações.
Inteligente é a pessoa que trabalha suas perdas e frustrações. Não lamenta. Não se amargura. Não culpa nada e ninguém. Não acusa. Sabe parar diante das perdas, sabe sentir-se em suas frustrações e bloqueios e vai se libertando com categoria, sempre olhando para frente. Sabe que a vida é infinita e abre gratuitamente novas portas e janelas.
Inteligente é a pessoa que é solidária. Sabe que pensar e decidir sozinha é sempre perigoso. Sabe que viver egoisticamente é escolher a pobreza. A riqueza na pessoa se revela na capacidade de viver, escolher e decidir juntos. A solidariedade se manifesta na capacidade de trabalhar e viver em equipe. Diante dessas características, e de muitas outras, somos convidados a nos sentar e nos perceber se somos pessoas inteligentes ou não.

domingo, 6 de abril de 2014

POR DENTRO E POR FORA

O Estado, como certas empreiteiras, é uma entidade de dupla linguagem: “por dentro”, assume decisões segundo os parâmetros da racionalidade. Por isso é tão complexo quanto os circuitos neurônicos de nosso cérebro. O Estado é o cérebro, e sua burocracia a malha aparente daquelas intrincadas conexões que o fazem ordenar a sociedade, seja rumo ao desenvolvimento, seja para reprimir ou consentir a corrupção.
Não é apenas no plano racional que o Estado opera. Há nele uma outra linguagem, “por fora”, dissimulada, subjetiva, não visível ou audível ao público; linguagem cunhada na fogueira das vaidades, nas disputas internas, nos lobbies, na defesa dos interesses corporativos, nas sendas obscuras da corrupção. As decisões racionais são manifestações desse jogo de bastidores que o público não percebe e onde ocasionalmente leva-se em consideração o interesse dele.
A isso se chega por vias transversas, já que decisões políticas nem sempre são racionalizáveis, dependem de emoções, afetos, empatias e simpatias, alianças e acordos. Das mais frequentes e piores práticas políticas é essa endogamía. Uma pessoa é nomeada para tal função (vide Senado), não por reunir as qualidades necessárias, isso também conta, mas quase nunca é prioridade; ou porque tenha sido democraticamente eleita ou indicada por aqueles que integram a instituição que irá chefiar. É nomeada porque o político precisa agradar a um amigo, favorecer um arco de alianças eleitorais, atender o pedido de um senador ou deputado, ou do presidente de seu partido que, por sua vez, também não prima por levar em conta a equação cargo, responsabilidade e competência.
São essas razões subjetivas que produzem tantas nomeações de estranhos no ninho, e o diabo é que o estranho passa a deter poder no ninho e a chocar os ovos à sua maneira. Abre-se assim um fosso entre interesses corporativos e públicos.
O Estado moderno padece de estrutural esquizofrenia. Ninguém sabe precisar com exatidão a linha de fronteira entre governo e Estado, embora a diferença entre um e outro conste em qualquer manual de política. Na prática, o governo coloca-se acima do Estado, pelo simples fato de encarná-lo e representá-lo. E todo governo empenha-se em cooptar o Estado, reduzir ao máximo a distância entre ambos e, se possível, inverter a polaridade: fazer com que o Estado se encaixe dentro do governo.
Esse paradoxo é tanto mais penoso para a população quanto mais fragilizado o Estado pela sucessão de governos que o ocupam. Se um cidadão enfermo comparece a um posto de saúde, em princípio deveria merecer toda a atenção do Estado, independentemente do governo vigente. E todo governo, exceto nos regimes autocráticos e ditatoriais, é provisório, ao contrário do Estado, que possui caráter permanente. A promiscuidade entre governo e Estado, e o modo como aquele abusa deste, impedem que o cidadão enfermo tenha segurança de que o serviço de saúde pública é um direito que não lhe faltará.
Se o governo nomeia incompetentes para gerir a saúde e atende aos lobbies da indústria farmacêutica e dos planos privados de saúde, interessados em minar serviços públicos que ameaçam a multiplicação dos lucros privados, então o enfermo terá abreviada a sua vida pelo simples fato de o Estado não ser uma instituição estável, consolidada, acima dos caprichos de cada governo que periódica e sucessivamente o ocupa.
Segundo Maquiavel, mantém-se no poder com mais dificuldade o governante que depende da ajuda dos poderosos do que aquele que se apoia no povo. Este, quando desgostoso com o governante, o abandona (vide eleitorado sul-americano frente aos candidatos neoliberais). Já os poderosos não apenas abandonam, mas se vingam. O governante pode derrubar poderosos, não o povo. Por isso, deve governar sempre com o povo.
Em tempos de crise, o Estado, como um pai, volta a exercer autoridade sobre esta filha dileta que, ambiciosa, se emancipou e, desvairada, fez o que não devia: a economia. Talvez haja, agora, uma chance de reduzir a antinomia entre o “por dentro” e o “por fora”. Desde que não se queira perfumar o bode que entrou na sala ao pretender inibir o Ministério Público e a Polícia Federal no combate à corrupção. Como sugere Emmanuel Lévinas, a política deve ser sempre controlada e criticada a partir da ética. Melhor expulsar o bode e fazer coincidirem transparência e atividade política.

sábado, 5 de abril de 2014

FINALMENTE NATAL.

Eu vi um homem com fome e vi uma igreja que se preocupava com a fome deste homem e lhe levava comida. Eu vi uma criança com fome e vi uma igreja que se preocupava com a fome dessa criança e lhe levava comida. Eu vi centenas de meninos na rua e vi muitas igrejas preocupadas em mudar a sorte desses meninos.
De repente vi meu país se encher de pais adotivos, creches, asilos, orfanatos, restaurantes para os pobres, religiosos nas ruas acolhendo quem sofria, multidões orando nos estádios e fazendo coletas de alimento, de roupas, de dinheiro que não era desviado, que realmente chegava aos pobres.
Vi as casinhas de favela melhorarem de aspecto porque os religiosos conseguiram telhas, tijolos e até cortinas. Vi toda uma população se unir em mutirão para levar água, esgoto, asfalto e conforto nas periferias, sem esperar que o governo fizesse. Vi uma igreja que se encarregou de melhorar a sua rua. Logo, a outra igreja melhorou a outra e a outra melhorou a outra. Como conseguiam isso, não sei. Mas conseguiam.
Um novo céu e uma nova terra aconteceram no meu país, porque religiosos que olhavam para o céu começaram também a olhar para a terra e as mesmas mãos que balançavam para Deus em noite de oração, de manhã e de tarde pegavam cestas de alimentos ou enxadas e martelos para mudar a sorte dos pobres e desvalidos. Os mesmos pés que dançavam para Deus nas festas da fé subiam o morro e entravam nos buracos mais inacessíveis para mudar a sorte de seus irmãos menos felizes.
Eu vi um povo sem fome porque vi muitas igrejas orando mais e ajudando mais. E foi então que eu disse: - Agora sim acho que o reino de Deus está acontecendo. E os anjos disseram: - Já não era sem tempo. Aqui no céu só entra quem faz alguma coisa pelos pobres e infelizes. E Jesus balançou a cabeça com um leve sorriso. Era noite de Natal. Se ele tivesse sido ouvido antes isso aqui não seria a tristeza que é. Porque Igrejas que não repartem o pão não são Igrejas. Religiosos que não ajudam os pobres não são religiosos. Estão apenas brincando de anunciar Jesus!

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A GRANDE PREOCUPAÇÃO.


A ONU fez uma dura declaração sobre a situação do nosso planeta e o futuro da humanidade. “Ninguém sairá ileso com o que vai acontecer”. O tão aplaudido avanço tecnológico trouxe muitos benefícios, mas também preocupação. O exagerado desmatamento das florestas, a emissão de gases, os danos na camada de ozônio, e tantas coisas mais, deixam os cientistas perplexos com relação ao futuro da humanidade. 
 Na fila do supermercado o caixa diz a uma senhora idosa que deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que os sacos plásticos não eram amigáveis ao meio ambiente. A senhora pediu desculpas e disse: - Não havia essa onda verde no meu tempo. O empregado respondeu: Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. A sua geração mão se preocupou o suficiente com o nosso meio ambiente.  Você está certo – respondeu a senhora – nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, refrigerantes e cervejas eram devolvidas à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterelizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas tantas vezes como era possível. Não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subiámos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar nosso carro de 300 cavalos de potência. Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o nosso meio ambiente. Até então as fraldas dos bebês eram lavadas, não tinha fralda descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas maquininhas de 220 volts. A energia solar a eólica secavam nossa roupa. Os meninos usavam a roupa que tinha sido de seus irmãos mais velhos e não roupas sempre novas. Mas é verdade, não havia preocupação com o meio ambiente. TV a gente tinha uma e bem pequena, não estes telões do tamanho de um estádio, que depois será descartado como? Na cozinha, batíamos tudo com as mãos porque não tinha estas maquininhas que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil, usávamos jornal amassado e não plástico bolha ou pellets de plástico que levam 5 séculos para começar a degradar. Naquele tempo não se usava motor a gasolina ou elétrico para cortar a grama. Era utilizado um cortador que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ter uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade. Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebiámos diretamente da fonte quando estávamos com sede em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: carregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos descartáveis e poluentes só porque a lamina ficou sem corte. Na verdade tivemos uma onde verde naquele tempo. Naqueles dias as pessoas tomavam o bonde ou o ônibus e os meninos iam com suas bicicletas ou a pé para a escola ao invés de usar a mãe como serviço de taxi 24 horas . E a senhora finalizou: - então não é visível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não pensa viver um pouco como na minha época.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

CADA UM DE NÓS É UM TALENTO ÚNICO

Os gráficos não iam bem. A impressão é que a crise estava chegando. Em função disso foi convocada uma reunião numa grande empresa. O ambiente era tenso e o diretor da organização abriu a reunião com uma ameaça velada: ninguém é insubstituível... A frase ficou flutuando em meio ao silêncio. De repente um braço se levanta e o diretor está preparado para pulverizar qualquer observação: alguma pergunta? Tenho sim, respondeu o funcionário: E Beethoven? Diante do espanto do diretor, esclareceu: o senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu Ludwig Van Beethoven?
Tudo depende da ótica que assumimos. Em certo aspecto todos somos substituíveis e, ao mesmo tempo, somos insubstituíveis. De pessoas insubstituíveis, o cemitério está cheio, costumava declarar o ex-presidente Castelo Branco. Na realidade somos únicos, irrepetíveis. Depois de criar uma pessoa, Deus quebra a forma. No mundo não existe ninguém exatamente igual a nós. Mesmo gêmeos são totalmente diferentes. Nossas impressões digitais são únicas em toda a Terra. É o senhor quem vai substituir nosso vigário, perguntou um paroquiano? Não vim substituir ninguém, respondeu o novo padre, eu vim ocupar o meu lugar.
Quem substituiu Beethoven? Quem foram os substitutos de Airton Senna, Ghandi, Francisco de Assis, Santos Dumont, Teresa de Calcutá, Picasso e Pelé? São insubstituíveis. Assim como o nosso vizinho, o padeiro, a secretária, o professor. Cada um de nós é um talento único. O que deixarmos de fazer, ninguém fará por nós. Sou um só, mas ainda assim, sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. Cada um de nós é apenas uma gota de água no oceano, mas sem ela o oceano será menor.
A vida não é uma competição para ver quem é melhor. A competição é conosco mesmos. Devemos ser o melhor de nós mesmos. Na parábola dos talentos, Jesus fala que eles receberam quantias diferentes. Qualquer resultado era aceito, mas não foi aceita a desculpa daquele que enterrou os seus talentos.
O objetivo da vida não é brilhar. É necessário ocupar com competência o próprio lugar, seja qual for. Um time de futebol é formado com diferentes jogadores. A diversidade é riqueza. Como no futebol, é importante na vida o sentido de equipe. Uma melodia é composta de diferentes notas.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

NINGUÉM NESTE PLANETA FICARÁ IMUNE

O impacto do aquecimento global será “grave, abrangente e irreversível”, segundo um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) divulgado nesta segunda-feira.

A função do IPCC, nas suas palavras é “suprir o mundo com visões científicas claras sobre o estado atual do conhecimento em mudanças climáticas e seus potenciais impactos ambientais e socioeconômicos”.

Autoridades e cientistas reunidos no Japão afirmam que o documento é a avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta.

Integrantes do IPCC dizem que até agora os efeitos do aquecimento são sentidos de forma mais acentuada pela natureza, mas que haverá um impacto cada vez maior sobre a humanidade.

Mudanças climáticas vão afetar a saúde, a habitação, a alimentação e a segurança da população no planeta, segundo o relatório.

O teor do documento foi alvo de intensas negociações em reuniões realizadas em Yokohama. Este é o segundo de uma série de relatórios do IPCC previstos para este ano.

O texto afirma que a quantidade de provas científicas do impacto do aquecimento global dobrou desde o último relatório, lançado em 2007. “Ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas”, disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, a jornalistas nesta segunda-feira.

O secretário-geral da Associação Mundial de Meteorologia, Michel Jarraud, disse que se no passado as pessoas estavam destruindo o planeta por ignorância, agora já não existe mais esta “desculpa”.

O relatório foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas. Jarraud disse que o texto é “a mais sólida evidência que se pode ter em qualquer disciplina científica”.

Nos próximos 20 a 30 anos, sistemas como o mar do Ártico estão ameaçados pelo aumento da temperatura em 2 graus Celsius. O ecossistema dos corais também pode ser prejudicado pela acidificação dos oceanos.

Na terra, animais, plantas e outras espécies vão começar a “se deslocar” para pontos mais altos, ou em direção aos polos.

Um ponto específico levantado pelo relatório é a insegurança alimentar. Algumas previsões indicam perdas de mais de 25% nas colheitas de milho, arroz e trigo até 2050.

Enchentes e ondas de calor estarão entre os principais fatores causadores de mortes de pessoas. Trabalhadores que atuam ao ar livre – como operários da construção civil e fazendeiros – estarão entre os que mais sofrerão. Há também riscos de grandes movimentos migratórios relacionados ao clima, além de conflitos armados.

terça-feira, 1 de abril de 2014

MAIS IMPORTANTE QUE A VITÓRIA É A LUTA.

A história da Grécia antiga exalta a figura de Leônidas, general e rei de Esparta, no quinto século antes de Cristo. Com apenas sete mil homens enfrentou o colossal exército de 200 mil soldados, comandados por Xerxes, rei da Pérsia. Todos diziam que era uma loucura e o aconselhavam a recuar. O próprio rei persa alertou: minhas flechas serão tão numerosas que obscurecerão a luz do Sol. Tanto melhor, respondeu Leônidas: combateremos à sombra.
Estrategista, ele escolheu o local favorável para o combate, o desfiladeiro das Termópilas. Como os persas só podiam avançar em pequenos grupos, os espartanos mataram, em três dias, cerca de 20 mil soldados inimigos. Depois, guiados por um traidor, os persas contornaram o desfiladeiro e surpreenderam o exército de Leônidas. “Entreguem as armas” pediu Xerxes. A última e desafiadora palavra de Leônidas: Venham buscá-las! Ele morreu em combate, assim como todos os seus homens.
A vida nunca é como a sonhamos. As dificuldades estão na ordem do dia. Tudo depende de como enfrentamos a dificuldade. Muitos desistem, outros fazem dela um desafio. A própria derrota não deve ser aceita como definitiva. É sempre um motivo para recomeçar com mais vigor e inteligência. E a história não guarda a relação dos insucessos, mas a vitória final. O livro da vida de cada pessoa vale pela última página. Derrotado no combate inicial Xerxes buscou outra alternativa e venceu.
A vida e o merecimento de cada pessoa não podem ser avaliados pelas vitórias obtidas. O triunfo tem um sabor especial e, normalmente, é o resultado do esforço e da inteligência. Mas o triunfo não é tudo. Mais importante que a vitória é a luta. A vitória nem sempre depende de nós, mas a luta sim. Um dia, Deus não quererá saber se vencemos, mas se lutamos. É a luta - e não a eventual vitória - que dá dignidade à vida. Leônidas tombou no campo de batalha, mas seu nome foi resgatado pelo tribunal da história.
Na Páscoa festejamos a luta e a - aparente - derrota do Senhor. Ele não preferiu o mais fácil, nem mesmo fez concessões. Subiu com decisão a Jerusalém. Foi preso, condenado e morreu na cruz. Mas a última palavra ainda não havia sido dita. Na manhã do terceiro dia Ele ressuscitou, voltou à vida para sempre. Este dado da fé é um incentivo para todos os discípulos de Jesus. É a disposição de pagar o preço exigido pelos nossos ideais. É também a certeza de nossa causa. O mal não terá a última palavra da história. Vida e ressurreição serão as últimas palavras. É uma história com final feliz.