sábado, 19 de abril de 2014

A TRISTE MORTE DO MENINO BERNARDO.

Alegre, puro, inocente... todos esses adjetivos são poucos e parcos para dizer desse sorriso que há dias enche os olhos, o coração e os lares brasileiros. O rostinho de Bernardo virou personagem obrigatório da leitura dos jornais diários, da escuta de Jornais de TV. Mais que isso, tornou-se figura central das indagações interiores, dos medos, dos fantasmas de todo cidadão deste país.
No sorriso de Bernardo, de repente todos nós vimos aterrados os rostos de nossos filhos, netos, sobrinhos; filhos e netos de amigos ou crianças várias a quem queremos bem. Todos tomamos consciência de que Bernardo é qualquer criança brasileira ameaçada por uma fatalidade impensável, que chega e ceifa sua vidinha que mal começa a brotar, sem explicações.Bernardo é o retrato da infância do Brasil e do risco que representa ser criança hoje, aqui e agora.
Não se trata de uma criança de rua, abandonada, que tem de lutar desde cedo pela sobrevivência. Pelo contrário. As fotos que circulam pela internet, nos blogs e na mídia, nos enchem os olhos com um menino que possui todos os objetos de desejo com que sonham as crianças de hoje. Vê-se também que os que a cuidavam se preocupavam com suas roupas, seu cabelo. Veste-se , arruma-se para ir a um aniversário ou a uma festinha.
Tampouco é uma criança a quem faltou afeto. Aparece abraçada à família que procurava nas horas de solidão , aos colegas e amigos. As manifestações destas pessoas por ocasião de sua morte nos dão a certeza de que Bernardo certamente foi muito amado por muitos nos onze curtos anos em que viveu. Deixou muita saudade, lágrimas, pena atrás de si. Por isso mesmo é maior a perplexidade quando nos perguntamos: quem pode ter assassinado essa criança, meu Deus? A quem interessaria acabar com essa vidinha que a ninguém ameaçava e que tinha a fragilidade e a vulnerabilidade próprias da infância?
A perplexidade triplica e começa a receber tintas de verdadeiro horror quando os principais suspeitos passam a ser o pai e a madrasta do menino. O tempo passa, os dois negam e colaboram com a polícia. Mas o fato é que estão sozinhos no cenário do crime. E à medida que o cerco se fecha, mais e mais se vai chegando à conclusão de que naquele dia,  só havia três personagens: o pai, a madrasta e a criança a quem tristemente coube o papel de vítima.
São perguntas que nos habitam e nos tiram o sono de noite e de dia. E tão intrigados nos deixam pelo fato de Bernardo ser tão próxima de nossa realidade e, por isso, tão íntimo que parece que a conhecemos desde que nasceu. Trata-se talvez de mais uma criança inocente que, de repente, se vê como pivô de um conflito amoroso ou passional. Uma criança a mais que se vê dilacerada entre dois amores, duas famílias. Em meio aos amores frustrados, às uniões fracassadas, às novas uniões problemáticas e conflitivas, Bernardo flutuava como um anjo até o momento em que se encontrou, talvez no momento errado, no meio de uma explosão de afetos mal resolvidos. Isso lhe custou a vida. Os dias passam e a palavra final sobre o crime ainda não foi dita. No fundo de meu coração, rezo e espero que os culpados não sejam o pai e a madrasta. Bernardo, que agora está em paz, não merece ter vivido em seus últimos momentos o terror de ver a figura do pai ou da madrasta, que horas antes o acariciavam, agredindo-o, machucando-o e matando-o.
A Justiça prossegue sua pesquisa e seu caminho. Nós, que a tudo assistimos, continuamos com nossa perplexidade e nosso horror. O sorriso de Bernardo nos persegue, lembrando-nos que a vida é bela e deliciosa. Mas a vida do outro, sobretudo do outro pequeno e indefeso, que não pode falar por si ou defender-se, é algo de extrema seriedade, que não pode ser colocada em risco quando os conflitos e os problemas pessoais explodem como bombas traiçoeiras.

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