domingo, 28 de agosto de 2022

A DEMOCRACIA QUE EU SONHO.

Estamos todos empenhados em salvaguardar uma democracia mínima diante de um presidente desvairado que continuamente a ameaça. Como vivemos uma crise geral, paradigmática e irremissível, convém já agora sonhar com outro tipo de democracia.

Parto de um pressuposto, segundo dados de cientistas sérios, de que enfrentaremos dentro de poucos anos, devido ao acelerado e irrefreável aquecimento climático, grave risco de sobrevivência da espécie humana. A Terra será outra. Se quisermos continuar sobre este planeta temos que, por primeiro, minorar os efeitos danosos, com ciência e técnica e por fim, elaborarmos um outro paradigma civilizatório, amigável à vida e sentindo-nos irmãos e irmãs de todos os demais seres vivos. Pois possuímos com eles o mesmo código genético de base. Dizem-me: ”você é pessimista”! Respondo com Saramago: ”não sou pessimista; a realidade é que é péssima” Já em 1962 a bióloga estadunidense Rachel Carson em seu famoso “A primavera silenciosa“(Silent Spring) advertia sobre a crise ecológica e concluía: ”A questão consiste em saber se alguma civilização pode levar adiante uma guerra sem tréguas contra a vida sem destruir a si mesma e em perder o direito de ser chamada de civilização“. Por isso a urgência de mudarmos de paradigma e de modelo de democracia.

Dentro deste contexto realista proponho a urgência de um outro tipo de democracia: a sócio-ecológica. Ela representaria a culminância do ideal democrático.

Subjacente a ela vigora também ideia originária de toda a democracia: tudo o que interessa a todos e a todas deve ser pensado e decidido por todos e por todas.

Há uma democracia direta em pequenas comunidades. Quando são maiores, projetou-se a democracia representativa. Como, geralmente, os poderosos a controlam, propôs-se uma democracia participativa e popular na qual os do andar de baixo podem participar na formulação e acompanhamento das políticas sociais. Avançou-se mais e descobrimos a democracia comunitária, vivida pelos povos andinos, na qual todos participam de tudo dentro de uma grande harmonia ser humano-natureza. Viu-se que a democracia é um valor universal (N.Bobbio) a ser vivida cotidianamente, uma democracia sem fim (Boaventura de Souza Santos). Face ao risco da eclipse da espécie humana, todos para se salvar se uniriam ao redor da superdemocracia planetária (J.Attali).

Mais ou menos nesta linha, penso numa democracia sócio-ecolôgica. Os sobreviventes das mutações da Terra, estabilizando seu clima médio por volta de 40 ou mais graus Celsius, como forma de sobrevivência, forçosamente, terão que a se relacionar em harmonia com a natureza e com a Mãe Terra. Dai se propõem a construir uma democracia sócio-ecológica. È social por envolver a toda a sociedade. É ecológica porque o ecológico será o eixo estruturador de tudo. Não como uma técnica para garantir a sustentabilidade do modo de vida humana e natural mas como uma arte, um novo modo de convivência terna e fraterna com a natureza. Não obrigarão mais a natureza a adaptar-se aos propósitos humanos. Estes se adequarão aos ritmos da natureza, cuidando dela, dando-lhe repouso para se regenerar. Sentir-se-ão não apenas parte da natureza mas a própria natureza, de sorte que cuidando dela, estão cuidando de si mesmos, coisa que os indígenas já sabiam.

A singularidade do ser humano e isso foi comprovado pelos neurólogos, geneticistas, bioantropólogos e cosmólogos, é comparecer como um ser-nó-de-relações, de amorosidade, de cooperação, de solidariedade e de compaixão. Tal singularidade aparece melhor quando a comparamos com os símios superiores dos quais nos diferenciamos em apenas com 1,6% de carga genética. Eles possuem também uma vida societária. Mas se orientam pela lógica da dominação e hierarquização. Mas nós nos diferenciamos deles pelo surgimento da cooperação. Concretamente, quando nossos ancestrais humanóides saiam para buscar seus alimentos, não os comiam individualmente. Traziam-nos para o grupo e viviam a comensalidade solidária. Esta os fez humanos, seres de amor de cuidado e cooperação.

Se queremos sobreviver juntos, esta democracia se caracterizará por ser uma ecológico-social ou sócio-ecológica. O tempo urge. Devemos gerar uma nova consciência e nos preparamos para as mudanças e adaptação que não tardarão em chegar.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

PRECISAMOS ABRIR CAMINHO.




Recorro ao pensamento de Confúcio. Ele acreditava, em meio a uma China medieval mergulhada na guerra e na violência, que as pessoas são essencialmente boas. Sua natureza boa poderia resultar em práticas virtuosas se fossem corretamente orientadas. No entanto, essa tendência à bondade não significa práticas bondosas invariavelmente. A água pode saciar a sede e irrigar a plantação e também pode inundar as casas e destruir vidas. Da mesma forma pessoas, e principalmente sociedades, podem ser construtivas ou destrutivas. Tudo depende das circunstâncias e das condições materiais e morais.

O artista Criolo parece ter usado o pensamento de Confúcio para analisar nosso cotidiano ao cantar em seus versos que as pessoas não são más, elas só estão perdidas e dizer que ainda há tempo. A maioria das pessoas é boa nos anos bons e má nos anos ruins. Não há nada mais determinante de um ano bom ou ruim do que a economia. Refiro-me a economia real, vivida no bolso das pessoas, no ato de ir comprar alimentos, ganhar a vida.


A partir de 2013, essa economia começou a piorar. E as pessoas acharam no governo de ocasião, no caso o PT, o culpado perfeito para expiar os efeitos de uma crise econômica global. O que se seguiu não precisa ser repetido. E lá se vão quase dez anos.


Nesse período todo se deu a busca nacional por outro caminho para resolver a economia sentida. E um caminho contrário ao que havia antes teve 6 anos de oportunidades. A economia sentida só piorou. 50 milhões de pessoas mal têm o que comer.

A mesma sociedade que deu 4 vitórias ao PT, deu uma vitória a sua negação. As famílias que brigaram por política nesses tempos, por mais que tenham se colocado em trincheiras opostas, são produto do mesmo barro, e não há em seus corações uma maldade intrínseca.

Um governo capaz de inspirar práticas virtuosas pode surgir dessas eleições. As pessoas tem em si o potencial do que é belo e bom. Precisamos abrir caminho. Começa pela vitória eleitoral, mas é só o primeiro passo. Reconstruir a economia sentida, incutir boas expectativas que orientem a energia vital e a capacidade de luta para causas justas. É possível.

O lado de cá precisa ter garra sem ódio. Esperança ao invés de revanchismo. A virtude social é uma construção generosa, ampla. À luta sem briga. Trata-se de abrir o rumo.

A bondade intrínseca da maioria de nossa gente brotará novamente. O galo vai insistir em cantar, por que é de sua natureza cantar. Água nova brotará por que é de sua natureza brotar. E a gente vai se amar por que somos vocacionados para o amor.
Só precisamos abrir o rumo. Lutemos a luta parteira de um futuro melhor!

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

ALGUMAS IGREJAS SÃO COMITÊS DE CAMPANHA.

Hoje, peço licença para publicar um texto do cantor e compositor Ricardo Neggô Tom, por achar que serve para uma reflexão:

 Durante comício realizado em São Paulo, Lula declarou que "se o pastor estiver falando coisa séria, a gente respeita, mas se estiver mentindo, temos que enfrentá-lo. ” Claramente, um recado direcionado a lideranças evangélicas bolsonaristas, como o pastor e deputado Marco Feliciano, que tem semeado entre os fiéis de sua igreja a mentira de que Lula irá fechar igrejas evangélicas. Quem dera. Pelo menos, para igrejas como as de Feliciano e outros picaretas da fé que sobem ao púlpito para pregar o evangelho do roubo, da morte e da destruição, orientando o voto de suas ovelhas segundo os próprios interesses. A fala de Lula sugere a criação de uma sessão pública para descarrego de pastores. Porque é mais fácil encontrar um cego que voltou a enxergar num culto da Universal, do que encontrar um pastor evangélico bolsonarista que não minta.

Tais igrejas se tornarão verdadeiros comitês de campanha eleitoral que escondem atrás do nome de Jesus Cristo, o nome de outro messias. Ainda que esse, apesar de ser considerado um mito, já tenha declarado que não faz milagres. Se Cristo é o caminho a verdade e a vida, Bolsonaro, é o buraco, a mentira e a morte. Os pães que Jesus multiplicou e repartiu entre a multidão, Bolsonaro comeria sozinho com leite condensado. Talvez, nem se dignaria a oferecer um pedaço a Michelle, aquela que vem sendo usada como pastora em sua campanha e tem profetizado uma nação cujo presidente é Deus e seu marido é o seu enviado. Quando Lula tem a coragem de confrontar os falsos profetas que comandam esse neopentecostalismo capitalista e diabólico, ele desafia os fariseus chefes dessas igrejas a fazer em algo que nem Deus ainda conseguiu que eles fizessem. Falar a verdade. Porque é mais fácil o assassino Guilherme de Pádua ir para o céu, do que encontrar um pastor evangélico bolsonarista que não minta.

Voltando a Marco Feliciano e a defesa da igreja de Jesus Cristo que ele diz estar fazendo ao espalhar mentiras sobre Lula, é possível encontrar na internet um vídeo no qual ele faz uso do altar de sua igreja para pedir que suas ovelhas votem em Dilma Rousseff e compara Lula a uma figura “messiânica” que conquistou o mundo durante os seus 8 anos de mandato. Abrindo o paletó e mostrando uma camisa do PT com o nome da ex-presidenta, Feliciano declara à igreja de Jesus, ou à dele mesmo, como queiram, que “sou cristão e voto em Dilma” Será que Deus, que ele diz estar em contato diário e diuturno, ainda não havia revelado a ele que o PT era um partido das trevas, que a esquerda queria destruir a família cristã brasileira e que Lula voltaria em 2023 para fechar as igrejas? Mas não foi apenas Marco Feliciano que não recebeu de Deus tão importante revelação. Silas Malafaia, Edir Macedo, Magno Malta, entre muitos outros amigos mais chegados ao todo poderoso, também já apoiaram Lula e Dilma. Ou Deus os estava provando em sua honestidade, ou ele nunca revelou nada a eles. Porque é mais fácil o dinheiro do dízimo estar caindo na conta de Deus, do que encontrar um pastor evangélico bolsonarista que não minta.

A próxima eleição será marcada pelos duelos entre o bem e o mal, a verdade e a mentira, o amor e o ódio, a vida e a morte. Mas é preciso estar atento para não escolher o lado errado, achando que escolheu o lado certo. Porque é mais fácil o diabo se passar por Deus, do que encontrar um pastor evangélico bolsonarista que não minta.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

CREIA: UM POUCO DE LUZ DESFAZ A ESCURIDÃO.

 

Como é fácil para um candidato da nova direita como Bolsonaro apresentar à massa eleitoral essa tríade: ele rezando (Deus), com bandeira do Brasil (Pátria) e com Michelle ao lado (Família), três cenas de comoção garantida e atração irresistível para o povão. Quem pode ser contra a reza, a bandeira verde-amarela e uma esposa (sobretudo se é bem feminina)?”

“Os intelectuais podem falar o que quiserem contra esse populismo de direita. Mas que funciona, funciona. E é isso que importa à direita, e acho que deveria importar também à esquerda, sem ofensa à ética, pois dá perfeitamente para defender essas três bandeiras, outrora integristas, como valores morais, à condição, contudo, de não serem excludentes: dos sem religião, das outras pátrias e dos LGBT+respectivamente”.

“Mas mesmo que ganhe o Lula, o que as pesquisam indicam, a questão das três bandeiras acima permanecerá. E os bolsonaristas continuarão a agitá-las, como as está agitando a nova direita em todo o mundo (veja Trump, Putin, Le Pen, Salvini et caterva). E é a “bandeira Deus”, sobre todas as outras, que ser vai mais politizada pela nova direita, e isso tanto mais quanto menos a velha esquerda digeriu essa questão e quanto menos atenção a própria Igreja, progressista ou liberacionista que seja, parece dar a mudança de Zeitgeist (do espírito do tempo), designado como pós-moderno”.

O grande desafio da campanha da coligação ao redor de Lula/Alckmin, que é também das Igrejas cristãs históricas, principalmente da Católica, é como atrair estas massas, manipuladas e ludibriadas pelas igrejas pentecostais, para os valores do Jesus histórico, muito mais humanitários e espirituais do que aqueles apresentados pelos “pastores e bispos” autoproclamados e verdadeiros lobos em pele de ovelha. Estes usam a lógica do mercado, da propaganda e estilos que contradizem diretamente a mensagem bíblica e de Jesus, pois, utilizam-se diretamente da mentira, da calúnia, da fake news.

Vale mostrar a estes seguidores das Igrejas pentecostais, como Jesus dos evangelhos sempre esteve do lado os pobres, dos cegos, dos coxos, dos hansenianos, das mulheres doentes e os curava. Era extremamente sensível aos invisíveis e aos mais vulneráveis, homens ou mulheres, em fim, àqueles cujas vidas viviam ameaçadas. Vale muito mais o amor, a solidariedade, a verdade, e acolhida de todos sem discriminação, como os de outra opção sexual, vendo nos negros, quilombolas e indígenas nossos irmãos e irmãs sofredores. Importa se solidarizar com eles e estar junto com eles para fazerem o seu próprio caminho. Esse comportamento vale muito mais que o “evangelho da prosperidade” de bens materiais que não podemos carregar para a eternidade e, no fundo, não preenchem nossos corações e não nos fazem felizes. Ao passo que os outros valores do Jesus histórico vão conosco como expressão de nosso amor ao próximo e a Deus e nos trazem paz no coração e uma felicidade que ninguém nos pode roubar.

Logicamente, importa desfazer as calúnias, rebater as falsificações e, eventualmente, usar os meios disponíveis para incriminá-los juridicamente.

Vale sempre crer que um pouco de luz desfaz toda uma escuridão e que a verdade escreve a verdadeira página de nossa história.

O Brasil merece sair desta devastadora tempestade e ver o sol brilhar em nosso céu, devolvendo-nos esperança e alegria de viver.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Quando a invasão à Rússia fracassou e os aliados estavam prestes a tomar a Alemanha, Hitler se matou, depois de deixar ordens expressas para que seu ministro da propaganda, Joseph Goebbles, assumisse o poder. Mas no dia seguinte, primeiro de maio de 1945, quando ficou claro que o regime nazista realmente sucumbiria, Goebbles e sua esposa Magda assassinaram seus seis filhos com veneno, cinco meninas e um garotinho, e depois se mataram no mesmo porão em que Hitler havia morrido, na véspera.

Para eles, era insuportável viver num mundo regido por um sistema diferente daquele em que acreditavam. Para os fundamentalistas, é assim. Pois quanto mais frágil for a base que alicerça um pensamento, com mais rigor e fúria um ser humano tentará defende-la. Porque se aquela ideia, volátil como uma nuvem, ruir, o mundo (vazio) interior daquele crente desaba junto.

Assim como acredita ser inconcebível viver num mundo de ideias diferentes das suas, o radical também acha impossível que o outro, que não concorde com ele, exista em seu universo. O que lhe permite acreditar que tenha o direito legitimado por Deus de exterminar este outro da face da Terra. Seja pelas câmaras de gás dos campos de concentração ou camburões; seja invadindo a casa de uma pessoa, em plena festa de aniversário dela, sem importar-se até mesmo com a quantidade de testemunhas do crime. Pois o direito de matar o diferente, foi legitimado!

É muito importante refletirmos sobre isto, pois teremos de conviver com o bolsonarismo daqui em diante, independentemente do resultado das eleições. Mesmo que, no futuro, a imagem do ídolo atual seja substituída por outra, o que é bem provável, o bolsonarismo veio pra ficar. Porque pessoas de alma intransigente sempre existiram, mas, agora, que tiveram seu sentimento (e – pior – seu comportamento) de intransigência legitimado pelo ‘mito’, não voltarão mais pra suas “casinhas”. Assim como as mulheres que se libertaram da violência doméstica não voltarão a apanhar em silêncio. E o bolsonarismo nasceu justamente daí: do violento revoltado com a nova postura de não-aceitação da vítima. Uma mudança deu origem à outra. Quanto mais a empregada doméstica se tornou exigente, mais a patroa patricinha ficou intransigente. Quanto mais o proletário ganhou, mais o capitalismo arrochou.

E às vésperas de uma nova eleição, que promete um clima tenso, com o uso das forças armadas autorizado por decreto presidencial publicado nesta sexta-feira, dia 12, se deu que, justamente ontem, no histórico 11 de agosto de 2022, quando a Carta em Defesa da Democracia foi assinada por mais de 1 milhão de brasileiros e lida sob o olhar atento do mundo, que o bolsonarista Jorge Guaranho, que matou em flagrante e ante dezenas de testemunhas o petista Marcelo Arruda, por ser bolsonarista e o outro petista, foi colocado em liberdade pelo juiz Gustavo Germano, um mês após sua prisão.

Enquanto a presença de um presidente com discurso beligerante legitima o extermínio daqueles que pensam diferente dele e de seus asseclas, a soltura de Guaranho vai além: legitima a impunidade de tais ações. É, portanto, um passo à frente na barbárie. À beira de uma eleição tensa; no precipício social e econômico em que estamos, ante a dor moral coletiva que enfrentamos (ao menos os que têm moral e lucidez para sentir dor), a soltura de Guaranho equivale a uma carta branca concebida por uma autoridade da Lei para matar impunimente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

OS TRÊS GARGALOS

Os estrategistas da campanha de Lula precisam encontrar saídas para alguns gargalos que favorecem Bolsonaro. Bolsonaro vem dominando a agenda do debate político do país nos últimos meses. Até o início de julho dominou o debate com a PEC da reeleição. Há mais tempo domina o debate com suas arruaças antidemocráticas, de ataque aos tribunais superiores e de suspeição das urnas. Ele capturara as reações da oposição, da sociedade civil e da própria mídia – da grande mídia e da mídia alternativa. Essas arruaças conseguem até mesmo intimidar muita gente.

O segundo gargalo diz respeito ao uso do discurso religioso, moralista e obscurantista pelo bolsonarismo. Esse discurso constitui uma tática de mobilização de afetos que radicalizam o ativismo de extrema-direita e bloqueia qualquer fluidez reflexiva quanto à decisão do voto. Parece que os estrategistas de esquerda não compreenderam até hoje a importância da mobilização dos afetos e o poder do estímulo ao ódio na política.

O terceiro gargalo se refere a como enfrentar o uso inescrupuloso do aparelhamento do Estado para fins eleitorais. Encontrar uma saída tática para esta investida, como se disse, é difícil por conta dos erros cometidos pela oposição parlamentar. Aqui, no máximo, se conseguirá apenas uma política de redução de danos.

Por fim, os estrategistas da campanha precisam dar vasão a uma campanha combativa, mobilizadora dos ativistas, dos militantes e dos movimentos sociais. Uma campanha popular, de mobilização de rua e de organização. Somente uma campanha com este teor poderá influenciar positivamente o caráter progressista do governo Lula. O resgate da democracia não pode ser um impeditivo para o seu aprofundamento. A democracia são as regras do jogo mas também o seu conteúdo social e econômico. A campanha de Lula não pode ser aprisionada por um discurso de uma democracia minimalista e elitista.

A fantasia desta campanha precisa voltar-se para o futuro. E o futuro está na proposição de uma democracia que resolva os problemas sociais, que produza mais igualdade. A fantasia consiste em conferir um caráter plebeu, tanto à campanha, quanto à democracia.

sábado, 13 de agosto de 2022

TEM QUE SENTAR EM UMA ENCRUZILHADA.

O núcleo de campanha de Bolsonaro à reeleição exigiu que a primeira-dama, Michelle, entrasse de ‘cabeça’ para minimizar a rejeição do presidente entre o eleitorado feminino, mas tudo indicava que Michelle não queria participar da campanha de maneira incisiva.

A partir da convenção do PL que homologou a chapa Bolsonaro/Braga Netto, em evento realizado no Maracanãzinho, Michelle não resistiu e teve participação destacada na comunicação com o público.

Em tom messiânico, fez discurso com menções a Deus: “Eu creio que Deus é por nós, é pelo nosso Brasil, eu creio na libertação, eu creio na salvação, eu creio na cura, no resgate e eu creio que o Brasil será celeiro de benção para outras nações. As palavras do senhor vão cumprir sobre essa terra”.

Sua pregação foi bastante elogiada no QG de campanha, mas Michelle foi mais uma do mesmo, seu fundamentalismo não furou a bolha bolsonarista.

Peça-chave na campanha para reverter a rejeição, Michelle passou a usar o sectarismo, a intransigência e a intolerância religiosa para combater o mal, no caso, a esquerda representada por Lula.

No início de agosto, a primeira-dama, conduziu uma vigília evangélica dentro do Palácio do Planalto. Em uma madrugada, acompanhada de cantores e pastores de igrejas neopentecostais, disse que adentrava a sede do poder Executivo na companhia de ‘intercessores’.

Em discurso recente em Lagoinhas, BH, ao lado de seu marido e do candidato do partido ao governo de MG, Michelle aumentou o tom dizendo: "Vou continuar orando e intercedendo em todos os lugares, e sabe por que, irmãos? Porque por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar foi um lugar consagrado a demônios. Planalto consagrado a demônios, e hoje consagrado ao senhor Jesus. Ali, eu sempre falo e falo para ele, quando eu entro na sala dele e olho para ele: essa cadeira é do presidente maior, é do rei que governa essa nação".

Empoderada, Michelle compartilhou um vídeo produzido e postado pela vereadora Sonaira Fernandes (PL-SP), em que Lula está em um Terreiro de Umbanda, com a legenda: "Lula entregou a sua alma para vencer essa eleição".

Esse vídeo já foi alvo de uma representação feita pela Coalizão Negra de Direitos, que aponta promoção do discurso de ódio. Em uma versão manipulada do vídeo, dá a entender que Lula tem uma relação com o demônio.

Michelle estimula o maniqueísmo fundamentalista pregando a guerra entre o ‘bem e o mal’, na tentativa de alavancar a candidatura de Bolsonaro, porque essa é a linguagem de quem o apoia.

O fascismo não debate ideias, não dialoga com quem considera adversário, trata-o como o inimigo que precisa ser destruído, usando a religião para torna-lo algo sobrenatural e desumanizado, como o demônio.

Ao ‘chutar’ o despacho, Michelle legitima a intolerância religiosa e a incitação ao ódio que descamba para a perseguição e invasão a Terreiros de Umbanda e Candomblé pelos fanáticos da ‘esquina’, legalmente armados pelo governo.

A primeira-dama precisa sentar em uma encruzilhada, fazer um Ebó de limpeza do facciosismo, racismo, preconceito, dualismo, estudar sobre as religiões de Matriz Africana, respeitar seus Orixás, aprender com Exu, o Orixá da comunicação e da linguagem, mensageiro entre os seres humanos e as divindades, antes de sair por aí satanizando e pregando contra o amor e a união, razões da existência de Deus.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

DELTAN DALLAGNOL ESTÁ INELEGÍVEL

 

247 -Relator do caso da farra das diárias da Lava Jato no Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro Bruno Dantas votou nesta terça-feira (9) pela condenação do ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos). Dantas foi acompanhado pelos outros quatro ministros e, portanto, Dallagnol está inelegível.

O tribunal julgou irregularidades no pagamento de diárias a procuradores da Lava Jato que causaram um prejuízo de cerca de R$ 2,7 milhões aos cofres públicos. Segundo o Ministério Público junto ao TCU, procuradores da força-tarefa poderiam ter usado opções mais econômicas de diárias e passagens. Em vez de serem transferidos para Curitiba, os procuradores recebiam ajuda financeira para trabalhar na capital paranaense, como se estivessem em uma situação transitória.

A escolha de não transferir os procuradores, segundo Dantas, tornou a operação mais custosa. “Opções econômicas e legais havia, e os argumentos apresentados não afastam a viabilidade de sua adoção. O problema não reside propriamente no modelo de força-tarefa (…), mas na reiterada, ao longo de sete anos, inobservância do dever legal de motivar os atos de gestão praticados segundo os princípios da economicidade, da razoabilidade, da impessoalidade, à luz das iniciativas disponíveis".

Além de Dallagnol, o julgamento atinge também o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, responsável por autorizar a criação da força-tarefa e dar aval aos deslocamentos dos procuradores.

Para Dantas, Dallagnol e Janot praticaram “atos antieconômicos, ilegais e ilegítimos, consubstanciados em condutas que, em tese, podem caracterizar atos dolosos de improbidade administrativa. (...) Voto também para que este tribunal os condene solidariamente a ressarcimento ao erário de R$ 2,83 milhões".

O julgamento ocorreu na Segunda Câmara do TCU. Além de Dantas votaram pela condenação Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Antonio Anastasia, Marcos Bemquerer Costa e André Luís de Carvalho.

sábado, 6 de agosto de 2022

PROJETO CAPITALISTA DE COLONIZAÇÃO DA AMAZÔNIA.

Em meio ao ecocídio acelerado nos últimos quatro anos, os Waimiri Atroari seguem sob ameaça nos dias atuais, seja pela mineração ou por um projeto de integração do estado de Roraima ao sistema elétrico nacional. “Hoje estão praticamente confinados na sua área por força de um consórcio formado pela Eletronorte com a Mineração Taboca, da empresa Paranapanema, que explora minerais preciosos, além de outras coisas que devem também explorar”, diz.

O caso abordado em Tom Vermelho do Verde é um entre muitos. Os Waimiri Atroari foram vitimados particularmente porque ofereceram forte resistência ao avanço dos militares.

O projeto capitalista de colonização da Amazônia, tratada pelo regime como se fosse despovoada, considerou a população indígena economicamente improdutiva e um entrave para o progresso do “Brasil grande”. Grupos religiosos foram instrumentalizados como pontas-de-lança de grandes empresas colonizadoras, sob o pretexto de atuar como evangelizadores.

Esse modelo vigora na região até o presente, segundo o filósofo: “pastores de origem norte-americana ainda hoje operam na Amazônia em função de exploração, para, entre aspas, domesticar os povos indígenas para que não apresentem resistência à entrada de empresas mineradoras, madeireiras e coletoras de espécies raras de animais, flores e frutos”.

Na opinião de Frei Betto, a Igreja Católica tem feito uma autocrítica sobre sua atuação no processo histórico de colonização, sobretudo por intermédio do Papa Francisco. "Ele acaba de pedir perdão aos indígenas no Canadá pela ação colonizadora da Europa no nosso continente e pelas aberrações que foram cometidas em nome de Deus contra suas crianças, que foram retiradas de suas aldeias, abusadas e trabalharam em regime de escravidão”, lembra.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), criado com participação das igrejas católica e protestante, é para ele a instituição que mais confronta a atual Fundação Nacional do Índio (Funai), que ele chama de “Funerária Nacional do Índio”.

O religioso diz que mesmo acontece em relação à diversidade de etidades em atividade na Amazônia: "Há ONGs que lutam a favor dos povos originários e ONGs conspiradoras, que são meras testas-de-ferro das empresas colonizadoras".

Frei Betto alerta que o descaso com os povos originários não é assunto apenas de projetos ditatoriais ou autoritários de poder, mas se estende a governos progressistas e ao comportamento geral da sociedade. “No Brasil nunca houve uma preocupação efetiva ou intelectual da esquerda com a questão indígena”, particulariza.

O especialista refere-se ao genocídio das nações indígenas na chegada dos europeus à América como “o maior holocausto que se conhece na história humana”: “70 milhões de indígenas teriam sido trucidados em apenas dois séculos. Calcula-se que o Brasil tinha 5 milhões de indígenas quando Cabral chegou, e hoje temos pouco menos de 1 milhão”. Ainda assim o religioso menciona o crescimento recente da população indígena no Brasil, motivado por um resgate progressivo da autoestima desses povos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O QUE POEMOS ESPERAR?

 

Um Presidente da República proferir contra as urnas e contra Ministros do STF já é um crime. Um candidato a Presidente da República fazer o mesmo pode ter o título cassado. Isso vale para todas as pessoas no Brasil, menos para Bolsonaro, que continua a tencionar as relações institucionais sem se preocupar, afinal nenhuma punição foi tomada e nem será tomada a despeito de seu advogado e amigo, Aras, continuar mostrando que no Brasil vale o ditado de dois pesos e duas medidas. Seu próximo intento será a data simbólica de 7 de setembro.

Desde o sete de setembro de 1822, não se via manifestações golpistas como nos dias atuais de temor por conta do cenário de derrota de Bolsonaro. Com o avanço do isolamento do presidente e sua visão de no mínimo uma prisão no fim do túnel, Bolsonaro tenta planos A, B e C ao mesmo tempo para impedir o que já está se consolidando em todas as pesquisas de intenção de votos. Para a tentativa desesperada de vencer a qualquer custo, vale tudo. Tudo com anuência do congresso e CGU, afinal, são suas únicas tábuas de salvação neste momento. Já se estourou o teto de gastos, o que antes deu impeachment de Dilma, já tentou colocar todo orçamento para um Bolsa família apenas no período eleitoral, já estão pensando em um emprego vitalício no senado, mas principalmente o que será mais humilhante para ele será a derrota no primeiro turno.

Agora, órgãos de inteligência suspeitam de ataque no dia sete de setembro, com viés golpista por grupos pró-Bolsonaro. Não é surpresa essas tentativas de criar o caos incentivado pelo presidente, que não pretende para essa escalada da violência até as eleições. Pretendem atacar os próprios apoiadores para colocar culpa na esquerda. Não seria surpresa o que pode acontecer, olhando para Bolsonaro, seus filhos e o regime de ditadura militar que Bolsonaro tanto gosta.

Há 34 anos, Bolsonaro foi expulso da corporação por planejar ataques em uma adutora e quartéis do Rio de Janeiro. Foi considerado terrorista e marcado pelo próprio governo Geisel como perigoso. O presidente negou tudo, mentiu para a revista Veja na época, e a perícia da Polícia Federal concluiu que as anotações nos esboços eram mesmo dele. Todo o inquérito foi parado depois dele ser eleito deputado estadual em 1989. Outros que planejam golpes estão no gabinete do ódio, que incluí seus filhos. A extrema-direita vem bem articulada mundialmente tentando o mesmo modus operandi em vários países, e se ajudam mutuamente. A invasão do Capitólio, triste página do final da eleição americana e espelho do que está por vir por aqui, e Eduardo Bolsonaro está sendo incluído nas investigações deste crime. Lembrando que Eduardo estava nos EUA no dia da invasão e ainda visitou a filha de Trump, o empresário Michael Lindell e outros aliados de Trump envolvidos no planejamento do ataque ao Congresso. Quanto ao regime militar, podemos lembrar-nos da mais famosa tentativa com a bomba do Riocentro. Triste retrato da época que foi o início do processo de democratização no país.

O que podemos esperar? O início do caos pré-eleição, para impedir o pleito e dar mais tempo para Bolsonaro no poder. Quer ter a chance de colocar o exército na rua e como já havia falado aos embaixadores, arrumando pretexto de legitimidade para manter na presidência à força. Teremos um sete de setembro especial, pela comemoração dos 200 anos da Independia com líderes internacionais presentes. Será uma histeria com o mundo assistindo essa tentativa de golpe. Bolsonaro falou que será a ÚLTIMA VEZ.

Bolsonaro vai para o tudo ou nada. Já falou que preso não vai, sem antes dar tiros. Quando ele diz seguidamente: "Não podemos perder nossa liberdade", lê-se: "Não posso perder a liberdade".

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

BRASIL E BRASILEIROS DE MAL A PIOR.

 

O somatório das políticas econômicas de Paulo Guedes, voltada para pequenos grupos que detêm a maior parte da riqueza, e a falta de ações para a maior parte da população, que sentiu os maiores impactos da crise econômica, resultou na profunda crise humanitária que o Brasil vive.

Os efeitos catastróficos são cruéis para a população mais vulnerável. Temos mais de dez milhões de desempregados. O maior crescimento de vagas nos últimos dois meses foi de emprego sem carteira assinada.

Além disso, a renda média do brasileiro caiu significativamente. Vivemos num país da informalidade, com trabalhos temporários, subempregos e milhões de desalentados. Nesse cenário, a remuneração mensal não alcança nem o valor do salário mínimo.

E, até o fim de 2021, os que chegavam a receber um salário mínimo mensal representavam 36% dos ocupados, de um universo de 33,8 milhões de trabalhadores e trabalhadoras.

Junto ao desemprego e à queda da renda vêm a pobreza e a fome. São mais de 60 milhões de brasileiros com dificuldades para se alimentar, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Temos uma inflação que não sai dos dois dígitos, juros altos que travam investimentos. Sem investimentos não há como promover a criação de novos postos de trabalho e tampouco aumentar a renda do trabalhador, e, com isso não há aumento de consumo. Estamos com inflação e a população perdeu o poder aquisitivo e não consegue mais comprar o que comprava antes.

O governo Bolsonaro preferiu jogar o ônus da alta da gasolina cortando dos estados e municípios a mudar a política de preços dos combustíveis. Paralelamente, a política econômica da equipe de Paulo Guedes nada apresentou para contornar efeitos da estagnação econômica desde que seu presidente tomou posse.

Nada se investiu na indústria do petróleo brasileira. Pelo contrário, priorizaram fatiar a Petrobras e vendê-la aos pedaços em vez de estimular o refino e focar na autossuficiência. Nada se investiu em infraestrutura, logística ou programas de criação de empregos, capacitação profissional, ampliação de vagas no ensino superior. Resumindo, andamos para trás.

Essa crise, primeiro, tirou direitos, depois o emprego, a renda, a comida, a dignidade. Durante a pandemia tirou até mesmo a vida. Não tivemos resposta rápida ou ainda lenta do governo.

A população está abandonada à própria sorte na falta de um chefe de Estado que se preocupe em fazer política pública para resolver os problemas reais do País. Questões que importem para as famílias brasileiras estão fora do radar do ex-capitão.

O Brasil precisa voltar a ter rumos, precisa de diretrizes de governo, de planejamento, de política econômica séria, que pense para o povo, que inclua todos e todas, e não direcionada a especuladores.

Nosso país precisa de programa de primeiro emprego, de oportunidades para jovens, de valorização do salário mínimo, de proteção para desempregados, de recuperação do poder de compra dos aposentados e pensionistas, de política de geração de novos postos de trabalho. É preciso pensar nos preços de itens essenciais.

Modernizar direitos para quem já está no mercado de trabalho, ampliar acesso ao ensino técnico e superior, promover incentivo ao pequeno e micro empresário, fortalecer novamente a agricultura familiar, voltar a ter programas de compras institucionais para pequenos produtores, pensar em soluções para famílias endividadas.

O Brasil precisa voltar a ter empregos para garantir ao povo brasileiros melhores condições de vida e renda para consumir. Sem isso, a economia não sai da UTI em que está. O povo precisa resgatar a esperança e voltar a respirar aliviado novamente. Com trabalho, a população vai poder se alimentar corretamente, resgatar autoestima e a dignidade que já teve!