sábado, 31 de outubro de 2020

NESTE FERIADO DE FINADOS QUE TAL UM ENCONTRO CONSIGO MESMO

Hoje nos interrogamos sobre o sentido de nossa vida e lembramos que ha:

 Tempo de olhar para o futuro e tempo de lembrar nosso passado.
 Tempo de nos pensar como indivíduos e tempo de nos pensar como comunidade.
 Tempo de realizar e tempo de refletir.
 Tempo de ficar sós e tempo de ficarmos juntos.
 Tempo de lembrar e tempo de esquecer.
 Tempo de ensinar e tempo de aprender
 Tempo de dar e tempo de receber.
 Tempo de falar e tempo de calar.
 Tempo de acreditar e tempo de duvidar.
 Tempo de se sentir culpado e tempo de se perdoar.
 Tempo de julgar e tempo de suspender o julgamento.
 Tempo de se entregar e tempo de se dissociar.
 Tempo de viver e tempo de morrer.
 Tempo de rir e tempo de chorar.
 Tempo de ser prudente e tempo de arriscar.
 Tempo de trabalhar e tempo de descansar.
 Tempo de semear e tempo de colher.
 Tempo de ser orgulhoso e tempo de ser humilde.
 Tempo de estar alegre e tempo de estar triste.
 Tempo de ter ilusões e tempo de perdê-las.
 Tempo de esperar e tempo de agir.
 Tempo de amar sem ser amado e tempo de ser amado sem amar.
 Tempos sem sentido e tempos com sentido.

E que a sabedoria se encontra em compreender que o tempo é sempre um, no qual:

 Nosso passado esta sempre presente no nosso futuro.
 A comunidade é formada por indivíduos livres e os indivíduos não esquecem que sempre são parte de comunidades.
 Quem faz deve refletir e quem reflete deve agir.
 Porque os mortos continuam vivos em nos e a vida não pode desconhecer a morte.
 Paramos de falar para ouvir e ouvimos para entender o que estamos falando.
 A prudência não deve eliminar nossa coragem para ariscar e o risco deve ser responsável.
 Quem recebeu já retribuiu e quem deu já recebeu.
 Só aprendemos desaprendendo e só se ensina aprendendo.
 Quem semeou já recolheu e quem recolheu não deixa de semear.
 Não podemos ser orgulhosos se não somos humildes e somos humildes porque somos orgulhosos.
 Estamos sós quando estamos juntos e estamos juntos quando estamos sós.
 Acreditamos sem dogmatismo e duvidamos sem deixar de lutar pelo que acreditamos.
 Só somo livres para encontrar sentido à vida quando descobrimos que ele simplesmente é o que fazemos de nossas vidas.
 Choramos de alegria e rimos para não chorar.
 No há culpa sem perdão, nem julgamentos que não sejam questionáveis.

Porque o tempo nos permite amar e aprender, e ambos são o maior dom da vida, agradecemos:

Que vivemos, que existimos, que chegamos, a este momento.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

HALLOWEEN A ORIGEM DO DIA DAS BRUXAS.


Você sabe como surgiu o Dia das Bruxas, também conhecido mundialmente como "Halloween"? Celebrado em 31 de outubro, é um feriado celebrado principalmente nos Estados Unidos, mas, hoje em dia, comemorado em diversos outros países, inclusive no Brasil.

Têm se tornando cada vez mais populares hábitos como o de crianças se fantasiarem para sair de porta em porta atrás de doces (ou cometer travessuras, para os incautos que não se prepararam para receber os pequenos visitantes), espalhar enfeites e adereços "assustadores" pela casas e participar de festas a fantasia. No entanto, o que se sabe sobre sua origem pouco tem a ver com o significado moderno que essa festa adquiriu - acredita-se que ela se deu há muitos séculos, na Europa, com raízes em um antigo festival celta.

O Halloween tem suas raízes não na cultura americana, mas no Reino Unido. Seu nome deriva de "All Hallows' Eve". "Hallow" é um termo antigo para "santo", e "eve" é o mesmo que "véspera". O termo designava, até o século 16, a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro. Mas uma coisa é a etimologia de seu nome, outra completamente diferente é a origem do Halloween moderno.

Desde o século 18, historiadores apontam para um antigo festival pagão ao falar da origem do Halloween: o festival celta de Samhain (termo que significa "fim do verão"). ...O Samhain durava três dias e começava em 31 de outubro. Segundo acadêmicos, era uma homenagem ao "Rei dos mortos". Estudos recentes destacam que o Samhain tinha entre suas maiores marcas a fogueira e celebrava a abundância de comida após a época de colheita. O problema com essa teoria é que ela se baseia em poucas evidências além da época do ano em que os festivais eram realizados. A comemoração, a linguagem e o significado do festival de outubro mudavam conforme a região. Os galeses celebravam, por exemplo, o "Calan Gaeaf". Há pontos em comum entre esse festival realizado no País de Gales e a celebração do Samhain, predominantemente irlandesa e escocesa, mas há muitas diferenças.

O Dia das Bruxas que conhecemos hoje tomou forma entre 1500 e 1800. Fogueiras tornaram-se especialmente populares a partir do Halloween. Elas eram usadas na queima do joio (que celebrava o fim da colheita no Samhain), como símbolo do rumo a ser seguido pelas almas cristãs no purgatório ou para repelir a bruxaria e a peste negra. Outro costume de Halloween era o de prever o futuro - previa-se a data da morte de uma pessoa ou o nome de seu futuro marido ou mulher. Em seu poema Halloween, escrito em 1786, o escocês Robert Burns descreve as formas pelas quais uma pessoa jovem podia descobrir quem seria seu grande amor.

Muitos destes rituais de adivinhação envolviam a agricultura. Por exemplo, puxar uma couve ou um repolho do solo por acreditar que seu formato e sabor forneceriam pistas cruciais sobre a profissão e a personalidade do futuro cônjuge. Outros incluíam pescar com a boca maçãs marcadas com as iniciais de diversos candidatos e "ler" cascas de noz ou olhar um espelho e pedir ao diabo para revelar a face da pessoa amada. A comida era um componente importante do Halloween, assim como de muitos outros festivais. Um dos hábitos mais característicos envolvia crianças, que iam de casa em casa cantando rimas ou dizendo orações para as almas dos mortos. Em troca, elas recebiam bolos de boa sorte.

Hoje, o Halloween é o maior feriado não cristão dos Estados Unidos. Em 2010, superou tanto o Dia dos Namorados quanto a Páscoa como a data em que mais se vendem chocolates. Ao longo dos anos, foi "exportado" para outros países, entre eles o Brasil. Por aqui, desde 2003, também se celebra neste mesma data o Dia do Saci, fruto de um projeto de lei que busca resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao Dia das Bruxas. Em sua "era moderna", o Halloween continuou a criar sua própria mitologia. Em 1964, uma dona de casa de Nova York chamada Helen Pfeil decidiu distribuir palha de aço, biscoito para cachorro e inseticida contra formigas para crianças que ela considerava 
 velhas demais para brincar de "doces ou travessuras". Logo, espalharam-se lendas urbanas de maçãs recheadas com lâminas de barbear e doces embebidos em arsênico ou drogas alucinógenas. Atualmente, o festival conserva pouco de sua origem, mas, apesar de ter ganhado nova roupagem, dá oportunidade para que adultos brinquem com seus medos e fantasias. Ele permite subverter normais sociais como evitar contato com estranhos ou explorar o lado negro do comportamento humano. Une religião, natureza, morte e romance. Talvez seja esse o motivo de sua grande popularidade.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O AMOR-SERVIÇO.




Vez por outra cresce em mim um impulso que, imagino, é comum a muita gente: cancelar e fechar minhas páginas nas Redes Sociais. Especialmente quando percebo nas linhas e entrelinhas de alguns comentários o discurso de ódio que se manifesta nas diferentes extremidades desse meu minifúndio virtual.

Se o equilíbrio está no caminho do meio, aqui os extremos acabam por se tocar, vergados pela mão dupla da intolerância, da violência e dos preconceitos.

Isso me assusta e entristece. Vem o desânimo, o cansaço, a vontade de chutar o arquivo da lixeira…

Em momentos assim, tento recordar (re-cordis = trazer de novo ao coração) o triplo chamado à santidade que recebi quando do meu batismo. Após o rito batismal, o sacerdote diz: “Assim como Cristo foi ungido Sacerdote, Profeta e Rei, que você também viva como membro do Seu corpo”.

Essa unção é afirmação de uma vocação: somos chamados a assumir a missão de sacerdotes, profetas e reis. Mesmo no laicato.

Enquanto os ordenados assumem o sacerdócio ministerial, nós, leigos, pelo batismo, somos, com eles, uma comunidade sacerdotal. Exercemos nosso sacerdócio batismal através da adesão, cada qual segundo sua vocação própria (’Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo’… 1Cor.12,4), à missão de Jesus de Nazaré: ‘amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’ (Mateus 22,37-39).

O leigo se faz profeta quando anuncia e dá testemunho da Boa Nova, quando vive a essência do mandamento do amor. Todas as vezes que vivemos a verdadeira dimensão amorosa, em suas muitas expressões, estamos atualizando a presença de Deus, que é o próprio Amor, no meio de nós.

A função de rei é exercida quando experimentamos o ‘reinado amoroso’ de Jesus, por nosso intermédio, fazendo acontecer renovação e vida nova onde ela é mais necessária. E o que caracteriza o reinado de Jesus?

O amor-serviço: ‘O maior de vocês seja aquele que serve’. (Lc,22-27).

Jesus é mesmo um rei diferente…

Essa meditação me faz um chamado à reponsabilidade: as Redes Sociais são, hoje, território de missão.

Só que…

Além de sacerdote, profeta e rei sou, também, pecador…

É o que me salva.

A percepção das minhas fragilidades e contradições, tão humanas, me faz mais compreensivo e tolerante com as fragilidades e contradições dos meus irmãos e irmãs de Rede. Talvez o único benefício do pecado seja lembrar-me a necessidade do perdão, do exercício de humildade capaz de me fazer entender e acolher o outro também na suas fragilidades e contradições. E, com plena consciência das minhas limitações, me colocar a serviço do amor, ser sinal do amor, ser sacramento do amor.

Nessa trilha, quem me ajuda é Jeremias… (Jeremias 1,5-9)

– “Antes que te formasses dentro do seio da tua mãe, antes que tu nascesses eu já te conhecia (te amava|) e te consagrei para ser meu profeta no Facebook, no Twitter, no YouTube, no WhatsApp. Irás às páginas aonde enviar-te e o que te mando postarás.

– Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei teclar; porque sou limitado, frágil e contraditório como um menino….

Mas o Senhor me disse:

– Não digas, eu sou um menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, teclarás. Não temas porque estou contigo, disse o Senhor.

E estendeu a sua mão e tocou a minha mão, conduzindo-a.

Eis que ponho as minhas palavras no teu teclado.

E, juntos, apertamos a tecla ENTER…

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

NÃO PODEMOS MUDAR O VENTO...

A contaminação dos solos e das águas subterrâneas, por compostos que podem prejudicar a saúde humana, geralmente não é visível ao olho nu e a sua identificação se faz por meio de medidas indiretas.

Essas medidas indiretas podem ser feitas através de métodos geofísicos que servem para avaliar a pluma de contaminação, por exemplo, pelo chorume de um antigo lixão. É como se fosse feita uma radiografia do terreno que vai apontar a mancha dos compostos contaminantes no lençol freático em um determinado local.

Após essa primeira investigação, são feitas as amostragens do solo e do substrato rochoso, mediante a perfuração de poços para a análise em laboratório dos materiais amostrados. A próxima etapa dessa fase de identificação está relacionada à coleta de amostras de água subterrânea pelo seu bombeamento por meio dos poços instalados.

A sistematização, integração e a interpretação desses dados, que no início do estudo encontravam-se ocultos, podem ao final proporcionar um diagnóstico e um retrato da gravidade de uma área contaminada.

Na história da política brasileira poderia ser feita uma analogia entre a investigação de uma área contaminada e dados ocultos que acabaram por desnudar as reais intenções dos dirigentes.

Um dos casos mais famosos é o da renúncia do presidente Jânio Quadro em Agosto de 1961 que após seis meses de governo, atribuiu a forças ocultas a sua saída do governo. O que se sabe, passados anos de investigação da história da política brasileira, é que o ex-presidente queria mesmo era governar sozinho. Ou seja, ele era a própria força oculta.

Nos dias de hoje agentes públicos, a mando de supostas forças ocultas, exercem atividades típicas da gestapo, a truculenta polícia do estado alemão da época nazista.

Geralmente esses agentes públicos, que se prestam para esse tipo de serviço sujo, tem o perfil que se encaixa ao de um psicopata social. Controladores, esses psicopatas não se importam de passar por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos. Se algo ou alguém ameaça seus planos, tornam-se agressivos e chantageadores. São hábeis em inverter o jogo, colocando-se no papel de vítimas. Pagos com o dinheiro dos contribuintes essas verdadeiras forças ocultas põem em risco o funcionamento de determinados setores vitais do serviço público e, consequentemente, a consolidação democrática das instituições.

Mas será mesmo que nos dias de hoje as forças são tão ocultas assim ou a coisa esculhambou de uma vez por todas, está escancarada na nossa cara e não conseguimos esboçar uma mínima reação para virar a mesa?

“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas.” (Clarice Lispector)

terça-feira, 27 de outubro de 2020

TUDO QUE FERE O BEM COMUM EMPOBRECE A POLÍTICA CIDADÃ.

 

O tamanho do descrédito com a política é impactante, principalmente quando se considera a política partidária, incapaz de contribuir na construção de entendimentos que promovam o bem comum, a partir do respeito à sociedade civil na sua insubstituível importância. Reconhecer a importância da sociedade civil é caminho para superar o descrédito com a política. A credibilidade perdida pelo campo político não será recuperada apenas pela união de pessoas credíveis, mas, principalmente, a partir da competência humanística de perceber o valor determinante da sociedade civil. Bem se compreende, no horizonte da Doutrina Social da Igreja Católica, que a comunidade política está a serviço da sociedade civil. Trata-se de um dos fundamentos da democracia.

O Papa Francisco reforça essa convicção na Carta Encíclica Fratelli Tutti ao indicar o papel de líderes capazes de interpretar o sentir do povo, a sua dinâmica cultural e as grandes tendências da sociedade. Líderes qualificados contribuem significativamente para alicerçar um projeto duradouro de transformação e crescimento, privilegiando sempre, por amplo e aprofundado sentido humanístico, o bem comum. Nessa tarefa, reconhecem a preponderância da sociedade civil, que tem por finalidade garantir, a cada pessoa, o direito a esse bem universal. No exercício da política cidadã, percebe-se o inegociável valor das mobilizações que busquem defender interesses cidadãos legítimos. E há de se reconhecer que a comunidade política, embora colegiada e constituindo poder independente, deve se orientar a partir da sociedade civil, hierarquicamente mais importante.

Nessa perspectiva, interesses da dimensão político-partidária deveriam ser relativizados. Essa dimensão precisa estar a serviço da articulação de confrontos ideológicos e de diferenças, para fazer valer a construção de uma sociedade justa e solidária. Há comprometimento da política cidadã quando definições e atitudes buscam claramente contemplar apenas interesses particulares dos que podem mais. Da mesma forma, deturpa-se a política quando o meio ambiente é tratado inadequadamente, sob o jugo da idolatria do dinheiro. A consequência é o enriquecimento de poucos – para muitos, sobram migalhas. Não raramente, nem a lei consegue penalizar os que depredam a Casa Comum, colocando vidas em risco ou as submetendo a dependências equivalentes à escravidão.

Tudo que fere o bem comum enfraquece a política cidadã. Particularmente, merece atenção a ameaça da desigualdade social, com seus vergonhosos cenários que degradam a sociedade, geram exclusão, aprisionando cidadãos em preconceitos e discriminações. O populismo insano, também ameaça a política cidadã. Quem exerce esse tipo de populismo busca atrair consensos e instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob qualquer sinal ideológico, a serviço de um projeto pessoal ou da própria permanência no poder. Não menos grave é quando esse populismo insano, na busca por adesões a projetos pessoais, alimenta as inclinações mais baixas e egoístas de setores da população, submetendo instituições e o ordenamento legal ao servilismo. Por isso mesmo, torna-se ainda mais necessário superar a desigualdade social, com responsabilidade e competência humanística. Esse itinerário contempla a tarefa de se buscar uma economia que faça frutificar as potencialidades de cada região e assegurar uma equidade sustentável, sem o comum extrativismo desarvorado e a ganância que adoece o planeta. A lógica financista de tratar os bens da natureza já revela prejuízos – entre eles as misérias e as pandemias -, caminhos para a sepultura de uma civilização que constrói, lamentavelmente, seu fracasso e o seu fim.

A tarefa de melhor compreender a política cidadã deve mobilizar cada pessoa e, particularmente, os representantes do povo. Os que estão no poder não podem renunciar ao objetivo de ajudar a construir um modelo de sociedade que, assegure a todos o direito ao exercício da cidadania, a partir dos próprios esforços e capacidades. Isso inclui considerar a dimensão social do trabalho, que é o “ganha pão” e o caminho para o crescimento pessoal, a oportunidade para se estabelecer relações sadias e partilhar dons, cultivando a corresponsabilidade no desenvolvimento do mundo. Todos se abram a novos aprendizados para alavancar a política cidadã.

O MUNDO COM SUAS TRANSFORMAÇÕES..

Paira no ar a interrogação sobre o nascimento de uma nova época. Isso porque se vive um tempo de mudanças e de muitas crises – algumas antigas, outras mais recentes, a exemplo desta pandemia da covid-19. De fato, pode estar nascendo um novo ciclo, com transformações locais e globais. É preciso, pois, viver adequadamente este tempo, para que não se percam oportunidades. Os diferentes acontecimentos que afetam o planeta exigem da humanidade superar estreitas mentalidades e equivocadas visões sobre o mundo. Não se pode perder a chance de conduzir o planeta em novos trilhos: a vida é permanentemente ameaçada pelas incompetências humanísticas.


São urgentes os investimentos que capacitem, com maior velocidade, agentes para atuar na condução de diferentes processos, superando práticas e ações já antiquadas, inclusive nos contextos da política e da religiosidade. É necessário se adequar para estar em sintonia e oferecer respostas às muitas exigências e necessidades do mundo atual. Por isso mesmo, é preocupante o risco de se transitar na contramão do caminho que leva a um futuro melhor. Há uma tendência a repetições e rigidez, sustentadas por motivações injustificáveis neste momento crucial da humanidade. Vale investir em novos critérios de leitura e análise da realidade, com incidências na definição de metas – pessoais e institucionais – para que sejam efetivados os avanços possíveis nesta etapa da história. No processo de definição desses novos critérios para se relacionar com o mundo, oportuno é ter em vista uma contundente constatação. 

Pessoas autorreferenciais sofrem de miopias, não conseguem enxergar nem mesmo o que é evidente. São incapazes de reconhecer a realidade e, por isso, levam os contextos institucionais a prejuízos. No exercício de suas funções, essas pessoas dedicam-se a manipular instituições equivocadamente, incapacitando-as para o adequado serviço à sociedade. A promoção de serviços nos contextos social, cultural e político deixa de ser a meta principal. São indivíduos que buscam usufruir da instituição, egoisticamente. Setores religiosos, educacionais, empresariais e outros segmentos correm o risco desastroso de serem contaminados pelo mal da autorreferencialidade, com danos que repercutem na dimensão global da sociedade. Também prejudicial na condução de processos, com efeitos deletérios, é um tipo de intelectualismo que se apresenta como hegemônico, mas não consegue ir além de simples repetição ou da formulação de conceitos, sem propor algo novo. No conjunto de disjunções que incidem sobre a humanidade, constata-se, pois, uma necessidade urgente: investir na inteligência do coração.

O mundo com suas transformações e acontecimentos complexos exige do ser humano novas intuições, emolduradas a partir de análises consistentes. Assim é possível escrever nova página na história com respostas às demandas da humanidade. Existem muitas reflexões propostas por diferentes áreas do saber, mas ainda há certo distanciamento de um núcleo capaz de fecundar intuições: a inteligência do coração. A indiferença em relação ao sofrimento do próximo, que é irmão, a frieza nas relações, a mesquinhez que se revela no apego aos esquemas e às comodidades, são sinais do distanciamento dessa rica fonte de intuições.

A inteligência do coração chama-se compaixão. Ela alimenta a solidariedade, ilumina o olhar que sempre alcança o pobre, sensibiliza a intuição e permite escolher o que é bom para todos. Uma virtude que possibilita descobrir lógicas para além dos cálculos. Oportuno lembrar uma passagem evangélica, quando Jesus, arrodeado por multidão, depois de ter feito milagres, agiu em contraposição ao modo de pensar dos seus discípulos. Os mais próximos de Jesus, vendo que as muitas pessoas ali reunidas estavam com fome e sem ter grande quantidade de alimento para distribuir, sugeriram ao Mestre que era necessário dispersá-las. Jesus, sem ainda realizar o milagre da multiplicação de pães, a partir de seu coração, interpelou seus discípulos com um pedido, convocando-os e a cada pessoa para o exercício da solidariedade: “Sinto compaixão desse povo… dai-lhes vós mesmos de comer.”

domingo, 25 de outubro de 2020

OBJETAR É MAIS DO QUE ESTAR EM DESACORDO.


Governos autoritários e instituições militares valorizam a hierarquia e a submissão aos superiores. Igrejas e religiões falam da obediência como virtude necessária para se viver a espiritualidade. No entanto, a ONU e organismos internacionais, assim como a Constituição de diversos países reconhecem o direito a desobedecer ordens injustas.

Em agosto próximo passado, se completam cem anos do dia 01 de agosto de 1920, quando, na Índia, o Mahatma Gandhi lançou a Campanha de Desobediência Civil. Esta campanha ensinava o povo hindu a desobedecer às autoridades da Inglaterra. Foi o início de todo o processo que culminou com a independência da Índia. Do mesmo modo, nos Estados Unidos do início dos anos 1960, foi a partir da Desobediência Civil que Martin Luther King liderou a luta pacífica pela igualdade racial, ao menos no plano legal. Ainda nos nossos dias, infelizmente, policiais continuam a matar, de preferência, homens negros. Mais infelizmente ainda, nos Estados Unidos, até as Igrejas cristãs se dividem em Igrejas de brancos e Igrejas de negros. No entanto, perante a lei se conquistou a igualdade racial.

A desobediência civil tem sido importante arma pacífica contra estados que cometem injustiças e violações aos direitos humanos. Em Israel, jovens recrutados ao serviço militar obrigatório se negam a combater palestinos a expulsá-los de sua terra e explodir suas casas. Na Europa, jovens conquistaram o direito de prestar serviço a comunidades carentes no lugar de fazer carreira militar. Nos Estados Unidos, jovens se negam a ir fazer guerras e praticar violências em outros países do mundo. Os meios de comunicação não mostram e os governos não divulgam, mas todos invocam um direito individual, assegurado pela ONU: o direito de objeção de consciência. A objeção de consciência é a atitude de quem, por convicção religiosa, social ou política, se nega a pegar em armas e a participar de guerras ou atos violentos. Em vários países, a objeção de consciência é direito civil, reconhecido por lei. No Brasil, a Constituição garante aos jovens brasileiros o direito de fazer um serviço civil no lugar da prestação ao serviço militar obrigatório. Entretanto, as leis complementares não foram sancionadas. Por isso, este direito ainda não se pode exercer e poucos brasileiros têm consciência disso.

A ciência e a arte de viver têm progredido mais por conta das pessoas que ousam desafiar as leis e inovar os costumes do que pela ação das que simplesmente seguem caminhos convencionais. Homens e mulheres, admirados no mundo inteiro, alguns até premiados com o Nobel da Paz, foram ou ainda são, em seus países, considerados como rebeldes e desobedientes. Para os budistas tibetanos, Sua Santidade, o Dalai Lama, é a 14a reencarnação do Buda da Compaixão, mas, para o governo chinês, é um dissidente, desobediente às leis. O prêmio Nobel da Paz foi dado a dois latino-americanos ilustres: Rigoberta Menchu que viveu anos sem poder voltar à Guatemala para não ser morta e Adolfo Perez Esquivel que, durante anos, era constantemente ameaçado de prisão na Argentina. No Brasil da ditadura militar, Dom Hélder Câmara, era escutado no mundo inteiro, enquanto, em nosso país, o governo proibia que os meios de comunicação divulgassem o seu nome. No passado, Gandhi e Martin-Luther King foram presos e condenados como desobedientes à lei. 

Objetar é mais do que estar em desacordo. É opor-se a cumprir uma lei que fere a consciência. A violência, mesmo se é institucional, nunca será capaz de construir um mundo de paz e justiça.

Se a objeção de consciência é direito de toda pessoa diante do poder social e político, com mais razão ainda, as religiões e Igrejas deveriam reconhecer o direito à dissidência e à objeção de consciência diante de um poder religioso autoritário, ou cúmplice de um governo violento e genocida. Conforme a Bíblia, quando os sacerdotes de Jerusalém proibiram os apóstolos a falar em nome de Jesus, estes responderam: “Entre obedecer a Deus e aos homens, é melhor obedecer a Deus”(At 5, 29).

A negação do direito da desobediência civil e mesmo espiritual abre a porta ao fundamentalismo religioso, hoje, responsável por tantos atos de intolerância e mesmo de violência. Há cristãos que apoiam governos irresponsáveis que propagam notícias falsas e estimulam ódio e violência. São adeptos de uma religião civil que utiliza o evangelho em seu beneficio, mas nada têm a ver com Jesus. Na Bíblia, a fé só pode ser vivida na liberdade tanto interior como social. Paulo escreveu aos coríntios: “Onde estiver o Espírito do Senhor, aí haverá liberdade” (2 Cor 3, 17). E aos gálatas: “Foi para que sejamos livres que Cristo nos libertou. Vocês não devem aceitar, por nenhum pretexto, voltar à situação de não liberdade” (Gl 5, 1. 13).

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

EU NÃO GOSTO DE POLITICA , MAS OS CANDIDATOS GOSTAM.

 




Cada vez menos considerada pelos cidadãos, a política fica à mercê do desgoverno excludente do dinheiro, que se torna o mandatário maior. É preciso, pois, revigorar o exercício da cidadania, compreendendo que a “política melhor” é a que está a serviço do bem comum. Esse é o entendimento proposto. Exige reconhecer a incontestável importância da política.

Sabe-se, neste ano de eleições municipais, sobre a importância de se acertar nas escolhas. Há um quadro abundante de candidatos. Isso exige maior atenção dos eleitores para identificar aqueles que são capazes de ir além das promessas e efetivamente trabalhar pelo bem comum. O desafio é saber quem tem qualificação humanística e competência para liderar em uma realidade desafiadora. Apesar de existir ampla lista de nomes a serem submetidos ao voto nas eleições, são raros os que reúnem essas necessárias qualidades. Ao invés disso, observa-se o desprezo sobre a situação dos mais pobres, camuflado sob o formato populista ou liberal para, demagogicamente, instrumentalizar os mais vulneráveis e alcançar interesses egoístas.

É verdade que existem líderes populares capazes de interpretar os anseios de um povo, a sua dinâmica cultural e as grandes tendências de uma sociedade, conforme reflete a Carta Encíclica Fratelli Tutti. “O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento.” Mas, adverte-se:  esse serviço pode se degenerar em um populismo insano. Isso pode acontecer quando a habilidade de alguém para atrair consensos busca instrumentalizar politicamente a cultura do povo e, assim, satisfazer um projeto pessoal – que pode incluir a própria perpetuação no poder. Outras vezes, exerce-se a política somente para aumentar a popularidade, alimentando sentimentos e escolhas que se tornam armas destrutivas das bases do bem comum. É preciso, pois, ter redobrada atenção aos que até são capazes de identificar exigências populares, mas não efetivamente avançam na tarefa árdua e constante de proporcionar às pessoas os recursos para se desenvolverem, sustentarem a vida com o próprio esforço e criatividade.

É incalculável o tamanho do desafio ante a urgência de operar mudança no coração humano para reconfigurar hábitos e estilos de vida. Modos de pensar estreitos e percepções limitadas a respeito do mundo inviabilizam avanços sociais, promovem o fenômeno da superficialização da política, trazendo prejuízos para o exercício da cidadania. Entre essas fragilidades humanas, a Carta Encíclica sublinha a tendência constante para o egoísmo, que faz parte daquilo que a tradição cristã chama “concupiscência” – a inclinação do ser humano a fechar-se na imanência do próprio eu, do seu grupo, dos seus interesses mesquinhos. É hora de fazer nascer contrapontos à política desacreditada, enraizada nas limitações humanas, a partir de vigorosa tarefa educativa. Essa tarefa seja capaz de inspirar hábitos solidários, a consideração da vida de modo integral, com relações mais humanizadas.

Nesse caminho, a própria sociedade reagirá às suas injustiças, às aberrações, aos abusos dos poderes econômicos, tecnológicos, políticos e midiáticos. Torna-se, pois, urgente dedicar-se ao que é necessário para fazer prevalecer a “política melhor”. E a partir de novos sentidos, com narrativas edificantes, estabelecer dinâmicas capazes de banir, definitivamente, obscurantismos e todas as práticas que inviabilizam a preservação da vida, da Casa Comum.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

MAIS RÁPIDO QUE O ESPERADO.

Há décadas cientistas anteciparam o que hoje vivenciamos, trazendo um alerta global para que medidas fossem tomadas para evitar essa calamidade, contudo nem os governo nem a população em geral demonstraram interesse em corrigir as ações que acarretaram tais problemas.

Cientistas preocupados com a emergência climática.
Os cientistas têm a obrigação moral de alertar a humanidade de qualquer grande ameaça. Pelos dados que temos, fica claro que estamos enfrentando uma emergência climática ”, disse o cientista ambiental Thomas Newsome.

O documento “Alerta dos cientistas mundiais sobre uma emergência climática” explora quatro décadas de dados disponíveis ao público. E embora sua primeira publicação seja de abril de 1997, atualmente tem signatários com cientistas de mais de 150 países diferentes.

Suas páginas falam sobre uso de energia, temperatura da superfície, população, desmatamento, gelo polar, taxas de fertilidade e emissões de carbono. Como fatores a ter em conta e que de alguma forma contribuíram para o atual estado de emergência climática.

“A crise climática chegou e está se acelerando mais rápido do que a maioria dos cientistas esperava. É mais grave do que o previsto, ameaça os ecossistemas naturais e o destino da humanidade”, escreveram os autores do documento.

Entre suas conclusões, são exploradas soluções e algumas das ações que mais impactam o clima. Por exemplo, o aumento da produção de carne, o incessante abate de árvores, as taxas variáveis ​​de natalidade e as constantes emissões de carbono para o meio ambiente.

“Apesar de 40 anos de importantes negociações globais, geralmente conduzimos os negócios como de costume e essencialmente não estamos tratando dessa crise”, disse o ambientalista William Ripple.

domingo, 18 de outubro de 2020

O MUNDO INTEIRO COMO NOSSA CASA

 

Acreditamos, à partida, que o pensamento não tem fronteiras. Foi feito para superar limites, para rivalizar com o sonho na visita ao impossível.

Nosso pensamento, como toda a entidade viva, nasce para se vestir de fronteiras. Essa invenção é uma espécie de vício de arquitetura: não há infinito sem linha do horizonte. Desde a mais pequena célula aos organismos maiores, o desenho de toda a criatura pede uma capa, um invólucro separador. A verdade é esta: a vida tem fome de fronteiras. É assim que se passa e não haveria nada a lamentar. Porque essas fronteiras da natureza não servem apenas para fechar. Todas as membranas orgânicas são entidades vivas e permeáveis. São fronteiras feitas para, ao mesmo tempo, delimitar e negociar. O “dentro” e o “fora” trocam-se por turnos.

Um dos casos mais notáveis na construção de fronteiras acontece no mundo das aves. É o caso do nosso tucano, o tucano africano, que fabrica o ninho a partir do oco de uma árvore. Nesse vão, a fêmea se empareda literalmente, erguendo, ela e o macho, um tapume de barro. Essa parede tem apenas um pequeno orifício, que é a única janela aberta sobre o mundo. Naquele cárcere escuro, a fêmea arranca as próprias penas para preparar o ninho das futuras crias. Mesmo que quisesse desistir da empreitada, ela morreria, sem possibilidade de voar.

O amor dá ordem de prisão àquela futura mãe. A pequena abertura na parede servirá, durante duas a três semanas, para que o seu companheiro lhe entregue comida e água. Se o macho morrer, ela morre também. Mesmo neste caso extremo, porém, mesmo neste caso de consentida clausura, a divisória foi inventada para ser negada.

Usando a lógica de Manoel de Barros o que aqueles pássaros construíram não foi uma parede. Foi um buraco. O que eles edificaram foi um vazio, uma redonda ausência de tudo.

O problema é que o nosso pensamento, ao contrário das restantes entidades vivas, facilmente se encerra em si mesmo. Não sabemos fazer paredes vivas e permeáveis. Erguemos paredes inteiras como se fôssemos tucanos cegos. De um e do outro lado há sempre algo que morre, truncado do seu lado gêmeo.

Aprendemos a demarcarmo-nos do Outro e do Estranho como se fossem ameaças à nossa integridade, mesmo que ninguém saiba em que consiste essa integridade. Temos medo da mudança, medo da desordem, medo da complexidade. Precisamos de modelos para entender um universo (que é, afinal, um pluriverso ou um multiverso) e que foi construído em permanente mudança, no meio do caos e do imprevisível. Esses modelos simplificam o que só pode ser entendido como entidade complexa e complicam o que só em simplicidade pode ser apreendido.

Temos medo dos que pensam diferente e mais medo ainda daqueles que, são tão diferentes, que achamos que não pensam. Vivemos em estado de guerra com a alteridade que mora dentro e fora de nós. Esse é o defeito original das fronteiras que fabricamos.

A própria palavra “fronteira” nasceu como um conceito militar. Vem da linguagem bélica francesa e do modo como se designava a frente de batalha. Nesse mesmo berço aconteceu um fato curioso: um oficial do exército francês inventou um código de gravação de mensagens em alto-relevo. Esse código servia para que, nas noites de combate, os soldados pudessem se comunicar em silêncio e no escuro. Essa pequena invenção viria a ter enormes consequências que superavam aquele lugar e aquele tempo. Porque foi a partir desse código que se inventou o Sistema de Leitura Braille. Para milhões de pessoas venceu-se uma pesada fronteira entre o desejo da luz e a condenação da sombra. No mesmo lugar em que nasceu a palavra “fronteira” sucedeu um episódio que negava o sentido limitador da palavra.

A fronteira concebida como vedação estanque tem a ver com o modo como pensamos e vivemos a nossa própria identidade. Essa identidade mora hoje em condomínio fechado. Uma invisível empresa de segurança impede o “Outro” de entrar nesse espaço que chamamos de “intimidade”. Somos um pouco como a tucana que se despluma dentro do escuro. Temos a ilusão de que a nossa proteção vem da espessura da parede. Mas seriam as asas e a capacidade de voar que nos devolveriam a segurança de ter o mundo inteiro como a nossa casa.

sábado, 17 de outubro de 2020

DESCOBRIR A VERDADE E CRIAR A BELEZA.

 




A segunda metade do século XX desdobrou-se em duas fases bem distintas. A primeira delas foi o período marcado pela Guerra Fria, pela descolonização e o esforço de desenvolvimento nos países do chamado Terceiro Mundo, e também pela difusão dos princípios e instituições do Estado do bem-estar social nos países avançados. Na segunda fase, ao contrário, assistimos à predominância mundial do capitalismo, à desagregação da União Soviética, com o consequente desvinculamento de seus satélites europeus, e à afirmação dos Estados Unidos como potência hegemônica planetária.

Como definir essa ameaça? Ela se parece com um imperialismo, mas de uma espécie diversa daquela que conhecemos e analisamos no passado.

O imperialismo antigo, com efeito, fundava-se na dominação territorial de outros povos e visava à sua exploração econômica, para a extração de metais e pedras preciosas, à expansão do mercado de consumo das potências imperiais, ou ao estabelecimento de zonas geopolíticas de segurança. O ônus dessa forma de imperialismo era a administração direta dos territórios colonizados.

O novo imperialismo, ao contrário, não se funda na dominação territorial, mas no controle econômico e financeiro de outros países.

Empreguei intencionalmente o termo “controle”, contrapondo-o a “dominação”. A distinção assim proposta é análoga à que se estabeleceu, na análise jurídica da grande sociedade anônima, entre “propriedade” do capital e “controle” da empresa. Os capitalistas contentam-se em ser proprietários de ações, para renda ou especulação no mercado de valores mobiliários. Já os empresários, embora muita vez possuindo uma minoria de ações, ou mesmo não possuindo ação alguma, exercem de fato o poder de governo da empresa e de disposição do patrimônio social.

No novo imperialismo, de modo semelhante, instituem-se dois níveis de poder de governo nos países controlados. Os governantes “de dentro” exercem a administração direta – tal como os conselheiros e diretores da sociedade anônima –, mas devem submeter-se às diretrizes e políticas econômico-financeiras ditadas pelo controlador, que governa o país de fora. Algumas vezes, o controlador chega a interferir na administração direta do país controlado, impondo-lhe os governantes de sua confiança, ou destituindo os que lhe pareçam perigosos aos seus interesses imperiais.

Ao contrário do que sustentam Antonio Negri, o centro de poder do novo imperialismo não dispensa as estruturas políticas do Estado-nação, pela boa razão de que, atualmente, só países soberanos detêm a potência militar: as organizações internacionais com poder de autorizar a guerra ou de dirigi-la, tais como a ONU e a OTAN, dependem inteiramente do concurso de seus países-membros para formar as suas forças militares.

No campo econômico-financeiro, a dominação mundial é também exercida por Estados-nações, seja diretamente seja pelo controle que detêm sobre as organizações internacionais como a Organização Mundial do Comércio e o Fundo Monetário Internacional.

O velho edifício das Nações Unidas, erigido por iniciativa dos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, para manter a paz e corrigir os efeitos mais desastrosos da miséria ,das populações, está sendo agora desmontado pelos mesmos Estados Unidos, porque a ONU tornou-se um claro obstáculo às pretensões norte-americanas de exercer, isoladamente, o poder imperial sobre toda a face da Terra.

A partir de então, os Estados Unidos vêm-se recusando, sistematicamente, a se submeter às normas internacionais de proteção aos direitos humanos, por considerarem que isso implica limitação de sua soberania. Assim foi com os Protocolos de 1977 às Convenções de Genebra de 1949 sobre a proteção das vítimas de conflitos bélicos, com a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres de 1979, com a Convenção sobre o Direito do Mar de 1982, com o Protocolo Adicional de 1988 à Convenção Americana sobre direitos humanos em matéria de direitos econômicos, sociais e culturais, com o Segundo Protocolo de 1989 ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, com a Convenção sobre os direitos da criança de 1989, com a Convenção sobre a Diversidade Biológica de 1992, com a Convenção de Ottawa de 1997, sobre a proibição de uso, armazenagem, produção e transferência de minas antipessoais, tratados, todos esses, já em vigor no plano internacional. Os Estados Unidos recusaram-se também a assinar a Convenção que instituiu um Tribunal Penal Internacional, aprovada em Roma por uma conferência de plenipotenciários, em 17 de julho de 1998.

Os Estados Unidos vão-se tornando assim, decisivamente, um Estado fora da lei no plano internacional. A reorganização do mundo, para evitar a ressurreição do flagelo totalitário, passa pois, hoje, claramente, pela instituição de estruturas políticas e econômicas internacionais de limitação da soberania das grandes potências, a começar pelos Estados Unidos. É esta a magna tarefa das próximas gerações. Do êxito desse formidável empreendimento dependerá, afinal, a preservação da dignidade da pessoa humana, como único ser no mundo capaz de amar, descobrir a verdade e criar a beleza.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

FUGA DE CAPITAIS E OUTROS PROBLEMAS


No Brasil não há controle de entrada e saída de capitais externos (quarentena ou um tipo de pedágio para o capital que entra no país). O que é típico de país atrasado. Aqui na América Latina o Chile tem, na Ásia, a Malásia dispõe. Seria fundamental realizar controle de capitais, para preservar as economias da voracidade dos capitais especulativos, o chamado capital de motel. Esse tipo de capital, que não passa de um mecanismo de dominação e controle dos capitais sobre economias submissas, obviamente teria que ser muito bem controlado.

Tem sido as reservas acumuladas nos governos Lula e Dilma, que impediram (até aqui) que as contas externas do país entrassem em colapso. São as reservas internacionais - de US$ 343 bilhões em agosto (R$ 1,9 trilhão) - que dão uma certa tranquilidade para o acesso a moeda estrangeira, o que é fundamental nestas horas, já que o Real não é uma moeda de aceitação internacional. Os acumulados em 12 meses das contas de capital passaram a registrar resultado negativo, a partir do terceiro trimestre de 2019. As reservas, por sua vez, que fecharam 2018 no nível de US$ 375 bilhões, em fins de agosto somavam US$ 343,5. Ou seja, as reservas vêm sendo lentamente desgastadas em face da perda líquida de capitais por parte do Brasil.

É evidente que todo e qualquer tipo de reserva é justamente para se usar nas horas de aperto. As reservas só têm sentido se forem usadas numa hora dessas, de aperto financeiro internacional. A questão é que o Brasil está tendo problemas no Balanço de Pagamentos por uma política econômica entreguista e antinacional, que levou a economia para uma situação quase sem saída. Paulo Guedes, Bolsonaro e companhia não tem visão nacional, as políticas são sempre no sentido de favorecer o sistema financeiro internacional, a quem eles servem.

O Brasil pós-golpe é extremamente instável e polarizado. A fuga de capitais se soma a um conjunto de instabilidades. Uma síntese dessa situação é o fato de que a fome epidêmica voltou a assombrar o Brasil, depois do golpe de 2016, com 41% da população brasileira sofrendo algum nível de insegurança alimentar (85 milhões de brasileiros), segundo o IBGE. Com a dívida pública se aproximando de 100% do PIB e a dívida de curto prazo arriscando a alcançar R$ 1 trilhão o Estado brasileiro pode cair em uma situação falimentar. Não há precedente histórico de que destruição em massa de direitos, enfraquecimento dos sindicatos, entrega de patrimônio, aumento do desemprego e da fome, tenha terminado com a polarização política e dado um rumo para o país. Como não será agora que isso acontecerá, há várias possibilidades em aberto.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O PT APARELHOU O FMI.

 




Este texto é de Marcelo Zero, que publico pela sua originalidade.

O marxismo cultural, essa ideologia nefasta idealizada por Gramsci, Marcuse, Adorno e outras mentes perversas, dá, cada vez mais, mostras de sua solerte capacidade de dominar outrora respeitáveis instituições multilaterais.

Com efeito, o atual plano diabólico dos comunistas de dominar o mundo pela conquista da superestrutura, plasmado no globalismo que enfraquece o Estado-Nação e destrói os valores cristãos, únicos valores legítimos da Humanidade, avança cruel e triunfantemente, tal qual um Átila Vermelho, um Gengis Khan leninista.

Prova cabal disso é o último relatório do FMI sobre as perspectivas da economia mundial, o World Economic Outlook de 2020, recentemente divulgado.

Certamente concebido em algum porão globalista, sob os efeitos dos miasmas que emanam dos subterrâneos da Pennsylvania Avenue, em Washington, o relatório destila subliminarmente ideias e propostas incompatíveis com as leis naturais que regem a economia e com os valores liberais que fundamentam a civilização ocidental.

Em seu Sumário Executivo, pode-se ler a seguinte arrepiante passagem:

Os governos devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para combater a crise de saúde e mitigar a profunda recessão, ao mesmo tempo em que devem se preparar para ajustar sua estratégia política, à medida que a pandemia e seu impacto na atividade evoluam. No caso em que as regras fiscais puderem restringir a ação governamental, sua suspensão temporária deveria ser efetuada.......

Prorrogar os vencimentos da dívida pública e manter taxas de juros baixas, na medida do possível, ajudaria a reduzir o serviço da dívida e liberaria recursos para serem redirecionados aos esforços de mitigação da crise.

Embora a adoção de novas medidas de incremento de receita durante a crise seja difícil, os governos precisam considerar o aumento de impostos progressivos sobre os indivíduos mais ricos e aqueles relativamente menos afetados pela crise (incluindo o aumento de alíquotas de impostos sobre faixas de renda mais altas, grandes fortunas, ganhos de capital, e patrimônio), bem como mudanças na tributação que garantam que as empresas paguem impostos proporcionais à lucratividade. Os países também devem cooperar na concepção de tributação internacional das empresas para responder aos desafios da economia digital.

Como se vê, trata-se de ataque frontal aos eternos princípios da economia liberal e aos sagrados direitos do capital, que intenta restituir o Estado intervencionista como pseudo demiurgo da prosperidade. Sem dúvida alguma, é uma peça elaborada por criptocomunistas que seguem os deletérios ensinamentos daquele Lorde inglês, que intentou controlar e conduzir, com objetivos populistas, a infalível mão de Adam Smith.

Contudo, investigação mais aprofundada revela a origem específica do novo relatório do FMI.

Há pouco tempo, o PT, partido comprometido, assim como Marx, com o satanismo, como bem nos ensina Daniel Chagas Torres em “A Cristofobia no Século XXI”, lançou seu “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”, o qual propõe os mesmos anátemas veiculados agora pelo FMI.

Coincidência? Claro que não.

A clara influência do plano do PT no relatório do FMI demonstra que o comunismo petista apoderou-se da burocracia globalista encastelada no FMI, conforme fica evidenciado na figura abaixo.
grafico




Não temos provas, mas, assim como Deltan e Moro, modernos cavaleiros Templários, temos convicção divina. E alguma imaginação.

Não se enganem, a civilização ocidental corre risco de ser tragada de vez pelo Maelstrom do marxismo cultural. A verdadeira e mortal pandemia é a do “comunavírus”; não a do Covid. Esta última ceifa apenas corpos velhos e aposentados, inúteis para a reprodução do capital. Já a primeira destrói jovens almas cristãs, indispensáveis à defesa da única civilização possível.

Agrava muito esse risco o fato de que Trump, o novo Messias, como bem o define Ernesto Araújo, chanceler impoluto e soberano, incontaminado pelo Iluminismo, deverá perder o posto que lhe cabe por direito natural. A conspiração globalista vem tendo êxito na promoção da candidatura de Joe Biden, escrava da agenda do marxismo cultural e dos interesses de Beijing, de Moscou, de Wellington e do ambientalismo vermelho.

Assim sendo, parece que a nova batalha dos Campos Cataláunicos, que anteporá o Átila Vermelho à Cristandade Ocidental, deverá ocorrer em 2022, em terras brasileiras, quando o fogo sagrado do liberalismo viril e cristão combaterá as florestas gayzistas da solidariedade e da igualdade

Antes disso, porém, o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil do PT, com seus tentáculos globalizantes, terá de entrar no Index Librorum Prohibitorum.

Chega de luz, razão e fatos. Queremos as brumas da Terra plana e as fake newsdas redes unidimensionais.

Viva la Muerte!

terça-feira, 13 de outubro de 2020

PRIORIZAR O COLETIVO


O futurologista holandês Christian Kromme pesquisava sobre uma doença genética da filha, em 2011, quando identificou um padrão no desenvolvimento das células e organismos vivos. Foi o ponto de partida para descobrir que o desenvolvimento tecnológico segue o mesmo padrão — e para decifrar o que seria a essência da inovação disruptiva.

Ao escrever sobre como usar essa descoberta para prever a próxima grande onda tecnológica, Kromme seguiu o conhecido caminho que leva autores de best-sellers ao rentável mercado de palestras sobre inovação.

Em passagem pelo Rio de Janeiro, em 2019, o futurologista disse a uma plateia de empresários reunidos na Casa Firjan que a próxima onda tecnológica vai priorizar o coletivo e valorizar qualidades intrinsecamente humanas. Com tanta automação, robótica e conectividade, qualidades como empatia e imaginação terão mais valor do que o próprio lucro.

Não, não pense que ele é um socialista. Requisitado para dar palestras para grandes multinacionais sobre as tendências do futuro, Kromme afirma que algumas empresas já começaram a trabalhar com essa mentalidade e que a virada se dará em pouco tempo: cerca de cinco anos. “O lucro será um efeito secundário nas empresas do futuro”, profetiza o autor em entrevista ao TAB.

Autor do livro “Humanização – Vá para o digital, permaneça humano” (em tradução livre), o holandês prega que há um futuro brilhante à nossa frente, mas é preciso realinhar a sociedade com a natureza. “O mundo se tornou um lugar imprevisível e instável para morar, com um tsunami de disrupção e digitalização e um alto nível de estresse.”

Por essa razão, Kromme afirma que o futuro das empresas e da sociedade é valorizar o aspecto humano no propósito do uso e do desenvolvimento das tecnologias. “Temas como privacidade e bem-estar digital são muito importantes. As empresas que não fizerem isso não vão sobreviver nas próximas décadas”, alerta. No site, além de uma versão e-book para download gratuito do livro, também se encontra uma lista considerável de grandes corporações entre os clientes recentes das palestras de Kromme.

Para ele, questões de vigilância, fake news e uso de dados individuais por gigantes de tecnologia como Facebook e Google mostram que precisamos de empresas com mais confiança, em direção a um outro nível de organização da sociedade. “É preciso ter outros tipos de empresas em que não apenas o lucro seja importante. É como se alimentar três vezes ao dia e está tudo bem, mas não é a coisa mais importante da sua vida.”

O futurologista identificou sete ondas que podem ser aplicadas tanto a seres vivos quanto à tecnologia: a interação, a infraestrutura, a informação, o instinto, a imitação, a inteligência e a imaginação. Atualmente, diz ele, estamos para entrar na última onda: a da imaginação no mundo tecnológico, com as habilidades humanas, como empatia e criatividade entrando em cena. “Os grupos de células se comportam iguais aos seres humanos. Há uma autocura quando não tem estresse”, resume.

Nesta sétima onda, segundo Kromme, estão em evidência tecnologias de realidade aumentada e o uso de imagens holográficas, chegando ao estágio em que a tecnologia será invisível, pois estará integrada ao mundo real. “A pergunta que se faz é o que eu estou fazendo com essa tecnologia, qual é o propósito. Nós podemos fazer o que quisermos com a tecnologia, mas como seria, como seres humanos? Na próxima onda, as pessoas serão muito importantes”, afirma.

No mundo do futurologista holandês, as empresas que valorizam o lado social do comportamento humano se beneficiarão. Nesse caminho mais humano, as empresas serão mais sociais e mais empáticas. “As próximas empresas não estarão envolvidas com uma elite; estarão envolvidas com o coletivo, em sistemas mais equilibrados. O coletivo será mais importante do que o individual”, prevê.

Kromme, que atuou na indústria de software por 15 anos, oferece uma ideia de mundo em que a tecnologia assume tons pastéis. “São meio bilhão de pessoas conectadas, cooperando em escala global. As empresas do futuro serão como uma orquestra e o algoritmo é o maestro para criar a harmonia”, promete o holandês. “A tecnologia é o empoderamento para fazer coisas extraordinárias. Tem a ver com inteligência social, emocional e de trabalhar em ambientes complexos.”

Por um lado, por outro lado
Antes de ser chamado de utópico ou ingênuo, o futurologista explica que esse mundo conectado vai mudar como organizamos a sociedade, como colaboramos uns com os outros e como usamos a tecnologia, com impactos diferentes aos de hoje. “Nos últimos 30 anos, tivemos que nos adaptar à tecnologia. E se a tecnologia se adaptar a nós?”, pondera.

Como exemplo, basta lembrar que já estamos na era das máquinas que aprendem com a fala das pessoas e da tecnologia capaz de detectar doenças a partir da imagem do olho do paciente enviada pelo telefone celular.

Mas nem tudo é cor-de-rosa nesse mundo de Kromme: se as máquinas se tornam mais baratas, qual a importância do ser humano? Ele não hesita em reconhecer que o trabalho como conhecemos está se transformando. “Milhões de empregos vão desaparecer nos próximos cinco ou dez anos com a tecnologia e a robótica. Tudo que não for automatizável terá mais valor. Por isso, é importante investir na imaginação e na criatividade. Vai ser a era das habilidades humanas”, antecipa.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A FOME VOLTA ASSOMBRAR O BRASIL.

 


Inegavelmente os golpistas de 2016, e os fraudadores das eleições de 2018, conquistaram uma grande vitória. O povo está sendo massacrado, estão desmontando o Estado, a Petrobrás “acabou”, estão liquidando com o que restou de direitos no país. Claramente empurram a sociedade para a direita, como mostram a matança de lideranças populares, a destruição sistemática de direitos sociais e sindicais, o aumento da fome e a proliferação de grupos fascistas cada vez mais agressivos.

Por uma série de razões, apesar das evidências do fenômeno, é comum escutarmos que temos que esquecer o golpe de Estado de 2016, nos conformar com o governo Bolsonaro, que temos que nos preocupar com as próximas eleições, que através delas iremos recolocar o país nos eixos, recuperar as centenas de direitos perdidos, iremos retomar o desenvolvimento, recuperar a democracia. O problema é que os indicadores não parecem apontar para esse “final feliz”.

No entanto, é certo que, apesar do evidente avanço dos golpistas, eles não conseguiram viabilizar uma acomodação política no país, o que seria crucial para a estabilização do golpe de 2016. Há um segmento numericamente expressivo de brasileiros que não esqueceram e nem querem “virar a página” do golpe. Como consequência, permanece uma grande polarização política no seio da sociedade. Polarização política nunca é bom para quem está agravando os indicadores e tem as piores intenções possíveis para o país. A polarização leva, muitas vezes, ao aprofundamento dos problemas. O que não é bom para a extrema direita, e outros lacaios.

Essa instabilidade está relacionada, por sua vez, ao fato de que o governo não conseguiu apresentar uma solução para a crise econômica. Possivelmente uma síntese dessa incapacidade seja a divulgação do IBGE de que a fome voltou a assombrar o Brasil depois do golpe de 2016 e atualmente 41% da população brasileira sofre com insegurança alimentar, ou 85 milhões de brasileiros. Outro sintoma na área externa: nos primeiros oito meses de 2020, US$ 15,2 bilhões deixaram o país, o maior volume para o período desde que o Banco Central começou a compilar as estatísticas, em 1982. Em paralelo, investidores estrangeiros retiraram R$ 87,3 bilhões da Bolsa brasileira de janeiro a 17 de setembro. O valor é quase o dobro do registrado em todo o ano passado.

Se o governo não consegue o mínimo de êxito na economia (um pequeno crescimento, diminuição do desemprego, aumento dos investimentos), também não conseguirá pacificar a sociedade, o que seria fundamental para estabilizar o golpe. Ao invés de indicadores reais de melhoria, o que se observa é que o pano de fundo do problema da fuga de capitais é o de que a economia brasileira caminha para uma crise ainda maior do que a atual. Segundo o FMI, em publicação recente, com a dívida pública se aproximando de 100% do PIB e a dívida de curto prazo arriscando a ultrapassar R$ 1 trilhão o Estado brasileiro pode cair em uma situação falimentar.

Como há uma crise internacional muito profunda, o sistema financeiro mundial (que é quem dá as cartas realmente no processo no Brasil e em todo o subcontinente), querem mais e precisam extrair mais do país. A grande mídia, e os setores conservadores em geral, reclamam inclusive, do fato de que as privatizações não estão andando durante a pandemia. Toda a destruição de direitos, o enfraquecimento dos sindicatos, a entrega de patrimônio, o fatiamento da Petrobrás, o aumento da fome, tudo isso não significa uma saída que satisfaça os setores que financiaram e coordenam o golpe no Brasil. O golpe no Brasil e todas as suas consequências decorrem da necessidade de o Imperialismo aumentar o nível de transferência de riqueza para o centro imperialista.

O aumento da fome no Brasil, e todo o conjunto de ataques aos trabalhadores estão relacionados ao agravamento da crise internacional. Entender essa abrangência do fenômeno é fundamental para não se ficar alimentando ilusões que os problemas serão resolvidos através da simples participação nas próximas eleições, ou em 2022. O ataque aos direitos é mundial e com articulação internacional. A conjuntura mundial parece apontar para uma piora significativa, uma inflexão, em termos econômicos e políticos. A tarefa dos sindicatos é preparar os trabalhadores para a resistência e para tempos ainda mais duros, que, ao que tudo indica, virão.

sábado, 10 de outubro de 2020

QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER

 




Um dos grandes sonhos da humanidade é encontrar vida inteligente em outro planeta. De alguma forma, já vivemos essa experiência no passado. Nossa espécie, os sapiens, foi contemporânea de outro grupo inteligente de hominídeos, os neandertais. As espécies conviveram e até acasalaram deixando possíveis primevos “Romeus e Julietas”, responsáveis por 2% dos genes dos “primos” em nós.

Seu desaparecimento é um mistério. Uma teoria especula que a extinção teria ocorrido num período glacial há 30 mil anos. Residentes na fria Eurásia, apesar de mais robustos e com dieta calórica superior, não teriam desenvolvido vestimentas sofisticadas. Nossos ancestrais, ao contrário, por evidências de agulhas e outros apetrechos, aprimoraram tecnologias na área do vestuário e da moda. Coser peles e adaptá-las ao corpo teria permitido que sobrevivessem ao desafio climático. E a moda teria salvado os sapiens!

O impacto adaptativo de uma peça de roupa é algo que podemos apreciar em nossos dias. Falo da máscara, desse acessório que não só é roupa em sua função de proteger e cobrir, mas é moda: diz algo sobre nós! Não há como negar a sensação de que andamos nas ruas como se houvesse duas espécies distintas convivendo, mascaradas por seus valores e civilização. Diria que os de máscaras se assemelham a sapiens aceitando intercorrências e buscando soluções. Os sem máscara encaram com sua “robustez” o desafio. E apostaria que aqueles da espécie sem máscara coincidem com os que passam ao largo de questões do clima e das adaptações necessárias, tal como os “primos” fizeram.

Conviver com outras espécies “inteligentes” não é fácil. Talvez devamos gozar de nossa solidão cósmica em vez de sonharmos com encontros de “terceiro grau”. Para a sociedade, a “moda-que-não-pegou” expôs a difícil arte de tolerar. Para a evolução que não é tolerante, mas implacável na seleção “do que sabe”, o sapiens, a coisa é diferente. Quem sapiens faz a hora, não espera acontecer!

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

TREINAR A RESPIRAÇÃO.

 


De acordo com um manual de ioga do século 15, o Hatha Yoga Pradipika, temos que aprender a controlar a respiração para alcançar saúde, longevidade e paz de espírito. A prática da respiração iogue conhecida como pranayama – que significa “extensão da força vital”, em sânscrito – é usada há séculos para curar corpo e mente. “Quando a respiração se desvia, a mente também fica inconstante”, diz o Pradipika. “Mas quando a respiração se acalma, a mente também o faz, e o iogue alcança vida longa.” 

O modo como respiramos pode ter impacto grande sobre nosso bem-estar e nível de estresse e pode até gerar mudanças físicas no corpo, como a redução da pressão sanguínea. A prática da respiração controlada na meditação pode aumentar o tamanho do cérebro, aumentando a espessura cortical, segundo um estudo de Harvard de 2005. Entre músicos, 30 minutos de respiração profunda podem reduzir a ansiedade antes de apresentar-se em público, e estudantes de terceira série que praticam respiração profunda antes de um exame sentem menos ansiedade e insegurança e se concentram melhor. A prática da respiração profunda pode reduzir a pressão sanguínea, segundo o Dr. David Anderson, dos Institutos Nacionais de Saúde. “Geralmente não pensamos na nossa respiração, assim como não pensamos em nossas batidas cardíacas”, disse ao Huffington Post no ano passado uma especialista em respiração do Instituto de Ioga Integral, Carla Ardito. “A diferença com a respiração é que podemos treiná-la.”

Segundo os textos iogues antigos, anos (ou vidas) de prática da meditação podem acabar levando à iluminação, ou união com o divino. Quando as flutuações da mente são completamente acalmadas, ficamos livres para vivenciar o Eu verdadeiro – a alma divina. 

É claro que seria difícil provar se a meditação é ou não um caminho para se chegar diretamente a Deus. Mas a ciência moderna mostrou que a meditação regular pode iluminar a mente de várias maneiras. Quando a mente se aquieta com a prática da meditação, ocorrem modificações reais no cérebro; já foi demonstrado que a prática da “mindfulness” (atenção consciente) eleva a neuroplasticidade e até reconstrói fisicamente a massa cinzenta cerebral. 

A prática de meditação por oito semanas encolhe a amígdala cerebelosa – o centro cerebral da reação de lutar ou fugir – e espessa o córtex pré-frontal, uma área associada à consciência, concentração e tomada de decisões. Isso pode exercer efeitos físicos e psicológicos poderosos. A atenção consciente reduz o estresse ao diminuir os níveis do cortisol, o hormônio do estresse, no corpo. A meditação também é uma maneira poderosa de combater problemas de saúde mental: foi constatado recentemente que um treino de meditação em grupo foi tão eficaz quanto várias sessões tradicionais de terapia comportamental cognitiva para reduzir os sintomas de ansiedade e depressão. 

Façanhas mentais incríveis foram documentadas entre meditadores altamente experientes. Um estudo constatou que anos de meditação podem gerar mudanças nas redes neurais cerebrais que rompem a barreira perceptiva e psicológica entre o eu e o outro, levando o meditador a experimentar um sentimento de harmonia total entre ele e o mundo em volta. Normalmente o cérebro alterna entre a rede extrínseca (usada quando focalizamos coisas fora de nós mesmos) e a rede intrínseca, que envolve a autorreflexão, a emoção e o pensamento autorreferencial. Essas redes raramente atuam juntas. 

Mas estudos de imageamento cerebral revelaram que alguns monges e meditadores experientes conseguem manter as duas redes ativas ao mesmo tempo quando meditam, possibilitando um senso real de unidade. O monge budista francês Matthieu Ricard comentou: “Meditar não é simplesmente ficar sentado debaixo de uma mangueira, sentindo êxtase. É algo que muda seu cérebro completamente, e assim, muda o que você é.”

SABEDORIA MILENAR.

 


O líder indígena e escritor Ailton Krenak foi o vencedor do 62º Troféu Juca Pato, prêmio literário brasileiro concedido anualmente pela União Brasileira de Escritores (UBE). Krenak foi escolhido, por meio de votação, para receber a homenagem de “Intelectual do Ano”.

"Se enxergamos que que estamos passando por uma transformação diz ele, teremos que admitir que nosso sonho coletivo de mundo e a inserção da humanidade na biosfera terão que se dar de outra maneira. Nós podemos habitar este planeta, mas deverá ser de outro jeito. Senão, seria como se alguém quisesse ir ao pico do Himalaia, mas pretendesse levar junto sua casa, a geladeira, o cachorro, o papagaio, a bicicleta.”

Seguindo a tradição milenar, o filósofo indígena transmite seu pensamento pela oralidade e, posteriormente, suas falas são convertidas em textos “escritos”. São mensagens diretas, que abalam as estruturas que sustentam nossa sociedade. “Quem sabe a própria ideia de humanidade, essa totalidade que nós aprendemos a chamar assim, venha a se dissolver com esses eventos que estamos experimentando. Se isso acontecer, como é que os caras que concentram a grana do mundo — que são poucos — vão ficar? Quem sabe a gente consiga tirar o chão debaixo dos pés deles. Porque eles precisam de uma humanidade, nem que seja ilusória, para aterrorizarem toda manhã com a ameaça de que a bolsa vai cair, de que o mercado está nervoso, de que o dólar vai subir. Quando tudo isso não tiver sentido nenhum — o dólar que se exploda, o mercado que se coma! —, aí não vai ter mais lugar para toda essa concentração de poder. Porque a concentração, de qualquer coisa, só pode existir num determinado ambiente.”

É bonito ver Aílton Krenak colocando na prática a fruição da vida que ensina, sem a especialização castradora pregada pelo mercado e seus coachs, onde você escolhe (ou é escolhido pela necessidade) uma profissão quando está saindo da adolescência e tem que se especializar nela pelo resto da vida, até se aposentar o mais idoso possível como um “apertador de parafusos sênior”, pronto para morrer. “Talvez o que incomode muito os brancos seja o fato de o povo indígena não admitir a propriedade privada como fundamento.”, escreve Aílton.


Companhia das Letras

terça-feira, 6 de outubro de 2020

COISAS DA PANDEMIA.


Engraçado como a vida nos mostra realidades através de situações que nunca imaginamos passar. Nem nos piores pesadelos imaginei que algum dia estaria “num filme” com enredo pesado como o momento que estamos vivendo.

Do dia para a noite tivemos que nos adaptar a uma realidade que não estamos acostumados. Privados da liberdade que gostamos! Temos o livre arbítrio e nem sempre estamos podendo usá-lo! Os dias estão passando e as duas semanas iniciais quase já se transformaram em 7 meses!

Às vezes, nos sentimos sufocados e sem saber se estamos na direção certa e tomando atitudes corretas! Estamos num momento complexo de mundo. Até o “sextou” perdeu sentido.

Com tudo isso estamos sentindo falta de coisas inimagináveis… Coisas que chamávamos de estressantes! Trânsito, correria diária, fazer compras no supermercado (eu sei que tem gente que gosta) e até da “segunda feira” entre tantas outras que eram abomináveis. Pode isso meu amigo, Pode!

Outras que sempre gostamos e que nos fazem uma falta imensa. A saudade é uma delas. No meu caso, estou louco para encontrar minhas “tribos”! … Blog, Trabalho, corrida, amigos de sempre, as novas amizades… família de longe, de perto… Encontros para jogar conversa fora, conversas mais densas ou desabafos.

Calma… Sorria! Vai passar! Logo vai passar. Todos sabemos disso.
Com certeza nunca voltaremos ao ponto em que estávamos. Acredito mesmo que vamos voltar melhores, amadurecidos e principalmente com a certeza que agradecer é infinitamente melhor que reclamar.

Então, vamos aproveitar o momento e tirar o melhor proveito dele. Valorizar o tempo precioso que estamos com a nossa família fechados e também o seu tempo com você mesmo. Aquele tempo que você tanto queria e não tinha. Agora tem! Se encontre. Se abrace e respire.

Se permita aprender mais sobre você mesmo.

Sinta a saudade de tudo e de todos e quando puder “matá-la”, faça com toda a verdade e intensidade possível!

Um abraço cheio de saudade,  e …amanhã faltará um dia a menos para a gente poder se ver de novo!

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A LUZ NO FINAL DO TUNEL, VAI APARECER E BRILHAR.




Onde estará a luz no fim do túnel? Haverá luz no fim do túnel?

A crise política mundial se aprofunda. Trump ameaça romper a ordem democrática, se perder as eleições americanas. Só o fato de se levantar essa possibilidade inédita deixa o mundo em sobressalto e perigo. Somado aos golpes e ameaças à democracia em diferentes países, em especial na América Latina e Brasil, deixa tudo perigoso e incerto.

A crise econômico-social se aprofunda no Brasil: fome, miséria e desemprego. O próprio presidente da República, em vez de propor e buscar soluções, fica se lamentando e ‘atirando pra tudo que é lado’, enquanto sua política econômica só beneficia o mercado, os rentistas e o grande capital. O Brasil está prestes a voltar ao Mapa da Fome da FAO/ONU. A inflação está voltando, os produtos da cesta básica e dos alimentos estão nas alturas, trabalhadores e trabalhadoras de salário mínimo, os mais pobres entre os pobres e os sem renda sofrendo as consequências imediatas.

O descrédito da política se aprofunda, e, tudo indica, ficará visível nas eleições municipais de novembro, com o crescimento das abstenções, dos votos brancos e nulos, estímulo à compra de votos. E um mal-estar geral na sociedade em relação à política como ação em favor da pólis e do cuidado com a Casa Comum. Fake News, mentiras, que já decidiram uma eleição presidencial, continuam a todo vapor.

O Poder Judiciário e o Sistema de Justiça estão sob comando do poder dominante, aliás, não pela primeira vez história – vide 1964 -, preocupados em manter, e até ampliar, seus privilégios.

A boiada está passando impune, nas palavras do ministro do Meio Ambiente, as queimadas vão aumentando assustadoramente, colocando em risco não só a ‘Querida Amazônia’, na feliz expressão do Papa Francisco, mas a própria humanidade e seu futuro, como vivem denunciando, entre outros, Noam Chomski e Leonardo Boff.

Quase 150 mil mortes no Brasil, mais de 1 milhão no mundo, por causa da pandemia do coronavírus, sem perspectiva de quando a tragédia, com uma vacina, vá acabar. Sem esquecer a irresponsabilidade e descompromisso de governos, como o brasileiro, e a incapacidade de grande parte da sociedade de se proteger coletivamente.

Felizmente há também boas notícias, que podem/devem servir de referência do novo, do futuro, da utopia e do Bem Viver.

Cartas de bispos, padres, leigos, as Declarações da CNBB sobre a Amazônia, a ecologia integral, a nova Economia e o Pacto global pela Educação propostos pelo Papa Francisco acordaram a Igreja católica. São alento, junto com o forte Grito das Excluídas e dos Excluídos acontecido em 7 de setembro, e com a Sexta Semana Social Brasileira, em curso até 2022, com o tema MUTIRÃO PELA VIDA: TERRA, TRABALHO E TETO. A Sexta Semana está sendo assumida pela sociedade – movimentos sociais, ONGs, movimento sindical -, pelas mulheres e homens de boa vontade, pelas forças democráticas e progressistas, com o poder de forjar uma grande unidade popular.

Os Comitês Populares contra a Fome e o Coronavírus acontecem na base da sociedade, grito e gesto de solidariedade. De baixo para cima, a transformação vai sendo gestada e construída, com formação na ação e a construção de um projeto alternativo de sociedade e de futuro.

O Movimento SUS nas Ruas é um exemplo, entre outros, do que precisamos na conjuntura: solidariedade em primeiro lugar; práticas e saberes populares na ponta e na base popular; formação na ação; articulação e unidade com as forças populares e democráticas; defesa de políticas públicas como o SUS; projeto de sociedade, o Bem Viver.

As eleições de novembro, se forem programáticas, debaterem valores e práticas da boa política e projetos de sociedade, podem ser um bom momento de acordar eleitoras/es, e mudar espaços de governo e de poder. O engajamento político e eleitoral fundamental.

A Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire e a celebração de seu centenário – ESPERANÇAR AMÉRICA LATINA –, coordenadas pelo CEAAL (Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe) e um conjunto de entidades e movimentos sociais, e o ‘Freirear o PT’, lançado pela Secretaria Nacional de Formação do Partido dos Trabalhadores, são luzes no horizonte a aquecer o coração e encher o espírito de esperança. Não é repetir, como sempre falou Paulo Freire, mas sim superar e reinventar sua pedagogia libertadora no contexto e conjuntura atuais.

No diálogo e amorosidade freireanos, sendo mais movimento e menos instituição, ninguém soltando a mão de ninguém, gesta-se um novo tempo: com unidade do campo democrático-popular nas lutas e mobilizações, no trabalho de base e na formação. São as urgências urgentíssimas do tempo e da conjuntura.

Não sei para onde vamos no médio e longo prazos, que dirá no curto. Há uma longa luta e caminhada pela frente. Mas com unidade, coragem revolucionária, no esperançar freireano, mais cedo ou mais tarde, como em outros momentos da história, a luz no fim do túnel vai aparecer e brilhar.

RELAÇÃO HISTÓRICA ENTRE ÁFRICA E BRASIL

 

O Brasil é um país de grandes dimensões territoriais – é o quinto maior país em extensão territorial do mundo, possuindo dimensões continentais – e culturalmente muito diverso, sua população é resultante, em sua maioria, de miscigenação de várias raças. Essa diversidade faz com que sejamos conhecidos internacionalmente como um povo alegre, receptivo e que adora festejar (basta dar um “Google” e conferir). Porém, observando mais atentamente nossa sociedade é possível perceber que essa diversidade guarda muitas questões que precisam ser discutidas e debatidas para que se finde a exclusão social que alguns grupos étnico-raciais sofrem historicamente.

A exclusão social ocorre pela marginalização desses grupos, que possui raízes no processo de colonização européia e na formação social de nosso país, em que indígenas (povos nativos) e negros (trazidos e escravizados por europeus) foram deixados à margem da sociedade. Esse fato que fez e continua fazendo com que esses grupos não desfrutem, na prática, dos mesmos direitos que o restante da população brasileira, mesmo que nossa Constituição Federal garanta isso em seu Artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Nossa formação enquanto sociedade demonstra historicamente a necessidade de medidas mais específicas para a inclusão social desses grupos marginalizados, as chamadas ações afirmativas – que tem como objetivo promover a igualdade substancial de grupos que estejam em situação desfavorável, sendo vítimas de discriminação e estigma social (SARMENTO, 2007).

“O conceito de ações afirmativas é amplo e abarca um conjunto de políticas e práticas que têm por objetivo a concretização da ideia de justiça como forma de resposta às desigualdades econômicas e histórico sociais. Segundo a perspectiva doutrinária estabelecida por Joaquim Barbosa, as ações afirmativas podem ser entendidas como ‘políticas públicas e privadas voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física’”(ARAÚJO, VIEGAS, 2016, p. 182).

Outra forma de alterar positivamente esse cenário é através da educação e conscientização dos cidadãos que estão em formação, isto é, as crianças e adolescentes. Nesse sentido é de extrema relevância a Lei nº 11.645/2008 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394/1996) e torna obrigatória a inserção da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” no currículo oficial da rede de ensino. Dessa forma, busca-se integrar ao ensino diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos – negros e indígenas, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política para a constituição do Brasil.

O desenvolvimento da consciência sobre a importância de negros e indígenas para a formação do país, através do aprendizado e do entendimento da história e cultura desses grupos, é primordial para que tenhamos uma real magnitude dos grupos étnicos-raciais que foram a base para a sociedade brasileira atual. Durante muito tempo nossa história foi contada, escrita e ensinada apenas por um prisma dessa sociedade – a européia – relegando aos negros e indígenas o papel de escravizados, colonizados e conquistados, não levando em consideração a formação sociocultural desses grupos e a riqueza que toda sua história possui (línguas, religião, arte, costumes…). O não conhecimento sobre a importância de negros e indígenas gera concepções rasas e pré-estabelecidas por um ideário de viés europeu-colonizador onde esses grupos étnicos-raciais são entendidos como menos importantes e com pouca relevância em nossa história. Essa é a raiz para o preconceito e para o racismo em nossa sociedade.

No entanto, é perceptível que ainda existe um abismo entre o que é garantido por lei e o que de fato vem sendo aplicado ao ensino em nosso país. Falta de verba, não incentivo à qualificação de professores no campo de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, pouca presença de professores negros e indígenas em salas de aula são alguns dos obstáculos que reduzem a perspectiva de ensino apenas à dimensão ética do não discriminar. De acordo com Rodrigues e Cardoso (2018), “ultrapassar a perspectiva da ética para trazer um enfoque conceitual possibilitaria aos estudantes compreenderem a relação histórica entre o continente africano e o brasileiro no passado e no presente”.