quinta-feira, 8 de outubro de 2020

TREINAR A RESPIRAÇÃO.

 


De acordo com um manual de ioga do século 15, o Hatha Yoga Pradipika, temos que aprender a controlar a respiração para alcançar saúde, longevidade e paz de espírito. A prática da respiração iogue conhecida como pranayama – que significa “extensão da força vital”, em sânscrito – é usada há séculos para curar corpo e mente. “Quando a respiração se desvia, a mente também fica inconstante”, diz o Pradipika. “Mas quando a respiração se acalma, a mente também o faz, e o iogue alcança vida longa.” 

O modo como respiramos pode ter impacto grande sobre nosso bem-estar e nível de estresse e pode até gerar mudanças físicas no corpo, como a redução da pressão sanguínea. A prática da respiração controlada na meditação pode aumentar o tamanho do cérebro, aumentando a espessura cortical, segundo um estudo de Harvard de 2005. Entre músicos, 30 minutos de respiração profunda podem reduzir a ansiedade antes de apresentar-se em público, e estudantes de terceira série que praticam respiração profunda antes de um exame sentem menos ansiedade e insegurança e se concentram melhor. A prática da respiração profunda pode reduzir a pressão sanguínea, segundo o Dr. David Anderson, dos Institutos Nacionais de Saúde. “Geralmente não pensamos na nossa respiração, assim como não pensamos em nossas batidas cardíacas”, disse ao Huffington Post no ano passado uma especialista em respiração do Instituto de Ioga Integral, Carla Ardito. “A diferença com a respiração é que podemos treiná-la.”

Segundo os textos iogues antigos, anos (ou vidas) de prática da meditação podem acabar levando à iluminação, ou união com o divino. Quando as flutuações da mente são completamente acalmadas, ficamos livres para vivenciar o Eu verdadeiro – a alma divina. 

É claro que seria difícil provar se a meditação é ou não um caminho para se chegar diretamente a Deus. Mas a ciência moderna mostrou que a meditação regular pode iluminar a mente de várias maneiras. Quando a mente se aquieta com a prática da meditação, ocorrem modificações reais no cérebro; já foi demonstrado que a prática da “mindfulness” (atenção consciente) eleva a neuroplasticidade e até reconstrói fisicamente a massa cinzenta cerebral. 

A prática de meditação por oito semanas encolhe a amígdala cerebelosa – o centro cerebral da reação de lutar ou fugir – e espessa o córtex pré-frontal, uma área associada à consciência, concentração e tomada de decisões. Isso pode exercer efeitos físicos e psicológicos poderosos. A atenção consciente reduz o estresse ao diminuir os níveis do cortisol, o hormônio do estresse, no corpo. A meditação também é uma maneira poderosa de combater problemas de saúde mental: foi constatado recentemente que um treino de meditação em grupo foi tão eficaz quanto várias sessões tradicionais de terapia comportamental cognitiva para reduzir os sintomas de ansiedade e depressão. 

Façanhas mentais incríveis foram documentadas entre meditadores altamente experientes. Um estudo constatou que anos de meditação podem gerar mudanças nas redes neurais cerebrais que rompem a barreira perceptiva e psicológica entre o eu e o outro, levando o meditador a experimentar um sentimento de harmonia total entre ele e o mundo em volta. Normalmente o cérebro alterna entre a rede extrínseca (usada quando focalizamos coisas fora de nós mesmos) e a rede intrínseca, que envolve a autorreflexão, a emoção e o pensamento autorreferencial. Essas redes raramente atuam juntas. 

Mas estudos de imageamento cerebral revelaram que alguns monges e meditadores experientes conseguem manter as duas redes ativas ao mesmo tempo quando meditam, possibilitando um senso real de unidade. O monge budista francês Matthieu Ricard comentou: “Meditar não é simplesmente ficar sentado debaixo de uma mangueira, sentindo êxtase. É algo que muda seu cérebro completamente, e assim, muda o que você é.”

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