quinta-feira, 22 de outubro de 2020

EU NÃO GOSTO DE POLITICA , MAS OS CANDIDATOS GOSTAM.

 




Cada vez menos considerada pelos cidadãos, a política fica à mercê do desgoverno excludente do dinheiro, que se torna o mandatário maior. É preciso, pois, revigorar o exercício da cidadania, compreendendo que a “política melhor” é a que está a serviço do bem comum. Esse é o entendimento proposto. Exige reconhecer a incontestável importância da política.

Sabe-se, neste ano de eleições municipais, sobre a importância de se acertar nas escolhas. Há um quadro abundante de candidatos. Isso exige maior atenção dos eleitores para identificar aqueles que são capazes de ir além das promessas e efetivamente trabalhar pelo bem comum. O desafio é saber quem tem qualificação humanística e competência para liderar em uma realidade desafiadora. Apesar de existir ampla lista de nomes a serem submetidos ao voto nas eleições, são raros os que reúnem essas necessárias qualidades. Ao invés disso, observa-se o desprezo sobre a situação dos mais pobres, camuflado sob o formato populista ou liberal para, demagogicamente, instrumentalizar os mais vulneráveis e alcançar interesses egoístas.

É verdade que existem líderes populares capazes de interpretar os anseios de um povo, a sua dinâmica cultural e as grandes tendências de uma sociedade, conforme reflete a Carta Encíclica Fratelli Tutti. “O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento.” Mas, adverte-se:  esse serviço pode se degenerar em um populismo insano. Isso pode acontecer quando a habilidade de alguém para atrair consensos busca instrumentalizar politicamente a cultura do povo e, assim, satisfazer um projeto pessoal – que pode incluir a própria perpetuação no poder. Outras vezes, exerce-se a política somente para aumentar a popularidade, alimentando sentimentos e escolhas que se tornam armas destrutivas das bases do bem comum. É preciso, pois, ter redobrada atenção aos que até são capazes de identificar exigências populares, mas não efetivamente avançam na tarefa árdua e constante de proporcionar às pessoas os recursos para se desenvolverem, sustentarem a vida com o próprio esforço e criatividade.

É incalculável o tamanho do desafio ante a urgência de operar mudança no coração humano para reconfigurar hábitos e estilos de vida. Modos de pensar estreitos e percepções limitadas a respeito do mundo inviabilizam avanços sociais, promovem o fenômeno da superficialização da política, trazendo prejuízos para o exercício da cidadania. Entre essas fragilidades humanas, a Carta Encíclica sublinha a tendência constante para o egoísmo, que faz parte daquilo que a tradição cristã chama “concupiscência” – a inclinação do ser humano a fechar-se na imanência do próprio eu, do seu grupo, dos seus interesses mesquinhos. É hora de fazer nascer contrapontos à política desacreditada, enraizada nas limitações humanas, a partir de vigorosa tarefa educativa. Essa tarefa seja capaz de inspirar hábitos solidários, a consideração da vida de modo integral, com relações mais humanizadas.

Nesse caminho, a própria sociedade reagirá às suas injustiças, às aberrações, aos abusos dos poderes econômicos, tecnológicos, políticos e midiáticos. Torna-se, pois, urgente dedicar-se ao que é necessário para fazer prevalecer a “política melhor”. E a partir de novos sentidos, com narrativas edificantes, estabelecer dinâmicas capazes de banir, definitivamente, obscurantismos e todas as práticas que inviabilizam a preservação da vida, da Casa Comum.

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