quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

UM CASO DE NATAL


Dia 25 de dezembro de 1. Jacó acordou tarde. Chegara cansado, na véspera, da viagem que o trouxera de Cafarnaum a Belém. Viera convocado pelo recenseamento decretado pelo imperador Tibério. Cada cidadão deveria retornar a seu lugar de origem.
Para Jacó, tratava-se também de uma oportunidade de deitar uma vista d’olhos na pequena propriedade rural que mantinha nas cercanias da cidade de Davi. Ali nascera, ali nutria o sonho de terminar seus dias, longe da azáfama comercial que o prendia à Galileia.
Zacarias, o capataz, correu esbaforido em direção ao patrão. Aguardara ansioso que Jacó despertasse. Queria, o quanto antes, colocá-lo a par do que ocorrera na propriedade ao longo da madrugada.
― Tens cara de não haver cerrado os olhos esta noite, Zacarias! – observou Jacó.
― É verdade, patrão. Tive uma noite muito atribulada.
― O que sucedeu, homem? As ovelhas romperam a cerca?
― Que nada! Já a noite ia adiantada, quando empunhei o candeeiro para verificar se tudo andava em ordem na propriedade. Eis que avistei dois vultos próximos ao curral.
― E quem eram os intrusos? Tratou de expulsá-los?
― Era o que pretendia fazer, patrão. Mas ao me acercar do curral, vi que a mulher estava grávida e já se dobrava às dores do parto.
― O que fizeste, homem?
― Acomodei-a com o marido junto ao cocho das ovelhas. Corri à casa em busca de bacia, água quente e panos limpos. Logo ela deu à luz um lindo bebê.
― Macho ou fêmea?
― Macho, patrão.
― E passaram a noite aqui?
― Sim, e tão logo o menino nasceu surgiu no céu uma estrela tão brilhante que meu candeeiro já nem tinha precisão. E chegaram três cameleiros.
― Cameleiros! Que diabos vieram parar aqui?
― Disseram ter vindo do Oriente conduzidos pela estrela brilhante. Queriam adorar o salvador.
― Que salvador, Zacarias? Tua cabeça não te confunde por falta de sono?
― Acho que se referiam ao Messias esperado por Israel.
― Ora, então achas que o Messias viria a nós como um intruso invasor de terra alheia? Um deus sem eira nem beira?
― Não acho nada, patrão. Sei apenas que vi um dos cameleiros oferecer ao menino um punhado de ouro; outro, um pouco de incenso;e o terceiro, mirra.
― E sabes quem são os pais do menino?
― Logo que os cameleiros partiram, fui à cidade em busca de pão. Na fila do forno de Tobias, comentei sobre o casal e o parto. Neemias, a quem nada passa despercebido, me contou que o pai, um tal de Zé, é natural de Belém. Há tempos deixou a região e se empregou como carpinteiro lá pras bandas de Nazaré, na Galileia. Andava de namoro com Maria, a mãe do bebê. O casamento nem sequer tinha sido anunciado, quando ela apareceu grávida. Neemias desconfia de que o filho talvez nem seja do próprio Zé. O fato é que este apareceu aqui atraído pelo censo e buscou abrigo em casa de seus familiares. Ao verem a barriga avantajada de Maria, seus parentes consideraram uma pouca vergonha Zé ter vindo com a moça, pois nem casamento houve. Bateram-lhes a porta na cara.
― Deve ser por isso – ponderou Jacó – que vieram parar aqui no meu terreno.
― Com certeza, patrão. A moça já chegou que não se aguentava.
― E ainda estão por aí?
― Dei feno ao burrico que montavam e, hoje cedo, partiram no rumo do Egito.
― Melhor assim, Zacarias. Receio essa gente sem terra que entra sem licença na propriedade alheia. Se a moda pega... Também vou partir, Zacarias. Sele meu cavalo. Tenho audiência com Herodes em Jerusalém. Direi a ele que o Messias nasceu em minhas terras. Garanto que se divertirá com a notícia...Boas Festas e um ano novo cheio de amor no coração.

QUE NO ANO NOVO POSSAMOS NOS RENDER AO UNIVERSO

Doug Henning foi um dos mais festejados mágicos da década de setenta. Atuou na TV canadense e fez shows em todo o mundo, sempre com sucesso. Numa oportunidade apresentou-se diante dos inuits, um povo de esquimós, a 500 quilômetros do pólo norte. A temperatura era de 60 graus abaixo de zero. Sentados no chão, os nativos acompanharam a apresentação, sem grande interesse. Ao final do espetáculo, Henning, através de um tradutor, quis saber a causa da aparente indiferença.
Os inuits disseram que haviam gostado, mas não haviam entendido o que ele pretendia fazer. Por que você fez estas coisas? Eu estava tentando divertir vocês, esclareceu, com algumas mágicas. Eu fiz uma bola flutuar, tirei um coelho da cartola e pombos das mangas... Isso é mágica. Os nativos observaram: aqui temos uma bola imensa, que flutua no ar todos os dias e dá luz e vida. Essa sim que é mágica! Aqui, continuou o esquimó, temos o alce. A cada primavera aparece e, num belo dia, desaparece. Temos ainda a magia da neve, com sua brancura imaculada. Temos sementes, que e o vento traz, não sabemos de onde, e que germinam enchendo de cor e perfumes nossa terra. Temos até coelhos, que após hibernarem longos meses, acordam para a festa da vida e os pássaros que aparecem magicamente e desaparecem no final da estação.
Como conclusão, o líder do grupo, após consultar os seus, explicou ao mágico: agora entendemos porque você está fazendo estas coisas. “É porque seu povo esqueceu o que é realmente mágico. Você está fazendo isto para eles se lembrarem. Boa ideia!”. Doug Henning agradeceu emocionado e nunca mais apresentou seu espetáculo. Viveu mais vinte anos, encantado com a magia do universo. Francisco de Assis não foi mágico, mas soube muito bem perceber a magia do universo. Para ele o mundo era, nada mais nada menos, um maravilhoso templo onde era possível perceber os vestígios divinos. Todas as criaturas saíram das mãos mágicas de Deus. E Deus continua a falar pelo mar, pela primavera, pelo canto das aves, pela difusa música do universo. O espetáculo prossegue. E através da oração, também revestida de mágica beleza, Francisco falava com Deus.
O santo de Assis deu mais um passo. Entendeu que todos – porque criados pelo Pai – somos irmãos. E o amor é a maior de todas as magias e transforma a vida da humanidade. “O amor - diz São Paulo - tudo crê, tudo desculpa, tudo espera... o amor jamais passará” E Deus é amor".
Enviou ao mundo seu filho Jesus. Ele realizou a maior de todas as magias, jamais repetida por alguém: no terceiro dia saiu do túmulo, Ele ressuscitou. E isto tem a ver com a
vida de cada um de nós: recebemos poderes mágicos. Feliz Ano Novo a todos.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O SUJEITO VIRA OBJETO;OBJETO, SUJEITO


O consumismo neoliberal gera, hoje, uma proeza que deixa os filósofos mais encucados: o sujeito humano passa à condição de objeto e o objeto – a mercadoria – ocupa a condição de sujeito.
O consumo já não é determinado pela necessidade. Depende, sobretudo, do sonho do consumidor de alcançar o status do produto. Isso mesmo: a mercadoria possui grife, status, agrega valor a quem a porta. Ao obtê-la, o consumidor se deixa possuir por ela. O valor que ela contém, criado pela mídia publicitária e pela moda, emana e impregna o consumidor.
No universo consumista, se alguém deseja ser bem aceito entre seus pares, no círculo social que frequenta, precisa equipar-se com todos aqueles objetos de luxo que o revestem de uma auréola capaz de sinalizar socialmente o alto nível de seu status. Ai dele se não ostentar certas marcas de carro, relógio e roupa. Ai dele se não viajar em classe executiva para Nova York, Paris ou uma ilha do Pacifico apontada como o novo point.
Caso o sujeito se recuse a ostentar a lista de objetos considerados requintados, ele corre o risco de ser excluído, deletado do círculo social que estabelece como código de identificação certo nível mínimo de padrão de consumo. Em suma, o sujeito passa a ser tratado como objeto. Duplo objeto: por se sujeitar à mercadoria e por ser rechaçado por seus pares. Porque no sistema consumista só é aceito quem transita despudoradamente no universo do luxo e do supérfluo.
Esse processo de desumanização estimula a obsolescência das mercadorias. Agora se produz para atender não a uma necessidade, mas a um desejo, um anseio de alpinismo social. O produto adquirido hoje – carro, ipad... – estará obsoleto amanhã.
Você pode até insistir em conservar o mesmo equipamento eletrônico, suficiente às suas necessidades atuais. Todos à sua volta constatarão o seu anacronismo. Você perdeu a identidade da tribo, que avança para a aquisição de mercadorias ainda mais sofisticadas. O único modo de ser aceito na tribo é se revestindo dos mesmos objetos que, atuando como sujeitos, o resgatam do cinzento e medíocre universo do comum dos mortais.
Essa inversão do sujeito humano tornado objeto e do objeto transformado em “humano” ou mesmo “divino” se dissemina através da publicidade – que não faz distinção de classes. O apelo é igual para todos. Tanto o biliardário em seu jatinho quanto o jovem da favela sofrem o mesmo impacto publicitário.
A diferença é que o primeiro tem fácil acesso aos novos ícones do consumismo. O jovem absorve os ícones em seu embornal de desejos e reconhece o quanto ele é socialmente descartado e descartável por não se revestir de objetos que imprimem valor às pessoas. Daí a frustração e a revolta.
A frustração pode ser compensada pela sadia inveja dos espectadores de brilho alheio: leitores de revistas de celebridades e internautas que navegam atraídos pelo canto da sereia de seus ídolos. A revolta leva ao crime - “não sou como eles, mas terei, a ferro e fogo, o que eles têm”.
Haverá limites à obsolescência? Um dia a superprodução fará com que a oferta seja superior à demanda? Tudo indica que não. A indústria há tempos aprendeu que o consumidor é irracional, não se move por princípios, e sim por efeitos. É a emoção que o faz aproximar do balcão.
Agora na pós-modernidade, as pessoas já não se relacionam, se conectam. Os encontros não são reais, são virtuais. Já não se vive em sociedade, e sim em rede. Ninguém é excluído, e sim deletado.
A intimidade cede lugar à extimidade, na expressão de Bauman. Faz desabar todos os muros da privacidade. A ponto de as pessoas se tornarem mercadorias vendáveis, vitrines ambulantes que esperam ser admiradas, desejadas, invejadas e cobiçadas. Daí o oneroso investimento em academias de ginástica, cosméticos, plásticas etc. Muitos buscam ansiosos ser objetos de desejo. Porque a sua autoestima depende do olhar alheio. E o mercado sabe muito bem manipular essa baixa autoestima.

ORGULHOSO E VAIDOSO

Pessoas feridas nos seus sentimentos costumam usar estes adjetivos contra quem não lhes demonstrou o devido apreço. Sei de milhares de pessoas tidas como vaidosas e orgulhosas e sei que, para algumas pessoas e grupos, faço parte desses maus sujeitos. 
Sé é como pensam, então cabe a mim me penitenciar e corrigir, mas sei por experiência que para muitos deles nada do que o desafeto faça vai mudar o que decretaram: fulano de tal é orgulhoso e vaidoso. Digo o que penso. Não sei se sou orgulhoso, mas tenho orgulho de algumas coisas que fiz e não me orgulho de outras. Orgulho-me dos meus amigos que cresceram e a quem ajudei a crescer. Orgulho-me da mãe que tive e a poucos dias atrás perdi.
Não me orgulho de ter ferido quem não merecia sofrer. Quem se orgulha demais é um orgulhoso. Quem tem orgulho de algumas coisas e as sustenta pode não ser orgulhoso. Atribuir a Deus e aos amigos o bem que fizemos e aceitar que algum bem foi feito é humildade. Ninguém deve negar os valores que tem. Só não devemos é supervalorizar-nos.
Quanto a ser vaidoso, nosso espelho, nossa fala e nossos amigos devem dizê-lo. Eles sabem se somos acessíveis, se insistimos em respeitar e ser respeitados e se reagimos quando alguém nos varre para baixo do tapete. Sou como Paulo, que aceitava ser o último dos apóstolos, mas insistia que era apóstolo. Não pretendia renunciar a esse título. Não era, pois, justo que os seguidores de outros profetas e apóstolos negassem sua profecia. Podia ser o último, mas era apóstolo. E Paulo não era orgulhoso nem vaidoso. Era justo consigo e com os outros. Nem sempre a pessoa de quem discordamos ou que de nós discorda é orgulhosa ou vaidosa. É bom consultar nossa vaidade ferida.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

AUMENTA O NÚMERO DE CÂNCER DE PULMÃO EM MULHERES

Conforme o levantamento do Inca, diminuíram os números de casos de câncer de pulmão entre os homens, em São Paulo, Salvador e Curitiba. Porém, houve aumento de incidência desse tipo de tumor na população feminina, em todas as cidades pesquisadas. A justificativa é que elas começaram a fumar mais tarde do que eles e, agora, os casos começaram a aparecer mais. Sobre o câncer de mama, sete das dez capitais que fizeram parte do estudo registraram crescimento de casos, verificados também pelo aumento do número de diagnósticos e de exames feitos no país.
Cerca de 518 mil novos casos de câncer devem ser registrados no Brasil este ano. Segundo a pesquisadora do Inca Marceli Santos, esse dado mostra a evolução da população. "Não se trata de um dado alarmante, mas de uma constatação”, afirma. “A população está envelhecendo, e quanto mais se vive, maiores são as chances de morte por câncer, problemas cardiovasculares e outros tipos de doenças relacionadas à idade”, conclui.
O câncer de pele do tipo não melanoma ainda é o tipo que apresenta a maior incidência de casos no Brasil, tanto entre os homens quanto entre as mulheres. Depois dele, a maior incidência de casos e mortes nos homens é decorrente do câncer de próstata; nas mulheres, do câncer de mama.

RESISTENTES: VIVEM NA TERRA A 200 MILHÕES DE ANOS.

Os jacarés habitam a Terra há 200 milhões de anos, desde a época dos dinossauros, mas, diferentemente dos seus conterrâneos, conseguiram resistir às grandes mudanças que aconteceram no planeta. Esses animais passam o dia às margens de lagos e rios, tomando sol para se aquecer. É que a temperatura do seu corpo varia conforme a do ambiente. Quando faz muito calor, mergulham para se refrescar.
Na água, contam com um remo especial: a cauda. Achatada nas laterais, ajuda a nadar com rapidez. Forte e musculosa, ela também serve para bater em quem ameaça os filhotes. O bicho enxerga bem mesmo no escuro. Os olhos contam com uma membrana especial que permite que o jacaré fique de olhos abertos embaixo da água. Uma pele bloqueia a entrada de água nas narinas. A pele do corpo tem placas grossas e lembra uma armadura. Mas também possui partes flexíveis que permitem movimentos ágeis, tanto na terra quanto na água.
Os dentes pontudos são ótimos para caçar, mas não para mastigar. Sempre que um cai, nasce outro no mesmo lugar. Eles engolem pedaços inteiros de comida, sem mastigar. Depois de comer, podem ficar muito tempo parados, descansando, enquanto o estômago trabalha fazendo a digestão. 
As fêmeas fazem ninhos com folhas e gravetos, sempre perto da água. Depois de dois ou três meses, ainda dentro dos ovos, os filhotes fazem barulho para chamar a atenção da mãe. Ela então se aproxima, usa a boca e as patas para retirar as folhas e galhos e quebra os ovos, um a um, para que os pequenos possam sair.

MÉDICO SEM HUMILDADE É UM DESCALABRO

As palavras são incomuns, mas não há quem não saiba que o corpo humano é intrincado. A imensa maioria dos médicos é feita de cientistas humildes que admitem conhecer o básico, mas não saber o suficiente para cuidar de todas as disfunções do corpo e da mente humana.
Por isso, estudam o básico e se especializam, com o devido cuidado de, após o diagnóstico, enviar o paciente aos cuidados de outro médico que sabe lidar com aquela particularidade. Não há nem pode haver médico capaz de cuidar de todas as doenças. Deus nos criou cheios de pequenos detalhes. 
Há médicos para tudo. Por saberem o suficiente sobre algum detalhe do corpo os chamamos de doutores, mas sabem que doutorado é coisa ainda mais exigente. Médico sem humildade é um descalabro. Diga-se o mesmo dos sacerdotes, bispos, padres ou pastores. Dar respostas apressadas para problemas gigantescos e atribuir tudo o que assusta a anjos e demônios é brincar com fé do povo, da mesma forma que indicar apressadamente qualquer remédio ou fazer qualquer diagnóstico é brincar com a vida humana.
O diagnóstico e a profilaxia revelam o charlatão no consultório, no hospital ou nas igrejas. Você certamente não aceitaria ser operado por um médico apressado e de poucos livros e receitas mágicas. Então também não aceite as respostas de pregadores imediatistas e de respostas mágicas. Reticências e ponto final!

EDUCAÇÃO É A SOLUÇÃO: FORA E DENTRO DOS PRESÍDIOS


Hoje, nossas cadeias abrigam 515 mil pessoas em 1.312 unidades prisionais com capacidade máxima para acolher 306.500 detentos. Se o sistema judiciário brasileiro fosse menos lento e mais humanitário, 36 mil detentos já deveriam ter sido soltos ou beneficiados com a progressão de penas.
A Lei de Execução Penal assegura a cada preso seis metros quadrados de espaço na cela. Hoje, a maioria se espreme entre 70 centímetros e um metro quadrado. Daí as frequentes rebeliões.
O Brasil não tem política prisional e muito menos de reintegração social dos detentos. Diante da violência urbana, muitos clamam, ingenuamente, por mais cadeias. Pressionados pelo clamor popular, governos federal e estaduais investem em prisões o que deveriam destinar a escolas. 
Nossas cadeias são verdadeiros queijos suíços, com multiplicidade de buracos. De dentro das celas, bandidos usam celulares para extorquir incautos (o golpe do sequestro de parentes) e comandar o crime organizado. Drogam-se com cocaína, maconha, crack, e recebem bebida alcoólica.
Privatizar presídios é a solução? Sim, para enriquecer empresários. Esse sistema estadunidense já é adotado nos estados de Pernambuco, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Santa Catarina. A empresa dona do presídio cobra do Estado o que ele gasta, em média, com cada detento: R$ 1.500. E mais R$ 1 mil por cabeça. Ao todo, R$ 2.500 por prisioneiro. Ora, quanto mais tempo o preso permanecer ali dentro, tanto mais lucro. Sem que haja preocupação de reintegração social. 
Nossas unidades prisionais estão sucateadas e abandonadas. Pela Lei Orçamentária Anual, elas deveriam ter recebido do governo federal, este ano, R$ 277,5 milhões. Mereceram apenas R$ 2.579.776,61 – menos de 1% do previsto!
Apenas no Piauí não há superlotação de cadeias. País afora, os presos são confinados em espaços exíguos, promíscuos, sem acesso a atividades esportivas, artísticas, escolares e profissionais. 
O que fazer diante da falta de vagas em nossas unidades prisionais? Adotar a pena de morte? Multiplicar o número de penitenciárias?
 As delegacias e os estabelecimentos de apreensão de menores funcionam como ensino fundamental do crime. Os presídios, como ensino médio. As penitenciárias, como ensino superior.
Como é possível que o Estado não consiga algo tão simples quanto evitar a entrada de celulares na cadeia? Alguém consegue passar com celular escondido no controle dos aeroportos? Isto sim, merece ser imitado dos EUA: detentos usam orelhões para se comunicar com seus familiares e todas as ligações são grampeadas.
Nossos policiais são, em geral, despreparados, a ponto de considerarem direitos humanos como alforria de bandidos; alguns carcereiros dificilmente resistem à corrupção e tratam o preso não como reeducando; o sistema prisional não é pensado tendo em vista a reinserção do preso como cidadão na sociedade.
A educação é a solução, fora e dentro das prisões. Como evitar a criminalidade se 5,3 milhões de jovens brasileiros, com idade entre 18 e 25 anos, estão fora da escola e sem trabalho? 
Nossas penitenciárias poderiam funcionar como escolas profissionalizantes. Aulas de mecânica, computação e culinária, associadas ao aprendizado de idiomas e a práticas esportivas e artísticas, certamente esvaziariam as nossas cadeias. O progresso no curso equivaleria a retrocesso na pena.
Se o Estado e a sociedade não cuidam dos presos, eles mesmos tratam de buscar o que mais lhes convém: auto-organização em comandos; rede de informantes entre carcereiros e policiais; vínculos com os bandos que atuam em liberdade. E nós, cidadãos, pagamos duplamente: por sustentar um sistema inoperante e ser vítimas da recorrente espiral da violência.

BLACK IS BEAUTIFUL II.

Há quatro anos o mundo parou para ver algo impensado: a entrada de um negro na Casa Branca, sede da presidência dos Estados Unidos. E não entrando pela porta dos fundos ou da cozinha. Mas como presidente eleito pela maioria dos estadunidenses.
Naquela ocasião, após torcer , eu escrevi aqui que “Black is beautiful” e que o rosto da maior potência do mundo havia mudado radicalmente naquela ocasião histórica. E era possível acreditar que o novo abria caminho onde o mesmo e o continuísmo pareciam instalados para sempre. Era possível acreditar na liberdade do ser humano que escolhe, que decide e consegue manter-se imune às coações de qualquer tipo. 
Agora, quatro anos depois, o sentimento e a expectativa foram os mesmos, senão maiores. A campanha foi dura, sofrida, apertada. Primeiro debate perdido, ataques contínuos. E os números... As percentagens mínimas fazendo diferenças que pareciam enganosas e davam mais medo que esperança. O furacão Sandy abatendo-se sobre Nova York, deixando os eleitores sem poder votar. 
Mas quando a contagem começou, o alívio tomou conta dos corações e pulmões. E Obama subiu mais uma vez no palanque de Chicago para dar “forward” – adiante! Para a frente! - nas expectativas de milhões de cidadãos que confiaram nele e apostaram na continuidade de seu governo. 
Escolha mais importante porque mais consciente essa de agora do que a de quatro anos atrás. Verdadeira eleição no sentido de escolha para deixar de lado as outras. Os estadunidenses agora já conhecem seu presidente. Para o bem e para o mal. Alegraram-se com seu carisma e inteligência, e com a harmonia transmitida por sua relação com a esposa e a família.
Igualmente decepcionaram-se com o que pareceu ser sua pouca firmeza quanto a questões espinhosas como a saúde pública e a volta das tropas do Oriente Médio. Nem todos terão apreciado a maneira como foi capturado e morto Osama Bin Laden. Ou as posições do presidente sobre o aborto. E sobre o matrimônio gay. 
No entanto, alguns destes, muitos votaram nele. Porque reconheceram que apesar de todas as decepções a outra escolha seria nitidamente pior. Escolheram dar a Barack Obama a oportunidade de levar adiante o positivo trabalho de governo iniciado e que precisa de tempo para amadurecer.
Ficam esperando, sobretudo que o olhar de Obama se volte para aqueles que novamente o colocaram onde está por quatro anos mais. Ele sabe que não foi eleito pelos brancos WASP. Foi eleito pelas minorias: pelos latinos, que desejam não sofrer mais com deportações injustas; pela comunidade afro-americana, que reitera seu apoio a esse que é de sua raça; pelas mulheres, que seguramente gostaram de vê-lo ao lado de Michelle e apostaram no novo que ele traz; pelos jovens, que são a esperança de um país que tem tão tremendo potencial, mas ao mesmo tempo tão imensas dificuldades em levar adiante sua utopia livre e democrática. 
Espera-se que Obama governe para as minorias que, na verdade, já se tornam maioria, como demonstra sua eleição. Espera-se que o presidente reeleito mostre ao mundo que os EUA de hoje não são mais a terra do Kukluxklan, do enriquecimento irresponsável e do preconceito contra outras culturas e raças.
A América para os americanos, dizia um velho refrão branco. Agora, com a reeleição de Obama isso se repete. Com a diferença de que sabemos quem são os americanos: são os latinos, os afrodescendentes, as mulheres, os jovens, os “diferentes” de todo tipo que mudaram o rosto desse país continente tão fascinante, mas tão conflitivo e contraditório. Para
eles e com eles espera-se que aconteça o segundo governo de Obama.

NÓS DAMOS VALOR AS COISAS QUANDO NOS FALTAM

Em nossa vida necessitamos aprender a captar as lições que nos chegam da lei dos contrastes. Aprendemos a valorizar a luz, quando nos vemos ameaçados pelas trevas. Acordamos para o valor inestimável da água, quando somos atingidos por uma estiagem. Dispensamos mais atenção e cuidado à saúde, quando nos vemos fragilizados pela doença. 
Creio que, em nosso tempo, esta lei dos contrastes também atinge os humanos nas crises políticas, econômicas, sociais e religiosas. Quanto mais se publicam notícias de trapaceiros e corruptos, enganadores e ladrões, violentos e agressores, mais necessitamos trazer a público as testemunhas de fé do passado e do presente.
Mesmo que a mídia não ajude muito a contemplar o encantamento pelas testemunhas da fé, a humanidade sempre encontra um jeito de fazê-lo. 
 As jornadas mundiais da juventude, o que revelam?
Aqui, em nosso país, também podemos lembrar o encantamento pelas testemunhas da fé, como Madre Paulina, Irmã Dulce, Irmã Dorothy Stang, Dom Helder Câmara, Frei Salvador Pinzetta, Dom Luciano Mendes de Almeida etc... Aliás, o próprio João Paulo II, ao beatificar Madre Paulina dizia: “O Brasil precisa de santos”. Junto a esses que foram lembrados, em nossas comunidades e famílias cristãs poderíamos elencar uma lista interminável de testemunhas de fidelidade, dedicação, doação e serviço.
Sempre é importante, para nós, que haja alguém para nos lembrar algo que já sabemos. Por exemplo: que Deus é Pai e nos ama; que devemos amar-nos com sinceridade; que Cristo, nossa esperança, ressuscitou. Desta forma, nos damos conta que o Cristianismo é simples e, por isso, os simples o entendem tão bem e tão rapidamente.

QUEM DISSE QUE É IMPOSSÍVEL?

Santa Bárbara, na Califórnia, é uma cidade de porte médio, com menos de 90 mil habitantes. Como toda a cidade, tem seus contrastes. Lá existem também os sem-teto, dormindo no banco do jardim, na soleira das portas ou numa calçada qualquer. Joe é dos sem-moradia. Sua companhia inseparável: um cão. Um dia, um gato sem dono juntou-se aos dois. Entre o gato e o cão surgiu uma tranquila parceria. Depois foi a vez de um rato branco que se associou a eles. Os quatro iam fazendo sua vida, repartindo com tranquilidade a pouca comida que lhes era dada.
O fato de animais, historicamente vistos como inimigos, vivendo juntos em harmonia, começou a chamar a atenção de todos. Num certo dia, alguém ofereceu ao sem-teto vinte dólares para fotografar os seus animais. Nasceu daí um meio de vida para eles. As fotografias se multiplicaram e todos deixam sua contribuição. As fotos acabaram no youtube e percorrem o mundo. O cachorro, o mais forte dos três, na maior parte do dia carrega o gato e o rato para que eles não precisem caminhar tanto. Os gestos de carinho são rotineiros. À noite eles se acomodam do melhor jeito possível, aquecendo-se mutuamente. Hoje eles são visita obrigatória para os turistas que passam por Santa Bárbara. Com direito a uma fotografia.
Um mundo diferente é possível. É isto o que esses animais nos ensinam. Costumamos dividir o mundo em classes: ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, sábios e ignorantes, bons e maus, amigos e inimigos. E apostamos nessas divisões. Seguimos uma tendência já manifestada na primeira página da Bíblia; trata-se da Lei de Caim. Esta lei determina a destruição do irmão. Ainda não nos damos conta que a melhor maneira de vencer o inimigo não é derrotá-lo, mas fazê-lo amigo.
Jesus coloca o amor como a lei fundamental da convivência humana. O amor não tem contraindicações. Mas a humanidade ignorou o caminho do amor e, hoje, vive sob a lei do temor. Os outros são vistos como inimigos. E assim os tratamos e eles acabam inimigos de verdade.
Francisco de Assis preferiu outro caminho, o caminho da fraternidade. Foi assim que ele venceu – conquistou – o lobo, chamando-o de irmão. Foi assim que, contrariando a filosofia dos Cruzados, teve entrada franca no palácio do sultão. Foi assim que ele reconciliou cidades em guerra.
Uma das dificuldades é a pressa. Queremos que a semente do amor germine imediatamente. É necessário que, antes da proposta, exista uma vida que legitime o amor. São João da Cruz lembrava: “Onde não há amor, plante amor e, um dia, colherá amor”. 
Não desanime, não pense que é impossível se a primeira vez não deu certo. Tente de novo. Uma vez plantada, a semente do amor germinará, mas não fixe tempo para isso. 
Olhe o quarteto de Santa Bárbara e caminhe nessa direção.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O NATAL NÃO FRACASSOU

Amanhã é Natal. A frase foi recebida com surpresa pelo grupo de peregrinos que preparava-se para o jantar, após um extenuante dia de julho, que começara em Nazaré, passara pelo Mar Morto e estava terminando a 13 quilômetros de Jerusalém. Quem proferiu a frase foi a guia turística Silvana, olhos azuis, cor de jambo, denotando sangue árabe. Ela tratou de explicar: estamos em Belém e, para nós, esta noite é santa e nela festejaremos o nascimento de Jesus. A proposta foi aceita e o sono dos turistas foi povoado pelo canto de anjos, anunciando Paz na Terra. Na manhã seguinte, manhã cheia de luz, o grupo, com roupas de festa, dirigiu-se à gruta de Belém. Recuando dois mil anos, novos pastores olharam silenciosamente para o humilde berço de nosso Deus, não conseguindo impedir as lágrimas.
Numa de suas inesquecíveis canções, Padre Zezinho proclama: “Tudo seria bem melhor, se o Natal não fosse um dia e se as mães fossem Maria e se os pais fossem José! E se os filhos parecessem com Jesus de Nazaré”. Dois mil anos são insuficientes para entender a magia daquela noite santa, que a Bíblia define como Plenitude dos Tempos.
A nossa grande miopia é supor que o Natal é apenas um dia. Uma noite santa, cheia de bons sentimentos, ternura e presentes. Depois a vida continua do mesmo jeito. 
Não longe de Belém, os homens-bomba esperam pelo melhor momento para matar irmãos. Em Belém e em todas as partes do mundo há corações endurecidos pelo ódio, há mulheres provocando abortos, há crianças, doentes e idosos abandonados à própria sorte. Não é este o Natal que Jesus pretendia.
Natal é anúncio que o fatalismo e todas as maldições foram derrotados. Natal é o anúncio que uma nova história está em curso. É a História da Salvação. É o anúncio de que o amor misericordioso de nosso Deus nos visitou e permanecerá conosco para sempre.
Natal não é um dia, mas o começo de um tempo novo. O casamento não é um dia, não e apenas uma festa, mas um amor eterno. O domingo também não é um dia, mas uma pausa para mudar todos os dias da semana.
Há dois mil anos festejamos o dia de Natal e a história humana parece não mudar - ou até muda para pior. Mesmo assim precisamos continuar celebrando a noite natalina. Apesar da insensibilidade humana, apesar das tragédias e crimes, o Natal não fracassou. É a recordação de que o amor de Deus não volta atrás. 
Num dia ainda desconhecido, pode ser nos próximos milênios, o Natal acontecerá de verdade. Por enquanto, precisamos continuar festejando o Natal, não como um fato acontecido “naquele tempo”, mas que tem tudo a ver com este nosso conturbado 2012. Natal é profecia e essa profecia está em curso. Ninguém poderá detê-la.

JESUS E PAPAI NOÉL

Sabemos todos que Papai-noel nasce, de fato, na fantasia das crianças. Acreditei nele até o dia em que me perguntei por que o Paulo, filho da empregada, não recebera tantos presentes de Natal como eu. O velhinho barbudo discrimina os pobres? 
Malgrado tais incongruências, Papai-noel é uma figura lendária, reaviva a criança que trazemos em nós. E disputa a cena com o Menino Jesus, cujo aniversário é o motivo de festa e feriado de 25 de dezembro. Papai-noel enriquece os correios no período natalino, tantas as cartas que são remetidas a ele. Aliás, basta ir aos Correios e solicitar uma das cartas que crianças remetem ao velhinho barbudo. Com certeza o leitor fará a alegria de uma criança carente.
Não se sabe o dia exato em que Jesus nasceu. Supõem alguns estudiosos que em agosto, talvez no dia 7, entre os anos 6 ou 7 antes de Cristo. Sabe-se que morreu assassinado na cruz no ano 30. Portanto, com a idade de 36 ou 37 anos, e não 33, como se crê. 
Tudo porque o monge Dionísio, que no século 6 calculou a era cristã, errou na data do nascimento de Cristo. 
Até o século 3, o nascimento de Jesus era celebrado a 6 de janeiro. No século seguinte mudou, em muitos países, para 25 de dezembro, dia do solstício de inverno no hemisfério Norte, segundo o calendário juliano. Evocavam-se as festas de épocas remotas em homenagem à ressurreição das divindades solares. 
Os cristãos apropriaram-se da data e rebatizaram a festa, para comemorar o nascimento Daquele que é "a luz do mundo". Para não ficar de fora da festa, os não cristãos paganizaram o evento através da figura de Papai-noel, mais adequado aos interesses comerciais que marcam a data. 
Vivemos hoje num mundo desencantado, porém ansioso de reencantamento. Carecemos de alegorias, mitos, lendas, paradigmas e crenças. O Natal é das raras ocasiões do ano em que nos damos o direito de trocar a razão pela fantasia, o trabalho pela festa, a avareza pela generosidade, centrados na comensalidade e no fervor religioso. 
Pouco importa o lugar em que nasceu Papai-noel. Importa é que o Menino Jesus faça, de novo, presépio em nosso coração, impregnando-o de alegria e amor. Caso contrário, corremos o risco de reduzir o Natal à efusiva mercantilização patrocinada por Papai-noel. Isso é particularmente danoso para a (de)formação religiosa das crianças filhas de famílias cristãs, educadas sem referências bíblicas e práticas espirituais.
Lojas não saciam a nossa sede de Absoluto. Há que empreender uma viagem ao mais íntimo de si mesmo, para encontrar um Outro que nos habita. Esta é, com certeza, uma aventura bem mais fascinante do que ir até a Lapônia.
Contudo, as duas viagens custam caro. Uma, uns tantos dólares. Outra, a coragem de virar-se pelo avesso e despir-se de todo peso que nos impede de voar nas asas do Espírito. 

DOIS TIPOS DE LADRÃO

Você não percebe a diferença, mas não poucas vezes você é roubado e tomado de assalto por bandidos suaves e sem armas. Traído pelo sorriso acolhedor dele ou dela, ou pelas promessas de vantagens da firma ou do produto, você assina, mostra o RG, revela o CPF, dá o telefone e até a senha, para depois descobrir que foi roubado. Compra um produto que, aparentemente, lhe sairia de graça e não lê o texto por completo, instala-o no computador ou no celular e, em pouco tempo, chegam as faturas, as instalações, os acréscimos, as multas… Você assinou ou apertou o botão errado…
Há ladrões violentos e há ladrões persuasivos. Cuidado com a internet. Cuidado com os novos produtos. Cuidado com as compras a prazo. Se pedirem seu CPF, faça de tudo para não dar. Se você não der, o vendedor talvez não venda. Mas as chances são de que ele venderá, mesmo se não tiver acesso ao seu CPF. Se puder comprar a dinheiro, compre. Se você sai por aí espalhando CPF, RG e senha, não se espante se um dia sua vida se complicar por conta de uma conta da qual você não fez muita conta…
Meses atrás comprei, a dinheiro, um telefone sem fio. O rapaz pediu meu endereço; não dei. Pediu meu CPF; não dei. Pediu meu telefone; não dei. Pediu o RG e não dei. Disse que assim não poderia me dar garantia de troca. Resolvi correr o risco. Paguei no ato e levei da lojinha o telefone sem fio que funciona muito bem. Mas aquela lojinha não tem meus dados. Tem apenas o dinheiro que lhe paguei.

A TUA FÉ TE SALVOU.

Um das realidades da experiência humana em que mais se apela para a fé é a doença. Já se ameaçou publicar a “morte de Deus”, substituído pelos avanços científicos e técnicos; já se disse que Deus é uma invenção humana para os fracos, mas hoje estamos notando claramente que todos os avanços não estão conseguindo resolver as questões mais preocupantes da vida. Não vem ao caso atiçar uma briga entre ciência e fé, que em nada ajudou a nenhuma das partes por muito tempo.
A doença precisa da medicina, e a medicina verdadeira também conta com a fé e o cultivo de uma espiritualidade. No livro do Eclesiástico encontramos uma página de sabedoria e integração da fé com a ciência, da oração com a medicina, para que a “saúde se difunda sobre a terra”. O texto afirma que um bom israelita não pode se revoltar contra a enfermidade, mas elevar a Deus sua oração, rogando a cura.
O mesmo texto do Eclesiástico afirma que é próprio da fé interceder também pelo farmacêutico e pelo médico para que acertem nos remédios, no diagnóstico e no tratamento. O médico, por sua vez, deve colocar sua ciência e habilidade a serviço da cura, para que todos preservem e cultivem uma justa qualidade de vida. A súplica de quem roga pela saúde deve ser acompanhada pelo sincero desejo de cumprir os mandamentos e manter-se fiel.
Quando acompanhamos, passo a passo, os encontros de Jesus com os doentes e sofredores, alguns elementos chamam atenção. Ele sabe que o fenômeno da cura pode suscitar nos curados e nos que ficam sabendo, ou vendo, uma atitude de fanatismo. Os fanáticos propagam um falso messianismo, contrário ao Evangelho da vida. Porque Jesus confia no Pai e com Ele está em comunhão, também crê no ser humano, na sua capacidade de erguer-se pela graça de Deus. 
Por este motivo, outro elemento das curas de Jesus nos chama atenção, quando insiste: 
“...a tua fé te salvou!”
A fé dos intermediários entre Cristo e o doente confirma-se também importante. Assim vemos o centurião que crê na palavra de Jesus , ou ainda a fé de Jairo para a ressurreição de sua filha. Esses quadros nos mostram como, hoje, é importante a súplica de intercessão da família, da comunidade e dos amigos pelos doentes.
Conhecemos o relato de uma experiência vivida num grande hospital dos Estados Unidos, onde um grupo de cientistas encaminhou a divisão de pacientes em duas alas diferentes. Numa foram colocados os doentes que contavam com a oração e a intercessão dos externos e, em outra, os doentes que não tinham nenhuma ajuda espiritual. Em pouco tempo a diferença foi notória. Os que tinham acompanhamento espiritual pela oração reagiam positivamente de modo admirável. Os outros que não contavam com o reforço da oração confirmavam uma enorme dificuldade de melhora.
Em se tratando da força da fé para curar, creio que temos muitos aspectos a aprofundar e, acima de tudo, um grande desafio para o justo equilíbrio entre o simplismo mágico e a fé cristã verdadeira. Deus nos dê saúde e fé!

A AMAZÔNIA PERDEU 240 MIL KM2. DE FLORESTAS.

Enquanto delegados de quase 200 nações reunidos em Doha, Qatar, adiavam decisões importantes sobre o meio ambiente , o mundo era impactado pela divulgação de estudos que pedem providências urgentes. Um deles diz respeito ao Brasil. Trabalho inédito realizado em nove países sul-americanos revelou que, entre 2000 e 2010, a Amazônia perdeu 240 mil km2 de florestas, 3% de sua área total, o equivalente ao Estado de São Paulo ou a 85% do território gaúcho.
Coordenado pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), o atlas “Amazônia Sob Pressão” mediu, a partir de imagens de satélite, o desmatamento entre 2000 e 2010 em todos os países que abrigam a floresta e projetou as principais ameaças ao ambiente e à população local.
Segundo o levantamento, entre 2000 e 2010, 80,4% do desmatamento da Amazônia ocorreu no Brasil, país que abriga 58,1% da floresta. Com a segunda maior porção de cobertura florestal, 13,1%, o Peru foi responsável por 6,2% do desmatamento no período, seguido pela Colômbia - tem 8% da floresta e derrubou 5%. 
A pesquisa mostra, porém, que o ritmo de desflorestamento no Brasil tem se reduzido desde 2005. Há duas semanas, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou a menor taxa anual de destruição da Amazônia no Brasil desde 1988. E afirmou que o país deverá baixar o desmatamento ao limite de 3.925 km2 de floresta ao ano em 2020. Para especialistas, esses níveis de desmatamento resultarão na morte lenta da Amazônia.
O estudo revela ainda que, se todos os projetos de exploração econômica na região saírem do papel, a Amazônia poderá perder até a metade de sua cobertura florestal. Eles se referem a estradas, exploração de petróleo e gás, mineração, hidrelétricas, focos de calor e o desmatamento. De acordo com a pesquisa, a presença de estradas na Amazônia está associada à exploração ilegal de madeira, ao avanço de atividades agropastoris e a grandes projetos de infraestrutura e urbanização.

ALÔ PREFEITOS E VEREADORES ELEITOS: DEEM PRIORIDADE PARA A EDUCAÇÃO.

Após a refrega eleitoral deste ano, assisti aos eleitos eufóricos, dando entrevistas e relatando suas metas administrativas para seus quatro anos de governo, uns dando preferência a esse setor, outros àquele outro. Todos, de modo geral, priorizando a saúde, depois a segurança, agricultura, transporte, estradas, habitação e, finalmente, educação.
Ninguém, repito, ninguém mesmo deu primazia à educação. Será que teremos que esperar mais 500 anos para descobrir que sem educação não se chega a lugar nenhum? Com educação de qualidade e com professores, não com “trabalhadores e nem com profissionais de educação”, mas com educadores bem pagos, evita-se que o cidadão vá para o hospital por falta de higiene, de alimentação adequada e se capacita o cidadão para exercer com qualidade e competência qualquer atividade, até para saber plantar mandioca ou repolho.
Um cidadão instruído e educado sabe encontrar seu lugar ao sol. Não precisa de bolsa família, de bolsa gás, de bolsa sei lá de quê, para sobreviver. Ele sabe, sente-se feliz e com capacidade para enfrentar a vida por mais dura e madrasta que seja. Terá orgulho de dizer: “Tenho minha casa mobiliada, meu carro e um bom emprego para sustentar minha família, porque eu estudei e consegui meu lugar ao sol”.
Mas não é isso que se ouve através dos meios de comunicação e do que o povo fala nas ruas, praças, botecos e nos diferentes lugares de lazer, Fala-se muito qual irá ser seu emprego na prefeitura, porque, afinal, “trabalhei e me esforcei para o meu candidato ser eleito e agora é minha vez de exigir um cargo na administração municipal”. Não se questiona se tem qualificação para exercer com competência e eficiência esta ou aquela função pública. O negócio é conseguir ser chamado e integrar o quadro de funcionários da prefeitura. O resto que se dane!
Prefeitos eleitos, façam como Brizola. Deem preferência total à educação, que as demais atividades administrativas municipais desenvolver-se-ão como que por um toque de mágica, porque sem educação não há salvação, nem aqui nem na Cochinchina. Até a limpeza da cidade, em geral, terá outro perfil, porque o cidadão educado tem consciência de que não pode jogar no chão papel, plásticos e tocos de cigarros. 
Mas para isso temos que começar pela família, nos primeiros anos de escola e, assim, sucessivamente, até chegar à universidade. É claro que não será de uma hora para outra. Levará anos a fio, mas com persistência chegar-se-á nos patamares dos países de primeiro mundo. Enfatizamos, é preciso dar o primeiro passo e esse deve iniciar pela educação na família e no município, porque é ali que o cidadão reside, vive e se realiza.

DIREITOS HUMANOS: MAIS DE 700 DENÚNCIAS POR DIA

A cada dia, quase 500 denúncias de violações de direitos humanos são feitas no Brasil por meio do Disque 100. De janeiro a novembro deste ano foram 155.336, o que representa aumento de 77% sobre o mesmo período de 2011, quando foram registradas 87.764 denúncias. Se forem consideradas também as ligações com pedidos de orientações e de informações, o total pula para 234.839 atendimentos – média diária superior a 700.
Os dados foram divulgados na segunda 10 pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, responsável pelo serviço, para marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Para a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, o aumento nos números ocorreu porque a população percebeu que o serviço é confiável. “Se a população não percebesse que há resultados e que a rede de acolhimento e de encaminhamento está melhorando, não continuaria denunciando por meio do serviço”, disse.
Ela destacou, no entanto, que o incremento não significa, necessariamente, aumento dos casos de violência no país, mas indica que as violações de direitos humanos “não ficam mais invisíveis”. “Isso comprova que o Brasil se importa e que qualquer pessoa que sofra uma situação desse tipo sabe que não é justo e que ela pode denunciar”, acrescentou.
Maria do Rosário ressaltou que as denúncias são importantes porque as vítimas precisam de atendimento e porque elas contribuem para que os agressores não fiquem impunes. Ela enfatizou que todas as denúncias são encaminhadas a autoridades locais da rede de assistência, como conselhos tutelares – no caso de violações contra crianças, ministérios públicos e órgãos de segurança pública.
Desde maio de 2003, quando o serviço passou a ser operacionalizado pelo governo federal, o Disque 100 recebeu e encaminhou 396.693 denúncias em todo o país. 

NOVO TABACO PARA PRODUZIR BIO DIESEL

Em Rincão Del Rey, terceiro distrito de Rio Pardo (RS), está acontecendo a colheita do primeiro tabaco energético da América Latina. Voltada para a produção de biodiesel, a planta tem baixíssimo teor de nicotina e é rica em óleo. Ao contrário de outras variedades, quando o importante são as folhas, a do tabaco energético são aproveitados os grãos (cápsulas) ver quadro.
O objetivo é proporcionar diversificação e alternativa para o produtor de tabaco com o aproveitamento das sementes para a fabricação de óleo vegetal e, consequentemente, de biodiesel ou bioquerosene de aviação, ração animal e biomassa para geração de energia. 
O tabaco energético foi desenvolvido pela empresa italiana de biotecnologia Plantechno. No fim de 2011, a variedade foi plantada em 10 hectares na propriedade de Nelson Tatsch”, que é produtor de grãos (soja, milho, canola, aveia).
Em parceria entre a M&V Participações e a Sunchem, a primeira colheita de porte para processamento industrial começou em outubro deste ano. Neste momento, está ocorrendo a segunda coleta nos mesmos pés. “Pretendo fazer a terceira colheita no início de 2013”, revela Tatsch ao CR. 
Para conhecer a resistência da planta de tabaco energético, esta lavoura teste foi desenvolvida no período contrário ao recomendado para a planta do tabaco. As mudas foram transplantadas nos meses de abril e maio e resistiram às geadas nos dias 6 e 7 de junho, bem como às condições impostas pelo inverno gaúcho. “Apesar dos desafios climáticos, a planta do tabaco energético cresceu e produziu as sementes esperadas em condições adversas nas quais a planta de tabaco para fumo não sobreviveria", destaca. Ainda não existem dados conclusivos sobre a produtividade, mas há reconhecimento sobre a planta ser muito robusta. 
De acordo com o coordenador do projeto, economista Sérgio Campos de Morais, a produção da nova planta pode ser intercalada com a safra convencional, já que é mais resistente. “A expectativa dos pesquisadores é que os fumicultores plantem as duas variedades”, afirma. 
A produção é vista com otimismo pelo presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil, Benício Werner. O dirigente entende que, além de ampliar práticas agrícolas, o tabaco energético é uma boa alternativa para reduzir a dependência da principal matéria-prima para a fabricação do biocombustível, a soja.
A Sunchem já aplicou R$1,5 milhão no país e pretende investir mais R$ 20 milhões nos próximos 10 anos. “Nosso plano é construir a primeira indústria no Sul do Brasil - Sunchem South Brazil - com produção de 250 mil toneladas do tabaco energético ao ano”, adianta o sócio executivo da M&V, Sérgio Detoie Cardoso Martins.

MUITO BLÁ-BLÁ-BLÁ E RESULTADO ZERO

A tentativa de obter um novo acordo na luta contra o aquecimento global avançou pouco. A Conferência do Clima, a COP-18, encerrada no sábado 8, em Doha, Qatar, repetiu resultados pífios de tantas outras. Isso depois do adiamento para aproximar os delegados de 190 países de um acordo e da fixação de metas só para países em desenvolvimento, responsáveis por 15% das emissões de gases do efeito estufa. 
Alguns componentes colaboraram para este desfecho. Entre eles estão o flagrante desinteresse em acelerar decisões por parte do país anfitrião, o Qatar, maior emissor de C02 per capita do mundo; a ambição concentrada apenas no surgimento do Ato II do Protocolo de Quioto a partir de janeiro do ano que vem – com defecções previamente anunciadas; e a restrição de abrangência, tornando-a praticamente simbólica devido à retirada de países importantes econômica e politicamente.
Durante doze dias de reuniões e pouca evolução, com debates extensos e inócuos, o mundo seguiu sentindo os efeitos do descontrole da emissão de poluentes. Um dos estudos apresentados revela que, a se manter o atual ritmo de crescimento das emissões de CO2, a mais de 3% anuais, o aumento da temperatura pode superar 5ºC em 2100.
As notícias da degradação ambiental proliferaram em outras áreas. Uma delas envolve o Brasil: entre 2000 e 2011 a Amazônia perdeu 240 mil quilômetros quadrados de florestas. A área equivale ao Estado de São Paulo, ou a 85% do território do Rio Grande do Sul.
O COP-18 estendeu o Protocolo de Quioto até 2020 e sinalizou outra reunião, em 2015, na França. Adiar medidas tem sido a rotina dos encontros sobre meio ambiente. Enquanto isso, o planeta sofre com mudanças climáticas, um desafio que só será superado se o coletivo predominar. Doha representou mais um capítulo do livro que traz várias maneiras de não adotar medidas urgentes fazendo de conta que se tomam decisões importantes.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

FAÇA A SUA PARTE

Cercado dos seus discípulos, um homem de Deus caminhava por uma estrada em péssimo estado. Tudo servia como motivo para instruir seus seguidores. No meio da manhã encontraram um carro de bois atolado no barro. Ao lado, um homem piedoso, de joelhos, pedia que Deus o ajudasse tirando o carro do atoleiro. Todos olharam o devoto, sensibilizaram-se e prosseguiram o caminho. Alguns quilômetros adiante encontraram um outro homem com o carro atolado no lamaçal. Este, porém, esbravejava contra o governo e contra Deus, enquanto fazia todo o esforço para liberar o carro. 
O homem de Deus, para espanto dos discípulos, decidiu ajudá-lo e o carro retomou sua jornada. Os aprendizes, surpresos, ponderaram ao mestre: senhor, o primeiro homem orava, era piedoso e não o ajudamos. Este, que era rebelde e blasfemava, recebeu nosso auxílio. Qual a razão? Sem se perturbar, o mestre esclareceu: aquele que orava, aguardava que Deus viesse fazer a tarefa que a ele competia. O outro, embora transtornado, estava lutando e por isso mereceu nosso auxílio.
Nem sempre sabemos orar. Até os apóstolos, um dia, suplicaram ao Mestre que Ele os ensinasse a rezar corretamente. Rezar não pode servir de desculpa a preguiçosos. Não podemos pedir a Deus que faça o que seria nossa obrigação. Rezar não é tentar mudar a vontade de Deus. A oração vai por outro caminho. É partir da certeza de que Deus é Pai e quer nossa felicidade. Nossa oração deve ter como objetivo conhecer a vontade de Deus para que nós possamos fazê-la acontecer.
Não é correto, em nossa prece, pedir que Deus remova alguns obstáculos que nós mesmos colocamos no caminho. Só depois que tivermos feito a nossa parte temos o direito de pedir a força que vem do alto.O primeiro homem que caiu no atoleiro confiou a Deus toda a tarefa. O segundo, pelo menos, estava fazendo o que lhe competia. De alguma maneira, ele também tinha convicção que Deus falhara em algum ponto.
Rezar é colocar-se, com a atitude de filhos, diante do Pai. E na oração ensinada por Jesus aparece uma escala de valores em nossa prece. Antes de tudo devemos lembrar que Ele é Pai de todos e que está em toda a parte. Com nossa voz santificamos o Nome, o Reino e a sua Vontade. Isto convém aos filhos. Só depois, lembra as necessidades dos filhos, a partir do pão de cada dia. Lembramos ainda nossa pobreza e suplicamos que Ele nos livre dos atoleiros e nos dê a graça de saber perdoar a todos.

LADRÃO É LADRÃO.

Você talvez não conheça nenhum madeireiro. Nem eu. Pois bem! Não os coloque todos na mesma categoria, porque muitos deles são sérios. Trabalham com madeira selecionada, plantada, autorizada pelo governo. São confiáveis! Não estão roubando a madeira do povo brasileiro. Eles a plantam.
Mas há os outros… Lembram o fazendeiro que não tendo paciência de esperar seu gado crescer manda roubar o gado alheio e o vende como se fosse seu. Estes pseudo-madeireiros dão um jeito de burlar a lei, pagar propina, enganar as autoridades e extrair madeira em ritmo frenético, madeira que não pertence a eles. São estes que mandam matar os defensores do verde.
Nos últimos tempos tem havido um esforço desesperador da parte deles para roubar do povo brasileiro o máximo de madeira que puderem no, ainda hoje, anonimato de seus roubos. Como preveem que, por conta dos satélites, isso não será mais possível num futuro bem próximo, por causa da vigilância cada dia mais intensa, assim como da oposição de ONGs, associações de defensores do verde e da natureza, eles correm contra o tempo. Roubam enquanto podem.
O fato de compradores não aceitarem mais madeira não registrada explica por que aumentou tanto o desmatamento nos últimos anos. Eles sabem que a vigilância tornará impossível viver da maneira criminosa como vivem e não lhes interessa trabalhar segundo a lei, como outros madeireiros o fazem.
Sabem que serão presos, sabem que a multa é caríssima, mas sabem que por conta de alguns fiscais corruptos ainda há impunidade em algumas áreas. Vão primeiro tentar roubar o quanto puderem e, depois, lutar para saírem impunes, com anistia geral, como tem ocorrido frequentemente neste país. 
Terão que descobrir outras maneiras de fazer dinheiro ilícito porque madeira não dará mais lucro fácil. Talvez alguns se mudem para as grandes cidades para explodir cofres de banco… Afinal trata-se do mesmo roubo. Tiram o que é dos outros; uns a madeira, outros o dinheiro…

A VOZ INTERIOR NINGUÉM CALA.

O corrupto ama a escuridão e abomina a luz. Ele sabe o quanto é condenável o que pratica. É nesse ponto que se anuncia a consciência. Fizeram-se inumeráveis interpretações do fato da consciência. Tentaram derivá-la da sociedade, dos superegos das tradições e das religiões, do ressentimento face aos fortes e outros. Os manuais de ética referem infindáveis discussões sobre a origem, a natureza e o estatuto da consciência. Entretanto, por mais que tentemos derivá-la de outras realidades, ela se mantém como instância irredutível e última.
Ela possui a natureza de uma voz interior que não consegue ser calada. Exemplifiquemos: em 310, o imperador romano Maximiano mandou dizimar uma unidade de soldados cristãos porque, depois de uma batalha, se negaram a degolar inocentes. Antes de serem executados, deixaram uma carta ao imperador: “Somos teus soldados e temos as armas em nossas mãos. Entretanto, preferimos morrer a matar inocentes a ter que conviver com a voz da consciência nos acusando” (Passio Agaunensium). A 3 de fevereiro de 1944 escreve outro soldado alemão e cristão a seus pais: “Fui condenado à morte porque me neguei a fuzilar prisioneiros russos indefesos. Prefiro morrer a levar pela vida afora a consciência carregada com o sangue de inocentes. Foi a senhora, minha mãe, que me ensinou a seguir sempre primeiro a voz da consciência e somente depois as ordens dos homens (Letzte Briefe zum Tode Veruteilter).
Que poder possui essa voz interior a ponto de vencer o medo natural de morrer e aceitar ser morto? Ela admoesta, julga, premia e castiga. Com razão Sócrates e Sêneca testemunhavam que a consciência “é Deus dentro de ti, junto de ti e contigo”. Kant, o grande mestre do pensamento ético, dizia que “a consciência é um tribunal interno diante do qual pensamentos e atos são julgados inapelavelmente”. Foi esse filósofo que introduziu claramente a distinção entre preço e dignidade. Aquilo que tem preço pode ser substituído por algo equivalente. Entretanto há uma instância em nós que está acima de todo preço e que, 
por isso, não admite nada que a substitua: essa é a “dignidade humana”, fundada na consciência de que “o ser humano é um fim em si mesmo e que não pode jamais servir de meio para qualquer outra coisa”.
O mau e o corrupto se escondem sem que ninguém os procure e fogem sem que ninguém os persiga. Donde lhe vem esse medo e pavor? Quem é esse que vê os dinheiros escondidos e para os quais não existem cofres secretos nem senhas para abri-los? Para ela não há segredos em quatro paredes palacianas ou em obscuro quarto de hotel. O corrupto sabe e sente que a consciência é maior que ele mesmo. Não possui poder sobre ela. Não a criou. Nem pode destruí-la. Ele pode desobedecer ao seus imperativos. Negá-la. Violentá-la. Mas o que ele não pode é silenciá-la.
Por que aventamos esse clamor íntimo? Porque estamos interessados em conhecer os tormentos que a má consciência inflige ao coração e à mente daquele corrupto que desviou dinheiro público, que se apropriou 
das poupanças dos trabalhadores e dos idosos e que, desmascarado, teve que inventar mentiras e mais mentiras para esconder o seu malfeito. Mas não há nada escondido que um dia não seja revelado.
Mesmo que saia absolvido em um tribunal, porque contratou advogados hábeis em fazer narrativas tão lógicas que encobriram seu crime e convenceram os magistrados, ele não consegue escapar do tribunal interior que o condena. Uma voz o persegue para onde for, acusando-o de indigno diante de si mesmo, incapaz de olhar com olhos límpidos para sua esposa e filhos e conversar com coração aberto com seus amigos. Uma sombra o acompanha e lhe rouba a irradiação que nasce da bondade originária de uma consciência serena e feliz. A vida o amaldiçoa porque traiu a verdade, violou sua própria dignidade e se fez desprezível diante de sua própria consciência.

QUANDO O ERRO VALE A PENA

Considerado um bom tenista, integrante da seleta Associação dos Tenistas Profissionais dos Estados Unidos (ATP), Donald Young passou por um período difícil. Nada dava certo. Passou 17 jogos sem vencer. Ele pensava desistir, mas os colegas o animavam: você está jogando bem, é apenas questão de tempo. Finalmente voltou a vencer e a sorrir. Ele admitiu que esta vitória teve o dom de fazer esquecer a longa série negativa e deu-lhe a alegria de um principiante, como se fosse a primeira vitória.
A vida não é nunca o mar de rosas que sonhamos. Ela se constitui em grande desafio. E os desafios surgem de toda parte, sobretudo a partir de nós mesmos. Os outros podem nos incentivar ou desanimar. O importante é ter um objetivo, lutar por ele e pagar o preço necessário. Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica, conheceu o insucesso e as palavras desanimadoras: você não vai conseguir. Por duas mil vezes não deu certo. O caminho mais curto é tentar outra vez. Esta a sua filosofia. Coroado de sucesso, olhava para trás e garantia: não falhei uma única vez, cada erro me ensinava uma maneira que eu não devia repetir, pois não dava certo. 
Todos erramos, todos falhamos. O que marca a pessoa inteligente é aproveitar os próprios erros. Quando nos ensina alguma coisa, o erro valeu a pena. 
A vida é uma grande escola e nela podemos aprender de duas maneiras: com os erros e os acertos. Mas como não temos tempo de cometer todos os erros, é inteligente aprender também com os erros dos outros. Por vezes temos a tentação de deixar de lado os conselhos dos pais. Afinal, eles são de outro tempo. Como nós, nossos pais tentaram, erraram e souberam recomeçar. E isso deu-lhes sabedoria. Um provérbio popular garante que o diabo é inteligente, não por ser diabo, mas por ser velho.
A vida é uma obra de arte. Vale o produto final. Ninguém mais vai lembrar nossas experiências negativas, mas o sucesso que acabará vindo. Devemos imaginar que o sucesso está ali, logo adiante. Se não fosse pelo último minuto, muitas coisas não teriam acontecido. O último minuto ainda não aconteceu. Uma única vez não podemos falhar: é quando tentamos pela última vez. Tentar mais uma vez foi o segredo de um Thomas Edison, de um Cristóvão Colombo, de um Giuseppe Verdi. Quanto aos outros, os que desistiram, seus nomes não foram guardados pela história.
Uma das miopias de nosso tempo é achar que o sucesso tudo justifica. Mais importante que o sucesso é a causa abraçada. Saint Exupéry lembra a história de seu pequeno avião que caiu entre as montanhas nevadas dos Andes. Tudo o levava a desistir e deixar que o doce veneno do gelo acabasse com seu sofrimento. Mas ele decidiu dar mais um passo. Depois, caminhou dois dias e duas noites até a salvação. 
O segredo foi dar mais um passo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FIM DE ANO... BOM PERÍODO PARA MEDITAR


Para os que têm como seu calendário o gregoriano, o fim de mais um ano se aproxima...
Com ele, encerra-se mais um ciclo. Inicia-se outro.
É hora de parar de andar em círculos. De ficar dando 360º repetidamente e, com tais movimentações, bloquear a evolução.
Você precisa mudar de nível, subir um degrau, galgar novos patamares, sair de onde está. Todavia, para isso, é necessário que olhe de forma imparcial e isenta, profunda e verdadeira, para teus dias passados e para o teu interior.
Não ache que mudará o mundo, mudará pessoas, mudará relacionamentos, mudará tua vida, sem antes não encontrar o que deve mudar em você. Nossa constituição física e cultural nos conduz a ver o externo. A enxergar somente o mundo exterior. O que é aparente aos nossos olhos.
Assim, quando temos quaisquer variações (de saúde, emocionais, físicas) necessitamos recorrer a alguém, seja um especialista ou um amigo, para obter o seu parecer, receber seu feedback. Isso se dá, pois, embora tenhamos sido dotados de tal capacidade, não a habilitamos para nos enxergar, para nos ver por dentro. Uma boa oportunidade de tornar essa função "ativa" em você é agora. Aproveite os sentimentos e as esperanças que permeiam essas datas festivas e olhe para dentro de si. Você não pode continuar errando nas mesmas coisas. Não pode permanecer onde está. Agora, olhe para o teu passado e veja onde poderia ter feito diferente e torne a conclusão dessa reflexão, o teu mantra. Paralelamente, recorra à tua memória, e relembre o que você fez, ou os sentimentos que emanou quando obteve tuas vitórias, quando se deram os teus acertos... Ache a sintonia necessária para que todo o universo conspire a teu favor.
Não te enxergue pequeno, pois tu és grande: foi assim que DEUS te fez. Não te enxergue comum, pois tu és único: foi assim que o CRIADOR te constituiu. Não te veja como não merecedor, pois tu és herdeiro de tudo abaixo do céu. Não limite os teus passos, pois se necessário for, ELE te dará asas de águia para que alcances o que parece inalcançável. Não tema a ninguém, pois tu és o legítimo representante do TODO-PODEROSO aqui na terra. Não arqueie os teus ombros, não abaixe a tua cabeça, pois você foi feito à imagem e semelhança do ALTÍSSIMO.
Que os teus dias, doravante, sejam de sucessiva evolução e que tua senda seja iluminada por ti e por AQUELE que te abençoa dia após dia. Que respire um ar diferente: puro e leve, enchendo teus pulmões e dando-te a energia necessária para ir além. Que teus sonhos sejam materializados ou caminhem progressivamente para isso. Que a paz abunde em teu ser e em teu lar. Que o amor reine em ti e em todos os que te rodeiam. Que a vida seja maravilhosamente intensa e te faça feliz.

A FAMOSA LEI DE GERSON!

Na última semana causou grande celeuma a disposição do Supremo Tribunal Federal de cassar por conta própria os mandatos dos parlamentares condenados no escândalo do Mensalão. Em flagrante desrespeito à Constituição, a instância máxima do Judiciário debate se pode interferir em outro poder, desrespeitando o princípio de independência entre os poderes.
Mal comparando, é o que está ocorrendo no Supremo. Hoje cassam deputados, amanhã retiram do cargo uma Presidente eleita pela população, sob argumentos tênues. Aconteceu algo parecido no Paraguai, e a oposição e especialmente a mídia defendem algo do gênero aqui no Brasil. O discurso é que "para tirar o PT do poder, vale tudo. Até rasgar a lei"
O leitor entende onde quero chegar?
Outra tendência que este tipo de postura "maquiavélica" vem demonstrando é que a sociedade brasileira atualmente em muitos momentos reflete de forma clara a teoria do cientista político Thomas Hobbes (1588-1679). Novamente simplificando, sua teoria versa que o homem é intrinsecamente anti-social e somente se move por desejo ou medo. A sociedade hobbesiana seria uma guerra de todos contra todos, outra vez estabelecendo uma redução grosseira.
O que vemos na sociedade brasileira hoje é uma verdadeira guerra, onde somente vale o bem individual e seu benefício sobrepondo-se e prevalecendo ao bem comum. De certa forma o ódio que parcelas mais elitistas da população sentem pelos governos do PT tem a ver com isso: as políticas distributivas de Lula e Dilma tiram a sensação de "exclusividade" e "vitória" das classes mais abastadas.
Ou seja, é um "salve-se quem puder". 
Pessoalmente, sou um radical legalista. Os objetivos finais podem ser muito nobres, mas se não está estabelecido na lei, sou terminantemente contra. Muitas ditaduras surgiram deste conceito enraizado de que um fim "nobre" justifica qualquer conduta. E exatamente por isso que acompanho com muita preocupação este ativismo do nosso Judiciário, ainda que aplaudido por parte da população.
Finalizo com um poema do grande dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956):
"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."
É isso. Ativismo sim, mas acima de tudo, respeito às leis.

ARENA - UMA GRANDE OBRA DE ENGENHARIA E ESPECULAÇÃO


Em primeiro lugar é preciso concordar que a Arena do Humaitá é uma grande obra e a maior alegria do século do time que vai jogar nela. Em segundo lugar, é preciso reconhecer que, independente de identificação clubi
Ística, trata-se do maior símbolo da especulação imobliária da história recente de Porto Alegre. Ao longo dos anos, essa situação vai se dissolver e a obra em si prevalecerá sobre o seu real significado.
A OAS é uma grande empreiteira de obras públicas (e privadas também). Em troca da construção da Arena, ganharam todo o terreno do antigo Olímpico e mais as adjacências da Arena. Receberam da Câmara Municipal o direito de construirem acima dos limites do atual Plano Diretor. Ganharam, além disso, as vantagens fiscais das "obras da Copa", mesmo que a Arena não vá sediar jogos da Copa. 
Agora, a mídia cobra dos poderes públicos que construam a infraestrutura dos arredores da Arena, pois a OAS, ganhou o direito de construir sem nenhuma contrapartida ao Município. Isso é vergonhoso. As construtoras assinam contratos leoninos com os clubes de futebol, em troca da construção de novos estádios/arenas e não se comprometem com nada além da exploração do espaço por longos anos. Com o Inter não foi muito diferente, mas a extensão das vantagens da Andrade Gutierrez acabaram sendo menores, por força das circunstâncias. Já a OAS, obteve terrenos valorizadíssimos (na Azenha) e em processo de valorização (no Humaitá). Essa valorização vai aumentar ainda mais a partir dos investimentos públicos (há emendas pedindo R$ 60 milhões para a infraestrutura da região da Arena).
E assim caminha a humanidade. Somos vítimas (gremistas e colorados) das formas mais predadoras do capital e nos prendemos a rusgas completamente insignificantes. Quem ganha são os mesmos de sempre e sem o desgaste dos políticos.

O FUTURO?


      Preocupe-se primeiramente com isso:
      " Presente
      Presente = dádiva do hoje.

O que você tem feito? Quais são tuas determinações? Como estão teus passos? De onde veio e onde quer chegar?
Tais perguntas devem ser respondidas levando-se em conta unicamente o tempo presente.
Não adianta mais ficar dizendo o que gostaria de ter feito, falado, conquistado... Isso está lá atrás. Também, não adianta nada ficar fazendo votos para o amanhã: “Vou arrumar minhas gavetas amanhã, vou começar a dieta na segunda-feira, vou voltar a caminhar ou a fazer academia no mês que vem, vou mudar alguns hábitos no próximo ano...” Afinal, muitos passam as suas vidas fazendo votos, promessas, e não vão muito além disso.
Comece a se mexer hoje! Viva o presente!
O amanhã é conseqüência do teu hoje, mas o teu hoje não necessariamente precisa ser conseqüência do teu ontem. A chave da mudança está em tuas mãos.
Se você não conseguiu até ontem mudar algo ou fazer algo que há muito tem buscado, o que lhe garantirá que conseguirá amanhã? Nada. A não ser que você mude o teu hoje.
Viva desde já aquilo que planejou para o amanhã - nem que sejam em tímidos passos. Mas, saiba que à medida que for andando, irá pegando cada vez mais confiança e logo estará voando naquilo que você entende ser o teu melhor, o melhor que DEUS planejou para a tua vida.
Vamos! Aja!

LIBERTE-SE.


Somos naturalmente podados, limitados e aprisionados por nossos pensamentos, por nossa vivência e por nossa racionalidade.
A tendência de querer um resultado lógico, concreto, comprovável ou mensurável, leva-nos, algumas vezes, a nos impedir de desfrutar de experiências inenarráveis.
Às vezes, precisamos nos desvencilhar de nosso consciente para dar lugar ao quase incompreensível.
Falo, por exemplo, da mente. Quanto dela você usa? Faz idéia do poder e capacidade que ela possui? Tem noção da estupenda máquina que comanda o teu corpo? Talvez faça idéia, mas uma idéia parcial, provavelmente até superficial.
Já parou pare se perguntar por que uma criança, com seus poucos anos de idade, tem uma facilidade tão grande de aprender novos idiomas ou desenvolver diferentes habilidades?
Ou porque autistas, portadores da síndrome de Savant ou da síndrome de Asperger, conseguem coisas impressionantes como ler um livro de algumas centenas de páginas em apenas 01 hora (e não se esquecer de nada que leu!), ler uma página do livro com cada olho,  ou de fazer cálculos envolvendo dezenas de algarismos em frações de segundo?
A resposta é: por que eles não possuem, ou quase não possuem , nenhuma barreira racional, lógica, consciente. Estes não possuem critérios pré-estabelecidos, não têm paradigmas, não se atém a formas conhecidas e nem trazem conceitos criados por si ou por outros, de forma que influenciem no que está lhes sendo pedido ou apresentado. São pessoas cujo empirismo é praticamente nulo.
Talvez, esta geração ainda não consiga conciliar a memória consciente com a memória implícita de forma ordenada e habilidosa. Mas certamente, encontramos aí um belo exemplo de nosso potencial, que como já dito, é prensado por nossos paradigmas, nosso empirismo e demais obstáculos que colocamos ou nos colocam à frente.
Por outro lado, é também motivo de pausa para reflexão: até onde você consegue e pode voar?
Liberte um pouco teu pensamento. Esteja receptivo(a) para novas teorias, para diferentes experiências, para novas sensações.
Não ache que tudo se limita ao que você conhece, ao que você já leu ou ao que já foi, de alguma forma, “comprovado”.
Um mundo novo se formará à tua frente e um novo significado de viver poderá surgir!

500 ANOS SEM CONDENAR NINGUÉM


A divergência entre os ministros do Supremo no que diz respeito àquela Corte entrar ou não em choque com a Câmara dos Deputados ao eventualmente usurpar desta o direito de cassar – ou não – os mandatos dos condenados naquela Ação Penal é uma divergência que só existe porque está em curso no Brasil um julgamento de exceção, do que é prova o fato de que os juízes que o conduzem não se entendem sobre como aplicar penas ou sequer se têm a prerrogativa de determinar a interrupção imediata de um mandato legislativo.
É vergonhoso que após 500 anos de história este país tenha experiência zero em punir políticos acusados de corrupção, pois tal ignorância faz lembrar como o Poder Judiciário brasileiro sempre foi omisso em sua missão constitucional. Mas não é só. Ao vermos como o Judiciário nem sabe como é condenar membros do legislativo até o fim – com cassação, prisão e tudo mais – porque nunca condenou nenhum, somos forçados a refletir sobre por que aquela Corte só começou a condenar agora.
Até hoje, os defensores do tipo de julgamento que se está fazendo no Supremo Tribunal Federal não deram uma só explicação para o ineditismo das decisões que ali estão sendo tomadas. Assim, seja qual for a decisão, será uma má decisão.
O Código Penal entrega ao Judiciário a decisão sobre cassação de mandatos legislativos e a Constituição entrega ao Legislativo. Como o primeiro texto legal só pode existir no âmbito do segundo, se a decisão do STF for desfavorável ao que a Presidência da Câmara dos Deputados advoga para si, será uma decisão inconstitucional.
Todavia, o Judiciário não tem como obrigar a Câmara a cassar ninguém, assim como esta não tem como obrigar aquele a não cassar. Mas como a cassação de um mandato legislativo precisa ser oficializada pela Casa Legislativa, ela pode não cumprir a decisão judicial, o que desembocaria, em tese, na situação de um membro efetivo do Legislativo cumprir pena de privação de liberdade.
Ter o detentor de um mandato legislativo atrás das grades, acima de tudo mandaria ao mundo um recado muito claro, de que um dos Poderes da República, o Poder Legislativo, vê defeitos insanáveis na decisão do Poder Judiciário que condenou aqueles parlamentares.
O julgamento do mensalão, pois, a despeito da decisão do STF sobre competência para cassar mandatos legislativos, ficará tisnado pelas demonstrações de inexperiência de seus condutores em tomar decisões que deveriam ser elementares numa democracia, pois ninguém irá acreditar em que jamais um parlamentar brasileiro acusado de crime foi merecedor de uma sentença de prisão e de perda do mandato, o que torna claro o caráter de exceção desse julgamento vergonhoso.
E para que não digam que não falei de flores, se considero inaceitável que um condenado pela Justiça mantenha mandato popular de qualquer espécie, tampouco é aceitável que um dos poderes da República se oponha a uma determinação de outro  e essa discordância fique por isso mesmo, pois, assim, teríamos que considerar que um Poder se sobrepõe ao outro, o que seria a própria negação do conceito de democracia e República.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

APROVEITE BEM O SEU DIA


Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim. Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos. Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali. Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim.   Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo. Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.  Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem para dizer. Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias nem contentamentos nem sabores bons. Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão. Ontem é uma lembrança. No fundo, só existe o hoje.