terça-feira, 29 de novembro de 2022

QUE ANO DURO E DIFÍCIL ESTE TAL DE 22.

Que ano duro e difícil para o povo brasileiro, esse 2022 que se aproxima do fim. Quanta angústia, quanta dor, quanto medo vivido, quanta ansiedade reprimida. Após dois anos de uma pandemia que a todos confinou e tantas perdas dolorosas gerou, parecia que no início do ano anunciava-se uma trégua. As vacinas existiam e estavam disponíveis, muitos as tomamos, sentíamo-nos protegidos.

Porém nesse momento a “outra” pandemia – ou seria a mais real de todas, a única que realmente existiu? – mostrou seu rosto sombrio. E a política polarizada e enraivecida dividiu o país e o povo, rompendo relações e instaurando um clima ameaçador no cotidiano dos brasileiros. A inflação, a subida dos preços, as dificuldades muitas de cada dia pareciam pequenas, menores, diante da terrível perspectiva de que poderíamos ser obrigados a viver mais alguns anos de opressão, impiedade e violência. E talvez, com mais tempo pela frente, essa desolação maior se instalasse e permanecesse roubando-nos para sempre a alegria.

A eleição aconteceu e parecia que a vitória acontecida exorcizava os fantasmas. No entanto, o que se vive agora, neste tempo posterior às urnas, continua a ser obscurecido e ameaçado por manifestações que bloqueiam estradas, impedem o direito de ir e vir, decretam que filhas não podem dar o último abraço à mãe que está morrendo em hospital distante; bloqueiam a ida de um jovem à rodoviária para tomar o ônibus que o levaria à cirurgia que lhe devolveria a visão.

Grupos revestidos com a bandeira brasileira se aglomeram diante de quartéis ou em plena rua, pedindo a intervenção militar em nome da democracia. O nome de Deus é invocado a cada momento, seja ao lado de outras palavras de ordem como pátria e família, seja simbolizado em celulares postos no alto de cabeças na absurda intenção de comunicar-se com seres extraterrestres para que concedam a graça do estado de exceção em nome da liberdade.

Tudo isso leva a desejar mais ardentemente que venha o que se espera: a paz, a vida em abundância, a alegria. E a buscar ansiosamente sinais desse estado de coisas, por mínimos que sejam. Porém, em meio a essa sagrada busca notícias de partidas abruptas de seres admirados e amados por todos, que ajudaram a dar ao Brasil sua identidade, trazem outra vez a dor: Gal Costa, a baiana linda de cabelos negros e cacheados, boca vermelha e voz afinada cai fulminada por um infarto em sua casa. Erasmo Carlos, o gigante gentil, o tremendão amado que embalou juventudes e brasileiros de todas as idades, é derrubado por uma doença já instalada em seu corpo e diz adeus.

Como viver o Advento nesse clima em que parece que nada vem e tudo se vai. Vai-se o bem-estar, o sentir-se livre, as referências afetivas. E o vazio parece instalar-se com ares sombrios de quem veio para ficar. E, no entanto, uma vez mais, somos chamados a voltar-nos para a espera de quem vem. De quem disse que vinha e fielmente vem a cada ano, porque na verdade já veio na história humana há mais de dois mil anos. E vem a cada dia para todo homem e mulher que seja capaz de abertura ao mistério e esteja em busca do sentido maior da vida.

A poesia de mais um artista que graças a Deus se encontra vivo entre nós – Alceu Valença – nomeia a expectativa que insiste em habitar-nos, apesar de todos os percalços, as trevas e o medo.

Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais

Como podemos crer nisso? Como, se tudo ao nosso redor parece desmentir a existência desses sinais e dessa vinda. Como se não enxergamos sinal algum? E, no entanto, a voz do anjo sussurrou a uma jovem que ela seria mãe do Salvador.

A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido, já escuto os teus sinais

Na casa de uma jovem moça em Nazaré da Galileia, o mensageiro de Deus chegou dizendo notícias de começos e boas novas. A voz do anjo sussurrou ao ouvido de Maria, noiva de José o carpinteiro. E ela, embora perplexa, acreditou e se dispôs a ser a serva do Senhor e a tornar-se morada de Sua Palavra. Escutando os sinais que o anjo trouxe, seu corpo engravidou do mistério que anuncia que Deus não se esqueceu da humanidade e uma vez mais foi fiel a seu povo.

Por isso, hoje nosso povo está convidado a escutar esses sinais prenhes de esperança. O anjo sussurra e convoca a estar atentos aos sinais da chegada de quem traz uma vez mais a todos o amor, a união e a paz. Escutar esses sinais é acreditar.

Que tu virias numa manhã de domingo.

Os sinais trazidos pelo mensageiro da alegria e pelo ventre grávido da jovem mãe nos convidam com firmeza e delicadeza a crer, acolher e anunciar sua vinda por cima dos telhados, no fundo dos poços, nos grotões da miséria, no aconchego das casas e nos sinos das catedrais.

Eu te anuncio nos sinos das catedrais.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

A MULTIPLICAÇÃO DE PERDAS.

Muitas lógicas influenciam o modo de se conduzir a vida, mas, especialmente para os cristãos, um princípio deve ter lugar central: a lógica do Evangelho, que é paradoxal – perde quem acha que está ganhando. Compreender essa realidade ensinada pelo Evangelho é desafio humano e existencial, pois cada vez mais prevalece o primado do lucro a todo custo, da vantagem a todo preço, do ganho inescrupuloso, da busca sem limites pelo acúmulo, do massacre de adversários e daqueles com quem se diverge. Para superar essas atitudes egoístas, e desumanas, a inteligência se qualifica com a luz divina do amor maior.

O princípio do Evangelho é o caminho para superar lógicas que ferem a dignidade humana, desrespeitando a sacralidade intocável da vida de todos. Desrespeito que se revela nas desigualdades sociais, nos preconceitos e discriminações, nas escolhas que passam por cima do dom sagrado da vida, desde a concepção até o declínio com a morte natural. Importante considerar que as lógicas perversas no coração humano abalam o equilíbrio da casa comum. Isto porque muitas atitudes, que buscam vitórias momentâneas, trazem como consequências perdas desproporcionalmente maiores, muitas irreversíveis.  de Deus.

Em resumo, um olhar míope, que leva a sentimentos distantes da misericórdia, na contramão dos valores do Evangelho. Essa distância da misericórdia merece atenção especialmente daqueles que se proclamam cristãos, mas insistem em permanecer alheios aos princípios do Evangelho. Certas atitudes comprovam a distância entre o que se fala e o que se vive, disritmia entre a pregação do amor, princípio basilar da fé cristã, e práticas de certos grupos, sem ética, conduzidos pelo interesse de ganhar a qualquer custo, sem escrúpulos, passando por cima dos outros, disseminando notícias falsas. Posturas na contramão da autenticidade evangélica.

Importante buscar a aprendizagem para se tornar discípulo missionário de Jesus e, assim, não confundir vitórias com passos que levam a grandes perdas. O olhar do discípulo é, pois, instrumento para configurar a realidade com o sabor do Evangelho, neste mundo de aceleradas mudanças. Esse olhar é antídoto contra equívocos nas interpretações e escolhas, provocados por disputas de poder e defesas ideológicas. Ninguém pode achar que domina a realidade, postura que já compromete o sentido de humildade, valor cristão. A ausência de humildade acirra disputas, alimenta ataques sob a pretensão de querer gerar mudanças, inclusive com a disseminação de mentiras e agressividades, revelando a mediocridade de sentimentos.

A civilização contemporânea convive com situações desconcertantes, que distanciam a humanidade da meta de partilhar um só coração. Ao invés disso, cada vez mais pessoas estão fechadas na própria realidade, ilusoriamente bafejadas pelos ventos de defesas partidárias. Só há um jeito para se conquistar o olhar dos discípulos de Jesus, para reconhecer o genuíno sentido da vida e, assim, adotar condutas coerentes com o Evangelho: os cristãos precisam começar o seu caminho a partir de Cristo, sem doentios apegos a perspectivas individuais, de grupos, associações ou partidos. A meta deve ser contemplar quem revelou – e o modo como revelou – a plenitude do cumprimento da vocação humana. Distanciar-se desse caminho faz com que o mundo não seja iluminado pela luz do Evangelho. Com isso, as sementes cairão em pedregulhos e não brotarão; a unidade dos discípulos ficará comprometida, com olhares atrofiados pela nuvem de ódios e disputas. Sem a luminosidade do amor, não haverá vitórias: ao invés disso, a humanidade padecerá, cada vez mais, com a multiplicação de perdas.

sábado, 12 de novembro de 2022

TROPEÇOS NA PALAVRA

Os rumos da sociedade são definidos e alimentados por meio de narrativas, evidenciando, assim, a importância da palavra, que tem propriedade para alavancar intuições e forjar novas respostas. Mas a palavra pode, também, ser uma “pedra de tropeço”, quando se constata dificuldade para valer-se de sua força na configuração de entendimentos. A babel contemporânea comprova a frequente inabilidade para a construção de discursos. Vive-se, atualmente, em uma sociedade que tropeça nas palavras e, por isso, sofre com cenários de desentendimentos, divisões e atrasos civilizatórios. Prejuízos que podem até invalidar conquistas científicas, pois falas distantes da realidade geram obscurecimentos. O livre direito de se expressar, aliado à intrínseca necessidade da palavra para tecer nova cultura, desafia a sociedade: todos estão à mercê das consequências de falas medíocres – tropeços na palavra.

Multiplicam-se as palavras que não geram entendimentos, nem indicam novos rumos. Também não alimentam o sentido que sustenta o próprio viver. Todos têm o direito de se manifestar, mas é cada vez mais frequente os que tropeçam na palavra. Gente que diz o que não convém ou o que não edifica, formulando juízos equivocados, para simplesmente satisfazer a necessidade de se expressar de algum modo. É preciso reconhecer a carga de responsabilidade inerente a cada palavra pronunciada, particularmente na emissão de juízos, na tarefa de se construir entendimentos e interpretações para promover qualificada configuração legislativa, novo estilo de vida e amizade social. O uso da palavra deve ir além do direito de se expressar, pois essa liberdade é indissociável do compromisso com a edificação do bem, da justiça e da paz.

A qualificada cidadania tem compromisso com a palavra e jamais distancia-se da verdade. Cultiva a consciência de que a manifestação de perspectivas deve abrir caminhos, apontar soluções e respostas, sustentar a construção da fraternidade social. Cresça a consciência cidadã quanto à importância do adequado emprego das palavras, com suas propriedades construtivas, trilhando direção bem diferente dos pronunciamentos que confundem, propagam a mentira fazendo-a parecida com a verdade, esvaziando a palavra de sua força profética e poética. O mundo precisa de narrativas que gerem entendimentos e novas escolhas, indispensáveis à configuração de um tempo novo. E a palavra é instrumento fundamental para gerar um mundo aberto, sem divisões.

Pela propriedade da palavra pode-se estabelecer vínculos com o próximo, que é irmão. As ações solidárias são indispensáveis, mas há uma dimensão própria das narrativas que também é muito necessária, capaz de gerar o reconhecimento de que cada pessoa é dom precioso. A palavra precisa ser, pois, instrumento para abrir o ser humano ao amor, vencendo situações de isolamento e de mesquinhez. Assim, os discursos podem promover a corresponsabilidade entre todos os cidadãos na tarefa de edificar civilizações abertas, integradas, solidárias. A palavra também deve alimentar a qualificação existencial de cada indivíduo, livrando-o de pensamentos que levem a atitudes abomináveis. As narrativas precisam ser oportunidade para dar vez aos “sem voz”, aos discriminados, desencadeando processos de libertação e de reconquista da dignidade perdida ou usurpada. Sobre o direito do uso da palavra inscreve-se o compromisso de, por meio dela, construir a fraternidade, a liberdade e a igualdade.

O momento atual sinaliza a força da palavra na configuração de escolhas capazes de compor cenários sociopolíticos. Palavras que têm viciado mentes e estreitado corações precisam ceder lugar às que possam produzir novos sentidos. Sejam, pois, construídas as narrativas adequadas capazes de efetivar estilo de vida renovado, com diferentes modos de se habitar a casa comum e novas maneiras de se estabelecer laços, a partir do respeito à vida de cada pessoa, intocável dom sagrado de Deus. Prevaleça a desconstrução de preconceituosos e discriminações, debelando o racismo e muitos outros males que geram tanta destruição. É essencial, agora, aprender a fazer uso da palavra para não se produzir os prejuízos advindos de quem vive tropeçando na palavra.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

O AMOR QUE VENCE TODO TIPO DE ÓDIO.




Está em curso uma terceira guerra mundial em pedaços. Há uma luta de interesses em que todos se colocam contra todos. Nesta luta, vencer se torna sinônimo de destruir, inviabilizando o levantar a cabeça para reconhecer o vizinho, ou ficar ao lado de quem está caído à beira da estrada. E, assim, pela força do ódio, que vai tomando o lugar do amor, da gratidão e do bem, instaura-se uma insana batalha, onde se busca destruir, inescrupulosamente, até mesmo a reputação alheia. Equivocadamente, pensa-se que essa destruição pode significar uma “escada” para a autopromoção. Esse tipo de pensamento não é novidade e acompanha o ser humano em todos os tempos. Talvez, o que vem mudando sejam os instrumentos para atacar a moral do semelhante, especialmente em razão das facilidades oferecidas pelo campo tecnológico. Mas, ao se reconhecer que a busca pela destruição do próximo é problema histórico, constata-se: a humanidade é permanentemente chamada a protagonizar a fraternidade.

 Nessa centralidade reside o desafio de se respeitar diferenças, tornando-as sempre uma riqueza. Isto significa jamais seguir o caminho da destruição. Assim, quando se considera a sociedade contemporânea, a fé cristã, por sua força de correção, pode indicar caminhos e dinâmicas no processo de iluminação da cidadania e na organização política. Mas é preciso absoluto respeito aos princípios que permitam reconhecer a distinção entre o campo da política e a vivência da fé. Quando não há clareza sobre as fronteiras de cada campo, corre-se o risco de um desvirtuamento da fé, impedindo-a de ser o luzeiro que orienta direções, promove reconciliações e até a relativização de escolhas, especialmente daqueles que se apresentam como “donos da verdade”.

A fé não pode ser reduzida a instrumento para embates no campo político, pois a sua vivência autêntica dissipa a busca pela destruição do outro, reconfigurando discursos e escolhas. A fé cristã tem propriedades específicas com dinâmicas experienciais fortes, capazes de alertar sobre o perigo de semear o ódio, de convencer a respeito da honestidade, que faz parte da vocação de toda pessoa para promover a bondade, o bem comum e uma ordem social justa. Cristãos autênticos não buscam destruir. (Re)constroem com a força da verdade, com a primazia do bem e do respeito moral. O ódio é perigoso e estará sempre na contramão da verdadeira fraternidade ensinada por Jesus. Fraternidade é, pois, o grande investimento a ser feito para efetivar o bem, com a correção de rumos e com a reabilitação da verdade. Sem esse investimento, prevalece um “vale tudo” ensandecido, com ataques a pessoas, instituições, povos e nações. Perde-se a razoabilidade mínima, gera-se descrédito, pois disseminam-se afirmações e informações distantes da verdade, obscurecendo mentes e corações, para se alcançar propósitos a qualquer preço.

O ódio cega, traz justificativas para atitudes inconsequentes, até mesmo quando reputações e vidas estão em jogo. No caminho do ódio, torna-se perdedor não somente adversários e a sociedade, mas, também, aquele que investe na destruição, em nome de um êxito ilusório.  Um método para negar ao outro o direito de existir e pensar de modo diferente. A partir desse mecanismo, recorre-se à estratégia de ridicularizar e de insinuar suspeitas a respeito de condutas, buscando impor um tipo de repressão àqueles com quem se diverge. Um recurso fundamentado no ódio, que manipula e acirra a revolta. Um grave equívoco, pois a verdade sempre prevalece. O bem sempre vence o mal.

Quem se deixa inocular pelo veneno do ódio age em clara oposição à autenticidade da fé cristã. E pode-se correr o sério risco de não se perceber agente do desamor, quando, dentre outros aspectos, deixa-se escravizar pelo mundo obscuro do mercado, da idolatria do dinheiro e, até mesmo, de uma baixa autoestima. Ilusoriamente, tenta-se reagir, buscar reconhecimento, pisando nos outros, com mecanismos de desmoralização. Quem procura construir a própria reputação a partir desses mecanismos não será reconhecido por sua relevância, ou verá, a seu tempo, a própria imagem desmoronar, esvaindo-se feito um castelo na areia. Por isso mesmo, há tanto descrédito em relação à autoridade política, pois muitos que ocupam as instâncias do poder não priorizam a missão de edificar e promover a cidadania. Ao invés disso, atuam a partir dos mecanismos de desmoralização, buscando simplesmente destruir pessoas com perspectivas divergentes.

O horizonte cristão investe no protagonismo da fraternidade – inegociável recurso para um qualificado serviço à sociedade, à promoção da vida como dom de Deus a cada pessoa, sem exceção. Todos, indistintamente, merecem respeito. Oportuno é sempre se recordar de um princípio proclamado pelo apóstolo Paulo: a plenitude da lei é o amor. O amor que vence todo tipo de ódio. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

TÁ AREPENDIDO?

 




A arrogância do bispo Edir Macedo em se julgar capaz de perdoar Lula e convocar o seu rebanho de ovelhas alienadas para acompanhá-lo em seu gesto de grandeza e benevolência, não deveria ter sido respondida pela presidente do PT, Gleisi Hoffman. Era só ter o ignorado, da mesma forma que o líder evangélico ignorou as mortes de centenas de milhares de pessoas durante a pandemia, além de não ter curado nenhuma delas, apesar de sua igreja ser conhecida como realizadora de grandes milagres. Apesar de concordar com a resposta dada pela dama de ferro do PT, acredito que a declaração possa provocar desgaste político, uma vez que Macedo é o dono do partido Republicanos, e reacender a chama do ódio bolsonarista, que ainda está badernando pelas ruas inconformado com a derrota de seu mito.

A verdade é que Lula não precisa do apoio de Edir Macedo para governar, pois ganhou sem tê-lo e ainda enfrentando os mais baixos níveis de Fake News produzidas e disseminadas no ambiente dito evangélico, principalmente, por parte de Macedo, que chegou a declarar que a esquerda era do diabo e Lula um enviado do mal para destruir as famílias brasileiras. Contudo, há quem pense o contrário e apresente bons argumentos par sustentar a sua tese. A pacificação do país, após um longo e tenebroso inverno de polarização, seria um deles. No entanto, eu considero isso o mesmo que você decidir se casar com a lguém que tentou mata-lo um dia. E eu duvido que essa ideia não possa passar novamente pela cabeça do seu, digamos, imprevisível cônjuge.

Obviamente, em se tratando de política as coisas não devem ser analisadas em condições normais. Até porque, a normalidade não faz parte de tal ambiente onde as coisas sempre podem mudar e inimigos podem se tornar aliados. Mesmo sendo uma figura desprezível e sorrateira, Macedo é “dono” de muitas cabeças entre o gado bolsonarista e mentor de suas mentes pouco pensantes. E também é detentor de grande poder econômico, podendo utilizá-lo, por exemplo, para causar instabilidade no governo Lula ajudando a patrocinar manifestações supostamente populares e democráticas, para se vingar da rejeição imposta sobre ele. E ele ainda pode fazer tudo isso em nome de Deus, o que é uma marca registrada do seu mau-caratismo religioso.

Edir Macedo, juntamente com Jair Bolsonaro, incentivou a morte de pessoas por covid, aconselhando os seus fiéis a desobedecerem ao isolamento social, a recusarem a vacina porque ela seria a marca da besta e a acreditarem que a pandemia era uma farsa comunista. Porém, o fariseu do Templo de Salomão foi tomar vacina às escondidas nos USA, enquanto suas ovelhas penavam aguardando a boa vontade do presidente que ele apoiava para comprar a vacina. Aceitar o aceno de um canalha como esse, seria começar o governo muito mal, provocar desconfiança nos eleitores e potencializar a influência dos evangélicos na política brasileira. Dando a eles a sensação de que são fundamentais para dar sustentação a base de qualquer governo. O que seria, ao meu ver, mais uma porrada na cara do estado laico que tanto defendemos.

O que Lula deveria fazer, era instituir um imposto para que as Igrejas evangélicas que faturam milhões anualmente com o dízimo de seus fiéis paguem, como toda empresa faz, e, a maioria dessas grandes igrejas são empresas, e direcionar os recursos para o bolsa família e outros programas assistenciais do governo. Tenho a certeza absoluta de que Jesus aprovaria a ideia, mas os mercenários da fé como Edir Macedo, diriam que era o início da perseguição comunista aos cristãos e incitariam os seus fiéis a uma nova versão do “’não é só por 20 centavos”, para darem um novo golpe no governo. Que o PT fique longe dessa raça de víboras e não decepcione os mais de 60 milhões de brasileiros que elegeram Lula e que estavam do lado oposto à Macedo e sua plêiade de fascistas gospel.

Vale ainda chamar a atenção para uma fala de Macedo no vídeo, quando ele diz que perdoar Lula significa ficar bem com Deus e não perder a salvação por seguir nutrindo ódio no coração. Ou seja, ela não retira nada das inverdades que propagou sobre o presidente eleito durantes as eleições, mas está disposto a perdoar Lula por tudo aquilo que ele inventou a respeito do petista, para não ir para o inferno. A distopia continua e de maneira ainda mais diabólica. As Madalenas falsamente arrependidas estão sentindo o cheiro da recuperação do país e do crescimento econômico, e querem garantir de alguma forma o seu quinhão. Macedo é dono de uma concessão de um canal de televisão, que precisa de verba do governo para manter o seu bom funcionamento. É uma equação de fácil resolução. Difícil vai ser ele conseguir nos enganar. Que Lula esteja atento a mais essa marmota evangélica. Tá repreendido!

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O CARPINTEIRO GALILEU



Depois de tanto barulho e arruaças, para relaxar, uma pequena reflexão:

Não foi médico - e cura todas as enfermidades...

Não foi advogado - e explica os princípios básicos de toda lei...

Não foi escritor - e inspira as maiores obras da literatura mundial...

Não foi poeta nem músico - e é a alma de todos os poemas e de todas as músicas da vida...

Não foi orador - e é o intérprete de todos os corações...

Não foi literato - e escreveu no livro dos séculos a mais bela página...

Não foi artista - e enche de luz os gênios de todos os tempos...

Não foi estadista e fundou as mais sólidas instituições da sociedade...

Não foi general - e conquistou milhões de almas e países inteiros...

Não oi inventor - e inventou o elixir de perene felicidade...

Não foi descobridor - e descobriu aos mortais mundos encantados de imortalidade...

O carpinteiro galileu...

diáfano como um cristal - e misterioso como a noite...

Sublime como a excelsitudes de Deus - e amigo das misérias humanas...

Severo como um juiz - e carinhoso como uma mãe...

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

PASSOU...AGORA VAMOS HIGIENIZAR NOSSAS MENTES.




Autocorrosão: o rancor que lhe consome

Não é seu hábito divagar e viver ilusões, mas às vezes isto é extremamente benfazejo para a mente, e então diretamente salutar também ao corpo, organismo, metabolismo em geral. Todos sabemos, é muito bom ouvir boas músicas, ver bons filmes, apreciar as curiosidades e instigações da cultura, da arte em geral. Faz bem para a cabeça, por instantes esquecemos o peso material de nosso corpo.

Então que seja, se lance, sem medo, para alguns sempre há uma ponta de medo. Ao planejar viagem de carro com amigos imagina-se um acidente, a quebra da biela do sistema mecânico de sabe-se lá o quê. Pense positivo, o que não significa prescindir de precauções.

Pessimismo é autoalimentável, não vá querer imaginar que o carro ao qual você sairá de viagem no feriado prolongado com os melhores amigos, o seu carro, irá colidir de frente com uma vaca em plena luz do dia na divisa com Santa Catarina, e seu melhor amigo desde a infância, sentado no banco do copiloto, esqueceu-se de afivelar o cinto de segurança, bate a cabeça com força no para-brisa a ponto de um traumatismo craniano. Não dá, aí é pessimismo demais. Tudo envolve risco, todos nossos planejamentos nos trazem alguma pitada qualquer de receio, medo, precaução portanto.

"Por que não pensei antes em ir pra praia?". Você se pergunta. Ocorre que, quando estamos estressados, esgotados, o mundo às vezes se fecha, nossa visão periférica escurece, há uma ligeira paralisia, teimamos em não enxergar horizontes além, cenários bem menos anuviados. Muitas vezes teimamos e cismamos com a própria condição negativa, nos afundamos e nos prendemos a tal infeliz condição.

Tanto rancor, raiva, e sua vertente extrema: o ódio. Ódio cego: não há quem aguente, mesmo aqueles que vivem sob permanente tensão. Um vingador tomado de raiva, querendo retribuir à sociedade todo o mal que dela absorveu, um delinquente sempre nervoso, raivoso, estressado, sempre querendo o mal pois foi o mal que sofreu e aprendeu ao longo da infância e adolescência.

Ódio é autocorrosivo. Atesta-se. Também você bem sabe isto, nem precisa ficar sempre lembrando. Uma hora explode, uma bomba-relógio, há gente que está sempre pronta para a briga, abdômen rígido, cenho franzido, mandíbula apertada com os músculos acionados. Há gente que parece sempre odiar a quem não ame. Uma paixão, sentimentos opostos extremos, em geral a paixão é composta de dosagens de amor e ódio, daí crime passional.

Estes rancorosos que nunca aceitam o que lhes contradiga sempre sofrerão, mais e mais, acumularão rancor, mais e mais, raiva, ódio, mais e mais, e então se situarão a um passo ao ódio cego. Em consequência o colapso e a autocorrosão, o intenso sofrer.

Dar um tempo. Nem precisa ferir o orgulho, a honra, inventa-se algo, mente-se pra si próprio, um pouco só que seja. Assuma que está de prontidão para a batalha, mas por outro lado relaxa um pouco, deixa um pouco de lado a guarita, baixa a guarda, faz de conta que não será nenhuma infração militar, e que um comandante supremo generalíssimo ordenou expressamente que você assim aja, sem dar maiores explicações.

Ordenou-lhe: subordinado, deixe a guarita, baixe a guarda, alivie o peso do escudo em seu antebraço, desarme-se, feche os olhos e esqueça-se, entregue-se, também esqueça o mundo ao redor por um único dia, por breves momentos que sejam. Isto ou o colapso, isto ou a implosão.