terça-feira, 31 de dezembro de 2013

PERDI O MIRO... MEU AMIGO, MEU IRMÃO, MEU COMPANHEIRO.

Quando a gente perde uma pessoa a quem chamamos de amigo, com ela vão embora muitas outras coisas das quais somente nos damos conta muito tempo depois. E quando isso acontece, descobrimos que ele nunca mais voltará e então a tristeza se torna muito grande, a gente chora por qualquer coisa e todas as lembranças voltam o tempo todo porque a saudade é muito forte. Sabemos não ser mais possível ouvir a sua voz, rir ou chorar em seu ombro e apesar disso a gente fica feliz porque sabe que, de alguma forma, estavamos unidos pelo laço de uma amizade sincera e gratuita até para depois da vida; toda história se fortalece, como se tudo tivesse acontecido ontem mesmo, de tão próximo que a gente fica.
Existem amizades que se tornam indispensáveis na vida de uma pessoa. É um sentimento tão forte, que só pode ser explicado através da espiritualidade, porque é difícil entender como dois seres se encontram e sentem tantas afinidades e tanta vontade de andar juntos.
Todos tem oportunidades de ter grandes amigos, mas poucos sabem conquistar e manter uma grande amizade. Aqueles que conseguem tem a garantia de uma vida plena e feliz e a certeza de que nunca estarão sozinhos.
Um grande amigo ou amiga cuida, protege, proporciona alegrias, estimula e valoriza, porque só deseja o melhor que a vida pode proporcionar. Não há egoísmo numa grande amizade e sim o desejo de ajudar e proteger.
Os grandes amigos desenvolvem uma cumplicidade que apenas num olhar ou mesmo no tom de voz identificam se a pessoa está bem ou não. São os verdadeiros irmãos, porque mesmo não tendo o mesmo sangue se escolheram mutuamente para trilhar os caminhos da vida.
Quando existe uma amizade verdadeira, perder por morte ou por acidentes da vida, deixa um vazio difícil de ser preenchido. Quem já passou por experiência como esta, entende bem o que isto significa.
Por isso é importante cultivar atitudes firmes, sinceras e verdadeiras falando sempre a verdade, sem esconder nada, buscando ouvir o outro argumentar para chegar a um entendimento. Nada justifica a perda de um grande amigo ou amiga em vida, porque diante da morte somos impotentes e só resta um sofrimento ainda maior.
Aqueles que conseguem manter amigos por longos anos ou por toda a vida podem ter a certeza de que foram privilegiados e receberam a benção de poder contar com alguém, sabendo superar pequenas dificuldades, perdoando e entendendo falhas que todos tem, mas que não são motivos para acabar com uma grande amizade.
O sentimento da amizade, quando é verdadeiro, é nobre porque é um tipo de amor que não tem posse, egoísmo ou vaidade. Ele simplesmente une e proporciona companheirismo e lealdade.
Fernando Brant e Milton Nascimento conseguiram dizer tudo sobre um amigo num único verso:
“AMIGO é coisa para se guardar,
debaixo de sete chaves,
dentro do coração,
assim falava a canção que na America ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir.”

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

AQUILO QUE SEMEAMOS, COLHEREMOS...

Uma dona de casa, a cada dia, fazia um pão para cada filho e um a mais para algum faminto. Deixava os pães no peitoril da janela, para quem quer que desejasse levá-los. Um mendigo corcunda, todos os dias, levava um dos pães. Em vez de agradecer, ele resmungava: o mal que você faz, recai sobre você; o bem que você planta, você colhe. Isso aconteceu durante anos e nunca o mendigo teve uma palavra de agradecimento. Outro agravante: ele escolhia sempre o melhor pão.
Uma ideia perversa surgiu no coração da dona de casa. Já que o mendigo é ingrato, vou dar a ele um pão envenenado! E chegou a colocar veneno no pão. Mas logo se arrependeu. Jogou fora o pão envenenado e - nesse dia - preparou um pão ainda mais delicioso para o mendigo. Mais uma vez, ele levou o pão e resmungou: o mal que você faz, recai sobre você...
Todos os dias, na hora em que o mendigo pegava o pão, a mulher rezava por seu filho que partira para a guerra e há tempos não tinha mais notícia. Nesta tarde bateram à porta da casa. Assim que abriu deparou-se com o filho, magro, barbudo, faminto, mas vivo. E o filho, após um longo abraço, explicou: mãe, é por milagre que estou aqui... Eu estava tão faminto e cansado que perdi os sentidos... Mas um velho mendigo corcunda, que passava por ali, deu-me água e deixou-me um pão, bem igual aos que a senhora faz e disse-me: isso é o que eu como todos os dias. Pode comê-lo porque hoje você precisa mais do que eu... A mulher empalideceu, dando-se conta que o pão envenenado poderia ter sido comido pelo próprio filho. Ela entendeu a cantilena do mendigo sobre o bem e o mal.
A vida é a arte das escolhas. São elas que fazem nossa vida. Porém sempre podemos refazer nossas escolhas. E valem as escolhas feitas agora. Aquele que semeia espinhos, colherá espinhos, aquele que semeia flores, colherá flores. Aquele que nada semeia, nada colherá.
Um coração generoso sempre agradece. Um coração maduro dispensa o agradecimento. Se exigimos o agradecimento, esse se torna nossa única recompensa. Se dispensamos o muito obrigado, o Pai do céu, um dia, recompensará com generosidade.
Não somos bons ou maus por causa dos outros. É certo que pessoas boas nos ajudam a fazer o bem, mas não se constituem na única razão. Aquele que faz o bem, sem pretensões, já tem sua recompensa. Pode ser hoje, amanhã ou depois, mas a recompensa virá. De resto, nossos gestos têm duas mãos. Ninguém faz o bem sem receber o bem, e quando fazemos o mal, estamos semeando males para nós mesmos. Quando damos, também recebemos. Que o diga o mendigo corcunda.

TEMPO É OURO.

Eu fico sem jeito e ao mesmo tempo superchateado quando vejo pessoas que não sabem o que fazer com o tempo. Sentadas no banco da praça esperando a hora passar. Ou visitando, conversando e até atrapalhando a vida de vizinhos, de parentes. Passando horas e horas sentadas em bares e botecos para “assassinar” o tempo com tragos, cervejas e jogatina.
Adolescentes namoricando horas e horas e desprezando o tempo precioso que poderia servir para o estudo e o trabalho. Gente que vai e que vem, sem saber o que fazer e sem ter o que fazer. Idosos que caem no tédio da vida, porque a vida nada mais tem a oferecer. Coloco-me no lugar destas pessoas e a sensação que tenho é de ver vidas inúteis, vidas que vão se suicidando lentamente.
Todo o tempo é ouro. Sempre me imagino com meia hora de tempo livre, um dia livre de trabalho normal, um tempo até de parar por doença ou outros motivos. Eu teria sonhos, ideias, projetos para ocupar bem esse tempo que se me oferece? Eu teria uma bagagem de leituras, trabalhos, atividades que preencheriam esse meu tempo? Infeliz, muito infeliz a pessoa que não sabe o que fazer com esse tempo disponível. Esse é o tempo mais precioso.
De todo o tempo terei que prestar contas. Não a Deus. Nem a outras pessoas, mas a mim mesmo. Devo prestar contas das batidas de meu coração que são contabilizadas desde a minha concepção. Deverei prestar contas ao meu destino de todos os desejos que meu coração cultivou ou deixou de cultivar.
Devo superar-me de ser simplesmente animal. Miseráveis os que, abafando os sonhos infinitos de seu coração e da vida, se contentam em preencher o tempo com o comer e o beber, com o dormir e satisfazer os prazeres sexuais, com o gargalhar e o rir de si mesmos porque não conseguem ser mais do que simplesmente um corpo que sobrevive.
Onde foi jogado o tempo para o cultivo da mente e da criatividade? Onde foi jogado o tempo para exercitar a espiritualidade? Onde se perdeu o tempo que poderia possibilitar o cultivo de relações de amor, onde o ponto de chegada é o outro e não o si mesmo?
Retirando o tempo para servir-se em seus instintos animais, sobra muito tempo, muitas vezes jogado na lixeira do desperdício, sem recuperação.
O ouro está em minhas mãos. O mesmo ouro que partiu das mãos do Criador e que caiu em minhas mãos, a Ele devo entregar com sonhos realizados e eternizados. Para isso é preciso desde agora sentar-se e perceber-se, estudar-se e decidir-se a ser mais do que horas que passam. Mais do que um corpo biológico que, bem ou mal, vai exercendo suas funções de reprodução. Pergunto-me e pergunto-lhe: em sua frente há uma meia hora, há um dia, há um tempo disponível. Como você vai preenchê-lo e torná-lo sagrado e eternizado? Este é o tempo precioso que está em nossas mãos!

A MAIORIA DAS CRIANÇAS DIZEM: TENHO PAVOR DA LÍNGUA PORTUGUESA.

Vejam só: eu, a língua portuguesa, falada por pelo menos 230 milhões de pessoas de oito países que oficialmente me adotam, estou de roupa nova. Sempre foi assim, de tempos em tempos decidem auto-regular o modo como sou escrita, ou melhor, autorregular. depois da  ultima é vez ficou  assim, sabia?
Bom exemplo é o pronome você. Nasceu ‘vossa mercê’, virou ‘vossemecê’, derivou para ‘vosmecê’, reduziu-se a ‘você’, é falado ‘ocê’ ou ‘cê’ (cê vai lá?). Não duvido, daqui a pouco só se pronuncia o acento circunflexo...
Oficialmente meu alfabeto passa a ter 26 letras, com a inclusão de k, y e w. Na prática isso já ocorria: km, yang e yin, show etc. Meio kafkiano, não?
Cai a coroa de certas palavras, o velho trema, tão frequente (agora sem trema) na tranquila (idem) sequência (idem) de vocábulos como linguiça. Também perco o acento no casal de vogais, o ditongo, em palavras paroxítonas, como alcateia, androide, boia, colmeia, celuloide.
Confesso que me sinto meio nua... Será paranoia? Ao menos me sobraram os acentos das oxítonas como papéis, heróis e troféu. E o Piauí ficou a salvo, como em toda oxítona terminada por i e u ou seguida de s.
Língua é também uma questão de elegância. Imaginem uma mulher descabelada numa festa em que todas as outras estão bem penteadas! É como me sinto nos vocábulos terminados em eem e oo. Adeus o chapeuzinho em creem, magoo, perdoo, veem (do verbo ver), voo, zoo. Será que abençoo tais mudanças?, pergunta o autor deste texto.
Será que os leitores, sem o circunflexo (belo vocábulo!), distinguirão facilmente o casamento da preposição com o artigo no vocábulo pelo do substantivo pêlo, que agora é pelo, assim pelado? Perdem o acento: pêra e pára.
Outra exceção é a preposição por e o verbo pôr. Por que será? Mas ao menos uma liberdade resta a quem redige: você pode ou não enchapelar forma quando se referir à vasilha de fazer bolos e escrever: “Qual a forma da fôrma do bolo?” Estará também certíssimo: “Qual a forma da forma do bolo?”
O hífen, coitado, foi o que mais sofreu nessa reforma ortográfica. Salvou-se frente ao h: super-homem, sobre-humano. Mas dançou quando o prefixo termina diferente do segundo elemento: aeroespacial, antiaéreo, extraescolar. Sobrou o vice: vice-presidente. Sai de cena o hífen se o prefixo termina em vogal e o resto se inicia com r ou s. Neste caso, duplicam-se tais letras: antissocial, ultrassom, biorritmo. Estranho, né?
Há certas palavras com as quais é preciso cuidado, devido à sua carga ideológica. O hífen permanece para o i não beijar o seu clone: anti-imperialista, anti-inflacionário. Também quando o r ameaça arranhar o seu duplo: inter-racial, super-romântico. Superinteressante, não?
Se o prefixo sub topar com o r, que mantenha distância: sub-região, sub-raça. Pan-americano fica assim mesmo. Quando o prefixo terminar por consoante e o segundo elemento começar por vogal, una tudo: hiperativo, hiperacidez, interestadual. Porém, mantenha distância se o prefixo for ex, sem, além, pós, pré: além-túmulo, ex-diretor, pós-graduação, pré-vestibular. E sem-terra (mas com muita garra na luta por reforma agrária).
E algo fantástico: o hífen é preservado se o sufixo tiver origem tupi-guarani (olha ele aí): capim-açu, amoré-guaçu. Supõe, evidentemente, que você saiba identificar o vocábulo como derivado do tupi-guarani.
Sei que não sou um idioma fácil. Além da correta ortografia, exijo perfeita sintaxe. E vivo provocando pegadinhas: aluvião, apesar do tom, é substantivo feminino. E imagina um estrangeiro me aprendendo: “Pedro bota a calça e, em seguida, calça a bota”. E manga? De camisa, a fruta, parte do eixo do carro e mais oito significados pelo menos. Banco então nem se fala: de praça, de guardar dinheiro, de areia, de sangue, e do presente do indicativo do verbo bancar.
Para fazer bom uso de mim só há uma receita: leia, leia muito, bons autores.

CANCELAR UM SANTO.

Conto a história, na esperança de que não se repita. Na mesma região, no mesmo ano, morreram dois cristãos de linha diferente de atuação. Dois tipos de santidade. Um deles fundara um hospital. O outro um sindicato. Ambos levaram a fé a sério. Um era mais politizado e queria mudar a sorte dos trabalhadores pelas políticas públicas. O outro cuidava dos doentes e deixava a política para seus colaboradores.
Um padre da região escreveu um artigo sobre ambos mostrando dois tipos de santidade. O artigo repercutiu. No mês seguinte a jornal do hospital achou por bem homenagear seu fundador que morrera, reproduzindo o artigo, mas com uma ressalva. A redatora pediu licença ao padre para suprimir toda a referência ao sindicalista. Não interessava falar dele no jornal do hospital, porque tinha tido algumas diferenças no passado que foram resolvidas com o diálogo entre ambos.
O padre replicou: “Sugiro que vocês escrevam um artigo sobre o seu santo fundador, porque não cancelarei um santo em função do outro. Os dois foram santos e devem ser vistos juntos”.
Acontece mais do que imaginamos. Há cristãos que omitem o bem que outros santos fizeram para que apareça mais o bem que o santo deles fez. Isso pode ser marketing, mas está longe de ser catequese! Registre-se o pensamento. Do lado de lá, onde quase nunca fomos, há mais santos do que imaginamos. O Espírito Santo não sopra só deste lado da Igreja! O Sol de Deus não brilha apenas nos telhados da nossa paróquia!

E O CÍRCULO FICA CADA VEZ MAIS VICIOSO.

U m garoto de cinco anos visita a mãe, vestida com roupa bege. Quinze anos depois, uma senhora de 48 anos visita o filho, também trajando um uniforme bege. Hoje, Nélida, 52 anos, e o filho, Calil, 25, estão vestidos de bege. Mãe e filho, condenados, cumprem sentença em penitenciária paulista. É provável que amanhã um filho de poucos anos visite o pai e a avó na cadeia.
É o círculo vicioso que se repete, cada vez mais vicioso. Porque não têm pais, porque não têm lar, muitas crianças não têm alternativa. Seu destino natural é a marginalidade e o crime. E porque não tiveram uma boa educação, construirão lares desajustados. A tendência é que o círculo vicioso se repita, girando cada vez mais rapidamente e crescendo também quantitativamente.
Recente pesquisa da Delegacia da Mulher, em Curitiba, revela números significativos. Num universo de 1.200 homens autuados por agressão contra mulheres, nada menos de 80% provinham de lares-problemas e haviam sido agredidos na infância. Desse total, 50% abusavam do álcool e 30% estavam desempregados. Isso não justifica, mas explica o comportamento, antissocial. Ninguém dá o que não tem. Faltou amor, carinho e ternura, faltou diálogo e exemplo e por isso essas crianças - hoje adultos - não tiveram escolha.
E o problema continua se agravando. A religião, lamentavelmente, perdeu parte de sua força, as famílias enfrentam tempestades e muitas delas fracassaram. Os meios de comunicação social - em sua maioria - apostam no mais fácil, no erotismo e na desagregação familiar. Por último, o Estado mostra-se incompetente em seu dever. Cria empecilhos ao Ensino Particular e nas escolas públicas a prioridade não é educar, mas ensinar.
O escritor Aldous Huxley afirma: “Tudo acontece antes que tenhamos doze anos”. Até essa idade a criança assimila atitudes e hábitos que tendem a se perpetuar pelo resto da vida. Além do descaso, outra atitude compromete a educação. É o caso dos pais e educadores que tudo permitem aos filhos e alunos. Não se pode contrariá-los, garante essa corrente pedagógica, pois podemos traumatizá-los, reprimi-los. Na realidade, educação se faz com amor, firmeza e diálogo. Amar um filho é também saber dizer não.
Não basta querer bem aos filhos. É preciso querer o bem deles. Os pais devem saber dizer não e explicar o porquê dessa negativa. Nem por isso os filhos os amarão menos. Um antigo provérbio garante: quando os pais não corrigem - castigam - seus filhos, a vida se encarregará de fazer isso.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

QUERO UM ANO NOVO EM QUE A COMPETITIVIDADE CEDA LUGAR A SOLIDARIEDADE.

Quero um Ano-Novo em que todas as crianças, ao ligarem a tevê, recebam um banho de Mozart, Pixinguinha e Noel Rosa; aprendam a diferença entre impressionistas e expressionistas; vejam espetáculos que reconstituem a Balaiada, a Confederação do Equador e a Guerra dos Emboabas; e durmam após fazer suas orações.
Desejo um Ano-Novo em que, no campo, todos tenham seu pedaço de terra, onde vicejem laranjas e alfaces e voejem bem-te-vis entre vacas leiteiras. Na cidade, um teto sob o qual reluz o fogão de panelas cheias, a sala atapetada por remendos coloridos, a foto colorida do casal exposta em moldura oval sobre o sofá.
Espero um Ano-Novo em que as igrejas abram portas ao silêncio do coração, o órgão sussurre o cantar dos anjos, a Bíblia seja repartida como pão. A fé, de mãos dadas com a justiça, faça com que o céu deixe de concentrar o olhar daqueles aos quais é negada a felicidade nesta terra.
Um Feliz Ano-Novo com casais ociosos na arte de amar, o lar recendendo a perfume, os filhos contemplando o rosto apaixonado dos pais, a família tão entretida no diálogo que nem se dá conta de que o televisor é um aparelho mudo e cego num canto da sala.
Desejo um Ano-Novo em que os sonhos libertários sejam tão fortes que os jovens, com o coração a pulsar ideais, não recorram à química das drogas, não temam o futuro nem expressem-se em dialetos ininteligíveis. Sejam, todos eles, viciados em utopia.
Espero um Ano-Novo em que cada um de nós evite alfinetar rancores nas dobras do coração e lave as paredes da memória de iras e mágoas; não aposte corrida com o tempo nem marque a velocidade da vida pelos batimentos cardíacos.
Um Ano-Novo para saborear a brevidade da existência como se ela fosse perene, em companhia de ourives de encantos, cujos hábeis dedos incrustam na rotina dos dias jóias ternas e eternas.
Quero um Ano-Novo em que a cada um seja assegurado o direito do emprego, a honra do salário digno, as condições humanas de trabalho, as potencialidades da profissão e a alegria da vocação. Um novo ano capaz de saciar a nossa fome de pão e de beleza.
Rogo por um Ano-Novo em que a polícia seja conhecida pelas vidas que protege e não pelos assassinatos que comete; os presos reeducados para a vida social; e que os pobres logrem repor nos olhos da Justiça a tarja da cegueira que lhe imprime isenção.
Um Ano-Novo sem políticos mentirosos, autoridades arrogantes, funcionários corruptos, bajuladores de toda espécie. Livre de arroubos infantis, seja a política a multiplicação dos pães sem milagres, dever de uns e direito de todos.
Espero um Ano-Novo em que as cidades voltem a ter praças arborizadas; as praças, bancos acolhedores; os bancos, cidadãos entregues ao sadio ócio de contemplar a natureza, ouvir no silêncio a voz de Deus e festejar com os amigos as minudências da vida - um leque de memórias, um jogo de cartas, o riso aberto por aquele que se destaca como o melhor contador de piadas.
Desejo um Ano-Novo em que o líder dos direitos humanos não humilhe a mulher em casa; a professora de cidadania não atire papel no chão; as crianças cedam o lugar aos mais velhos; e a distância entre o público e o privado seja encurtada pela ponte da coerência.
Quero um Ano-Novo de livros saboreados como pipoca, o corpo menos entupido de gorduras, a mente livre do estresse, o espírito matriculado num corpo de baile, ao som dos mistérios mais profundos.
Desejo um Ano-Novo em que o governo coloque o país nos eixos, livre a população do pesado tributo da degradação social, e tome no colo milhões de crianças precocemente condenadas ao trabalho, sem outra fantasia senão o medo da morte.
Espero um Ano-Novo cujo principal evento seja a inauguração do Salão da Pessoa, onde se apresentem alternativas para que nunca mais um ser humano se sinta ameaçado pela miséria ou privado de pão, paz e prazer.
Um Ano-Novo em que a competitividade ceda lugar à solidariedade; a acumulação à partilha; a ambição à meditação; a agressão ao respeito; a idolatria ao dinheiro ao espírito das Bem-Aventuranças.
Aspiro a um Ano-Novo de pássaros orquestrados pela aurora, rios desnudados pela transparência das águas, pulmões exultantes de ar puro e mesa farta de alimentos despoluídos.
Rogo por um Ano-Novo que jamais fique velho, assim como os carvalhos que nos dão sombra, a filosofia dos gregos, a luz do Sol, a sabedoria de Jó, o esplendor das montanhas, a música gregoriana.
Um ano tão novo que traga a impressão de que tudo renasce: o dia, a exuberância do mar, a esperança e nossa capacidade de amar. Exceto o que no passado nos fez menos belos e bons.

UM EXERCITO DE UM HOMEM SÓ.

pope
Uma das tantas coisas boas de Francisco, nestes seus primeiros meses de papado, foi ter falado amigavelmente de ateus.

O que me encantou rapidamente em Francisco foi a energia, o entusiasmo, a coragem com que ele se entregou, desde o primeiro dia, à luta contra a desigualdade social.

Sua devoção aos pobres e aos desvalidos é uma das coisas mais lindas e inspiradoras destes nossos tempos.

A inclusão de ateus na retórica papal rompe um paradigma milenar. O que ele está dizendo é que quem acredita em Deus não é melhor que quem não acredita.

Esta a beleza sublime da mensagem.

Ao estudar as religiões, o filósofo inglês Bertrand Russell notou que o judaísmo inovou na ideia de “povo eleito” e de que o Deus dos judeus era melhor que os outros. A partir daí, sucessivas religiões começaram a guerrear para provar que seu Deus é que era o melhor de todos.

Francisco elimina esta fonte eterna de discórdia e ódio.

O mundo, tal como está hoje, caminha para o colapso. Um planeta tão desigual é, simplesmente, insustentável.

A ganância predadora cobra um preço terrível do meio ambiente – outro assunto incorporado, oportunamente, à agenda papal.

Guerras eclodem o tempo todo.

A conta de tantos desatinos é paga por crentes e ateus, indistintamente. Daí a sabedoria colossal de Francisco ao dizer que crentes e ateus devem se unir pela paz. E contra a ganância. E por um mundo menos desigual.

Você pensa em Francisco e que sentimentos o assaltam? Cito alguns. Amor, generosidade, solidariedade, tolerância, compreensão, simplicidade, modéstia. Que magnífico exemplo para todos nós, crentes e ateus.

Certos homens, raros, são um exército em si mesmos.

Eles mudam tantas coisas tão rapidamente que você se pergunta como o mundo pôde existir sem eles.



Francisco, talvez o maior de todos os papas desde sempre, é um deles.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

"QUANTO MENOS DESEJOS VOCÊ TEM, MAIS PERTO ESTÁ DOS DEUSES.

A morte de Sócrates
Sócrates é um formidável remédio contra a presunção. Quando você está se achando o rei do universo, quando você olha para o espelho e admira apaixonadamente o que vê, quando você começa a acreditar que é uma prova viva da existência de Deus, bem, é tempo de pensar em Sócrates. Maior de todos os filósofos, grande mestre de gênios como Platão e Aristóteles, ídolo de todos os pensadores relevantes que vieram depois dele pelos séculos afora, Sócrates pronunciou a maior frase contra a arrogância da história da humanidade: “Tudo o que sei é que nada sei”.

Sócrates (470-399 a.C.) mudou a história da filosofia. Deu a ela um inédito caráter prático, moral e ético. Com ele a filosofia se transformou como que num manual para tornar melhor a vida de todos nós. Para nos ajudar a enfrentar as adversidades. Para nos aprimorarmos interiormente. Pensador nenhum se igualou a ele, e no entanto Sócrates jamais escreveu um único livro. Suas idéias e atitudes foram transmitidas à humanidade sobretudo pelas obras de Platão, seu discípulo. Sócrates é o personagem principal dos textos de Platão (428-348 a.C.).

Ele reuniu um número extraordinário de virtudes. Tinha uma vida simples. “Quanto menos desejos você tem, mais perto está dos deuses”, disse ele. Sêneca, o estóico romano, escreveu com reverência que Sócrates não se deixava perturbar pelos bens materiais: desfrutava deles se os tinha. Abstinha-se deles sem sofrimento se os perdia. Foi corajoso na vida e na morte. Combateu em algumas guerras de Atenas, a cidade que o fez ser o gigante que foi e depois o matou. Recebeu condecoração por bravura. Há registros de resistência invulgar em seus dias de guerreiro: andava de pés descalços e sem casaco sob temperaturas baixíssimas.

Tinha além do mais senso de humor. “Case-se”, recomendava ele a todos. “Ou você encontra uma boa mulher e vira um homem feliz ou acha uma megera e se transforma num filósofo”. Xantipa, sua mulher, era reconhecidamente insuportável. Com ela teve três filhos.

Na maior parte da vida de Sócrates, Atenas estava em seus dias de esplendor. A Guerra do Peloponeso, em que Atenas foi derrotada por Esparta, selou a sorte de Sócrates. Atordoada, humilhada, a cidade procurou culpados por sua derrocada. Sócrates foi acusado de corromper a juventude com suas idéias. Um tribunal condenou-o a tomar cicuta. Seus discípulos armaram uma fuga, mas Sócrates recusou. Ele agiria como um covarde, e então seu exemplo não teria valor para a posteridade. Para ser Sócrates ele sabia que tinha que pegar o copo que seu carrasco lhe passaria e tragar seu conteúdo com gloriosa tranqüilidade.

A morte de Sócrates está registrada num clássico da literatura universal: Fedon, de Platão. Sócrates consolou os discípulos, devastados. Lembrou a um deles que tinha uma dívida que devia ser paga. Pediu instruções ao homem incumbido de dar-lhe veneno, para evitar problemas na execução. Pronunciou, prestes a tomar a cicuta, palavras que o jovem Platão tornaria eternas: “Chegou a hora de partir, vocês para a vida, eu para a morte. Qual dos dois destinos é melhor, só os deuses sabem”.

OS 15 MANDAMENTOS DE BALZAC PARA HOMENS E MULHERES EM BUSCA DO SEXO PERFEITO.

Balzac (1799-1850) foi o romancista entre os romancistas. O maior de todos. Com sua Comédia Humana, composta de 88 volumes independentes mas entrelaçados, Balzac praticamente inventou o romance como gênero literário. Balzac foi um caso raro de trabalhador árduo entre os franceses, culturalmente acostumados a cultivar o ócio acima do trabalho, algo que encontra sua tradução imortal na expressão “joie de vivre” — alegria de viver. Balzac trabalhava 15 horas por dia, movido a café. Não era exatamente um estilo de vida saudável, e ele encontrou a morte na Paris que retratou como ninguém aos 51 anos.

O amor e o sexo estão obsessivamente presentes em Balzac. De seus escritos se pode extrair um pequeno e útil manual de conduta amorosa em 15 frases nas quais Balzac prova ser uma espécie de Buda do relacionamento entre homens e mulheres. Os sutras — sintéticos aconselhamentos — de Buda para a conquista do nirvana encontram em Balzac uma versão para a conquista do sexo perfeito.

Os 15 sutras de Balzac para homens e mulheres em busca de satisfação na relação com seus parceiros amorosos:

1) Na cama está todo o casamento.

2) No amor, é certo que se dermos demasiado não receberemos bastante. A mulher que ama mais do que é amada há de necessariamente ser tiranizada. O amor durável é o que tem sempre as forças dos dois seres em equilíbrio.

3) O homem vai da aversão ao amor. Mas, quando começou por amar e chega à aversão, nunca mais volta ao amor.

4) Ainda não foi possível decidir se a mulher é levada a tornar-se infiel mais por não conseguir se refrear do que pela liberdade que encontra para a traição.

5) Você não avalia como é perigoso para uma imaginação vívida e um coração incompreendido vislumbrar a forma etérea de uma jovem e bela mulher.

6) Numa história de amor, é preciso trair para não ser traído.

7) Numa relação amorosa, o momento em que dois corações podem entender-se é tão rápido como um relâmpago, e não volta mais, depois de ter se dissipado.

8) Quanto mais se julga, menos se ama.

9) A sorte de uma relação amorosa depende da primeira noite.

10) É uma prova de inferioridade, num homem, não saber fazer de sua mulher sua amante. Só os homens tolos julgam que se deve ter ambas separadas — a mulher e a amante. A amante e a mulher devem estar unidas num único ser sublime

11) Por que, de cada dez mulheres bonitas, há pelo menos sete que são perversas?

12) Nada é mais santo, nem mais sagrado do que o ciúme. O ciúme é a sentinela que nunca dorme: ele é para o amor o que o mal é para o homem, um verídico aviso. Quanto mais uma mulher castigar com ciúme um homem, mais ele lamberá, submisso e humilde, o bastão que ao bater-lhe lhe diz quanto ela se interessa por ele.

13) A virgindade, com todas as monstruosidades, tem riquezas especiais, grandezas absorventes. A vida, cujas forças são economizadas, toma no indivíduo virgem uma qualidade de resistência e durabilidade incalculável. O cérebro enriqueceu-se no conjunto de suas qualidades reservadas. Quando os castos precisam de seu corpo ou de sua alma, quer recorram à ação ou ao pensamento, encontram então aço em seus músculos ou ciência poderosa em sua inteligência, uma força diabólica ou a magia negra da vontade.

14) Receber olhares cheios de admiração, desejo e curiosidade é como uma flor que todas as mulheres aspiram deliciadas. Algumas mulheres cumpridoras de seus deveres, lindas e virtuosas, voltam para a casa de mau-humor quando não colhem um ramalhete de galanteios durante um passeio.

15) O homem dominado pela mulher é, com justiça, coberto pelo ridículo. A influência da mulher deve ser absolutamente secreta. Em tudo, a graça nas mulheres está no mistério.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O ANO, A VIDA, O CORAÇÃO:TUDO NOVO.

Os casais se beijarão e tomarão champagne, cerveja ou o que for. As crianças correrão e pularão de alegria, e abraçarão os pais. As taças tilintarão em meio aos brindes. O cristão rezará um Pai-Nosso, o afro-brasileiro pulará após a sétima onda, pedindo a Iemanjá muita coisa boa, o ateu levantará o pé direito para abaixá-lo apenas quando a décima segunda badalada soar e anunciar a chegada do Novo Ano.
O tempo recebe as homenagens neste período do ano, através de mitos e lendas freqüentes no Baixo Império Romano. Kronos é o mais popular e simboliza o Deus infinito. Sua figura é humana e rígida, às vezes com cabeça de leão, associado aos cultos solares, enquanto representa a sua destruição e eliminação. O simbolismo de kronos inspira a magia dos tempos atuais na saudação ao Ano-Novo, envolvendo traços culturais que vão desde a mesa, com suas comidas típicas, às vestimentas brancas, a casa, o espírito irradiante de paz e alegria.
No Cristianismo, contudo, essa comemoração do novo ano que chega, trazendo consigo a renovação de tudo que existe, não é pontual nem se passa apenas no Ano-Novo. Não é o Deus kronos que a fé cristã cultua, mas o Deus Encarnado, que com sua vida, morte e ressurreição renovou todas as coisas e continua a renová-las permanentemente por seu Espírito.
O Espírito Santo, que é derramado sobre toda carne e sobre toda a história com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, faz novas todas as coisas. E assim fazendo, altera a categoria tempo. Aquele que toma consciência de ser por ele habitado e transformado já não se auto-compreende vivendo no kronos, mas sim no kairos.
Kairos é uma antiga palavra grega que significa “o momento certo” ou “oportuno”. Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: kronos e kairos. Enquanto o primeiro refere-se ao tempo cronológico, ou seqüencial, este último é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece. É usado também em teologia para descrever a forma qualitativa do tempo, o “tempo de Deus”, enquanto kronos é de natureza quantitativa, o “tempo dos homens”.
O Espírito altera, portanto, nossa maneira de conceber o tempo. Para aquele ou aquela em quem o Espírito Santo habita, o tempo não é mais um tempo linear (kronos), mas um kairos (tempo de Deus), que só Nele encontra sua unidade de medida. Nesse sentido, não se trata mais de um tempo submetido à caducidade.
As coisas não mais podem ser medidas com os parâmetros temporais de antes. Paulo adverte severamente os gálatas sobre isso. O cristão não apenas espera um novo céu e uma nova terra, mas já vive de fato uma nova ordem de coisas, uma nova criação. E embora este novo esteja ainda sendo dolorosamente parido, na verdade já está acontecendo plenamente para aqueles que vivem em Cristo, aqueles para quem já chegou a plenitude dos tempos. É o Espírito que realiza e atesta todo este novo, estas coisas tornadas novas, fazendo de todos novas criaturas, crianças novas, ainda que o ser humano exterior envelheça e esteja submetido à erosão do tempo.
Quando soar a meia noite do dia 31, saibamos que não é novo apenas o tempo que passa. Nós somos novos porque constantemente renovados, recriados pelas mãos amorosas do Criador, das quais a cada segundo novamente saímos e somos dados à luz.
Sem medo, portanto, digamos: Feliz Ano-Novo! Nada pode nos atemorizar, pois nossas vidas são constantemente re-feitas pelo Espírito, que faz novas todas as coisas e que já está tecendo os fios do bordado deste Ano que se anuncia

FELIZ 2014.

Por que o réveillon provoca tanta fissura? O que há de especial em se trocar de ano? Nada, exceto a convenção numérica, invenção indo-arábica, que nos permite codificar o tempo em horas, minutos e segundos, e estabelecer, segundo o movimento de nosso planeta em torno do sol e as fases da lua, calendários que repartem o tempo em ano de doze meses, mês com cerca de 30 dias, e dia com exatas 24 horas.
Ocorre que não somos trilobitas, e sim humanos, dotados da capacidade de imprimir ao tempo caráter histórico e, à história, sentido. O réveillon é, pois, um rito de passagem. Ressoa em nosso inconsciente o alívio por terminar um ano de tantos revezes, perdas, sofrimentos; e celebrar conquistas, avanços e vitórias. Há que soltar fogos, inundar cálices, expressar bons propósitos às divindades que povoam nossas crenças, vestir-se de branco como sinal de nossa primeira comunhão com o novo ano que se inicia.
Vivemos premidos pelo mistério. Como as partículas subatômicas, somos regidos pelo princípio da indeterminação. Essa impossibilidade de prever o futuro suscita angústia, o que nos induz a tentar decifrá-lo por via da leitura dos astros e das cartas, da sabedoria de videntes, dos búzios dos pais e mães de santo, da rogação aos nossos santos protetores.
Esta uma paradoxal característica da pós-modernidade: em plena era da emergência da física quântica e da falência do determinismo histórico como ideologia, acreditamos que o nosso futuro está escrito nas estrelas. Daí a inércia, a indignação imobilizadora, a impotência frente aos escândalos éticos e ao descaramento com que corruptos são absolvidos por seus pares, essa letargia que em nada lembra o que se deveria comemorar neste ano: os 45 anos de Maio de 1968.
Nos países industrializados, Maio de 68 é o paradigma da rebeldia, o grito parado no ar enfim sonorizado nas manifestações estudantis, os EUA derrotados pelos vietnamitas, os Beatles reinventando a canção, a moda subvertendo parâmetros, as mulheres a conquistar o direito de se apaixonarem pela primeira vez inúmeras vezes, a castração do machismo, a emergência esotérica.
Do lado sul do planeta, os anos de chumbo, os generais metendo no coldre as chaves dos parlamentos, a utopia dependurada no pau-de-arara, as rotas do exílio a se multiplicarem, os mortos e desaparecidos enterrados nos arquivos secretos das Forças Armadas. Ainda assim, havia sonho, e não era motivado pela ingestão química, brotava da fome de liberdade e justiça, fomentava o desejo irrefreável a adjetivar de novo a criatividade incensurável - o cinema, a bossa, a literatura, o tropicalismo.
No passado, o futuro era melhor. Hoje, imersos nessa sociedade da hiperestetização da banalidade, na qual as imagens contraem o tempo e a WEB virtualiza o diálogo na solidão digital, andamos em busca de uma razão de viver. Perdemos o senso histórico, trocamos os vínculos de solidariedade pela conectividade eletrônica, vendemos a liberdade por um punhado de lentilhas em forma de segurança.
Em 2014, seremos chamados às urnas. Haveremos de tentar discernir os idealistas dos arrivistas; os servidores públicos dos que se afogam no ego destilado na embriaguez dos aplausos; os movidos pela intransigência dos princípios éticos dos que miram os recursos do Estado como carniça fresca ofertada à sua gula insaciável.
Ano de comemorar os 65º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos - que, para vergonha dos católicos, até hoje não mereceu a assinatura do Estado do Vaticano.
Neste mundo de atrocidades, não há outro modo de celebrá-la senão exigindo sua aplicação e aperfeiçoamento: o cessar da ocupação do Iraque, a independência de Porto Rico, o fim do bloqueio a Cuba, a redução da emissão de gás carbônico, a paralisação do desmatamento da Amazônia, a salvação da África. Acresçam-se à Declaração os direitos internacionais, planetários, ambientais.
No Brasil, é hora de a Declaração ser transferida do papel à realidade social. Em que pese a atuação corajosa da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, impossível celebrar conquistas em direitos humanos enquanto a polícia estigmatiza como suposto traficante o morador de favela; o Judiciário promove a orgia compulsória ao trancafiar mulheres em celas repletas de homens; indígenas e quilombolas são condenados à miséria por descaso das autoridades; a frouxidão da lei cobre de imunidade corruptos e de impunidade bandidos e assassinos.
Não basta o propósito sincero de fazer novo em nossas vidas o ano de 2014. É preciso mais: fazer novas as realidades que nos cercam, de modo que ocorram mudanças afetivas, e a paz floresça como fruto da justiça.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

COMEÇAR DE NOVO

Era a última prova do ano. Quase todos precisavam mais alguns pontos para obter a aprovação. Tratava-se de um curso que funcionava à noite. Em sua grande maioria, os alunos trabalhavam durante o dia e o cansaço tornava-se visível em seus rostos. Faltavam apenas 20 minutos para o término da prova e um aluno foi falar com o professor. Ele gostaria de receber uma nova folha e recomeçar a prova, pois o trabalho estava péssimo. Não seria possível uma nova folha, pois todas estavam identificadas, observou o professor, mas sugeria uma alternativa: escrever no verso da folha.
Aceita a proposta, o aluno colocou uma grande cruz sobre o péssimo trabalho feito, mostrando que estava anulado. Depois recomeçou a prova no verso da folha. Na hora certa entregou o trabalho e, para surpresa do professor, recebeu uma das maiores notas.
A vida de cada um nunca é uma obra perfeita. Desde os primeiros dias, acumulamos um cabedal de conhecimentos, a partir de experiências feitas, certas ou erradas. Algumas atitudes são facilmente corrigidas, mas nem todas. A partir de certa idade, nos damos conta que não existe uma lógica perfeita em nossa vida. Por vezes jogamos a solução para mais adiante, para um amanhã que não chega nunca. Já na segunda etapa da vida, muitos admitem que é tarde demais e deixam o barco seguir assim como está. Se fosse possível recomeçar, fariam tudo diferente...
Nossa vida é o resultado das decisões assumidas, certas ou erradas. A felicidade é o resultado das decisões certas. E não adianta culpar os outros. Nós mesmos somos os responsáveis pelas decisões. Quando muito, os outros podem nos ajudar numa ou outra decisão. É pouco inteligente culpar os pais, os professores, os colegas, a esposa, o marido, o sócio... Culpar o passado é ignorar o verdadeiro problema. Não podemos voltar no tempo e fazer um novo começo, mas podemos começar de novo e preparar um final como queremos. Nós somos o resultado de nossas escolhas. Não das escolhas feitas no passado, mas das escolhas que fazemos agora.
Comecemos de novo, dizia São Francisco aos seus frades, porque até agora pouco fizemos. É significativo que o santo tenha dito isso em seu leito de morte. Nunca é tarde para recomeçar. Nas páginas do Evangelho encontramos a certeza de que sempre é possível recomeçar: o surdo recupera a audição, o mudo começa a falar, o paralítico anda, o morto volta à vida, à mulher adúltera é devolvida a dignidade. E no alto da cruz, alguns minutos antes da morte, o chamado bom ladrão começa de novo. Ele cancelou o passado complicado e escreveu no verso da folha um poema de santidade.
O ano de 2013 está chegando ao fim. Para muitos pode ter sido um ano perdido. Não importa, podemos e devemos recomeçar de forma diferente. O tempo de Deus é hoje. O tempo é um presente de Deus, que nos permite começar de novo.

O QUE A FAMA FEZ COM SALOMÃO?

O que houve com Salomão, filho e sucessor do rei Davi, faz pensar. Começou seu reinado matando seu irmão Adonias, que lhe tentara usurpar o trono. Matou, também, outros poderosos do reino. Disciplinou Israel e levou o reino à segurança, à riqueza e ao esplendor.
Foi considerado um dos homens mais sábios de todos os tempos. Discursava sobre qualquer assunto. Reis, rainhas e pensadores vinham vê-lo. Países queriam fazer pacto com ele.
De certa forma, foi o rei dos reis no seu tempo. Pediu sabedoria, mas parece que não a utilizou por muito tempo. Construiu um templo rico e maravilhoso para Deus, de trinta metros de comprimento por dez metros de largura e quinze de altura. Mas para si fez um palácio maior: tinha cinqüenta metros de cumprimento, vinte e cinco de largura e quinze de altura. E era mais rico do que o templo que erguera para Deus.
Parece que gostou muito de ser rico, poderoso e famoso. E foram os demônios do orgulho, do poder, da fama, da riqueza e do prazer que o levaram ao erro. Além de ter feito para si um palácio maior do que o templo de Deus, matou quem o indignava, teve mil mulheres das quais setecentas rainhas e trezentas concubinas, nadou em riqueza, afogou-se em prazeres e acabou na idolatria influenciado pelas mulheres estrangeiras.
O sábio e santo que fizera um templo para Deus, dera a paz e a riqueza ao povo e que pelo menos duas vezes disse ter visto o Deus verdadeiro, acabou adorando falsos deuses e abandonando tudo o que ensinara. Dinheiro, fama, poder e prazer o afastaram do caminho! Sobre ele se pode aplicar o pensamento de Jesus: De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se depois acaba perdendo sua alma?..

domingo, 22 de dezembro de 2013

COMO FAZER PARA SER JOVEM OUTRA VEZ

A águia é a ave de maior longevidade. Chega a viver 70 anos. Mas para chegar a esta idade, lá pelos 40 anos precisa tomar uma decisão difícil. Não existe alternativa. E isto acontece porque as unhas flexíveis e compridas não mais conseguem agarrar suas presas, de que se alimenta. O bico alongado e pontiagudo se curva, apontando na direção do peito e as asas envelhecidas e pesadas, em função das grossas penas, não mais conseguem voar. Aparentemente, essa ave é um doente terminal.
Aí surge a necessidade de uma decisão: morrer ou enfrentar um doloroso processo de renovação, que irá durar cerca de cinco meses. Ela se recolhe a um abrigo seguro, entre as rochas de uma montanha. Com decisão e teimosia, começa a bater com o bico na rocha até que ele acabe caindo. Depois espera, pacientemente, que cresça um novo bico e com ele vai arrancar as unhas e as penas. Somente 150 longos dias após ela estará renovada, em condições de viver mais trinta anos. Até a Bíblia Sagrada, em várias passagens, fala da juventude e da altivez da águia.
Processo mais ou menos semelhante precisa acontecer com as pessoas. Em determinada etapa da vida, envolvida pela rotina, a pessoa não mais sente o sabor dos sonhos acalentados e, irremediavelmente, envelhece. Caminha encurvada, perde o brilho do olhar e chega à conclusão de que só resta esperar a morte. Esse é o momento da decisão. Ou sobrevive, amargurada, em meio às sombras, ou parte para a renovação.
Renovar-se é redimensionar a própria vida, estabelecer novos limites e novas metas. É a hora da transformação. É a hora de começar a pensar mais nos outros do que em si mesmo. É a hora de valorizar mais as coisas do espírito. É a hora da procura da harmonia em todo o seu agir, relativizando e assumindo os erros, e de pensar mais no futuro. É a hora que se abre à extraordinária dimensão do serviço e da gratuidade. É a hora de organizar nova escala de valores.
Por vezes, as pessoas fazem confusão, não distinguindo valores com costumes. Os primeiros são permanentes, os outros são secundários. É a hora de aprender a negociar com os outros e admitir, afinal, que ele não é o dono da verdade. Todo ganho supõe uma perda. Toda a perda pode-se abrir para um ganho.
Cada idade tem sua juventude. Em qualquer etapa da vida podemos descobrir novos valores. O Evangelho nos mostra que é possível sempre recomeçar. É evidente que isso tem um preço a ser pago. É preciso jogar fora muita coisa do passado, mas a recompensa será voar novamente e viver em plenitude até o fim.

CORTARAM A CABEÇA

Não foi a cabeça de João Batista. Foi a do povo. É do povo. As cabeças continuam rolando pelo chão. É proibido usar a própria cabeça. É proibido ter idéias próprias. Decisões próprias. Tomar caminhos próprios. Pessoas iluminadas tomaram conta das cabeças. É possível, num futuro próximo, termos um governo único, onde todos pensarão do mesmo jeito e serão comandados apenas por um número. Seremos número. Aliás, grande parte da humanidade já é número. O nome já não tem importância.
ILUMINADOS PENSAM POR NÓS. Decidem por nós. Benditos - e ao mesmo tempo malditos - os iluminados. Pastores iluminados traçam todo o comportamento dos seus fiéis. Impõem o que pensar e fazer, como pensar e fazer. Tudo está escrito. E ainda argumentam a partir da palavra de Deus. Em nosso país estão roubando a cabeça do povo. Tudo é multidão. De futebol e de religião. De uns que sabem e outros que devem segui-los. As igrejas estão se tornando multidões dominadas por alguns iluminados que falam horas infindáveis nos meios de comunicação, como donos da Bíblia e da verdade, donos do comportamento humano. Os ditadores estão de volta. Apenas mudaram de pele. De ditadores políticos a ditadores religiosos. De governos que mandam a grupos de interesse que dominam.
OS COMERCIAIS PENSAM POR NÓS. Impõem o que é melhor e o que devemos consumir. Mesmo sem necessidade as pessoas vão adquirindo bens de consumo. A sociedade da coca-cola e do tênis, e de muitas outras imposições desnecessárias, perdeu a cabeça. Não decide mais por si. Já está pré-determinado o que deve consumir.
A INTERNET FORNECE TUDO DE GRAÇA. Mata a criatividade. Elimina o esforço. Castra as idéias. A pessoa vai se tornando um depósito de informações. A nova geração, com cabeça na informática, não suporta sacrifício e renúncia. Nem pensa em sentar-se agora para construir o futuro. A nova geração está convencida que um dia o prato de comida e o copo de bebida cairão gratuitamente da tela do computador. Escola, família e todas as organizações sociais estão preocupadas em ver uma geração se decepando. E quem vai devolver a cabeça?
É PRECISO RESTITUIR A CABEÇA AO POVO. Fazer pensar. Cada um decidir por si. Conquistar a liberdade, que é o poder de decisão sobre o que o coração pede e as leis da vida exigem. Mas, para isso, é preciso sentar-se. Até que jovens e adultos continuarem na corrida da vida, não dedicando tempo para refletir a vida e as ações, nada irá mudar. A pressa e o ativismo são os inimigos do pensamento. A escola tem que fazer pensar e não só passar informações. A escola conseguiu levar a internet na sala de aula. É uma conquista, mas não é tudo. A internet, quando não bem usada, torna-se instrumento de decepar alunos. É preciso usar instrumentos que façam pensar para tomar decisões pessoais. A família tem que sentar e fazer sua história e não ficar vendo a história de heróis e artistas em televisão. Na verdade, as cabeças têm que retomar seus lugares e assim teremos um povo dono de si e mais feliz.

VIVAM EM HARMONIA UNS COM OS OUTROS

Que o amor de vocês seja sem hipocrisia. Detestem o mal e apeguem-se ao bem. O amor seja fraterno. Sejam carinhosos uns com os outros. Rivalizem-se na mútua estima, nada de preguiça. Sejam fervorosos em espírito. Sirvam ao Senhor. Sejam alegres na esperança, pacientes na hora difícil e perseverantes na oração.
Sejam solidários com os outros em suas necessidades e melhorem cada dia na prática da hospitalidade. Não se deixem levar pela mania de grandeza. Sejam simples e modestos. Vivam em harmonia uns com os outros.
Não paguem o mal com o mal. Preocupem-se em fazer o bem a todo mundo. Não se vinguem. Nem façam justiça com as próprias mãos. Deixem Deus cuidar disso. Dêem de beber e comer. E visitem até seus inimigos. Vençam o mal com o bem.
No que depender de vocês, vivam em harmonia e em paz com todo mundo e com a natureza!
(Paulo aos romanos 12, 9-21)

NADA ESTÁ DECIDIDO.

Dotado de uma inteligência acima da média e uma vontade enérgica, ele tinha tudo para vencer na vida. Mas os fatos estavam contra ele. Aos 31 anos, viu seu pequeno estabelecimento comercial ir à falência. No ano seguinte tentou a carreira política como deputado, mas foi derrotado. Tentou de novo o comércio, mas mais uma vez quebrou. Um ano depois aconteceu uma tragédia familiar, com a morte da esposa. A perda motivou um colapso nervoso. Por alguns anos a apatia apoderou-se dele, mas, aos 46 anos, disputou a eleição para a prefeitura de sua cidade. Para variar, perdeu. Nos dez anos seguintes disputou - e perdeu - quatro eleições, sendo a última para Senador. Aos 60 anos, em 1861, foi eleito presidente dos Estados Unidos. Seu nome: Abraham Lincoln.
Hoje ninguém comenta seus fracassos. Lincoln é lembrado como um dos maiores estadistas da história norte-americana e mundial. Evitou a divisão do país em dois Estados - Guerra da Secessão - e comandou a libertação dos escravos.
A vida não é aquela que sonhamos, mas aquela que acontece de verdade. Ela tem luzes e sombras, sucessos e fracassos, alegrias e tristezas. A vida não é feita de sonhos, mas daquilo que fazemos quando nossos sonhos não dão certo. E, por isso, ela deve ser vista no seu conjunto. Ninguém vai comer algumas colheradas de fermento, nem engolir dois tabletes de manteiga, duas xícaras de farinha e 30 gramas de sal. Mas é com esses ingredientes que se faz um bolo.
Milhares de peças não servem para nada, a não ser quando formam um conjunto harmonioso que chamamos relógio. Assim é a vida. Um momento pouco significa, vale o conjunto dos momentos, vale a direção que assumimos. Vale o que vem depois.
Desanimado, sem motivações para viver, em virtude da morte de um filho, um empresário isolou-se do mundo. Um dia, um amigo levou-o para o ponto mais alto da cidade e comentou com ele: ali vivem dezenas de milhares de pessoas, todas elas têm alegrias, tristezas, problemas e desafios. Você não é a única pessoa que enfrenta um momento difícil. Olhe para frente, deixe que as lágrimas sequem, deixe que o sorriso volte, retome as rédeas de sua vida. Você tem muito ainda a fazer, tem muitas razões para viver.
Todos conhecemos a utilidade do espelho retrovisor. Precisamos dele, de vez em quando. Mas o bom motorista olha, sobretudo, para frente. O passado é sempre uma referência útil, mas não a única. Um sacerdote morreu de repente, aos 81 anos. Em seu bolso estava uma frase escrita do próprio punho: a melhor parte da vida é aquela que está pela frente. Essa é a lógica do Evangelho. O passado não é mais nosso, o futuro está nas mãos de Deus; nosso, inteiramente nosso, é o presente. E o tempo é um dom, um presente de Deus. Hoje é o primeiro dia do resto da vida. Hoje é a possibilidade de recomeçar, a partir do ponto onde estamos, seja qual for. Que o diga Abraham Lincoln.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

UMA CARTÃOZINHO DE NATAL PARA VOCÊ.

O Natal é a festa das crianças e da divina Criança que se esconde dentro de cada adulto. É altamente inspiradora a crença de que Deus se acercou dos seres humanos na forma de uma criança. Assim ninguém pode alegar que Ele é apenas um mistério insondável, fascinante por um lado e aterrador por outro. Não. Ele se aproximou de nós na fragilidade de um recém-nascido que choraminga de frio e que busca, faminto, o seio materno. Precisamos respeitar e amar esta forma como Deus quis entrar no nosso mundo. Pelos fundos, numa gruta de animais, numa noite escura e cheia de neve “porque não havia lugar para ele nas pousadinhas de Belém”.
Mais consoladora é ainda a ideia de que seremos julgados por uma criança e não por um juiz severo e esquadrinhador. Criança quer brincar. Ela se enturma imediatamente com todas as outras, pobres, ricas, japonesas, negras e loiras. É a inocência originária que ainda não conheceu as malícias da vida adulta.
A divina Criança nos introduzirá na dança celeste e no festim que a família divina do Pai, do Filho e do Espírito Santo prepara para todos os seus filhos e as suas filhas, não excluídos aqueles que, um dia, foram desgarrados.
Estava refletindo sobre esta realidade bem-aventurada quando um anjo, daqueles que cantaram aos pastores nos campos de Belém, se aproximou espiritualmente e me entregou um cartãozinho de Natal. De quem seria? Comecei a ler. Nele se dizia:
“Queridos irmãozinhos e irmãzinhas:
Se vocês, ao olharem o presépio e ao verem lá o Menino Jesus no meio de Maria e de José e junto do boi e do jumento, se encherem de fé de que Deus se fez criança, como qualquer um de vocês;
Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas a presença do Menino Jesus que uma vez nascido em Belém, nunca nos deixou sozinhos neste mundo;
Se vocês forem capazes de fazer renascer a criança escondida nos seus pais, nos seus tios e tias e nas outras pessoas que vocês conhecem para que surja nelas o amor, a ternura, o cuidado com todo mundo, também com a natureza;
Se vocês, ao olharem para o presépio, descobrirem Jesus pobremente vestido, quase nuzinho e lembrarem de tantas crianças igualmente mal vestidas e se sofrerem no fundo do coração por esta situação e se puderem dividir o que vocês têm de sobra e desejarem já agora mudar este estado de coisas;
Se vocês, ao verem a vaquinha, o burrinho, as ovelhas, os cabritos, os cães, os camelos e o elefante no presépio e pensarem que o universo inteiro é também iluminado pela divina Criança e que todos eles fazem parte da grande Casa de Deus;
Se vocês olharem para o alto e virem a estrela com sua cauda luminosa e recordarem que sempre há uma estrela como a de Belém sobre vocês, acompanho-os, iluminando-os, mostrando-lhes os melhores caminhos;
Se vocês se lembrarem que os reis magos, vindos de terras distantes, eram, na verdade, sábios e que ainda hoje representam os cientistas e os mestres que conseguem ver nesta Criança o sentido secreto da vida e do universo;
Se vocês pensaram que esse Menino é simultaneamente homem e Deus e por ser homem é seu irmão e por ser Deus existe uma porção Deus em vocês e, por causa disso, se encherem de alegria e de legítimo orgulho;
Se pensarem tudo isso então fiquem sabendo que eu estou nascendo de novo e renovando o Natal entre vocês. Estarei sempre perto, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia em que chegaremos todos, humanidade e universo, na Casa de Deus que é Pai e Mãe de infinita bondade, para morarmos sempre juntos e sermos eternamente felizes”.
Belém, 25 de dezembro do ano 1.
Assinado: Menino Jesus

FELIZ NATAL AMIGOS LEITORES E MUITO OBRIGADO PELO APOIO DE TODOS.

O CANTO DO GALO.

Era um belo galo vermelho. Dotado de melodiosa voz, cultivava uma exagerada auto-imagem. Notou que, sempre que ele cantava, surgia o sol. Depois de algum tempo convenceu-se que a noite terminava e o dia começava obedecendo ao seu comando. Era ele quem determinava o aparecimento do sol. Naturalmente, supunha, os outros animais tinham inveja de seu poder. E como não recebesse os elogios - no seu ponto de vista - merecidos, mudou-se para outra localidade. No dia seguinte, um pouco inseguro, voltou a cantar o e sol apareceu. Satisfeito, o galo ficou pensando na turma que ficara na aldeia anterior. Eles, agora, estão na escuridão completa e aprenderão a me valorizar.
Porque era verdadeiramente santo, um monge tinha uma atitude oposta. Um dia um anjo ofereceu a ele o dom das curas. Deixe que Deus cure, foi a resposta humilde do monge. Mas os milagres converterão muita gente, insistiu o anjo, e muitos pecadores se converterão. A tarefa de mudar os corações pertence a Deus, desculpou-se o santo homem. Insistente, o anjo prosseguiu: seus milagres levarão muitas pessoas a imitá-lo. Não, disse o santo, eles devem imitar apenas a Deus.
E o anjo retirou-se, sem se dar por vencido. A partir daí a sombra do santo começou a curar as pessoas. O monge nunca soube, apenas alegrou-se que as pessoas tivessem deixado de lado a sua pessoa e se contentassem com a sombra.
À semelhança do galo, há pessoas que se imaginam como centro do mundo. Tudo deve passar por elas, sua opinião é única e só elas sabem fazer bem as tarefas. Suas frases sempre iniciam pelo orgulhoso pronome pessoal “eu”. Pessoas assim precisam ser alimentadas, a cada dia, pelos elogios. Caso não seja elogiado, ele já sabe o motivo: a inveja. É a psicologia do galo, que - pretensamente - faz o sol nascer. Assemelham-se aos orgulhosos pavões, sempre exibindo suas plumagens.
Esse grupo não é maioria. À semelhança do humilde monge, muitas pessoas vivem na simplicidade, têm idéias claras sobre seu objetivo e suas realizações. O escritor Georges Bernanos falava das inocências anônimas que salvam o mundo.
Em alguma aldeia remota, hoje, algum galo imagina ter o poder de fazer surgir o sol no horizonte. Em outras aldeias, muitos humildes homens de Deus continuam a curar com sua sombra. E nem eles mesmos sabem disso.

ESPIRITUALIDADE SIM, MAS SAUDÁVEL.

A comédia humana se une ao trágico no comportamento político, que faz rir e chorar. A mesma comédia e tragédia se manifestam na economia, na vida em família, na vida social, nos meios de comunicação e em todos os setores humanos. Tudo é motivo de rir e chorar. Não escapam disso nem as atitudes de manifestação religiosa e espiritual do ser humano. Cultos e celebrações, explosões religiosas com gritos e choros, com aleluias e desesperos, ritos frios, realizados sem coração e sem emoções, pregações que apelam para anjos e demônios, santos e orixás, criação de infernos e céus em mundos que não existem, tudo isso manifesta que estamos muito longe de sermos criaturas saídas das mãos do grande artista, que nos fez à sua imagem e semelhança. O desastre da espiritualidade é ter-se tornado criação de líderes religiosos de todos os tipos, que idealizam uma igreja ou um movimento religioso à sua imagem e semelhança. Ou ainda, do tamanho de seu bolso e ambição.
O DESASTRE DO ESPIRITUALISMO. Espiritualismo é a situação do viver fora do mundo. Fugindo da condição humana. Fugindo do pecado e da fragilidade humana. Quem se dispõe a agüentar pregações religiosas de pastores que, numa hora de sermão, dizem mais de trezentas vezes “a palavra do Senhor?”. Não há quem agüente um sermão onde somente se fala de Deus e da vontade de Deus. Não há quem suporte ler livros, escutar teólogos e pregadores de movimentos espiritualistas que esquecem o humano. Esquecem que temos os pés fincados no chão. Que temos raízes na terra. Que somos emoções e frustrações. Que somos grandeza e pequenez. O que dizer dos movimentos de igreja e atitudes de pregadores que não só desconhecem, mas desprezam a parapsicologia e a psicoterapia? É difícil realizar a cura divina sem a cura humana!
CULTIVAR UMA ESPIRITUALIDADE HUMANA. Temos que descer para melhor subir. Descer à nossa condição de pecadores, frágeis e limitados. Descer os degraus de nossas frustrações, medos, ansiedades, doenças, cansaços e situações humanas do cotidiano. Através de todas essas situações é possível realizar a subida. Nessa subida, feita com consciência de busca de realização, encontramos o caminho do coração. E se esse caminho se encontrar atrapalhado e sem rumos, podemos dispor da grande luz, que ilumina todos os caminhos e todos os corações, que é a pessoa de Jesus e sua Palavra. Ele, que soube descer até nós, vai nos ajudar a subir até Ele. A pessoa humana realiza sua espiritualidade a partir de dentro do seu ser, sem buscar um Deus nas nuvens e nas reflexões teológicas. Deus se deixa tocar e encontrar através do humano e do divino que está em nós. Tudo se passa dentro de nós. A busca da espiritualidade fora de nós é fuga da responsabilidade pessoal.
CULTIVAR UMA ESPIRITUALIDADE SADIA. Espiritualidade da alegria e do encontro, da esperança e do otimismo, da realização dos desejos e sonhos humanos, do amor-entrega ao Grande amor, da conquista da paz como resultado da harmonia global.

RESGATANDO A UTOPIA

No desamparo que grassa na humanidade atual faz-se urgente resgatar o sentido libertador da utopia. Na verdade, vivemos no olho de uma crise civilizacional de proporções planetárias. Toda crise oferece chances de transformação bem como riscos de fracasso. Na crise, medo e esperança se mesclam, especialmente agora que estamos já dentro do aquecimento global. Precisamos de esperança. Ela se expressa na linguagem das utopias. Estas, por sua natureza, nunca vão se realizar totalmente. Mas elas nos mantêm caminhando. Bem disse o irlandês Oscar Wilde: “Um mapa do mundo que não inclua a utopia não é digno de se espiar, pois ignora o único território em que a humanidade sempre atraca, partindo em seguida para uma terra ainda melhor”. Entre nós acertadamente observou o poeta Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis...ora!/Não é motivo para não querê-las/Que tristes os caminhos se não fora/ A mágica presença das estrelas”.
A utopia não se opõe à realidade, antes pertence a ela, porque esta não é feita apenas por aquilo que é dado, mas por aquilo que é potencial e que pode um dia se transformar em dado. A utopia nasce deste transfundo de virtualidades presentes na história e em cada pessoa. O filósofo Ernst Bloch cunhou a expressão princípio-esperança. Por princípio-esperança, que é mais que a virtude da esperança, ele entende o inesgotável potencial da existência humana e da história que permite dizer não a qualquer realidade concreta, às limitações espaço-temporais, aos modelos políticos e às barreiras que cerceiam o viver, o saber, o querer e o amar.
O ser humano diz não porque primeiro disse sim: sim à vida, ao sentido, aos sonhos e à plenitude ansiada. Embora realisticamente não entreveja a total plenitude no horizonte das concretizações históricas, nem por isso ele deixa de ansiar por ela com uma esperança jamais arrefecida. Jó, quase nas vascas da morte, podia gritar a Deus: “Mesmo que Tu me mates, ainda assim espero em Ti”. O paraíso terreal narrado no Gênesis 2-3 é um texto de esperança. Não se trata do relato de um passado perdido e do qual guardamos saudades, mas é antes uma promessa, uma esperança de futuro ao encontro do qual estamos caminhando. Como comentava Bloch: “O verdadeiro Gênese não está no começo mas no fim”. Só no termo do processo da evolução serão verdadeiras as palavras das Escrituras: “E Deus viu que tudo era bom”. Enquanto evoluímos nem tudo é bom, só perfectível.
O essencial do Cristianismo não reside em afirmar a encarnação de Deus. Mas é afirmar que a utopia (aquilo que não tem lugar) virou eutopia (um lugar bom). Em alguém, não apenas a morte foi vencida, o que seria ainda pouco, mas todas virtualidades escondidas no ser humano explodiram e implodiram. Jesus é o “Adão novíssimo” na expressão de São Paulo, o homem abscôndito agora revelado. Mas ele é apenas o primeiro dentre muitos irmãos e irmãs; nós seguiremos a ele, completa São Paulo.
Anunciar tal esperança no atual contexto sombrio do mundo não é irrelevante. Transforma a eventual tragédia da Terra e da Humanidade devido às ameaças sociais e ecológicas, numa crise purificadora. Vamos fazer uma travessia perigosa, mas a vida será garantida e o planeta ainda se regenerará.
Os grupos portadores de sentido, as religiões e as Igrejas cristãs devem proclamar de cima dos telhados semelhante esperança. A grama não cresceu sobre a sepultura de Jesus. Por isso a tragédia não pode ter a última palavra. Esta a tem a vida em seu esplendor solar.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ONDE DEVEMOS COMEÇAR?

O diretor de um jornal confiou ao seu melhor jornalista uma matéria sobre como consertar o mundo. Deu-lhe três dias de folga para refletir. Ao chegar em casa, o jornalista disse à esposa que ganhara três dias de folga e iriam passear. No final do terceiro dia, o jornalista foi para seu escritório, em sua casa, para redigir a matéria. Estendeu o mapa do mundo buscando inspiração. Nisto entrou na sala sua filhinha de cinco anos. Havia encontrado uma flor de diversas cores e queria saber a causa desta diversidade. Para livrar-se da menina, o pai pegou o mapa, rasgou-o em dezenas de pedaços e mandou que a filha montasse de novo o mapa, depois daria a explicação.
Passaram-se alguns minutos e, para espanto do pai, a filha voltou com o mapa completamente restaurado. Surpreso, quis saber como a filha havia conseguido, com tanta rapidez, reconstituir o mapa. É que atrás do mapa, explicou a filha, havia o desenho de um homem. Eu consertei o homem e acabei consertando o mundo.
Todos temos a preocupação de consertar o mundo. O problema é onde começar. Uma velha discussão apresenta duas alternativas. Para alguns, basta mudar o homem e as estruturas mudarão. Para outros, é preciso mudar as estruturas, assim o homem mudará. Ambas as teorias falham. Para mudar o mundo, devemos começar por nós mesmos. Sem esse ponto de partida, o mundo vai continuar como é. Pode até piorar.
Facilmente acusamos os outros pelos desacertos do mundo. Eles são os responsáveis. Mas quem são eles? E acabamos fazendo uma lista: os políticos, os comerciantes, os padres, os policiais, os omissos... Eles, sempre eles. E o mundo continua precisando mudar. E continua cheio de lamentações porque ele não muda... É que eles não ajudam.
A mudança é um processo. E a pessoa precisa acolher esse processo. A mudança tem um ponto de partida e um horizonte sem fim para chegar. Mas esta distância enorme tem sempre um ponto de partida. Aquele que começa periga acabar, lembra o povo. E o começo funciona melhor a partir de pequenas coisas. Um edifício é feito de tijolos, a praia é composta de milhões de partículas de areia e é com gotas que se forma o mar.
A experiência de cada dia nos diz que a vida corre sempre para frente, nunca volta atrás. Algumas coisas não se recuperam: a pedra depois de lançada, a palavra depois de proferida, a ocasião, depois de perdida, o tempo depois de passado. Tudo isso precisa ser contabilizado na soma da vida. A cada dia é possível recomeçar, mas recomeçamos a partir do dia anterior. A palavra, depois de proferida admite uma correção. Mas a pedra lançada, a ocasião perdida e o tempo passado não voltam atrás.
Diante desse panorama, é inteligente adotar algumas medidas. O mundo precisa ser reformado, mas a partir de nós mesmos. Mas a vida não volta atrás. O tempo é limitado e por isso não podemos perder qualquer ocasião. É com elas que se faz uma vida. É com ela que se pode perder o brilho de uma vida.

SOMOS PESSOAS QUE VAMOS NOS CONSTRUINDO.

Quem não gosta de um corpo bonito e saudável? Quem não gostaria de ter um corpo eternamente jovem: belo, ágil, atlético, saudável? Porém, a realidade social mostra que esse sonho se realiza em algumas pessoas mais privilegiadas, e assim mesmo é muito transitório. Estão ali, misturados na sociedade, corpos sadios e doentes, jovens e velhos, perfeitos e deficientes, gordos e magros, baixos e altos, pretos e brancos. Há descuidos de comportamento na hora da concepção de uma nova vida, que pode gerar corpos menos sadios e menos perfeitos. Sabe-se que a genética influencia na formação das gerações humanas, mas que, também, não é determinante. Há possibilidades de mudanças no corpo, na mente e nas emoções. Somos pessoas que vamos nos construindo e continuamente nos fazendo. A genética predispõe, mas nem sempre determina na totalidade.
SOMOS FRUTO DO QUE COMEMOS e como comemos. É sabido que um corpo saudável é resultado da alimentação abundante em sementes, frutas e legumes. É resultado da limitação dos enlatados, doces, salgados e gorduras. Cabe a cada pessoa fazer a escolha para o que vai comer.
SOMOS FRUTO DO QUE BEBEMOS e como bebemos. O estudo do corpo ensina que somos setenta por cento água. Não podemos deixar nosso corpo assinalar no vermelho da sede. Nem podemos encher o tanque com combustível deteriorado. É do conhecimento de todos que não se pode diariamente encher esse tanque com refrigerantes e álcool. Cada pessoa é livre em escolher e decidir.
SOMOS FRUTO DO QUE PENSAMOS e como pensamos. Se pensarmos negativa e derrotadamente, seremos pessoas frustradas e perdedoras. Pensamentos construtivos e projetos de vida sadios levam à vida sadia. Como se pensa se vive. Como se é no pensamento, assim será no corpo. O psicossomático é que comanda a vida.
SOMOS FRUTO DO QUE SENTIMOS e como sentimos. Somos nossas emoções. Nosso corpo reflete nossas emoções. Emoções sadias resultam em vida alegre e satisfeita, em vida de boas relações. Emoções doentias levam ao fracasso da vida e a um corpo doente.
SOMOS FRUTO DO QUANTO DORMIMOS e como dormimos. Como fica a vida das pessoas que trocam o dia pela noite? Qual o resultado de um corpo e de uma mente que contrariam as leis do universo e da natureza? A noite é para dormir e o dia para trabalhar. O corpo quer oito horas de sono e um sono no silêncio e no sossego. Essa é a melhor atitude ou será melhor incentivar a indústria dos psicotrópicos?
SOMOS FRUTO DO QUE FAZEMOS e como fazemos. A escolha da atividade certa é fonte de saúde. Envolver-se cem por cento no que se faz é viver sem conflitos e satisfeito. “Faça poucas coisas, mas faça-as bem” é a regra da sabedoria do trabalho. Cabe a cada um escolher e construir um corpo saudável, sentir-se de bem com a vida.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

TODA ARROGÂNCIA SERÁ CASTIGADA.

Nossa cultura ocidental se caracteriza por excessiva arrogância, exacerbada pela tecnociência com a qual domina o mundo. Em tudo mostra-se excessiva: na exploração ilimitada da natureza, na imposição de suas crenças políticas e religiosas e, quando acha oportuno, na guerra levada a todos os quadrantes. Esta cultura padece do “complexo-Deus” pois pretende tudo saber e tudo poder. Neste contexto, lembrei-me de uma fábula de Philipp Otto Runge, pintor alemão do século XIX, que li ainda como jovem.  Trata-se de um casal de pescadores. Vou recontá-la com pequenas adaptações.
Um certo casal vivia numa choupana miserável junto a um lago. Todo dia a mulher ia pescar para comer. Certa feita, puxou em seu anzol um peixe muito estranho que não soube identificar. O peixe foi logo dizendo: “Não me mate, pois não sou um peixe qualquer; sou um príncipe encantado, condenado a viver neste lago; deixa-me viver”. E ela deixou-o viver.
Ao chegar em casa, contou o fato ao marido. Este, muito esperto, logo lhe sugeriu: se ele for de fato um príncipe encantado, pode nos ajudar e muito. Corra para lá e tente pedir a ele que transforme nossa choupana num castelo. A mulher, relutando, foi. Com voz forte chamou o peixe. Este veio e lhe disse: “Que queres de mim”? Ela lhe respondeu: “Você deve ser poderoso, poderia transformar minha choupana num castelo”. “Pois será feito o teu desejo”, respondeu o peixe.
Ao chegar em casa, deparou com um imponente castelo, com torres e jardins e o marido vestido de príncipe. Passados poucos dias, disse o marido à mulher, apontando para os campos verdes e as montanhas. “Tudo isso pode ser nosso. Será o nosso reino; vá ao príncipe encantado e peça-lhe que nos dê um reino”. A mulher se aborreceu com o desejo exagerado do marido, mas acabou indo. Chamou o peixe encantado e este veio. “Que queres agora de mim”, perguntou ele. Ao que a pescadora respondeu: “Gostaria de ter um reino com todas as terras e montanhas a perder de vista”. “Pois seja feito o teu desejo” respondeu o peixe.
Ao regressar, encontrou um castelo ainda maior. E lá dentro seu marido vestido de rei com coroa na cabeça e cercado de príncipes e princesas. Ambos ficaram felizes por uns bons tempos. Então o marido sonhou mais alto e disse: “Você, minha mulher, poderia pedir ao príncipe encantado que me faça Papa com todo o seu esplendor”. A mulher ficou irritada. “Isso é absolutamente impossível. Papa existe somente um no mundo”. Mas ele fez tantas pressões que finalmente a mulher foi pedir ao príncipe: “Quero que faça meu marido Papa”. “Pois, seja feito o teu desejo”, respondeu ele. Ao regressar viu o marido vestido de Papa cercado de cardeais, bispos e multidões ajoelhadas diante dele. Ela ficou deslumbrada. Mas passados uns dias, ele disse: “Só me falta uma coisa e quero que o príncipe ma conceda, quero fazer nascer o sol e a lua, quero ser Deus”. “Isso o príncipe encantado, seguramente não poderá fazer”, disse a mulher pescadora. Mas sob altíssima pressão e aturdida foi ao lago. Chamou o peixe. E este lhe perguntou: “Que queres, por fim, mais de mim”? Ela falou: “Quero que meu marido vire Deus”. O peixe lhe disse: “Retorne e terás uma surpresa”. Ao regressar, encontrou seu marido sentado diante da choupana, pobre e todo desfigurado. Creio que ambos ainda estão lá até os dias de hoje.
Assim acontecerá, consoante as tragédias gregas, com aqueles que vivem de hybris, quer dizer, de excessiva pretensão. Eles serão inexoravelmente castigados. Não será esse talvez o destino de nossa civilização?

COMO DEVEMOS ESCOLHER A VIDA

A vida é um contraste. O coração humano grita por vida e, em muitos momentos, submete-se ao poder da morte. O desejo de vida se mistura com o desejo de autodestruição. São forças que se opõem e que, ao mesmo tempo, andam juntas. A sabedoria da Bíblia coloca diante de toda criatura humana a grande opção: “Diante de ti coloco a vida e a morte, cabe a você escolher... Coloco a bênção e a maldição, cabe a você escolher”. É muita responsabilidade! É estar diante de uma encruzilhada de vida e de morte. Por que Deus colocou suas criaturas nessa bifurcação salvadora ou condenatória? Por que misturar o desejo de vida eterna com o fatalismo de um suicídio? A pessoa é tão grande que conhecemos um mínimo do que ela é. É de se duvidar que consigamos desvendar os cinco por cento do que ela é e pode ser!
ESCOLHER VIDA É CRIAR UM JARDIM. Jardim e vida combinam. Verde. Cores. Sementes. Ambiente de festa. A Bíblia fala do jardim do paraíso. Ali é a casa da beleza e da leveza. É ali que os insetos se alimentam e passeiam. É ali que a manhã se torna um bom dia e a tarde uma boa noite. Viver é cultivar um jardim. Nem sempre de flores e vegetais. Há o jardim da paz e da alegria, da música e da beleza, do encanto e do encantamento.
ESCOLHER VIDA É CRIAR UM POMAR. Escolher frutas é escolher vida. Vida de todos os sabores e de todas as cores. É possível viver somente se alimentando de frutas. É o alimento dos pássaros e de quase todos os animais. Passear no pomar é fazer o caminho de Deus, pois no paraíso Adão e Eva escutavam os passos de Deus. Passear no pomar e no jardim é andar na companhia de Deus. Deus se fez flor e se fez fruto. Se fez gosto e beleza. É a doçura e a beleza de Deus que podemos saborear e tocar.
ESCOLHER VIDA É PASSEAR ENTRE FONTES. Retornemos ao paraíso. A Bíblia fala de quatro grandes rios que atravessavam o pomar e o jardim. Água, sinal de vida. Fontes, rios, mares, chuvas, garoas. Terra sem fontes não tem valor. A fonte faz a festa dos insetos e dos animais, dos pássaros e dos seres humanos. Fonte é lugar de encontro. Escolher, cuidar e proteger fontes é estar viajando no rio da vida, que conduz para uma fonte.
ESCOLHER VIDA É RESPIRAR AR. Somos o sopro de Deus. A brisa de Deus. Desde o dia em que Deus soprou num pedaço de barro a vida recebeu um nome: Adão. Cada criatura é um sopro do amor e do carinho de Deus. O ar se espalhou por toda a terra. A terra deserta se tornou campo e floresta. Estar do lado da vida é fazer reverdecer desertos. É habitar cada palmo de terra com o sopro de Deus.
ESCOLHER VIDA É CRIAR LUZ. Deus fez a luz. Num toque de mágica e de amor, acendeu o sol e a lua, acendeu estrelas e o universo ficou enfeitado de bilhões de pontos dourados. Ao sol deu o poder de acender todas as fogueiras da terra, todas as velas da fé. O poder do sol, que ilumina a terra e aquece os ambientes, se tornou um rosto visível do poder da luz que vem do céu. E Deus se fez luz. Se fez vida. Escolher vida é escolher Deus.

HABITANTES DO NOSSO ORGANISMO

Os microorganismos dominam o homem. Alguns atacam, outros defendem o corpo

Os microorganismos dominam o planeta e até o homem. Essas criaturas microscópicas colonizam o corpo humano, por dentro e por fora, da cabeça aos pés. Aliás, há mais micróbios do que células no organismo. Só no aparelho digestivo, sobrevivem mais de 400 tipos de bactérias. Alguns desses bichinhos deixam o sistema de defesa do corpo em permanente estado de alerta; outros, ao contrário, são até benéficos.

Amigas - entre as bactérias que ajudam o organismo, os lactobacilos são as mais populares. Elas habitam naturalmente a boca, o estômago e o intestino. Fazem bem porque produzem ácido lático, deixando o ambiente tão ácido que impedem o ataque de outras bactérias nocivas.

Traiçoeiros - Há microorganismos que são verdadeiros mestres do disfarce. À primeira vista, parecem bonzinhos, mas basta um pequeno desequilíbrio em sua rotina diária para que se transformem em inimigos.
O Staphylococcus aureus é um integrante dessa turma. Parece boa gente. Habita cada canto do nosso corpo e passa os dias limpando a parede externa, a pele. Porém, se a resistência do organismo estiver em baixa e ocorrer uma rachadura na estrutura, como um ferimento, ele invade a área interna e, na corrente sangüínea, multiplica-se rapidamente, causando danos. Pode até matar, no caso de desencadear uma infecção generalizada (septicemia).

Inimigos - Com alguns bichinhos não há acordo de paz, em hipótese alguma. Eles estragam todo o ambiente em que vivem. Quando se trata de vermes, pior, já que podem se alimentar das próprias paredes que os abrigam.
A Escherichia coli, como todos os vermes, não gosta muito de limpeza. É encontrada em qualquer parte do sistema digestivo, mas é mais comum no intestino. Nos adultos não chega a fazer muito mal, mas já incomoda. Em crianças, porém, é uma das principais responsáveis por diarréias graves.
A Streptococcus pneumoniae é outra bactéria do mal, bastante comum. Instala-se no ambiente mais ventilado do corpo, o pulmão. Depois que se multiplica, estraga todo o sistema com uma doença bem conhecida, a pneumonia.

Da cabeça aos pés
Muito privilegiado, o Pediculus humanus capitis, o piolho, habita a cobertura, isto é, a cabeça. Uma mãe piolha põe até dez ovos (lêndeas) por dia. Em nove dias, os filhotes já ficam adultos. Uma boa faxina, com o produto de limpeza específico, é suficiente para espantá-los.
Apesar de ser a menor espécie de pulga conhecida, com um milímetro de comprimento, a Tunga penetrans causa estragos nos alicerces do edifício: os pés. Responsável pelo bicho-de-pé, a criaturinha se alimenta de sangue, mas não permanece no local por muito tempo: a fêmea morre 15 dias depois de botar cerca de 100 ovos. Precisa ser removida.

Irritantes, mas não perigosos

Apesar do nome, a Candida albicans não tem nada de cândida, ou seja, de boazinha. É um dos fungos que mais freqüentemente infectam os seres humanos. A Candida gosta de morar principalmente na boca e na pele. Não causa doenças graves, mas incomoda. Ela é a culpada pelo sapinho e pelas assaduras, que afligem os bebês, e também pela frieira, entre outros diversos inconvenientes que provoca.
Pelo sobrenome, ela é facilmente identificada: Propionibacterium acne. Inquilina muito exibida, ela gosta de aparecer, principalmente quando a casa é nova. Mas os mais velhos também não estão totalmente livres do incômodo. Não causa dor, mas costuma trazer bastante constrangimento ao portador.
O Herpes simplex é um vírus irritante. Gosta de invadir a boca, provocando dolorosas feridas. Apesar de simples, é altamente contagioso. Pode viver 48 horas em uma escova de dentes seca e até uma semana se ela estiver úmida.

ANSIEDADE EM EXCESSO FAZ MAL AO CORAÇÃO.

O risco de infarto pode aumentar em até 43%

Ansiedade mata! O ditado popular acaba de ganhar aval científico. Estudo da Universidade do Sul da Califórnia mostra que, em altas doses e de maneira crônica, a ansiedade provoca infartos até mesmo em pessoas que não apresentam outro fator de risco para doenças cardíacas.

Os pesquisadores acompanharam 735 homens saudáveis, com idade média de 60 anos. Durante 12 anos, eles tiveram seus hábitos monitorados e foram submetidos a exames. Os cientistas avaliaram o efeito da ansiedade sobre o coração isoladamente e em conjunto com outras variáveis, como hábitos de comportamento.
Os excessivamente ansiosos apresentaram de 31% a 43% mais probabilidade de sofrer um infarto do que pessoas com um grau de aflição normal, independente de ter ou não outras características que predispõem a doenças cardíacas.

FELIZES OS CASAIS QUE, NA DOR, PENSAM NO OUTRO.

“Tive muito medo, mas o que me deu forças foi eu pensar o tempo todo na minha mulher”.
Casar deve ser isso.  Amor, quando é amor, raciocina desse jeito. Quando o casal é um para o outro, na dor dele ele pensa na dor dela. E é nesse amor que ele sente forças para esperar.
Para chegar aos 82 anos com esses sentimentos, deve ter havido muitos dias de ternura. Olho para os casais  e louvo a Deus também por eles. Este amor deve ter sido alicerçado na fé. Felizes os casais que, na dor, pensam mais no outro do que em si mesmos.
Quando o amor é verdadeiro, é exatamente isto que acontece. Ele pensa: “Se alguém tem que sofrer, sofra eu, ela nunca!”. Ela pensa o mesmo: “Prefiro que seja eu do que ele”. E os filhos dizem: “Deus, poupe meus pais!”. E eles: “Senhor, poupe nossos filhos!”. Não há nada mais bonito do que uma família que ama a esse ponto. Não diga que elas não existem. Padres, pastores e médicos sabem que existem!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

PELO MENOS O MÍNIMO NECESSÁRIO.

Um homem foi chamado para pintar um barco. Trouxe tinta e pincéis e começou a pintá-lo de um vermelho brilhante, como fora combinado. Durante o trabalho percebeu que havia um pequeno, mas perigoso, vazamento no barco. E decidiu consertá-lo. Quando terminou a pintura recebeu o dinheiro ajustado e partiu para outra tarefa. Alguns dias depois o dono do barco procurou o pintor e presenteou-o com um significativo cheque, o dobro do preço gasto na pintura.
O pintor não quis receber, explicando que já fora pago pelo trabalho. Mas havia um furo no barco que você consertou, insistiu o doador. Mas foi uma tarefa tão pequena que eu não quis cobrar, explicou o pintor. E o dono do barco situou a questão: quando pedi que você pintasse o barco, esqueci de mencionar o vazamento.
Quando o barco secou, os dois filhos saíram com ele para uma pescaria. O pai não estava no momento. Ao regressar lembrou o furo que poderia levar o barco ao naufrágio e à morte dos filhos. Felizmente eles regressaram sãos e salvos. E o dono do barco deu-se conta da responsabilidade do pintor, fazendo um pequeno conserto que não estava no contrato.
Na vida há partidários do mínimo necessário e do máximo possível. Em se tratando de bens materiais, estão certos os que optam pelo mínimo necessário. Em relação ao dever, vale o contrário, o máximo possível. Há pessoas que gostariam sempre de obter o máximo possível, mas contribuem com o mínimo necessário. Já se disse de alguém que ele era mais ou menos honesto. Isso não existe. A pessoa pode ser mais ou menos desonesta. Significa que ela é - sem sombras de dúvida - desonesta.
Existem os partidários do quase. Quase responsáveis, quase trabalhadores, quase religiosos, quase amigos, quase virtuosos... Napoleão Bonaparte falava das meias-medidas, que nunca vencem uma guerra. Uma coisa pela metade nunca chegará a ser uma coisa. É apenas meia. E nessa situação, inútil. Numa oportunidade, Ghandi perdeu uma sandália, que caiu da carruagem em velocidade. Imediatamente pegou a outra sandália e jogou-a na direção da primeira. Ninguém quer apenas uma sandália, mas o par. Nem ele queria apenas uma sandália.
Ninguém quer apenas meio automóvel e meio avião nunca voará. Assim é a vida. Há pessoas que jamais se comprometem por inteiro, apenas pela metade. Fazem o mínimo necessário para não perder o emprego, o mínimo necessário para não perder a esposa ou o marido, o mínimo necessário para não perder o ano na faculdade, o mínimo necessário para estar de bem com o Pai do céu. Isso acaba criando vida medíocre, sem vibração e sem sabor. Meia vida. Meias-medidas perdem todas as batalhas, o “quase” nunca conseguiu a vitória final e ninguém faz nada com uma só sandália.
A Palavra de Deus fulmina a mediocridade: “Conheço tuas obras. Não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Porque és morno, estou para vomitar-te de minha boca” (Apocalipse).

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

TRANSITO SEGURO

Mesmo quem ainda não dirige, faz parte do trânsito. Não são apenas os veículos que formam o trânsito, mas também os pedestres. Então, quem está na carona de um carro, andando de bicicleta ou se deslocando a pé, também precisa respeitar algumas regras. Motoristas e pedestres desatentos e apressados causam acidentes e colocam em risco suas vidas e a de outras pessoas.
Você também pode ajudar a tornar o trânsito mais seguro. Como? Sendo um bom pedestre e fiscalizando o comportamento dos motoristas. É bom lembrar que a pessoa que está ao volante precisa respeitar a sinalização, usar cinto de segurança, não falar ao telefone etc.
Porém, é necessário ser um bom exemplo. Afinal, quem vai dar atenção aos seus alertas se você mesmo não respeitá-los?

CRIAR E DESTRUIR

A hipocrisia e a falsidade da sociedade e da política, dos meios de comunicação e da educação, das igrejas e organizações beneficentes, causam um mal-estar, provocam críticas e levam muita gente à descrença geral.
CRIAM-SE E FACILITAM-SE OS RELACIONAMENTOS SEXUAIS em novelas e filmes para depois semear a inutilidade de relacionamentos sadios, com ideologias de facilidade de vida e de liberdade no amor. Cria-se facilidade de relacionamentos entre adolescentes, para depois apedrejar as mesmas adolescentes grávidas.
CRIAM-SE COMERCIAIS ATRAENTES DE CERVEJA e depois os mesmos adultos que criaram os comerciais fazem campanhas contra o alcoolismo. Um “pagodinho,” que faz a apologia da cerveja, tem a sem-vergonhice de aconselhar: “beba com moderação”.
CRIA-SE A INDÚSTRIA DOS HOMOSSEXUAIS - e os meios de comunicação são especialistas nisso -, para depois criticá-los e marginalizá-los como uns “depravadores da raça humana”. 
CRIAM-SE IGREJAS DE TODOS OS TIPOS em nome da liberdade religiosa e da liberdade de culto para, depois, nessas mesmas igrejas, as pessoas se tornarem vítimas de lavagem cerebral e se tornarem exércitos de fanáticos e exploradores da miséria e da angústia humanas. “Em nome de Jesus” se formam grupos econômicos, com o direito total sobre a Palavra de Deus e a consciência alheia, iludindo a todos com a garantia da prosperidade econômica, prometendo um paraíso aqui e agora.
CRIAM-SE DESEJOS DE POSSUIR MAIS E MAIS e depois se combate o consumismo exagerado e o desperdício de alimentos, roupas e eletrodomésticos, sabendo-se que grande parte da humanidade está carente de tudo isso. Está simplesmente desejando viver das sobras dos outros.
CRIA-SE A CULPABILIDADE EM ADOLESCENTES E CRIANÇAS como se fossem os responsáveis pela derrocada da sociedade e dos costumes sadios e tradicionais, quando na verdade são os adultos os criadores dos comportamentos no comer e no beber, na facilidade de relacionamentos prematuros e numa mentalidade de vida sem sacrifícios e sem trabalho.
HÁ VENTOS RELIGIOSOS super poluídos que devem ser trocados por ares novos, vindos de fontes de vida e de justiça, ares nascidos no coração de Deus, que é vida e amor.
HÁ VENTOS POLÍTICOS INSUPORTÁVEIS que fazem desacreditar na possibilidade de uma democracia autêntica e de pessoas interessadas pelo bem comum e bem-estar social.
HÁ VENTOS EDUCACIONAIS inúteis, impostos às mentes humanas, conteúdos que dizem pouco aos educandos da sociedade atual. Novos ares, envolvidos de sabedoria e de sentido para a vida, são a possibilidade da criação de um novo tipo de pessoa humana.

ESCOLHER A VIDA

Talvez uma das coisas que mais se prestam a enganos e equivocadas interpretações hoje em dia é o entendimento da liberdade. Todo o processo da modernidade, com o crescimento da autonomia do sujeito e o império da razão, parece haver colaborado neste sentido. Assim é que se entende liberdade como fazer o que se tem vontade, o que dá na telha, o que se está a fim de fazer, o que me deixa bem, o que me faz “feliz”.
O resto, os outros, importam pouco. O importante é que eu possa consumir aquilo que tenho vontade, namorar quem e quantos tenho vontade a todo minuto que tenho vontade, fazer e desfazer relações, compromissos e pactos de acordo e ao ritmo do meu direto interesse neles. A sociedade de consumo, a ideologia neoliberal, a cultura de sensações seduzidas onde nos encontramos incita a isso.
O saldo extraído dessa atitude e deste tipo de comportamento é, inegavelmente, negativo. Na verdade, pretendendo ser livres, estamos cada vez mais escravizados: a nossas paixões, nossos desejos e gostos imediatos, a nossas compulsões várias, sexuais, consumistas. E vamos gerando para nós mesmos uma sucessão de múltiplas e sufocantes frustrações que nos atam e agrilhoam e nos levam longe, muito longe, no extremo oposto de onde está a tão decantada liberdade, que tanto nos vangloriamos possuir. Alertamos para esse risco que a humanidade hoje corre, lembrando que a vida é um dom, sim, mas é também uma escolha. E o único caminho que pode nos levar à liberdade pela qual tanto suspiramos e à qual tanto aspiramos é escolher, a cada momento e em cada situação, aquilo que leva à vida.
Para a Revelação judaico-cristã, a vida é o outro nome de Deus. Criador de tudo que existe, fonte inesgotável de toda vida que existe, a natural, a humana, Deus é igualmente Senhor da história onde essa vida é chamada a desenvolver-se e chegar à sua plenitude. É seu hálito soprado nas narinas de Adão, feito do barro, que transformará esse que é semelhante aos outros seres vivos pela mortalidade em alguém capaz de auto transcender-se e fazer escolhas que o aproximam do Criador, sem deixar de ser criatura.
Assim é que a escolha mortal do homem e da mulher pela soberba e pela negação de seu estatuto de criatura vai levá-los para longe do paraíso. Assim é que as escolhas que o povo de Israel vai fazendo ao longo de seu caminho ora o aproximam da vida e da liberdade, pela prática da justiça e o culto ao único e verdadeiro Deus que lhe propõe uma aliança; ora o afastam da vida, pela injustiça praticada contra o pobre, pela idolatria que os faz dobrar os joelhos diante dos ídolos vazios e mortos que só podem levá-los à frustração e à morte.
Oferecida como dom, a vida deve ao mesmo tempo ser escolhida, a cada momento e em todo tempo e lugar. Escolhida na contramão da morte, que a cada dia decide pela falta de futuro de milhões de seres humanos condenados à morte prematura e a uma existência sem horizontes. Escolhida a contracorrente de uma sociedade que só valoriza o dinheiro e o sucesso, e marginaliza como perdedores todos aqueles e aquelas que não conseguem entrar em sua avassaladora avalanche. Escolhida na resistência firme e serena ao poder, ao prazer e ao ter que se apresentam como únicos ideais que podem trazer a felicidade e a realização.
Escolher a vida é lutar para que outro tenha vida. Para que a natureza não seja destruída e o mundo continue sendo habitável para essa geração e a futura. Para que a violência e as drogas não dizimem a juventude em louca corrida em direção a viagens passageiras. Para que a vida não seja interrompida antes sequer de começar, pela prática do aborto, nem interrompida antes de terminar, pela eutanásia irresponsável. Escolher a vida. Eis o segredo da liberdade. Eis o único caminho para que a existência humana seja digna deste nome.