segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A DIVINA CRIANÇA.

No subsolo do Museu Nacional de Munique, na Alemanha, há uma das maiores e mais belas coleções de presépios do mundo. quando la estive visitei  esses presépios, para realimentar meus anjos interiores. Ao sair, tinha a impressão de ter passado por um pedaço do paraíso preservado tal era a harmonia e a integração que se irradiava daqueles presépios.
Os mais impressionantes eram os grandes presépios de Nápoles. Neles se representava toda a realidade assim como é: agricultores cegando trigo, açougueiros cortando carnes, bancas de venda, crianças lançando pipas, comadres brigando, soldados limpando armas, um religioso abençoando, palhaços fazendo suas artes e de baixo da ponte um enforcado.
No centro desse mundo contraditório jazia entre palhas a divina Criança. Jesus, José, Maria, a estrela no céu, os anjos, os pastores, os reis magos, o sanguinário rei Herodes, os escribas maliciosos são mais que figuras concretas. São símbolos e energias que vivem e agitam nosso mundo interior. Revelam dimensões de nossa psiqué, marcada por buscas, por contradições e por um imenso desejo de integração.
É partindo desta visão mais ampla que se revela a importância da divina Criança. Ao redor dela se cria uma ordem mágica, um centro luminoso que irradia sobre todas as coisas constituindo um todo coerente e significativo. A vida com suas contradições incluindo as crianças assassinadas por Herodes bem como o enforcado do presépio de Nápoles, não escapam da luz que se irradia do Presépio. A partir da presença da divina Criança surge a esperança de que tudo pode ser modificado, de que o Novo pode irromper. Eis o significado maior da Natal que não pode ser perdido pelas visões convencionais e por sua utilização cultural e comercial.
Que significa, numa experiência interior, a divina Criança? Ela representa a vida nova que quer nascer em nós. Mais concretamente ela simboliza a vida que pode sempre recomeçar desde o seu início. É possível nascer de novo.
No dia de Natal, por causa da divina Criança, nos é permitido esquecer as amarras e os erros cometidos para sentirmo-nos livres para começar de novo. Os desejos escondidos e nunca realizados podem vir à tona e serem de novo alimentados. Podemos hoje olvidar um pouco o peso do próprio passado e formular um bom propósito.
Não dizemos tantas vezes: ah se pudesse começar tudo de novo? No dia de Natal, inspirados pela divina Criança que está dentro de nós, podemos arriscar o primeiro passo de um novo caminho ou inaugurar um outro olhar sobre o caminho já andado para descobrir nele novas significações existenciais.
A festa do Natal, tão íntima e familiar, nos convida a superar, ao menos nesta noite mágica, o uso da razão calculatória, sempre a serviço dos interesses. Natal é dia de esquecer os interesses, de dar lugar à razão emocional que não quer comprar nem vender nada, apenas sentir o outro e conviver com ele na alegria de estarmos juntos, em família, trocando presentes e amabilidades. Então emergem valores que sempre estamos buscando, sonhos de vida transparente, simples e livre, sonhos que tanto agitam nosso imaginário.
Se pudermos despertar a divina Criança em nós teremos descoberto o espírito do Natal e o alegre advento de Deus.

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