quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O PT É IMORTAL

Não há dia em que a morte "iminente" do PT não seja anunciada. Defecções que o partido vem sofrendo são apresentadas como "provas" do fim da agremiação, ameaçada até de ser posta na ilegalidade – o que, em um país com a história que tem o Brasil, não seria surpresa.

Na semana que finda, oficializou-se a saída a saída do PT do deputado fluminense Alessandro Molon. No mesmo dia, especulou-se sobre a saída dos senadores petistas Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA). Nos Estados e municípios, sabe-se que as defecções vêm ocorrendo.

Não sei se as notícias da morte do PT não estão sendo precipitadas, como só acontecer com as mortes anunciadas, mas, por certo, fica difícil não especular sobre a possibilidade ante a guerra de aniquilação de que o partido é alvo.

Coloquei-me, então, a pensar na possibilidade de o PT deixar de existir. Suponhamos que todos saíssem do partido. Que não sobrasse mais ninguém. A culpa seria jogada na sigla e os que fizeram parte dela, agora reabilitados, alçariam novos voos.

O que colocaríamos no lugar do PT? Sim, porque não existe nenhuma corrente política com ideias semelhantes.

Quais são as ideias do PT? Acima de tudo, o PT não tem ideias; o PT É uma ideia.

Talvez, até, um estado de espírito ou uma forma de ver o mundo. E essa forma de ver o mundo se traduz nas políticas públicas adotadas pelos governos do partido que, a meu juízo, acima de tudo estão na base da ojeriza que as classes médias desenvolveram por ele.

As cotas "raciais", por exemplo. Eis um exemplo de política pública exclusivamente petista e que enfurece até setores da esquerda. Todavia, poucas vezes o Brasil teve uma política pública mais de esquerda e que promovesse tanta justiça social em um setor tão vital quanto o ensino superior.

Sempre digo que uma das políticas do PT que mais o indispuseram com a elite foi fazer justiça no acesso ao ensino superior. Ao tirar vagas da elite e dá-las àqueles que com os filhos dela competiram em condições injustas, o PT conseguiu inimizades mortais.

Outra ideia legitimamente petista é o programa Mais Médicos. Assim como as cotas, é uma política legitimamente popular, progressista e vital cujos resultados têm se mostrado incontestavelmente benignos.

Não há um só relato sério de mau atendimento pelo Mais Médicos. A abrangência do programa é amplamente reconhecida. Dezenas de milhões de brasileiros que não dispunham de acesso à medicina, hoje estão sendo atendidos.

Os recursos alocados no Bolsa Família são outro fator que torna o PT indigesto ao impensável para setores da sociedade que nunca haviam visto tantos bilhões serem entregues aos pobres e miseráveis sem que eles nada tivessem que dar em troca. Nem mesmo votos!

Ainda assim, há defecções no PT. Marta Suplicy, por exemplo, saiu do PT acusando-o de problemas éticos e foi parar aonde? Justamente na maior reserva moral do país [modo ironia ligado], o PMDB.

Um deputado petista e um senador do PSOL caíram nos braços de Marina Silva. O partido dela, a Rede, é o mesmo que, encrustado no PSB, ano passado, colocou independência do Banco Central no programa da então candidata a presidente.

Ninguém ousará atribuir qualquer risco de "esquerdismo" ao partido de Marina, recém abençoado pela Justiça Eleitoral.

O PSB, aliado ao PSDB de São Paulo e que abrigou o projeto de Marina, ano passado, tampouco oferece à elite o risco de manter cotas, Mais Médicos ou de continuar fazendo o Bolsa Família crescer.

Quanto ao PDT, nem vale a pena comentar.

Restaria o PSOL, mas, além de esse partido fazer pouco das políticas públicas acima elencadas, não tem chance alguma de chegar ao poder porque nem a maioria esmagadora da esquerda dá muita bola a propostas suas como, por exemplo, a de estatizar o sistema financeiro...

Enquanto isso, o PSOL diz que as políticas redistributivas que fizeram a desigualdade cair tanto seriam "migalhas".

No futuro, quando a análise fria da história abordar o período Lula e Dilma, a forte distribuição de renda que marcou esse período será eloquente sobre as razões que levaram o PT a ser massacrado por aqueles que perderam um pouco para os mais pobres ganharem.

A ideia que o PT representa é distribuição de renda e de oportunidades em um país marcado pela desigualdade. Nunca um partido fez tanto para tornar o país mais justo e, com PT ou sem PT, esse mérito ninguém jamais irá tirar da agremiação que fez do Brasil um país mais justo.

Um eventual e absolutamente hipotético fim do PT não exterminaria uma corrente de pensamento que entende que a única saída deste país é distribuir renda, pois, do contrário, verá ocorrer uma convulsão social de proporções épicas.

Essas pessoas, essa ideia que o PT simboliza, jamais será extinta. Poderá se refundar sob qualquer sigla, mas continuará existindo.

Seus adeptos continuarão acreditando que é possível conjugar o inevitável capitalismo vigente com um processo de distribuição de renda que o partido aplicou e que produziu resultados incontestáveis, queiram a oposição de direita e de esquerda ou não.

O que atrapalhou o PT foi a necessidade de governar em um sistema político em que um presidente não governa sem apoio do Congresso, o que obrigou os governos do partido a apelarem ao que havia de disponível para garantir governabilidade.

A ideia que o PT representa, a visão de mundo e de rumo para o país que o partido simboliza, portanto, é imortal. Destruir o nome sob o qual essa ideia se aglutina não a eliminaria, apenas obrigaria seus adeptos a mudarem de nome.

Dezenas de milhões de brasileiros entendem que a distribuição de renda e de oportunidades é o único caminho para este país avançar. Com ou sem PT, essa corrente de pensamento continuará pensando a mesma coisa.

Ainda se matassem todos os que comungam com a ideia que o PT representa, essa ideia permaneceria escrita em algum lugar. E contaminaria outros idealistas, que se tornariam os novos "petistas", fosse qual fosse o nome que dessem a si mesmos.

Ao fim, quero repetir no Blog o que postei nas redes sociais. Se o PT tiver sorte, será abandonado por todos os oportunistas caras-de-pau que permaneceram gostosamente na sigla enquanto era confortável.
Publicado anteriormente no Blog Cidadania.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

QUAL A RAZÃO PARA SER CONTRA A CPMF?


Os números da CPMF por faixa salarial e familiar provam que há uso político no veto

Divulgação: reais

De repente, sempre movido por influência de manipulação de dados, muita gente tem se posicionado contra a possibilidade real de se ter a CMPF por algum tempo visando superar a crise econômico – financeira, embora seja fácil de atestar que mais de 66% da população brasileira contribuirá no máximo com R$ 0,96 centavos/mês, portanto, menos do que R$ 1 Real.

Para quem ganha, por exemplo, 1 Salário Mínimo na ordem de R$ 800,00 a contribuição mensal será de apenas R$ 0.16, da mesma que, na sequência, R$ 0,32 para 2 Salário Mínimos e por aí vai.

Conforme levantamento enviado à Coluna por um Expert em Finanças e ex-diretor de Bancos nacionais, mais de 66% da população brasileira contribuirá com menos de R$ 1 real por mês, portanto, não faz o menor sentido a gritaria tomada de pânico de muitos que trabalham dessa forma para manter o “quanto pior, melhor”.

Aliás, é preciso levar em conta ainda dados do Ministro Nelson Barbosa mostrando o percentual da renda monetária das famílias no País, por faixa de renda em múltiplos do salário mínino,que é o seguinte:

- 20,1% renda familiar até 2 salários mínimos

- 16,15% renda familiar de 2 a 3 salários mínimos

- 30,1% renda familiar entre 3 e 6 salários mínimos

- 15,9% renda familiar entre 6 e 10 salários mínimos

- 7,6% renda familiar entre 10 e 15 salários mínimos

- 5,4% renda familiar entre 15 e 25 salários mínimos

- 3,8% renda familiar de mais de 25 salários mínimos

Com base nesse levantamento, se levarmos em conta 81,9% da renda familiar brasileira, os números de participação serão os seguintes:

Salários Ganhos CPMF 0,2%

7                                 1,12

8                                 1,28

9                                  1,44

10                                 1,60



Trocando em miúdos, usar a grande maioria dos brasileiros considerados de classe social menos abastada, os pobres em si, para justificar o veto à CPMF é contrariar a matemática com uso político apenas.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

E ELA VIVIA ME AGRADECENDO POR TÊ-LA ENSINADO A GOZAR COM PENETRAÇÃO.

Meu tio Fábio, um homem sábio do interior, um dia me entregou um livro do Plutarco. Confesso que tremi diante da idéia de enfrentar, na inexpugnável solidão da leitura, as páginas com certeza brilhantes mas inevitavelmente árduas do grego. Mas, prático que é, e conhecedor das limitações de seu sobrinho como leitor, tio Fábio me avisou que desejava que eu lesse somente um trecho marcado numa determinada página.

Ali se contava a história de um soldado que salvara a vida de um rei numa batalha. Um sábio imediatamente aconselhou o soldado a fugir. O soldado preferiu ficar, na esperança de ser recompensado pelo rei que salvara. Acabou morto. E logo. Quando terminei de ler essa história, imediatamente me lembrei de outro trecho de livro que tio Fábio me passara. Platão – tio Fábio sempre bebeu na sabedoria grega – contava que Sócrates disse mais ou menos o seguinte aos homens que o condenaram a tomar cicuta: que bem fiz eu a vocês para que me tratem assim?

As duas história tratam do mesmo tema: a ingratidão. E francamente: não sei por que iniciei minha coluna com a dupla história grega de ingratidão humana. Ou melhor. Sei sim. É que eu queria fazer uma conexão entre aqueles episódios e a vida amorosa. O fato cruel e inescapável é o seguinte: o amor é ingrato. O amor tem uma série de virtude: ele ilumina, ele embeleza a vida, ele torna divertido um congestionamento. Mas ele é ingrato como o rei que matou o soldado que o salvara e os atenienses que fizeram Sócrates beber cicuta.

Um amigo meu, Roni Maldonado, outro dia veio desabafar comigo. Ele acabara de romper com a namorada, uma loira de fazer cego olhar para trás, e ela além de gritar-lhe insultos arrebentou a pontapés a porta de seu carro. Roni é essencialmente um ingênuo do amor, um otimista das relações sentimentais. Ele sinceramente achava que, por fatos como ter arrumado um bom emprego para a namorada e num período de depressão ter-lhe até financiado um terapeuta de 400 reais a hora, receberia de volta alguma gratidão, e não uma porta de carro arrebentada a golpes de salto alto.

Tive vontade de apresentar Roni a tio Fábio e pedir a ele (meu tio) que falasse um pouco a meu amigo sobre a gratidão humana. Tive vontade de falar um pouco do soldado e de Sócrates, do rei assassino e da cicuta. Mas apenas balancei a cabeça numa muda expressão de solidariedade a meu amigo ferido na alma. Roni, refleti, passará a vida inteira atrás de uma ilusão, de uma fantasia tão irreal quanto a espada de Artur: a gratidão amorosa. O que você possa ter feito de bom a alguém numa relação amorosa não conta no final. O que vale são apenas os crimes, geralmente imaginários, que você cometeu. Não conheço caso de amor que termine com uma declaração sincera de agradecimento pelos serviços prestados.

Roni me contou, em sua estupefação tola, que até em relação ao sexo ouviu palavras que quase o reduzem a um eunuco da corte de Ramsés. “E ela vivia me agradecendo por tê-la ensinado a gozar com penetração”, me repetia ele. “No final me disse que eu não tinha nenhuma imaginação quanto a sexo. Que eu era um idiota sexual.”

O meu ponto é o seguinte: faça sempre tudo que puder por sua namorada, mulher, amante. Tudo. Agrade-a de todas as maneiras possíveis. Flores, beijos, bom sexo, atenção. Dê tudo. Mas jamais cometa o erro fatal do soldado. Não faça nada esperando gratidão. O amor é ingrato como o rei que matou o homem que o salvara da morte.




por Fábio Hernandez.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

COMEÇA ISOLAMENTO DE CUNHA NO PMDB


A aproximação do PMDB com o governo evidenciou o isolamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no partido.

Nas últimas 72 horas, Cunha foi atropelado pela bancada de deputados federais nas negociações com a presidente Dilma Rousseff sobre a participação do PMDB na reforma ministerial. O responsável pela articulação foi Leonardo Picciani, atendendo a pedidos do governador do Rio de Janeiro, Luiz Pezão.

Após a negativa de Cunha de negociar com o Planalto e de indicar nomes para a reforma administrativa, Dilma tratou do assunto diretamente com o líder do PMDB na Câmara.

Cunha tentou barrar as tratativas. O líder da bancada refutou: “Você é oposição; eu, não. Você quer o impeachment; eu, não”. O placar de 42 a favor e nove contra a oferta presidencial expôs a dimensão do isolamento de Cunha. Ele perdeu a liderança da maioria (62%) da bancada.

No dia seguinte, Picciani encaminhou os nomes sugeridos pelos deputados.

O atrito entre Cunha e a cúpula do PMDB do Rio ficou ainda mais evidente. Ontem, o PMDB fluminense anunciou 71 candidatos a prefeito para a eleição de 2016, com 12 alianças, sem consultar Cunha.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

AÉCIO DEVOLVE A GRANA E PEDE DESCULPAS.

A revelação de que o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves fez 124 viagens em avião oficial ao Rio de Janeiro em fins-de-semana, sem agenda de trabalho e o seu comentário de que não fez nada de errado não chega a ser um escândalo bombástico, mas dá motivo para ninguém se arrepender por não ter votado nele nas últimas eleições.

Eleito fosse, seria um forte candidato a tirar de outro mineiro, Juscelino Kubitchek o título de “presidente voador”, com a diferença de que seu conterrâneo, ao que consta, não viajava para surfar no Leblon ou visitar a namorada e sim para construir Brasília, que mandou fazer ou foi feita para homenageá-lo em forma de avião.

A revelação das viagens que fez gastando dinheiro dos mineiros, e não o seu, apesar de pertencer a uma família de vastos recursos financeiros mostra que, na prática, comete os mesmos pecados que atribui aos que critica, e que o país agiu bem ao derrotá-lo e assim contribuir para confirmar o karma da família Neves: o de “quase” chegar à presidência da República.

Quando seu avô Tancredo Neves, eleito no Colégio Eleitoral para ser o primeiro presidente civil depois de 20 anos de ditadura militar foi hospitalizado na véspera da posse e morreu no mês seguinte sem conseguir assumir, Aécio era o seu secretário particular.

Desde então – lá se vão 30 anos – ele tenta chegar aonde o avô não conseguiu. Elegeu-se governador de Minas, tal como Tancredo; no entanto, tal como Tancredo, perdeu a presidência por pouco. “Quase” chegou lá.

Desde então repete – e lá se vão nove meses – a mesma ladainha: a presidente Dilma deve desculpas à nação. Apesar dos altos cargos que detém – senador da República e presidente do PSDB – não conseguiu produzir até agora nenhuma alternativa para ajudar o país a sair da crise, tem atuado apenas como um comentarista político de luxo, que analisa, de camarote, a caminhada da vaca rumo ao brejo, sem se preocupar em desviá-la, em secar o brejo, fazer alguma coisa, enfim, que evite o pior.

Em 30 anos de vida pública, além de não conseguir se livrar da sina do “quase”, Aécio ganhou outra: a de “trapalhão aéreo”. Depois de jamais conseguir explicar, pois explicação ética não há, porque, quando governador, mandou construir um aeroporto dentro de uma propriedade da família, em Claudio, agora deixou claro o motivo: era para chegar mais rapidamente às ondas do Leblon no avião do governo.

Se Aécio quer se viabilizar, de fato, como opção a 'tudo que está aí' nas próximas eleições presidenciais, se quer, de fato, apresentar-se aos brasileiros como a versão mineira da Madre Teresa de Calcutá ele deveria fazer duas coisas: 1) pedir desculpas aos brasileiros por ter viajado 124 vezes ao Rio de Janeiro gastando dinheiro público e 2) devolver esse dinheiro público aos cofres do governo de Minas Gerais.

OPOSIÇÃO AFIRMA QUE SARTORI ESCONDEU VERBA.


A oposição acusa o governador Ivo Sartori (PMDB) de esconder verba e assim não pagar o salário do funcionalismo público.

Matéria da Folha de S.Paulo mostra que vez de pagar apenas R$ 600 do salário de agosto aos servidores públicos estaduais, Sartori poderia ter entregado mais que o dobro para cada um deles (R$ 1.370).

O governo tinha R$ 266 milhões no caixa único, que foram transferidos para outra conta, de depósitos judiciais.

"Havia recurso para pagar, mas o governo não quis", afirmou o líder da bancada petista, Luis Fernando Mainardi.

Sartori disse que a situação financeira do Estado era de "calamidade" e que não havia verba disponível. O governo também não pagou parcela da dívida com a União e teve suas contas bloqueadas.

"O governo poderia ter pagado os salários ou a dívida. Poderia ter feito uma coisa ou outra, mas não fez nenhuma", diz o deputado.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

NOSSO VÍCIO NA INTERNET TEM CURA?

Quase todas as ruas em quase todas as grandes cidades do mundo estão lotadas de pessoas usando seus celulares, alheias à presença dos outros. É um comportamento que não existia poucas décadas atrás.

Acabamos nos acostumando ao fato de que compartilhar o mesmo espaço físico não significa mais compartilhar da mesma experiência. Onde quer que estejamos, levamos conosco opções muito mais interessantes do que o lugar e o momento que vivemos: amigos, familiares, notícias, imagens, modismos, trabalho e lazer cabem na palma da mão.

Mas como questiona o fotógrafo Josh Pulman, autor do ensaio Somewhere Else (em algum outro lugar, em tradução livre), cujas fotos são exibidas com esta reportagem: “Se duas pessoas estão andando juntas, cada uma prestando atenção a seu telefone, elas estão realmente juntas?”

Faz parte do ser humano ter uma profunda vontade de se conectar. Mas será que esse dom pode nos prejudicar em algum momento? É possível ficar “conectado em excesso”? E o que isso significa para nosso futuro?


A vida por um fio

Desde sua invenção, o telefone tem sido um motor de agitação social e um foco de ansiedade tecnológica. Imagine a cena através dos olhos do século 19, quando as primeiras estruturas de telefonia começaram a ser instaladas: quilômetros e quilômetros de fios pendurados nas laterais das ruas, perfurando todas as casas. As paredes estavam sendo violadas: o santo lar, ligado a uma nova espécie de interação humana.

“Em breve não seremos mais do que gelatinas transparentes”, lamentou um jornalista britânico em 1897, temendo a perda da privacidade.

Mas, enquanto os primeiros medos em relação ao telefone podem ter sido exagerados, eles também foram um tanto proféticos. Se no fim do século 19 e durante o século 20 nossa vontade foi de plugar todos os locais de trabalho e lazer em redes, o século 21 emerge com o desejo de uma interconexão de nossas mentes nessa trama.

E estamos começando a sentir os efeitos disso.

Assim como seu antepassado no século 19, o telefone celular nasceu como um símbolo de status para as pessoas afluentes e ocupadas. Com o tempo, o luxo se tornou universal. Passamos a entremear a disponibilidade constante no nosso conceito de espaço público e privado, na nossa linguagem corporal e na etiqueta cotidiana.

Ficar incontactável se tornou a exceção, algo fora deste mundo – mas também uma fonte inesgotável de ansiedades.

E, como a história se repete, a todo momento recebemos alertas sobre possíveis efeitos prejudiciais da comunicação móvel.

Um desses avisos veio com a notícia de que um homem de 31 anos foi recentemente internado para se tratar de um “distúrbio de vício em internet”, por causa de seu uso excessivo do smartphone. 

Relação normal ou patológica?

Casos como esse levantam outras questões: com que frequência suas mãos se mexem involuntariamente com a intenção de pegar seu celular ou de alcançar o lugar onde você normalmente o deixa? Como você reage ao som de cada nova mensagem – ou à ausência dele?

Não são perguntas com respostas definitivas.

Traçar o limite entre hábito e patologia significa decidir o que queremos dizer com os termos “normal”, “saudável” e “aceitável”.

E se a tecnologia excede em algo, é justamente em mudar velhas normas rapidamente.

Passei anos tentando avaliar nosso relacionamento com a tecnologia e ainda me vejo sendo puxado em duas direções diferentes.

Por um lado, como disse o filósofo Julian Baggini, “o homem pode estar mudando, mas em muitos aspectos ele continua o mesmo”. Podemos ler romances da Grécia Antiga e compreender quando o autor fala de raiva, paixão, patriotismo e confiança, por exemplo.

Por outro lado, as tecnologias digitais significam que as relações com os outros e com o mundo foram estendidas e ampliadas para um nível nunca antes experimentados.

Como argumentam filósofos como Andy Clark e David J. Chalmers, a mente é uma colaboração entre o cérebro na cabeça e equipamentos como o telefone nas mãos. O “eu” é um sistema complexo que envolve as duas coisas.

É esse impacto exponencial de tecnologia da informação que representa o maior problema para tudo o que julgávamos ser normal, equilibrado, autoconhecido e auto-regulado.

Vivemos em uma era em que nossas patologias são aquelas do excesso.


Dando um tempo

Será que precisamos de uma desintoxicação? Bem, isso não necessariamente funciona, nem para a saúde física nem para a saúde mental.

O melhor é encarar os fatos e começar a aproveitar a intimidade de um relacionamento que só tende a ficar cada vez mais próximo: aquele entre os cérebros de cada indivíduo e as redes de automação que estão sendo tecidas entre eles.

Afinal, estamos despejando nossas horas e minutos não apenas em uma tela, mas sim na mais complexa e abrangente rede de mentes humanas que já existiu, cada uma mais capaz do que o computador mais rápido.

Se fico fascinado, impressionado, superenvolvido, distraído e deliciado com tanta frequência, é por que há outras pessoas lá fora peneirando e refratando esse mundo de informações de volta para mim.

Só conseguirei mudar isso se puder encontrar outras pessoas com quem posso formar novos hábitos e novos modelos de funcionar.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

É HORA DE PRENDER TUCANOS...

Afirmo, e sem qualquer dúvida: "Os tucanos são inimputáveis!" E completo: "A Justiça deveria retirar a venda dos olhos e, por sua vez, parar de bancar a isenta, já que ela se apresenta ao povo de maneira parcial, ou seja, só usa sua espada contra um lado e se esqueceu de carregar em uma de suas mãos a balança, que simboliza a igualdade entre os homens, os cidadãos, no que diz respeito ao Direito e às leis do País, principalmente no que é relativo à Constituição.

O juiz de primeira instância, Sérgio Moro, até agora está a encarcerar as pessoas que se envolveram em malfeitos e roubaram o dinheiro público. Contudo, muitas dessas pessoas não tiveram suas culpas comprovadas e, evidentemente, que alguns condenados à prisão, a exemplo de Vaccari, estão nesta terrível situação por terem sido alvos de delatores, que, para diminuir suas penas, evidentemente que se mostram dispostos a dedurar as pessoas que ocuparam cargos e funções de poder e mando, como o de Vaccari, tesoureiro do PT, que, como os do PSDB e DEM, ocupavam-se em garantir recursos para seus partidos disputarem as eleições.

Veja bem, a questão não é meramente criminal. Sempre afirmo, categoricamente e sem tergiversar, que ladrão do dinheiro público, corruptos e corruptores tem de ir para a cadeia. Ponto. Entretanto, a Operação Lava Jato, repleta de delegados aecistas e de juiz que tem vínculo, sim, com o PSDB, não se resume apenas no âmbito criminal, repito. Tal operação também o é política. Sem qualquer dúvida, suas ações evidenciam que somente o PT paga o pato por ter, segundo o juiz Moro, recebido dinheiro para seu caixa dois.

São estas realidades e condutas da Justiça, da PF e do MP que se apresentam ao público e, com efeito, são inaceitáveis, porque o sabemos que no Brasil os tucanos são inimputáveis e todos nós, cidadãos, somos verdadeiros idiotas, pois ingênuos e burros, conforme nos trata a imprensa corrupta dos magnatas bilionários, que pagam a seus empregados para mentir e manipular sobre os acontecimentos, bem como consideram "normal" e "justo" que tenhamos uma Justiça de conduta politizada, que não se atenta aos autos.

Temos um Judiciário cujos juízes, ideológicos e conservadores, aproveitam-se de seus cargos poderosos para tomar partido, vazar inquéritos em segredo de justiça, e, o pior, fazer oposição pública a entidades, a instituições e a pessoas que estão ou vão ser julgadas pelo próprio juiz, que faz carga contra aquele que poderá ser punido com prisão. Um verdadeiro absurdo, pois surreal, conforme ocorreu com Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Marco Aurélio de Mello, Cezar Peluso, Ayres Britto e o juiz de terceira instância, Sérgio Moro, que, inacreditavelmente, transformaram-se em atores políticos, ao ponto de literalmente se transformarem também em oposição ao Governo Trabalhista e esquecerem que seus papéis são fundamentais para o equilíbrio entre os três poderes, porque guardiões da Constituição e executores das leis do País.

É inaceitável que, por exemplo, as mesmas empresas que financiam há décadas todos os partidos, inclusive os da atual oposição, são somente responsabilizadas por financiarem o Partido dos Trabalhadores, bem como também o é inaceitável somente o PT ser investigado, quando o sabemos que o PSDB, o DEM, o PPS e o PSB, dentre outros partidos de oposição de calibres menores estão envolvidos até as raízes dos cabelos com corrupções inúmeras e talvez incontáveis.

Trata-se de siglas políticas umbilicalmente ligadas ao grande empresariado e suas federações, bem como controlam estados da União poderosos, a exemplo de São Paulo, Paraná, Goiás e, recentemente, Minas Gerais, repletos de escândalos de conhecimento nacional, como a Lista de Furnas, o Trensalão, os aeroportos do tio de Aécio Neves, o Metrozão, o Banestado, o Mensalão do PSDB, dentre mais de 50 escândalos, afinal os tucanos venderam 125 estatais quando o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso — o Príncipe da Privataria e o Neoliberal I —, assumiu a Presidência da República e governou como um caixeiro viajante ao invés de se conduzir como um estadista.

Todavia, o problema é que juízes como Sérgio Moro e Gilmar Mendes, este há muito tempo deveria ser julgado pelo Senado e ser punido com um impeachment, tratam os brasileiros como idiotas. Para eles, nós somos tão beócios ou mentecaptos que jamais perceberíamos que eles e outros capas pretas tem lado partidário, opção ideológica e preferência por candidatos, se possível, tucanos. Há anos essas pessoas que conquistaram cargos públicos por intermédio de nomeações e influência política fazem a vez de partidos, como o PSDB, que a certa altura estava tão derrotado, que não tinha capacidade e força política para fazer oposição ao PT e ao Governo Trabalhista.

Como é que pode? Muitos desses grupos de direita são favoráveis ao financiamento privado de campanhas eleitorais. E faço uma proposta. Quem responder a esta pergunta vai receber um prêmio: "Adivinhe qual é o fator principal e maior responsável pela corrupção?" Adivinhou?! Isto mesmo... A maioria dos eventos de corrupção é derivada do financiamento privado de campanhas eleitorais. E como esses grupos golpistas se conduziram sobre a questão? Defenderam que o financiamento privado não fosse proibido — o que não ocorreu, evidentemente.
 

Ou Gilmar continua a tratar o cidadão brasileiro como se ele fosse um asno, ou melhor, um idiota desprovido de discernimento e, portanto, de inteligência? Se ele pensa assim, problema é dele... Fazer o quê? Mas, a verdade é que todo mundo vê as ações de Gilmar Mendes, péssimas para o Brasil e ótimas para os grupos políticos e econômicos os quais o condestável magistrado defende.

Enquanto isto, o juiz de primeira instância Sérgio Moro continua em sua trilha iluminada pelos holofotes da imprensa de mercado, até que os magnatas bilionários de imprensa e seus capitães do mato o suguem como a uma laranja e depois o joguem fora, como o fizeram com o tresloucado Joaquim Barbosa, que hoje está recolhido à sua insignificância. Talvez ele consiga ser deputado federal — e olhe lá.

Ou o carrasco do "mensalão", o do PT, porque o do PSDB os juízes esqueceram por conveniência e cumplicidade com os tucanos, está a pensar que políticos vão lhes dar espaço em partidos grandes, quando se trata de cargos majoritários? Se ele pensa assim pode se dar mal. Então sugiro que vá para um partido pequeno ou médio. Joaquim, que tal se juntar à Marina Silva, aquela candidata que se bandeou para a direita, não consegue assinaturas para criar seu partido e que ninguém entende o que ela pensa e fala? É o melhor negócio procê...

Sérgio Moro um dia vai ter de ir ao Supremo Tribunal Federal e chamar o Gilmar Mendes para beber um chá com a Dona Justiça, a estátua de três metros que fica em frente ao "palácio dos magistrados", porque, indubitavelmente, não pertence ainda ao povo, apesar da existência da Constituição. A escultura de mulher representa o Judiciário. Tal senhora tem uma venda nos olhos, cujo significado é mostrar que a Justiça é imparcial e, com efeito, não possui lados e preferências, pois todo cidadão é igual perante a lei. Em uma de suas mãos a distinta senhora empunha uma espada de dois fios, que representa a ordem e a força necessária para impor o Direito.

Contudo, para a sorte de juízes políticos e ideológicos como Gilmar e Moro e para o azar do povo brasileiro, a escultura de tão nobre Justiça se encontra desprovida da balança em uma de suas mãos. E a balança é a essência da Justiça, porque pesa os erros e os acertos de quem por ela vai ser julgado, indiferente à posição social, ao cargo que o réu ocupa ou ao poder que um cidadão possa ter e exercer. Gilmar Mendes há muito tempo deveria ser julgado pelo Senado por seus atos e ações, que não condizem, de forma alguma, com a conduta, a imparcialidade e a sabedoria exigidas para os juízes. É hora do Sérgio Moro cortar na carne e prender também os tucanos; ao Gilmar o impeachment — O brasileiro é idiota? Pergunte aos juízes. É isso aí.

MORO NAS TREVAS.

O juiz Sergio Moro, cuja fama corre o País, não esconde a aversão pela política. Ele próprio tornou-se, no entanto, peça importante no crescente do ativismo judicial. Ou seja, a ocupação pela Justiça de espaços políticos. Isso o leva, eventualmente, a cair no abismo das contradições. O magistrado, por exemplo, faz política porque não confia nos políticos, embora tenha lá suas simpatias partidárias.


Responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância, Moro manifestou publicamente essa rejeição durante palestra recente feita na Procuradoria da República, em São Paulo. O tema dele, a lavagem de dinheiro e os ilícitos em torno dela, é monocórdio. E, nessas ocasiões, sempre se remete à Operação Mãos Limpas.
Como um bom escoteiro Moro está sempre alerta. Dorme de olhos abertos e parece assaltado por pesadelos: “O Brasil deve ficar atento às lições que vêm da Mãos Limpas”, disse ele na palestra.

Qual a dúvida do juiz Sergio Moro? A resposta está na continuidade do raciocínio do palestrante.

Segundo ele, passado o tempo, a classe política teria adotado medidas que reverteram os avanços da Operação Mãos Limpas.

A qual, se bem entendemos segundo Moro, teria redundado em fracasso, embora ditada pelos melhores propósitos. “O retrato é de uma grande oportunidade de mudança que se perdeu”, lamentou.

O jovem juiz não sabe do que está falando, trafega na névoa como um barco escocês ao largo da costa em uma madrugada de pleno inverno em meio a neblina e com uma avaria no apito. Não é difícil imaginar que Moro se refere ao vácuo criado pelo fim da chamada Primeira República italiana, e na ascensão de Berlusconi e do seu oportunismo. Mesmo assim, o Partido Democrata-Cristão e o Partido Socialista saíram do mapa, enquanto a esquerda mostrava sua qualidade moral: não houve um único envolvido do Partido Comunista, que nesse tempo contava com 34% dos votos e comandava as prefeituras da maioria dos municípios.

Aproximar a Operação Lava Jato da Mãos Limpas é uma iniciativa temerária, mesmo porque a delação premiada só foi aplicada no caso do combate às máfias, que nada tem a ver com a Mãos Limpas. Os ilícitos alcançaram políticos, empresários, lobistas, funcionários públicos. Houve entre os indiciados quem se matasse, em um lance de vergonha cívica, inimaginável nas nossas plagas. O líder socialista Bettino Craxi fugiu da Itália para evitar oito anos de prisão. Alguns dos líderes mais proeminentes do PDC sumiram de circulação.

Moro não está saciado pelos feitos promovidos por ele até o momento. Sustenta agora a necessidade de condenar “por dolo eventual”: o infrator assume o risco de compactuar uma prática potencialmente ilícita, ainda que não esteja ciente dessa ilicitude no momento em que aceita prestar o serviço.

A fonte desse conceito é a Idade Média. Faz sentido.



segunda-feira, 21 de setembro de 2015

PRIMAVERA VEM AÍ COM MUITA CHUVA, DIZEM OS METEOROLOGISTAS.



Na próxima quarta-feira (dia 23), às 5h20 da manhã, o Brasil entra na primavera. A tendência histórica da estação é de que as chuvas se tornem mais intensas e frequentes.

Este ano, o fenômeno El Niño, causado pelo aquecimento da superfície do Oceano Pacífico na área equatorial, fará com que as chuvas se concentrem abaixo de uma linha que corta Mato Grosso, Goiás, a metade de Minas Gerais e três quartos do estado do Rio.

A estação será ainda mais chuvosa no Mato Grosso do Sul e na Região Sul.

As mudanças do tempo não serão sentidas imediatamente. Segundo o meteorologista Bruno Miranda, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), chuvas mais intensas ocorrerão a partir da segunda quinzena de outubro. Até lá, o tempo seco ainda permanecerá.

A concentração das chuvas nessas áreas favorece o volume dos reservatórios de água que abastecem as cidades com maior população.

Em compensação, no Nordeste os açudes dos sertanejos continuarão com o volume baixo. O meteorologista Mamedes Luiz Melo prevê seca para a região,

A estiagem não deverá afetar as áreas litorâneas do Nordeste, o sul dos estados do Piauí, Maranhão e no oeste da Bahia. Na Região Norte, o período chuvoso inicia-se nos meses de outubro e novembro, com o aumento gradativo das pancadas de chuva e trovoadas.

Segundo os meteorologistas, mesmo com as chuvas as temperaturas não deverão se alterar.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A SOLUÇÃO DE BRASIL ESTÁ AQUI!

Existe uma fórmula bem simples e barata, que não é mágica nem utópica, para aumentar a arrecadação do governo sem precisar criar novos nem aumentar velhos impostos: basta cobrar os sonegadores. Por que não é adotada como prioridade absoluta pela equipe econômica nesta situação de emergência permanente para acertar as contas públicas?

Enquanto o país aguarda com ansiedade para as próximas horas, o anúncio do pacote fiscal preparado no final de semana, prevendo um corte de R$ 20 bilhões nas despesas do governo em 2016, faço uma rápida pesquisa no Google e releio textos que eu mesmo já publiquei aqui sobre o assunto.

Vejam os números.

É de R$ 30,5 bilhões o deficit projetado no Orçamento da União para o próximo ano, principal razão do rebaixamento da nota de grau de investimento pela agência de risco Standard & Poors´s e do agravamento da crise nos últimos dias.

É de R$ 500 bilhões _ por ano _ o valor em impostos que deixam de ser recolhidos aos cofres públicos no País, segundo os cálculos do presidente do Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional, Heráclio Camargo.

Para se ter uma ideia do total do volume de recursos perdidos que isso representa, a sonegação de impostos é sete vezes maior do que o custo anual médio da corrupção, em todos os níveis, que foi de R$ 67 bilhões, em valores de 2013, de acordo com os estudos feitos por José Ricardo Roriz Coelho, diretor-titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Sonegação e corrupção sempre andaram juntas para sangrar os cofres públicos, mas só se fala de Operação Lava Jato, que investiga, denuncia e prende empreiteiros e políticos, enquanto a Operação Zelotes se arrasta sem punir os fraudadores e sem recuperar os recursos desviados pelas quadrilhas que envolvem funcionários públicos e grandes empresas.

Quando foi inaugurado em março, em Brasília, o "sonegômetro" instalado por Heráclio Camargo já registrava um total de R$ 105 bilhões sonegados só este ano. Dá cinco vezes o total dos cortes a serem anunciados daqui a pouco e é o triplo do deficit previsto no Orçamento. Deste total, o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional calcula que R$ 80 bilhões foram desviados em operações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. E ninguém vai preso.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A SEMANA FARROUPILHA.

A Semana Farroupilha é um momento especial de culto às tradições gaúchas, transcendendo o próprio Movimento Tradicionalista Gaúcho. Ela envolve praticamente toda a população do Estado, se não fisicamente nos locais organizados para festejos, participando das iniciativas do comércio, dos serviços públicos, das instituições financeiras ou das indústrias.

A Semana Farroupilha é regulada por uma Lei Estadual e Regulamentada por um Decreto. Sua organização é feita em duas estâncias, a estadual com a definição de diretrizes gerais, escolha do tema básico e atividades que envolvem as distâncias públicas estaduais, e no nível local onde, na prática ocorrem os festejos as manifestações Culturais, artísticas e onde se realizam as mostras e os desfiles destacando-se o realizado a cavalo.

[A Saga Farroupilha]

As comemorações da Revolução Farroupilha – o mais longo e um dos mais significativos movimentos de revoltas civis brasileiros, envolvendo em suas lutas os mais diversos segmentos sociais – relembra a Guerra dos Farrapos contra o Império, de 1835 a 1845. O Marco Inicial ocorreu no amanhecer de 20 de setembro de 1835. Naquele dia, liderando homens armados, Gomes Jardim e Onofre Pires entraram em Porto Alegre pela Ponte da Azenha.

A data e o fato ficaram registrados na história dos sul-ro-grandenses como o início da Revolução Farroupilha. Nesse movimento revolucionário, que teve duração de cerca de dez anos e mostrava como pano de fundo os ideais liberais, federalistas e republicanos, foi proclamada a República Rio-Grandense, instalando-se na cidade de Piratini a sua capital.

Acontecendo-se a Revolução Farroupilha, desde o século XVII o Rio Grande do Sul já sediava as disputas entre portugueses e espanhóis. Para as lideranças locais, o término dessas disputas mereciam, do governo central, o incentivo ao crescimento econômico do Sul, como ressarcimemto às gerações de famílias que lutaram e defenderam o país. Além de isso não ocorrer, o governo central passou a cobrar pesadas taxas sobre os produtos do RS. Charque, couros e erva-mate, por exemplo,passaram a ter cobrança de altos impostos. O charque gaúcho passou a ter elevadas, enquanto o governo dava incentivos para a importação do Uruguai e Argentina.

Já o sal, insumo básico para a preparação do charque, passou a ter taxa de importação considerada abusiva, agravando o quadro. Esses fatores, somados, geram a revolta da elite sul-riograndense, culminando em 20 de setembro de 1835, com Porto Alegre sendo invadida pelos rebeldes enquanto o presidente da província, Fernando Braga, fugia do Rio Grande.

As comemorações do Movimento Farroupilha, que até 1994 restringiam-se ao ponto facultativo nas repartições públicas estaduais e ao feriado municipal em algumas cidades do Interior, ganharam mais um incentivo a partir do ano 1995. Definida pela Constituição Estadual com a data magna do Estado, o dia 20 de setembro passou a ser feriado. O decreto estadual 36.180/95, amparado na lei federal 9.093/95, de autoria do deputado federal Jarbas Lima (PPB/RS), especifica que “a data magna fixada em lei pelos estados federados é feriado civil”.

[A Chama Crioula]

Num ambiente em que a sociedade negava hábitos, costumes e tradições gauchescas, ressurge o sentimento de orgulho das coisas tradicionais que, a rigor, naquele momento só tinham algum destaque quando a Brigada Militar reverenciava a figura do General Bento Gonçalves da Silva, em solenidade que realizava a cada 20 de setembro em frente ao monumento erguido na Av. João Pessoa, em Porto Alegre.

No mês de agosto de 1947, alguns estudantes do Colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre, liderados por João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, fundaram um Departamento de Tradições Gaúchas, junto ao Grêmio Estudantil. O Departamento destinava-se a estimular o desenvolvimento cultural, por meio de reuniões sociais recreativas. Era um movimento estudantil com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos, que levantava-se em favor das tradições. O objetivo era achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional; combater a descaracterização; reagauchar o Rio Grande. Em suma: procuravam a identidade da terra gaúcha.

Aprovada a idéia, o Grêmio Estudantil do “Julinho”, enviou a Imprensa da Capital, um comunicado, cujo primeiro parágrafo dizia: “O Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, sentindo a necessidade da perpetuação das tradições gaúchas, fundou, aliando aos seus já numerosos Departamentos, o das Tradições Gaúchas, procurando assim, preservar este legado imenso dos nossos antepassados, constituído do amor à liberdade, grandeza de convicções representadas pelo sentimento de igualdade e humanidade”.

No Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio estudantil Júlio de Castilhos decidiram realizar a “1ª Ronda Gaúcha”, que logo passaria a ser chamada de Ronda Crioula. Esta iniciou no dia 7 de setembro, com uma programação que se estendeu até o dia 20 daquele ano de 1947.

O programa previa o acendimento de um Candeeiro Crioulo, o primeiro baile gauchesco que aconteceu no Teresópolis Tênis Club, no dia 20 de setembro à noite, concursos de trajes regionais, palestras, concurso literário e uma série de momentos eqüestres. A decoração do local era feita de apetrechos campeiros (laços, guampas, pelegos, ninhos de João-de-Barro) além de um fogo-de-chão, onde se esquentava água para chimarrão e assava-se uma carne.

Participam como convidados especiais o jornalista e escritor Manoelito de Ornellas e o desenhista de motivos campeiros e declamador gauchesco, Amândio Bicca. A eles coube julgar os gaúchos e as prendas mais tipicamente vestidos, sendo que a presença do ilustre historiador Manoelito de Ornellas, no baile, causou forte impressão ao proferir um inflamado discurso às causas regionalistas, manifestando sua crença naqueles jovens e nos objetivos a que se propunham alcançar. À beira de um verdadeiro fogo-de-chão, mateando e tomando café-de-chaleira, Barbosa Lessa ventilou a idéia de fundar uma agremiação civil gauchesca. Iniciava-se aí o tradicionalismo como força viva popular.

Esta Ronda Crioula foi, na verdade, a precursora da Semana Farroupilha, oficializada somente 17 anos mais tarde, através da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.

Paixão Côrtes, que dirigia o Departamento foi procurar o Presidente da Liga de Defesa Nacional e disse-lhe que gostaria de retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria no momento da sua extinção no dia 7 de setembro e transportá-la até o Colégio Júlio de Castilhos. Lá acenderia um candeeiro típico, num altar cívico como parte das comemorações da Ronda Gaúcha, no que foi autorizado.

Naquele ano de 1947, a Liga de Defesa Nacional, presidida pelo Major Darci Vignoli incluiu na programação alusiva à Semana da Pátria, a transladação dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro, de Sant’Ana do Livramento para o Panteão da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Para este acontecimento tão importante, entendeu o Major Vignoli que era do maior significado cívico que a guarda de honra fosse composta por uma representação de gaúchos tipicamente trajados, que traduzisse a alma da terra e o espírito farroupilha. Pessoas que lembrassem os tempos gloriosos dos nossos estancieiros e suas peonadas, que enfrentaram durante 10 anos todo o Império.

Diante da inexistência de uma representação com estas qualidades, o Presidente da Liga solicitou ao Departamento de Tradições do “Julinho” um piquete de gaúchos para montar guarda à urna com os restos mortais do grande Herói Farrapo.

Com muito custo Paixão conseguiu mais cinco jovens para a empreitada, totalizando oito componentes.

Estava formado o Piquete da Tradição, grupo esse que passaria para a história, no 1º Congresso realizado em julho de 1954 em Santa Maria, quando foi batizado como o “Grupo dos Oito”.

Próximo da meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, os jovens, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente montados, aguardavam junto a Pira.

Chegando o momento da extinção do Fogo Simbólico da Pátria, foram chamados para a retirada da centelha, conforme haviam acordado. Paixão Côrtes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa embebida em querosene presa a ponta de um cabo de vassoura e solenemente acendeu aquela que seria a primeira Chama Crioula. Dali, os três cavaleiros, conduziram a galopito a centelha até o “Julinho”, onde acenderam o Candeeiro Crioulo.

A Chama Crioula é o fogo que simboliza fertilidade, calor, claridade, ardor, paixão, hospitalidade e coragem. Simboliza, enfim, a Tradição Gaúcha. Representa o gaúcho idealizado no espírito heróico dos Farroupilhas, com os ideais de justiça e liberdade, visando a aproximação dos povos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

AS RAZÕES DA CRISE.

Na crise atual se cruzam razões de fundo, herdadas dos governos neoliberais, e questões que os governos do PT não souberam superar e que agora os afetam de maneira profunda.

Entre as razões estruturais estão a desindustrialização promovida pela abertura escancarada do mercado interno feita pelos governos Collor e FHC, que além de enfraquecer o poderio industrial do pais, gerou a dependência da exportação de produtos primários. Por outro lado, paralelamente, não se alterou o papel hegemônico do capital financeiro, que reproduz a especulação como fenômeno central no processo de acumulação de capital.

Além desses fatores econômicos, com todas suas consequências no plano social e político, o governo não avançou nem na democratização dos meios de comunicação, nem no fim do financiamento privado das campanhas eleitorais. Não afetou assim dois elementos políticos e ideológicos fundamentais que jogam fortemente contra o governo. A mídia, com seu terrorismo econômico e denuncismo seletivo e reiterado, o Congresso com seu cerco fisiológico sobre o governo.

A combinação desses fatores gerou as condições da crise atual. A eles se acrescenta um diagnóstico errado do governo, que o tem levado na direção oposta da forma como atuou na crise de 2008, levando a cortes reiterados de gastos, que só aprofundam e prolongam a recessão, isolando ainda mais o governo das suas bases populares, tornando-o mais frágil e mais prisioneiro da direita. O mercado, como se viu esta semana, vai sempre querer mais sangue, sempre vai impor novos cortes, que levam a novos cortes. O governo fica assim prisioneiro do mercado e da direita. Entrou no despenhadeiro interminável de responder à direita e ao capital especulativo com mais cortes, que é o que eles pedem.

O governo faz tudo isso, mas foi rebaixado pelas agências de risco, prevê recessão pelo menos até o fim de 2016, a inflação persiste, o desemprego aumenta. Um ano e meio a mais de clima de pessimismo e de deterioração dos índices sociais é a pior perspectiva possível. O ajuste nunca leva à retomada econômica, ao contrário, leva a mais recessão, com mais desemprego.

Esse não é o caminho com que reagimos vitoriosamente à crise de 2008, recuperando o pais da crise, retomando o desenvolvimento e aprofundando as políticas de distribuição de renda, ao invés de cortar recursos das políticas sociais. Assim, o caminho oposto é que deveria ser trilhado.

Reabrir créditos para reativar a economia, terminar de vez com cortes nos recursos das políticas sociais e nos custos do governo, taxar as grandes fortunas, combater dura e abertamente a sonegação. Além de propor um plano de saída da crise, coerente com esse projeto de retomada do crescimento econômico, sem ficar sujeito às iniciativas da oposição e de outros setores adversos ao governo, que cobram mais concessões políticas em troca do fim do risco do impeachment.

Não se é governo sem ter capacidade de iniciativa política, senão se é governado pelos outros, só se reage às ofensivas reiteradas do capital especulativo e da direita política. Falta coordenação política para isso e um plano econômico que não assopre na direção da tempestade mas que, ao contrário, mediante medidas anticíclicas, resista a ela. A via adotada só aprofunda a necessidade de mais cortes, a recessão, o isolamento e a fragilidade do governo. Com todos os cortes, não se impediu o rebaixamento da avaliação do governo e o retorno à ofensiva sobre o impeachment. Além de não se superar a recessão, com mais desemprego.

Essas são as raízes da crise presente. Um diagnóstico errado sobre ela levou ao pacote de ajuste, socialmente injusto, economicamente ineficaz e politicamente desastroso. Sem uma virada no plano econômico, o governo não terá mínimas condições de enfrentar a crise política, que se expressa na ofensiva permanente sobre ele. Desde dezembro o governo colocou a agenda do ajuste e nunca mais pôde sair dela. Já é tempo de fazer um balanço dos seus resultados, que só pioraram a situação, e dar uma virada no governo, a partir das experiências positivas do passado.

Aceitar os erros não revela fraqueza. Fraqueza é ceder interminavelmente às pressões conservadoras. Grandeza é reconhecer os problemas, os erros cometidos e dar uma virada econômica e política. É aprender do passado, para superar a crise presente e projetar um futuro de continuidade e não de ruptura com os governos iniciados em 2003. Não se pode colocar em risco tudo o que foi construído desde então, pela insistência equivocada no caminho oposto ao trilhado no passado.

PORTE DE ARMA PODE SER MAIS SIMPLES QUE TIRAR CARTEIRA DE MOTORISTA

A bancada da bala da Câmara está um passo mais perto de conseguir liberar o porte de armas para a população brasileira. Na quinta-feira o deputado Laudivio Carvalho (PMDB-MG), relator da comissão especial da Câmara que analisa um projeto de lei que acaba com o Estatuto do Desarmamento – que de acordo com estudos salvou mais de 160.000 vidas – apresentou seu parecer.
Na prática, caso o documento do parlamentar seja aprovado, as pessoas poderão andar armadas pelas ruas, dentro de seus carros, em bares, restaurantes, escolas e supermercados. E o processo para conseguir os documentos que autorizam o porte será mais simples do que para tirar carteira de motorista.
O texto elaborado prevê que qualquer pessoa possa solicitar o porte de armas de fogo permitidas, desde que atenda a algumas condições. É preciso ter mais de 21 anos, não ter nenhuma condenação por crime doloso, ser aprovado em um exame psicotécnico e fazer um curso com carga horária de 10 horas para se familiarizar com o manejo da arma.
Para efeito de comparação, a obtenção da carteira nacional de habilitação depende da realização de um curso teórico com carga horária de 45 horas/aula, e mais 25 horas de aulas práticas. Segundo o texto, o porte de arma em locais públicos só será proibido onde “houver aglomeração de pessoas em virtude de eventos tais como espetáculos artísticos, comícios e reuniões em logradouros públicos, estádios desportivos e clubes”.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

EM MATERIA DE RISCO, PSDB NÃO PODE CANTAR DE GALO

Em 2008, no segundo governo do ex-presidente Lula, o Brasil ganhou, pela primeira vez, o grau de investimento da agência de classificação de risco Standard & Poor´s, algo que não havia acontecido durante os oito anos do governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso.

Nesta quarta-feira, o País perdeu o selo de bom pagador da S&P, o que gerou críticas ferrenhas por parte da oposição, que até reforçaram o discurso do golpe. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, falou em "fim do governo Dilma" logo após a notícia. Hoje, declarou que estamos "vivendo o caos anunciado".

Em matéria de risco, no entanto, o PSDB não pode cantar de galo, como mostra a tabela da própria agência. Durante o governo Itamar Franco, a nota do Brasil era apenas B. Depois que FHC assumiu como presidente, em 1995, o rating chegou a ser elevado para B+ e BB-, mas voltou para B+ em 2002, ano em que o tucano deixou o posto.

Após o início do governo Lula, a melhora da nota foi cada vez mais acentuada. Em 2004, voltou a subir para BB-. Em 2006, mais um degrau: BB. Em 2007, o rating subiu para BB+ e, em 2008, o País entrou para o clube dos devedores com melhor qualidade de crédito, com BBB-, subindo ainda em novembro de 2011 para BBB.

Um novo rebaixamento da nota só foi registrado em maio de 2014, quando voltou para BBB-, mas ainda mantendo o grau de investimento no País. O rating permaneceu o mesmo em julho deste ano. Na noite desta quarta-feira, o Brasil voltou ao primeiro nível sem grau de investimento.

Durante os governos do PSDB, o Brasil precisou recorrer três vezes ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em busca de empréstimos e sempre esteve próximo ao risco especulativo. O selo de bom pagador só foi conquistado com Lula e sua política de acumulação de reservas internacionais.

"O governo brasileiro continua trabalhando para melhorar a execução fiscal e torná-la sustentável. É fundamental a retomada do crescimento. Você vai notar que de 1994 a 2015 só em sete anos, a partir de 2008, a nota foi acima de BB+", lembrou a presidente Dilma Rousseff em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico nesta quinta-feira.

"Portanto", acrescentou Dilma, "essa classificação não significa que o Brasil esteja em uma situação em que não possa cumprir as suas obrigações. Pelo contrário, está pagando todos os seus contratos como também temos uma clara estratégia econômica. Vamos continuar nesse caminho e vamos retomar o crescimento deste país".

No artigo abaixo, o sociólogo, especialista em relações internacionais e assessor da liderança do PT no Senado Marcelo Zero afirma que o grau de investimento perdido ontem pela S&P, fato que vem sendo tratado pela imprensa como "uma espécie de apocalipse econômico", diz ele, foi obtido em abril de 2008 "graças à gestão econômica competente dos governos do PT". Leia:

“Esclarecimentos sobre a Retirada do Grau de Investimento”

A retirada do grau de investimento dos papéis da dívida brasileira pela agênciaStandard and Poor´s, uma entre as três grandes agências que calculam riscos de investimentos, vem sendo acolhida, pela grande mídia oposicionista, como uma espécie de apocalipse econômico. Uma demonstração da suposta incompetência da gestão econômica dos governos do PT.

Ora, em primeiro lugar, é preciso destacar que o grau de investimento foi obtido, em abril de 2008, graças à gestão econômica competente dos governos do PT. Durante os anos em que governaram os que hoje nos acusam de má gestão, o Brasil nem sequer chegou perto desse grau concedido pelas agências. Ao contrário, no final do período neoliberal o risco país estava em estratosféricos 2.500 pontos e nossos papéis tinham classificação B+, quatro degraus abaixo do grau de investimento. Na época, nossos títulos eram pouco mais que lixo. E não o eram por causa do “efeito PT”, como dizem os críticos, pois, durante toda a gestão tucana, os títulos da nossa dívida jamais estiveram próximos do grau de investimento obtido nos governos do PT.

Em segundo, é necessário considerar que a agência referida muitas vezes não fez julgamentos isentos e precisos. Na realidade, a agência em questão têm um histórico de erros grosseiros. Em fevereiro deste ano, a Standard and Poor´s foi obrigada, pela justiça dos EUA, a pagar multa e indenizações no valor de US$ 1,5 bilhão ao Departamento de Justiça norte-americano e a 19 estados daquele país, por sua ação desastrada no movimento especulativo que deflagrou a atual grande crise mundial.

Com efeito, pouco antes do estouro da bolha especulativa, a Standard and Poor´s, ignorando as evidências, classificava papéis do mercado subprime, inclusive os do Lehmann Brothers, como de baixo risco.

No julgamento, a agência foi forçada a admitir que as suas “análises” desses títulos foram afetadas por suas “preocupações comerciais”. O Attorney GeneralEric Holder foi, entretanto, mais direto. Afirmou: “embora essa estratégia da S&P tenha evitado desapontar seus clientes, ela causou graves danos à economia, contribuindo para a deflagração da pior crise financeira desde a Grande Depressão”.

Portanto, é indispensável tomar com muito cuidado quaisquer decisões de agências que estão comprovadamente comprometidas com os interesses especulativos de grandes investidores internacionais.

Em terceiro, não se pode dissociar, como faz maliciosamente a mídia oposicionista, as dificuldades econômicas atuais do Brasil dessa grande crise mundial, para a qual a S&P contribuiu de forma decisiva. A crise atual, muito mais longa, profunda e extensa que as crises periféricas enfrentadas pelos atuais críticos, se agravou com o fim do ciclo das commodities e, agora, se abate pesadamente sobre os países emergentes.

Na época em que mandavam os críticos de hoje, as crises tinham denominação geográfica: crise da Rússia, do México, da Argentina, da Ásia, etc. Hoje, trata-se, de fato, de uma grande crise mundial, que afeta, em maior ou menor grau, todos os países. Até mesmo o gigante chinês, moderna locomotiva econômica internacional, vem sendo afetado pela crise.

No ano passado, mais de 80% dos países do mundo teriam apresentado déficits orçamentários, alguns bem mais sérios que o apresentado pelo Brasil. A bem da verdade, boa parte dos países desenvolvidos está em situação muito pior que o Brasil, com déficits orçamentários mais volumosos que o brasileiro e indicadores gerais bem mais deteriorados.

Mas, mesmo assim, muitos mantêm grau de investimento. Exemplo disso tem sido a classificação da República da Itália a quem a S&P concede grau de investimento, apesar de sua relação dívida/PIB manter-se acima de 130%, enquanto que essa relação no Brasil representa praticamente a metade desse percentual. Um mistério que a S&P não explica. Talvez para não afetar interesses de seus clientes, como fez em 2008.

De todo modo, no curto prazo, o rebaixamento dos títulos brasileiros poderá provocar elevação da taxa de câmbio, pela saída adicional de capitais estrangeiros; pressão por maior elevação da taxa de juros, devido ao aumento do risco de nossos papéis; queda nas bolsas nacionais, pela saída de investidores estrangeiros e redução da disponibilidade linhas de crédito para empresas brasileiras.

Muitos especuladores se aproveitarão desse rebaixamento, turbinado pela ação dos que desejam o “quanto pior melhor”, para obter lucros imediatos apostando contra o Brasil, em meio a um clima de pessimismo cuidadosamente gestado por motivos políticos menores.

Entretanto, o mercado já vinha se antecipando a esses movimentos especulativos. Desde a última avaliação, em 28/07 último, a S&P havia sinalizado o viés negativo da próxima avaliação e, portanto, já era de conhecimento do mercado a tendência dessa agência de risco reduzir a classificação dos títulos brasileiros, passando para o grau especulativo.

Nesse sentido, os agentes de mercado já vinham adotando, nos últimos meses, atitudes antecipatórias, como a saída gradual do mercado de ações, o fechamento antecipados de contratos de câmbio e a aplicação em títulos públicos, mediante taxas de juros mais elevadas.

Essas atitudes antecipatórias levaram a que o mercado já estivesse precificando os efeitos de uma eventual perda do grau de investimento, o que tende a minimizar os efeitos da decisão da S&P, após seu anúncio no dia de ontem.

Assim sendo, embora se prevejam alguns prejuízos de curto prazo, no médio prazo a nossa economia, que tem indicadores mais sólidos que a média dos países desenvolvidos, deverá absorver esse rebaixamento, e o governo continuará a tomar as medidas para voltar fazer o país crescer, distribuindo renda e oportunidades para todos.

Apesar da S&P, dos especuladores e dos que confessamente fazem oposição ao Brasil.

Diga-se de passagem, esses últimos afirmam, de forma irresponsável, que não cabe a eles contribuir para a solução das dificuldades atuais do Brasil. Com isso demonstram duas coisas: 1) não têm compromisso com o País e 2) não têm condições de governá-lo, pois, no fundo, não têm ideias e propostas a apresentar à Nação.

Por último, deve-se enfatizar que o principal fator para a demora na reversão das expectativas dos investidores, principal objetivo do ajuste, está no clima político deteriorado, acalentado por uma oposição que, como os especuladores financeiros, aposta contra o Brasil.

Mais que em eventuais déficits orçamentários, nosso problema maior está no déficit de compromisso com o Brasil e sua democracia.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

DIA 13 DE AGOSTO FOI O DIA DA SOBRECARGA DA TERRA.

A Terra é um planeta pequeno, velho, com a idade de 4,44 bihões de anos, com 6.400 km de raio e 40.000 km de circunferência. Há 3,8 bilhões de anos surgiu nele todo tipo de vida e há cerca 7 milhões, um ser consciente e inteligente, altamente ativo e ameaçador: o ser humano. O preocupante é o fato de que a Terra já não possui reservas suficientes em sua dispensa para fornecer alimentos e água para seus habitantes. Sua biocapacidade está se enfraquecendo dia a dia.

O dia 13 de agosto foi o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshooting Day). É o que nos informou a Rede da Pegada Global (Global Footprint Network) que, junto com outras instituições como a WWF e o Living Planet acompanham sistematicamente o estado da Terra. A pegada ecológica humana (quanto de bens e serviços precisamos para viver) foi ultrapassada. As reservas da Terra se estão se esgotando e precisamos de 1,6 planeta para atender nossas necessidades sem ainda aquelas da grande comunidade de vida (fauna, flora, micro-organismos). Em palavras de nosso cotidiano: nosso cartão de crédito entrou no vermelho.

Até 1961 precisávamos apenas de 63% da Terra para atender as nossas demandas. Com o aumento da população e do consumo já em 1975 necessitávamos 97% da Terra. Em 1980 exigíamos 100,6%, a primeira Sobrecarga da pegada ecológica planetária. Em 2005 já atingíamos a cifra de 1,4 planeta. E atualmente em agosto de 2015 1,6 planeta.

Se hipoteticamente quiséssemos, dizem-nos biólogos e cosmólogos, universalizar o tipo de consumo que os países opulentos desfrutam, seriam necessários 5 planetas iguais ao atual, o que é absolutamente impossível além de irracional(cf. R. Barbault, Ecologia geral, 2011, p.418).

Para completar a análise cumpre referir a pesquisa feita por 18 cientistas sobre “Os limites planetários: um guia para o desenvolvimento humano num planeta em mutação” publicada na prestigiosa revista Science de janeiro de 2015 (bom resumo em IHU de 09/02/2015). Aí se elencam 9 fronteiras que não podem ser violadas, caso contrário, colocamos sob risco as bases da vida no planeta (mudanças climáticas; extinção de espécies; diminuição da camada de ozônio; acidificação dos oceanos; erosão dos ciclos de fósforo e nitrogênio; abusos no uso da terra como desmatamentos; escassez de água doce; concentração de partículas microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos; introdução de novos elementos radioativos, nanomateriais, micro-plásticos).

Quatro das 9 fronteiras foram ultrapassadas mas duas delas – a mudança climática e a extinção das espécies – que são fronteiras fundamentais, podem levar a civilização a um colapso. Foi o que concluiram os 18 cientistas.

Tal dado coloca em xeque o modelo vigente de análise da economia da sociedade mundial e nacional, medida pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Este implica uma profunda intervenção nos ritmos da natureza e a exploração dos bens e serviços dos ecosistemas em vista da acumulação e com isso do aumento do PIB. Este modelo é uma falácia pois não considera o tremendo estresse a que submete todos os serviços ecossistêmicos globais que garantem a continuidade da vida e de nossa civilização. De forma irresponsável e irracional considera tal fato, com suas graves consequências, como “externalidades”, vale dizer, fatores que não entram na contabilidade nacional e internacional das empresas.

E assim gaiamente vamos ao encontro de um abismo que se abre logo aí à nossa frente. Curiosamente, nas discussões sobre temas econômicos que se organizam semanalmente nas TVs ( por exemplo, o Painel da Globoniews, aos sábados e domingos) nunca ou quase nunca se faz referência aos limites ecosistêmicos da Terra. Com raras exceções, os economistas parecem cegos e cegados pelas cifras do PIB, reféns de um paradigma velho e reducionista de analisar a economia concreta que temos. Se todas as fronteiras forem violadas, como tudo parece indicar, que acontecerá com a Terra viva e a Humanidade? Temos que mudar nossos hábitos de consumo, as formas de produção e de distribuição como não se cansa de repisar o Papa Francisco e ausente nos analistas de O Globo que sequer fazem uma referência a um tema tão fundamental. Mal imaginam que podemos conhecer um “armagedom” ecológico-social sem precedentes.

Imaginemos o planeta Terra como uma avião de carreira. Possui limites de alimentos, de água e de combustível. 1% viaja na primeira classe; 5% na executiva e os 95% na classe econômica ou junto às baguagens num frio aterrador. Chega um momento em que todos os recursos se esgotam. O avião fatalmente se precipita, vitimando todos e de todas classes.

Queremos este destino para a nossa única Casa Comum e para nós mesmos? Não temos alternativa: ou mudamos nossos hábitos ou lentamente definharemos como os habitantes da ilha de Páscoa até restarem apenas alguns representantes, talvez invejando quem morreu antes. Efetivamente, não fomos chamados à existência para conhecermos um fim tão trágico. Seguramente “o Senhor, soberano amante da vida”(Sab 11,26) não o permitirá. Não será por um milagre mas pela nossa mudança de hábitos e pela cooperação de todos.


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A IMPRENSA MUNDIAL PUBLICA EM MANCHETES O QUE A BRASILEIRA ESCONDE

 

No Brasil a grande imprensa sempre esteve do lado das elites. Esta é a dura e triste realidade da história deste país no último século. O que O PT deve pode fazer para mudar esta situação?

A direção do grupo Globo retrocedeu em relação à campanha de impeachment da presidenta Dilma, acompanhando vozes de líderes da elite brasileira que pregaram o diálogo em busca do melhor para o Brasil.

Se esqueceram, no entanto, de explicar para seus editores e jornalistas qual era exatamente o teor da proposta. De qualquer maneira, essa não seria uma missão fácil, uma vez que todos sabem que o grupo não mudou, nem mudaria de lado assim repentinamente.
 Ficaria difícil explicar que João Roberto Marinho só disse que Dilma deveria permanecer até 2018 porque foi lembrado que se continuassem a colocar lenha na fogueira e o circo pegasse fogo a coisa poderia ficar sem controle, e uma vez instalado o caos, a possibilidade de sucumbirem junto não era pequena.

Não pregar o impeachment abertamente é uma coisa. Continuar criticando e serem tendenciosos na cobertura de acusações envolvendo políticos de oposição e principalmente o senador Aécio Neves, ai é outra coisa bem diferente. É isso que fazem.

Enquanto agências internacionais, jornais e mídias dos cinco continentes estampam em manchetes que o candidato derrotado das últimas eleições, Aécio Neves, é suspeito de corrupção, e denunciado por Alberto Youssef, no Brasil as informações são discretas e dadas em páginas internas, e nos meios eletrônicos desaparecem rápida e misteriosamente.

Ao contrário do que prega a mídia familiar brasileira, o Brasil é um país de imenso potencial de crescimento, membro dos Brics e com todas as condições de vencer este momento de crise internacional.

Exatamente por isso que os olhos do mundo estão voltados para nós. Nossa situação econômica e política – uma influenciando a outra – interessam ao planeta.

No mundo, as manchetes são claras e as matérias completas com os pingos nos is.

Na Inglaterra, a agência Reuters afirma em manchete que Youssef testemunha que candidato à presidência recebeu suborno (Brazil money launderer testifies former presidential candidate took bribe).

Na Espanha, a Europa Press afirma: Testemunha contra Aécio Neves: Condenado por lavagem de dinheiro acusa Aécio de receber subornos (Testifica contra Aécio Neves: Condenado por lavado de dinero en Brasil acusa a Aécio Neves de recibir sobornos).

Da Argentina o jornal Clarín escreve, Petrobras: afirmam que o líder da oposição Aécio Neves recebeu propinas ( Petrobras: afirman que el líder opositor Aécio Neves recibió coimas).

O americano The New York Times, e o Business Insider coincidiram na manchete :Autor de lavagem de dinheiro brasileiro testemunha que candidato presidencial recebeu propina ( Brazil Money Launderer Testifies Former Presidential Candidate Took Bribe).

Da Rússia, o Sputnik News estampou na seção latina, O líder da oposição no Brasil também foi acusado de corrupção (El líder de la oposición en Brasil también fue acusado de corrupción).

No Brasil, no entanto, quem liga a tevê, lê o jornal, ou os veículos de comunicação do grupo Globo ou outro da mídia familiar, não vê grandes mudanças. As críticas são as mesmas e a culpa é sempre do PT e da Dilma, pela corrupção, pela crise econômica, etc.

O que podemos fazer para mudar isso ? É necessário organizar a sociedade, mas antes de mais nada reorganizar, recriar o Partido dos Trabalhadores.

Se o PT pretende se reinventar, terá que abandonar a postura altiva onde se encontra hoje e voltar a pisar o mesmo chão do povo brasileiro.

Esse povo que hoje tem mais carros, mais celulares, mais filhos nas universidades, mas nem tanto a consciência crítica, e organização social e política necessárias para garantir a manutenção das conquistas dos últimos 12 anos de governos petistas.

Essa tarefa de nos refundar e liderar os movimentos sociais e os trabalhadores pela manutenção e radicalização da democracia no Brasil é nossa. Não podemos e não vamos, espero, nos furtar a ela.

domingo, 6 de setembro de 2015

O MERCADO NÃO DEVERIA SER TÃO PODEROSO.

Enquanto a economia mundial afunda em níveis preocupantes, trazendo enormes sacrifícios para todas as nações, continuamos a caminhar sob as ordens do Todo-Poderoso mercado.

Soberano e temível, sua onipotência é inquestionável. Surpreende como em nosso noticiário corporativo nenhum analista econômico ousa confrontá-lo, apesar da evidente piora no cenário mundial depois de sua beatificação por um sistema que só faz aumentar a concentração de renda.

De acordo com o fundamentalismo econômico que varreu o mundo, quem melhor atender aos sinais do mercado terá uma travessia de crise menos traumática.

Porém, está cada vez mais difícil para o ‘Deus Mercado’ esconder sua verdadeira vocação: a total indiferença ao destino da humanidade. Populações inteiras são lançadas à própria sorte em troca do bem-estar de uma entidade que só tem olhos para si.

Louvado e aclamado como o grande condutor da economia mundial, “Sua Santidade” tem como prioridade atender o sistema financeiro. O ser humano é mero detalhe nessa engrenagem.

O recente crash nas bolsas e a agonia por que passam as principais economias mundiais dão sinais de que o pior pode não ter ficado lá em 2008. Agora, os analistas financeiros projetam uma recessão ainda maior que dos anos 30.

Quer dizer, a lenga-lenga do noticiário dos últimos anos, de que eram necessários certos ajustes para a economia mundial retomar o crescimento, foi uma grande empulhação.

E a cantilena não cessa. Por aqui fomos obrigados a acreditar que sem o tal ajuste não havia salvação. Depois de meses tomando o remédio amargo que restabeleceria a confiança do mercado, trazendo investimento e retomada de crescimento, o quadro ficou ainda mais crítico.

Essa política restritiva nunca funcionou. Todos que seguiram a cartilha liberal à risca estão ainda mais encrencados. O melhor exemplo é a Europa. Para 2015, o déficit público da Zona do Euro será de 2,3% do PIB.

Para quem acaba de anunciar um déficit de 0,5%, resta-nos pressionar a presidente Dilma para que fuja o quanto antes dessa mesmice de governar e tomar decisões olhando prioritariamente para o mercado.

Ainda mais para quem só retribui com ingratidão. E quanto mais Dilma cede, menor é seu espaço de atuação para sair desse atoleiro.

Sob a tutela do ‘Deus Mercado’, o mundo tem vivido de crise em crise. Abandonamos o capitalismo clássico, baseado na produção e comércio, por uma globalização financeira que só traz instabilidade mundo afora.

E pensar que o velho capitalismo selvagem traria saudades!

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

HISTERIA CONTRA A CPMF, MOSTRA O QUE É A ELITE BRASILEIRA..

Tinha acabado de ler um ótimo artigo do professor Venício Lima, no qual ele discorre sobre como uma boa parte da mídia abdicou de fazer jornalismo em nome da militância oposicionista, quando deparo com o conhecido movimento de manada dessa mídia atacando a intenção do governo de enviar para o Congresso Nacional uma proposta orçamentária explicitamente deficitária.

Isso depois de o governo ter desistido de recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF), diante da gritaria que reuniu os endinheirados do país e seus porta-vozes na imprensa corporativa e monopolista. Então, ficamos combinados assim: com o agravamento da crise internacional, que se reflete em todas as economias globalizadas, o governo está proibido de aumentar suas receitas para fazer frente às sérias dificuldades fiscais, mas também apanha se assume o déficit orçamentário.

O que é isso senão a abdicação do jornalismo em favor do ativismo político? Fica claro o esforço para impedir que seus ainda renitentes leitores, ouvintes e telespectadores reflitam de forma minimamente crítica sobre as coisas. O truque é simples: através de uma expressão forte e simplista, mas de grande apelo, como a "ameaça de aumento da carga tributária", dissemina-se o temor de que o Leão prepara mais uma ataque impiedoso ao bolso dos brasileiros.

Se o interesse público não passasse ao largo das redações do PIG, a narrativa sobre a CPMF seria outra. Seria obrigatório refrescar a memória das pessoas, lembrando que a CPMF foi criada pelo governo de FHC através da Lei nº 9.331 de 24 de outubro de 1996 e vigorou até 2007, quando o Senado, por 45 votos a 34, pôs fim à contribuição.

Informaria também que sua última alíquota foi de 0,38%, ou seja, R$ 3,80 a cada cheque de mil reais emitido. Tipo de imposto progressivo, portanto, que poupa os pobres enquanto cobra uma quantia irrisória dos mais afortunados, que está longe de lhes fazer falta.

E o mais importante : trata-se de um poderoso instrumento de combate à sonegação, já que a retenção da CPMF deixa rastros inapagáveis da movimentação do dinheiro. Os críticos da CPMF batem na tecla do desvio de finalidade para execrá-la, pois foi criada para financiar a saúde, mas acabou também usada para outros fins. Aqui verifica-se o caso típico de se jogar a criança fora junto com a água da bacia. É evidente que desvios se coíbem com o aumento da fiscalização por parte dos órgãos de controle.

O debate sobre a natimorta CPMF relegou a segundo plano o fato de que o governo propunha uma alíquota bem menor, algo em torno de 0,20%, e que estados e municípios também teriam seu quinhão. Estudiosos da questão da saúde pública no Brasil são praticamente unânimes em apontar seu subfinanciamento como o maior desafio a ser superado. Saúde custa caro aqui ou em qualquer lugar do planeta.

E, no caso do Brasil, que ergueu o maior sistema público de saúde do mundo, o SUS, é urgente uma dotação de recursos maior por parte do Estado. Só assim um dia atingiremos a meta da universalização do atendimento de qualidade. A sociedade, portanto, está com a palavra : ou encara de frente o problema do financiamento da saúde, vital para o fortalecimento do SUS, ou a saúde jamais terá solução no nosso país.

Sei que é pedir demais para uma elite campeã em sonegação que se sensibilize com o drama dos que não podem pagar por um plano médico. Sei também que esses argumentos de pouco ou nada valem para quem acha que só porque paga impostos está desobrigado de pensar nos menos favorecidos e que é tudo culpa dos governos que gastam mal os recursos públicos. Contudo, os defensores da saúde universalizada e de qualidade sabem que a situação atual só será revertida com uma luta de longo prazo em defesa dos valores do SUS.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

BÊBADOS AGINDO COMO BÊBADOS

Sabe aquele sujeito que enche as pessoas de cachaça numa festa e depois reclama que elas se comportaram como bêbabas?

É Aécio falando do advogado desvairado que gravou um vídeo no qual ameaça Dilma de morte.

Desde que perdeu as eleições Aécio vem distribuindo cachaça a analfabetos políticos e desvairados em geral com sua patética inconformidade em aceitar que foi batido nas urnas.

E agora mostra espanto, finge indignação?

O envenenamento do ambiente político pós-eleições, a divisão crescentemente explosiva entre brasileiros – tudo isso deve muito a Aécio com seu comportamento de Presidente de Manicômio.

Desde o começo ele insuflou os antipetistas, os antibolivarianos, os anticomunistas e os idiotas em geral com a mentira de que as eleições foram roubadas.

Até as urnas eletrônicas foram colocadas em questão.

É cachaça e mais cachaça para a tigrada, e agora Aécio se surpreende com o vídeo criminoso de um filiado do PSDB?

Mesmo o moderado Alckmin, que concedeu chamar Dilma de “presidenta”, deu agora para falar que o PT é uma “praga”. Isso foi repercutir do blogueiro da Globo Noblat, que num de seus frequentes momentos de desvario patronal escreveu que é preciso jogar “pesticida” no governo.

Aécio herdou o sobrenome, mas não a maior virtude de seu avô Tancredo, um conciliador de enorme talento.

Já caminhando para os 60 anos, fato que procura disfarçar com botox, implante de cabelo e embranquecimento de dentes, age como um adolescente irresponsável, com a cumplicidade sinistra do octogenário FHC.

Quer ser presidente?

Faça algo que nunca fez: vá trabalhar. Percorra o Brasil, os rincões nacionais, e não só as praias e bares cariocas. Mostre aos eleitores humildes, os 99%, que pode melhorar sua vida e, com isso, reduzir a vergonhosa desigualdade social que enlameia o Brasil.

Talvez obtenha votos.

Mas em vez disso ele dá cachaça à turma numa festa de desequilibrados, e depois parece surpreender-se com o fato de que os bêbados agem como bêbados.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

QUEM TEM MEDO DA CPMF?

Bastou o governo anunciar a intenção de retomar a proposta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CMPF) para que chovesse uma quantidade de afirmações da disposição de rejeitar a retomada do imposto sobre o cheque. Desde dirigentes do parlamento, que geram novos e exorbitantes gastos do governo, mas querem aparecer demagogicamente, como os que defendem a população contra novos impostos. Passando por grandes empresários, conhecidos pela sonegação de impostos, que querem fazer passar a ideia de que iniciativas como essa dificultariam a retomada dos investimentos. Chegando ao useiros ventríloquos na mídia, com seu discurso pronto contra qualquer iniciativa de democratização tributária.

Por que eles têm medo de um imposto direto, que recai sobre quem gasta mais? Por que rejeitam um imposto que não pode ser sonegado? Por que não aceitam um imposto que retira recursos de quem ganha mais para financiar o mais democrático sistema de saúde pública do mundo?

Porque eles se atendem nos planos privados de saúde. Porque eles sonegam impostos. Porque eles preferem impostos indiretos, em que os pobres e os ricos pagam a mesma quantia.

Se sabia que a reação desses setores seria dura. Sempre foi. O anúncio não foi o mais hábil, porque foi invertida a lógica: primeiro se deveria fazer o que faz o ministro da Saúde: mostrar as necessidades de financiamento do sistema público de saúde. E aí apontar como a CPMF é a forma mais democrática de financiá-lo.

A direita e seus porta-vozes economicistas sempre se valem do isolamento das cifras econômicas do seu sentido social. Mais imposto? Não? Sem mencionar a que necessidade responderia o novo tributo.

Temos que inverter o procedimento: enunciar as necessidades que precisam ser cobertas, explicar como é falso o raciocínio de que se paga excessiva quantidade de impostos no Brasil, explicar o caráter democrático e redistributivo de um imposto como a CPMF, pelo qual quem tem mais transfere recursos para financiar o sistema publico de saúde, o SUS, que atende a toda a população.

Não será possível restaurar a CPMF – que foi eliminada pela aliança espúria da direita, do centro e da ultra-esquerda (recordar a cena imoral de Heloísa Helena, então presidente do Psol, comemorando com a direita, a derrota a tentativa do governo de dar continuidade ao imposto que financia o sistema publico de saúde) – sem um grande trabalho de convencimento prévio de amplos setores da população e do próprio parlamento.

Mas, ao mesmo tempo, o Sistema Único de Saúde (SUS) será duramente afetado se não conseguirmos essa ou outra via de conseguir os financiamentos que o sistema necessita. Democratizar é desmercantilizar, é colocar na esfera pública o que hoje está na esfera mercantil. Transformar em direito o que hoje é mercadoria.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

CHEGOU AO FIM

Tudo começou quando a direita percebeu, mais uma vez, que não tinha votos suficientes para derrotar Dilma em 2014.
Ardilosos, tentaram então deslegitimar os votos que nunca teriam:
Quem recebe bolsa família não deve votar, alegaram, enquanto faziam contas.
Computaram e acharam que ainda lhes faltavam votos. então, ampliaram a canalhice: também não deveriam votar os que se beneficiam das cotas nas universidades, quem conseguiu comprar uma casa própria pelo Minha Casa Minha Vida, quem foi atendido pelo Mais Médicos...
Refizeram as contas e ainda lhes faltavam votos. então, passaram a tentar constranger os que não votavam neles.
Que os votos dos nordestinos não tinham valor porque, bovinos, nordestinos não sabiam votar; a não ser os que por acaso votavam na direita.
Feito os ajustes, tudo com a força e a farsa da grande imprensa, o PSDB se viu como um cachorro que cai da mudança, sem rumo, sem norte e nem nordeste, preso ao sudeste e a uma elite desmiolada e midiotizada.
Amálgama da massa cheirosa, elitistas, sem liderança popular, sem projeto de Brasil para o futuro, sem carisma (vide Serra e FHC) e sem caráter (vide Aécio e Sampaio).
Perceberam, tarde demais, que tudo o que sempre tiveram foi uma mídia amiga.
São tão frágeis que uma simples menção a um aeroporto construído nas terras da família do tucano, para benefício próprio, comprometeu seriamente sua candidatura.
Não foram reportagens, esmiuçamentos, escarafunchações, foi uma nota na Folha e uma pergunta de Bonner.
Pronto, o candidato perdeu o equilíbrio emocional ao sair de sua zona de conforto e nunca mais retomou a sanidade.
Após perder a quarta eleição presidencial seguida, o tucanato, os inocentes úteis midiotizados e seus colegas midiosos, fizeram como o Fluminense, partiram para o tapetão.
Covardes, se apoiaram na figura minúscula do Pequeno Kim e dos Retardados Online.

Bisonhamente, queriam sair do xeque-mate enchendo o tabuleiro de piões.
Começaram pedindo a recontagem dos votos, quem não se lembra? queriam auditar as urnas.
Deram com os burros n'água.
Aí partiram para o impugnação da candidatura, entrou grana suja na conta da presidenta e tal.
O TSE pediu para que tirassem o cavalinho da chuva.
Impeachment, gritaram em coro nas varandas gourmetizadas.
Ela é corrupta, gritaram garotões com fardamento da CBF; ela é assassina, batiam panelas as senhoras anacrônicas a pedir a morte da presidenta;
Ela não tem marido e é contra família, diziam umas jovens peladas, entre uma pose e outra, a exibir as cirurgias plásticas pelas avenidas.Não há nada contra ela, as investigações a inocentam, não se pode impedi-la de governar sem provas concretas de cometimento de crimes.
Parem de relinchar, alegaram os legalistas.

Aí, cansada de micar, a mídia pulou fora. cansados da brincadeira com coisa séria, empresários e banqueiros desautorizaram o golpe.
Até a imprensa internacional se cansou dos patetas patéticos.
Mas, obcecados pelo poder, ele insistiram até o fim.

FHC, córvicamente, pediu para a presidenta renunciar, no que foi copiado por seus papagaios.

Dilma respondeu: nem que a vaca tussa.
Agora, ato final, num descarado e abjeto desespero, Noblat sugere que ela se suicide.
Ao que ela responderá, nem morta!
O clima é de fim de feira.
Os que gritavam contra a corrupção saem do embate sujos de lama, Cunha pode pegar mais de um século de cadeia.
Tucanos históricos demonstram, publicamente, sentir vergonha do que Aécio fez com o partido.
Segunda-feira, seis da manhã, em um quiosque na praia de Ipanema, curando a ressaca com uma água de coco geladíssima, Aécio houve uma canção, alegro ma non troppo:

"é pau, é pedra, é o fim do caminho..."

palavra da salvação.