sexta-feira, 31 de agosto de 2018

QUEM AMA, CUIDA.

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O espaço é amplo, se parece com um campo aberto. Árvores e arbustos dividem e harmonizam o mesmo solo, dando a impressão de um cartão postal, em alguns momentos. Os pássaros sobrevoam o gramado, em busca de insetos e de outros alimentos. Em alguns dias é necessário reforçar o milho quebrado e o alpiste: então, as aves fazem verdadeiras festas. Algumas espécies se ocupam em espantar os demais. Pensando bem, a convivência entre os diferentes sempre necessita ser retocada. Aparar arestas é uma atividade que desconhece fim. Se entre os demais seres criados cenas de exclusão se sucedem, o que pensar dos humanos, que ainda se distanciam por causa da nacionalidade, da cor da pele, da classe social?! A fraternidade universal é um sonho que jamais poderá ser deixado de sonhar. São muitos os laços que necessitam ser entrelaçados. A tarefa é árdua. Ainda bem que o amor é capaz de verdadeiros milagres.

Dias atrás, caminhando pelo gramado, percebi que os quero-quero estavam agitados e incomodados com minha presença. Além de sonoros ruídos, revoavam insistentemente, dando a impressão de que eu seria um invasor de território. Andei mais uns passos e, então, percebi que havia um ninho com ovos. Para me proteger, tomei distância e acompanhei a calmaria que, aos poucos, se restabeleceu. Os quero-quero não querem ninguém por perto, durante o período que os ovos são chocados. Se agora estão assim armados e coesos, ao ponto de formarem um verdadeiro exército, imagem depois do nascimento dos filhotes. Por uns instantes recordei que o cuidado, presente em todas as espécies, não deixou de existir, a preservação da espécie ainda passa pela proteção. Os quero-quero se impõem, não aceitam intrusos, cuidam das novas vidas que estão sendo geradas.

Os humanos podem e devem aprender com os demais seres do planeta, a grande lição da proteção. Infelizmente, nem todos os pais cuidam de seus filhos, nem todas as famílias protegem seus idosos, nem todos os irmãos permanecem lado a lado daqueles que possuem o mesmo sangue, nem todos os amigos estendem a mão, quando o outro necessita. A humanidade evoluiu, a tecnologia é fantástica, as melhorias são contínuas. No entanto, ainda há gente perambulando pelas ruas, crianças sem colo, idosos sem carinho, mesas sem pão. O amor tem se apresentado escasso em alguns ambientes. A solidão continua machucando corações, que não merecem sofrer tanto assim. Os dias estão passando: não sei quando os filhotes de quero-quero vão quebrar a casca e dar os primeiros passos. Tenho ficado à distância. Afinal, mesmo não tendo nenhum papel assinado e carimbado, aquele espaço pertence ao bando de quero-quero que há tempo sobrevoa as redondezas. Toda vez que enxergo um quero-quero ou ouço o seu cantar, recordo algo muito simples: quem ama cuida!
         

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

FÁCIL ASSIM: É SÓ APERTAR O BOTÃO.

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Vejo na TV reportagem que detalha a última providência que as autoridades do Rio de Janeiro tomaram para reduzir a violência na cidade; instalar um “botão de pânico” nos ônibus. Assim, em caso de assalto, agressão ou outro tipo de violência, o motorista aperta o botão (o do pânico...) e, pronto, tudo resolvido.

Recentemente, a prefeitura de BH apresentou aos participantes do “Fórum Mineiro Urbanístico Ambiental” revolucionária proposta para minorar os problemas do trânsito caótico da Capital: Proibir a construção de mais de uma vaga de garagem nas novas moradias.

Já imagino um motorista com uma ponto 40 na cabeça, levando o dedo ao painel em busca do botão salvador enquanto acontece uma passeata dos Sem-Garagem bloqueando o trânsito na Praça 7.

Estou ficando maluco, ou essas medidas seriam destaque numa edição atualizada do FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País), do inesquecível Stanislaw Ponte Preta, que as novas gerações, tão distraídas, nem sabem de quem se trata?

Por essas e outras, muitas outras, penso que está havendo um divórcio cada vez mais litigioso entre nossas “autoridades” e as reais necessidades dos cidadãos. No mínimo, uma imensa inversão de valores, uma confusão e um desconhecimento total, por parte das mesmas autoridades, da diferença entre o essencial e o acidental.

A Copa do mundo, por exemplo, que invadiu definitivamente todos os canais de mídia, todas as campanhas publicitárias, todos os milionários minutos e segundos da publicidade. A Copa do Mundo é acidental. Acontece uma vez na vida e outra na morte, no país sede. Ele, o país, é o essencial. O seu povo, o seu presente e seu futuro, isso deveria estar no foco da nossa atenção.

Mas, não. O que vemos? O que temos? Belíssimos estádios, construídos ou reformados, prontinhos, bem equipados, modernos, coisa de primeiro mundo. Só faltou construir ou reformar o país ao redor deles.

Quando, há diversos anos, foi anunciado que sediaríamos a Copa, me entusiasmei. O Brasil, que sempre ouvi dizer que era o país de um futuro que nunca chegava, agora tinha data. Teríamos a chance de um upgrade que daria sentido à aventura de bancar eventos globais, como a Copa e as Olimpíadas, mas falhamos toscamente.

Estádios atendem 50, 60 mil pessoas. Por causa delas, em dias de jogos, vamos parar toda uma cidade, paralisar todo um país. As imagens que irão para o mundo, de dentro dos estádios, serão de primeiro mundo, em HD. Mas, e na periferia da Copa...?

Mais da metade das obras de infraestrutura, o tal “legado da Copa”, ficaram apenas nos projetos ou virou maquiagem. Acertamos no acidental e pisamos na bola no essencial.

Os interventores da FIFA devem estar rindo a toa por conta da conta que nós, brasileiros, já estamos pagando. Afinal, a FIFA e seus “parceiros” não tem do que reclamar. Esta é a Copa de maior lucratividade de todos os tempos. Além da venda de ingressos, a ponta do iceberg, uma montanha de dinheiro é erguida e foi rateada entre esses seletos parceiros. Na Copa no Brasil, a previsão de faturamento da FIFA era de US$ 2,7 bilhões. Graças à Lei da FIFA, patrocinadores como McDonald’s, Visa, Samsung e Coca-Cola foram favorecidos com isenção fiscal por uma ano. Empresas ligadas ao torneio, via contratos com a FIFA (mais dinheiro) venderam suas mercadorias no Brasil sem pagar imposto por isso e ainda impedindo que as concorrentes nacionais localizadas próximas aos estádios fizessem seus próprios negócios.

Segundo pesquisas, 70% dos produtos populares ligados à Copa do Mundo evieram direto da China, inclusive bandeiras do Brasil. Ou seja, os propalados empregos diretos foram gerados, sim, mas do outro lado do mundo.

E não podemos nos esquecer de que só a venda dos direitos televisivos dos jogos seria suficiente para pagar integralmente todos os custos da Copa. E nós, preocupados em prender o bombeiro cambista “denunciado” pelo Fantástico...

A estrutura estabelecida entre a FIFA e a CBF, herdada da era Ricardo Teixeira e seu sogro, João Havelange, e continuada pelo falecido Zé das Medalhas Maria Marim, pode ser comparada a de um verdadeiro e eficiente crime organizado diante do qual os poderes constituídos do país, no caso, o Brasil, se veem paralisados. Executivo, Legislativo e Judiciário, no Brasil estão sob intervenção de um poder que nem é estrangeiro, é multinacional, joga nas onze e ganha em todas.

Mas, apesar de tudo, a bola rolou , e na falta do pão da Educação, da Saúde, da Segurança e do Transporte Públicos, circo não faltou.

Mas já tenho a minha, a nossa vingança planejada contra a FIFA. Ensaiamos na Copa das Confederações. A FIFA corta a execução do nosso Hino pela metade. É grande demais, gasta tempo e time is money! Mas os nossos heróis, abraçados, emocionados e louvados pelo Galvão, vão à forra por nós, os ausentes, os sem-ingresso, os barrados no baile: cantam o hino até o final!

Será o suficiente...

Apertar o botão, proibir garagem, cantar o Hino até o final, ganhar o Hexa...?

Com a palavra o cidadão torcedor e eleitor...

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

SOMOS ANJOS & DEMÔNIOS

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Já disse aqui da minha perplexidade diante das brutalidades que são exibidas com alarde e destaque no noticiário do Rádio, da TV, dos Jornais, da grande mídia em geral, garantindo a audiência dos Datenas da vida, elegendo políticos oportunistas e injetando a dose diária de violência nas veias da plateia dependente, sedenta de sangue.
Sempre me pergunto sobre a origem dessa nossa curiosidade mórbida em torno do mal. No noticiário da TV, por exemplo, desde os programas mundo cão, tipo Brasil Urgente, da Band, ou o Linha Direta, da Record, até os mais comportados, como o Jornal Nacional, da Globo, o que vemos é um desfile diário de acidentes, tragédias, assassinatos, corrupção, balas perdidas, corpos encontrados, câmeras escondidas captando gravando e colocando dentro da nossa casa, dentro da nossa alma, o que de pior a espécie humana é capaz de cometer e produzir.
Seremos isso, um lixo civilizatório, um fracasso da evolução, um equívoco de Deus?

O ser humano é uma equação ainda não resolvida: cloaca de perversidade para usar uma expressão de Pascal e ao mesmo tempo irradiação de bondade de uma Irmã Dulce na Bahia que aliviava os padecimentos dos mais miseráveis. Ambas as realidades cabem dentro desse ser misterioso – o ser humano – que sem deixar de ser humano ainda pode ser desumano.
Temos que completar ainda o salto da barbárie para a plena humanidade. A situação violenta do mundo atual, também contra a Mãe Terra, nos deixa apreensivos sobre a possibilidade de um desfecho feliz deste salto. Só mesmo um Deus nos poderá humanizar. Ele até tentou, mas acabou na cruz. Mas um dos significados da ressurreição é nos dar a esperança que ainda é possível.
Mas para isso precisamos crer e esperar”.

Lúcido e brilhante, sensível e real, Leonardo Boff em seus textos acalma, um pouco, os nossos medos, mas alerta; há, dentro de cada um de nós, um anjo e um demônio. E temos liberdade para escolher. Lembram da fábula oriental? “O mestre diz ao discípulo: dentro de nós há dois cães em permanente luta. Um é dócil, bondoso, amoroso. O outro é violento, cruel, raivoso. E o discípulo pergunta: qual deles vai ganhar a batalha? E o mestre responde: aquele a quem eu alimentar...”.
Podemos ser anjos uns para os outros. Para isso fomos criados. Mas, no exercício da nossa liberdade, podemos trilhar o caminho oposto, Somos convidados e consagrados ao cuidado do irmão, a começar dos mais necessitados, os preferidos de Deus. É o que há de mais divino e angelical em nós: a capacidade, o desejo de amar e ser amado. Mas o egoísmo é possibilidade real, onipresente, sedutora.
Buscar o Bem, exercitar a bondade em nós e transbordá-la à nossa volta. A ação se encontrando com a vocação, ‘contaminando’ de amor um cotidiano marcado pelas cicatrizes deixadas pelo Mal.
Em nós mora o desejo do outro, da relação, do encontro amoroso, fraternal, que resgata a dignidade humana e nos aproxima do divino. Somos anjos humanos e nossas asas são este desejo de felicidade, paz, justiça. Desejo que nos faz abandonar o solo, onde rasteja a nossa desumanidade, e nos possibilita, ao amar, voar..

terça-feira, 28 de agosto de 2018

DANDO COR A SOLIDÃO

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Vou me perder até que eu possa achar maneiras de lidar com minha solidão. “Minha” porque sei que é a que sinto, que me tolhe, me põe de joelhos diante do que não consigo entender, nem direcionar. Só (sentir-me sozinho) (lidar com essa imensidão). Enfim, imensidão de me sentir só, até que eu possa olhar para o alto e para dentro e me amparar.

No meio de lindas e produzidas fotos, festas, gente rindo, brincando... olhei para a solidão que vai embalada dentro de mim e do outro. São muitas as pessoas que vivem essa solidão e tentam camuflá-la. Essa solidão disfarçada está ali, no casulo dentro do indivíduo, à procura por acolhida ou por alguém que compreenda o que está sendo sentido e, assim, ajude a achar o caminho para acalmar esse sentimento. Nessas comemorações, não há brinde, na verdade não há com quem brindar. Mas há anseio por vida, por liberdade, por compreensão e principalmente pelo resgate da esperança.

Passar por dentro da solidão e compreender como lidar com ela e como colori-la é perceber que existem maneiras de deixá-la mais aconchegante, mais serena, menos dura ou invasiva.

Acredito que as melhores palavras para expressar o oposto de solidão sejam: amigo, família, compreensão, serenidade, entre outras que dão sentido ao nosso viver.

Nas estradas frias da alma inquieto procuro em mim a inteireza e maneiras de lidar com o sentir-me só. Procuro, sem descanso, o aconchego da alma. Sabendo que colorir é viver, é enxergar diferente, é recordar, é amar, é ver e sentir com novo olhar. É a fagulha de vida que vem iluminar. A música que plenifica meus sentidos faz-me ir ao encontro de mim mesmo, amparando toda a solidão sentida naquele momento.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

UMA SELEÇÃO DE VERBETES

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Não, não vou começar mais um daqueles discursos de facebook espinafrando o Brasil e o brasileiro. Aliás, está rolando na rede uma montagem que faz isso com mais competência.

Confira em : http://www.revistaforum.com.br/2016/01/05/a-sujeira-do-reveillon-nos-eua-a-de-copacabana-e-nosso-eterno-complexo-de-vira-latas/

Quero, aqui, destacar um aspecto da crise que vem produzindo um dicionário mais curioso e confuso que aquele gerado pela polêmica reforma ortográfica dos países de língua portuguesa. Os verbetes selecionados nesse presente dicionário podem ajudar algum ET que aterrisse no nosso planalto central a entender o Brasil e os brasileiros.

À cada acusação, “eivada” de provas, o acusado deve responder: são “ilações”.

Advogados pagos a peso de ouro pontificam: há “inconsistências” no processo.

Conta secreta na Suiça virou “offshore” ou “trust”.

Propina é “pixuleco”.

Formação de quadrilha é “aliança entre partidos”.

Financiamento de campanha é “caixa dois ou troca troca”.

Dedoduragem é “delação premiada”.

Dar o cano na praça é “pedalada fiscal” (queria dar uma no meu IPTU e no IPVA).

Passear de avião por conta do contribuinte (tucano adora) é “viagem de interesse público”, mesmo se for para fazer uma reforma na peruca ou passar carnaval e réveillon no Rio de Janeiro.

Assalto ao bolso do cidadão é “ajuste fiscal”.

Zona de guerra urbana não declarada é “comunidade pacificada”.

Roubo escancarado tanto pode ser “enriquecimento ilícito” quanto “aumento patrimonial incompatível com a renda”.
Medida provisória é ferrada permanente.

E, a joia da coroa: Deu! virou “impeachment”.

Na revista Reader’s Digest havia uma página chamada “Enriqueça o seu vocabulário”. Quer enriquecer o meu, o nosso? Contribua aqui.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

SANTOS E NÃO SANTOS.

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Outrora eu nutria profunda veneração aos santos. Homens e mulheres capazes de tantos milagres só poderiam ter existido em outras épocas. Supunha que eu jamais conheceria alguém como aqueles seres sobrenaturais, isentos de preocupações triviais e simples carências humanas.

Ao contemplar suas imagens nas igrejas, suas figuras em ilustrações e santinhos, nada daquilo me parecia humano; eram seres privilegiados até na beleza física, no olhar beatífico, envolvidos por uma auréola de pureza que jamais eu reconheceria em qualquer dos meus contemporâneos.

Com o tempo, deixei os santos nos altares e nas estampas, e fui procurar algo mais humano, mais condizente com a realidade trágica e arriscada da nossa condição terrestre.

Haveria um ser que sentisse raiva e medo, desafiasse os inimigos, chorasse a morte dos amigos, desrespeitasse a lei, rompesse a tradição, sofresse angústia e fome? Alguém repelido como um portador de hanseníase, perseguido como um bandido, caluniado como uma mulher adúltera, e que andasse foragido como um criminoso e acabasse morto como um pária, da maneira mais ignominiosa? E haveria neste mesmo ser humano a plenitude do amor de Deus?

Perdi os santos do céu, mas encontrei este homem na Terra. Ele não tinha a delicadeza nem a beleza dos santos; não provocava a admiração dos reis, nem suscitava a compaixão dos magistrados. Era tão sem atrativos como os bêbados da madrugada, as prostitutas das ruas infectas, os mendigos estirados nas calçadas, os loucos molhados pela própria baba, os presos que nos fitam entre grades, os hansenianos de mãos e pés atrofiados.

Este homem identificava-se com essa escória, fazia-se um deles, entregava-se por eles, e a quem desse um banquete, sugeria não convidar a família nem os vizinhos ricos. Convidasse os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos, para se sentir feliz porque esses não têm com que lhe retribuir.

Ainda assim houve quem acreditasse neste homem. Houve quem visse, naquele pregador ambulante, a plenitude do amor de Deus. Não foram muitos, nem eram ricos e poderosos. Foram os pobres, os humildes, os que têm fome de justiça e constroem a paz.

Houve também quem visse nele um perigo a ser contido: “Se o deixamos continuar assim, todos crerão nele, e virão as tropas estrangeiras e destruirão nosso lugar santo e nossa nação. Convém que morra um homem por todo o povo, antes que o povo todo pereça. A partir desse dia resolveram matá-lo”.

Ele fugiu. “Não andava em público”. Passou à vida clandestina. “Os chefes dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, afim de que pudesse ser preso”.

De fato, ele “foi torturado e suportou, não abriu a boca. Por um iníquo julgamento foi condenado, sem que ninguém pensasse em defendê-lo. Deram-lhe sepultura ao lado de facínoras e, ao morrer, achava-se entre bandidos, se bem que não tenha cometido nenhuma injustiça e jamais dito uma mentira.

Assassinado por dois poderes políticos, este homem ressuscitou. Era o próprio Deus entre nós. Mas quem o reconheceria sob tanta humilhação e sofrimento? “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens. Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na Terra e nos infernos. E toda língua proclame, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor.

Hoje, muitos que almejam o poder se esforçam por transformar este homem em cabo eleitoral. Em nome de Jesus, eles criaram um deus à sua imagem e semelhança... E descartam de seus projetos e programas os direitos dos pobres e excluídos como prioridade.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

PARA MEDITAR: A SAIDEIRA...

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A narrativa das Bodas de Caná, no capítulo 5 do evangelho de João, é uma das minhas contemplações preferidas. O texto marca a transição da vida anônima de Jesus para o que chamamos de vida pública. Essa divisão, por si só, já é convite à reflexão.

A maior parte do tempo da vida de Jesus entre nós deu-se no mais profundo anonimato. Há registros, poucos, de alguma coisa do seu nascimento, um episódio aos doze anos e, depois, silêncio. Sabemos que Ele crescia em idade graça e sabedoria, diante de Deus e dos homens. E só.

Tanta economia deve-se ao fato de que os evangelhos não são uma biografia do mestre de Nazaré. Os fatos ali registrados e narrados são apenas aqueles que nos ajudam a melhor entender a mensagem da Boa Nova. Ou seja, em comparação aos quase três anos de vida pública, onde estão detalhados gestos, palavras, discursos de Jesus, há um imenso evangelho não escrito, oculto no anonimato da aldeia de Nazaré. E, se não há informação, podemos, pela oração, imaginar, meditar e contemplar...

O elo entre um tempo e outro é uma festa de casamento. Nada mais adequado, uma vez que a mensagem da Boa Nova é anúncio de uma grande alegria.

Imagino a festa; Jesus à mesa, ao lado de pessoas queridas. Sua mãe, seus amigos, o grupo que começava a se formar ao redor dele. Como em toda festa, alegria, música, mesa farta, pessoas em comunhão.

Mas o vinho que acaba é prenúncio de fim de festa. Não para Jesus. Ele até vacila, titubeia, fica em dúvida, mas sua mãe chama sua atenção. Ela percebe o que falta, ela sabe qual é a hora e, afinal, está tão boa essa festa...

Maria chama os criados e diz: “Façam tudo o que Ele disser...”. Eis o cenário perfeito para Jesus fazer seu primeiro milagre: inventar a saideira!

Segundo a narrativa das comunidades de João, Jesus manda que encham seis talhas com água. Cada uma tem 100 litros, ou seja, seiscentos litros de vinho e do bão!

João era pescador, pode ter exagerado... mas não aqui não se trata de quantificar o milagre. Aliás, o verdadeiro milagre não está na quantidade de água transformada em vinho, nem no ato, em si de fazer aparecer vinho onde havia água. Os milagres de Jesus não são um espetáculo de mídia, mas uma experiência de comunhão, partilha e fé. E não há lugar mais apropriado para se viver comunhão que ao redor de uma mesa. E se, nesta mesa, celebra-se o amor, como numa festa de casamento, tudo se transforma. Até água passa a ter o gosto do vinho mais saboroso.

Tudo tão simples...

Contemplo, enfim, o fim da festa. Jesus, sua mãe, os amigos, todos unidos num brinde ao amor dos noivos. Desejos e votos de felicidade, saúde, alegria e paz. Abraços e beijos festivos.

Um brinde ao Deus que é Vida e Amor. E criou a cada um de nós por amor e para o amor...

O amor é a vida em festa, é a festa da vida.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

DEUS QUIS ASSIM

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Nesses meus muitos anos de vida, não foram poucas as vezes em que experimentei a dor de perder um anigo, jovem ainda, em geral em acidentes e, mais raramente, vítimas de doenças precoces e fatais. Recentemente passei, de novo por esse trauma.

Não é raro, também, nessas circunstâncias, ouvir uma frase recorrente, que brota do desejo genuíno de tentar consolar quem está inconsolável; “Deus assim o quis...”.

Ouço, respeito a intenção, mas não engulo. Como pode Deus querer tanta dor? E as outras muitas dores do mundo, são também um querer de Deus?

Já estudei o que pensam sobre isso as principais religiões, sei todas as teses e justificativas, já ouvi reflexões belíssimas e consoladoras sobre o tema, testemunhei fantásticos exemplos de fé e entrega, mas, no meu coração, permanece um certo sentimento de rebelde incompreensão.

Diante desse impasse existencial, o que realmente me consola é lembrar a lição inesquecível que me foi dada pelo Gilmar, cego de nascença e meu amigo. Alegre, brincalhão, um dia fazíamos um trabalho sobre um poema ou música, sei lá, chamado “Céu azul” e o Gilmar começou a questionar. “Como é o azul?”, ele perguntou.

Nos entreolhamos (menos o Gilmar), com aquela cara de “e agora?”.

O Barreto, sempre inspirado, disse, entre risos: “Pois é Gilmar, se o céu fosse preto tava fácil te explicar”.

“Como assim?”, insistiu o Gilmar.

“Ora, preto é isso que você está vendo aí...”.

“Eu não sei o que é ver...”.

No silêncio que se fez por alguns longos, penosos e constrangedores segundos, só se ouviu a gargalhada do Gilmar a nos salvar.

Aprendi ali sobre limites e mistérios. Há, realmente, questões, acontecimentos, realidades maiores que a minha capacidade de as entender. Mas, teimoso, posso, pelo menos, reclamar.

Deus é muito desorganizado com esse negócio de morte. O Gonzaguinha, por exemplo, morreu aos 45 anos, Renato Russo aos 36 e Cazuza aos 32. Tá cheio de funkeiros, aí, cheios de saúde e vida.

O senador Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas, foi-se embora quando o Brasil mais precisava da sua coragem capaz de “semear esperanças e transformar sal em mel”. José Sarney, o faraó do Marapá (mistura de Maranhão com Amapá), construiu até mausoléu, com sarcófago e tudo, no Convento das Mercês, em São Luiz, mas continua aí, vivinho da silva. E dando cria.

Tô brincando, gente, não desejo a morte de ninguém, até porque se começar a fazer a minha lista dos morríveis no cenário político vai sobrar muito pouca gente...

Mas, felizmente, Deus não me leva a sério e, no seu bom humor, talvez esteja rindo de mim e dizendo: “calma,Rui, sua hora também vai chegar...”.

Rio com Ele, e vou logo avisando: “eu sei, Senhor, não tenho medo, mas também não tenho pressa nenhuma...”.

Essa desorganização na fila que vai desta para a melhor me faz lembrar uma ‘história’ antiga que me permito atualizar.

Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos e, claro, não demorou a fazer besteira.

Muita besteira! Murou as fronteiras, proibiu a entrada de muçulmanos, ordenou cadastramento dos já residentes, mandou bombardear o Oriente Médio, comprou briga com todo mundo e... Deu ruim, deu merda!

Terroristas do Estado Islâmico roubaram (ou ganharam) uma bomba atômica russa e a explodiram em Nova York. Trump retaliou bombardeando Moscou. Trump X Putin, bomba pra cá, bomba prá lá e... O caos.

Resumo da ópera; 4 bilhões de mortos (inclusive o Trump e o Putin) de uma hora pra outra.

Imagina a porta do céu...

São Pedro, surtado, anjos e querubins voando pra todo lado, santos e santas convocados às pressas para ajudar na triagem...

Até que Santo Inácio de Loyola teve uma brilhante ideia. Dividir o céu em setores e encaminhar as pessoas para os seus respectivos, até que se pudesse fazer uma seleção mais adequada.

Dito e feito. Com a ajuda de São Judas Tadeu e Santo Expedito, já que a missão parecia impossível e tinha que ser feita rapidamente, o Paraiso foi dividido em seções devidamente identificadas: Setor dos Políticos, dos Artistas, dos Esportistas, o pessoal da área de Saúde, os Professores (esses, já com indulgência plenária) os Cientistas, enfim, cada qual com seu cada qual.

E havia, é claro, a área Vip do Céu, reservada a santos e sábios. E não é que no meio daquela confusão o Donald Trump foi parar justamente na ala dos sábios?

Foram semanas de trabalho, até que se conseguisse um mínimo de organização. Foi quando, em meio a essa barafunda, eis que Leonardo Da Vinci bate às portas da nuvem de S. Pedro e diz:

“melhor o senhor ir lá no setor dos sábios. Vai dar merda...”.

São Pedro voou até lá e encontrou Donald Trump sentado numa nuvem, o topete esvoaçando ao vento celeste, conversando com o sábio Confúcio.

O mestre chinês, do alto da sua paciência milenar, dizia:

“Caro Donald, preste atenção, é a última vez que vou lhe explicar:

Epístola, não é feminino de apóstolo; encíclica não é uma bicicleta de uma roda só; eucaristia não tem nada a ver com o custo de vida; annus sanctus não é a bunda do papa e, antes que eu me esqueça, Pafúncio é a puta que te pariu!”.