domingo, 12 de agosto de 2018

TEMOS QUE VIVER COMO SE EXISTISSE AMANHÃ.

Resultado de imagem para poluição no planeta terra

Em tempos de crise é comum entrar no vermelho, no orçamento doméstico, antes do final do mês. E, hoje, não é incomum os governos das nações ou das cidades também entrarem no vermelho, gastando mais do que arrecadam. Quando isso acontece os economistas falam em déficit fiscal. Para solucionar o problema há vários recursos. Um deles é cortar gastos. Outro é aumentar a receita. Outro é fazer as duas coisas. Outro, ainda, é tomar as duas medidas, e ainda assim, pedir empréstimo e rolar dívidas, pagar juros que comprometem tanto o presente quanto o futuro. A preocupação e a precaução nesse campo é regra mínima para não entrar em processos falimentares. A falência não interessa a ninguém. Ou quase a ninguém, pois para os bancos é uma farra...

Algo similar, mas muito mais explosivo e desastroso, não só para famílias ou estados, mas para a humanidade e para os animais, está acontecendo com o planeta. Não é de hoje que os economistas e ecologistas estão alertando sobre o perigo de um processo de colapso ambiental comprometedor da vida na terra. Pelo menos a vida animal, dos humanos e dos não humanos, pois a vida vegetal agradeceria se os humanos tirassem férias permanentes...

Ninguém presta muita atenção para o que está acontecendo. Não é para hoje. É para amanhã e, nesse caso, o amanhã não existe como experiência histórica. O amanhã é um adiamento, assim como quando alguém nos pergunta quando deixaremos determinado vício e respondemos: amanhã.

Há, aí, um autoengano, típico de comportamentos humanos frente a problemas que exigem prevenção e mudanças. Somos uma espécie inteligente e muito eficaz para muitas coisas, sobretudo para solucionar problemas reais e atacar efeitos. Porem, não somos bons, mesmo sabendo, na prevenção e antecipação de doenças e/ou calamidades. Sabemos que o cigarro faz mal e continuamos fumando. Sabemos que comer carne não é a melhor opção para a saúde e ao meio ambiente, mas não estamos dispostos a mudar de hábitos alimentares. E, nesse caso, nem se fala do respeito à vida dos animais, pois aí o egoísmo impera e só remotamente entra como uma atitude moral prévia.

Dia 1º de agosto foi, nesse ano de 2018, o dia em que a terra esgotou seus recursos e biocapacidade frente a pegada ecológica global. De 2 de agosto até 31 de dezembro o planeta entra no vermelho. No ano passado o dia da sobrecarga da terra (Earth Overshoot Day), como é chamado, foi o dia 2 de agosto. Em 2016 foi em 8 de agosto. Em 2015 foi em 13 de agosto. Em 2014 foi em 19 de agosto... Em 1970 foi no dia 29 de dezembro. Repare o processo contínuo e acelerado em tão pouco tempo. O que aconteceu entre 1970 e 2018?

Aconteceram muitas coisas, mas do ponto de vista do impacto e pressão sobre a terra, “nossa casa comum”, como diz o Papa Francisco, dois fenômenos foram e são fatais: o superconsumo e a superpopulação. Para a sustentabilidade do planeta e da chance da biodiversidade, não há como não rever esses dois elementos da equação. É necessário rever tanto a pegada ecológica, isto é, quanto cada um consome da biocapacidade da terra, quanto o número de pés sobre a terra. Em 1970 éramos 3,6 bilhões de pessoas com desejos infinitos de ser feliz, consumindo. Hoje, somos 7, 6 bilhões de almas sedentas e esfomeadas desejando preencher uma falta, uma carência e uma ausência, que só pode ser preenchida existencialmente pela espiritualidade e pela “sobriedade feliz”, mas que teimamos em tentar suprir pelo excesso da absorção do mundo exterior em forma de mercadoria. A continuar no ritmo atual, a letra da música de Renato Russo pode ganhar um outro significado quando diz: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há”.

Uma nova educação e uma nova espiritualidade, junto com uma maior distribuição dos bens produzidos, para diminuir a desigualdade e a pobreza, é a melhor aposta, e não o que tem sido apresentado como solução que, na verdade, é a causa maior do problema: o crescimento infinito. Não há dois ou três planetas ao nosso dispor e não há para onde fugir, até porque, na fuga, nós iríamos juntos...

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