quarta-feira, 22 de agosto de 2018

DEUS QUIS ASSIM

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Nesses meus muitos anos de vida, não foram poucas as vezes em que experimentei a dor de perder um anigo, jovem ainda, em geral em acidentes e, mais raramente, vítimas de doenças precoces e fatais. Recentemente passei, de novo por esse trauma.

Não é raro, também, nessas circunstâncias, ouvir uma frase recorrente, que brota do desejo genuíno de tentar consolar quem está inconsolável; “Deus assim o quis...”.

Ouço, respeito a intenção, mas não engulo. Como pode Deus querer tanta dor? E as outras muitas dores do mundo, são também um querer de Deus?

Já estudei o que pensam sobre isso as principais religiões, sei todas as teses e justificativas, já ouvi reflexões belíssimas e consoladoras sobre o tema, testemunhei fantásticos exemplos de fé e entrega, mas, no meu coração, permanece um certo sentimento de rebelde incompreensão.

Diante desse impasse existencial, o que realmente me consola é lembrar a lição inesquecível que me foi dada pelo Gilmar, cego de nascença e meu amigo. Alegre, brincalhão, um dia fazíamos um trabalho sobre um poema ou música, sei lá, chamado “Céu azul” e o Gilmar começou a questionar. “Como é o azul?”, ele perguntou.

Nos entreolhamos (menos o Gilmar), com aquela cara de “e agora?”.

O Barreto, sempre inspirado, disse, entre risos: “Pois é Gilmar, se o céu fosse preto tava fácil te explicar”.

“Como assim?”, insistiu o Gilmar.

“Ora, preto é isso que você está vendo aí...”.

“Eu não sei o que é ver...”.

No silêncio que se fez por alguns longos, penosos e constrangedores segundos, só se ouviu a gargalhada do Gilmar a nos salvar.

Aprendi ali sobre limites e mistérios. Há, realmente, questões, acontecimentos, realidades maiores que a minha capacidade de as entender. Mas, teimoso, posso, pelo menos, reclamar.

Deus é muito desorganizado com esse negócio de morte. O Gonzaguinha, por exemplo, morreu aos 45 anos, Renato Russo aos 36 e Cazuza aos 32. Tá cheio de funkeiros, aí, cheios de saúde e vida.

O senador Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas, foi-se embora quando o Brasil mais precisava da sua coragem capaz de “semear esperanças e transformar sal em mel”. José Sarney, o faraó do Marapá (mistura de Maranhão com Amapá), construiu até mausoléu, com sarcófago e tudo, no Convento das Mercês, em São Luiz, mas continua aí, vivinho da silva. E dando cria.

Tô brincando, gente, não desejo a morte de ninguém, até porque se começar a fazer a minha lista dos morríveis no cenário político vai sobrar muito pouca gente...

Mas, felizmente, Deus não me leva a sério e, no seu bom humor, talvez esteja rindo de mim e dizendo: “calma,Rui, sua hora também vai chegar...”.

Rio com Ele, e vou logo avisando: “eu sei, Senhor, não tenho medo, mas também não tenho pressa nenhuma...”.

Essa desorganização na fila que vai desta para a melhor me faz lembrar uma ‘história’ antiga que me permito atualizar.

Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos e, claro, não demorou a fazer besteira.

Muita besteira! Murou as fronteiras, proibiu a entrada de muçulmanos, ordenou cadastramento dos já residentes, mandou bombardear o Oriente Médio, comprou briga com todo mundo e... Deu ruim, deu merda!

Terroristas do Estado Islâmico roubaram (ou ganharam) uma bomba atômica russa e a explodiram em Nova York. Trump retaliou bombardeando Moscou. Trump X Putin, bomba pra cá, bomba prá lá e... O caos.

Resumo da ópera; 4 bilhões de mortos (inclusive o Trump e o Putin) de uma hora pra outra.

Imagina a porta do céu...

São Pedro, surtado, anjos e querubins voando pra todo lado, santos e santas convocados às pressas para ajudar na triagem...

Até que Santo Inácio de Loyola teve uma brilhante ideia. Dividir o céu em setores e encaminhar as pessoas para os seus respectivos, até que se pudesse fazer uma seleção mais adequada.

Dito e feito. Com a ajuda de São Judas Tadeu e Santo Expedito, já que a missão parecia impossível e tinha que ser feita rapidamente, o Paraiso foi dividido em seções devidamente identificadas: Setor dos Políticos, dos Artistas, dos Esportistas, o pessoal da área de Saúde, os Professores (esses, já com indulgência plenária) os Cientistas, enfim, cada qual com seu cada qual.

E havia, é claro, a área Vip do Céu, reservada a santos e sábios. E não é que no meio daquela confusão o Donald Trump foi parar justamente na ala dos sábios?

Foram semanas de trabalho, até que se conseguisse um mínimo de organização. Foi quando, em meio a essa barafunda, eis que Leonardo Da Vinci bate às portas da nuvem de S. Pedro e diz:

“melhor o senhor ir lá no setor dos sábios. Vai dar merda...”.

São Pedro voou até lá e encontrou Donald Trump sentado numa nuvem, o topete esvoaçando ao vento celeste, conversando com o sábio Confúcio.

O mestre chinês, do alto da sua paciência milenar, dizia:

“Caro Donald, preste atenção, é a última vez que vou lhe explicar:

Epístola, não é feminino de apóstolo; encíclica não é uma bicicleta de uma roda só; eucaristia não tem nada a ver com o custo de vida; annus sanctus não é a bunda do papa e, antes que eu me esqueça, Pafúncio é a puta que te pariu!”.

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