domingo, 29 de abril de 2018

ENSINA A TEU FILHO.

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“Ensina a teu filho que o Brasil tem jeito e que ele deve crescer feliz por ser brasileiro.

Ensina a teu filho que neste país há políticos íntegros como Antônio Pinheiro, pai do jornalista Chico Pinheiro, que revelou na mídia seu contracheque de parlamentar e devolveu aos cofres públicos jetons de procedência duvidosa.

Saiba o teu filho que, no monolito preto do Banco Central, em Brasília, onde trabalham cerca de 3 mil pessoas, a maioria é honrada e, porque não é cega, indignada ante maracutaias de autoridades que deveriam primar pela Ética no cargo que lhes foi confiado.

Ensina a teu filho que não ter talento esportivo ou rosto e corpo de modelo, e sentir-se feio diante dos padrões vigentes de beleza, não é motivo para ele perder a auto-estima. A felicidade não se compra nem é um troféu que se ganha vencendo a concorrência. Tece-se de valores e virtudes e desenha, em nossa existência, um sentido pelo qual vale a pena viver e morrer.

Ensina a teu filho que o Brasil possui dimensões continentais e as mais férteis terras do planeta. Não se justifica, pois, tanta terra sem gente e tanta gente sem terra.
Assim como a liberdade dos escravos tardou, mas chegou, a reforma agraria haverá de se implantar. Tomara que regada com muito pouco sangue.
Saiba o teu filho que os sem-terra que ocupam áreas ociosas e prédios públicos são, hoje, chamados de “bandidos”, como outrora a pecha caiu sobre Gandhi sentado nos trilhos das ferrovias inglesas e Luther King ocupando escolas vetadas aos negros.

Ensina a teus filhos que pioneiros e profetas, de Jesus a Tiradentes, de Francisco de Assis a Nelson Mandela, são, invariavelmente, tratados, pela elite de seu tempo, como subversivos, malfeitores, visionários.
Ensina a teu filho que o Brasil é uma nação trabalhadora e criativa. Milhões de brasileiros levantam cedo todos os dias, comem aquém de suas necessidades e consomem a maior parcela de sua vida no trabalho, em troca de um salário que não lhes assegura sequer o acesso à casa própria.
No entanto, essa gente é incapaz de furtar um lápis do escritório, tijolo da obra, uma ferramenta da fabrica. Sente-se honrada por não descer ao ralo que nivela bandidos de colarinho branco com os pés-de-chinelo. É gente feita daquela matéria-prima dos lixeiros de Vitoria que entregaram a policia sacolas recheadas de dinheiro que assaltantes de banco haviam escondido numa caçamba.

Ensina a teu filho a evitar a via preferencial dessa sociedade capitalista que nos tenta incutir que ser consumidor é mais importante que ser cidadão; incensa quem esbanja fortuna e realça mais a estética que a Ética.

Saiba o teu filho que o Brasil é a terra de índios que não se curvaram ao jugo português e de Zumbi, de Angelim e frei Caneca, de madre Joana Angélica a Anita Garibaldi, Dom Helder Câmara e Chico Mendes.

Ensina a teu filho que ele não precisa concordar com a desordem estabelecida e que será feliz se se unir aqueles que lutam por transformações sociais que tornem este país livre e justo. Então, ele transmitirá a teu neto o legado da tua sabedoria.
Ensina teu filho a votar com consciência e jamais ter nojo de política, pois quem age assim é governado por quem não tem e, se a maioria tiver a mesma reação, será o fim da democracia.
Que o teu voto e o dele sejam em prol da justiça social e dos direitos dos brasileiros, imerecidamente tão pobres e excluídos, por razões políticas, dos dons da vida.”

sábado, 28 de abril de 2018

INTERVENÇÃO.

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chega-me um vídeo desgraçadamente infame.

nele, um grupo de lunáticos tenta acampar no setor militar urbano de Brasília, sabe-se Deus praquê.

os milicos, sentindo-se invadidos, obrigou os reaças a se evadirem.

houve uma refrega e as barracas foram arrancadas à força.

de repente, surge uma senhora chorosa como uma atriz de filme B.

por Zeus, é a mesma senhorinha que em 2006 confundiu a bandeira do Japão com um arranjo comunista da bandeira brasileira.

intervencionista militar e bolsonarista, a madame reclamava de uns catiripapos que levou dos milicos.

houve choro e ranger de dentes.

o cinegrafista, surpreso e revoltado, lançou um vaticínio contra os valentes verde olivas: "não há mal que dure pra sempre, até Roma caiu".

frase enigmática.

a senhorinha chorosa percebeu que intervenção militar só é boa quando é pros outros.

o colega chegou a dizer que a polícia atacava patriotas desarmados, desalmados talvez quisesse dizer, e que ali não era o MST e nem vagabundos.

um outro gritava milícia, milícia, deixando claro que talvez agora a tática seja pedir a intervenção miliciar.

aquela senhorinha que outrora apontara a bandeira do Japão como um símbolo comuna, mostrava o braço ralado e clamava a presença do mito:

onde está o capitão Bolsonaro?

bem, minha senhora, a essa hora ele deve tá comendo gente com verba do gabinete como ele disse certa vez.

acho que o grupo deveria acampar na frente do Bahamas, tomando umas brahmas quentes distribuídas pelo pornólatra mainstream.

é, parece que os devotos da Ana Amélia já não estão mais com o cabo do chicote na mão.

palavra da salvação.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

É CHEGADA A HORA DA SINFONIA

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Botaram Lula numa solitária, sem direito a visita nem de um médico, para tentar escondê-lo do povo.

Mas as ideias são teimosas e líquidas, elas escorrem pelas frestas.

#Lula Livre, uma ideia viva, vai se tornando onisciente.

Ontem, em um desses jornais da Globo, os ventríloquos dos Marinho se preparavam para cornetar a iniciativa da Segunda Turma do Supremo, dando voz aos promotores que tentam promover um motim inútil e inusitado.

Mas a Globo é que foi cornetada.

Um trompetista anônimo fez um fundo musical tocando o hino Olê, olê, olá, Lulá, Lulá.



Loprete, sempre insípida, não aloprou.

O episódio me fez lembrar do carnaval do ano passado.

A histriônica e alopradíssima Leilane Neubarth esbugalhou os olhos, Cláudia Cruzicamente, ao ser surpreendida com o fundo musical do pagode baiano "Vai dar PT".

Tirem das gavetas oboés, flautas transversais e trombones de vara.

É chegada a hora da sinfonia.

Mesmo oculto numa masmorra, Lula cresce na preferência popular, enquanto seus algozes definham.

A Ideia vai ganhando cada vez mais ubiquidade.

Quanto mais tentam esconder Lula, mais ele aparece.

A ideia agora é transformar "A Ideia" em fundo musical.

Tem link ao vivo na Globo, bota Lula lá.

Palavras sapienciais.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

A RIQUEZA É PARA POUCOS, A POBREZA PARA MUITOS.

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A riqueza é para poucos! A pobreza é para muitos. O ideal seria nem rico e nem pobre, apenas dispor do necessário para viver dignamente. Mas, enquanto persistir a lógica do acúmulo, poucos terão sempre mais riqueza e multidões passarão fome. Esta lógica pode ser modificada com outra consciência.

Levantamento da ONG inglesa Oxfam divulgado em março revela que cinco brasileiros concentram a renda de 50% da população mais pobre do Brasil. A lista dos bilionários é composta pelo trio da Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, pelo banqueiro Joseph Safra e pelo investidor e cofundador do Facebook Eduardo Saverin. O que pouca gente sabe é que Jorge Paulo Lemann conseguiu autorização do presidente da República Fernando Henrique Cardoso para formar um monopólio no mercado das cervejas. Lemann também teve um papel determinante no golpe de 2016 ao permitir que sua Fundação Estudar fizesse o registro do domínio do movimento vemprarua.org. Em razão disto, Lemann é um dos pilares de sustentação do governo Temer em vista da privatização da Eletrobrás e outras estatais.

Outra estatística preocupante para a população brasileira se refere à renda per capita da Pessoa Física entre 2016 e 2017, a qual caiu 3,3%. Porém, no segmento mais rico da população, formado por pessoas que ganham mais de 160 salários mínimos por mês, a renda per capita cresceu 7,5%. Na realidade, a política econômica do atual governo promove a desigualdade social e a concentração de renda. Por conseguinte, desde o início do golpe de 2016 a pobreza aumentou em 53%, colocando o Brasil no mapa da fome mundial. Ainda conforme levantamento da ONG inglesa Oxfam 62 pessoas detém 50% da riqueza mundial e 99% desta é detido por somente 1% das pessoas.

A pobreza é recorrente à lógica da concentração de renda que favorece a quem tem mais e em contrapartida exclui multidões da sociedade. O modelo capitalista em curso contrapõe-se à proposta do Evangelho e da doutrina cristã. Bem disse o Papa Francisco na visita à Bolívia em 2015: “o atual sistema global que impôs a lógica do lucro a todo custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza é insuportável”. Na oportunidade o pontífice propôs um movimento da sociedade mundial pela mudança na estrutura do sistema. Cabe observar que a convocação do pontífice é para que as ações pastorais da Igreja tenham inerentes a prática da solidariedade com os oprimidos, e que o anúncio do Evangelho seja elemento de transformação da sociedade.

Em seu histórico e duro discurso contra o sistema, dirigido à população mundial, o papa Francisco alertava que “o sistema global não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos”. Dessa forma, considera-se que o poder da palavra do papa Francisco vai muito além do sentimento da compaixão com os pobres e oprimidos. Isto é, ninguém pode eximir-se da responsabilidade de construir outra sociedade e outro sistema mais solidário e justo. Como denuncia nosso papa, “quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez pelo lucro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, até põe em risco a casa comum”. A superação da lógica e do modelo vigente passa pelo grito da multidão mundial que sofre fome. Só com uma mudança global a riqueza pode ser desfrutada por todos os homens e mulheres do mundo.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

UM CRIME QUASE PERFEITO

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Prenderam o homem. O que falta agora para terem todo o poder? Falta muito, porque falta convencer a plateia de que o réu é o culpado.

A história recente do Brasil é uma epopeia. Estamos construindo a gesta das personagens pela mídia e pelas redes sociais como os antigos gregos construíam heróis pela boca dos aedos. Das personagens sabemos quase tudo, do crime quase nada. O cenário foi montado? As testemunhas foram fidedignas? O juiz foi imparcial? A reação do público foi catártica?

No teatro, cada elemento tem o seu lugar. E nesse teatro grotesco no qual o Brasil se transformou, os sujeitos também têm o seu espaço definido. O Movimento dos Trabalhadores sem Teto mostrou cenas chocantes esta semana: um apartamento vazio, sem reformas. Portanto, as provas concretas mencionadas na confirmação da condenação de Lula pelo TFR-4 são notas falsas. Vou ser bem didático, visto que não sou advogado e nem juíz: a empresa contratada pela OAS para fazer as reformas inexistentes do triplex forneceu notas fiscais que foram usadas para acusar Lula. As imagens desta semana são claras, portanto a condenação foi baseada em notas frias. Alguém vai denunciar esta empresa por crime fiscal? O testemunho do dono da OAS é gravíssimo, caso se confirme que ele deu falso testemunho para obter um benefício na sua pena. Repito: não sou advogado nem juíz, mas o crime de falso testemunho é mais grave que a declaração de inocência por parte de um réu. Uma das distorções do processo está justamente aí: transformar acusados em testemunhas, sem aplicar o rigor ao falso testemunho, mas usando o princípio do in dubbio pro reo aos colaboradores. Isso fica claro a partir do momento em que a pena de Leo Pinheiro foi sensivelmente reduzida depois que ele denunciou Lula. Em todo esse processo, os procuradores não averiguaram se a descrição das reformas contida nos documentos fiscais correspondia ao trabalho efetivamente executado? Acreditaram apenas no papel e nas reportagens da Globo? Nunca fizeram uma vistoria do apartamento? Quero deixar claro, já que não sou especialista em Direito: do ponto de vista literário, os pontos dessa história não fecham. Visto com os instrumentos da ficção, o roteiro funciona de forma precária e o caso parece mal enredado.

Escritores ruins e diretores medíocres podem desprezar o papel do público, mas os melhores artistas sabem que nenhuma obra se torna universal ou é condenada à irrelevância sem que o público exerça o seu papel. Por isso, o caso do Lula é um crime imperfeito: ignoraram o povo. A cada condenação, a popularidade de Lula aumenta. A cada golpe, o bumerangue lançado retorna afiado ao remetente. O público, de fora, pode ver a cena sob todos os ângulos, acima da inquisição, acima da defesa de inocência, acima da pretensão de imparcialidade. No teatro, o único aspecto que desvela a ficção é a catarse do público, pois ocorre fora da cena, fora do palco, na vida real. A reação do público é controlável, ma non troppo. E esse foi um dos erros desse crime quase perfeito: ignoraram a reação do público para o destino de Lula.

Usaram manifestantes como coro uníssono e raivoso, feito bacantes tropicais, que depois do transe hipnótico e orgiástico caiu no silêncio de um canarinho triste e desolado. Roteiro imperfeito. É neste ponto que coloco o erro principal e trágico dos maus autores da nossa história. Ignoraram que o coro não é um elemento totalmente manipulável. O coro não é fantoche. A estratégia usada neste como em outros golpes foi o de dar papéis diferentes às duas componentes que dão sustentação ao enredo: o coro, que simula a voz do povo da ficção, e o público, que é o próprio povo fora da cena. Tentaram colocar os manifestantes da seleção como representantes da ordem, sem avisá-los de que estavam sendo usados como porta-vozes do que há de mais escravocrata e socialmente atrasado no nosso país. A retirada silenciosa do coro rompeu o esquema triunfal previsto para o epílogo e a tendência é que toda essa energia passe, lentamente, a somar forças entre o público indignado com a má encenação. Já vimos isso no passado: alguém por acaso não lembra que a ditadura contou com o apoio da classe média para a sua instauração e que ao final foi a própria classe média a ir às ruas pedir diretas já?

Na tragédia, como na vida, coro e público têm papéis importantes no desfecho do enredo. Quando coincidem e se sobrepõem, alcançam uma potência que ultrapassa o tempo. Ainda hoje, na Itália, o coro da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, “Va pensiero”, é sentido como símbolo do sentimento de liberdade que alimentou o sonho de unificação do país. Quando nós, no Brasil, voltarmos a cantarolar “Água nova brotando e a gente se amando sem parar”, poderemos ter certeza de que foi superado este momento surreal de divisão entre os miseráveis e os medianos oprimidos pelo injusto regime fiscal do Brasil. As duas classes mais atingidas deram-se as mãos e perceberam que não há sentido na guerra entre pobres e menos pobres. É necessária a unidade na luta contra a injustiça e contra o pensamento escravocrata no nosso país, que transforma em perigo comunista qualquer tentativa de melhoria das condições de vida indignas e vergonhosas, às quais as camadas mais pobres da nossa população estão condenadas há quinhentos anos. E se Lula não for o novo Tiradentes dessa história, outro será. Porque a liberdade é um destino, não uma figura de linguagem ou uma metáfora literária. A liberdade é do povo, não dos roteiristas condenados à irrelevância histórica quando as cortinas do palco se fecham.

domingo, 22 de abril de 2018

O FATOR LULA.

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Difícil prender Lula. Ainda que detido na Polícia Federal, em Curitiba, a presença dele impregna o imaginário de parcela significativa do povo brasileiro. Impossível ignorá-lo. E isso vale também para quem o odeia e comemora a sua prisão.

O Brasil carece de heróis. Os poucos que transcendem o período no qual viveram são admirados justamente por terem resistido a forças do conservadorismo, de Zumbi a Tiradentes, de Antônio Conselheiro a Lampião, de Marighella a Chico Mendes, de Betinho e Marielle.

Não há como condenar Lula ao olvido. Vários fatores excepcionais moldaram a sua biografia singular: a miséria da família em Garanhuns (PE); a mudança para São Paulo em pau-de-arara; o líder sindical que escapou da cooptação da esquerda e da direita e liderou as mais expressivas greves operárias de nossa história durante a ditadura militar; a fundação do PT; os dois mandatos presidenciais encerrados com 87% de aprovação etc.

Ainda que a Justiça o condene como corrupto, no imaginário popular o fiel da balança se inclina a seu favor. Por simples razão: a Justiça brasileira é leniente com os poderosos (ainda que a Lava Jato se esforce por reverter essa tendência) e severamente cruel com os pobres acusados de pequenos delitos.

Fora Lula, quantos políticos o STF condenou até hoje? Quantos de nossos 600 mil encarcerados têm acesso a advogados? E a juízes? Os julgamentos são considerados imparciais?

Na opinião pública, o juiz perde credibilidade ao aceitar, além de gordo salário, injustificáveis privilégios, como auxílio-moradia e auxílio-“salsicha” (alimentação).

De pouco mais de dois mil juízes e desembargadores do Estado de São Paulo, apenas 168 abrem mão dessas mordomias (informação de um desembargador).

O Brasil é, hoje, uma nau sem rumo. Nosso futuro é imprevisível. Sua sinalização ocorrerá em outubro, com o resultado da eleição presidencial. E qualquer que seja o resultado, a nação não será apaziguada. Nossas divergências não se situam no patamar das ideias, e sim da esfera social, onde as disparidades de renda são gritantes. A opulência da Casa Grande não logra ofuscar a miséria que multiplica corpos estendidos nas calçadas, e ainda aquece o caldo de cultura da violência urbana e rural.

Enquanto não houver um governo que faça do Estado indutor do desenvolvimento social, adotando políticas que combatam as causas das desigualdades, o Brasil não superará essa atual etapa de sebastianismo. Porque é inegável que Lula presidente deu passos significativos na direção de maior justiça e inclusão sociais.

sábado, 21 de abril de 2018

VIOLÊNCIA.

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Se você nunca sofreu algum tipo de violência, parabéns, você é uma exceção. Mas será mesmo que há alguém que nunca sofreu algum ato de violência? Eu duvido. Talvez não tenhamos sido expostos a uma ação direta de violência, no próprio corpo e liberdade, de forma ostensiva, como é o caso de um assalto a mão armada. Mas, violência não é sinônimo de mão armada. Violência é sinônimo de objetificação. Um sujeito reduzido a coisa, isso é objetificação. Haverá violência maior de reduzir alguém a algo? Isso é feito de muitas formas. A forma da ação física direta é apenas uma forma. A forma da cultura da violência que culpabiliza a vítima é outra forma. E a forma da institucionalização da objetificação violenta, é outra forma.
    1 Violência racial: não há vítima mais vulnerável, nas três formas da violência (direta, cultural e institucional), do que os negros. Os negros atraem sobre si a soma dos aspectos que faz uma categoria social vulnerável: são os mais pobres, são os que vivem na periferia geográfica das cidades, são os que conta com menor grau de escolaridade, com infra-estrutura de urbanização mais precária etc. Se não bastasse isso, são os que têm menor representação no sistema de poder (legislativo, executivo e judiciário) e não participam da religião dominante na sociedade. A facilidade de serem reduzidos à coisa, é enorme. Mas não são coisas, são alguém...

    2 Violência contra os Jovens: os jovens são os mais violentos e os que mais sofrem violência, sobretudo a violência física e direta, redundando, inclusive, em morte. Uma estatística para entender isso. Em 2011 houve 52 mil mortos por homicídios no Brasil. Desses, 29 mil eram jovens. E para não deixar dúvida que os negros são as maiores vítimas a estatística diz que dos 29 mil jovens mortos, 20 mil eram negros. Independente das estatísticas, é senso comum que a juventude é a vítima principal, inclusive no trânsito e do narcotráfico que, praticamente, condena os jovens a não chegarem à vida adulta.


    3 Violência contra as mulheres: morrem muito mais homens do que mulheres, vítimas da violência, mas, além do crescente feminicídio, isto é, morte de mulheres pelo fato de serem mulheres, numa cultura machista, há de se reconhecer que a violência contra a mulher não pode ser reduzida à violência que leva à morte. Há inúmeras formas de violência, mais sutis do que uma bala na cara, que objetifica a mulher, tirando-lhe a condição de sujeito livre. É só pensar nas violências de ordem moral, psicológica e sexual, cuja vítima principal é a mulher. E sobretudo no lar. Se a violência contra os homens se dá na rua, a violência contra a mulher acontece, sobretudo, na própria casa. Em 2015, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 45.460 casos de estupro. Mas segundo dados não oficiais, esse número pode chegar aos 454 mil. Os números falam por si só.


    4 Violência contra adolescentes, crianças e idosos: a violência contra a mulher ocorre no lar. Mas no lar há também outras vítimas. Crianças, adolescentes e idosos são vítimas vulneráveis dentro da própria casa. No caso das crianças e adolescentes, a violência recebe um selo de legitimação por um processo naturalizado de que não há como educar sem um grau de violência. Mas, a maior violência contra as crianças, nem é tanto a violência no processo de educação, mas a violência advinda da pobreza que lhe tira as potencialidades físicas e, muitas vezes, leva à morte.


    5 Violência Sexual: a questão aqui é o tráfico humano com fins de exploração sexual, sobretudo de mulheres e meninas. Depois do tráfico de drogas e armas, esse é o tráfico mais lucrativo e, via de regra, está associado ao crime organizado. E é onde a violência, entendida como objetificação, mostra-se em seu grau máximo. É preciso acrescentar ao tráfico para fins de exploração sexual uma violência sexual ainda maior: o estupro. Haverá maior violência do que reduzir um ser ao corpo tornado objeto de prazer de outros?


    6 Violência contra trabalhadores rurais e indígenas: outras duas categorias de vulneráveis são os trabalhadores rurais, que muitas vezes são reduzidos a semi-escravos à serviço do agronegócio e os índios que vivem em constante insegurança na disputa de suas terras, por grileiros e por jagunços a mando de grandes proprietários de terra ou em interessados na exploração mineral nas reservas indignes.

    A essas vítimas humanas poderíamos acrescentar a natureza e, sobretudo, os animais, como vítimas vulneráveis nas mãos dos humanos desrespeitosos da alteridade e sedentos de possuir tudo, inclusive o que no outro há de mais sagrado, seu corpo.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A LIBERDADE CHEGARÁ, AINDA QUE TARDIA

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Liberdade ainda que tarde. Ponha-se na Rua (Não: P.R. era o Príncipe Regente, que punha na rua). Diga ao povo que fico. Independência ou morte. A questão da maioridade. Os voluntários da pátria. O sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. Café com leite. Saio da vida para entrar na história. Depois do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. Cinquenta anos em cinco. Varre, varre, varre, vassourinha. Fi-lo porque qui-lo. Cumpre-nos reafirmar nossa inalterável posição ao lado da legalidade constitucional. Abaixo a ditadura. Diretas já. Cada brasileiro e brasileira deverá ser um fiscal dos preços, um fiscal do presidente para a execução fiel desse programa em todos os cantos desse país. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança. Vamos caçar os marajás. O confisco da poupança. Renuncio! A volta do fusca. O plano Real. O plebiscito de 21 de abril de 1993: república presidencialista. O massacre de Eldorado de Carajás. Reeleição. A esperança venceu o medo. Reeleição. Dilma. Reeleição. Primeiro a gente tira a Dilma. Com o Supremo com tudo. Eu não sou um ser humano, eu sou uma ideia.



Leia o texto ao contrário. Contemple o nosso retrocesso. E perceba, lá no fim, ou no começo, que a liberdade, aspiração maior do povo brasileiro, chegará, ainda que tarde.












quinta-feira, 19 de abril de 2018

ESPIRITUALIDADE E POLÍTICA.

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Para justificar decepções e encobrir omissões, criamos estereótipos. Na atual conjuntura, a demonização da política e dos políticos. Tal maniqueísmo favorece exatamente o que se critica, a má política.

Distanciar-se da política é se refugiar em suposta redoma de vidro enquanto grassa o dilúvio. Muito pouca coisa é insubstituível na história humana. Uma delas é a política. Ainda não se inventou outra forma de nos organizar como coletividade. A política permeia todos os espaços pessoais e sociais, da qualidade do pão do café da manhã ao acesso à saúde e à educação.

Se a política é “a forma mais perfeita de caridade”, como enfatiza o papa Francisco, por ser capaz de erradicar a fome e a miséria, as estruturas políticas são passíveis de severa crítica quando favorecem a desigualdade e a corrupção.

A política não é intrinsecamente nefasta. Nefasto é o modelo político que sabota a democracia, privilegia a minoria rica, e nada faz de eficaz para promover a inclusão social. Ao contrário, permite ampliar a exclusão e reforça os mecanismos, inclusive repressores, que impedem os excluídos de avançarem da margem para o centro.

Todos os grandes mestres espirituais foram políticos. Buda se indignou ao transpor as muralhas de seu palácio e se deparar com o sofrimento dos súditos. Jesus, na versão de sua mãe, Maria, veio para “derrubar os poderosos de seus tronos e exaltar os humildes, despedir os ricos com mãos vazias e saciar de bens os famintos” (Lucas 1, 52-53). Pagou com a vida a ousadia de anunciar, dentro do reino de César, outro projeto civilizatório denominado Reino de Deus.

A política é uma exigência espiritual. Santo Tomás de Aquino preconizou não poder esperar virtudes de quem carece de condições dignas de vida. A política diz respeito ao outro, ao próximo, ao bem-estar da coletividade. Repudiá-la é entregá-la às mãos daqueles que a transformam em arma para defender apenas os próprios interesses.

Se a política perpassa os aspectos mais íntimos de nossas vidas, como dispor ou não de um teto sob o qual se abrigar das intempéries, nem todos participam do mesmo modo. Há múltiplas maneiras de fazer política, seja por participação, seja por omissão.

O modo mais universal é o voto, uma falácia quando o povo vota e o poder econômico elege. Um embuste quando a democracia é como Saci-Pererê: os eleitores decidem quem administrará o país, mas não como os recursos da nação serão utilizados.

Se não há democracia econômica, se a desigualdade se agrava, a democracia política é uma farsa. De que adianta a Constituição, uma carta política, proclamar que todos têm direito a uma vida digna se a estrutura socioeconômica impede a maioria de desfrutar de fato deste direito?

No reino de César, Jesus rogou ao Pai: “Venha a nós o vosso reino”, ou seja, o projeto civilizatório no qual todos “tenham vida e vida em abundância” (João 10, 10). Esta a espiritualidade que move quem se empenha em fazer da política ferramenta de libertação, não de opressão e exclusão.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

ESPERANÇA E ALEGRIA DE VIVER.

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É bem comum ter coisas para fazer e serem adiadas. Nunca gostei de ir ao posto de combustível para calibrar os pneus do carro. Não tem um motivo específico. Sempre foi assim: deixava para a próxima abastecida. Dessa forma, os dias iam passando e a lembrança cada vez mais insistente. Num determinado momento, impossibilitado de adiar novamente, eu acabava cumprindo a referida tarefa. Com os pneus ‘oxigenados’, o carro torna-se, então, mais leve, o volante mais adequado. Um dia, talvez, vou descobrir os motivos dessa resistência em calibrar os pneus. Uma hipótese pode estar relacionada com o desapego: sempre entendi que carro é um meio apenas. Necessita de cuidados, mas não convém exagerado apego. Tenho consciência de que devo calibrar os pneus, mesmo não tendo um grande afeto por essa ação. Convém esclarecer que não sou relapso, apenas um pouco resistente. Tudo indica que, com o tempo, irei superar essa limitação.

Enquanto o frentista calibrava os pneus, meu pensamento alcançou outras realidades. Fiquei pensando quantas pessoas passam a vida toda sem nenhuma ‘calibragem’. A saúde precisa ser calibrada através da prevenção, o humor deve ser revisado continuamente, o amor à família deve ter a quantidade exata de oxigênio. O conhecimento aguarda sempre por novas calibragens. Enfim, todos estão convocados a revisar continuamente outros ‘pneus’, além daqueles que permitem que o carro rode. Como tudo seria diferente se o respeito, a fidelidade e a paz recebessem o adequado e diário calibre!? É comum ir adiando, deixando para depois ou até esquecendo definitivamente de determinados valores que favorecem a edificação e a plenitude da felicidade. Um pneu não calibrado não roda. Os valores humanos, quando não renovados e reavivados, deixam de deslizar espontaneamente no cotidiano da existência.

Muitas pessoas são atentas, cuidadosas e até detalhistas: nada passa desapercebido. Cada gesto ou atitude acontecem no tempo certo. Com um pouco de organização e boa vontade, todos poderiam viver com mais serenidade, sem atropelos e com uma quantidade maior de satisfação. Acontece que é muito mais cômodo ir adiando, agendando para o dia seguinte, que nunca chega. As constantes perdas, referentes à qualidade de vida, estão atreladas aos adiamentos que vamos sustentando. Quanta gente deixando, inclusive, para ser feliz depois disso ou daquilo. Algumas ‘calibragens’ só conhecem um tempo específico: hoje. Amanhã já será tarde demais. Adiar não é, em si, um problema. O complicado é não saber o limite e, posteriormente, amargar perdas irrecuperáveis. Estou consciente que não devo descuidar da calibragem dos pneus do carro que estou usando. Aos poucos vou melhorar nesse quesito. Tomara que todos consigam, no tempo certo, calibrar a esperança e a alegria de viver.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

MEDO

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O medo que nos abate em momentos específicos, quando o alarme é acionado, é experimentado por todos nós dependendo das dificuldades de cada um, claro que em uma escala diversa. Eles vão sendo internalizados e mostram-se nas nossas atitudes, nos pondo à prova.

Por vezes é um medo que intimida, que segura o passo, que trava a vida, que dificulta o transcorrer do andar. Medo que atrofia, que é angústia sentida, raiva provocativa... Onde se esconde o medo dentro de nós?

Medo de errar e de desapontar gerador de fantasias de culpa que escondidas permanecem em nós. Pensamentos, sentimentos invadindo atitudes, mostrando trauma e rejeições escondidos nesses medos a se atrapalharem.

Medo que se cria na mente inquieta, acorrentando a vida.

Medo que nos faz fugir de nós mesmos, que precisa ser revisitado, compreendido e transformado em uma grande mudança que passa via elaboração. Representa as vozes de todas as dores confusas vividas no passado.

Quanto maior o medo que se sente maior é a tentativa de compreendê-lo ou de ressignificá-lo.

Acordei naquele dia, olhando diferente para o medo que sentia. Observei-o tentando entendê-lo. Precisava decifrá-lo para só assim poder andar pela vida mais tranquila, observando melhor o que sentia. Dei-lhe a mão e nesse andar ele foi se tornando menor, já não mais me engolia ou me tomava inteira como antes. Me apropriava dele e assim ele se tornou meu amigo. Isso era conscientemente revisitar a vida. Não mais teria esse medo assustador e acredito que assustadoramente em alguns momentos o medo dos meus medos foram amparados.

Assim simplificava a vida.

domingo, 15 de abril de 2018

RECOLONIZAÇÃO OU REFUNDAÇÃO DO BRASIL, ESTA É A QUESTÃO .

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A derrota de Lula no STF a propósito da rejeição do habeas corpus e sua prisão, revela a volta das forças do atraso que perpetraram o golpe parlamentar, jurídico e mediático contra Dilma Rousseff em 2016. A grande questão não se restringe à difamação de nosso maior líder, condenado sem provas cogentes e o sagramento do PT. Dois projetos estão se confrontando e irão definir o nosso futuro: a recolonização ou a refundação.

O projeto da recolonização força o Brasil a ser mero exportador de commodities. Isso implica desnacionalizar nosso parque industrial, nosso petróleo, as grandes instituições estatais. Trata-se de dar o maior espaço possível ao mercado competitivo e nada cooperativo e reservar ao Estado apenas funções essenciais mínimas.

Este projeto conta com aliados internos e externos. Os internos são aqueles 71.440 multimilionários que o IPEA elencou e que controlam grande parte dasriquezas do país. O aliado externo são as grandes corporações mulltinacionais, interessadas em nosso mercado interno e principalmente o Pentágono que zela pelos interesses globais dos Estados Unidos.

O grande analista das políticas imperiais, recém falecido, Moniz Bandeira, Noam Chomsky e Snowden nos revelaram a estratégia de dominação global. Ela se rege por três ideias força: a primeira, um mundo e um império; a segunda, a dominação de todo o espaço (full spectrum dominance), cobrindo o planeta com centenas de bases militares, muitas com ogivas nucleares; a terceira, desestabilização dos governos progressistas que estão construindo um caminho de soberania e que devem ser alinhados à lógica imperial. A desestabilização não se fará por via militar, mas por via parlamentar. Trata-se destruir as lideranças carismáticas, como a de Lula, difamar o mundo do político e desmantelar políticas sociais para os pobres. Um conluio foi arquitetado entre parlamentares venais, estratos do judiciário, do ministério público, da polícia federal e por aqueles que sempre apoiaram os golpes particularmente a grande mídia.

Afastada a Presidenta Dilma Rousseff, todos os itens político-sociais, na verdade, pioraram sensivelmente.

O outro projeto é o da refundação de nosso país. Ele vem de longa data, mas ganhou força sob os governos do PT e aliados, para o qual a centralidade era dada aos milhões de filhos e filhas da pobreza. Não apenas melhorou a vida deles,mas resgatou a sua dignidade humana, sempre aviltada. Esse é um dado civilizatório de magnitude histórica.

Esse projeto da refundação do Brasil, projetado sobre outras bases, com uma democracia construída a partir de baixo,participativa, sócio-ecológica constitui a utopia alviçareira de muitos brasileiros.

Três pilastras a sustentarão: a nossa natureza de singular riqueza e fundamental para o equilíbrio ecológico do planeta; a nossa cultura, criativa, diversa e apreciada no mundo inteiro e, por fim, o povo brasileiro inventivo, hospitaleiro e místico.

Essas energias poderosas poderão construir nos trópicos, uma nação soberana e ecumênica que integrará os milhões de deserdados e que contribuirá para a nova fase planetária do mundo com mais humanidade, leveza, alegria e festa, a exemplo dos carnavais. Mas importa derrotar as elites do atraso.

Não anunciamos otimismo, mas esperança no sentido de Santo Agostinho, bispo de Hipona, hoje a Tunísia. Bem disse: a esperança inclui a indignação para rejeitar o que é ruim e a coragem para transformar o ruim numa realidade boa.

Uma sociedade só pode se sustentar sobre uma igualdade razoável, a justiça social e a superação da violência estrutural. Esse é o sonho bom da maioria dos brasileiros.