domingo, 30 de setembro de 2018

ESCREVER É PRECISO - (2)

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Continuação...
A grande mudança ocorreu porque ganhamos a habilidade de COMPARTILHAR EXPERIÊNCIAS e CONHECIMENTOS
Eu escrevia muito quando era criança.
Escrevia história em quadrinhos, peças de teatro e contos.
Era algo infantil, de uma consciência ainda limitada.
Além disto, eu era um garoto muito tímido, com um monte de medos.
Pois bem, eu deixei a escrita de lado na juventude e ao longo da vida adulta.
Estudei e fui trabalhar com propaganda e marketing.
Foi um período em que não deixei de aprender e expandir minha consciência, mas de uma maneira mais passiva, de consumo de informação gerada por outras mentes.
O problema é que quando você vive muito através da imaginação dos outros é bem provável que isto gere uma certa frustração.
E eu me vi em uma situação de limite, onde a frustração me colocou em uma crise existencial.
Na verdade, eu havia consumido tanta informação que já não conseguia absorver mais nada.
E raramente conseguia colocar em prática as coisas que aprendia.
Assim, eu estava frustrado porque continuava perdido em meus rumos.
Eu vivia mergulhado no que chamam de roda do ter e do fazer.
Tinha muito pouco contato com quem eu era realmente.
Foi quando li uma frase do grande sábio Mark Twain que dizia que “os dois dias mais importantes da sua vida são: o dia em que você nasce e o dia em que você descobre por que nasceu”.
Aquilo me fez parar para pensar e refletir sobre o meu porquê.
Fiz uma regressão aos meus tempos de infância.
E descobri que a minha razão de SER era ESCREVER.
A partir dali, já com mais de quarenta anos, não parei mais de escrever.
E minha vida mudou completamente.
Saí da roda do TER e do FAZER e consegui, finalmente… SER.
Hoje sou uma pessoa muito mais consciente.
Meu autoconhecimento se aprofundou e também a forma de olhar para o mundo e para o outro.
Faço o que tem que ser feito, me comunico melhor, superei a timidez.
Posso te afirmar que a escrita acelerou o aprimoramento de minhas consciências intelectual, emocional e espiritual.
Assim, minha história também pode ser dividida em ANTES e DEPOIS da escrita.
E considero minha vida antes da ESCRITA também como uma espécie de PRÉ-HISTÓRIA.
Só passei a me considerar dono da minha HISTÓRIA depois dela.
Porque antes eu não sabia para onde caminhava e hoje sei exatamente o que quero para mim.
E saber o que você quer ajuda muito a evitar o que você não quer.
Bom, eu decidi dividir esta experiência com você PORQUE TENHO CERTEZA DE QUE A ESCRITA É UMA FERRAMENTA DE CURA.
Sim, a ESCRITA CURA.
Há duas maneiras de curar uma dor, um problema.
Uma delas é tratar dos efeitos, o que estamos acostumados a ver na medicina ocidental.

A outra maneira tenta ir diretamente às causas, à origem da dor, do problema.
É o caminho usado nas terapias alternativas.
E a ESCRITA, seja ela terapêutica, criativa ou analítica, é uma ferramenta que pode atuar tanto nos efeitos quanto nas causas.
Todo mundo sabe que preocupações são uma constante fonte de tensões.
O mundo exterior nos condicionou a pré-ocuparmos nossas mentes com fantasias, medos e outros pensamentos negativos.
Está certo que isto tem a ver com nosso instinto de sobrevivência, com o cérebro reptiliano cujas duas principais funções são obter prazer e fugir da dor.
Mas a gente não vive mais na pré-história, quando este instinto precisava ficar ligado o tempo todo.
Nossa necessidade de preservação da vida é o que faz com que nosso cérebro guarde mais experiências negativas do que positivas.
Mas não precisamos mais viver o tempo todo com estas experiências em mente ou à flor da pele.
Eu costumo dizer que 99% das nossas preocupações NUNCA vão acontecer.
E realmente não acontecem.
Não quero dizer que você não precise se precaver.
Precaução é muito diferente de preocupação.
Por precaução, você age. A preocupação te paralisa.
Você deve sim tomar certos cuidados, mas não pode viver o tempo todo nessa vibração porque, além de estressante, consome você por dentro.
E a escrita pode te ajudar muito nisto.
Imagine que você esteja preocupado ou preocupada com alguma coisa, com seu filho, com seu trabalho, com algo importante em sua vida.
E que esta seja uma preocupação recorrente que tira seu sono e te mantém como refém.
Experimente sentar-se e escrever sobre qualquer coisa para aliviar esta preocupação.
A escrita vai aliviar sua tensão
Mas, veja bem, escrever para aliviar tensões decorrentes de preocupações é tratar de efeitos e não das causas.
Para tratar das causas de suas dores, sejam elas quais forem, você precisa ir além.
Pode voltar ao seu passado para escrutinar eventos, fatos e até mesmo traumas que contribuíram para o que você se tornou hoje.
Pode analisar seu presente com um olhar de fora, tentando ver as coisas por ângulos completamente diferentes e fora da RODA DO TER E DO FAZER.
E também pode planejar melhor seu futuro, tentar enxergar adiante para tomar decisões mais certeiras nos momentos em que for preciso.
Você também pode analisar seus relacionamentos, sejam eles amorosos, familiares, profissionais e outros com mais profundidade.
E colocar isto no papel, ou o computador, se você preferir, é uma excelente maneira de exorcizar fantasmas, destruir crenças limitantes e contribuir para que sua vida seja mais significativa.
Outro ponto que vale ressaltar é que ESCREVER é um hábito como qualquer outro.
A verdade é que o ser humano adora idealizar tudo.
A gente vive pensando em um futuro ideal, em um amor ideal, no dinheiro ideal, na realização.
E se esquece de viver o presente.
A maioria das pessoas também idealiza o próprio ato de escrever.
Acreditam que é preciso chegar a hora certa, no lugar certo, com tudo calmo e perfeito ao seu redor para poder escrever.
Não é assim que funciona.
Você costuma dizer que vai começar amanhã.
Segunda eu começo a academia, no mês que vem eu começo a dieta ou paro de fumar, no próximo ano eu começo a escrever.
Isto é idealização.
Se você não começar a escrever hoje, vai continuar postergando, procrastinando.
Se é possível mudar um hábito ruim, imagine então, o valor de implementar um hábito saudável.
também se transforma em hábito, mas você precisa começar agora, em qualquer lugar e usar o método mais eficiente na formação de hábitos:
A REPETIÇÃO.
Se todo dia você escrever, pelo menos 15 minutos, logo vai querer aumentar este tempo.
Como dizia Erasmo de Rotterdam, “o gosto pela escrita cresce à medida que se escreve”.
E eu tenho certeza que isto vai te fazer muito bem.
Um forte abraço e até a próxima.
Com amor e gratidão,

sábado, 29 de setembro de 2018

ESCREVER É PRECISO - (1)

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Você já pensou em mudar sua vida, mas não sabe exatamente por onde começar?Você tem um problema que precisa solucionar ou uma dor, seja de ordem pessoal ou profissional, que gostaria de curar?
O objetivo deste post é falar de uma ferramenta poderosa para iniciar uma mudança profunda e verdadeira em sua vida.
E que também pode curar muitas dores e solucionar muitos problemas.
Nós somos seres com três tipos de inteligência.
A Mental ou Intelectual, que nos capacita a empregar a razão e a lógica.
A Emocional, a habilidade para lidar com sentimentos e nas relações com o próximo.
E a Espiritual ou Essencial que, longe de qualquer misticismo, nos permite extrair sentido de tudo, sermos criativos e imaginativos.
Você estimula sua Inteligência Racional através de leituras, estudos e pesquisas.
Você estimula sua Inteligência Emocional através da reflexão sobre suas ações e pensamentos.
E você estimula sua Inteligência Espiritual através de diversas maneiras, como a meditação, a oração, entre outras.
Também existe uma ferramenta que te permite exercitar e aprimorar as três inteligências:

A ESCRITA.
A Escrita é tão poderosa que mudou a história da humanidade.
Tudo o que vem antes dela é chamado de Pré-História.
E tudo o que vem depois é chamado de História.
Eu acredito que ela também seja capaz de dividir a história de sua vida, como aconteceu comigo.
Porque ESCREVER TRANSFORMA de verdade.
Responda mentalmente:
Você deseja uma transformação verdadeira em sua vida?
Seja ela pessoal ou profissional, existe algo que você realmente quer que seja diferente?
Você estaria disposto a desenvolver uma habilidade capaz de fazer esta mudança realmente acontecer?
Analisemos um pouco a história do homem na Terra.
O humano, ou Homo Sapiens, termo que deriva do latim e significa “Homem Sábio” é um animal com uma consciência maior do que os outros seres vivos que aqui habitam.
Somos seres com um cérebro altamente desenvolvido que têm consciência da própria existência.
E esta consciência tem se ampliado gradativamente.
O que é consciência e de onde ela vem é um tema cada vez mais estudado por físicos, neurocientistas e cientistas cognitivos no mundo todo.
O psiquiatra americano Allan Hobson, que desenvolve desde 2009 a Teoria da Proto-Consciência, acredita que toda matéria, além de suas propriedades físicas como massa, carga, spin, localização etc, possui uma Proto-Consciência.
E esta Proto-Consciência tem se desenvolvido ao longo da história do UniveHá estudos que comprovam que a Proto-Consciência se transforma em Consciência a partir de um determinado nível de oscilações neurais.
Mamíferos têm uma frequência cerebral mais elevada do que outros animais irracionais.
Mas o Ser Humano é o único cuja frequência cerebral se dá em nível Beta, entre 20 e 40 Hertz, o que nos torna seres mais conscientes.
Eu acredito que nosso maior objetivo aqui na Terra é ampliar esta consciência, nos tornarmos mais Sábios.
E estou certo de que escrever aumenta a frequência cerebral e te conecta com Ondas Cerebrais mais elevadas, do tipo Gama.
A primeira referência à nossa espécie, o Homo Sapiens, data de 160 mil anos atrás no continente africano.
E a consciência deste primeiro homem com oscilações neurais superiores era bem limitada.
Tínhamos literalmente menos neurônios.
Porém, até um determinado ponto de sua vida na terra, a espécie não escrevia.
Eles rabiscavam, desenhavam, o que os historiadores chamam de Proto-Escrita, uma escrita sem significado.
Não é à toa que este período pré-escrita é chamado de Pré-História.
Mas o que aconteceu entre três e dez mil anos atrás que mudou isto?
Justamente a invenção da escrita.
Foi quando os símbolos gravados em pedras e papiros passaram a significar algo para outros homens que o liam.
As civilizações egípcia, grega e romana ajudaram a distribuir mais experiência e conhecimento, um crescimento que foi interrompido após o fim do Império Romano e o advento da Igreja.
Embora a Igreja não tenha inicialmente proposto intencionalmente destruir obras científicas, a atmosfera de fé sobre a razão inibiu e impediu muito o pensamento científico.
E se houve retenção na Ciência, também houve na Consciência.
A invenção da imprensa por Gutemberg colocou um fim à Idade Média e aumentou drasticamente o compartilhamento de experiências.
As consciências individuais e coletivas foram se ampliando e se aprimorando.
Se você comparar o desenvolvimento do homem antes da escrita e depois da escrita verá que demos um salto de conhecimento absurdo.
Se comparar com os três mil anos antes da invenção da imprensa com os últimos 500 anos, a evolução acelerou ainda mais.
E isto se multiplicou ainda mais nesta era onde a informação pode ser compartilhada na velocidade da luz.
A verdade é que desde a invenção da escrita, nossa consciência tem evoluído drasticamente.

Continua...

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A GENTE ERA VERDE E NEM SABIA


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Tem gente que pensa que essa "onda verde" de preocupações ecológicas, sustentabilidade, consumo consciente, é coisa dos tempos modernos. Nem tanto. O que mudou, e muito, foi a intensidade e competência do marketing que hoje se faz em torno de ações que, antes, eram naturais.
Quando eu era menino, ou seja, ainda dentro do nosso tempo histórico, meu e do caro leitor, as garrafas de leite, de refrigerante e cerveja eram de vidro e deviam ser devolvidas na hora da compra de outra unidade. A loja mandava os "cascos" vazios de volta às fábricas onde eram lavados e esterilizados, podendo, assim, ser reutilizados inúmeras vezes.

A vida se concentrava nos bairros, mas se precisássemos ir ao centro da cidade para uma consulta médica ou ir ao dentista, por exemplo, em geral subíamos escadas, porque não havia escadas rolantes nos edifícios, lojas e escritórios. Lembro-me quando foram inauguradas as primeiras escadas rolantes em Porto Alegre. A gente ia lá para conhecer e passear na novidade. Vejam só o programa; passear em escada rolante...

De volta pra casa, caminhávamos até o armazém da esquina para fazer compras na caderneta. Para quem não sabe, a caderneta era usada em estabelecimentos comerciais tipo padarias, farmácias, vendas e assemelhados. O balconista entregava o produto e anotava o valor a lápis, na página onde havia o nome do freguês. No final do mês era só ir lá, somar e acertar. Simples como a vida.

Não havia super nem hiper-mercados, com estacionamentos caros e lotados de carros de 300 cavalos de potência usados para andar dois quarteirões. A polêmica sobre o uso das sacolinhas plásticas nem passava pela cabeça dos consumidores que levavam, de casa, uma sacola de pano ou de lona listrada que era usada quantas vezes fosse necessário. Isso quando a montanha, ou melhor, o produto não chegava a Maomé através de um ecológico delivery: de bicicleta, vinham a nós o verdureiro, o padeiro, o peixeiro, o leiteiro e outros vendedores a quem conhecíamos pelo nome e pela qualidade dos produtos oferecidos.

As fraldas dos bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Aliás, a palavra 'descartável' era uma ilustre desconhecida. Para secar as fraldas de pano, energia eólica e solar, ou seja, o varal. Nada de turbinadas e barulhentas máquinas de lavar e secar. E lá em casa, com a escadinha de três filhos, o varal era sempre uma festa onde "nossas roupas comuns, dependuradas na corda, qual bandeiras agitadas, pareciam um estranho festival..."

E as roupas eram mesmo "em comum". Eu, sendo o mais velho daquela penca de três irmãos, tinha o privilégio de inaugurar a camisa do uniforme escolar. Os irmãos menores iam "herdando" as roupas que tinham sido dos irmãos mais velhos, que eram usadas, cerzidas, ajustadas até a exaustão. E a gente achava essa reciclagem a coisa mais natural do mundo.

Havia só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima. A pizza era feita em casa mesmo.

Naquela tomada ligava-se uma única TV, uma só pra todo mundo da casa, e não uma TV em cada quarto. Sem controle remoto, ligar e desligar, mudar de canal, ajustar o som e mexer na antena exigiam constantes exercícios abdominais no senta e levanta do sofá. Mas nem precisava de TV, pois havia um cinema "Splendid" e a gente ia a pé para a matinê.

Naquela era pré-McDonalds, terminado o filme, voltávamos correndo pra casa para curtir o lanche. Nada de Hambuguer, X-Burguer, X-Tudo. Sem praça de alimentação, sem as geringonças elétricas e eletrônicas que fazem tudo por nós, minha mãe, avó e tias colocavam a mão na massa no preparo de roscas e biscoitos caseiros, bolos fantásticos, doces inesquecíveis. E cada uma tinha sua especialidade.

E mesmo com essas delícias nada diets à mesa, éramos magros e atléticos (com perdão da palavra), sem necessidade de dietas mágicas, sibutraminas e moderadores de apetite. Exercitar-se era comum no dia a dia, sem precisar ir a uma academia (que nem existiam) ou usar esteiras que também funcionam a eletricidade e hoje viram varais na área de serviço dos nossos modernos "apertamentos".

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina para aparar a grama. Utilizava-se um tesourão ou um cortador que exigiam músculos. Mas isso foi num tempo em que havia quintais e gramados. Hoje, em tempos de playgrounds de cimento e campos de grama sintética...Sem playgrounds, nossa diversão era o futebol no campinho, as brincadeiras - pique-esconde, mãe-da-rua, garrafão e outras molecagens, sempre na rua, num tempo em que ser moleque e estar na rua eram as coisas mais naturais e saudáveis do mundo. Bebíamos água da bilha ou do filtro de barro, em canecas de alumínio que faziam com que a água parecesse ter saído diretamente da fonte. Nada de copos descartáveis ou garrafas pet que tornam-se lixo por séculos e séculos amém.

A caneta tinteiro Parker 51 do meu pai era recarregável. Para fazer a barba, ele amolava sua própria navalha, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' quando a lâmina fica sem corte.Ninguém gastava horas de estresse e litros de combustível para ir e voltar do trabalho. As pessoas tomavam o bonde ou ônibus sem atropelos, sem congestionamentos, sem hora do rush. Íamos à escola a pé ou de bicicleta, ao invés de usar a mãe como serviço de táxi 24 horas. É verdade que éramos bem menos e vivíamos menos assustados, pois não havia os Datenas para nos aterrorizar. No Estádio eram as torcidas, sentadas lado a lado, sem divisão, gritando "cachorrada!" e a outra respondendo, "refrigerados!". Na verdade, já éramos ecológicos e tínhamos uma vida absolutamente sustentável.

Bons tempos, em que a gente era verde e não sabia...

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

UM PENSAMENTO SOBRE ANEL E OS DEDOS

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Acabei de ver, agora, os jornais da noite na TV. Pela primeira vez, em muitos dias, o noticiário estava repleto de declarações, discursos e propostas de suas excelências.
Quero prevenir a você que me lê, que tenho escrito meus comentários e reflexões no calor dos acontecimentos, sem censura nem revisão, o que pode favorecer a que cometa erros, tanto gramaticais quanto de avaliação e até de conteúdo. Numa coisa não erro; no desejo de fazer valer o princípio defendido por um dos meus gurus, o Millôr Fernandes, que dizia: "livre pensar é só pensar", e compartilhar com vocês o meu pensamento.

Ontem, logo após o programa político, destaquei que, entre as propostas apresentadas, a que mais me agradava era a do plebiscito para convocar uma Constituinte exclusiva que deflagrasse a sonhada Reforma Política. Pois foi justamente essa proposta que recebeu fogo pesado de quem, nos últimos dias, esteve calado e escondido.

A pulga, qual gigante despertado, pulou atrás da minha orelha...

Todas as outras propostas, dependem de uma Reforma Política, já que queremos manter o Estado Democrático de Direito, tão duramente conquistado pelas gerações que hoje, de cabelos brancos, vibram com a meninada na rua. Não queremos golpes, nem salvadores da Pátria, queremos mudar, dentro das regras, respeitando a Constituição. E é aí que o bicho pega...

Tudo que queremos mudar tem que ser aprovado pelo Congresso - Senado e Câmara - casas legislativas eleitas para deliberar e decidir em nome dos interesses do povo, além de fiscalizar a atuação dos outros poderes. Só que...
Na geleia geral de partidos em que se transformou a política brasileira, os eleitos não defendem os interesses do eleitor, mas, na maioria das vezes, de um grupo, instituição, ou empresa que financiaram a sua campanha. O eleitor vota num candidato e elege uma Igreja, um conglomerado financeiro, uma rede de Rádio ou de Televisão e até um time de futebol.

Há no Congresso, a bancada da bola, a ruralista, a dos bancos, a bancada evangélica e outras mais, que usam o eleitor como intermediário dos seus interesses corporativos que, frequentemente e curiosamente, são bem diferentes do interesse do próprio eleitor. O resultado é essa maluquice, por exemplo, de ver o país inteiro em ebulição, nas ruas, e lá, dentro da Câmara, os deputados discutindo projeto de "cura gay". Isso me lembra aquela piada do professor de Ciências que, durante uma aula de Astronomia, é alertado por um aluno de que está havendo um eclipse total do sol, lá fora. E o professor, apontando para o quadro: "acende a luz e presta atenção na aula, menino!"

Inúmeros projetos de reforma política estão, há anos, dormindo nas gavetas de suas excelências. Afinal, pra que mexer em bolso que está ganhando? Agora dizem que um Plebiscito ou uma Constituinte exclusiva vão "atrasar" as reformas...

Atrasar como, cara-pálida?

Continuo, no calor da luta, achando que, se eles reagiram contra, é porque é coisa boa.

É esse o medo de suas excelências. É por isso que eles, agora, se mostram dispostos a entregar alguns poucos anéis, desde que possam conservar os muitos dedos...

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

PARA PENSAR: UMA HISTÓRIA DOS DIAS DE HOJE.

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O fato é real. Aconteceu semana passada com uma conhecida minha. Mas com certeza acontece a cada dia com outras tantas pessoas no Brasil. Com certeza você conhece uma também que tenha passado pela mesma situação.

No meu caso, trata-se de Dona Cidinha. Uma mulher pobre de um bairro popular de uma cidade da Região . Dona Cidinha é uma mulher pobre. E além de pobre, é negra. Hoje está com em torno de 70 anos. Mas aparenta ter mais fruto de uma vida de muito trabalho e sofrimento. Desde a infância Dona Cidinha trabalhou em “casa de família”. Como milhões de mulheres, trabalhava e morava na casa dos patrões. Isso até ter a primeira filha. Quando a menina nasceu, a patroa disse que não podia morar na casa com a menina. Se quisesse continuar a trabalhar, tinha que deixar a menina com alguém. E foi com a avó que ela deixou a menina. Quando veio a segunda criança, a mesma coisa. E também com a terceira. E as crianças foram sendo criadas pela vó e sustentadas pelo trabalho de Dona Cidinha. Até o dia em que a patroa disse que não precisava mais do serviço de Dona Cidinha. Cansada do Brasil, a patroa ia se mudar para os Estados Unidos. E lá se foi a patroa para Nova Iorque. E Dona Cidinha foi morar com a avó e as filhas que, a estas alturas, as duas mais velhas, já eram mães também.

Mas a desgraça maior de Dona Cidinha não foi perder o emprego. Foi saber que todos aqueles anos trabalhados na casa da patroa não tiveram Registro em Carteira e ela não teria nem Seguro Desemprego, nem Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Como recorrer à justiça se a patroa já não morava no Brasil? Nenhum advogado quis assumir a causa. Por sorte, Dona Cidinha, com a ajuda de uma Assistente Social, conseguiu encaminhar o Benefício Continuado por idade. Foi a salvação para ela, suas filhas e suas duas netas.

Mas a desgraça não tinha acabado para Dona Cidinha. Aos dois meses, a mãe de Dona Cidinha faleceu. E poucos dias depois uma de suas filhas também adoeceu e morreu. A outra se foi com um homem morar na fronteira. A terceira ficou porque doente estava e não podia trabalhar. E o dono da casa que a mãe de Dona Cidinha alugava aproveitou a ocasião para pedir o imóvel de volta. E de uma hora para outra Dona Cidinha se viu sem um lugar para morar, com uma filha doente e duas netas para cuidar.

Por sorte conseguiu nas proximidades uma pecinha para morar. Pequena, apertada, calorenta no verão e húmida no inverno. Mas era o que cabia no chuleado orçamento de Dona Cidinha. E ainda havia a água e a luz. E a comida e os remédios seus e da filha doente.

Tudo pareceu se resolver quando um dia Dona Cidinha foi ao banco retirar sua aposentadoria. A uma quadra do banco, uma moça a abordou e, com uma gentileza que Dona Cidinha nunca tinha recebido na vida, convidou-a a entrar na Financeira. E explicou-lhe que, se ela quisesse, poderia dispor imediatamente de dez mil reais. E que esse empréstimo seria pago em pequenas parcelas descontadas mensalmente de sua aposentadoria. E o primeiro desconto só seria feita em três meses. Tudo muito fácil, sem exigência nenhuma. Apenas uma cópia dos documentos e a assinatura nos papéis. Dona Cidinha não queria acreditar. Mas era real. Não havia qualquer dúvida. E ela aí viu a ocasião para fazer aquelas compras com que tanto sonhava, garantir os remédios para a filha e uma melhor alimentação para os netos.

Com um frio na barriga vazia e o coração a mil, Dona Cidinha mandou que preenchessem os papeis, assinou onde lhe mandaram e saiu da financeira com o dinheiro apertado dentro da sacola fortemente segurada pelas duas mãos. Foi para casa direto e no dia seguinte começou a implementar seus sonhos com o tão precioso dinheiro. Foram três meses de felicidade. A filha doente, com os remédios certos e a alimentação melhorada, se sentiu quase boa. As netas, com as roupas novas e os brinquedos, até melhoraram na escola. O problema começou no quarto mês quando começaram entrar os descontos na aposentadoria. Os quase mil reais do salário mínimo baixaram para pouco mais de seiscentos. E, no mês seguinte, baixaram ainda mais. E no terceiro, mais ainda. Dona Cidinha não entendia o porquê isto estava acontecendo. Foi à financeira onde tomara o empréstimo e lhe disseram que era por causa dos juros. “Juros? Mas que juros?”, perguntou ela estupefata. “Vocês não me disseram que ia ter juros!” “A senhora não perguntou!” respondeu a moça com um sorriso amarelo no rosto. E Dona Cidinha soube ali que a cada mês seu saldo iria diminuir por causa dos juros e que não havia nada a fazer, pois ela tinha assinado sem ler!

No quinto mês Dona Cidinha não pagou a conta da água. No seguinte, foi a vez da conta da luz atrasar. E também o aluguel que atrasou já pelo segundo mês. E o remédio não pode ser comprado. E a comida começou a faltar... Tudo porque não tinha perguntado de quanto seriam os juros a pagar.

Penso na triste situação de Dona Cidinha nestes dias em que um séquito de candidatos de todos os partidos passam por nossas portas, ruas, rádios, jornais, televisão e internet oferecendo mil maravilhas para hoje e para amanhã. Eles se parecem com a funcionária da financeira que ofereceu o empréstimo a Dona Cidinha. São só sorrisos e amabilidades. E dizem que tudo é fácil. Basta digitar o número deles e apertar “confirma”.

Não podemos fazer como a pobre Dona Cidinha e não perguntar de quanto será o juro a pagar por essas benesses que nos oferecem. O Brasil já gasta, hoje, 43,98% do dinheiro arrecadado com impostos no pagamento dos juros da dívida. Isso mesmo: quase metade do dinheiro que pagamos em impostos são destinados ao pagamento dos juros da dívida pública. E quem detém esta dívida? Os bancos, públicos e privados. E quem estabelece de quanto vai ser o juro da dívida? Quem estabelece os juros da dívida é o COPOM, um organismo do Ministério da Fazendo composto, em sua maioria, por representantes do mercado financeiro, ou seja, dos bancos. Alguns membros do COPOM fogem a essa regra. Mas são a minoria. É a raposa cuidando do galinheiro. Imagina então, se colocarmos um banqueiro ou um seu representante para governar o Brasil? Os bancos vão estar com a faca e o queijo na mão para aumentar ainda mais a fatia dos impostos por nós pagos e por eles apropriados.

Antes de votar, então, busque ver qual é a proposta de política financeira de seu candidato. Mais concretamente, busque saber como ele vai tratar a dívida pública. Qual vai ser a política dele em relação ao Banco Central? Vai deixá-lo à mercê do mercado ou vai utilizá-lo como instrumento de política pública? É bom saber antes de digitar o número e confirmar, porque depois, quando ele começar a cobrar os juros, podemos ficar sem educação, sem saúde, sem saneamento, sem investimento em infraestrutura... E aí já não vai mais ter o que chorar! Será tarde demais!

terça-feira, 25 de setembro de 2018

PAU DE SELFIE.


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Outro dia me impressionei com uma reportagem no facebook sobre as mortes pelo uso do pau do selfie já terem superado as das vítimas de ataque por tubarão. Imediatamente, associei a inusitada descoberta aos efeitos nefastos do uso da mais atual maravilha do mundo, a rede. É incrível que a possibilidade ao alcance de tantos de ser a estrela do seu destino tenha se transformado numa profecia autorealizante. A escolha deliberada pelo estrelato sacrifica a integridade do artista e até a sua vida.

Daí que me ocorreu que a humanidade está diante de uma encruzilhada, vivendo um momento de decisão que vai determinar o curso da vida no planeta pelas eras porvir. Essa decisão será do que de fato sacrificar para continuar vivo, pois não há a menor dúvida de que algo tem que ser sacrificado. Para isso será necessário primeiro aprofundar a compreensão da natureza das coisas.

Os valores que escolhemos consumir, é certo, são intrinsecamente temporários, entronizamos o que é feito para acabar, o que é propriedade da matéria. Mas, como tudo o que é sólido desmancha no ar, ficamos vendidos no final, por ter perdido a única coisa que tem valor absoluto nesta vida: o tempo. A conquista de que ninguém poderá nos privar é a certeza de que soubemos aproveitar cada segundo da nossa existência.

O tempo tem uma característica enganadora: é comum achar que ele não está passando. Até perceber tarde que ele passou rápido demais. E mais: cada momento traz em si a semente da mudança, até porque o presente existe, mas o passado e o futuro não passam de abstrações. Nessas condições, a segurança que todos somos concitados a adorar pode ser um tiro no pé, pois sem o risco que é a alma do negócio morreremos todos de tédio.

Daí que a escolha do quê sacrificar passa pela possibilidade de que não nos curtam, com as nossas bênçãos. O emprego do tempo da minha vida tem que aceitar a irrelevância da plateia para que eu queira agradá-la.

Talvez a maior previsão do clarividente Aldous Huxley tenha sido o pau do selfie. Afinal o seu incomparável ‘Admirável Mundo Novo’ descreve o futuro em que o controle social deixaria de ser imposto para ser desejado. Nos tornaríamos escravos por vontade própria, já que a dignidade da diferença não resistiria ao apelo da vaidade de pertencer ao perfeito mundo dos sem defeitos. Aceitaríamos qualquer coisa se fosse para contabilizar curtidas, ou seja, para não ouvirmos que temos defeitos.

O fato, porém, é que a dignidade decorre do poder de nos autodeterminarmos e de aceitar que os outros, por sua vez, escolham o seu caminho. Pior do que não ser curtido é depender dos outros para nos definir, pois só às coisas não se dá o direito de escolher como viver. E talvez seja essa a escolha do sacrifício a se fazer, o de não precisar ser perfeito.

Afinal, segundo o facebook, Cecilia Meirelles já constatou que ‘é preciso amar as pessoas e usar as coisas e não amar as coisas e usar as pessoas.’

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

TOMAR UM CAFÉ COM QUEM?


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Naquele sonho, me encontrei para um café especial com pessoas que venero. Muitas delas não conheci pessoalmente, mas de alguma maneira ocasionaram registros em mim; apreciava suas vidas, e as marcas que eles deixaram no deslocar-se pelo mundo.

Figuras que estudei ou que aleatoriamente passaram por mim. Que deixaram seu legado de alguma maneira. Enfim, posturas que admirei. Grandes pessoas, grandes histórias, simples e significativas vivências. Pessoas que são gente como a gente, mas que têm um brilho a mais.

Seres que estão em lados muito distantes da vida. Não vivemos ao mesmo tempo, nem no mesmo lugar. Mas o céu me permitia ter esse alcance e deixava eu me renovar.

Reverenciava esses que são elos de sabedoria e mestres de aprendizado e de graça, meus, de uma geração, de um tempo. Tudo isso ficou para ser explorado agora no momento em que me encontrava.

Aquele café me fez acordar com gosto de plenitude entre os lábios, sabendo que estamos todos interligados, nos aprendizados, nas dificuldades, na busca por uma consciência maior. Tudo promovendo o entendimento da existência.

Sabia que era um presente dos céus, que não alcançaria ao meu bel prazer, mas me deliciava com a sensação de ter reencontrado dentro de mim pessoas e sentimentos profundos que guardei com todo carinho e por longo tempo.

Agora questiono você: Quem seriam as pessoas com quem você tomaria um café no céu?


domingo, 23 de setembro de 2018

SE A CARTA DE PAULO FOSSE ESCRITA PARA OS DIAS DE HOJE...

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Se o apóstolo Paulo vivesse em nossos dias, trabalhasse numa Escola, ou numa empresa qualquer, fosse casado, tivesse mulher e filhos, enfrentasse a rotina diária do trabalho, do trânsito, dos sustos e medos das cidades e tempos em que vivemos, talvez escrevesse assim a sua Carta aos Coríntios...

Ainda que eu fale mais alto que todos em minha casa ou do meu setor de trabalho, ou use minha posição, cargo ou função para calar as outras vozes, se não tenho Amor, sou como uma sirene estridente ou uma campainha repetitiva e irritante, mas solitária e inútil...

Ainda que eu fosse capaz de prever e programar tudo, organizando e colocando sob meu controle cada detalhe da casa, do escritório, do programa a ser desenvolvido em sala de aula, do meu setor de trabalho, se não tenho Amor, nada disso adiantaria muita coisa...

Ainda que eu me sacrifique no trabalho, dedicando horas e horas de esforço para garantir mais conforto à minha família, ou para agradar meus superiores, mostrando minha competência, habilidades, batendo metas de produtividade, até com o risco de perder minha saúde, se não tenho Amor, sou pouco mais que nada...

O Amor é paciente... mesmo quando a rotina do cotidiano desgasta e exaspera, na monotonia dos erros repetitivos e comuns que acabamos, na convivência diária, conhecendo tão bem.

O Amor é prestativo... não só com aqueles a quem somos subordinados, com o cliente, ou com quem chega de fora, mas em especial com aqueles com quem convivemos no dia a dia mais banal.

O Amor não é invejoso... não transforma as relações em competição e a competição em mágoa ou rancor. Não se ostenta, nem se enche de orgulho, presunção e autossuficiência.

O Amor é generoso, cooperativo, solidário, encontrando alegrias improváveis no ato de servir ao invés de ser servido, nas situações e circunstâncias mais simples do cotidiano.

O Amor nada faz de inconveniente... nem procura apenas seu próprio interesse. Ele sabe que é parte de algo maior, se sente família, equipe, sendo capaz de, mais que viver, de con-viver.

O Amor percebe, acolhe, ouve e valoriza a presença e opinião do outro, respeita sua história, conhece seus limites, admira suas qualidades e as potencializa para o mais, para o melhor...

O Amor é gratuito, natural, espontâneo, de uma generosidade quase infantil, que deveria brotar, transbordar e se espalhar em cada gesto ou palavra. O egoísmo é que deveria nos causar surpresa e estranhamento.

O Amor não se irrita, não guarda rancor... e, talvez, tanto na vida familiar quanto no ambiente de trabalho, aí esteja o maior desafio para o Amor.

Mas, nas crises, nas dificuldades, Ele supera seus próprios limites e é capaz de amar mesmo quando é impossível gostar.

O Amor, então, se faz perdão... no mínimo, um querer bem que ultrapassa qualquer mágoa ou desejo de vingança, pois o Amor tudo desculpa... sem anotar nada “no caderninho” para cobrar depois...

O verdadeiro Amor, tanto em casa quanto no trabalho, se reveste de respeito, busca a Verdade, se alegra com a Justiça. E porque Verdade e Justiça geram confiança, o Amor tudo crê.

E como quem crê tem sempre esperança, o Amor, enquanto tudo espera, constrói ambientes de alegria em si e ao seu redor, pois uma de suas características é a capacidade de oferecer sempre, depois de cada lágrima, a possibilidade do abraço que acolhe, da palavra que consola, do gesto que restaura.

O Amor, enfim, tudo suporta... porque sabe que o insuportável mesmo é viver sem Amor.

Quando éramos crianças, pensávamos como crianças, agíamos como crianças, como crianças nos comportávamos. Bons tempos...

Então, veio a vida com suas exigências e cobranças, seus desafios, seus limites, sua rigidez e suas contradições, fazendo nascer em nosso coração a dúvida e a incerteza,
a insegurança e o temor.

Passamos a ver tudo como que por um espelho, de forma oblíqua, distorcida, ou como que através de uma vidraça embaçada.

Mas, um dia (que pode começar hoje), veremos face a face, conheceremos como nós mesmos somos conhecidos...

E então, quando esse tempo que não tem tempo chegar, tudo vai encontrar seu termo; o conhecimento, o poder dos cargos e dos currículos, a opressão do autoritarismo e da falta de amor, a frieza dos projetos e planejamentos distanciados da realidade, os diplomas e títulos dos quais nos orgulhamos tanto, quando tudo desaparecer, o que restará...?

Não se esqueçam, em nós, foi plantada uma semente de eternidade. Quem plantou foi o Amor. E só o Amor é e será capaz de preencher todos os espaços, superar todos os limites, abrir todas as possibilidades, aqui e agora, pois o Amor jamais passará. O que É não passa. O tempo do Amor é Agora e Sempre!

Em nós mora o Amor, em nosso coração, em nossas palavras e gestos, sonhos e desejos, clama o desejo de amar, pois somos imagem e semelhança do Amor que nos criou.

sábado, 22 de setembro de 2018

A VAIDADE

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“Vaidade das vaidades, diz o profeta, tudo é vaidade...” (Ecl 1,2”.

O título desta crônica é trecho do livro do Eclesiastes onde se lê:
Apesar de um traço de aparente amargura, a frase chama a atenção para um sentimento que move grande parte da humanidade; a vaidade.


No filme “O advogado do diabo”, o próprio demo, personagem interpretado magistralmente por Al Pacino, diz, ao final: “a vaidade é o meu pecado favorito!”.
Conversando sobre vaidades, uma amiga minha, por esses dias, me disse uma frase que me fez pensar; “é preciso muita coragem para receber um elogio...”.
E o assunto parece estar me perseguindo. Assistindo a uma entrevista com o ator global Ney Latorraca, que contava da sua volta para ser protagonista na vida, nos palcos e telas, depois de longa e grave enfermidade, perguntado sobre o que o movia e motivava, respondeu: “a minha vaidade”.

Sétimo pecado capital, a vaidade é normalmente associada ao orgulho excessivo, à arrogância e à presunção de quem se expõe para ser admirado, idolatrado, endeusado. Ou seja, é pecado praticado com gosto, talento e sofreguidão por uma multidão de celebridades e candidatos a celebridade, nessa imensa vitrine de brilho instantâneo e fugaz em que se transformou nosso mundo.

São Tomás de Aquino considerava a vaidade um pecado tão arraigado na alma humana que deveria ser tratado em separado dos outros seis, merecendo uma atenção especial.
Penso que a vaidade nasce de um sentimento nada pecaminoso; o desejo de se sentir e se saber amado. Nada mais humano e, ao mesmo tempo, divino.
Intuo, na Criação, um quê de vaidade por parte de Deus. Exibido, Ele se revela e transborda por inteiro no poema do Gênesis. E sua obra prima somos nós, sua imagem e semelhança. Somos como que um espelho no qual Deus, vaidoso, se vê, mesmo com nossas distorções de imagem.

Em Jesus, Deus, humano, se vê espelho de si mesmo, e o amor se revela berço, caminho e destino. Por isso, na experiência amorosa, no amar e ser amado, nos sentimos “em casa”. É nosso ambiente natural, o que mais nos realiza e humaniza.
A vaidade seria, portanto, expressão desse natural desejo de ser amado. O problema é a distorção...

O amor nos abre a nós mesmos e ao outro. É o que está preconizado no mandamento maior: amar a Deus de todo coração e de toda a alma, e ao próximo como a si mesmo. O amor é a ponte que nos leva a Deus e nos devolve a nós mesmos e ao outro sem o qual Deus seria irreconhecível. Mas o egoísmo interrompe essa ponte. Qual enchente, leva de roldão nossa capacidade de amar e deixa no lugar os destroços e escombros da nossa vaidade. O Eu ocupa o lugar do Nós.

E assim, na vaidade adoecida, para chegar ao primeiro lugar, ao brilho dos holofotes, vale tudo, até perder-se a si mesmo. Não foi esse o questionamento de Inácio a Francisco? Imagino o santo de Loyola balançando a cabeça e dizendo ao vaidoso amigo: “Xavier, Xavier, de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se perder sua alma?”.
Não foi, talvez, a vaidade que moveu Marta a ir, apressadamente, arrumar a casa enquanto Maria “escolhia o melhor”, permanecendo ao lado de Jesus?

Tem razão o Latorraca; a vaidade pode ser um impulso vital para nossos mais profundos desejos, mas é preciso encontrar o seu ponto de equilíbrio e virtude, sem o que, ela resvala dolorosamente para a mediocridade do pecado capital que nos empobrece e desumaniza.
Muito tempo atrás vivi esse dilema. Numa celebração com um grupo mais íntimo, substitui o texto original da leitura do evangelho por uma meditação que fiz sobre o mesmo texto. O religioso que presidia o rito recusou-se a ler e, ao final do culto, me chamou a atenção, criticando duramente o que chamou de vaidade exacerbada da minha parte.

A reprimenda calou fundo, despertando sentimentos de culpa e vergonha. Vaidoso, fechei meu coração. Passei um longo período espiritualmente deprimido (desolação), sem escrever, sem compartilhar, sem me expor. 

Mas... o Espírito Santo, além, de brincalhão, é muito sensível e competente. Encontrei o Pastor Oswaldo, para uma conversa. Contei a ele do episódio, dos meus sentimentos. Ouviu, sereno, e me perguntou:
Rui, quando você escreve e compartilha um texto, você sente que faz bem às pessoas?
Pensei e respondi com profunda sinceridade: Sim, sinto que faço bem a muita gente.
Pois então, disse o Oswaldo, se sua intenção ainda não é suficientemente santa, santifique sua intenção, mas não deixe de fazer o bem...”.
Desde então, aprendi a lição: o Mal, vaidoso, não tem nenhum pudor em se fazer e dizer. Adora as manchetes, as vitrines, o horário nobre. O Bem, às vezes, fica cheio de frescuras.
Em Belém, Deus revela sua vaidade maior: ser simples, tão simples quanto o amor pode ser...

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

PORQUE GOSTO TANTO DO IPÊ AMARELO

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Alguns gostos não têm uma justificativa ou uma explicação convincente. A pessoa simplesmente gosta. Talvez não seja necessário elencar razões pelas quais uma pessoa tem preferência por isso e a outra por aquilo. As várias gerações continuam afirmando: gostos, cores e amores não se discute. Nesse sentido é também possível contemplar os diferentes talentos que estão distribuídos entre as pessoas. Cada um tem uma especialidade, um dom, um ponto forte. Essa variedade, tão bem distribuída, é encantadora, remete ao mistério, ao infinito. Cada pessoa é única, ninguém se iguala. As semelhanças são traços externos, que nem todos percebem. Normalmente são os outros que destacam e elogiam determinadas qualidades. Nem todos se alegram com aquele dom que é seu e de mais ninguém. Não se trata de subir num pedestal e aguardar aplausos, mas de reconhecer uma particularidade que única e que confere uma distinção.

Sempre gostei da flor de ipê amarelo. Normalmente são cachos de flores. Quando o frio vai dando trégua, meu olhar não perde de vistas estas belas árvores que estão presentes em muitos espaços, inclusive nas ruas da cidade. Pensando bem, talvez o gosto mais intenso não seja apenas pela flor em si, mas pelo processo que o ipê é submetido até chegar à floração. Para tornar-se totalmente amarelo, ele necessita se desfazer das folhas, apresentar-se diante do inverno sem nenhum ‘agasalho’, balançar conforme o vento e aguardar o surgimento das flores. São etapas exigentes e, quem sabe, até doloridas. Mas o ipê aguenta tudo silenciosamente. Quando as flores desabrocham, certamente não se recorda mais do quanto dolorido fora aquele vento forte que tudo balançava. É bem verdade que alguns galhos menos resistentes, entre um ano e outro, acabam se desprendendo do tronco. É quase uma seleção que faz parte do ciclo da natureza.

A única observação que faço, em relação à grandiosidade do ipê amarelo, é que o tempo de duração das flores é relativamente curto. Dependendo das condições climáticas, o espetáculo com a harmoniosa tonalidade amarela dura poucos dias. As calçadas ficam imediatamente repletas de flores, semelhante ao um enorme e denso tapete. Não tem como ser diferente: o ipê floresce sem a autorização ou o toque  humano e suas flores permanecem no palco do universo por alguns dias ou por uns instantes. Isso me faz recordar e, ao mesmo tempo me desafia ao aprendizado, que a quantidade não tem a última palavra, mas sim a intensidade. Não importa quantos dias as flores ficam nos galhos do ipê, mas, sim, o impacto que as mesmas causam aos olhos daqueles que até param para observar ou ‘absorver’ tamanha perfeição. Não posso esquecer, no entanto, o longo e árduo percurso da árvore de ipê até se encontrar com o tempo certo para florescer. Como tudo seria diferente se as pessoas conseguissem se desprender de alguns galhos e de muitas folhas para abrir espaço para as flores da bondade, da espiritualidade, do amor e da solidariedade. Se tem vida, tem que ter flores. Não sei explicar porque gosto tanto do ipê amarelo.