segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A FORÇA MEDICINAL DO ABRAÇO

O mercado está cheio de receitas milagrosas para todas as situações. Prometem o bem-estar, prometem a felicidade, mas não a entregam. E as promessas enganosas nos fazem esquecer velhas soluções que não custam nada. E não têm contraindicações. Estamos falando do velho e conhecido abraço. Todas as maravilhas que se diziam dele acabam de ser comprovadas pela Universidade de Viena. Ele atua na alma e no corpo, melhora nosso psiquismo e nossa alegria de viver. E sua ausência diminui a qualidade de vida.

Os especialistas dizem que uma média aceitável é de 12 abraços por dia. Este número pode ser superado sem qualquer prejuízo. Essa atitude tem efeito multiplicador, pois o abraço funciona em duas direções: quem abraça recebe um abraço. As situações para o abraço são infinitas. É o abraço da mãe para o bebê de poucos dias, é o abraço de dois irmãos que há tempo não se encontravam, é o esperado abraço de reconciliação, é o abraço mágico dos amantes de qualquer idade, é o abraço por um triunfo conquistado, é o abraço para quem está triste, é o abraço por qualquer motivo ou mesmo sem motivo.

A pesquisa da universidade de Viena aponta a força medicinal do abraço. Ele libera a oxitocina, o hormônio da felicidade, queima as enzimas negativas, reduz o estresse e a pressão arterial, aumenta a autoestima e fortalece todo o sistema imunológico. Os benefícios continuam: alivia a dor, combate os resfriados e melhora a comunicação.

O Evangelho fala do velho pai, que ao ver o filho pródigo regressando, corre ao seu encontro e o abraça e cobre de beijos (Lc 15,20). O abraço nunca se repete, é sempre novo, com um significado sempre diferente. Pode significar: eu te peço perdão ou eu te perdoo, pode significar um novo momento na vida dos dois, pode extinguir um abismo existente. O abraço sempre vem revestido de amor. Pode significar: eu te amarei para sempre, pode significar: você é maior do que suas limitações.

É sempre um abraço no corpo e na alma, é um momento mágico que continuamos lembrando anos depois. É remédio milagroso, que não se encontra em farmácias, mas é elaborado no laboratório de um coração maduro e que se derrama no outro. Nada pede e tudo oferece. Nas primeiras páginas da Bíblia lemos que Deus criou o homem, à sua imagem e semelhança, e o beijou (Gn 2,7.). O beijo de Deus à humanidade tem um nome próprio: é o amor.

domingo, 30 de outubro de 2016

OLFATO É O SENTIDO QUE NÃO SE VÊ.

Somos altamente desenvolvidos nas ciências médicas e em tecnologias de melhoramento e cura de doenças que afetam nosso corpo, mas podemos almejar que algum dia um robô, obra humana, consiga ter o prazer de sentir o cheiro da mata num dia de chuva? Ou o cheiro que sai do chão seco no começo da chuva em dia de verão? Ou, quem sabe, aquele aroma do pão assado em forno colonial de tijolo e barro? E o que dizer do perfume inebriante da dama da noite que nos convoca ao êxtase? Toda a ciência do homem é incapaz de produzir o mais elementar órgão que nos disponha ao acesso odorífero das flores, das essências aromáticas da natureza. Tão grande é nosso conhecimento, insuficiente, porém, para produzir um sistema de pequenos orifícios que nos possibilita a experiência dos odores do mundo... O olfato é uma maravilha da natureza; não é obra humana, é graça divina.

O olfato é o sentido do invisível que, mesmo não ocupando espaço, impregna os ambientes. Pelo olfato, o invisível, o que não se mostra, o que não podemos tocar e ver, se apresenta e nos toma por inteiro. Pelo olfato, lemos o instante fugidio, passageiro, mas que deixa sua marca no perfume das estações, nos cheiros circunstanciais, nos odores efêmeros que nos dão a justa medida do nosso acesso ao mundo. Sem o perfume e os cheiros, a vida seria fria, calculista e sem graça.

O olfato é, também, o sentido da imaginação. Não sentimos o perfume do passado, mas o odor presente tem o poder de nos transportar e nos conectar a uma experiência inebriante do passado gravada na memória, da qual o perfume é o elo. Tal como os sabores da infância, os cheiros da infância são mobilizadores de nossas melhores memórias. Não só da infância, mas dos bons momentos da vida que foram acompanhados pelo toque imperceptível dos perfumes. O sutil perfume une duas experiências – a presente e a passada –, fazendo-nos respirar de olhos fechados e com um leve sorriso no rosto...

O olfato, tal como outros órgãos dos sentidos no ser humano, acontece na justa medida. Não somos especialistas no olfato, como alguns animais o são, por exemplo, o cachorro. A justa medida é sábia, pois já imaginou ter a capacidade de sentir o odor do distante, do longínquo? A vida seria insuportável se permanentemente fôssemos arrebatados pelos odores, agradáveis ou desagradáveis. Por isso, via de regra, nos ambientes em que habitamos, os odores são discretos e na justa medida.

É isso, o olfato é o sentido do invisível, do discreto, do passageiro, do instante fugidio, do momento, do circunstancial, do efêmero, do poético, enfim. Um cheiro pra você!

sábado, 29 de outubro de 2016

UMA CRISE CIVILIZATÓRIA

Não há mais pobres como antigamente. As pessoas hoje sabem que podem ter uma saúde decente para os seus filhos, acesso à educação decente e a outros direitos. Nesse sentido vivemos uma crise civilizatória. Não é simplesmente uma crise global que o mundo enfrenta. O volume de recursos apropriados pelos intermediários financeiros seria suficiente para enfrentar tanto a reconversão tecnológica que o meio ambiente exige, com os investimentos de inclusão produtiva que a dinâmica social determina.

Isso seria conferir uma outra articulação do sistema financeiro, pois ele não é só moeda, mas o direito de alocar os recursos onde eles são necessários. A função da moeda não é a especulação financeira. Essa é a reconversão que temos pela frente, que une a oposição propositiva que queremos criar no Brasil. Daqui saíram US$ 20 bilhões para paraísos fiscais, ou 25% do PIB, dinheiro que daria para financiar Deus e o mundo.

Rentismo, um obstáculo

O rentismo é um conceito que se vincula ao mercado internacional, que gerou uma espécie de elite que vive dos juros, não da produção. E isso tem uma enorme profundidade no país. O San-

tander, por exemplo, que é um grande grupo mundial, tem cerca de 30% de seus lucros originários do Brasil. Isto é, o mercado financeiro impõe drenos e também estruturas políticas de poder que tornam muito difícil a qualquer governo gerar transformações necessárias para romper essa lógica. De, 2013 a 2014, Dilma tentou reduzir a taxa Selic e os juros de acesso de pessoas físicas e jurídicas ao crédito, e a reação foi de pressões políticas muito fortes. E é curioso como as reações se manifestam. Quando se baixa os juros, nas televisões, nas rádios, nos jornais, imediatamente se consulta os chamados economistas que dizem, “é inevitável, a inflação vai subir”. Em regra, esses economistas são todos eles de empresas financeiras.

Crise internacional não é impedimento, mas oportunidade

É esse contexto internacional que torna fundamental a adoção de medidas inclusivas, a expansão do horizonte interno econômico. É vital nos basearmos nos objetivos internos da nossa economia. Nas condições de hoje, apoiar o país no sistema internacional é suicídio. Nessa perspectiva, superdimensionar o problema fiscal pode ser um erro, pois há ralos muito maiores no sistema financeiro. O país tem que resgatar o que vaza por sistemas especulativos e para paraísos fiscais e financiar a inclusão produtiva da maioria da população.

O Brasil não está quebrado, mas sob ataque

O (Luiz Gonzaga) Belluzzo diz que as forças conservadoras estão criando, politicamente, uma crise e eu concordo. O Brasil não está quebrado. A origem desta crise não está em uma crise econômica que gera recessão. É uma crise política criada por uma elite que quer quebrar o sistema, e em grande parte está conseguindo isso.

A rigor, essa é a ação que envolve grandes interesses, em particular interesses internacionais no Pré-Sal e o interesse dos grandes bancos internacionais que querem manter a mamata da Selic elevada, pois é um grande negócio aplicar aqui e ganhar 12% de juros, enquanto os Bancos Centrais da Europa e dos Estados Unidos estão trabalhando com taxas de juros de 0,5%, quando muito 1%.

A tentativa da Dilma de reduzir a Selic a 7% e de abrir os bancos oficiais para obrigar a concorrência foi, para esses interesses, um grito de guerra. Tanto que ela teve que voltar atrás. Mas nós não podemos continuar a trabalhar para encher o bolso de dinheiro dos especuladores financeiros. Acho que esse não é apenas o objetivo da classe trabalhadora, mas dos empresários efetivamente produtivos. Não é possível desenvolver o país quando todo mundo se vê obrigado a pagar uma espécie de royalties sobre o dinheiro, aliás um dinheiro que nem é dos próprios bancos, mas dos nossos depósitos, ou então dinheiro fictício criado por meio de alavancagem.

Ou avança, ou recua. Não dá mais para ficar onde está

O Brasil vive um impasse – e, a partir desse impasse o país avança, e consolida os ganhos das últimas décadas, ou retrocede, e perde o que ganhou. Por isso considero importante unificar o debate. E estou convencido de que há muita gente que quer avançar. Muitas famílias, pela primeira vez, têm os filhos na universidade, muitas delas apenas agora conseguem alimentar os seus filhos – e todas elas são mobilizáveis. As mudanças não acabaram porque 200 mil tomaram a Avenida Paulista. Este país tem base.

Eu acho que o fato de uma parcela desses manifestantes do atraso pedirem a volta da ditadura mostra o tipo de ausência de uma visão propositiva da direita. O que eles querem? Sangrar mais os pobres, aumentar mais a desigualdade, privatizar mais?

A contaminação da política pelo poder econômico

Hoje o país tem um Congresso com uma bancada ruralista, uma bancada dos bancos, uma bancada das grandes empreiteiras, uma bancada das grandes montadoras, e você conta nos dedos quem é da bancada cidadã. A lei aprovada em 1997 que autorizou as corporações a financiarem campanhas foi um golpe terrível para o processo democrático. Não se pode qualificar de democracia o que vivemos no Brasil só porque a gente vota, porque o voto é rigorosamente determinado por uma gigantesca máquina de financiamento que vai se traduzir no tipo de Congresso que temos. Isso coloca a questão da reforma política e, em particular, o financiamento das campanhas, na linha de frente.

Nada para o planeta, tudo para os bancos

A Rio+20 teve uma grande reunião internacional que firmou como um dos objetivo levantar US$ 30 bilhões para salvar o planeta. Não conseguiu. Em 2008, em meses, os governos levantaram trilhões de dólares para salvar o sistema financeiro, se endividaram e passaram a pagar juros para o próprio sistema financeiro que foi socorrido com esse dinheiro. Esse movimento dos governos praticamente destruiu o que restava do legado da social democracia nesses países, do chamado Welfare State, ao reduzirem os direitos sociais.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O CAPITAL FINANCEIRO CONTAMINOU A PRODUÇÃO

O capital financeiro tornou-se hegemônico de uma maneira que desconhecíamos até 2011. Naquele ano, foi divulgado o relatório do primeiro estudo mundial sobre o sistema corporativo internacional, produzido pelo Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH), que corresponde ao MIT da Europa e tem 31 prêmios Nobel de Tecnologia, a começar por Albert Einstein. Uma fonte absolutamente inatacável.


Segundo o estudo, 737 grupos do planeta controlam 80% do valor das empresas transnacionais. Destes, 147 grupos, dos quais 45 são bancos, controlam 40% do sistema mundial. A financeirização, portanto, não é abstrata, um mecanismo diluído ou misterioso. Esses grupos financeiros controlam os conselhos de administração das mais diversas empresas e ditam as políticas das corporações. Como são grupos financeiros que têm participações acionárias poderosas em empresas produtivas,

eles dizem a essas empresas o que fazer: “Nós queremos uma rentabilidade de tanto, senão tiramos o nosso capital e quebramos a empresa”. Se uma empresa decide adotar uma política ambiental mais sustentável, ou qualquer outra coisa que pode afetar a rentabilidade da empresa, esquece.

Centenas de exemplos de fraudes das mais variadas corporações internacionais, como as cometidas por empresas farmacêuticas, de agrotóxicos ou os próprios bancos, têm o objetivo central de gerar lucros. Essa estrutura mundial de poder foi suficientemente forte para, na crise de 2008, levar trilhões de dólares de governos para socorrer os bancos que haviam se excedido nos processos especulativos e estavam desequilibrados. Um socorro para os grupos financeiros que criaram a crise.

A contaminação da Justiça

O poder das corporações está estampado na votação, pelo Supremo, da ação de inconstitucionalidade do financiamento empre-sarial de campanha. As corporações não votam nem devem ter interesses políticos próprios. É legítimo a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ser um instrumento de participação política das corporações. Mas uma corporação comprar um mandato para um deputado ou senador, financiando-o, certamente isso não é certo. Seis juízes do Supremo, e portanto a maioria, já votaram pela inconstitucionalidade do financiamento empresarial e um único, Gilmar Mendes, ligado a interesses evidentes, pede vistas antes das eleições. Esta única pessoa transformou radicalmente o perfil do Congresso que foi eleito em seguida, pois se tivesse sido proibido o financiamento empresarial antes das eleições, os candidatos não poderiam ter mantido o vínculo com as corporações empresariais. Isso também é uma medida do grau de aprisionamento da política pelo Judiciário, pelas corporações e pela mídia, e coloca como objetivo central das forças progressistas resgatar o processo democrático da órbita do poder econômico.

Crédito a Fernando Henrique, mas em termos

É creditado ao governo Fernando Henrique Cardoso a ruptura com o processo inflacionário, o que é correto. Mas, segundo o The Economist, em 1992 o mundo tinha 44 países com hiperinflação, e todos eles liquidaram esse problema pela razão simples de que não se abriria a eles a possibilidade de participar do sistema financeiro que se internacionalizava se não resolvessem seus processos inflacionários. A globalização financeira, a formação do sistema especulativo, a chamada financeirização era incompatível com economias que tinham moedas não conversíveis, que mudavam de valor no decorrer do dia.

A articulação do rentismo com a mídia

O maior jornal econômico do país, por exemplo, em fevereiro publicou uma matéria que contém um quadro com as projeções de inflação, com o título: “O que os economistas esperam”. E são listadas 21 “apostas” em índices inflacionários feitas por economistas de instituições. Entre eles, não tem nenhum Amir Khair, um Luiz Gonzaga Belluzzo, uma Tânia Bacelar, um Rubens Ricúpero, um Bresser Pereira ou um Márcio Pochmann; sequer um IBGE ou um DIEESE. Apenas de bancos ou consultorias ligadas ao mercado financeiro – e ambos ganham com a inflação. Esses economistas geram expectativas inflacionárias que se autocumprem, pois os agentes econômicos acompanham as expectativas e elevam preventivamente os preços.

Existe um trabalho de chantagem e contaminação pelo aceno do “risco inflacionário” – e todos sabem que a inflação é um golpe mortal em termos políticos. Esse tipo de chantagem segura o governo pelo pescoço. A inflação virou arma ideológica.


Continua...

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O BRASIL ANDOU PARA FRENTE NAS ÚLTIMAS DÉCADAS

No Atlas Brasil 2013 de Indicadores de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), se compararmos os índices de 1991 e 2010, observamos avanços espantosos. Em 1991 nós tínhamos 85% dos municípios do Brasil que tinham um IDH muito baixo, inferior a 0,50. Em 2010 apenas 32 municípios estavam nessa situação, ou seja, 0,6%. Essa é uma mudança extremamente profunda e estrutural. O Brasil começou a se transformar, na fase anterior ao governo Lula, com a aprovação da Constituição de 1988, que criou regras do jogo democrático que permitiram o início dos avanços.

Foi um avanço também a ruptura com a inflação. Afinal, numa hiperinflação não se consegue fazer administração do setor público.

Tudo isso viabiliza uma série de avanços significativos na década de 1990. A partir do governo Lula isso se sistematiza, e os avanços se tornam extremamente poderosos.

Mundo em explosão

Nós estamos num ano crítico em termos mundiais. Chegamos a limites críticos de destruição do planeta. Em 40 anos, destruímos 52% da vida vertebrada do planeta. O relatório da WWF é dramático: nós estamos esterilizando solo e liquidando a cobertura florestal.

Além desses problemas na área ambiental, persistem também um conjunto deles na área da desigualdade. O relatório da Oxfam sobre a desigualdade é devastador. Nós temos 85 famílias que têm mais patrimônio acumulado do que a metade mais pobre da população, ou seja, 13,5 milhões de pessoas. Se você junta o ambiental e o social, conclui-se que o mundo está explodindo.

Coffee Party

O Tea Party paralisa os Estados Unidos. Estes mesmos grupos estão querendo um Coffee Party no Brasil. Partem do mesmo fundamentalismo, do mesmo discurso radical conservador sem propostas. O que eles querem, afinal? Aumentar a desigualdade?

“O capitalismo financeiro impõe severas limitações ao momento seguinte dos avanços sociais, ao avanço do Brasil em direção ao futuro”.

O caminho é olhar para dentro…

Se entendermos as transformações que ocorrem interna e externamente – estamos numa crise planetária e numa volatilidade extrema, inclusive dos preços das commodities –, o caminho que temos de trilhar torna-se claríssimo. O Brasil é um país muito grande, de mais de 200 milhões de habitantes, e tem tranquilamente 100 milhões de pessoas que precisam melhorar a situação de vida. Nós temos, portanto, como crescer na fronteira interna. E quando a área externa é extremamente insegura, nada como reforçar a base interna de desenvolvimento. Isso implica manter e aprofundar as políticas de inclusão e de distribuição de renda, mas garantindo que isso ocorra simultaneamente às transformações significativas no sistema financeiro.

Um futuro em suspenso

O caminho para frente é o aprofundamento da luta contra a desigualdade por meio da inclusão produtiva, da expansão dos programas sociais e coisas do gênero. A oposição que devemos fazer nesse momento não é contra a presidente Dilma (Rousseff), mas para que ela avance muito mais e retome os processos que tinham sido anunciados.

Uma crise para travar o ciclo

A imbricação entre a situação internacional e a situação econômica interna com o seu respectivo embasamento político trava as reformas estruturais que são indispensáveis à continuidade do processo.

É um ciclo travado, mas não acho que a direita tem qualquer coisa coerente a propor. Não está conseguindo propor nada de coerente nem nos Estados Unidos, nem na França, nem na Grã-Bretanha, nem em lugar nenhum. Por todo lado está surgindo um Podemos, ou um Syriza (partido grego de esquerda). Os Estados Unidos estão paralisados em termos de capacidade de governo.


Continua...

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O SISTEMA FINANCEIRO EMPERRA A LOCOMOTIVA

O peso morto da economia brasileira”, em que eu descrevo como os juros internos da economia esterilizam as ações de política econômica social. O Rubens Ricupero e o Bresser Pereira, que foram ministros da Fazenda e entendem disso, aprovaram as minhas anotações. O capitalismo financeiro impõe severas limitações ao momento seguinte desses avanços sociais, ao avanço do Brasil em direção ao futuro. Está em curso um processo de globalização financeira mundial que torna difícil ao país adotar políticas macroeconômicas independentes e as reformas financeiras que são necessárias. Quando se cobra nos crediários mais de 100% de juros, a intermediação financeira está se apropriando da metade da capacidade produtiva da população. O imenso esforço que o Brasil fez de redistribuição e de inclusão no mercado de dezenas de milhões de pessoas, os bancos, os comerciantes com crediários, as administradoras de cartões de crédito capturaram. As instituições de crédito sugaram a capacidade de compra da população, e dessa forma esterilizaram a dinamização da economia pelo lado da demanda. Os juros para pessoas jurídicas são absolutamente escorchantes, o que trava também a economia pelo lado do investimento. Os empresários já tendem a investir pouco quando a economia está travada. Quando, ainda por cima, adquirir equipamentos e financiar empresas custa de 40% a 50% de juros, então esqueça de novos investimentos.

Veja o poder político que esses grupos têm para obrigar o governo americano, o Banco Central Europeu, Bruxelas, a encontrar trilhões de dólares em poucos meses, quando os recursos são escassos para resolver o problema da destruição ou da pobreza.

“A financeirização não é abstrata. Grupos financeiros controlam os conselhos de administração das mais diversas empresas e ditam as políticas das corporações”.

A urgente reforma financeira

Sem dúvida, são urgentes as reformas política e tributária, mas é igualmente central uma reforma financeira em profundidade.

O componente rentista da crise é parte de minha análise. Na minha avaliação, o fator central dessas limitações ao futuro é que não temos mecanismos de canalização adequada dos recursos do país. O Brasil tem uma renda per capita de US$ 11 mil – e isso é um nível de renda de um país rico. O nosso país também domina tecnologias e tem instituições. Não existem razões plausíveis para a economia não funcionar. Contudo, a generalização da inclusão social e a redução dos desequilíbrios internos esbarram em razões estruturais.


Continua...

terça-feira, 25 de outubro de 2016

UM ACUMULADO DE IMPASSES

O Brasil hoje vive vários impasses. Um deles tem dimensão internacional e sofre o impacto de movimentos especulativos, sobretudo no mercado de commodities. Nos últimos 12 meses, o minério de ferro, por exemplo, que tem um grande peso na pauta de exportações brasileiras, perdeu 40% do seu valor; a soja, a laranja e outras commodities encolheram entre 20% e 30%. São cifras bastante significativas. No plano interno, o país vive um limite estrutural. O Brasil conquistou um conjunto de avanços, em particular nos governos de Lula e no primeiro governo de Dilma, mas os processos de expansão das políticas sociais chegaram a um limite, a partir do qual são necessárias mudanças estruturais.

As eternamente adiadas reformas de base não são mais adiáveis.

A resistência das elites e a crise política

Nesta tensão, a resistência das elites mostra-se extremamente forte. É por isso que a crise que se gera é essencialmente política. Não há base para falar numa crise de enormes proporções, ou que o país está quebrado, ou ainda que vai quebrar. Isso não faz o mínimo sentido. Podem até ocorrer ajustes que levem a uma racionalização de gastos do governo, mas isto não anula simplesmente a realidade de que o país está num ciclo de avanços absolutamente impressionante.

Socialmente, o Brasil mudou a sua cara. Entre 1991 e 2010, o brasileiro, que vivia até 65 anos, passou a viver 74 anos; em 2012, já vive 75 anos; ou seja, estamos falando de um país onde os brasileiros vivem 10 anos a mais. A mortalidade baixou de 30 por mil para 15 por mil. Isso resulta de uma convergência de mudanças: essas pessoas passaram a ter uma casa mais decente, a comer, são benefi ciários da expansão do serviço básico de saúde, o SUS, etc. São fatores que convergem para uma expansão do tempo de vida e para a redução da mortalidade infantil – e, convenhamos, dividir pela metade a mortalidade infantil é um gigantesco avanço. Além disso, temos um conjunto de outros números já conhecidos: a criação de 20 milhões de empregos formais e 40 milhões de pessoas que saíram da miséria.

Segundo dados do Atlas das Regiões Metropolitanas elaborado conjuntamente pelo PNUD, Ipea e Fundação João Pinheiro, houve uma redução drástica da pobreza em todas essas regiões e um aumento dos Indicadores de Desenvolvimento Básico (IDB). Mais recentemente foram divulgados os Indicadores de Progresso Social, o IPS, que acompanha 54 indicadores que são o PIB, e coloca o Brasil no 42º lugar entre 130 países, puxado para baixo essencialmente pelo problema da segurança, que é o ponto crítico e está diretamente ligado ao problema da desigualdade.


Continua no próximo blog.

domingo, 23 de outubro de 2016

ALGUÉM ME AQUECEU

A manhã era admiravelmente ensolarada. A disposição não podia ser melhor. Há tempo havia agendado esse compromisso numa grande empresa de um município vizinho. Confidenciaram-me, minutos antes do evento, que eram mais de mil funcionários: abertura da semana interna de prevenção de acidentes de trabalho. Praticamente todos estavam sentados. Olhares atentos. Quando há expectativa, o coração, imagino eu, pulsa mais intensamente. A responsabilidade é sempre grande, independentemente do número de participantes. Afinal, todos merecem ouvir algo significativo.

Apesar do sol, um insistente vento frio não dava trégua. Os que estavam sentados tinham a opção de encolher-se e até de proteger-se mutuamente. O mesmo acontecia com os demais que se recostavam nos muros da construção. O palco, improvisado para aquele momento, estava em evidência, para facilitar a visualização de todos os presentes. O vento chegava com sua natural velocidade, sem nenhum intervalo. Enquanto dirigia as palavras preparadas para a abertura da referida semana, o frio percorria as entranhas.

Para a minha surpresa, alguém se aproxima, sem nenhum movimento que chamasse a atenção dos presentes e me ajuda vestir uma jaqueta com o logotipo da empresa. A sensação de aquecimento foi redobrada: além da temperatura do corpo, senti o calor da solidariedade e da ternura. Para que não percebessem a emoção, acabei brincando com o público presente. De fato, não existe nada mais comovente do que um gesto de bondade. A agressividade assusta, o amor simplesmente transborda de ternura o semblante e o coração. Quão maravilhosa seria a vida se as pessoas fossem capazes de viver a fidelidade ao amor. Não faltariam surpresas.

Viver é surpreender: um pedaço de pão, um copo de água, um sorriso, um agasalho, um afago, um olhar demorado. O amor não envolve quantidade, mas não dispensa intensidade. Não faltam oportunidades. As atitudes, porém, parecem tímidas. Algumas pessoas precisam de palcos e de plateia. Outros vivem autenticamente: espalham amor no anonimato de infinitos gestos. Guardarei para sempre aquela jaqueta. Ela será muito mais do que uma peça de roupa. Fará parte das muitas histórias que estão gravadas em meu coração. Um dia poderei contar: eu estava com frio e alguém me agasalhou. Faz bem fazer o bem. 
Texto de: J.Botega.

TOCAR E SER TOCADO

A vida humana é realmente uma perfeição. A pele é o maior órgão do corpo. Ela é repleta de terminações nervosas, capazes de captar estímulos térmicos, mecânicos ou dolorosos. Sua camada externa age como uma capa que protege contra vários fatores do ambiente. A pele de um adulto pesa cerca de quatro quilos e mede, aproximadamente, dois metros quadrados de área. Graças à pele, o ser humano pode sentir e até se comunicar. O tato é um dos cinco sentidos, mas, diferentemente dos outros, ele não é encontrado em uma região específica do corpo, e sim em toda a extensão da pele.

Através do tato é possível sentir a presença do outro e interagir com o universo criado. Tocar e ser tocado é reavivar a existência e plenificar o encontro. O afeto necessita do tato para expressar mais intensamente determinado sentimento. Um abraço, por exemplo, só é efusivo se houver proximidade e toque. Comprovadamente estar próximo, sentir-se mutuamente faz um bem enorme. O afeto tem um papel preponderante na construção da felicidade. Uma criança necessita ser tocada, um idoso aguarda por um gesto amoroso. Todos sentem a necessidade do encontro.

Um dia, na distante Assis, São Francisco, dando um decisivo passo no processo de conversão, foi ao encontro dos leprosos, humanos repletos de chagas; doença incurável, naquele tempo. Ao descobrir o rosto de Deus em semblantes desfigurados, não se conteve e, num ímpeto, beijou o leproso. O toque devolveu dignidade àquele que sobrevivia à margem da sociedade. De lá para cá, o espírito francisco continua inspirando muitos outros gestos, eliminando distâncias, provocando encontros, despertando cuidados, instigando alegria.

Alcançar uma doação, saciar a fome, dar uma peça de vestuário: tudo é muito significativo. Porém, uma grande maioria anseia por um toque, um olhar, um sorriso, um afetuoso abraço. Assim como Francisco de Assis beijou o leproso, que sejamos capazes do contato, da proximidade, da ternura, do amor ao próximo. A doação material é um primeiro momento da solidariedade. A convivência através do tato, do toque, do afeto poderá transfigurar vidas em situação de extrema carência. Doar-se é muito mais intenso do que apenas dar algo material. Que a caridade provoque muitos ‘beijos’, pois outras espécies de lepra têm roubado muitos sonhos da felicidade.

sábado, 22 de outubro de 2016

CONTRIBUIÇÃO PARA O EXITO NA EDUCAÇÃO.

No dia em que os pais chegassem à conclusão que não é mais possível educar os filhos, só restaria à humanidade um caminho: pedir falência. Educar sempre foi difícil. Na primeira manhã do mundo Adão e Eva tiveram problemas com seu filho Caim. Hoje é cada vez mais difícil educar. Entre muitos fatores: os meios de comunicação social, o decréscimo da influência da escola e da Igreja, além do enfraquecimento dos laços familiares.

Quando um problema é difícil não se pode desanimar, mas é necessário aumentar o esforço. Algumas normas, bem simples, contribuem para o êxito na educação. Na soma, trata-se de unir amor, firmeza e diálogo. Eis 11 passos que podem auxiliar:

Valorize seu filho
. Assim como ele é e não como você gostaria que fosse. Ele quer ser amado e precisa saber que algumas fronteiras devem ser observadas.

Acredite em seu filho.
Deixe que, aos poucos, ele amadureça. A lógica diz: onde plantamos o amor, cedo ou tarde, nascerá amor. Em tudo existe a caminhada.

Ame respeite seu filho
. Os jovens não gostam daqueles que não gostam dos jovens. Mostre que você está a seu lado. Não ironize e seja comedido na crítica.

Elogie seu filho sempre que ele merecer. Evite comparações com seus irmãos, primos e amigos. Isso fortalecerá sua autoimagem.

Compreenda seu filho. Hoje o mundo é rude e competitivo. Tente colocar-se na ótica de seu filho. Os tempos mudaram muito, mas o coração continua o mesmo.

Alegre-se com seu filho. O bom humor, o diálogo e a alegria ajudam a criar um bom clima familiar e, por isso mesmo, educativo.

Aproxime-se de seu filho. Tenha tempo para ele, sobretudo na infância. Deixe-o participar de suas atividades. Não espere que ele tenha problemas para tentar dialogar. Poderá ser tarde demais.

Acolha com simpatia os amigos dos seus filhos
. Caso contrário, será o filho que vai procurar acolhida na casa dos pais dos seus amigos.

Seja coerente com seu filho. Ninguém tem o direito de exigir dos outros o que ele mesmo não faz. Pai e mãe devem ter os mesmos critérios para orientar os filhos.

Evite qualquer tipo de punição. Se tiver de corrigi-lo, faça no momento oportuno e com amor.

Reze com seus filhos Esta é uma norma que os pais acham superada, talvez, porque eles mesmos deixaram morrer a fé e a prática religiosa. E os frutos acabam sendo amargos. Quem ama e respeita a Deus vai amar e respeitar o próximo. A família é a primeira igreja, o tempo e o espaço ideal para encaminhar para a felicidade e a realização.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

DEUS ONDE ESTAVAS?

Quando vemos nas primeiras páginas dos jornais a devastação que o tufão Mathew, agora em outubro, produziu no Haiti e nos EUA destruindo cidades, derrubando árvores, arrastando carros e matando centenas de pessoas, os que cremos, nos perguntamos angustiados:
“Deus, onde estavas naquele momento em que a fúria assassina do tufão Mathew se abateu sobre o Haiti e os EUA? Por que não usaste o teu poder para amainar a virulência destruidora daqueles ventos e daquelas águas inimigas da vida? Por que não intervieste, se podias faze-lo?”
“Sequer permitiste aos haitianos, o tempo suficiente para se recuperarem da devastação que significou o terremoto de 2010 onde milhares e milhares morreram soterrados e viram suas cidades e casas destruídas. Por que agora enviaste outro látego para açoitar e matar?”
“Tu bem sabes, Senhor: o povo haitiano é um dos mais pobres do mundo. Negros, conheceram todo tipo de discriminação. Foram oprimidos por ditadores ferozes que faziam das matanças, política de Estado. Tudo sofreram, tudo suportaram. Não desistiram. Caidos e do meio do pó das ruínas, estavam se lavantando. E eis que de novo foram açoitados pela natureza rebelada. Onde está a tua piedade? Não são teus filhos e filhas, especialmente queridos, porque representam o Cristo crucificado?”
Não entendemos os desígnios dAquele que se revelou como Pai de infinita bondade. Ele pode ser Pai de uma forma misteriosa que não conseguimos comprender. Bem dizem as Escrituras:”Ele é grande demais para que o possamos conhecer”.
Muito menos pretendemos ser juízes de Deus. Mas podemos, sim, gritar como Jó, Jeremias, e o Filho do Homem no Jardim das Oliveiras e no alto da cruz. Jesus queixoso se perguntou: Meu Deus meu Deus, por que me abandonaste?
Nossos lamentos não são blasfêmias, mas um grito humilde e insistente a Deus: “Desperta! Não esqueças da paixão daqueles que atualizam a Paixão de teu Filho bem-amado”.
Seguramente as invectivas de Jó contra Deus por causa do sofrimento incompreensível e as Lamentações de Jeremias vendo Jerusalém conquistada, o templo, destruido e o povo, marchando escravo para o exílio na Babilônia, foram incluidas no rol das Escrituras judaico-cristãs para que nos servissem de exemplo.
Podemos gritar como Jó e nos lamentar como Jeremias. Mais ainda, podemos, no limite do desespero, bradar como Jesus na cruz, experimentando o inferno da ausência do Deus a quem sempre chamava de “Abba”, meu querido paizinho. E Ele silenciou e não o livrou da morte na cruz.

”Quantas perguntas surgem neste lugar. Onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar esse excesso de destruição, este triunfo do mal? Vem-nos à mente o Salmo 44 que diz:” jogaste-nos na região dos chacais e nos envolveste na mortalha de trevas. Por tua causa somos trucidados todos os dias, tratam-nos como ovelhas de matadouro. Desperta. Sanhor! Por que dormes? Acorda”.

Embora guardemos um nobre silêncio diante de tamanha dor, perseveramos na fé como Jó, Jeremias e Jesus. Jó chegou a dizer:”Mesmo que me mates, Senhor, ainda assim continuo confiar em ti… Antes Te conhecia só por ouvir dizer, mas agora viram-te meus olhos ”. A última palavra de Jesus foi:”Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito (Lucas ”. E Deus o ressuscitou para mostrar que a dor, mesmo misteriosa, não escreve o ultimo capítulo da história, mas a vida em seu esplendor.
Na esperança ansiamos por aquele dia em que ”Deus enxugará as lágrimas de nossos olhos e a morte não existirá nem haverá luto nem pranto, nem fadiga, porque tudo isso já passou”
E nunca mais haverá tsunamis, nem Katrinas, nem Mathews, porque surgirá uma nova Terra, onde o ser humano terá aprendido a cuidar da natureza e esta nunca mais se rebelará contra ele.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

INTELIGENTE É ACENDER UM FÓSFORO

Uma pedra rolou de uma encosta, num temporal, e acabou no meio de um caminho onde passavam muitos carros. Os motoristas tinham que fazer uma perigosa manobra para continuar seu caminho, amaldiçoando os responsáveis pela rodovia que não removiam a pedra. Um jornal fotografou a pedra, fez ampla reportagem e entrevistou as autoridades para saber a quem cabia a responsabilidade de remover a rocha. Um carroceiro, que não leu o jornal, com uma estaca, usada como alavanca, removeu a pedra e seguiu seu caminho.

Existe, hoje, uma tendência de acusar os outros pelos problemas e esperar que outros os solucionem. Não é minha responsabilidade, declaram muitos. E assim os problemas continuam e se agravam. Ao lado dos maus, que são minoria, existem muitos que se omitem. É a confraria dos braços cruzados, mas sempre disposta a acusar os outros. E se justifica: eles que criaram os problemas que os resolvam. Quem são eles?

Uma pequena história fala de quatro irmãos, com nomes simbólicos: Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém. Havia um trabalho a ser feito e Todo Mundo acreditava que Alguém iria executá-lo. Qualquer Um poderia fazer, mas Ninguém fez. Alguém ficou aborrecido com isso, pois entendia que a tarefa era responsabilidade de Todo Mundo. Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia executá-lo, mas Ninguém imaginou que Todo Mundo não o faria. E Todo Mundo culpou Alguém, quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia ter feito.

Foi atribuída a Gerson, grande jogador da Copa de 1970, a expressão “levar vantagem”, o “jeitinho brasileiro”. Trata-se de uma maneira de evitar a própria responsabilidade, é o expediente de não cumprir a obrigação, furar a fila, exigir privilégios, enfim, burlar a lei em benefício próprio. Isso vale para o futebol, vale para a política, vale para as comunidades e vale para as famílias. E muitos fazem da Lei de Gerson seu modo de andar na vida. Além de ser prejudicial, esta prática é altamente contagiosa.

O profeta Isaías, numa passagem célebre, após enumerar as grandes tarefas a serem cumpridas, diante da omissão geral, prontifica-se: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8). A história está repleta de nomes que não optaram pelo jeitinho, mas assumiram corajosamente tarefas pelo povo. É por isso que recordamos um São Francisco de Assis, um Mahatma Gandhi, um Luther King, uma Teresa de Calcutá, um Helder Câmara. Eles não ficaram esperando pelos outros. Assumiram com coragem e por isso, muitos outros entraram em ação, empolgados com suas atitudes.

A confraria dos braços cruzados é extremamente prejudicial. É bom lembrar que o maior homem do mundo morreu de braços abertos na cruz. Muitos lamentam a escuridão. Isto é muito fácil. Inteligente é acender um fósforo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

É EMOCIONANTE VIVER.

Entre uma e outra fonte de notícias, meus olhos se fixaram em algo emocionante: uma senhora de 101 anos de idade fez a Primeira Eucaristia, no último dia 27 de setembro. Dona Penha reside numa casa asilar em Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro. Sempre teve o desejo de viver com maior profundidade sua fé. O dia chegou. A alegria, naquele momento sagrado, era bem maior que o próprio tempo que ela já viveu. Sim, nunca é tarde para buscar o que eterniza uma história pessoal de vida. Certamente ela realizou o melhor sonho. Encontrar-se mais intimamente com Deus é algo inexplicável.

É comum adiar algumas buscas. De um jeito ou de outro, todos protelam certas decisões. O amanhã é o espaço de tempo com o maior número de promessas. Deixar para depois não é apenas uma desculpa, trata-se de uma atitude corriquiera. As consequências, porém, são diversas. Tem coisas que podem ser adiadas. Outras deveriam acontecer sempre no ontem. O encontro do momento certo para cada decisão não é tarefa simples. Supõe maturidade e boa dose de intuição. O desafio é descobrir a hora de avançar ou de retroceder. Viver é ser capaz de construir uma história repleta de significado.

Há uma contabilidade existencial que se debruça sobre a quantidade de anos. Porém, perceber a vida, na qualidade dos dias e dos sentimentos, parece ser mais indicado. Não são poucos os que realizam muito em curto espaço de tempo. Por outro lado, nem sempre há efetivo aproveitamento e significativas realizações quando o tempo é expressivo. Cada um compõe sua história, com uma diversidade infinita de motivações. O passar dos dias vai devolvendo satisfação ou decepção. No entanto, nada é relativo quando se trata de alcançar a maior de todas as vitórias, a felicidade.

O melhor jeito de aproveitar o tempo é ter clareza quanto ao essencial. Tem coisas que não podem ficar para depois. Outras devem ser adiadas. Ter habilidade para encontrar o tempo certo para cada decisão é uma questão de precisão e de foco. É insuficiente ser capaz de amontoar alguns valores e certas coisas materiais. O coração é sedento de transcendência. Cedo ou tarde, a paz precisa ser encontrada. Harmonizar a interioridade não é tarefa reservada aos místicos. É o melhor presente que cada um pode dar a si mesmo. Nunca será tarde para permitir alguns encontros. É emocionante viver.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

A ALMA DE QUALQUER ESCOLA É O PROFESSOR.

A palavra educação tem sua origem no latim educere, que significa “conduzir para fora” ou “direcionar para fora”. É a união do prefixo ex, que significa “fora”, e ducere, que quer dizer “conduzir” ou “levar”. Educação, portanto, é ato de conduzir, direcionar, levar o ser humano num continuo processo de formação. O que dizer da educação no mundo hodierno no contexto de uma formação integral e solidária?

O ser humano comporta em si as dimensões: cognitivo, o emocional, o espiritual, o biológico e o social. A educação precisa levar em consideração essas dimensões na formação do cidadão, pois cada pessoa é única e necessita de um tempo próprio para seu amadurecimento. No Rio Grande do Sul cerca de 25% da população saem de casa todos os dias para ir à escola. Desses, 87% são de escolas públicas, 10% das privadas e 3% das confessionais. Para atender essa demanda conta-se com cerca de 260 mil professores.

A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB/1996) afirmam que é dever da família, da sociedade e do Estado a formação básica do cidadão. No entanto, ao professor incide a mais nobre tarefa de educar e ao Estado delinear parâmetros curriculares que venham ao encontro da formação do cidadão. Diante da crise que perpassa a sociedade enfurecida pelo consumismo e o individualismo exacerbados há uma esperança, ou seja, a proposta de uma educação integral e solidária.

A educação integral e solidária perpassa pela prática pedagógica do docente. Para tal, faz-se necessário cuidar do professor. Um professor bem cuidado, orientado, bem renumerado, solidário e afetivo pode fazer a diferença pelo seu silencioso testemunho de conduzir ou direcionar o ser humano para novos horizontes do saber com sabor. Porque “a alma de qualquer instituição de ensino é o professor” (Gabriel Chalita).

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

PARA PENSAR II

Em continuidade à reflexão sobre a importância do pátio, destaco outras significativas contribuições do espaço para a vida humana. A crônica anterior destacava as dimensões psicológicas, econômicas, climáticas, culturais e religiosas do ser humano. É incontroverso que em zonas urbanas falta espaço de contato com o ecossistema para melhor qualidade de vida. Suprimir o pátio em vista de ganhos financeiros é uma ação impactante na vida das pessoas.

Primeiramente é possível destacar várias visões do pátio. Pode ser descrito como um recinto que dá acesso à porta principal de algumas casas. Também é definido como um terreno murado anexo a um edifício. É, ainda, um ambiente descoberto entre casas. Quanto ao termo, do verbo latino pateo, significa estar aberto, exposto, estender-se, abrir-se. Aberto, significa a possibilidade de relacionar-se com a natureza, com os outros, estar suscetível aos seus semelhantes. Exposto quer dizer acessível à chuva, ao sol, ao vento, às pessoas, ao movimento, à inquietude, ao cheio, ao vazio, uma relação passiva de acontecimentos. Estender-se significa uma posição ativa perante os outros e o mundo. Abrir-se é o indivíduo que se faz visto e adquire uma razão de ser. São as várias visões do pátio.

Seja qual for a definição de pátio, o aspecto da urbanização com seus fechamentos laterais manifesta futuras preocupações. O fechamento sempre é algo que impossibilita relações entre as pessoas. Consequentemente, acontecem eliminações até das manifestações climáticas. A atual visão de construções urbanas é resultado de uma ideia puramente econômica e imobiliária. Esta visão usa o máximo de espaço para a construção com blocos de concreto interligados. Então, a mensuração de seu valor está associada a sua área de construção.

Em contrapartida, a defesa do pátio tem outra medida e compreensão da vida humana, pois valoriza mais o espírito e a essência do ser humano. Por isso, o pátio transcende o econômico e imobiliário. É lugar de conversa e convivência. É local de perguntas e de respostas para a vida. A sombra de uma pequena árvore acresce contribuições psicológicas, culturais, religiosas, econômicas, ecológicas. O pátio é um lugar de autoeducação. Nele descobre-se que a vida não é um movimento linear, similar às ruas de uma cidade. Como a praça estava para os gregos, lugar de diálogo entre mestres e discípulos, tem-se o pátio local de liberdade, privacidade, confraternização, convivência, do lúdico. As políticas urbanas, as construtoras e incorporadoras preocupadas com o máximo de rendimentos econômicos esquecem as significativas contribuições do pátio, imprescindível para o crescimento humano.

domingo, 16 de outubro de 2016

PARA PENSAR I

O crescimento demográfico brasileiro relaciona-se com a urbanização e industrialização. No Brasil, hoje, existem milhares de cidades e a população da zona urbana é muito superior à da rural. Por muitas razões a área urbana tornou-se supervalorizada, bem de exploração do mercado imobiliário. Devido a essas razões o tradicional e salutar espaço dos pequenos pátios tem sido suprimido nas zonas urbanas.

Segundo o censo do IBGE de 2010 a população brasileira era de 191 milhões de pessoas. Dessas, cerca de 161 milhões vivem nas áreas urbanas e apenas 29 milhões na zona rural. Até a década de 1960 a maioria da população brasileira morava no meio rural. As famílias viviam principalmente de atividades agrárias como o cultivo de cana-de-açúcar, de café e de outras pequenas produções. Já na década de 1970 os habitantes das regiões urbanas tornavam-se superiores aos que viviam no campo. Além disto, em três décadas a população brasileira praticamente dobrou, embora no período tenha havido um forte incentivo à redução da natalidade com a disseminação de anticoncepcionais. Em 1970 éramos 90 milhões e para o ano de 2050 estima-se uma população de 260 milhões de pessoas.

Os principais fatores desta mudança são: implantação de indústrias em muitas cidades brasileiras; colocação de máquinas nas atividades agrárias; concentração de terras nas mãos de poucos latifundiários; migração de pequenos proprietários para a cidade; crescimento natural da população brasileira. A mudança demográfica causou impacto em muitos aspectos econômicos, entre eles a valorização da zona urbana. No intuito de obter dela o máximo de lucro os espaços de convivência são reduzidos, insuficientes para o bem-estar das pessoas. Em razão do mercado imobiliário a casa e o pátio têm seus dias abreviados.

Em defesa do pátio, destaco suas funções para uma vida saudável. Em primeiro lugar o pátio é um espaço de liberdade e bem-estar com importância para o aspecto psicológico dos moradores de uma casa. O segundo aspecto é a razão econômica. Trata-se de um espaço de baixo custo, mas importante em termos de defesa da vida. Em terceiro, há as razões climáticas: o pátio é uma fonte de sol, de vento, de água da chuva a ser recolhida para uso doméstico; possibilita o cultivo de plantas, a criação de pequenos animais, etc. Em quarto lugar destacam-se as conotações religiosas, sendo um espaço no qual as pessoas relembram a imagem do homem no paraíso terrestre. No quinto aspecto surgem as razões culturais, pois cada povo, família ou indivíduo interpreta e usufrui de um pátio conforme as particularidades de suas tradições. Diante da tendência de valorizar tal espaço de mercado fica um questionamento de sua importância. Logo, o pátio traduz-se em muitas significações benéficas de qualidade de vida. Leia a continuidade do assunto na próxima crônica

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O CRISTO CÓSMICO


       Uma das buscas mais persistentes entre os cientistas que vem geralmente das ciências da Terra e da vida é pela da unidade do Todo. Dizem: “precisamos identificar aquela fórmula que tudo explica e assim captaremos a mente de Deus”. Esta busca vem sob o nome de “A Teoria da Grande Unificação” ou “A Teoria Quântica dos Campos” ou, pelo pomposo nome de “A Teoria de Tudo”. Por mais esforços que se tenham feito, todos acabam se frustrando ou como o grande matemático Stephan Hawking, abandonando, por impossível, esta pretensão. O universo é por demais complexo para ser apreendido por uma única fórmula.
Entretanto, pesquisando as partículas sub-atômicas, mais de cem, e as enegias primordiais, chegou-se a perceber que todas elas remetem àquilo que se chamou de “vácuo quântico” que de vácuo não possui nada porque é a plenitude de todas as potencialiades. Desse Fundo sem fundo surgiram todos os seres e o inteiro universo. É representado como um vasto oceano sem margens, de energia e de virtualidades. Outros o chamam de “Fonte Originária dos Seres” ou o “Abismo alimentador de Tudo”.
Curiosamente, cosmólogos como um dos maiores deles, Brian Swimme, denomina-o de o Inefável e o Misterioso (The Hidden Heart of the Cosmos, 1996) Ora, estas são carcaterísticas que as religiões atribuem à Última Realidade que vem chamada por mil nomes, Tao, Javé, Alá, Olorum, Deus. O Vácuo pregnante de Energia se não é Deus (Deus é sempre maior) é a sua melhor metáfora e representação.
O fundamental não é a matéria mas esse vácuo pregnante. Ela é uma das emergências desta Fonte Originária. Thomas Berry, o grande ecólogo/cosmólogo norte-americano, escreveu: “Precisamos sentir que somos carregados pela mesma energia que fez surgir a Terra, as estrelas e as galaxias; essa mesma energia fez emergir todas as formas de vida e a consciência reflexa dos humanos; é ela que inspira os poetas, os pensadores e os artistas de todos os tempos; estamos imersos num oceano de energia que vai além da nossa compreensão. Mas essa energia, em última instância, nos pertence, não pela dominação mas pela invocação”(The Great Work,1999, 175), quer dizer, abrindo-nos a ela.
Se assim é tudo o que existe é uma emergência desta energia fontal: as culturas, as religiões, o próprio cristianismo e mesmo as figuras como Jesus, Moisés, Buda e cada um de nós. Tudo vinha sendo gestado dentro do processo cosmogênico na medida em que surgiam ordens mais complexas, cada vez interiorizadas e interconectadas com todos os seres. Quando acontece determinado nível de acumulação dessa energia de fundo, então ocorre a emergência dos fatos históricos e de cada pessoa singular.
Quem viu esta gestação de Cristo no cosmos foi o paleontólogo e místico Teilhard de Chardin(+1955), aquele que reconciliou a fé crista com a ideia da evolução ampliada e com a nova cosmologia. Ele distingue o “crístico” do “cristão”. O crístico comparece como um dado objetivo dentro do processo da evolução. Seria aquele elo que une tudo com tudo. Porque estava lá dentro pôde irromper, um dia na história, na figura de Jesus de Nazaré, aquele por quem todas as coisas têm sua existência e consistência, no dizer de São Paulo.
Portanto, quando este crístico é reconhecido subjetivamente, se transforma em conteúdo da consciência de um grupo, ele se trasnforma em “cristão”. Então surge o cristianismo histórico, fundado em Jesus, o Cristo, encarnação do crístico. Daí se deriva que suas raízes derradeiras não se encontram na Palestina do primeiro século, mas dentro do processo da evolução cósmica.
Santo Agostinho escrevendo a um filósofo pagão (Epistola 102) intuíu esta verdade: ”Aquela que agora recebe o nome de religião cristã sempre existia anteriormente e não esteve ausente na origem do gênero humano, até que Cristo veio na carne; foi então que a veradeira religião que já existia, começou a ser chamada de cristã.”
No budismo se faz semelhante raciocínio. Existe a budeidade (a capaciade de iluminação) que vem se forjando ao longo do processo da evolução, até que ela irrompeu em Sidarta Gautama que virou Buda. Este só pôde se manifestar na pessoa de Gautama porque antes, a budeidade, estava lá no processo evolucionáro. Então virou o Buda, como Jesus virou o Cristo.
Quando esta comprensão vem internalizada a ponto de transformar nossa percepção das coisas, da natureza, da Terra e no Universo, então abre-se o caminho para uma experiência espiritual cósmica, de comunhão com tudo e com todos. Realizamos por esta via espiritual o que os cientistas buscavam pela via da ciência: um elo que tudo unifica e atrai para frente.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

VOCE PODERÁ SER A PRÓXIMA VITIMA.

Cena 1: Decimopotzu, sul da Ilha da Sardenha, Itália, 28 de maio de 2016. O padre católico da paróquia local, no sermão dominical, após citar vários textos da Bíblia, afirma que a pena de morte deveria ser restabelecida para os gays pois eles não são dignos de continuar fazendo parte da comunidade humana e porque o próprio Deus os condena;

Cena 2: Vicente Dutra, norte do Rio Grande do Sul, 12 de fevereiro de 2014. Um deputado federal candidato à reeleição, em uma audiência pública, afirma que quilombolas, índios, gays, lésbicas são tudo que não presta e que deveriam ser enfrentados por milícias organizadas pelos fazendeiros. Nas eleições de outubro daquele ano, o candidato foi eleito como o deputado federal mais votado pelos gaúchos;

Cena 3: Cuiabá, 12 de novembro de 2015. No aeroporto, ao chegar para lançar um correligionário seu a prefeito da cidade, um deputado federal recém batizado numa igreja pentecostal é recebido com entusiasmo por um grupo de pastores e, do alto dos ombros dos que o carregam, afirma que, a partir de 2019, quando ele for Presidente da República, os sem-terra terão como cartão de visita no Brasil um cartucho de fuzil;

Cena 4: Porto Alegre, 26 de janeiro de 2016. Na Assembleia Legislativa, o mesmo deputado federal é recebido em audiência pública promovida por um deputado estadual e, os dois juntos, fazem pose de quem porta um fuzil e atira sobre os manifestantes da comunidade LGBT que rechaçam a presença na cidade do deputado assumidamente homofóbico.

Cena 5: Estados Unidos, 5 de março de 2016. Um pré-candidato republicano à presidência propõe a construção de um muro ao longo da fronteira com o México para impedir a imigração ilegal. Detalhe: o México deveria arcar com os U$ 24 milhões necessários à construção do muro;

Cena 6: Rio de janeiro, 6 de junho de 2015. Uma menina de 11 anos, há quatro meses iniciada no Candomblé, é apedrejada por um grupo de evangélicos no momento em que, vestida conforme os preceitos de sua religião, dirigia-se com um grupo de amigos ao terreiro para o culto de sua religião;

Cena 7: Santaluz, interior da Bahia, 15 de junho de 2016. Dois professores que trabalhavam em escolas locais e que viviam um relacionamento estável, foram encontrados mortos e carbonizados, dentro de seu carro, às margens da rodovia BA120;

Cena 8: Favela de Heliópolis, São Paulo, 16 de junho de 2016. Um policial, irritado com um cão que insistia em latir cada vez que a viatura passava pelo local, desce da camionete e, aproximando-se do cão, dispara um tiro na cabeça. O cão morre imediatamente para desespero das crianças da rua das quais era o mascote;

Cena 9: Praia do Botagofo, Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 2014. Um adolescente negro, de 15 anos, é espancado e acorrentado, nu, a um poste, por um grupo de jovens brancos de classe média. Seu crime: ser negro e estar no lugar errado, na hora errada e encontrar-se com pessoas de bem que queriam mostrar como se trata um potencial bandido;

Cena 10: Qualquer lugar, qualquer dia, onde você estiver... Se você defende os direitos humanos e os direitos dos fracos da sociedade, você pode ser a próxima vítima do espírito fascista que ronda a humanidade.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

VISITAR OS ENFERMOS.

No “vinde benditos!” ou no “afastai-vos de mim!” do juízo final também entra a obra de misericórdia concretizada na visitação ou não visitação dos doentes. “Estava doente e me visitastes!”. “Estava doente e não me socorrestes!”. Tanto uns, quanto outros perguntarão ao Rei: “Quando foi que te vimos doente e fomos te visitar; ou te vimos enfermo e não fomos te visitar?”. Isso confirma como nossas obras de misericórdia são significativas, quando as conectamos na relação a Jesus Cristo, mas também como é difícil sintonizar com este mistério de comunhão: “...embora muitos somos um só corpo em Cristo, e individualmente somos membros uns dos outros”.

Há muitas razões que confirmam quanto é significativa a visita aos enfermos, principalmente porque todos estamos sujeitos à mesma fragilidade e somos necessitados de solidariedade. Nosso corpo é sempre limitado e nossas aspirações do espírito sempre em necessidade de buscar e encontrar o melhor remédio, novas luzes e novos encontros que nos ajudam a prosseguir. É dentro desta perspectiva, não apenas humana e limitada, mas também situada no horizonte do infinito que encontramos a razão maior para visitar de modo cristão os enfermos. Sabemos que no amor de Cristo a vida se eterniza.

A visita solidária ao doente sempre chega no momento em que a misericórdia precisa ser acionada. A doença que atinge nossa dimensão biológica, também debilita nossa normalidade psicológica e espiritual. O corpo sente a diminuição da energia e clama mais atenção, ajuda, senão mesmo por socorro e dependência de outros. O próprio espírito perde clarividência e agilidade, tornando-se opaco e pesado.

É bem verdade que, com o doente, também sofrem os que com ele convivem. Por esse motivo, a solidariedade humana necessita ir passando para a solidariedade da fé, para não virar deprimente nem para o doente, nem para os que o acompanham, ou visitam. A enfermidade não é estranha para os humanos. Porém torna-se estranha e indesejável quando nos atinge, tanto pessoalmente, como na família ou nos amigos. Diante dessa realidade nossa existência se coloca em crise e traz interrogações profundas e até mesmo revoltas. “Se a fé em Deus é colocada à prova, ao mesmo tempo revela toda a sua potência positiva”.

A visita aos enfermos não aparece com aparato de sensacionalismo, nem na sociedade, nem na Igreja, no entanto é uma confirmação do alto nível de civilização de um povo. Uma das pastorais mais próximas e queridas do Cristo Pastor é a visitação dos enfermos. O importante é caminhar ao lado da pessoa que sofre. Talvez mais do que a cura, ela precise da nossa presença, do coração humano repleto de misericórdia e da solidariedade. Estar ao lado de quem sofre é um modo humano e cristão de manifestar que estamos todos na mesma condição e podemos amenizar até mesmo as dores.

É verdadeiramente sábia a frase popular: “Alegrias partilhadas são alegrias dobradas! Sofrimentos partilhados são sofrimentos amenizados”.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

SAPATOS SUJOS.

Não podemos entrar na modernidade com os sapatos sujos. O desafio foi apresentado pelo escritor Mia Couto, do Moçambique, na abertura do ano letivo de uma universidade do seu país. É preciso descalçar os sapatos sujos – ou seja – os fardos dos preconceitos à porta da modernidade. Ele enumera sete desses preconceitos. Poderiam ser mais. Eles nos impedem de ler corretamente a realidade.

1 – A ideia que os culpados são sempre os outros.
Culpamos o marido, a esposa, os filhos, o vizinho, o padre, os políticos..., enfim, os outros são sempre os culpados. Imaginamos que a melhor defesa é o ataque. Já no começo do mundo, Adão acusou Eva e esta colocou a culpa na serpente.

2 – A ideia que o sucesso não depende do trabalho. Dizemos que não temos sorte, que o azar nos persegue, que o mundo está contra nós. Mais que sucesso ou azar vale a dialética da causa e da consequência. É importante também a paciência. Precisamos lançar a semente; a colheita virá.

3 – A ideia que a crítica é inimiga
. Em vez de acolher com atenção a crítica que nos fazem, desqualificamos quem nos criticou. Ele é um invejoso, dizemos. Por isso continuamos a cometer os mesmos erros. Quem diverge de nós, nos enriquece, dizia o saudoso dom Helder Câmara.

4 –A ideia que mudar as palavras muda a realidade.
O povo costumar dizer: seis ou meia dúzia. A palavra e os gabinetes resolvem tudo. Isso na aparência. A realidade continua igual. Deixemos este engano para os demagogos. Tenhamos a esperteza de não acreditar neles.

5 – A vergonha de ser pobre e o culto das aparências
. Nós somos o que somos, não o que temos. Mais que ser rico ou pobre, vale a dignidade da pessoa. E a dignidade não tem preço. A riqueza pode trazer um saldo negativo.

6 –A passividade diante das injustiças. A ofensa praticada contra um é praticada contra todos. Isto não é comigo, dizemos como desculpa. Quando a injustiça nos atingir, os outros poderão dizer a mesma coisa. Talvez a omissão seja o maior dos pecados.

7- A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros
. É importante a resistência cultural. A constatação de que ‘todo o mundo faz’ ou ‘ninguém mais faz’, não corresponde à dignidade. É mais inteligente consultar o tribunal da consciência. Cada um deve ter critérios sólidos. Eles são nossa referência.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

RESPEITO

Frequentemente as pessoas são agredidas por atos, palavras, gestos. Atos de desrespeito ocorrem na rua, na praça, em lugares públicos, privados, até dentro de casa. Assiste-se cenas que são uma verdadeira afronta à integridade dos cidadãos. A virtude da humildade pode ajudar muito a preservar a dignidade das pessoas.

O termo respeito tem muitos sentidos e interpretações. Oriundo do latim respectus, significa um sentimento de apreço, consideração, deferência. Ainda do latim, a palavra respeito significava “olhar outra vez”. Dessa forma, algo que merece um segundo olhar é digno de respeito. Outro sentido de respeito é usado para veneração, prestar homenagem e até mesmo culto a alguém, como é conhecida a expressão “apresentar os seus respeitos”. Ainda, também, ter respeito por alguém pode significar um comportamento de temor e de submissão. O respeito também pode significar obediência e cumprimento de normas, da lei. Portanto, a interpretação sobre o sentido e o alcance do respeito é larga. E isso considerado, o respeito é atitude e sentimento que impede algo que seja reprovável para ao ser humano.

Com várias significações de respeito, nada é mais eloquente no ensinamento sobre as relações humanas que a prática dos bons valores. Preservar os valores e bons hábitos proporciona mais amparo de interação social entre as pessoas. Sua importância no processo de educação das pessoas é comprovada, pois escolas, igrejas, comunidades, movimentos, todos abordam o tema do respeito ao próximo. É algo que consolida as relações básicas e essenciais para uma convivência social saudável, respeitosa, integradora. Na verdade, atitudes respeitosas se constituem em elementos da própria vida, da própria maneira de viver do ser humano em sociedade.

Portanto, o respeito é algo substancial na conduta das pessoas. Uma sociedade que manifesta desrespeito com idosos, aposentados, enfermos, doentes, crianças, mulheres, imigrantes, indígenas ou negros, anuncia injustiças e afiança desigualdades, violência e menos paz e harmonia. A raiz do desrespeito está na má formação pessoal, na competição, no individualismo, acúmulo de bens e ganhos pessoais. A sociabilidade não é um acidente ou uma contingência, mas condição humana. Almejar respeito exige saber respeitar. E por isso, sendo um nobre valor, o respeito indica responsabilidade de alguém com outro alguém. Nisso consiste o aspecto mais gratificante das relações entre os humanos. No final das contas, ser respeitado é o que anseia toda pessoa. Então, saber proporcionar respeito aos demais em qualquer espaço social ocupa um lugar central nas relações humanas. Enfim, o respeito é elemento de primeira grandeza para a própria felicidade e para o bem da humanidade.

domingo, 9 de outubro de 2016

A COZINHA

Qual o melhor lugar da casa, a sala de estar ou a cozinha? As duas são divinas, mas a cozinha, para o meu gosto, leva o prêmio. A sala é o lugar da conversa, do convívio, da prosa, do lazer, do divertimento. Não dá para viver sem a sala de estar. Uma casa sem sala de estar seria como um corpo sem alma. Mas uma casa sem cozinha seria alma sem corpo. É da cozinha que o corpo se nutre e é da cozinha que vem os sabores que faz feliz a alma.

Mesmo os filósofos racionalistas, como Aristóteles e Kant, não deixam de reconhecer que nada há na consciência que não tenha passado pela experiência. Ou, o que dá na mesma, a consciência sem os sentidos é vazia. Sem os sentidos o mundo exterior não nos diria respeito, não teríamos portas de entrada para a experiência e para a ciência. Sem os sentidos, seriamos opacos e fechados sobre nós mesmos como uma pedra. Os sentidos nos abrem para o mundo e para os sabores do mundo.

Dos sentidos, o paladar, aparentemente, é o que menos nos ensina. Mas só aparentemente. Pois ele nos ensina o essencial e o que verdadeiramente importa, que é a distinção do quente e frio, dos sabores, do que nos dá prazer e o que nos repugna, que desde a tenra infância aprendemos e que são determinantes para a sobrevivência. É o paladar que nos ensina a desejar o que nos agrada e nos faz bem e a expelir o que nos desagrada e faz mal. Ora, quer saber mais precioso do que isso? E é, sobretudo, um saber saboroso e de prazer renovado.

O paladar tem,também, um o sentido ético. Não se faz o mal pelo olhar, nem pelo escutar, nem pelo tocar, nem pelo cheirar, mas pode-se pecar pelo paladar, se saboreamos o indevido. E o que seria o indevido? A carne de animais que matamos, desnecessariamente, por exemplo, para nosso prazer. Há sabores éticos e há sabores que deveriam ser evitados. Sabemos nós distinguir entre um e outro? Quanta informação não deveríamos ter para saber qual a procedência e sob que condições humanas foram produzidos os produtos que vão a nosso prato? E se o produto for obtido pela morte, não o deveríamos cuspir?...

O paladar tem também um sentido teológico, pois a palavra de Deus é para ser comida: “Aproximei-me do anjo e pedi-lhe que me desse o livro. Ele me disse: “’Toma-o e coma-o’” (Ap 10,9). A palavra de Deus não é só para ser lida, mas para ser comida. Que metáfora! A palavra é para ser saboreada, degustada, transformada em carne. Ler é pouco. Memorizar é pouco. Compreender é pouco. É preciso saboreá-la, degustá-la calmamente como quem sorve um sorvete. É no saborear, na degustação que percebemos que algumas passagens são doces, outras amargas, outras salgadas e outras ainda são um tanto quanto azedas. E podemos concluir que a palavra é tudo, menos insossa.

Façamos um exercício hipotético e imaginemos o céu. Como seria um céu perfeito e eternamente desejável? Eu o imagino como uma cozinha rodeada de um pomar, um parreiral e uma horta. Pode faltar tudo, mas não pode faltar comida. E a comida não é para a nutrição, mas para a comensalidade com variados sabores apetitosos. Entre um petisco e outro, uma perguntinha a Deus sobre a origem do universo, sobre seus planos para a humanidade...um tim tim com uma taça de vinho e mais uma conversinha sobre a história de Adão e Eva e coisa e tal...

sábado, 8 de outubro de 2016

A APOSENTAORIA DA DILMA

Dilma está fazendo 68 anos. Contribuiu 40 anos para a previdência. Entrou com um pedido de aposentadoria como todos os brasileiros.

O que faz a Época?

Uma reportagem cafajeste, manipulando informações e datas, típica do jornalismo de guerra desses tristes e fascistas tempos de golpe, para insinuar alguma irregularidade.

Ora, qual a necessidade de Dilma em fazer isso?

É a mídia brasileira surtada, obcecada por um golpe que já se consumou.

É uma estratégia para alimentar preconceitos, ódio, intolerância, fascismo.

Qual o objetivo dessa campanha continuada de ódio? A troco de que ofender gratuitamente a presidenta Dilma, mesmo depois que ela foi deposta e não detém mais nenhum poder?

FHC se aposentou aos 37 anos. Michel Temer aos 55 anos. Dilma está se aposentando aos 68 anos.

Quem a mídia persegue? Dilma.

A mídia está desorientada pelo seu próprio ódio.

O golpe foi consumado. O Brasil está sendo devastado por uma crise econômica criada pela instabilidade gerada pelos próprios golpistas. Já temos 12 milhões de desempregados.

O que faz a mídia? Desvia a atenção da sociedade para factoides como esse.

O governo Temer, consciente de que factoides assim ajuda a entorpecer a opinião pública, desviando de si o incômodo escrutínio social, faz dobradinha com a Época e afasta servidores do INSS, sem que haja qualquer indício de que a presidenta foi beneficiada por algum tipo de tratamento.

Aliás, a denúncia é inteiramente vazia. Qual a acusação? De que o trâmite dos documentos de aposentadoria da Dilma foi rápido?

É surreal! Se foi lento, se foi rápido, o que a Dilma tem a ver com isso?

Por acaso Dilma tem algum poder no Executivo ou nos órgãos da previdência? Não. Não tem nenhum poder. Ao contrário, é uma presidenta deposta injustamente, perseguida por órgãos de mídia delinquentes.

Enquanto isso, os recursos do governo federal destinados à editora Globo, que edita a revista Época, crescem 900%.
O banditismo da Época é muito bem pago!

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

CARTA AOS QUE SE ELEGERAM, AQUI E ACOLÁ

Prezados Eleitos:

Já passaram as eleições municipais dentro de um contexto político dramático, com um governo federal com baixa credibilidade e com legitimidade discutível.

Grande parte dos políticos visam a chegar ao poder por interesses e uma vez no poder, a promover a reeleição. Muitos deles não vivem para a política mas da política. Deforma-se assim a natureza da política como busca comum do bem comum. Pior, o político interesseiro se coloca acima do bem e do mal. Só faz o bem quando possível e o mal sempre que necessário.

Mas importa denunciar: trata-se do exercício perverso do poder político. Max Weber em seu famoso texto de 1919 aos estudantes da Universidade de Munique, desanimados pelas condições humilhantes impostas pelas potências que venceram a Alemanha na primeira grande guerra, A Política como Vocação, já havia advertido:"Quem faz política busca o poder. Poder, ou como meio a serviço de outros fins ou poder por causa dele mesmo, para desfrutar do prestígio que ele confere". Esse último modo de poder político foi exercido historicamente por grande parte de nossas elites a fim de se beneficiar dele, esquecendo o sujeito e o destinatário de todo o poder que é o povo.

Precisamos resgatar o poder como expressão político-jurídica da soberania popular e como meio a serviço de objetivos sociais coletivos. Só este é moral e ético. É imperativo, pois, contar com políticos que não façam do poder um fim em si e para seu proveito, ligados a processo de corrupção, tão largamente publicitados, mas uma mediação necessária para realizar o bem comum, a partir de baixo, dos excluídos e marginalizados. O páleo-cristianismo chamava a isso de liturgia que significava: serviço ao povo.

É neste contexto que queremos recuperar a figura ímpar de político dos tempos modernos, Mahatma Gandhi. Para ele, a política "é um gesto amoroso para com o povo" que se traduz pelo "cuidado com o bem-estar de todos a partir dos pobres". Ele mesmo confessa:"Entrei na política por amor à vida dos fracos; morei com os pobres, recebi párias como hóspedes, lutei para que tivessem direitos políticos iguais aos nossos, desafiei reis, esqueci-me das vezes que estive preso". O mesmo se poderia dizer de outra figura exemplar: Nelson Mandela que, depois de dezenas de anos de prisão, superou o apartheid da África do Sul.

Nestes tempos de desesperança política, por causa do muito ódio que grassa na sociedade e também por aquilo que não poucos denunciam como um golpe parlamentar-judiciário contra uma presidente consagrada por uma eleição majoritária, precisamos reforçar os governantes que se propõem cuidar do povo e fazer com que o cuidado se constitua na marca da condução da vida social no município, no estado e na federação.

Na verdade, o Brasil precisa urgentemente de quem cuide dos pobres e marginalizados. Lula e Dilma intencionalmente se propuseram cuidar e não administrar o povo, mediante políticas sociais de resgate de sua vida e dignidade. Atualmente predomina uma política que cuida menos do povo e mais dos ajustes severos na economia, da estabilização monetária, da inflação, da dívida pública federal e estadual, da privatização de bens públicos e de nosso alinhamento no projeto-mundo. Tudo é feito sem escutar o povo e até contra direitos sociais, conquistados a duras penas.

Que não se diga que tal diligência representa já cuidado para com o povo. Cuidado meticuloso e até materno há, sim, para com as elites dominantes, para com os bancos e para o sistema financeiro nacional e internacional que têm lucros exorbitantes.

Em lugar de cuidado, há na política administração das demandas populares, atendidas de forma paliativa, mais para abafar a inquietação e afogar a revolta justa do que para atacar as causas de seu sofrimento.
 

Escutar a saga do povo, seus padecimentos e suas esperanças, as soluções que encontrou, o Brasil que sonha. Ele quer bem pouca coisa: trabalhar e com o trabalho dignamente pago, comer, morar, educar os filhos, ter segurança, saúde, transporte, cultura e lazer para torcer pelos seus times de estimação e fazer suas festas e cantorias. O que ele mais quer é dignidade e ser reconhecido como gente e ser respeitado.

O povo merece esse cuidado, essa relação amorosa que espanca a insegurança, confere confiança e realiza o sentido mais alto da política.


É só isso que o povo espera de vocês.

Saudações.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

PÓS MODERNIDADE...

Um elemento substancial que caracteriza a modernidade e pós-modernidade é a liberdade. Com a liberdade outros valores impulsionam a vida da sociedade e das pessoas em tempos modernos. Em novo período e contexto histórico, a liberdade está no epicentro dos valores. Daí que é preciso observar seu alcance e suas limitações.

Atualmente muitos teóricos caracterizam a pós-modernidade como uma nova fase da modernidade. Para José Luiz Sanfelice a pós-modernidade está ligada ao surgimento de uma sociedade pós-industrial, na qual o conhecimento torna-se a principal força econômica da produção. Objetivamente, compreende ser a pós-modernidade uma mudança geral na condição humana. Segundo Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira o pós-moderno caracteriza-se por profundos desenvolvimentos e transformações no campo tecnológico, na produção econômica, na cultura, nas formas de sociabilidade, na vida política e cotidiana. Em nova realidade, o ser humano apropria-se de novas ideias imprescindíveis para a compreensão das atuais configurações humanas e sociais. Nos discursos dos filósofos Jünger Habermas e Fredric Jameson o termo pós-modernidade expressa uma cultura de globalização e sua ideologia neoliberal. Para ambos, a base material da pós-modernidade é a globalização econômica levando implicações às sociedades e aos sujeitos. Logo, definir o novo período em contexto histórico de pós-modernidade abre um leque de discussões sob os mais plurais pensamentos e ideias.

Qualquer que seja a apreciação dos novos tempos que mereça a denominação de pós-moderno, trata-se de uma época nova na qual os valores são outros e distintos. São valores que não podem ser comparados aos de outros tempos e de culturas anteriores. Porém, para o teólogo José Comblin a época de pós-modernidade caracteriza-se pela liberdade individual e imediata. Segundo ele, é a liberdade de viver, a liberdade do corpo, a liberdade de gozar a vida presente, enquanto na modernidade o sentido de liberdade era coletivo, universal e abstrato.

Em contrapartida, na pós-modernidade ninguém mais morre por defender uma verdade, uma ideologia, um bem coletivo. A pós-modernidade vive o drama da liberdade que está ao alcance apenas da minoria, enquanto a maioria da população é submetida diariamente aos interesses da globalização da economia, da produção e do consumo da ideologia neoliberal. Isto é, o indivíduo está aquém de aproveitar os benefícios do progresso e do desenvolvimento. Em suma, conforme os teóricos citados, os novos tempos do pós-moderno são de gozo para poucos e de sacrifício para a maioria. Neste aspecto é preciso rever o sentido de liberdade para uma maior sociabilidade dos recursos e condições materiais.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PEREGRINOS DO NOSSO TEMPO

Se há um fenômeno reconhecido de nosso tempo é a globalização. Constata-se que todos os segmentos por onde se movimenta a vida da humanidade e a convivência, são atingidos positiva ou negativamente pela globalização. Não se trata aqui de analisar os componentes causadores deste processo rápido e profundo de mudanças, mas acima de tudo acenar para algumas consequências que mais preocupam a humanidade de hoje.

Por bem ou por mal estamos vivendo e convivendo num mundo sem fronteiras. Como a água que corre e sempre encontra modos e momentos para ir se acomodando, assim são as multidões humanas que peregrinam pelo mundo, procurando viver e conviver. Ora movidas por intercâmbios culturais; ora atraídas por grandes promoções esportivas e até religiosas, por turismo e até por perseguições, pela fome e por agressões da natureza, as multidões peregrinam, migram ou buscam refúgio e compaixão.

Desde a Segunda Guerra Mundial, vive-se hoje a pior crise migratória da humanidade. Uma onda, agitada pelo desespero, força o fenômeno das migrações no mundo, especialmente onde a pobreza e a violência se tornam sempre mais ameaçadoras. Aqui no Brasil, especialmente no Sul, convivem haitianos e senegaleses que já fazem parte de nosso corpo social, mesmo com os desafios que essa realidade provoca. A Igreja, pelas famílias religiosas devotadas ao cuidado dos migrantes, acolhe e incentiva a prática desta obra de misericórdia.

A União Europeia, especialmente a Itália, Grécia e Hungria, vê-se atingida por esta onda que vem do Oriente Médio e da África. Só em 2014 foram 280 mil os que migraram, em 2015 foram 350 mil. Os conflitos na Síria e no Afeganistão e a violência na Eritreia, são as principais causas da migração. Em pouco tempo mais de 2.600 migrantes se afogaram no Mediterrâneo, tentando chegar à Grécia e à Itália.

O Papa Francisco, como um profeta da misericórdia, no início de seu pontificado foi até a Ilha de Lampedusa, no sul da Itália, sem protocolos, mas unicamente como Pastor, foi até o mar laçar coroas de flores em homenagem aos refugiados mortos. Neste cenário dramático lembra as perguntas que Deus faz a Adão e a Caim: “Adão, onde estás?”. É a primeira pergunta após o pecado. “Caim, onde está o teu irmão?”. “Estamos desorientados, já não estamos atentos ao mundo em que vivemos...já não somos capazes sequer de nos guardar uns com os outros... Reaparece a figura do ‘inominado’ de Alexandre Manzoni. A globalização da indiferença torna-nos a todos ‘inominados’, responsáveis sem nome, nem rosto” (Papa Francisco em Lampedusa).

O mesmo drama, senão pior, Francisco viu e sentiu na ilha grega de Lesbos, no dia 16 de abril de 2016. Ali viu cenas de desespero de crianças, jovens órfãos porque perderam os pais na guerra, idosos abandonados na velhice. Foi dali que Francisco levou três famílias, com doze pessoas, para o Vaticano, como um sinal de acolhimento concreto aos novos peregrinos que perambulam pelo mundo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

SORRIR É UM GESTO DE AMOR.

Nascemos e vivemos em meio ao maravilhoso. O universo é regido por uma misteriosa e admirável harmonia. Isto se manifesta nos espaços siderais com milhões de gigantescas estrelas percorrendo órbitas exatas. Um pequeno desvio causaria um cataclisma. A mesma harmonia se revela na mais pequena e escondida flor da montanha. Até o irreverente Voltaire, num momento de sinceridade, admitiu: “O universo me espanta: não posso admitir um relógio sem existir um relojeiro”.

A cada dia revelam-se novas maravilhas da natureza. Algumas curiosas, outras cheias de sabedoria. Você sabia? Muitas vezes as narrativas começam assim. Você sabia que a formiga é o animal que tem maior cabeça em relação ao corpo? Que o beija-flor é incapaz de caminhar e a toupeira pode escavar um túnel de 75 metros em uma única noite?

O elefante possui uma memória prodigiosa, capaz de conhecer a voz de uma pessoa depois de dezenas de anos. Ou mesmo percorrer uma centena de quilômetros para encontrar uma fonte em que bebeu na infância. O avestruz não sabe voar, mas desenvolve uma velocidade de 80 quilômetros horários. O que dizer da pequena pulga que salta o equivalente a 70 vezes o seu tamanho! Impressiona também a ternura e a eficiência das fêmeas em defender, cuidar e ensinar suas crias.

Curiosidades interessantes, sobretudo, cercam a vida do homem. No corpo humano existem, aproximadamente, 95 mil quilômetros de vasos sanguíneos, nos quais, a cada segundo, são produzidos e destruídos milhões de glóbulos. Uma pessoa pisca os olhos, aproximadamente, 25 mil vezes por dia. Por último, para franzir a testa, cada um de nós utiliza 45 músculos e para sorrir, apenas 17.

Mesmo sendo mais fácil sorrir, muitos apostam na atitude de franzir as sobrancelhas. Há mais gente querendo descobrir defeitos do que olhando as qualidades. Sorrir é um gesto de amor. É semelhante ao sol que espanta as névoas. O sorriso é o melhor cartão de visita. Por vezes, a vida passa por momentos dolorosos. Mesmo assim sorria. O otimismo pode não melhorar a situação, mas o pessimismo piora todas as situações.

Cada um de nós carrega consigo bom ou mau tempo. Cada um de nós é uma manhã ensolarada ou um dia cheio de nuvens. Sorriso é um gesto de amor, é uma verdadeira terapia. O esforço de franzir a testa não traz qualquer resultado. Sorria, você é irmão do universo, você é filho de Deus. Por isso, São Paulo, em meio a tantas tribulações, recomendava: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos”
.

domingo, 2 de outubro de 2016

MUDAR?

Os modelos, sistemas e padrões não são perenes. Ademais, para subsistir é preciso capacidade de reinvenção. Tudo na história humana vive sob esta condição, a mudança. Mas, os elementos mais importantes da mudança são as conquistas em termos de qualidade de vida e o crescimento do ser humano. Isso pode representar, então, uma libertação de situações de exclusão social, humana. Nesta visão a mudança não é desoladora e sim promissora às pessoas e à humanidade.

A história humana seria cruel se não evoluísse nos modelos, sistemas e padrões éticos, sociais, políticos, econômicos, etc. Provavelmente os problemas humanos subsistiriam e aumentariam. O problema maior sucede quando as mudanças ocorrem sem obedecer à ética e ao crescimento humano. Nada desaparece porque simplesmente é péssimo e não mais corresponde a circunstâncias da vida e anseios das pessoas. Há poucas décadas alguns teóricos apontavam o fim do socialismo como sistema. Outros escreviam sobre o esgotamento da espiritualidade cristã. Os visionistas previam o fim do mundo na virada do segundo milênio.

Na atualidade nenhum teórico poderia prever o fim do capitalismo em plena expansão. Ainda, com o avanço da tecnologia, da informática e da automatização do trabalho, a mudança está em permanente percurso. As tradições e valores são questionados por novos paradigmas. Os jovens já não pensam como os pais. A família passa por transformações. As verdades são relativizadas. O acento da moral passa do religioso para o secular. O valor da pessoa está em seu livre-arbítrio. Os meios de comunicação social informam ao mundo inteiro no mesmo instante. As ideologias políticas se perderam. A política neoliberal busca sobrevida em ideias ultraconservadoras. As empresas multinacionais crescem e concentram capital. O continente europeu empobrece a cada ano. A elite política nacional não influencia a juventude. No Brasil novas classes sociais surgiram. Os trabalhadores ressurgem como categoria.

Enfim, entre estas há outras tantas mudanças, as quais se refletem diretamente na vida das pessoas. Os teóricos dizem que na mudança crescem a ciência, o conhecimento e as novas alternativas. Algo de fundamental existe na mudança: o inventado pela sabedoria humana é temporário. O filósofo marxista estadunidense Marshall Berman (1940-2013), no livro Tudo que é sólido desmancha no ar, diz que a obra humana está nessa condição. O autor critica os dogmatismos do homem moderno, propriamente apoiados na razão. Já no ano 469 a.C. o filósofo grego Sócrates orientava sobre a fragilidade humana na comunidade de Atenas com o célebre pensamento “conhece-te a ti mesmo”. O homem nunca pode ser um Deus. A condição humanamente possível é aproveitar as mudanças para a solução dos problemas sociais, ou para diminuir seu agravamento. Cientes que todas as pessoas merecem uma melhor qualidade de vida, vale mudar.