terça-feira, 11 de outubro de 2016

SAPATOS SUJOS.

Não podemos entrar na modernidade com os sapatos sujos. O desafio foi apresentado pelo escritor Mia Couto, do Moçambique, na abertura do ano letivo de uma universidade do seu país. É preciso descalçar os sapatos sujos – ou seja – os fardos dos preconceitos à porta da modernidade. Ele enumera sete desses preconceitos. Poderiam ser mais. Eles nos impedem de ler corretamente a realidade.

1 – A ideia que os culpados são sempre os outros.
Culpamos o marido, a esposa, os filhos, o vizinho, o padre, os políticos..., enfim, os outros são sempre os culpados. Imaginamos que a melhor defesa é o ataque. Já no começo do mundo, Adão acusou Eva e esta colocou a culpa na serpente.

2 – A ideia que o sucesso não depende do trabalho. Dizemos que não temos sorte, que o azar nos persegue, que o mundo está contra nós. Mais que sucesso ou azar vale a dialética da causa e da consequência. É importante também a paciência. Precisamos lançar a semente; a colheita virá.

3 – A ideia que a crítica é inimiga
. Em vez de acolher com atenção a crítica que nos fazem, desqualificamos quem nos criticou. Ele é um invejoso, dizemos. Por isso continuamos a cometer os mesmos erros. Quem diverge de nós, nos enriquece, dizia o saudoso dom Helder Câmara.

4 –A ideia que mudar as palavras muda a realidade.
O povo costumar dizer: seis ou meia dúzia. A palavra e os gabinetes resolvem tudo. Isso na aparência. A realidade continua igual. Deixemos este engano para os demagogos. Tenhamos a esperteza de não acreditar neles.

5 – A vergonha de ser pobre e o culto das aparências
. Nós somos o que somos, não o que temos. Mais que ser rico ou pobre, vale a dignidade da pessoa. E a dignidade não tem preço. A riqueza pode trazer um saldo negativo.

6 –A passividade diante das injustiças. A ofensa praticada contra um é praticada contra todos. Isto não é comigo, dizemos como desculpa. Quando a injustiça nos atingir, os outros poderão dizer a mesma coisa. Talvez a omissão seja o maior dos pecados.

7- A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros
. É importante a resistência cultural. A constatação de que ‘todo o mundo faz’ ou ‘ninguém mais faz’, não corresponde à dignidade. É mais inteligente consultar o tribunal da consciência. Cada um deve ter critérios sólidos. Eles são nossa referência.

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