domingo, 30 de outubro de 2016

OLFATO É O SENTIDO QUE NÃO SE VÊ.

Somos altamente desenvolvidos nas ciências médicas e em tecnologias de melhoramento e cura de doenças que afetam nosso corpo, mas podemos almejar que algum dia um robô, obra humana, consiga ter o prazer de sentir o cheiro da mata num dia de chuva? Ou o cheiro que sai do chão seco no começo da chuva em dia de verão? Ou, quem sabe, aquele aroma do pão assado em forno colonial de tijolo e barro? E o que dizer do perfume inebriante da dama da noite que nos convoca ao êxtase? Toda a ciência do homem é incapaz de produzir o mais elementar órgão que nos disponha ao acesso odorífero das flores, das essências aromáticas da natureza. Tão grande é nosso conhecimento, insuficiente, porém, para produzir um sistema de pequenos orifícios que nos possibilita a experiência dos odores do mundo... O olfato é uma maravilha da natureza; não é obra humana, é graça divina.

O olfato é o sentido do invisível que, mesmo não ocupando espaço, impregna os ambientes. Pelo olfato, o invisível, o que não se mostra, o que não podemos tocar e ver, se apresenta e nos toma por inteiro. Pelo olfato, lemos o instante fugidio, passageiro, mas que deixa sua marca no perfume das estações, nos cheiros circunstanciais, nos odores efêmeros que nos dão a justa medida do nosso acesso ao mundo. Sem o perfume e os cheiros, a vida seria fria, calculista e sem graça.

O olfato é, também, o sentido da imaginação. Não sentimos o perfume do passado, mas o odor presente tem o poder de nos transportar e nos conectar a uma experiência inebriante do passado gravada na memória, da qual o perfume é o elo. Tal como os sabores da infância, os cheiros da infância são mobilizadores de nossas melhores memórias. Não só da infância, mas dos bons momentos da vida que foram acompanhados pelo toque imperceptível dos perfumes. O sutil perfume une duas experiências – a presente e a passada –, fazendo-nos respirar de olhos fechados e com um leve sorriso no rosto...

O olfato, tal como outros órgãos dos sentidos no ser humano, acontece na justa medida. Não somos especialistas no olfato, como alguns animais o são, por exemplo, o cachorro. A justa medida é sábia, pois já imaginou ter a capacidade de sentir o odor do distante, do longínquo? A vida seria insuportável se permanentemente fôssemos arrebatados pelos odores, agradáveis ou desagradáveis. Por isso, via de regra, nos ambientes em que habitamos, os odores são discretos e na justa medida.

É isso, o olfato é o sentido do invisível, do discreto, do passageiro, do instante fugidio, do momento, do circunstancial, do efêmero, do poético, enfim. Um cheiro pra você!

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