quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PEREGRINOS DO NOSSO TEMPO

Se há um fenômeno reconhecido de nosso tempo é a globalização. Constata-se que todos os segmentos por onde se movimenta a vida da humanidade e a convivência, são atingidos positiva ou negativamente pela globalização. Não se trata aqui de analisar os componentes causadores deste processo rápido e profundo de mudanças, mas acima de tudo acenar para algumas consequências que mais preocupam a humanidade de hoje.

Por bem ou por mal estamos vivendo e convivendo num mundo sem fronteiras. Como a água que corre e sempre encontra modos e momentos para ir se acomodando, assim são as multidões humanas que peregrinam pelo mundo, procurando viver e conviver. Ora movidas por intercâmbios culturais; ora atraídas por grandes promoções esportivas e até religiosas, por turismo e até por perseguições, pela fome e por agressões da natureza, as multidões peregrinam, migram ou buscam refúgio e compaixão.

Desde a Segunda Guerra Mundial, vive-se hoje a pior crise migratória da humanidade. Uma onda, agitada pelo desespero, força o fenômeno das migrações no mundo, especialmente onde a pobreza e a violência se tornam sempre mais ameaçadoras. Aqui no Brasil, especialmente no Sul, convivem haitianos e senegaleses que já fazem parte de nosso corpo social, mesmo com os desafios que essa realidade provoca. A Igreja, pelas famílias religiosas devotadas ao cuidado dos migrantes, acolhe e incentiva a prática desta obra de misericórdia.

A União Europeia, especialmente a Itália, Grécia e Hungria, vê-se atingida por esta onda que vem do Oriente Médio e da África. Só em 2014 foram 280 mil os que migraram, em 2015 foram 350 mil. Os conflitos na Síria e no Afeganistão e a violência na Eritreia, são as principais causas da migração. Em pouco tempo mais de 2.600 migrantes se afogaram no Mediterrâneo, tentando chegar à Grécia e à Itália.

O Papa Francisco, como um profeta da misericórdia, no início de seu pontificado foi até a Ilha de Lampedusa, no sul da Itália, sem protocolos, mas unicamente como Pastor, foi até o mar laçar coroas de flores em homenagem aos refugiados mortos. Neste cenário dramático lembra as perguntas que Deus faz a Adão e a Caim: “Adão, onde estás?”. É a primeira pergunta após o pecado. “Caim, onde está o teu irmão?”. “Estamos desorientados, já não estamos atentos ao mundo em que vivemos...já não somos capazes sequer de nos guardar uns com os outros... Reaparece a figura do ‘inominado’ de Alexandre Manzoni. A globalização da indiferença torna-nos a todos ‘inominados’, responsáveis sem nome, nem rosto” (Papa Francisco em Lampedusa).

O mesmo drama, senão pior, Francisco viu e sentiu na ilha grega de Lesbos, no dia 16 de abril de 2016. Ali viu cenas de desespero de crianças, jovens órfãos porque perderam os pais na guerra, idosos abandonados na velhice. Foi dali que Francisco levou três famílias, com doze pessoas, para o Vaticano, como um sinal de acolhimento concreto aos novos peregrinos que perambulam pelo mundo.

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