sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

URGENTE!

“Há grande chance de um colapso nacional. A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia”, afirma Miguel Nicolelis.


Efeitos ‘sincronizadores’, como o carnaval, fizeram com que a alta de contágio abalasse todas as regiões, num efeito dominó, diz especialista.

Desde dezembro, o médico, neurocientista e professor catedrático da Universidade de Duke (EUA) Miguel Nicolelis vê o colapso se aproximar no horizonte da pandemia. Alertou autoridades e orientou as medidas a serem tomadas, em especial um necessário lockdown. Na semana passada, deixou a coordenação do Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a Covid-19.

O agravamento da pandemia da Covid-19 vem levando os sistemas hospitalares de diversos estados ao colapso, de Norte a Sul do país.

No dia em que o país registrou o pior número de mortos em 24 horas de toda a pandemia (foram 1.582 óbitos registrados em apenas um dia, com recorde também na média móvel de mortes, que ficou em 1.150), Nicolelis conversou com O GLOBO e defendeu a necessidade de um lockdown nacional por 21 dias.

Só isso, diz, pode evitar o colapso simultâneo da saúde (e depois funerário) em praticamente todo o país: “A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia”.

O senhor deixou o Comitê Científico do Nordeste. A principal razão apontada pela imprensa foi a relutância dos governos em adotar o lockdown. É isso?

Saí porque fiz o que tinha que fazer, criei estrutura, implementei procedimentos, elaboramos todas as recomendações possíveis da ciência, e agora está tudo lá na mesa dos gestores. Avisamos em 18 de dezembro que a situação ia ficar crítica. Tudo o que foi pedido foi realizado, e o resultado foi melhor do que eu esperava, mas a gente quando é cientista sabe que chega a hora que fez o que podia fazer. Minha missão foi cumprida, deixei minha vida de lado para achar as melhores formas de combater a pandemia no Brasil.

O senhor disse que São Paulo é a próxima peça no dominó a cair. Como avalia as situações dos estados brasileiros?

Santa Catarina anunciou que colapsou, o Rio Grande do Sul está dramático, o triângulo mineiro colapsou. Belo Horizonte teve dois lockdowns que provocaram queda importante nas internações e mortes, mas o sul do estado, não. Sabe aquele jogo de dominó em quem uma peça cai depois da outra? Foi a metáfora que usei.

Existem preocupações na região Norte, Rondônia já foi, Mato Grosso, o próprio Distrito Federal, São Paulo tem menos de três semanas de reservas de leitos de UTI — o que, para a cidade que é a capital de medicina brasileira, é assustador. Ultrapassamos o recorde de internações. No Estado do Rio, a letalidade é recorde no Brasil. O Nordeste ficou com o menor índice de óbitos por 100 mil nos primeiros 11 meses, mesmo assim o crescimento ainda é o menor, numa região com menos médicos do que a média nacional, menos infraestrutura. Esperava-se que o colapso ficasse restrito à região Norte. É surpreendente que o Sudeste tenha se saído tão mal.

Ou seja, o colapso está ocorrendo de Norte a Sul. Como chegamos a essa situação?

Diferentemente da primeira onda, quando foi cada estado num tempo, surgiram efeitos sincronizadores como eleição, festas de fim de ano, carnaval. Agora, tudo está explodindo ao mesmo tempo. Isso significa que não não tem medicação, não tem como intubar, não vai dar para transferir de uma cidade para outra, não vai ter como transferir para lugar nenhum. A consequência do colapso de saúde é o colapso funerário. Cientistas não olham só o presente, mas olham o futuro, enquanto o político está pensando no hoje, em como resistir à pressão do setor X para não fechar, a despeito das mortes.

Como vê esse futuro?

Eu estou vendo a grande chance de um colapso nacional. Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso. Se eliminar o genocídio indígena e a escravidão, é a maior tragédia do Brasil. A ausência de comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra. Em outros países essa é a mensagem que foi dada, veja a China. É curioso ver que no mundo ocidental exista dificuldade de transmitir essa mensagem da gravidade. Em Israel, metade da população foi vacinada no meio de um lockdown, e Israel é um país que entende o que é uma guerra. Adotaram discurso de salvação nacional, a mobilização foi total.

Além da falta de gestão, a população também deixou de se mobilizar?

Eu tenho me perguntado muito: qual é o valor da vida no Brasil? Que valor os políticos dão para a vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% de ocupação dos leitos? Ter que preservar a economia é não só uma falsidade econômica como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas. O que mais me assusta é o pouco valor à vida. Os políticos são o primeiro componente, mas a sociedade também. Porque, quando alguém vai a uma festa clandestina de fim de ano, de carnaval, se aglomera numa balada ou à beira do campo de futebol, não compromete só sua saúde, mas a vida dos seus familiares, seus vizinhos e das pessoas que nem conhece. Nossa sociedade em algum momento perdeu a conexão com o quão irreparável é a vida.

O pessoal fala que daqui a um ano vai estar tudo certo, em 2022 vai ter carnaval. Do jeito que a carruagem está andando, a perda de vidas pode chegar ao dobro daqui a um ano. E tudo isso num país que tem um sistema de saúde conhecido no mundo, capilarizado, que tem tradição de campanhas de vacinação. Ninguém esperava que o Brasil fosse ter uma performance tão baixa. Poderíamos estar vacinando 10 milhões, mais do que qualquer país. É como uma tragédia grega, mas é brasileira, que alguém vai contar um dia. Porque ela é épica, como a derrota dos troianos.

O lockdown é a resposta?

O Brasil precisaria de um lockdown nacional, com uma campanha de comunicação, porque a gente precisa da colaboração da população. A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia. Nessa altura, essas medidas de restrição de horário não têm efeito, porque o grau de espalhamento é tão enorme que se compensa durante o dia, quando as pessoas vão aos restaurantes, shoppings, pegam transporte lotado, não funciona.

A consequência da perda de meio milhão de pessoas não dá nem para imaginar. Sem gente não tem economia, ninguém produz, ninguém consome. É inconcebível.

É possível impedir essa catástrofe?

Tem saída, mas tem que mudar tudo. Ainda dá tempo de reverter. Estou propondo a criação de uma comissão de salvação nacional, sem Ministério da Saúde, organizado pelos governadores, para resolver a logística. É uma guerra, quando vamos bater de frente com o inimigo de verdade? O Brasil é o maior laboratório a céu aberto para ver o que acontece com o vírus correndo solto. Em segundo lugar, um lockdown imediato, nacional, de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas, aeroportos fechados. E depois ampliar a cobertura, usando múltiplas vacinas. Não dá para ficar discutindo, assina o contrato e vai em frente, deixa para depois, estamos falando da vida de 1.500 pessoas por dia, são 5 boeings caindo. Vacinação, vacinação, vacinação, testagem e isolamento social. Não tem jeitinho numa guerra. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A IMPORTÂNCIA DA AMIZADE



Apesar das vacinas que chegam mais lentamente do que seria necessário, este momento do mundo ainda não permitiu que o povo se reunisse   para o Carnaval, como a maioria desejaria. No entanto, em muitos países do mundo, o domingo, 14 de fevereiro, foi um dia importante para as pessoas apaixonadas e para os amigos. O motivo é que, além de ser, neste ano, o domingo do Carnaval, é bom sabermos que, no antigo calendário católico, nesta data, se fazia memória de São Valentim.

Trata-se de uma figura do Cristianismo primitivo. Conforme a lenda, no século 3º, para que os jovens pudessem permanecer disponíveis para ir à guerra, o imperador proibiu que, por um tempo, a Igreja abençoasse casamentos. No entanto, o bispo Valentim os celebrava escondidos. Um dia, isso foi descoberto. O bispo foi preso e condenado à morte. Mesmo na prisão, continuou a abençoar o amor dos jovens. Por isso, em muitos países, até hoje, o “Valentine days” é o dia dos namorados.

Outra lenda antiga fala de um cristão chamado Valentim que se entregou aos guardas do imperador para ser preso e morto no lugar de um amigo, denunciado como cristão. Baseado nisso, a ONU considera o 14 de fevereiro como “o dia da amizade”.

Hoje, vivemos mergulhados em um mundo virtual, no qual as redes sociais nos classificam em grupos. Com apenas um clique fazemos um amigo virtual. No entanto, no mundo real, não pode ser assim.

Há alguns anos, um militante de direitos humanos visitava uma aldeia dos índios Bororo, no Mato Grosso. Interessado em ouvir as histórias dos antigos daquele povo, conversava com um dos mais velhos da aldeia. O velho índio se mostrou muito aberto. Mas, quando o outro perguntou se poderia ir à sua casa, o índio respondeu:

— Quando formos amigos, convido você à minha casa.

Isso pode parecer rude, mas é importante para nos darmos conta de como é verdade o que Saint Exupery escreveu: “Amigos não se encontram como produtos em lojas. Não existem lojas de amigos. Para que as pessoas se tornem amigas, precisam de tempo e de gratuidade”.

Atualmente, a maioria da juventude continua repetindo a palavra de ordem dos anos 70: “Faça o amor, não faça a guerra”. E, para muitas pessoas, as questões afetivas ainda parecem ser o único eixo de vida que interessa. Até hoje, em forma de novelas, a televisão oferece o amor romântico como pão e circo para as carências da massa.

A partir da 4ª feira de cinzas, 17 de fevereiro, oito Igrejas e grupos ligados ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) iniciam a Campanha da Fraternidade 2021 com o tema “Fraternidade e Diálogo, a serviço da paz e da justiça”.

De fato, um grande desafio para os nossos tempos é valorizar as relações pessoais e aprofundá-las, ao mesmo tempo que construir o que o papa Francisco em sua recente encíclica Fratelli Tutti chama de “amizade social”. Alguns grupos de juventude falam em “socializar o amor”.

Na América Latina, temos aprendido que as lutas políticas se tornam superficiais e até inúteis se não procedem do amor e não são permanentemente embebidas de amorosidade. Nesses dias difíceis que atravessamos, em um Brasil incendiado por ondas de violência e de ódio, qualquer brisa de amor refrigera.

Embora tome formas e expressões diferentes, qualquer forma de amor tem o mesmo DNA. Seja amor de mãe, seja de irmãos, de namorados ou de amigos, todo amor vem da mesma fonte. Trata-se da inteligência amorosa, presente no universo e atuante nas pessoas e em todo ser vivo. As religiões e tradições espirituais a chamam de Deus. A tradição judaica ensina que ao criar o mundo, a luz divina se espalhou como chamas de amor por todo o universo. Ao receberem essas faíscas do Amor maior, fonte de todo amor, todos os seres vivos foram divinizados. Entre eles, cada ser humano é chamado a cultivar e desenvolver essa chama para que ela não se apague. As relações familiares, a participação comunitária e os relacionamentos de amizade e de amor conjugal são instrumentos para a realização plena dessa vocação para o amor.

O amor conjugal tem uma dimensão mais exclusiva. O amor de amizade é mais aberto, gratuito e incondicional. Por isso, místicos de diferentes religiões consideram a amizade como o sinal por excelência do amor divino no mundo. Amar é nossa vocação. Todos os seres humanos são chamados a viver esse caminho. Somos felizes quando nos sentimos nele e por ele nos deixamos conduzir.

Todas as formas de amor são assumidas pelo Espírito Divino que se manifesta em todo e qualquer amor humano. No entanto, o Espírito de Amor nos chama a sermos cada vez capazes de um amor gratuito e mais generoso. Trata-se de amar até quem não ama. ,É levar amor onde não há amor, de modo incondicional e sem limites. Como afirma a carta apostólica: “Deus é amor. Quem vive o amor permanece em Deus e Deus está nessa pessoa” (1Jo 4, 16).

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

CAMPANHA DA FRATERNIDDE UMA REAL CHANCE À PAZ

 

A palavra ecumenismo encontra suas raízes na cultura grega e significa: mundo habitado. O conceito não pretendia avançar em questões demográficas ou estatísticas, mas carregava o belo sentido de povo civilizado, de cultura aberta em termos não apenas geográficos como também civilizacionais. O Cristianismo nascente adotou a ideia e o conceito, fazendo dos mesmos um ideal e uma missão: fazer habitável a obra de Deus, que é toda a criação, promovendo a unidade e a concórdia.

Desde muito cedo, a Igreja percebeu não apenas a necessidade dessa unidade como também o enorme desafio que significava construí-la a partir e por meio da diversidade. Os Concílios da Antiguidade procuraram superar propostas e doutrinas que dividiam a Igreja, e chegar a consensos que pudessem uni-la em termos de conteúdos da fé, para que fossem aceitos e praticados por todos os cristãos.

A história avançou e houve esforços de unidade, mas também ataques. Houve guerras de religião em que se matava em nome de Deus e empreendimento ideológicos e políticos unilaterais, nos quais tristemente cristãos chegaram a considerar prestar um serviço a Deus eliminando os que professavam religiões diferentes. E houve um momento em que os próprios cristãos se dividiram, permanecendo em campos opostos e considerando hereges e apóstatas os que entendiam e viviam a fé cristã em outros termos.

A partir dessa divisão entre cristãos surgiu o movimento ecumênico moderno, que fomentou o diálogo e a cooperação entre os cristãos, para fazer frente à evangelização em um mundo sempre mais secularizado e mais plural. O ecumenismo tornou-se uma iniciativa entre diversas denominações cristãs, na busca do diálogo e da unidade, de superar divergências e divisões históricas, culturais e mesmo doutrinais. Para isso, houve muito trabalho para aceitação da diversidade entre as igrejas já que todas buscam encontrar em Cristo seu ponto de unidade. Professam um só Credo, recebem um só Batismo, e veem cada vez com maior clareza que estar divididos é um escândalo e um contratestemunho.

Por parte da Igreja Católica, o Concílio Vaticano II é um marco por assumir para dentro do magistério oficial da Igreja Católica Romana o desejo e o compromisso de aproximar-se sempre mais dos irmãos que adoram o mesmo Deus e reconhecem como Senhor o mesmo Cristo. Porém, mais longe ainda foi o Concílio, acompanhando um movimento que já se fazia sentir no campo religioso como um todo e na sociedade. Compreendeu que a caminhada ecumênica implica passar mesmo as fronteiras do cristianismo como tal e abraçar as outras religiões, que nomeiam Deus de forma diferente e organizam sua fé de outro modo.

O ecumenismo, portanto, nestas quase seis décadas que nos separam do Concílio Vaticano II, se alarga sempre mais, convertendo-se progressivamente em um macro ecumenismo. Com isso nada mais faz do que seguir fielmente o que o texto do documento mais importante do evento conciliar, a Constituição Gaudium et Spes diz: a Igreja quer ser perita em humanidade e não deseja que nada de humano lhe seja estranho. Portanto, para fazer um mundo habitado pelos filhos de Deus é preciso ampliar o horizonte além mesmo das fronteiras institucionais e religiosas e ir ao ser humano.

A Campanha da Fraternidade, lançada todos os anos pela CNBB durante o período da Quaresma, traz este ano uma bela novidade. Não apenas seu tema é o ecumenismo pensado amplamente, em termos de uma inclusão universal que conduza toda a humanidade à paz verdadeira cuja fonte é Cristo. Mas ela é ecumênica desde as origens. Seu texto base foi pensado e preparado por uma equipe ecumênica, sob a responsabilidade do Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs).

O sopro ecumênico, que busca a unidade, o diálogo e o amor, se fazem sentir ao longo de todo o texto e de suas propostas que soam como convite amoroso aos fiéis cristãos que desejam deixar para trás a divisão e construir a unidade. Uma unidade plena, universal, que só pode dar-se através da integração das diferenças, enriquecendo-se do que todos e cada um podem trazer.

A isso aspira a Campanha da Fraternidade. Só pode haver fraternidade se for universal. E não à toa a palavra “católico” significa universal. A CNBB testemunha luminosamente seu desejo de ser plenamente universal – ou seja, católica – abrindo sua campanha, que acontece no momento de mais densa convergência de fé e testemunho, a todos os irmãos que comungam da fé em Jesus Cristo.

A CF 2021 em tempos de tanta divisão dá uma decisiva contribuição ao diálogo e uma real chance à paz. O lema da Campanha, tomado da epístola aos Efésios, diz: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. Superar as divisões e buscar a unidade com coragem e alegria, eis a conversão pedida a todo discípulo e discípula de Jesus Cristo nesta Quaresma.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

'UM POUCO MAIS INDIFERENTE".

 

Picasso dizia que levava muito tempo para nos tornarmos jovens. Certas formas de liberdade e frescor na vida só aparecem com experiência e sabedoria. A natureza da juventude pertence ao moço, mas a arte da jovialidade é fruto da maturidade. Como imaginar que o primaveril atravesse verão, outono ou mesmo inverno sem perder sua graça e encanto?

O juvenil, certamente, é uma armadilha. Seu viço é meramente externo e acaba denunciando o sabor adstringente do verde ou do imperfeitamente amadurecido. Isso porque a graça vai bem com o singelo, mas nunca com o simplório; com o ingênuo, nunca com o novato. Ou como Arthur Clarke ironizava: “Deve ser maravilhoso ter dezessete anos e de tudo saber!”. Ou seja, o juvenil não cabe nem na estética nem no juízo do veterano! O jovial, por sua vez, possui um atributo essencial que é “a indiferença do bem”.

A palavra indiferença em geral tem uma associação negativa com a ideia de abatimento ou insensibilidade. No entanto, a capacidade de ficar indiferente pode significar a existência de uma referência maior que nos impeça de ser afetados, permitindo que se fique indiferente a algo.

Quando, por exemplo, há algo muito excitante para fazer, podemos ficar indiferentes a dormir ou a se alimentar. Indica que algo maior nos libera de certas necessidades. O mesmo acontece na experiência da inveja, em que a “indiferença do bem” – uma perspectiva maior tornando certas coisas irrelevantes – possa nos resgatar de um lugar ordinário.

O jovial inclui essa “indiferença do bem”. Movido pela vida, pela grandeza de sua alegria, o jovial pode evitar as pequenezas da rotina e assim flanar pelo mundo desafetado nessa condição maior.

Enfim, o jovial é a atitude interna capaz de produzir o efeito: “Nossa você está ótima! O que você fez?”. E a resposta bem pode ser: “Fiquei um pouco mais indiferente!”.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O QUE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE PEDE DE NÓS.

 

Desde 1963, há 58 anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), anualmente, durante os 40 dias da quaresma, promove a Campanha da Fraternidade (CF),– de cinco em cinco anos ecumênica a partir de 2000, sob coordenação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), que tem colocado para estudo, reflexão e ação assuntos desafiadores, clamores ensurdecedores no seio da sociedade. Para este ano de 2021, o Tema é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. E o Lema: “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Efésios 2,14).

Na viagem da CFE/2021, a primeira PARADA é para Ver a Realidade. Somos convidados/as a ver que o mundo está marcado por graves e múltiplas injustiças e violências; brutal desigualdade socioespacial; política de morte ou “necropolítica”, segundo o camaronês Achille Mbembe, que “é a política em que o Estado se julga soberano para escolher quem morre e quem vive. Na lógica da necropolítica, a humanidade do outro é negada. São estimuladas políticas de inimizade. A violência praticada pelo Estado é legitimada e justificada. No caso brasileiro, sinais da necropolítica são perceptíveis em setores da segurança pública que é altamente repressiva e violenta contra pessoas negras e pobres. Da mesma forma, pode-se ver a necropolítica na não regularização dos territórios indígenas, ou quando o governo brasileiro não adota políticas efetivas no combate à pandemia da Covid-19. A necropolítica se volta contra as maiorias falsamente consideradas minorias: juventude negra, mulheres, povos tradicionais, imigrantes, grupos LGBTQI+, todas e todos que, por causa de preconceito e intolerância, são classificados como não cidadãos e, portanto, inimigos do sistema” (Texto-Base da CFE/2021, p. 29, n. 58). Estamos sob o governo de políticos fascistas e genocidas; subjugados por uma economia capitalista neoliberal, neocolonial e concentradora de riqueza nas mãos de poucas pessoas e de empresas transnacionais; enfrentamos a devastação ambiental crescente perpetrada por grandes empresas de monoculturas do capim, da soja e do eucalipto, só para citar algumas das culturas praticadas pelos agronegociantes, empresários do campo que com uso indiscriminado de agrotóxicos, em latifúndios, com o uso de tecnologia de ponta e muitas vezes trabalho análogo à escravidão produzem não alimentos, mas commodities para acumulação de capital enquanto promovem a desertificando dos territórios.

Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde (OMS), a médica María Neira afirma que a pandemia do coronavírus é mais uma prova da perigosa relação entre os vírus e os desmatamentos. Em livro diz ela: “Os vírus do ebola, sars e HIV, entre outros, saltaram de animais para seres humanos depois da destruição de florestas tropicais”. Estamos também no meio de crises múltiplas: interpessoal, familiar, social, institucional, entre outras, que se fortalecem na falta de diálogo, o que reproduz e fomenta muitos ‘vírus’ que adoecem o tecido social, tais como: egoísmo, individualismo, fundamentalismo, consumismo, proselitismo, racismo. Tudo isso alimenta um caldo cultural de violência, intolerância, indiferença e extremismo.

A pandemia da Covid-19 acentuou dramaticamente uma série de problemas humanos no mundo. A humanidade está fazendo a experiência do medo, da impotência, da angústia, da fragilidade, vulnerabilidade, incerteza, da dependência, mas também descobrimos que jamais poderemos voltar à normalidade de antes, pois foi a “normalidade” capitalista que gerou a pandemia. Voltar ao ‘normal’ significa atrair outras pandemias que poderão ser cada vez mais letais. Como ponta do iceberg da injustiça social, estamos no meio de uma realidade capitalista com elevadíssimo número de homicídios por ano, sobretudo, de jovens negros e negras empobrecidos e empobrecidas, que somam 30.873 assassinados só em 2018. O feminicídio está crescendo: em 2018, 4.519 mulheres foram assassinadas, o que equivale a dizer que a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil. Outra opressão é aquela que se refere à amputação de direitos trabalhistas e previdenciários promovida pelas reformas das leis trabalhista e previdenciária, que não mexeram nos privilégios do judiciário, dos militares e nem da classe política. A rejeição, a agressão e a violência contra as “minorias” se reproduzem cotidianamente: indígenas, LGBTQIA+… (em 2018, por homofobia, 420 irmãos e irmãs nossos/as do grupo LGBTQIA+ foram assassinados). Não nos esqueçamos dos/as estrangeiros/as escravizados/as: “Aproximadamente 12,5 milhões de pessoas africanas foram embarcadas à força nos navios negreiros para serem escravizadas. Pelo menos 1,8 milhão dessas pessoas morreram na travessia do Atlântico” (Cf. GOMES, 2019, p. 19). “Escravização e racismo são cruzes diariamente fincadas entre populações negras e indígenas para a manutenção de privilégios para uma elite bem restrita, que é branca, cuja riqueza, em alguns casos, é originária da escravização de pessoas africanas em tempos passados e que deseja a garantia de sua hegemonia econômica, política e social”, denuncia o profético Texto-Base da CFE/2021, n. 88. Outra forma de dominação se reflete nos altos índices de violência policial e no assassinato de defensores dos Direitos humanos (Em 2017: 156 líderes assassinados no Brasil). E tem ainda a agressão ao meio ambiente: desmatamento e extrativismo ilegais, queimadas, poluição dos rios e nascentes. A violência contra os/as encarcerados/as está sendo brutal. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até julho de 2020: 882.309 pessoas encontram-se em presídios, muitos deles são na prática novos campos de concentração, novos navios negreiros. Para os pobres e negros, a mão de ferro do direito penal e para empresários e políticos o direito processual que prorroga indefinidamente os julgamentos e as condenações, garantindo impunidade. No Brasil há punição em demasia para os pobres e negros e impunidade generalizada para criminosos da classe dominante.

Na segunda parada da viagem da CFE/2021, somos chamados a JULGAR, não de forma moralista, mas com as luzes das ciências humanas críticas analisar a conjuntura, recordar e perceber a mão maravilhosa, cuidadora, solidária e libertadora de Deus agindo na história das pessoas, das comunidades e na sociedade, Deus de todos os nomes. Para quem é pessoa cristã, o Deus que fez Opção pelos escravizados sob as garras do imperialismo dos faraós no Egito, ouviu seus clamores, desceu para libertá-los e marcha com o povo nos processos libertários. Esse Deus conta conosco para que um sonho bom se realize: “Amor e Verdade se encontram, Justiça e Paz se abraçam” (Sl 85,11) e “a Justiça caminhará à frente” (Sl 85,14). Como testemunha do Pai, Jesus Cristo caminhou no mundo sendo solidário com os/as injustiçados/as e incomodando os opressores ao lutar por Justiça. Jesus não só cuidava das ovelhas feridas, mas enfrentava os lobos agressores do rebanho. Por denunciar suas posturas injustas, Jesus foi perseguido por saduceus, que eram os latifundiários-empresários da época, por Herodes e César, representantes do poder político opressor e pelos chefes do poder religioso opressor, Anás e Caifás.

Para construirmos relações sociais que viabilizem fraternidade social, ecológica, religiosa … exige-se diálogo. Porém, diálogo não pode ser apenas troca de palavras – comunicação – entre duas ou mais pessoas, onde uma fala e a/as outra/s ouve/m e vice-versa. Há falsos diálogos que na verdade são monólogos. E há autoritarismo com o uso de palavras educadas e aparentemente suaves. Como caminho para a paz social, como fruto da justiça, o diálogo precisa ser crítico e criativo, não ingênuo. Os/as discriminados/as e injustiçados/as precisam dialogar em pé de igualdade ouvindo atentamente a realidade, a experiência e os clamores do outro integrante da mesma classe pisada e violentada. De outra forma, o diálogo entre oprimidos e opressores, entre explorados e exploradores, precisa ser diferente. Um sem-terra jamais dialogará com latifundiário ou agronegociante do mesmo jeito que dialoga com um indígena, um quilombola, um negro da periferia, um integrante do grupo LGBTQI+, alguém que possui alguma deficiência física ou mental etc. Como não devemos amar todas as pessoas da mesma forma, não dá para dialogar com todos da mesma forma. O diálogo entre os/as oprimidos/as e injustiçados/as deve ser espaço de partilha e de socialização do que precisa uni-los e organizá-los para travarem conjuntamente lutas libertárias. Por outro lado, o diálogo com opressores e violentadores precisa ser com opção de classe que exige respeito, o que passa necessariamente por arrancar as armas de opressão das mãos dos opressores. Todos os cordeiros que arriscaram individualmente a dialogar com lobos foram devorados. Ao final de um diálogo com um ‘jovem rico” (Cf. Mateus 19,16-22), Jesus Cristo conclamou o ‘jovem rico’ a uma mudança radical de vida: “Vá, venda tudo o que tem e partilhe com os pobres” (Mt 19,21). No templo, não para sacrificar, mas ensinando, ao perceber a falta de verdadeiro diálogo de doutores da lei e fariseus que ameaçavam de morte uma mulher por apedrejamento (Cf. João 8,3-13), Jesus de Nazaré, em diálogo autêntico, em postura de quem não condena e nem julga, conclamou a autocrítica e defendeu a mulher ameaçada: “Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra” (Jo 8,7).

Na terceira parada, no Agir, a CFE/2021 nos convida a promover o diálogo ecumênico e inter-religioso, a superar os fundamentalismos e dogmatismos; a superar a violência contra religiões de matriz africana, contra mulheres, contra irmãos/ãs LGBTQIA+. Nas relações com irmãos e irmãos de outras igrejas e religiões precisa existir não apenas tolerância ou compreensão, mas RESPEITO. “Exigimos respeito e não apenas tolerância ou compreensão”, dizem de forma pertinente nossos irmãos/as espíritas, pais e mães de santo do Candomblé e da Umbanda. “O orgulho religioso levanta muros” (Texto-Base da CFE/2021, n. 133), mas o conhecimento do outro gera amor e respeito, o que edifica pontes humanizadoras. Convida-nos também a cuidar da Casa Comum lutando para construirmos uma Sociedade do Bem Viver e Conviver, o que implica superar o sistema capitalista, máquina de moer vidas, e os mitos do progresso e do desenvolvimento econômico só para uma minoria, o que tem aprofundado o abismo da desigualdade social.

O profeta Isaías denuncia a hipocrisia religiosa: “Mesmo quando estão jejuando, vocês só cuidam dos próprios interesses e continuam explorando quem trabalha para vocês” (Isaías 58,3). Isaías aponta o que precisa ser verdadeiro jejum, ou seja, a essência da dimensão religiosa: “acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo, repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu e não se fechar à sua própria gente” (Isaías 58,6-7). E, assim, “não é possível estar com Deus e, ao mesmo tempo, discriminar e desrespeitar as outras pessoas por causa das suas diferenças étnicas, religiosas ou de gênero”, diz o Texto-base da CFE 2021, n. 125. Enfim, cultivar afetos e derrotar todas as formas de violência. Eis o que a vida, o Deus invocado sob tantos nomes, Jesus Cristo revolucionário e a CFE/2021 pedem de nós.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

TRIBUTAR OS RICOS (1% DA POPULAÇÃO) AUMENTARIA O PIB EM 2,4%

 

Um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP apontou que a tributação do 1% mais rico pode ter um impacto positivo de 2,4% no PIB

Um estudo inédito realizado pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made-USP) apontou que a tributação do 1% mais rico, que garanta a transferência de R$ 125 por mês para os 30% mais pobres, pode ter um impacto positivo de 2,4% no Produto Interno Bruto (PIB). Analisando dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (POF do IBGE) de 2017-2018, os pesquisadores verificaram que os 10% mais pobres gastam 87% da sua renda em consumo e o 1% mais rico gasta 24%

De acordo com a economista Laura Carvalho, professora da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo), "a redução da desigualdade tem benefícios em si". "Sabemos que ela tem custos que não só têm a ver com o direito à renda e à dignidade humana, mas tem também efeitos políticos, pois a desigualdade tende a criar distorções no próprio sistema democrático", disse. O relato foi publicado pelo portal Uol.

"Então existem outros objetivos para reduzir a desigualdade, que não o crescimento econômico. Mas, muitas vezes, parece que no debate há um dilema entre crescer ou distribuir", afirma a estudiosa, uma das autoras do estudo, ao lado de Rodrigo Toneto e Theo Ribas.

"Isso cada vez mais está se revelando uma coisa que não tem sustentação empírica, por isso resolvemos demonstrar com dados um dos mecanismos que mostra que é perfeitamente possível desenhar um programa que combine redução da desigualdade com aumento do ritmo de crescimento econômico. Porque esses objetivos não são contraditórios".

domingo, 14 de fevereiro de 2021

É PRECISO SUPERAR AS SOMBRAS DE UM MUNDO FECHADO.

 





Não se pode esperar, ingenuamente, que o rumo novo capaz de levar a civilização contemporânea a um mundo aberto seja indicado pelo que hoje governam a humanidade. Voltando o olhar para a realidade política brasileira, facilmente se convence de que não se pode fundamentar a esperança na política partidária, salvaguardada a sua própria prerrogativa e o seu papel no sistema democrático. O contexto político-partidário sofre com a falta de cidadãos humanisticamente preparados, o que leva prejuízos ao exercício da autoridade política. Consequentemente, as expectativas e necessidades da sociedade não são correspondidas, pois a prioridade nas instâncias de decisão são as barganhas, envolvendo cargos ou benesses com o dinheiro público. Ficam em segundo plano as reais necessidades da população, a exemplo do combate às desigualdades sociais, cada vez mais expostas, verdadeiras feridas agravadas na pandemia, sinalizando má gestão pelas autoridades na atual crise.

A fome de uma parcela cada vez maior de brasileiros, sem poder contar com o mínimo necessário para sobreviver, revela que não há prioridade na busca por soluções, consequência da falta de sentido social e lucidez das autoridades. Diante da incapacidade para gerar as mudanças esperadas, o poder público oferece respostas inadequadas, justificativas primárias, muito comumente agindo com agressividade. Patenteia, assim, a incompetência nos desempenhos políticos e administrativos. Cada vez mais empurra a sociedade para situações insustentáveis.

Ao atual cenário político acrescenta-se o modelo econômico vigente, com princípios que geram morte, a serviço de grandes fortunas que detêm, sem necessidade, aquilo que falta na mesa dos famintos. Nessa economia regida pelo egoísmo, muitos se preocupam apenas com o aumento das próprias remunerações, permanecendo indiferentes ante as dores dos pobres. Os cristãos, aliados aos segmentos sérios, devem se distanciar das muitas formas de mesquinhez, alimentadas pelo egoísmo e pela soberba, para ajudar, unidos, na construção de um mundo aberto. Esse mundo aberto é alcançado quando se vive, efetivamente, o Evangelho. Os cristãos precisam se entrincheirar, com as diferenças enriquecedoras que o Evangelho permite e fecunda, sem contradições e antagonismos. Devem dar as mãos, construindo comunidades abertas, marcadas pela misericórdia do acolhimento e pelo exercício do diálogo.

A comunidade cristã não pode estar à disposição para defender o indefensável, não pode pautar a sua vida, seus entendimentos e escolhas a partir do medo e de preconceitos. Ao contrário, precisa lutar contra ideologias nefastas que buscam demolir os valores do Evangelho. Isso significa buscar superar políticas retrógadas que nada contribuem com o bem comum. Os cristãos, em diálogo com a sociedade pluralista, estão desafiados a não se satisfazer com a política que se constrói a partir dos vícios históricos do universo partidário.

É hora de se investir em uma política nova, alicerçada em valores e práticas fundamentadas no inegociável princípio da solidariedade. Assim, poderão surgir representantes do povo capazes de cumprir, adequadamente, com seus deveres, e de fazer da própria vida uma oferta à sociedade. Os descompassos sociais não serão vencidos pelas mãos de quem os produz e os alimenta, mas a partir da crescente convicção de que é preciso superar as sombras de um mundo fechado, pela iluminação do esperado e querido mundo aberto.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

VENCER RATAZANAS DA POLÍTICA

São pautas assim que mantêm o presidente: ele cumpre o que prometeu para a elite escravista e para o neoliberalismo, cada vez mais arredio à democracia.

Veja o que ele já entregou para o agronegócio!
Um BC autônomo é um BC longe do controle democrático. Se quem ganhar as próximas eleições não tiver como recuperar essa perda, por mais que se esforce terá pouca possibilidade de mudar, de fato, a política econômica.
A vitória acachapante, tanto no senado como na câmara é a grande prova que o presidente oferece aos seus mantenedores, deixando claro que ele entende do jogo e sabe como manipular as peças.

Afinal, ele é o grande herói do baixo clero, ele superou, em muito, o fenômeno Severino que comandou a câmara baixa contra todas as expectativas, em 2005.


É verdade que o Biu não se aguentou muito tempo, mas, foi um fenômeno, e esse seu sucessor, em termos fenomenais, foi muito mais longe e promete continuar.

Claro, tivemos o evento do Jefferson, o deputado que quase implodiu o PT, mas, agora, parece se contentar com a movimentação pelo centro e, claro, com a incursão no mundo da música gospel.

Tudo isso pela a empáfia da esquerda que pensa que basta julgar-se intelectualmente superior para vencer as ratazanas da política.

E, triste, pela cumplicidade de um partido que, traindo o seu fundador, se tornou quinta coluna da esquerda, agora liderado por especialista em bravatas e promessas vazias, mas, que na hora H foge para Paris. Outra hora H…

Enquanto isso, a pandemia avança! O Brasil vai se tornando uma prisão, pois os portos do mundo estão se fechando para o país, e o oriundo do Brasil vai se tornando o disseminador da peste.

Peste que, por sua vez, ganha contornos de terror no Norte do país e, daí, ameaça o mundo com uma mutação pode resistir à vacina.

Como disseram alguns dos profetas: Até quando Senhor?




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

FICAR EM SILÊNCIO

 




Uma riqueza inestimável que estamos perdendo é a do silêncio. Nossa sociedade é ruidosa nos mínimos detalhes. Malgrado o avanço da tecnologia, ainda não se inventaram liquidificadores e britadeiras silenciosos. Há muitas “falas” ao nosso redor. A publicidade de rua esgarça o nosso espírito. Daí ser um deleite para a alma caminhar por uma cidade desprovida de outdoors, e ruídos. Como os olhos ficam descansados quando podem apreciar a natureza e a estética dos prédios! Como dá prazer fitar o mar que, como dizia Hélio Pellegrino, é o pão do espírito!

Há quem tema o silêncio e, ao entrar em casa, trata de ligar todos os aparelhos: telefone, TV, rádio etc. São pessoas incapazes de escutar o silêncio interior. Sentem dificuldade em “amar o próximo como a si mesmo”. Quem não se gosta tem resistência a gostar dos outros. E desconta neles o mal-estar íntimo. É no silêncio que posso descobrir um Outro que não sou eu e, no entanto, como salientou Tomás de Aquino, funda a minha verdadeira identidade.

A noivos que se preparam para o casamento gosto de perguntar: “Vocês são capazes de ficar juntos, em silêncio, sem saudades de uma tesoura de jardineiro?”. Se o silêncio entre o casal pesa, suscita desconfianças e indagações tipo “o que você está pensando?” ou “por que está tão calado?”, é sinal de que a relação não vai bem. Meus pais, aos 60 anos de casados, passavam horas, lado a lado, em silêncio. Ela bordando, ele lendo, na suavidade de quem aprendeu que a profundidade do sentimento dispensa palavras. Como a oração que agrada a Deus.

No rio Uruguai, saí de madrugada num barco com três pescadores. O que mais me impressionou foi o silêncio entre eles, como se temessem precipitar o despertar do dia. Mesmo na penumbra, um adivinhava a vontade e o gesto do outro.

Veja o silêncio dos monges, embora os conventos atuais, encravados nas cidades, sejam em geral ruidosos. Nas exceções à regra, os religiosos comem em silêncio, caminham pelo claustro sem que ninguém os interrompa, ficam horas na capela deixando-se inebriar pelo Mistério. Hoje, muitos praticam meditação em busca de silêncio. Querem mergulhar no próprio poço e beber da fonte de água viva.

As novas gerações já não aprendem a fechar os olhos para ver melhor. Sabem pouco das grandes tradições espirituais; curvam-se sem reverência; ajoelham-se sem orar; meditam sem contemplar; ignoram que a solidão é um exercício de solidariedade. Não escutam o Mistério, nem auscultam o Invisível. São cada vez mais raros os jovens que fazem a experiência de deixar Deus falar neles, assim como o amado desfruta da presença invisível e, no entanto, envolvente, da amada.

O silêncio é a matéria-prima do amor, ensinava José Carlos de Oliveira, um dos melhores cronistas da história deste país. Mas quem haverá de se lembrar dele se nem somos capazes de cultivar a vida interior?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

CAPITALISMO DE PLATAFORMAS.

 "A produção material vai sendo gerenciada através de aplicativos e dados nas 'nuvens' que também articula a produção agrícola e pecuária (AgTech) com a comercialização dos alimentos (FoodTech)", explica o engenheiro e professor do IFF Roberto Moraes

Nos estudos e pesquisas sobre o capitalismo de plataformas tenho insistido para a necessidade de se observar a dominação tecnológica exercida pelas Big Techs em vários setores da economia.

Além disso, também é importante registrar o fato destas gigantes corporações de tecnologia estarem se expandindo não apenas para intermediar negócios (etapa de circulação), através das plataformas digitais (plataformas-raiz), nos diferentes setores da economia, mas também já estarem avançando para o controle direto (ou indiretamente através de fundos de investimentos) sobre as várias frações do capital.

Esses movimentos já produzem consequências multidimensionais e multiescalares sobre todo o Modo de Produção Capitalista (MPC), nesta etapa do Plataformismo, com efeitos diretos sobre o trabalho e sobre as economias regionais que, paulatinamente, vão tendo as rendas vampirizadas.

Hoje, as seis maiores Big Techs somadas possuem valor de mercado superior a US$ 6 trilhões e no ano passado (2020) tiveram lucro líquido somado em torno de US$ 200 bilhões.

Neste sentido é expressivo analisar o movimento de investimentos, parcerias e atuação direta na área de agricultura e alimentos: AgTechs e FooofTechs.

Seis Big Techs desenvolvem, adquiriram sociedade e já controlam ativos ligados à produção de alimentos que mexem com uma área onde a tecnologia, embora crescente, era relativamente pequena, quando comparada à indústria e aos serviços.

Refiro-me a projetos já em andamento da Microsoft, Apple, Google, Amazon, Facebook e Alibaba que estão em estágios avançados controles de dados (dataficação) do solo, água, safras, clima e gerenciamento rural e de fazendas, localizadas em vários países da África, Ásia, América do Sul e Oceania.

Assim, a produção material vai sendo gerenciada através de aplicativos e dados nas “nuvens” que também articula a produção agrícola e pecuária (AgTech) com a comercialização dos alimentos (FoodTech). São projetos de grande porte que somam mais de US$ 50 bilhões.

Tudo isso reforça a interpretação sobre a dominação tecnológica do oligopólio das gigantes de tecnologia sobre todas as frações do capital com vínculos cada vez mais estreitos e fortes vinculados à financeirização. 


domingo, 7 de fevereiro de 2021

ESCOLHER A VIDA,

Um dos efeitos positivos da intrusão com a Covid-19 foi a descoberta do planeta Terra por toda a humanidade. Demo-nos forçosamente conta de que vigora uma íntima conexão entre a vida humana, a natureza e o planeta Terra. O vírus não caiu do céu. Ele veio como contra-ataque da Terra, tida como super-sistema vivo que sempre se cria, autocria e se organiza para manter-se vivo e produzir todo tipo de vida existente neste planeta. Particularmente o quintilhões de quintilhão de micro-organismos que existem nos solos e mesmo em nosso próprio corpo, verdadeira galáxia (Antônio Nobre) habitada por um número incalculável de vírus, bactérias, fungos e outros micro-organismos.

O contexto do vírus, quase nunca citado pelos analistas das redes de comunicação, é o sistema capitalista anti natureza e anti vída. Ele fez com que o vírus perdesse seu habitat e avançasse sobre nós. Esse sistema de produção e de consumo impiedosamente assalta a natureza, depreda seus bens e serviços e destrói o equilíbrio da Terra.

Esta nos responde com o aquecimento global, erosão da biodiversidade, a escassez de água potável e outros eventos extremos. Todos de alguma forma participamos deste ecocídio, mas os atores principais – é forçoso dizê-lo e denunciá-lo – são o sistema do capital e a cultura do consumo desbragado, especialmente os milionários com seu consumo suntuoso. Portanto, tiremos a culpa de cima da humanidade pobre que minimamente colabora e de forma como vitima do referido sistema.

O ser humano, sempre curioso por saber mais e mais, fez descobertas sem número: de novas terras como as Américas, de povos, culturas, todo tipo de aparatos desde o arado até o robot, o sub-mundo da matéria, os átomos, toquarks e o campo Higgs, o íntimo da vida, o código genético. E não param as descobertas.

 É através de nossa inteligência que pertence ao próprio universo que ele se pensa a si mesmo. O que conta em nós não é a quantidade mas a qualidade, única, capaz de pensar, amar o universo e venerar Aquele que permanentemente o sustenta.

Não apenas descobrimos a Terra. Descobrimos que somos Terra, Aquela porção da Terra que pensa, ama e cuida. Por isso ser humano (homo em latim) vem de húmus, terra fértil ou Adão que procede de Adamah, terra fecunda.

A partir de agora nunca sairá de nossa consciência de que temos descoberto, em fim, a Terra, nosso lar cósmico e que somos a parte consciente, inteligente e amorosa dela. Porque somos portadores destas qualidades, nossa missão é cuidar dela como Casa Comum e de todos os demais seres, que nela habitam e que têm a mesma origem que nós, portanto, são nossos parentes.

Se assim é, por que a temos maltratado, superexplorado e estamos destruindo as bases que sustentam nossa vida? Se há uma lição que a Mãe Terra através do Covid-19 nos quer transmitir é seguramente esta:

“Mudem vossa relação para com a natureza e para comigo se quiserdes que eu continue a vos oferecer tudo o que precisais para viver na sobriedade compartida, na fraternidade e sororidade universais e no cuidado amoroso para com todos vossos irmãos e irmãs da grande comunidade de vida, também meus filhos e filhas bem-amados. Em tempos muito antigos eu vos propus “a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhei vida para que vivais com toda a vossa descendência. Essa promessa eu sempre manterei”(Deut 30,28).

Escolhamos a vida. É o apelo da Mãe Terra. É o desígnio do Criador.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

100 SEGUNDOS PARA A MEIA NOITE


O relógio do apocalipse, que simboliza a eminência de um cataclismo planetário, foi parado faltando cem segundos para a meia-noite pelo grupo de cientistas que o opera. Atitude ressaltou a ineficácia dos governos na gestão da pandemia e a sua falta de preparação para as ameaças nucleares e climáticas.

Este relógio simbólico foi criado em 1947 pela ONG Boletim dos Cientistas Atômicos para alertar sobre um cataclismo nuclear. No ano passado, os ponteiros haviam avançado 20 segundos e indicavam a hora mais próxima da meia-noite na história do relógio.

“A mortal e aterradora pandemia de Covid-19 serve como uma chamada de atenção histórica, um claro exemplo de que os governos nacionais e as organizações internacionais estão mal preparadas para fazer frente às ameaças das armas nucleares e à mudança climática que realmente poderão acabar com a civilização”, disse Rachel Bronson, diretora da organização.

A cada ano, um grupo de especialistas compostos por 13 prêmios Nobel marca a nova hora.

“Acordem!”, pediu aos chefes de Estado das grandes potencias o ex-governador da Califórnia e presidente da ONG, Jerry Brown.

“Os Estados Unidos, a Rússia e as potências nucleares do mundo devem deixar de gritar entre si. É hora de eliminar as armas nucleares, não de construir mais. O mesmo ocorre com a mudança climática: Estados Unidos, China e outros países importantes devem abordar seriamente as emissões mortais de carbono”, argumentou.

Criado depois da Segunda Guerra Mundial, o relógio do apocalipse originalmente marcava sete minutos para a meia-noite. Em 1991, no final da Guerra Fria, retrocedeu 17 minutos para a meia-noite. Em 1953, assim como em 2018 e 2019, marcou dois minutos para a meia-noite.