segunda-feira, 30 de setembro de 2013

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS: MENSALAO E PROPINODUTO




A diferença no tom da cobertura do mensalão e da fraude em licitações do metrô é um exemplo concreto dos padrões de manipulações da grande imprensa brasileira.
Em maio deste ano, a revista IstoÉ revelou que a empresa alemã Siemens foi ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para denunciar o pagamento de propinas à diferentes governos do PSDB em São Paulo e no Distrito Federal. Em busca de penas menores, a empresa também denunciou um esquema de cartel nas licitações públicas para a superfaturação das obras e serviços na rede ferroviária, e na compra e manutenção de trens e metrôs metropolitanos com as empresas Alstom , Bombardier, CAF e Mitsui.

A superfaturação das obras chega em 30%, com o valor de R$ 577 milhões. Porém, documentos mostram pagamentos de propinas a agentes públicos ligados aos governos Covas (1995-2001), Alckmin (2001-2006) e Serra (2007-2010), e se corrigido o valor, as cifras podem chegar a R$ 11 bilhões.

Há oito anos, no mesmo mês de maio, o escândalo do mensalão causou uma das piores crises políticas dos últimos anos. O PT se viu nas mãos da oposição. A mídia, por sua vez, decretou: “É o maior caso de corrupção na história do país”. No entanto, em poucas tecladas em uma calculadora é possível concluir: os valores do recente escândalo tucano, que vem acontecendo há 18 anos, são equivalentes a, no mínimo, 70 mensalões.
Os padrões de manipulação da imprensa tornam-se evidentes. O historiador Eduardo Lira é um crítico feroz dos grandes conglomerados de comunicação no Brasil. Concentrada nas mãos de poucas famílias, a grande mídia sempre atuou de forma a proteger seus próprios interesses, de acordo com Lira. “Isso inclui proteger aqueles que são apoiados por ela, já que os mesmos garantem os privilégios dessa verdadeira máfia midiática”, diz.
Mesmo ganhando as manchetes, a visibilidade dada pela mídia ao propinoduto tucano parece passageira, já que a pauta vai sorrateiramente à segundo plano, enquanto o foco é novamente o julgamento do mensalão. “Os grandes veículos noticiaram porque não tinham mais como esconder, não com a IstoÉ colocando o assunto em sua capa por três vezes e a internet falando disso diariamente. Foi mais pra tentar passar uma imagem de imparcialidade, coisa que muita gente percebeu que a grande mídia não tem”, afirma Eduardo.
Se nos basearmos no passado é provável que o recente conluio tucano seja esquecido pela mídia, como foram tantos outros. Em meio às investigações, o governador fez, sem nenhum tipo de licitação, 5.200 assinaturas da revista Veja para serem destinadas às escolas públicas, semelhante às assinaturas já feitas com a Folha de S. Paulo e o Estadão. Visto isso, fica muito clara a troca de favores envolvida na negociação. Afinal, “como eu posso falar mal do meu maior cliente?”.
Com as investigações ainda sendo processadas pelo Cade, o caso deve ter novos capítulos em breve. Resta saber se a trágica novela será exibia em horário nobre.

sábado, 28 de setembro de 2013

COMO VOCÊ CONTA O TEMPO?

O tempo é uma realidade concreta e, ao mesmo tempo, abstrata. Ele nos envolve e mede cada instante de nossa vida. Já a criança pequena, com algum esforço, agrupa três dedinhos, proclamando que já fez três anos. Mesmo assim, temos extrema dificuldade em esclarecer o que é o tempo. Ele está ali, presente, mas ao mesmo tempo ele foge entre os dedos. Não temos a possibilidade de retê-lo, nem de prolongá-lo, muito menos de recuperá-lo. Ele é definitivo.
A própria Bíblia Sagrada ressente-se destas limitações. O livro do Êxodo conta que Moisés viveu quarenta anos no Egito, na corte do faraó. Depois foi para o deserto onde viveu mais quarenta anos para depois conduzir seu povo para Canaã, a Terra Prometida. Aos 120 anos concluiu sua missão. Mesmo assim, ele morreu jovem, se o compararmos a outros personagens bíblicos. Abraão festejou 175 aniversários, Isaac viveu 180 anos e Enoque nada menos de 365. Poucos, se comparado com seu filho Matusalém que viveu 969 anos, um pouco mais de Noé, que alcançou 950 anos.
Com esses números a Bíblia acena com a possibilidade de outra compreensão do tempo. É uma simbologia que aponta certa relatividade para o tempo: quantidade e qualidade do tempo. A experiência de cada dia ajuda a entender. Os tempos felizes voam, enquanto as horas do sofrimento se arrastam indefinidamente. Os minutos finais de um disputado jogo de futebol mostram as duas faces desta realidade.
Já que ninguém pode deter o tempo, o homem tratou de fatiá-lo. Assim falamos de dias, anos, séculos, milênios, que são compostos por fugazes minutos e segundos. Outra tentativa de compreender o tempo é mais simples. Nós o dividimos em estágios: passado, presente e futuro. O passado, a perder de vista e fora de nosso controle; o futuro, envolvido nas névoas da incerteza; e o frágil presente, superado a cada instante.
Numa visão de fé falamos em kairós, termo grego que significa o tempo de Deus ou passagem de Deus em nossa vida. Na realidade, o tempo é um presente de Deus. O objetivo é nosso amadurecimento. E o kairós é sempre atual. O tempo de Deus é hoje, é agora. Uma oliveira pode chegar a seis séculos ou mais, uma florzinha entre as pedras vive apenas o esplendor de poucas manhãs. Nem por isso a florzinha é menos perfeita.
O tempo é o espaço do amor de Deus. Com ele construímos a eternidade, onde o tempo não tem mais vez. Deus concede a todos e sempre a possibilidade de recomeçar, mas não garante a ninguém o dia de amanhã. Como não sabemos quanto tempo teremos, é inteligente viver intensamente o dia de hoje. Assim procedendo estaremos preparados para o tempo definitivo.

AO REDOR DA MESA

O convite para um café permitiu que alguns amigos se encontrassem. Além do açúcar e do adoçante, um misto de saudade foi adicionado à refeição, que caiu bem junto com a alegria que prevaleceu no decorrer do encontro.
Ao entrar no ambiente, os convidados foram surpreendidos com um cartaz na parede: ‘favor desligar celulares e outros aparelhos. O diálogo não pode ser interrompido!’ Silenciosamente, todos, após alguns risos, atenderam à sugestão que soava como uma delicada imposição.
O que estava sobre a mesa era até abundante, mas o que se passou ao redor da mesa se tornou indescritível. Risos e algumas histórias prenderam a atenção de todos, apesar do olhar alcançar seguidamente o simples mas enfático cartaz.
É incrível como os lares estão repletos de eletrônicos. A distância já não mais existe. Todos estão conectados. Uma ansiedade parece penetrar nas profundidades das pessoas e, de forma compulsiva, acessam sem cessar seus aparelhos. Não podemos negar que o computador e a internet exercem fascínio e sedução. Além do desafio do autoconhecimento, as pessoas
terão que lidar com a dependência e até vício em relação às redes sociais.
Se não houver um despertar para os limites, muitas vidas estarão enclausuradas. Isolamento e solidão são gestados pelo uso compulsivo de computadores, tablets e celulares. Não são poucos os que preferem as quatro paredes de seus quartos em detrimento do relacionamento espontâneo e alegre com familiares e amigos. A convivência dentro de um lar não pode ser colocada em segundo plano. Evidente que não se trata de proibir o acesso às redes sociais. Mas o essencial, que é a vida em família, deve estar acima de tudo.
A tecnologia segue rumos incontroláveis. As inovações vão além do tempo. Pais e educadores deverão usar toda a criatividade para promover o avanço também no campo dos valores humanos. Somente uma pessoa bem estruturada poderá dar conta da verdadeira felicidade num mundo de tantos desafios.
A missão da família é preparar os filhos para estarem no mundo, sem serem do mundo. Uma missão que não pode ser delegada. Pois, só a família é capaz de deixar aquelas marcas
existenciais que o tempo não apaga. A escola tem um papel específico: ensinar. A família educa, a escola ensina.

A TERRA E O HOMEM...

“E fez homem do barro, e DEUS soprou o Espírito em suas narinas e o homem veio a ser uma alma vivente”. “Tu és pó e ao pó voltarás”.

Esse tema já foi centro de discussões entre teólogos, ateus e tantos outros grupos. Mas, muito embora seja verdade que os componentes químicos encontrados no homem sejam também encontrados na Terra, o foco deste assunto em pauta é outro, menor talvez, mas de real e infinita grandeza.

O homem e nosso planeta possuem algo em comum: a proporção de água em ambos é de 70% (setenta por cento). Tanto que o planeta Terra poderia muito bem ser chamado de planeta Água, mas quem “registrou” seu nome quis dar mais ênfase à terra. Tudo bem.

Agora, se lhe perguntarem: qual é a cor do mar? Dos nossos oceanos? O que responderia? Muitos responderiam: azul.

Porém, só é azul porque reflete o céu.

A cor que vemos nos oceanos está muito ligada ao que há em sua profundidade (corais, bancos de areia), mas, muito mais em função da cor do céu.

De uma forma geral, ¾ do planeta foi feito para refletir o céu.

E você: está refletindo, em 70% da tua vida, os céus?

Em outras palavras, embora tenhamos características humanas, terrestres, carnais, estamos nos deixando envolver pelas virtudes divinas e fazendo-as refletir em nossas vidas, nossas relações, nossas palavras e ações?

Isso faz lembrar aquele escrito inspirado: “Feito à imagem e semelhança de DEUS”. Sim, DEUS nos fez terrenos, mas para sermos à sua imagem e semelhança. Se assim todos nós fôssemos, talvez, a exemplo de nosso planeta, não deveríamos nos chamar humanos, mas divinos.

O PREÇO DA CULTURA


Diante da repercussão a respeito da decisão de permitir que estilistas financiassem desfiles de moda por meio da Lei Rouanet, o Ministério da Cultura procurou se defender.

Usando um raciocínio eminentemente estratégico, em que as palavras de ordem são a importância econômica da cultura e seu papel na ampliação do poder do Brasil no jogo internacional, o MinC acabou por demonstrar a rendição final da política cultural brasileira aos argumentos do mais crasso economicismo.

Primeiro, ninguém discute que, de uma certa forma, moda é cultura, assim como telenovelas, futebol e práticas sexuais. Todos são modos de produção simbólica de valores.
Uma definição, porém, tão genérica de cultura não tem função alguma para a construção de políticas focadas de Estado. Muito menos a alegada definição de que aquilo que colabora para a internacionalização do Brasil e a divulgação de sua simbologia deve ser financiado. Pelo argumento, a TV Globo pode pedir isenção fiscal para as suas próximas telenovelas.
Como não podia deixar de ser, é no campo da cultura que se vê, de forma mais brutal, a deposição de toda e qualquer aspiração crítica e contestadora de certa esquerda brasileira. Fala-se em "quebra de paradigma", mas o Ministério da Cultura apenas implementa o paradigma, cada vez mais hegemônico, de indistinção geral entre arte, entretenimento e mercadoria.
Afinal, há de chamar de "gato" um gato. Estilistas são, acima de tudo, comerciantes donos de loja que organizam sua produção a partir da sensibilidade às demandas de mercado e a exigências de máxima rentabilização de seu capital. Mas grupos de teatro não são empresas, escritores não são comerciantes e um quadro não é uma mercadoria, mesmo que tenha um preço.
As políticas culturais foram criadas exatamente para garantir autonomia para a produção artística contra sua colonização pela lógica mercantil, contra sua restrição à condição de mero entretenimento "cool", além de pensar formas de impedir a consolidação de práticas de dirigismo cultural.

Contudo, para que algo dessa natureza fosse possível, estruturas como a Lei Rouanet deveriam ser radicalmente modificadas. 

Um bilhão e duzentos mil reais foram perdidos pelo Estado para que empresas fizessem políticas de marketing às custas do erário, financiando, principalmente, musicais, Oktoberfest, festas gastronômicas, atividades da torcida do Palmeiras e, agora, desfiles de moda.
Pergunte, no entanto, quanto desse dinheiro foi direcionado à construção de conservatórios de música, bibliotecas ou em auxílio a saraus literários na periferia

É DILMA SUBINDO, OS OUTROS CAINDO E O RANCOR DE FREIRE

kotscho2 É Dilma subindo, os outros caindo e o rancor de Freire
A presidente petista Dilma Rousseff subiu mais 8 degraus no Ibope, foi a 38% das intenções de voto, e abriu 22 pontos de vantagem sobre a segunda colocada, Marina Silva (sem partido), que caiu de 22 para 16%. Na nova pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira, só a presidente subiu, todos os outros candidatos caíram. Aécio Neves (PSDB) foi de 13 para 11% e, Eduardo Campos, caiu de 5 para 4%.
No mesmo dia, Dilma recebeu outras duas boas notícias, que devem se refletir positivamente nas próximas pesquisas: a taxa de desemprego caiu para 5,3%, a menor do ano, e a renda média dos trabalhadores subiu 1,7% em agosto.
Enquanto isso, a rede nacional de televisão foi ocupada durante 10 minutos pelo PPS de Roberto Freire para denunciar, mais uma vez, que os governos petistas estão acabando com o país. Carregado de rancor, o programa parecia uma novela de época dos tempos da Guerra Fria, que fez lembrar a imagem assustadora das viúvas globais fantasiadas de negros fantasmas após o voto do ministro Celso de Mello a favor dos embargos infringentes na semana passada.
A impressão que me deu é que o programa foi gravado há mais tempo e estava na gaveta aguardando o momento oportuno para ir ao ar. O proprietário do PPS, velha linha auxiliar do PSDB, caminhando para a irrelevância, certamente não poderia ter escolhido dia melhor. Pena que os fatos não o tenham ajudado.
Após as manifestações de protesto de junho e o julgamento do mensalão, Freire deve ter avaliado com o seu estado-maior que Dilma e o PT estavam no chão, e chegara a hora de soltar os seus canhões, já um tanto desgastados pelo tempo. Sem noção do seu tamanho, acreditando no espaço que a mídia sempre lhe deu, na proporção inversa da sua importância política, Roberto Freire chegou a ser candidato a presidente da República, em 1989, quando foi contemplado com 1,06% dos votos
Com seu conhecido senso de oportunidade, carisma, simpatia e sofisticada estratégia política, o dono do PPS, partido que ele fundou em 1992 para substituir o antigo Partido Comunista Brasileiro, e preside até hoje, deputado federal eleito por José Serra em São Paulo, em 2010, Freire escolheu como assistente de palco Stepan Nercessian, ator reserva do segundo time da Globo. Até Soninha Francine (lembram-se dela?), agora sem mandato e sem uma boquinha, deu uma aparecida. O resto nem sei quem é.
Freire entoou o discurso "ético", bufando contra a inflação, os desmandos administrativos e a corrupção, mas só se esqueceu que o artista convidado para ser o âncora do programa, também deputado federal, foi acusado no ano passado de ter pedido e recebido R$ 175 mil do notório bicheiro Carlinhos Cachoeira, o que não o impediu de caprichar no sorriso sarcástico para atacar Dilma e o PT. Na época, o ator deputado garantiu que devolveu o dinheiro, o caso foi arquivado e não se falou mais no assunto.
Memória e coerência não são o forte desse pessoal. Ainda esta semana, o jornalista Sebastião Nery lembrou em sua coluna que o "comunista de carteirinha" Roberto Freire fora nomeado para seu primeiro cargo público, o de procurador do Incra, no Recife, pelo general Médici, no auge da repressão dos anos 1970.
Este ano, Freire ensaiou, primeiro, uma aliança com Eduardo Campos. Depois, tentou fazer a fusão do seu partido com o PMN para criar o MD (Movimento Democrático) com o objetivo de  abrigar uma nova candidatura presidencial do parceiro José Serra, que até hoje não decidiu o que pretende fazer da vida. Sempre em negociações, o führer do PPS também ofereceu a sigla a Marina Silva, que até agora não conseguiu viabilizar sua Rede da Sustentabilidade, seja lá o que isso quer dizer. Sendo contra o PT, para Freire, qualquer candidato serve.
Na salada de siglas da política brasileira, que ganhou mais duas esta semana, chegando a 32, o PPS ocupa atualmente o 13º lugar no ranking, atrás do PCdoB, com 12 deputados e R$ 8 milhões do Fundo Partidário para gastar este ano, sem falar nos seus valorizados minutos na televisão, que Freire pode destinar a quem quiser, dependendo da conversa. Na próxima semana, quando se encerra o prazo para filiações e criação de novos partidos, saberemos finalmente  em qual onda o PPS vai surfar desta vez.
Já escrevi aqui outro dia e repito: com estes candidatos e esta oposição, Dilma corre o risco de ganhar as eleições do próximo ano por WO.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

NADA DEVE SER IMPOSSÍVEL DE MUDAR

Bertold Brecht é foi convidado em mais uma etapa da série Conversas com Escritores Mortos do blog Diário do meio do mundo
"Muitos juízes são totalmente incorruptíveis" Ninguém consegue obrigá-los a fazer justiça.
Bertolt Brecht foi um poeta, dramaturgo e diretor de teatro alemão, conhecido principalmente pela Ópera dos Três Vinténs. A obra foi adaptada para o cinema três vezes. A música “Mack the Knife”, vinda do musical, é um clássico do jazz, e foi gravada por artistas como Frank Sinatra, Louis Armstrong, Bobby Darin, Ella Fitzgerald, Robbie Williams e Michael Buble. Brecht, um socialista fervoroso, é nosso convidado para mais uma “Conversa com Escritores Mortos”.

Herr Brecht, o senhor foi um entusiasta das ideias marxistas e sempre se manteve muito ligado com a política, não é mesmo?

Eu sempre fui politizado, pois acredito que apenas quando somos instruídos pela realidade podemos mudá-la. Devo acrescentar que, para mim, o pior analfabeto é o analfabeto político.

Mesmo? Por quê?

Ele não ouve, não fala, nem participa de eventos políticos. Ele não sabe que o custo da vida, o preço do feijão, do peixe e da farinha, do aluguel, dos sapatos e da medicina, tudo depende de decisões políticas. O analfabeto político é tão estúpido que é com orgulho que afirma odiar política. O imbecil não imagina que é da ignorância política que nascem as prostitutas, as crianças abandonadas, os piores ladrões de todos, os péssimos políticos, corruptos e lacaios de empresas nacionais e multinacionais.

Quando o ouço falar de prostitutas e ladrões, não posso deixar de me lembrar de sua vasta obra teatral. Sua colaboração musical mais famosa foi Die Dreigroschenoper, a Ópera dos Três Vinténs, uma adaptação de Ópera dos Mendigos de John Gay. Na Ópera dos Três Vinténs, temos como protagonista Macheath, ou Mack the Knife, um anti herói com códigos morais bem questionáveis. Não quero ser indiscreta, mas gostaria de saber se o senhor simpatiza com seu personagem.

Mack, como você disse, é um anti herói. É um personagem complexo e levemente sádico, além de ser um assassino. Mas, se você quer saber a verdade, parafraseio meu próprio personagem, o célebre Macheath: “Não sei o que é pior: Roubar um banco ou fundá-lo.”

Essa é uma verdade incontestável.

Talvez sim, talvez não. Tenho para mim que a única verdade realmente incontestável e imutável é que a vida é uma vadia e então você morre.

Uma verdade levemente pessimista.

Mas, ainda assim, verdade! A maior parte das pessoas teme a morte, e eu lhes diria uma única coisa: temam menos a morte do que a vida insuficiente.

Na Ópera dos Três Vinténs o senhor passou, muito habilmente, uma mensagem de apelo social e de crítica contra o capitalismo, ambos mesclados com uma comédia muito divertida. Mas o que você realmente quis dizer com a história de Mack the Knife?

Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama de violentas as margens que o comprimem.

Que margens são essas?

Posso destacar uma: a justiça. A justiça é simples e solenemente feita para a exploração daqueles que não a compreendem ou daqueles que, presos em uma situação miserável, são impedidos de obedecê-la.

Entendo.

E os tribunais são lamentáveis – verdadeiras piadas! Muitos juízes são absolutamente incorruptíveis; ninguém consegue obrigá-los a fazer justiça.

E qual atitude o senhor considera que deve ser tomada para acabar com a desigualdade social?

Alimentar os pobres. Para quem está em uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa. É compreensível: eles já comeram.

Hmmm…

Esses senhores pensam que tem a missão de purificar os pobres dos sete pecados. Mas antes deveriam alimentá-los, e então começar a pregação – caso contrário, que proclamem sua bela filosofia, mas esperem pelo pior. Todos aqueles que se limitam a rezar deveriam perceber, de uma vez por todas, que o mundo continua girando. Não importa o quanto tentem disfarçar ou quais são as mentiras que contam, primeiro vem a comida e depois a moral.

Herr Brecht: alguma declaração final?

Desconfie do mais trivial, na aparência singelo. E examine, sobretudo, o que parece habitual. Suplico expressamente: não aceite o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar. Há homens que lutam um dia, e são bons; há homens que lutam por um ano, e são melhores; há homens que lutam por vários anos, e são muito bons; há outros que lutam durante toda a vida, esses são imprescindíveis.

BOLSA FAMÍLIA DOS EUA MATA A FOME DE 40 MILHÕES DE AMERICANOS

Pouca gente sabe, mas os EUA também têm o seu “Bolsa Família”.
Lá, é o SNAP – Supplemental Nutrition Assistance Program – que ajuda 40 milhões de americanos de baixa renda a se alimentarem, no mesmo esquema de cartão magnético do nosso aqui, com a diferença que o benefício não pode ser sacado, mas utilizado eletronicamente nas lojas cadastradas, o que é fácil frente ao uso de computadores generalizados em todo o comércio do país. Ele, aliás, substitui os antigos “food stamps”, tíquetes de alimentação que existem há décadas nos EUA.
Lá, como cá, o conservadorismo ataca o SNAP, dizendo que ele “ensina a não trabalhar”, acomodando as pessoas.
Contra isso, e para analisar os benefícios do “Bolsa Família” gringo, o economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, escreveu o artigo abaixo, publicado no The New York Times de ontem e republicado pelo site da Folha.

Livres para passar fome

Paul Krugman

Múltiplos estudos econômicos cuidadosamente conduzidos demonstraram que a desaceleração econômica explica a porção principal da alta no programa de assistência alimentar. E embora as notícias econômicas venham sendo em geral ruins, uma das poucas boas notícias é a de que o programa ao menos atenuou as dificuldades, impedindo que milhões de norte-americanos caíssem à pobreza.

E esse tampouco é o único benefício do programa. Há provas esmagadoras de que os cortes de gastos aprofundam a crise, em uma economia em desaceleração, mas os gastos do governo vêm caindo. O SNAP, porém, é um programa que foi expandido, e dessa forma ajudou indiretamente a salvar centenas de milhares de empregos.
Mas, dizem os suspeitos habituais, a recessão terminou em 2009. Por que a recuperação não reduziu o número de beneficiários do SNAP? A resposta é que, embora a recessão tenha de fato acabado oficialmente em 2009, o que tivemos desde então é uma recuperação de e para um pequeno número de pessoas, no topo da pirâmide de distribuição nacional de renda, e nenhum dos ganhos se estendeu aos menos afortunados. Considerada a inflação, a renda do 1% mais rico da população norte-americana subiu em 31% de 2009 a 2012, enquanto a renda real dos 40% mais pobres caiu em 6%. Por que o uso da assistência alimentar se reduziria, assim?
Mas será que o SNAP deve ser considerado uma boa ideia, em termos gerais? Ou, como diz o deputado Paul Ryan, presidente do comitê orçamentário da Câmara, ele serve como exemplo de transformação da rede se segurança social em “rede de varanda que convence pessoas capazes de trabalhar a levarem vidas de dependência e complacência”.
Uma resposta é, bem, não é lá uma rede muito confortável: no ano passado, os benefícios médios da assistência alimentar eram de US$ 4,45 ao dia. E, quanto às pessoas “capazes de trabalhar”, quase dois terços dos beneficiários do SNAP são idosos, crianças ou deficientes, e a maioria dos demais são adultos com filhos.
Mas mesmo desconsiderando tudo isso, seria de imaginar que garantir nutrição adequada para as crianças, que é grande parte do que o SNAP faz, torna menos, e não mais, provável que essas crianças sejam pobres e necessitem de assistência pública ao crescer. E é isso que as provas demonstram. As economistas Hilary Hoynes e Diane Whitmore Schanzenbach estudaram o impacto dos programas de assistência alimentar nos anos 60 e 70, quando eles foram gradualmente adotados em todo o país, e constataram que, em média, as crianças que recebiam assistência desde cedo se tornavam adultos mais produtivos e mais saudáveis do que as crianças que não a recebiam – e que também era menos provável que recorressem a ajuda do governo no futuro.
O SNAP, para resumir, é um exemplo de política pública em sua melhor forma. Não só ajuda os necessitados como os ajuda a se ajudarem. E vem fazendo ótimo trabalho durante a crise econômica, mitigando o sofrimento e protegendo empregos em um momento no qual muitas das autoridades parecem determinadas a fazer o oposto. Assim, é revelador que os conservadores tenham escolhido este programa como alvo de ira especial.
Até mesmo alguns dos sabichões conservadores consideram que a guerra contra a assistência alimentar, especialmente combinada ao voto que aumentou o subsídio agrícola, prejudicará o Partido Republicano, porque faz com que os republicanos pareçam mesquinhos e determinados a promover uma guerra de classes. E é isso exatamente que eles são.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

JÁ OUVIU FALAR EM UM PASSEIO SOCRÁTICO?

Os monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. São homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão. 
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos produz felicidade?”
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: “Tenho aula de meditação!”.
Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!”. Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais...
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!”. O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

RECEITA VÊ "MILAGRE" E COBRA 713 MILHÕES DA GLOBO. MAS MÍDIA IGNORA.

A decisão é pública e está na internet, acessível a qualquer jornalista. Mas quase ninguém se interessou pela notícia: o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda negou recurso das organizações Globo contra uma multa aplicada pela Receita Federal. O processo envolve a cobrança de R$ 713 milhões.
Não, não é o mesmo processo sobre o qual já tratamos aqui neste blog, relativo aos direitos da Copa do Mundo de 2002 e que também envolviam centenas de milhões de reais. É outro. Mais uma multa da Receita por outra operação da Globo consideradas igualmente irregular.
A mesma Globo cujos colunistas, articulistas e editoriais pregam diariamente o discurso da ética (embora a ética deles seja seletiva). É claro que, sobre esse processo, nenhum deles escreveu coisa alguma.
A nova multa:
A multa da Receita, essa nova, foi aplicada por aproveitamento de ágio formado em mudanças societárias entre as empresas do grupo. Foi a chamada triangulação, usada para tirar vantagem financeira da operação. Nesse caso, uma dívida pode até se transformar em lucro.
A Receita considerou que a Globopar (Globo Comunicações e PArticipações S.A.) fez em 2005 amortização indevida no cálculo do IRPJ (Imposto de REnda de Pessoa Jurídica) e da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido).
Quando uma empresa compra a outra, essa mesma empresa tem o direito de abater tributos. Acontece que o valor usado na operação foi artificial, como concluiu a Receita Federal.
Diante da irregularidade, aplicou a multa de R$ 713 milhões em 2009.
Isso porque a dívida da Globopar foi “adquirida” pela TV Globo, que usou a Globo Rio Participações e Serviços Ltda para passar a ser credora e sócia da Globopar, que já era controlada pela Globo Rio. A compra se deu por meio de desconto da dívida que a Globo Rio tinha com a TV Globo. Resumindo, a operação usou empresas da mesma organização para reduzir o prejuízo da Globopar, que em 2005 era de R$ 2,34 bilhões.
A Receita considerou que as operações foram “legais apenas no seu aspecto formal”, já que todas as empresa pertenciam às mesmas pessoas.
“Como podemos perceber, operou-se um milagre dentro da Globopar, que teve um PL [patrimônio líquido] negativo de R$ 2,34 bilhões transformado em PL positivo, de R$ 318 milhões, tudo isso no exíguo prazo de 30 dias”, concluiu a Receita. “A Globopar passou a desfrutar de um ágio a amortizar que nada mais é que seu próprio patrimônio líquido negativo.”
Uma reportagem do portal Consultor Jurídico explica outros detalhes da intrincada operação.
A Globo recorreu da multa ao Carf, que agora rejeitou os argumento. Ainda cabe recurso para a Globo.
E agora, a mídia vai ficar calada de novo?
Como aconteceu com a multa em relação aos direitos da Copa, a imprensa novamente fechou os olhos para essa notícia. Se fosse qualquer outra grande empresa do país, o caso estaria nas manchetes. Como se trata da Globo, o silêncio de sempre.

UM POUCO DE CULTURA INÚTIL

Quando Pablo Picasso nasceu, a parteira pensou que tinha nascido morto e o jogou em cima de uma mesa. Depois viu que ele tentava respirar e chamou um médico. Nascido em Málaga, na Espanha, em 1881, Picasso mudou para Paris e viveu até 1973. Muita gente diz que ele vivia à larga, frequentava os melhores restaurantes franceses, mas acabava não gastando nada: dava um cheque para pagar, mas os donos desses estabelecimentos, em vez de descontá-lo, o enquadravam e exibiam. A assinatura dele num cheque valia muito mais do que qualquer conta em restaurante.
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O tênis de mesa foi criado em 1926, em Londres.
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A bombacha, calça típica dos gaúchos, parece coisa de turco, não é? E tem a ver: a Inglaterra fornecia roupas para os turcos, mas durante a Guerra da Crimeia (1854-55), as calças produzidas não podiam ser levadas para lá e estavam encalhadas. O que fazer? Eles nunca foram de perder dinheiro. Trouxeram para o Rio Grande do Sul, os gaúchos gostaram daquele estilo. Coisa semelhante aconteceu com o chapéu “típico” das bolivianas, que também foi levado pelos ingleses.
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Em 10 de fevereiro de 1858 foi inaugurada a estrada de ferro de Salvador a Alagoinhas.
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Acredita-se que no ano 5000 a.C. os sumerianos já consumiam ópio.
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Charles Cunninghan Boycott foi contratado para administrar as propriedades do Conde de Ersec, na Irlanda, em 1873, e levou a sério demais as suas funções, exigindo mais do que devia dos súditos… Passaram a dar-lhe um gelo, ninguém aceitava trabalhar para ele e nem mesmo queria conversa com o dito-cujo. Acabou tendo que pedir demissão, e seu nome virou adjetivo, boicote, que derivou também para o verbo boicotar. A coisa funciona, muitas vezes. Quando o movimento sindical começou a ganhar força na região do ABC paulista, pouco antes do final da ditadura, em algumas empresas, os operários passaram a fingir que os que furaram as greves não existiam. Nem conversavam com eles, tropeçavam neles de propósito, como se não o vissem, e muitos fura-greves foram parar na psiquiatria.
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Napoleão Bonaparte tinha medo de gatos.
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Se a gente acha que brasileiro é supersticioso, gringo é muito pior: nos Estados Unidos, muitos prédios não têm o 13º andar: do 12º pulam para o 14º, porque acham que o número 13 dá azar. O presidente Harry Truman mantinha uma ferradura em cima da porta do seu gabinete.
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A mamadeira foi inventada e patenteada em 1845 pelo gringo Elijah Pratt, mas só começou a ter boa aceitação no início do século XX.
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Em 1597, foram construídos em Sorocaba (SP) dois fornos para produzir ferro. Em 1798 foi construída no mesmo lugar a Fábrica de Ferro Ipanema, pelo Barão de Varnhagen. Detalhe: essa “modernidade”, a siderúrgica construída no início do século XIX, usava mão de obra escrava.
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O tango argentino costuma ter letras que falam de dramas e tragédias. Na sua origem, era música de negros e tinha letras alegres. Depois que “branqueou” é que perdeu essa qualidade.
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O primeiro túnel do mundo foi construído no Monte Sernis, Suíça, entre 1860 e 1871. Tem 12,8 km de comprimento.
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Mata Hari, a mais famosa espiã em Paris, durante a Primeira Guerra, trabalhava para os alemães, que quando se enjoaram dela resolveram entregá-la aos franceses: colocaram seu nome numa mensagem secreta sabendo que os franceses decifrariam. Condenada à morte, foi fuzilada em 1917. Ela se passava por um dançarina vinda da Europa Oriental, mas na verdade era holandesa e seu nome verdadeiro era Gertruida Zelle.
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A figura do Papai Noel (Santa Claus nos EUA) foi criada em Nova York, no final do século XIX, por um cartunista de origem alemã. Originalmente, sua roupa era azul. A coca-cola adquiriu o direito de usar o personagem na sua propaganda e trocou a cor da roupa para vermelho, que era a cor “oficial” da propaganda dessa beberagem.
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Na Guerra Civil Espanhola, o general Mola, franquista, anunciou em 1936 que atacaria Madri com quatro colunas… e mais uma que agia secretamente dentro dessa cidade. A partir daí, quinta-coluna virou sinônimo de traidor.
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A cuíca, instrumento musical que dá uma beleza a mais ao samba, tem esse nome porque seu som é parecido com o do animal chamado cuíca, que é da família do gambá. Uma das interpretações do nome cuíca é que ele significa rabo comprido, em tupi.
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O primeiro jornal chinês, “Jornal de Pequim”, surgiu em 1161, com 12 páginas. Na Europa, o primeiro jornal só apareceu em 1605, em Augsburg, e se chamavaCópias das Novas Notícias. O Correio Braziliense, fundado em 1808, é considerado o primeiro jornal brasileiro, mas ele era impresso na Inglaterra. O primeiro a ser impresso no Brasil foi o Diário do Rio de Janeiro, que começou a circular em 1821. Em São Paulo, o primeiro jornal foi o Farol Paulistano, que começou a circular em 1827.
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O garfo é invenção do século XVI ou XVII. O inventor, um inglês chamado Colgate, foi excomungado pelo Papa que dizia que a comida era sagrada e tinha que ser tocada com as mãos.
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Um ditado: “Ovo de cobra não gora”.
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O papagaio, também chamado pipa ou pandorga, existia desde não se sabe quando na China e no Japão, e foi trazido para o Brasil pelos portugueses.
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Os barbeiros antigos tinham funções que iam muito além de cortar cabelo e fazer barba: arrancavam dentes, aplicavam sanguessugas e ventosas e faziam sangrias. No início do século XX, médicos novos, com suas modernidades e especializações, ironizavam os mais antigos, políclinos, considerando-os ultrapassados e os chamavam de barbeiros. Daí, qualquer incompetente em coisa começou a ser chamado de barbeiro, e como era início da era dos automóveis, a expressão pegou para quem dirigia mal
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São Mateus, no estado do Espírito Santo, tem um monumento às prostitutas. Elas mereceram: foram grandes defensoras do patrimônio arquitetônico e histórico do município, numa época em que pretendiam derrubar as casas em que moravam e trabalhavam. São Mateus foi um importante porto fluvial, de exportação de café, farinha de mandioca, açúcar e madeira, mas com a construção de uma estrada ligando a cidade a Linhares, em 1937-38, o porto foi perdendo a importância e o casario estilo colonial português construído a partir do século XVIII foi abandonado pela “elite” e ocupado por bordéis e bares, virou área boêmia. Em 1968, o prefeito resolveu “limpar” a área, derrubar tudo e expulsar as prostitutas dali. Elas eram cerca de 80, resistiram bravamente e conseguiram preservar a área que hoje se chama Sítio Histórico do Porto de São Mateus.
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Discussão bizantina e discussão sobre o sexo dos anjos são a mesma coisa: Bizâncio, que depois mudou o nome para Constantinopla e mais tarde para Istambul, foi dominada pelos romanos e, no século XI, os turcos tomaram a cidade. Enquanto os turcos matavam cristãos, inclusive o último soberano do Império Romano do Oriente, Constantino XI., um Concílio da Igreja discutia ali se os anjos tinham ou não sexo. Então, atitude bizantina é ignorar completamente a realidade.
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Máxima de Carlito Maia: “Mineiro não fica louco. Piora”.

AS ESCOLHAS QUE FAZEMOS NOS CONDUZEM SEMPRE A ALGUM LUGAR

Em seu costumeiro desencanto e mau humor, o escritor Jean Paul Sartre, desabafou um dia: “Os outros são o inferno”. Tal declaração faz sentido num mundo marcado pela subjetividade e pelo individualismo. Queremos ser felizes sozinhos. Mas nossa vida não cabe numa redoma, nem somos ilhas. Todos interdependemos uns dos outros. Os estudiosos dizem que 10% do que acontece não depende de nós, mas os outros 90% dependem de como reagimos. Isso significa que 90% do que acontece depende de nós.
Numa segunda-feira, na refeição da manhã, a filha de oito anos derrama café na camisa branca do pai. Aí começa uma batalha verbal. O pai repreende a filha e - aproveitando o embalo – acusa a esposa porque não cuidou da filha. Ele vai mudar de camisa e, na volta, encontra a filha em prantos. Por causa do choro, ela perde o ônibus escolar. Apressado o pai leva a filha de carro e ultrapassa o limite de velocidade. Além da multa, perde mais 15 minutos. No escritório percebe que esqueceu em casa um importante documento, que precisa refazer. Todo aquele dia foi péssimo e, retornando ao lar, encontra a esposa e a filha emburradas.
Todos gostamos de apontar culpados. Quem foi o responsável pelo péssimo dia? A xícara de café, a filha, a esposa ou o guarda de trânsito? De tudo quanto aconteceu somente a xícara de café esteve fora do seu alcance. O que aconteceu depois foi responsabilidade do pai.
A reação impensada daqueles cinco minutos estragou o seu dia. Se ele tivesse apenas feito uma leve observação à filha e dito: não tem importância, o pai vai vestir outra camisa, o dia teria sido totalmente diferente. Sua reação diante dos 10% - as coisas que não dependiam dele - estragou os 90% do restante do dia.
A pessoa madura é aquela que sabe agir. Isto significa ter uma conduta tranquila e sob controle. Reagir é adotar posturas contra os fatos e contra as outras pessoas. O pai reagiu
e isto voltou-se contra ele. Os outros não foram culpados. A culpa foi dele.
O escritor norte-americano Ralf Marston observa: “Não existe nada que sejamos obrigados a fazer. Todas as nossas ações são, direta ou indiretamente, aquelas que escolhemos e as nossas escolhas não são definitivas, podem ser mudadas. As escolhas que fazemos, a cada momento, conduzem-nos sempre a algum lugar. Como o poder de decidir a direção que queremos seguir, podemos escolher nosso sonho na construção da história de nossa vida”.
Será inútil reclamar dos 10% que a vida nos reserva. Inteligente é administrar os 90% que estão em nossas mãos. Derramar café em nossa camisa é algo que não depende de nós. Depende inteiramente de nós o que segue depois. Reagir é algo infantil, a pessoa
madura e ponderada limita-se a agir.

O ABALO DOS MUROS

Em 2014 farão 25 anos da queda do Muro de Berlim, símbolo da bipolaridade do mundo dividido em dois sistemas: capitalista e socialista. Agora assistimos ao declínio de Wall Street (Rua do Muro), na qual se concentram as sedes dos maiores bancos e instituições financeiras.
O muro que dá nome à rua de Nova York foi erguido pelos holandeses em 1652 e derrubado pelos ingleses em 1699. New Amsterdam deu lugar a New York.
O apocalipse ideológico no Leste europeu, jamais previsto por qualquer analista, fortaleceu a idéia de que fora do capitalismo não há salvação. Agora, a crise do sistema financeiro derruba o dogma da imaculada concepção do livre mercado como única panacéia para o bom andamento da economia.
Ainda não é o fim do capitalismo, mas talvez seja a agonia do caráter neoliberal que hipertrofiou o sistema financeiro. Acumular fortunas tornou-se mais importante que produzir bens e serviços. A bolha especulativa inflou e, súbito, estourou.
Repete-se, contudo, a velha receita: após privatizar os ganhos, o sistema socializa os prejuízos. Desmorona a cantilena do “menos Estado e mais iniciativa privada”. Na hora da crise, apela-se ao Estado como bóia de salvamento na forma de US$ 700 bilhões (5% do PIB dos EUA ou o custo de todo o petróleo consumido em um ano naquele país) a serem injetados para anabolizar o sistema financeiro.
O programa Bolsa Fartura de Bush reúne quantia suficiente para erradicar a fome no mundo. Mas quem se preocupa com os pobres? Devido ao aumento dos preços dos alimentos, nos últimos dozes meses o número de famintos crônicos subiu de 854 milhões para 950 milhões, segundo Jacques Diouf, diretor-geral da FAO.
Quem pagará a fatura do Proer usamericano? A resposta é óbvia: o contribuinte. Prevê-se o desemprego imediato de 11 milhões de pessoas vinculadas ao mercado de capitais e à construção civil. Os fundos de pensão, descapitalizados, não terão como honrar os direitos de milhões de aposentados, sobretudo de quem investiu em previdência privada.
A restrição do crédito tende a inibir a produção e o consumo. Os bancos de investimentos põem as barbas de molho. Os impostos sofrerão aumentos. O mercado ficará sob regime de liberdade vigiada: vale agora o modelo chinês de controle político da economia, e não mais o controle da política pela economia, como ocorre no neoliberalismo.
Em 1967, J.K. Galbraith chamava a atenção para a crise do caráter industrial do capitalismo. Nomes como Ford, Rockefeller, Carnegie ou Guggenheim, exemplos de empreendedores, desapareciam do cenário econômico para dar lugar à ampla rede de acionistas anônimos. O valor da empresa deslocava-se do parque industrial para a Bolsa de Valores.
Na década seguinte, Daniel Bell alertaria para a íntima associação entre informação e especulação, e apontaria as contradições culturais do capitalismo: o ascetismo (= acumulação) em choque com o estímulo consumista; os valores da modernidade destronados pelo caráter iconoclasta das inovações científicas e tecnológicas; lei e ética em antagonismo quanto mais o mercado se arvora em árbitro das relações econômicas e sociais.
Se a queda do Muro de Berlim trouxe ao Leste europeu mais liberdade e menos justiça, introduzindo desigualdades gritantes, o abalo de Wall Street obriga o capitalismo a se repensar. O cassino global torna o mundo mais feliz? Óbvio que não. O fracasso do socialismo real significa vitória do capitalismo virtual (real para apenas 1/3 da humanidade)? Também não.
Não se mede o fracasso do capitalismo por suas crises financeiras, e sim pela exclusão - de acesso a bens essenciais de consumo e direitos de cidadania, como alimentação, saúde e educação -, de 2/3 da humanidade. São 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem entre a miséria e a pobreza, com renda diária inferior a US$ 3.
Há, sim, que buscar, com urgência, um outro mundo possível, economicamente justo, politicamente democrático e ecologicamente sustentável.

ÁRVORES: INDISPENSÁVEIS A VIDA



Frutos, folhas, flores e tronco têm ampla utilidade

Em 21 de setembro, celebramos o Dia da Árvore. Uma homenagem merecida, afinal, as árvores nos oferecem muita coisa boa. Elas estão entre os seres vivos mais antigos da Terra. As primeiras surgiram há cerca de um bilhão de anos! Adaptaram-se a diferentes condições e podem ser encontradas em todos os lugares, de cidades a florestas. Além de serem essenciais para manter o ambiente da Terra, fornecem diversos produtos ao homem. Confere! 

. Frutos - Além de sombra, árvores também dão frutos. Alguns podem ser consumidos do jeito que nascem, como maçã, manga, ameixa, laranja etc. Outros precisam de um preparo para virarem alimentos, como o cacau, matéria-prima dos adorados chocolates.

. Casca - A parte externa do tronco protege a árvore de insetos, perda de água e mudanças bruscas de temperatura. Algumas espécies oferecem algo mais. A casca da sobreiro, por exemplo, produz a cortiça, usada na fabricação de rolhas, entre outros produtos.

. Flores - Além da beleza e perfume, as flores das árvores são ricas em substâncias úteis às indústrias farmacêutica e de cosméticos. A flor da laranjeira é um bom exemplo. Rende óleos perfumados, também usados como calmantes naturais.

. Folhas - As folhas são mais do que importantes para as próprias árvores e também para a humanidade. É por meio delas que as árvores realizam a fotossíntese, processo que utiliza a luz do sol para gerar energia para a planta e transformar o gás carbônico em oxigênio, liberando-o no ambiente. As folhas ainda contêm fibras em abundância, usadas na fabricação de produtos como cordas.

. Tronco - Várias camadas formam a madeira que sustenta uma árvore. Cada uma tem substâncias diferentes, com aplicações variadas. A madeira é o principal produto do tronco das árvores, usada na fabricação de móveis e na construção civil. A celulose, substância extraída da polpa da madeira, serve para fazer papel. A goma está presente em produtos que contêm borracha. A resina é usada na fabricação de vários tipos de sabão, verniz e adesivos.

. Vida – As árvores garantem a vida de milhares de espécies pelo mundo todo. Afinal, é a partir delas que os bichos herbívoros conseguem boa parte dos seus alimentos, como frutos, folhas e o néctar das flores. Isso sem contar os animais que fazem das árvores suas casas, como os pássaros e tantos outros.

. Alerta - As florestas estão em perigo por causa da ação do homem. As árvores tornam-se cada vez mais escassas no planeta pela derrubada ilegal, pelo desmatamento decorrente do avanço descontrolado da agricultura e da pecuária e da expansão das cidades sem planejamento.

OS ESPAÇOS URBANOS

Restam nas cidades brasileiras poucas casas erguidas antes de 1930. A especulação imobiliária, associada à nossa insensibilidade à preservação da memória histórica, derrubou-as.
Observe esses detalhes: casas antigas têm a porta de entrada colada na calçada. Tempo em que havia quintais e os moradores punham cadeiras na calçada para um dedo de prosa à hora do crepúsculo. A sala de visitas, e mesmo quartos, davam diretamente para a rua, já que quase não havia ruído exterior.
Aos poucos, as casas recuaram das calçadas. Trocou-se o quintal da parte de trás pelo jardim na parte da frente. O ruído de bondes, ônibus, caminhões, exigiu sala na ala posterior e quartos nos fundos.
A explosão urbana e sua violência desfiguraram o casario. Agora, com seus muros altos e grades intransponíveis, as casas escondem a “cara”. Muitas adotam perfil penitenciário: cercas eletrificadas, câmeras de vigilância, portões acionados por controle remoto etc. Algumas têm até guaritas e holofotes para clarear a calçada quando alguém transita ali.
Os prédios verticalizaram os moradores e, na medida do possível, abriram espaços para eles evitarem ao máximo transitarem neste lugar “perigoso” chamado rua. Assim, surgiram edifícios de luxo dotados de piscina, academia de ginástica, playground, churrasqueira, salão de festa etc.
Havia, contudo, um inconveniente para os moradores imbuídos da síndrome de agorafobia ou dromofobia: teriam que sair à rua para se abastecer. Percorrer armazéns, mercearias, quitandas, lojas.
O supermercado engoliu quase tudo isso ao concentrar em um único espaço tudo que se necessita para o lar, de alimentação a produtos de limpeza. Com a vantagem de as mercadorias ficarem expostas à mão do freguês e sem ninguém a exigir que seja rápido na escolha.
Não combinava, porém, o supermercado dispor de prateleiras de joias, sapatos e roupas. Criou-se, então, o shopping center, onde se embute todo tipo de comércio, de supermercado (dotado de verduras frescas) a artefatos de pesca, incluindo lanchonetes, restaurantes e salas de cinema e espetáculos.
Agora surge um novo conceito: o Atoll, um super shopping (71 mil metros quadrados) erguido próximo à cidade francesa de Angers. Todo ele é “ecologicamente correto”. Nenhuma logomarca em sua carcaça de alumínio. Nada de poluição visual.
Além de 60 lojas e 12 restaurantes, o Atoll abriga academias de ginástica, salão de beleza, playground, parques com fontes, árvores e alamedas ajardinadas. Enquanto os pais fazem compras, as crianças brincam em grandes módulos ou assistem a DVDs sob cuidados de funcionários especializados.
A filosofia de marketing do Atoll é simples: saia de sua casa apertada, do estresse familiar, e ingresse no Jardim do Éden do consumismo, onde você desfrutará de requinte, espaço verde, atenção de elegantes recepcionistas. Em suma, o Atoll vende algo mais que produtos materiais: a ilusão de que o consumidor se iguala em status àqueles que têm alto poder aquisitivo.
Ora, como em sociedade de classes sonhos e ambições são socializados, mas não o acesso real a eles, o Atoll oferece um lounge a quem gasta pelo menos 1.500 euros, onde o consumidor tem acesso gratuito a internet, bebidas, revistas e jornais, máquinas de café expresso e até fraldário.
Pelo andar da carruagem, não ficarei surpreso se os shoppings do futuro oferecerem serviço de hotelaria, permitindo que o consumidor, abraçado a seu individualismo, se livre do convívio familiar.

POR QUE TANTA GRITARIA CONTRA OS MÉDICOS CUBANOS?

Estou impressionado com a verdadeira gritaria que se instaurou com a vinda dos médicos estrangeiros – sobretudo cubanos, mas não só –para trabalhar por tempo determinado em território brasileiro. Os argumentos são variados e controversos e não chegam a construir uma linha de raciocínio coerente.
Senão vejamos: o Brasil precisa de mais médicos? Acredito que quanto a isso todo mundo esteja de acordo. A resposta é sim. São justamente as regiões mais longínquas e carentes que sentem mais a falta desses profissionais? Aqui também a resposta é afirmativa. Os médicos que se formam no país querem ir para as regiões mais distantes para nelas trabalhar ou, ao menos, viver os primeiros anos de sua profissão? Aqui a resposta é negativa.
Então, diante deste quadro, e da disponibilidade de estrangeiros virem trabalhar e atender as regiões que apresentam maior carência – por que não acolhê-los e oferecer aos brasileiros uma oportunidade de dar passos significativos em direção a uma melhoria da saúde?
Mas a grita continua. Invoca-se o salário que vão receber os médicos, que é alto. Depois reclama-se que apenas uma percentagem pequena do salário vai ficar com os médicos, sendo a maior parte repassada ao governo cubano. Em seguida, alega-se que os médicos não têm preparação adequada, nem falam a língua do país. E etc e etc.
Sinceramente, parece-me uma polêmica tão estéril que não mereceria sequer um centímetro de espaço da grande imprensa e, no entanto aí está, ocupando páginas de jornais e minutos em noticiários televisivos e levantando bílis e humores de brasileiros que despejam nos pobres médicos estrangeiros que aqui chegam seus sentimentos negativos, sem censura ou cortesia. 
Não posso entender o porquê das vaias que os médicos receberam ao desembarcar no aeroporto. Um espetáculo muito constrangedor. Nem a razão das violentas agressões que sofreram no Ceará. Nem a disfarçada xenofobia que faz classificá-los todos como “cubanos”, enquanto há espanhóis, portugueses, argentinos e outras nacionalidades entre os que chegam para exercer a medicina.
Questionam a competência dos médicos, sobretudo dos cubanos. Talvez isso seja fruto de pura e simples desinformação. A medicina cubana é de boa qualidade. Em alguns campos de especialidade, tais como oftalmologia e dermatologia, notabiliza-se entre as melhores do mundo. É totalmente equivocado pensar que Cuba não tinha o que fazer de seus médicos e por isso mandou-os para cá. Estamos recebendo bons profissionais, muito bem formados, sobretudo nesta medicina básica e em saúde pública, que é o que mais irão necessitar as regiões que serão por eles atendidas.
Outra objeção é que não há hospitais, leitos, material cirúrgico etc., para que os médicos trabalhem. Creio, com todo respeito, que isto não é problema deles, mas nosso. Se deixamos chegar a este ponto de inanição a saúde no Brasil, o problema é nitidamente nosso e não dos médicos que se dispõem a vir até aqui trazer suas habilidades e sua competência para ajudar nosso país, sobretudo as fatias mais carentes de nossa população. 
Se eles terão vantagens materiais com esta vinda e com o tempo em que trabalharem aqui, é outra história. E não entendo por que não poderiam ter. Se um alto executivo europeu ou estadunidense ganha o dobro ou até o triplo em salário líquido e “fringe benefits” quando expatriado, por que com os médicos que vêm desempenhar uma função vital em país que não é o seu não poderiam receber alguns benefícios? 
O que acontece com os médicos cubanos é muito triste. Mais triste ainda se pensarmos que toda essa descortesia, essa falta da mais elementar educação, esse tratamento de baixo nível contra os médicos cubanos, chamando-os de escravos e mandando-os voltar para a senzala e chamando as médicas cubanas afrodescendentes de domésticas, seja feito por... médicos. Supõe-se que um médico seja uma pessoa educada, cuja formação foi concluída após longos anos de estudos. É inimaginável que proceda desta maneira com um colega de profissão que vem ajudar a população carente brasileira, doando conhecimento, experiência e competência. 

O TEMPO É AUTÔNOMO.

Se depender da floração dos ipês, o inverno está se despedindo. Em outros tempos, se diria que não acontecerão mais geadas a partir das flores desta árvore que permanece por longo tempo sem folhas, com aparência de secas. Evidente que a natureza, com tanta intervenção humana, já não detém a última palavra quanto às estações e às variações meteorológicas. Mas ainda é possível decifrar outros sinais diante das alterações naturais.
A vida não espera. Ela chama e vai andando. Uma estação sucede a outra. Um dia, naturalmente, o inverno existencial também fará passagem. Sim, acontecem muitos invernos, no decorrer da vida. Por vezes são longos períodos de prostração, sem nenhuma expectativa, nenhum sinal de esperança. De tão prolongados, pensa-se que jamais findarão. A vida, que tanto inquieta o coração humano, um dia terá que partir. Seria assustador ter que dizer; ‘eu não vivi e já tenho que ir embora!’ O tempo é autônomo. Não se importa com o que falta ser feito. Simplesmente passa.
Só existe um caminho para não perder tempo e, assim, viver com intensidade: não cansar de amar. Do amor a si mesmo, nascem todos os outros amores. Para amar bem, a condição é saber amar-se. Um aprendizado exigente, mas compensador. Todos saem ganhando quando uma pessoa empreende o itinerário do amor. E quem ama profundamente não se atém ao sofisticado, adere à simplicidade e com ela constrói intimidade.
Ninguém pode prender o inverno. Impossível. Além dos ipês não florescerem, as outras estações cansariam de esperar. Assim é na caminhada humana: chega um momento em que é necessário se despedir do sofrimento e acenar exaustivamente para a alegria que está lá, um tanto distante. Não cansar de acenar até que ela suplique para ser hóspede por um longo tempo. Há pessoas que não sabem viver sem sofrer. Há outras que se assustam com o despontar do mínimo sofrimento. A primavera sempre será precedida pelo inverno.
Verdadeiras alegrias alcançam a superfície existencial, depois de rigorosos invernos de dor. Tudo passa. Os ipês florescem no tempo certo. Não é diferente com o coração humano. Paciência e persistência necessitam estar de mãos dadas para garantir outras alegrias, aquelas que somente uma alma sedenta sabe o valor. Enquanto isso, convém olhar os ipês floridos.

SEMPRE É POSSÍVEL MELHORAR O BOM.

Num momento crítico de nossa nação, onde as boas manifestações e reivindicações se chocaram com destruições e vandalismos, certa jornalista escrevia um artigo com este título: “Nada é tão ruim que não possa piorar”. Por ter achado uma afirmação sábia e verdadeira, pensei em refleti-la com os leitores .
É mais do que comprovado que um mal nunca vem sozinho. Ao natural, o ruim tende a piorar. Ouvindo e vendo, quase diariamente, lamentos e dramas de pessoas, comprova-se que a crise econômica gera crise de relacionamentos, a crise de relacionamentos provoca separações e brigas, as separações aumentam a multidão dos solitários e a solidão se torna agente de abandonos, depressões e frustrações. Porém, quando se forma um círculo vicioso há sempre um alerta que aponta para a possibilidade de efetivar um círculo virtuoso.
Para estancar a piora do ruim e sanar este retrocesso humano e social, são necessários muitos recursos, ajudas e reações. A primeira delas é a pessoa admitir que isto seja possível. Quando a mente humana se auto convence da possibilidade de uma virada para melhor, o que parecia o fim pode se transformar em novo começo. Se o melhor da autoestima se juntar à solidariedade, o círculo vicioso vai se transformando em virtuoso.
 Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade”.
Se é verdade que o ruim pode piorar, também é verdade que o bom pode melhorar. Ouvi, há muitos anos, uma frase que dizia: “Os ruins não são bons, porque os bons não são melhores”. Claro, aqui há um perigo de ficar pensando e classificando: quem são os ruins e quem são os bons!? A tentação do maniqueísmo ainda não passou. Geralmente nos colocamos no lado dos bons. Neste caso, ao menos devemos nos perguntar: “Como, e em que eu posso ser melhor para estimular os outros a serem melhores!?”
O bom e o bem sempre podem melhorar. Desde as coisas mais simples de nosso uso diário, nossos bens mais valiosos e, acima de tudo a nós mesmos, sempre necessitamos dedicar cuidado e cultivo. Para melhorar e otimizar a vida e as relações, o argumento mais consistente nos vem da fé. Pois a fé nos abre para o recurso do sobrenatural, onde se encontra a fonte inesgotável da beleza, do bem e da verdade .
Nossa verdadeira imagem não se encontra em nenhuma oficina especializada, mas no coração de Deus que nos fez à sua imagem e semelhança. Em Cristo revela-se o projeto de pessoa perfeita no qual podemos nos adequar sem medo de errar. Nele os ruins encontram a cura e os bons podem se melhorar.

DILMA USARÁ DISCURSO NO ONU PARA CRITICAR ESPIONAGEM AMERICANA



A presidenta Dilma Rousseff chega nesta segunda-feira a Nova York para cumprir uma agenda de compromissos políticos e econômicos, incluindo a tarefa de abrir o debate dos líderes na 68ª Assembleia Geral da ONU, na terça-feira.

A presidente já avisou que usará o palanque privilegiado para criticar as ações de espionagem americana reveladas pelo ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden.

Não estão confirmados encontros com líderes de outros países, segundo o Planalto. O grosso dos contatos bilaterais será feito pelo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado.

É possível um encontro entre Figueiredo e o secretário de Estado americano, John Kerry. Seria o primeiro desde que Dilma e o presidente Barack Obama anunciaram o adiamento da visita de Estado da presidente a Washington, por causa das acusações de espionagem.

“O governo americano entende totalmente que até certo nível Dilma precisa mostrar firmeza para satisfazer o público brasileiro, que realmente está, com boa razão, irritado com a intrusão americana”, diz o professor de história da Universidade Georgetown, em Washington, Bryan McCann.

“Dilma tem boas justificativas para exigir explicações dos Estados Unidos que ainda estão por vir.”

A partida de Dilmapara o Brasil está prevista para a quarta-feira à tarde.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O QUE PODE MUDAR NO MENSALÃO?

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, deu nesta terça-feira (18/9) voto favorável ao cabimento dos Embargos Infringentes na Ação Penal 470, o processo do mensalão, e, assim, fechou o julgamento em 6 votos a favor e 5 contra o recurso. Último a votar na questão, o decano desempatou o julgamento e garantiu a 12 réus o direito de ter parte de suas condenações revista pela corte.

Celso de Mello acompanhou os votos do revisor, Ricardo Lewandowski, e dos ministros Dias Toffoli, Rosa Weber, Teori Zavascki e Roberto Barroso. Ficaram vencidos o relator e presidente do STF, Joaquim Barbosa, e os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio.

Em seu longo voto de Minerva, o decano reafirmou o que já havia dito no dia 2 de agosto do ano passado, quando disse que os Embargos Infringentes estão previstos no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e são válidos.

“Tenho para mim que ainda subsistem no âmbito do STF, nas Ações Penais originárias, os Embargos Infringentes previstos no regimento que, ao meu ver, não sofreu, no ponto, revogação tácita em decorrência da lei 8.038/1990, que se limitou a dispor sobre normas meramente procedimentais”, disse Celso de Mello.

O que pode mudar com os embargos infringentes:
RéuEmbargos infringentes contraCondenaçãoComo pode ficarJosé Dirceu formação de quadrilha 10 anos e 10 meses – fechado 7 anos e 11 meses – semiaberto
Delúbio Soares formação de quadrilha 8 anos e 11 meses – fechado 6 anos e 8 meses – semiaberto
José Genoino formação de quadrilha 6 anos e 11 meses – semiaberto 4 anos e 8 meses – semiaberto
João Paulo Cunha lavagem de dinheiro 9 anos e 4 meses – fechado 6 anos e 4 meses – semiaberto
Marcos Valério formação de quadrilha 40 anos e 4 meses – fechado 37 anos e 5 meses – fechado
Ramon Hollerbach formação de quadrilha 29 anos e 7 meses – fechado 27 anos e 4 meses – fechado
Cristiano Paz formação de quadrilha 25 anos e 11 meses – fechado 23 anos e 8 meses – fechado
Kátia Rabello formação de quadrilha 16 anos e 8 meses – fechado 14 anos e 5 meses – fechado
José Roberto Salgado formação de quadrilha 16 anos e 8 meses – fechado 14 anos e 5 meses – fechado
João Cláudio Genu lavagem de dinheiro 4 anos – aberto absolvido
Breno Fischberg lavagem de dinheiro 3 anos e 6 meses – aberto absolvido
Simone Vasconcelos Pode recorrer da condenação por quadrilha,
já prescrita, e conseguir redução das penas por lavagem de dinheiro e evasão de divisas 12 anos e 7 meses Pode ter a pena reduzida



SAIBA MAIS

CONJUR

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

PSB DE EDUARDO CAMPOS DESEMBARCA DO GOVERNO DILMA PARA CONCORRER A PRESIDÊNCIA.

O PSB se antecipou ao Palácio do Planalto e deve anunciar nesta quarta-feira, 18, o desembarque do governo da presidente Dilma Rousseff e a entrega dos cargos que tem no ministério e em estatais. Na reunião marcada para esta quarta, a ala do partido que defende a saída tentará convencer os dilmistas da legenda a acatarem a decisão. Também será decidido que não haverá retaliação ao PT nos Estados governados pelos socialistas.

Os motivos da decisão foram explicitados nesta terça-feira, 17, pelo presidente do PSB e possível candidato a presidente nas eleições de 2014, Eduardo Campos. “Os cargos nunca precederam nem orientaram a aliança que fizemos há mais de dez anos com a frente política que está no poder”, disse. “Nossa relação com os governos de Lula e de Dilma sempre foi de apoio desinteressado”, completou o governador de Pernambuco.

Conforme o Estadão noticiou na quinta-feira passada, Dilma tinha decidido demitir os ministros do PSB levando em conta queixas feitas por outros partidos aliados do Nordeste, segundo a qual Campos estaria tendo uma posição ambígua. A despeito de integrar a base aliada com postos importantes como o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria Especial de Portos, a legenda articula candidatura própria à presidência, adversária à da petista, que deve tentar a reeleição.

Na sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convenceu Dilma a recuar. Lula acha que ainda é possível dobrar Campos e adiar a candidatura para 2018.

A direção do PSB, no entanto, sentiu-se constrangida com a situação e nesta terça, durante almoço com Campos, defendeu a entrega dos cargos. “O partido está constrangido com as ameaças que vêm sendo feitas por intermédio dos jornais. Nós nunca brigamos por cargos”, disse o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS).

Integrantes do partido lembraram que, em janeiro de 2012, o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional), procurou Dilma e falou da decisão de sair, mas a presidente não aceitou a demissão. O PSB então divulgou nota dizendo que permanecia no governo, mas não por causa dos cargos.

VIDA MANSA DA GLOBO PARECE ESTAR CHEGANDO AO FIM



Está no site Consultor Jurídico, hoje: “As organizações Globo perderam recurso administrativo contra uma cobrança de R$ 713 milhões do Fisco federal. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda, que julga contestações a punições fiscais, rejeitou argumentos contra autuação da Receita Federal sobre em mudanças societárias entre as empresas do grupo.”

Mais adiante: “Para a Receita, “foram operações legais apenas no seu aspecto formal”. Isso configuraria “um planejamento tributário indevido”, o nome bonito que se dá para sonegação.

Era, em essência, um negócio de mentirinha: os acionistas da Globo, os irmãos Marinhos, apareciam em compras e vendas de empresas de quatro empresas deles mesmos: Globopar, TV Globo, Globo Rio e Cardeiros Participações S.A.

Selecionamos, enfim, uma frase matadora dos fiscais da Receita: “Como podemos perceber, operou-se um milagre dentro da Globopar, que teve um PL [patrimônio líquido] negativo de R$ 2,34 bilhões transformado em PL positivo de R$ 318 milhões, tudo isso no exíguo prazo de 30 dias”.

O falso milagre detectado é importante sobretudo por sinalizar que pode estar chegando ao fim a vida mansa que a Globo encontrou em suas constantes manobras para não pagar imposto.

Pouco tempo atrás, explodiu a notícia de que a Globo fora apanhada numa trapaça com a qual transformou em investimento no exterior a compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.

Um pouco antes disso, a coluna Radar, da Veja – absolutamente insuspeita de espírito anti-Globo – noticiara uma outra pendência jurídica em que a Globo era cobrada em 2,1 bilhão de reais.

Qual o tamanho do total do passivo fiscal da Globo é um mistério. A impressão que se tem é que onde houver investigação da Receita serão encontrados buracos.

Se seu conteúdo e sua administração não são exatamente brilhantes, a Globo levou ao estado da arte o “planejamento fiscal”.

O grande perdedor é o interesse público, e quem ganha mesmo é só a empresa e seus acionistas – basta ver a lista de bilionários brasileiros da revista Forbes.

Nenhum país funciona à base de truques fiscais. As contas públicas não fecham, e o sacrifício no fim recai sobre viúvas, pensionistas etc.

A Globo é o símbolo maior da esperteza fiscal de grandes corporações brasileiras, mas evidentemente não é o único. É como uma epidemia: os truques de propagam rapidamente se não se dá um basta neles.

Num almoço fechado, há cerca de dois anos, um alto executivo da Abril explicou assim a contratação de Fabio Barbosa como presidente: “Agora que passamos a dar lucro, precisamos de um especialista em planejamento tributário como ele”.

No mundo todo, há hoje um cerco a empresas que abusam de práticas “legais mas imorais” – como disse uma parlamentar britânica – para não pagar imposto. Do Google à Apple, da Microsoft à Starbucks, o combate a praticas fiscais abjetas vai e vai aumentando planetariamente, e com ele a indignação da opinião pública em muitos países.

É mais do que hora de o Brasil colocar fim a uma festa indecente que só contribui para a iniquidade. Se o cerco à Globo representar uma mudança de atitude, os brasileiros terão o que comemorar.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A INTERNET REDUZ O IDIOMA

Se este texto fosse escrito na linguagem de internet, você demoraria a metade do tempo para ler, mas talvez não entendesse nenhuma palavra. Por uma comunicação mais dinâmica, as salas de bate-papo, redes de comunicação e de relacionamento desencadearam uma revolução dos jovens, e criaram um idioma veloz como o próprio meio: o internetês.
A escrita alternativa baseia-se na aproximação da grafia à pronúncia e na eliminação de acentos. O vocabulário inclui abreviações de sílabas, simplificações e adaptação de palavras, conforme a praticidade do uso do teclado. Também se acrescentaram ícones capazes de dizer se você está contente :) ou não :( , utilizando apenas dois sinais gráficos. Para escrever “por que você tecla assim?”, utiliza-se 20 letras. No equivalente em internetês - “pq vc tc axim?” - a metade é suficiente. Tal economia dominou a internet e até mensagens de celular. O fenômeno acabou chegando às salas de aula, se não nas provas e nos cadernos, pelo menos no debate entre alunos e professores.
O uso do internetês como agilizador da comunicação é indiscutível, o que gera polêmica é a sua interferência sobre as normas cultas da linguagem. Para a professora de português e literatura Leila Mendes, os mesmos vícios de linguagem presentes na internet são comuns aos textos escolares. “Os alunos justificam que usam o internetês de forma inconsciente e automática”, afirma Leila. Ela diz que cabe à escola alertar os alunos. “A atitude ideal para evitar essa situação é usar freqüentemente a variante padrão da língua, já que ela sempre será bem aceita”, defende Leila.
O professor de português e literatura Mauro Jacob Olsen diz que os professores geralmente têm preconceito com a linguagem on line, mas aposta na flexibilidade da comunicação. “Não existe comunicação apenas dentro da linguagem culta, nem mesmo na linguagem falada. Eu digo “tu vai, tu fez” enquanto, nas normas da linguagem culta, deveria dizer “tu vais, tu fizeste”, argumenta Olsen.
Um texto escrito sob o costume da internet é praticamente ilegível a quem não é adepto ao meio. Porém, conforme Olsen, a linguagem permanece restrita à internet. “Os alunos têm consciência de que a forma culta é diferente. A linguagem da internet não aparece no que eles escrevem em aula”, explica. Ele diz ainda que os hábitos da internet facilitam o aprendizado. “Os alunos desenvolvem a criatividade, a instantaneidade e a autonomia sobre a escrita. Eles estão escrevendo como nunca”, avalia Olsen.

QUAL É O ENDEREÇO DE DEUS?

Em virtude do suposto réu “estar em lugar incerto e não sabido”, um juiz do estado norte-americano de Nebraska mandou arquivar o processo existente contra Deus. Possivelmente querendo chamar atenção, há meia duzia de anos atraz, o senador Ernie Chambers entrou com ação contra Deus. Ele acusava a Deus de ser responsável por milhões de mortes, causadas por inundações, furacões e outros acidentes naturais. Chambers também acusava a Deus por métodos terroristas contra a humanidade, intimidando seus seguidores e - especialmente - os ateus.
O processo seguiu as instâncias normais e agora foi arquivado porque “o autor não informou o endereço do réu, impedindo a Justiça de notificá-lo”. O advogado Eric Perkins ofereceu-se como interessado em apresentar defesa, mas foi recusado “por falta de procuração outorgada pelo suposto réu”.
Qual será mesmo o endereço de Deus? Para Francisco de Assis, encontrar esse endereço era fácil. Para ele, o universo inteiro era um templo onde eram nítidos os sinais da presença divina. Nikos Kazantzakis, no livro O Pobre de Deus fala da transparência do Criador em suas obras: o sol, as estrelas, o orvalho, as flores, as nuvens... Chega a afirmar: “E Deus se fez chuva e chove sobre o mundo”.
Para os bispos latino-americanos, reunidos em Puebla, em 1979, o cristão percebe o rosto de Deus, sobretudo, nos mais pobres: índios, negros, mulheres, doentes, idosos... Esta é também a opinião do Mestre Jesus. Ele adiantou qual será o gabarito do Julgamento: “Eu tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes, estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava preso e viestes ver-me”.
De resto, Jesus assumiu condição humana: “E o Verbo se fez homem e armou sua tenda entre nós”. Uma tradução mais livre da afirmação joanina pode ser esta: e Deus se fez história e armou sua tenda entre nós. O lugar preferencial de perceber Deus, hoje, é a história humana, cheia de seus sinais. Tanto é verdade que falamos da História da Salvação.
O endereço de Deus é conhecido de todos. Ele mora no coração de cada filho e filha, especialmente nos que sofrem. Ele está presente em sua Igreja, na Palavra e nos sacramentos. Enfim, está presente onde o deixam entrar. Podemos ouvir o “rumor dos passos de Deus” como no Jardim Terreal. Deus se deixa encontrar. Provar a existência de Deus pode apresentar algumas dificuldades, mas é impossível negar sua existência. Todo o discípulo, pela sua vida, deve proclamar: Deus existe, eu o encontrei. Eu sei seu endereço. Eu moro com Ele.

NÃO TENHO VALOR NENHUM

Depois de ter lido o livro Vendedor de Sonhos e depois de me habituar a ler o romance da vida do dia-a-dia, romance da sociedade moderna, envolvida pelo sonho de produção e de consumo, percebi que nessa sociedade não tenho valor. Sou um marginalizado. Não tenho vez e nem voz. Sou sobra. Ou tenho que me contentar em ser espectador dessa sociedade enganadora, que vive de aparências, onde o ser-pessoa pouco importa; o que importa são os títulos e as posses.
Não tenho conta bancária. Nem cartão de crédito. Nem faço declaração de imposto de renda. Sou lascado mesmo. Quando necessito fazer um documento é isso que me pedem. Não tem valor meu documento de identidade. Meu nome, meu pai e minha mãe, nada dizem. Quer dizer, eu como pessoa, filho de um homem e de uma mulher, não tenho valor. O que conta é ser produto de uma profissão bem remunerada. É ter conta bancária. É declarar os bens que se tem. É dizer “tenho casa, tenho carro, tenho propriedades, minha profissão é tal”. O sistema escravizante e coisificante me reduz a um número e a uma máquina de produção. Porém, teimo em me fazer valer como pessoa, como criatura humana.
Não uso roupa de grife. Nem tênis de marca. Não sou produto da coca-cola. Nem da cervejinha. Nem sou escravo das prateleiras dos supermercados. Sou mais do chão. Dos frutos da terra. O que nasce da mãe terra é vida. O que cai das prateleiras dos supermercados tem cheiro de morte. Não paro diante de vitrines. Sei que criam desejos e criar desejos é tornar-se escravo deles. Os desejos são a fonte da infelicidade. Para muita gente, entre o desejo e a realização, se abre um abismo. O abismo no coração do homem se chama insatisfação.
Não entro em shoppings. Não preciso. Shoppings têm tudo o que não precisamos. Satisfazem os olhos, mas não o coração. Satisfazem os desejos e massacram o bolso. Aos domingos, o shopping se tornou templo e igreja dos corações vazios. Esvaziam-se os templos de Deus e do coração e passeia-se pelos templos da ilusão. Para nossa sorte, continuam ali na esquina os mercadinhos, onde a gente encontra sal e açúcar, feijão e arroz. Não existe isso nos shoppings. São um lugar de tudo e de nada. Lugares cheios de coisas e vazios de vida. Vamos ao mercado da esquina! Ali tem gente para conversar. E tem tudo o que se precisa para a vida.
É preciso escolher a vida. Essa escolha deve perpassar todas as coisas e toda a atividade humana. Aquilo que favorece a vida deve ser escolhido. Aqui entra em jogo a renúncia. Saber renunciar o que prejudica a vida. Dizer não àquilo que os comerciais dizem sim. Ser dono de si mesmo. Comandar-se. Usar do discernimento. Ter em mãos critérios que me ajudam a escolher. Acima de tudo, escolher-me como pessoa humana que tem identidade, mesmo despido de tudo o que a sociedade valoriza e impõe.

UMA GRAVE AMEAÇA À VIDA DE TODOS.

Se uma fonte pode fornecer, em condições normais, 100 litros de água por segundo e dela são retirados 150 litros por segundo, ela acabará secando. O exemplo, embora simples, pode definir a relação entre o consumo humano de recursos naturais e a capacidade que a Terra tem de regeneração. O homem está tirando do planeta muito mais do que ele pode dar, e não é só com a água que isso vem ocorrendo: é com as florestas, com o ar, com a fauna...
O relatório do Fundo Mundial para a Natureza, tradução para WWF, é mais um alerta na tentativa de conscientizar a humanidade sobre os riscos que está impondo ao meio ambiente. Com exageros de consumo em países ricos e destruição motivada pela ganância, os recursos naturais estão sendo esgotados.
Quando se constata que as extravagâncias de consumo já excedem em 30% a capacidade da Terra e que, mantido o atual ritmo, em 2030 a demanda exigirá dois planetas, a conclusão é que uma parcela da população terá de passar por privações que poderão inclusive ser fatais. De certa forma isso está acontecendo. Para atender ao estilo de vida de seus habitantes e ao crescimento econômico, países extraem cada vez mais o capital ecológico de outras regiões do mundo.
Na lista de “devedores ecológicos” estão nações como Estados Unidos, Dinamarca e Canadá. Na de “credores”, países miseráveis, como o Congo. Mas quem acredita que um dia haverá acerto de contas?
Independente de mais uma injusta desigualdade que se estabelece entre pobres e ricos, o cenário preocupante impõe que todos repensem seus estilos de vida. Porque não se trata de uma crise financeira, que em dois ou três anos tende a ser superada. O risco é de um desastre ecológico, com o desaparecimento de recursos naturais que são a base de toda a vida. Ou o consumo passa a ser sustentável, ou a fonte vai secar.