segunda-feira, 23 de setembro de 2013

POR QUE TANTA GRITARIA CONTRA OS MÉDICOS CUBANOS?

Estou impressionado com a verdadeira gritaria que se instaurou com a vinda dos médicos estrangeiros – sobretudo cubanos, mas não só –para trabalhar por tempo determinado em território brasileiro. Os argumentos são variados e controversos e não chegam a construir uma linha de raciocínio coerente.
Senão vejamos: o Brasil precisa de mais médicos? Acredito que quanto a isso todo mundo esteja de acordo. A resposta é sim. São justamente as regiões mais longínquas e carentes que sentem mais a falta desses profissionais? Aqui também a resposta é afirmativa. Os médicos que se formam no país querem ir para as regiões mais distantes para nelas trabalhar ou, ao menos, viver os primeiros anos de sua profissão? Aqui a resposta é negativa.
Então, diante deste quadro, e da disponibilidade de estrangeiros virem trabalhar e atender as regiões que apresentam maior carência – por que não acolhê-los e oferecer aos brasileiros uma oportunidade de dar passos significativos em direção a uma melhoria da saúde?
Mas a grita continua. Invoca-se o salário que vão receber os médicos, que é alto. Depois reclama-se que apenas uma percentagem pequena do salário vai ficar com os médicos, sendo a maior parte repassada ao governo cubano. Em seguida, alega-se que os médicos não têm preparação adequada, nem falam a língua do país. E etc e etc.
Sinceramente, parece-me uma polêmica tão estéril que não mereceria sequer um centímetro de espaço da grande imprensa e, no entanto aí está, ocupando páginas de jornais e minutos em noticiários televisivos e levantando bílis e humores de brasileiros que despejam nos pobres médicos estrangeiros que aqui chegam seus sentimentos negativos, sem censura ou cortesia. 
Não posso entender o porquê das vaias que os médicos receberam ao desembarcar no aeroporto. Um espetáculo muito constrangedor. Nem a razão das violentas agressões que sofreram no Ceará. Nem a disfarçada xenofobia que faz classificá-los todos como “cubanos”, enquanto há espanhóis, portugueses, argentinos e outras nacionalidades entre os que chegam para exercer a medicina.
Questionam a competência dos médicos, sobretudo dos cubanos. Talvez isso seja fruto de pura e simples desinformação. A medicina cubana é de boa qualidade. Em alguns campos de especialidade, tais como oftalmologia e dermatologia, notabiliza-se entre as melhores do mundo. É totalmente equivocado pensar que Cuba não tinha o que fazer de seus médicos e por isso mandou-os para cá. Estamos recebendo bons profissionais, muito bem formados, sobretudo nesta medicina básica e em saúde pública, que é o que mais irão necessitar as regiões que serão por eles atendidas.
Outra objeção é que não há hospitais, leitos, material cirúrgico etc., para que os médicos trabalhem. Creio, com todo respeito, que isto não é problema deles, mas nosso. Se deixamos chegar a este ponto de inanição a saúde no Brasil, o problema é nitidamente nosso e não dos médicos que se dispõem a vir até aqui trazer suas habilidades e sua competência para ajudar nosso país, sobretudo as fatias mais carentes de nossa população. 
Se eles terão vantagens materiais com esta vinda e com o tempo em que trabalharem aqui, é outra história. E não entendo por que não poderiam ter. Se um alto executivo europeu ou estadunidense ganha o dobro ou até o triplo em salário líquido e “fringe benefits” quando expatriado, por que com os médicos que vêm desempenhar uma função vital em país que não é o seu não poderiam receber alguns benefícios? 
O que acontece com os médicos cubanos é muito triste. Mais triste ainda se pensarmos que toda essa descortesia, essa falta da mais elementar educação, esse tratamento de baixo nível contra os médicos cubanos, chamando-os de escravos e mandando-os voltar para a senzala e chamando as médicas cubanas afrodescendentes de domésticas, seja feito por... médicos. Supõe-se que um médico seja uma pessoa educada, cuja formação foi concluída após longos anos de estudos. É inimaginável que proceda desta maneira com um colega de profissão que vem ajudar a população carente brasileira, doando conhecimento, experiência e competência. 

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