quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O QUE NÃO SE DISSE SOBRE MATIN LUTHER KING

Neste artigo de Vicenç Navarro se assinala os silêncios sobre a figura de Martin Luther King nos maiores meios de comunicação, cujo objetivo é minimizar o carácter socialista ou "subversivo" para o pensamento dominante, sobre a sua análise e propostas de mudança nos EUA.
A propósito do quinquagésimo aniversário da Marcha de Washington, onde o Reverendo Martin Luther King fez o seu famoso discurso “Eu tenho um sonho” (I Have a Dream), escreveram-se muitas reportagens sobre aquela marcha e sobre Martin Luther King, referindo-se a este último como uma figura inspiradora que, atuando como a consciência da nação norte-americana, exigiu àquela sociedade o fim da discriminação contra a população negra, de origem africana. É difícil ver ou ouvir aquele discurso sem relacioná-lo com a sua causa.
Esta imagem inspiradora de Martin Luther King foi construída à custa de esquecer e fazer esquecer o outro Martin Luther King, o Martin Luther King verdadeiro, que via esta discriminação como resultado de umas relações de poder baseadas numa exploração, não só de raça, mas também de classe social. Silenciou-se que Martin Luther King (a partir de agora MLK) era um socialista que, sem dúvida alguma, foi muito crítico para com as sucessivas políticas, tanto domésticas como internacionais, levadas a cabo durante todos estes anos pelos governos federais, incluindo a administração Obama.
MLK esteve contra a guerra do Vietname, como teria estado contra as guerras do Iraque e do Afeganistão, e não só pelo seu pacifismo, mas também pelo seu antimilitarismo e anti-imperialismo. Definiu o governo dos EUA como “o agente máximo da violência hoje no mundo… gastando mais em instrumentos de morte e destruição do que em programas sociais vitais para as classes populares do país”. Era profundamente anti capitalista, como consta no seu discurso de que “deveríamos denunciar aqueles que resistem a perder os seus privilégios e prazeres que provêm dos benefícios adquiridos dos seus investimentos, ganhando a sua riqueza através da exploração”.
E, em 1967, condenou com contundência os três diabos que – em seu parecer - “caracterizavam o sistema de poder norte-americano, a saber, o racismo, a exploração econômica e o militarismo”, acentuando que “as mesmas forças que conseguem enormes benefícios através das guerras são as responsáveis pela enorme pobreza no nosso país” (todas estas notas procedem do excelente artigo de Michael Parenti “I Have a Dream, a Blurred Vision”, 29.08.13).
E o seu último discurso, de apoio às reivindicações dos trabalhadores dos serviços de saneamento que estavam em greve, findou com a famosa frase de que “a luta central nos EUA é a luta de classes”. Duas semanas mais tarde foi assassinado, sem que nunca se tenha esclarecido tal fato. Um fugitivo da prisão de Missouri, James Earl Ray, foi acusado do assassinato. Foi detido no aeroporto de Heathrow, em Londres, com grande quantidade de dinheiro em sua posse. Nunca se esclareceu quem lhe deu esse dinheiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário