terça-feira, 30 de junho de 2015

PARLAMENTARISMO, MAS COM ESSES DEPUTADOS?

Sempre que o país entra numa crise, surgem logo as duas soluções mágicas: reforma política e parlamentarismo. Um arremedo de reforma política já está em curso, sob o comando do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e suas bancadas amestradas, que, sem ouvir a sociedade, até agora praticamente só aprovaram medidas de interesse dos próprios parlamentares.

Agora, o mesmo Cunha vem com a proposta de colocar logo em votação a volta do parlamentarismo, uma experiência que já não deu certo no Brasil, durante o governo de João Goulart, e foi rejeitada por ampla maioria, em 1993, num plebiscito que manteve o presidencialismo.

"A grande evolução que se deve ter é que temos que discutir o parlamentarismo no Brasil, e rápido. Um debate para valer e votar", defendeu o todo-poderoso presidente da Câmara, em entrevista à Folha, nesta segunda-feira.

Sem entrar no mérito da questão, a primeira pergunta que me vem à cabeça é esta que está no título do post: mas com estes parlamentares? Se a situação já está ruim para todo mundo, pode-se imaginar o que aconteceria se o poder fosse transferido para este Congresso Nacional que temos hoje, o pior, em todos os sentidos, e o mais retrógado da nossa história recente.

Para evitar que se fale em "golpe branco", Cunha ressalvou que qualquer mudança de regime só valeria a partir das próximas eleições, mas anunciou que já está em campo para buscar apoios: "O tema tem ganhado força. Tenho conversado com quase todos os agentes políticos, PSDB, DEM, PPS, PMDB, PP, PR, com todos os partidos. Com José Serra, Aécio Neves, Tasso Jereissati" _ por coincidência, claro, todos senadores da oposição. E garantiu: "Com certeza, vamos tentar votar na minha presidência"








Publicado anteriormente no Balaio do Kotsho.


sábado, 27 de junho de 2015

O FALSO CONTO DA HISTÓRIA PACATA DE NOSSO PAÍS

Não existe nada de novo se formos falar sobre na questão dos mandos e desmandos do pseudo-imperador e juiz, Sergio Moro. Ele ancorado em sua quase segunda dezena de etapas de um mesmo processo, no ímpeto de cruzar a marca do inacreditável e incrível, mas patético e degenerado número de centena, não só visando o Guinnes Book, mas também, a insurreição do playboy de casta nobre Aécio Neves, ou dos aliados da coroa, o também de casta nobre na cota da Opus Dei, Geraldo Alckmin.

Também não existe nada de novo, no que se diz respeito a relação promiscua entre os juízes, a coroa e o setor inquisitório da igreja. É só vermos a literatura medieval. Por outro lado, em resposta a isso, talvez a semi "Queda da Bastilha" não efetuada pelos trabalhadores do campo e da cidade no Brasil antes de chegar ao governo, se avizinhe.

Afirmo isso, não porque os trabalhadores vão colocar esse poderoso clero na guilhotina, até porque, diferentemente deles, as pessoas de bem nesse país estão no século XXI e transpiram generosidade, diferente desses, que se auto-avalia como cavaleiros templários. Mas sim, porque no momentos que eles e suas mentiras tentarem botar o dedo em Lula, o povo que enxergou no pobre plebeu retirante nordestino, operário no grande centro dos déspotas esclarecidos, um projeto de nação, o caldo irá entornar. Luiz Inácio da Silva (Lula), é a reprodução mais bonita dos anseios dos pobres e explorados. É a representação mais genuína da superação das mazelas nos feudos que os trabalhadores viviam.

Parte das grandes literaturas, desde os tempos bíblicos, se destinaram em registrar a jornada desses heróis populares. No mesmo sentido, se avaliarmos bem, principalmente nas literaturas que se destinam a fazer um balanço da derrocada dos impérios, repararemos que a grande maioria, caiu por sua empáfia e esquizofrenia no sentido de se acharem os enviados de Deus, onde tudo podiam e nada teriam como consequência.

Ai, ai, viu! Infelizes são aqueles que se iludem, achando que iludem a vida! Pois como bem dizia o poetinha: A vida é pra valer!

Tomará que eles lembrem de Palmares, Tiradentes, Lampião, Prestes, Zé Porfírio, Apolônio de Carvalho, Gregório Bezerra, Julião e outros, lembrem também dos acontecidos em Emboabas, Cabanagem, Farroupilha, Canudos, Contestado, Balaida, Trombas e Formoso, entre tantas outras. Mas acima de tudo, lembrem da geração de jovens que foi capaz de se levantar contra uma Ditadura Militar, de religiosos que são verdadeiramente cristãos e de um operário, que foi a principal figura pública por 10 anos na construção da 4° maior central sindical do mundo, que é a principal figura pública do maior partido de esquerda da história da américa latina, que é uma das principais figuras publicas de todo o planeta, mas que acima de tudo, é a cara do Brasil, de um Brasil que não usa coroa de ouro e esta nos grandes salões tomando vinho em taça de ouro, mas sim, de um Brasil que encarnado nele, aprendeu que é capaz de escrever a sua própria história, custe o que custar. Quem viver verá!






Publicada no 247 por Pedro Del Castro

sexta-feira, 26 de junho de 2015

UM ATENTADO A FAMÍLIA.

A última dos teocratas no Brasil é a cruzada contra o que chamam de "ideologia de gênero" nas escolas. Certamente, como todo tipo de burrice que circula no país é só mais um pretexto para buscar restringir a autonomia pedagógica dos professores e professoras e criar uma interdição para que nas escolas não sejam discutidos temas tão caros como o da violência doméstica (que majoritariamente atinge as mulheres) e a igualdade de gênero. Para esses cruzados, a ideia de que homens e mulheres tenham direitos iguais é "um atentado à família tradicional".

A burrice não pára por ai. Fala-se também em "acabar com a doutrinação marxista nas escolas", a partir de uma pregação estúpida que acredita poder haver neutralidade no conhecimento e que na verdade esconde por trás a mais doutrinária das concepções pedagógicas. Um dos alvos da campanha é o filósofo marxista italiano Antonio Gramsci, tratado como um verdadeiro diabo por uma legião de imbecis que nem devem saber dizer em que época e onde viveu o líder comunista. Mas a burrice não pára por ai. Nesse movimento sobrou até para o pedagogo cristão Paulo Freire, cuja obra é uma referência internacional não só em programas de alfabetização no âmbito da UNESCO, como sua obra é estudada nas maiores universidades do mundo.[1] Num país em que astrólogo é tomado como referência filosófica, podemos esperar coisa bem pior.

Em 1925, nos EUA, precisamente no estado sulista do Tennessee, o professor John Scopes foi condenado em um tribunal insólito por ensinar a teoria da evolução de Charles Darwin. Os fundamentalistas cristãos não queriam que os estudantes tivessem acesso a outro tipo de explicação para o desenvolvimento biológico do ser humano que não fosse compatível com a explicação da Bíblia. O episódio ficou conhecido como "o julgamento do macaco", pois até um primata foi apresentado no tal tribunal por aqueles que argumentavam contra a tese científica darwinista. Curiosamente, o darwinismo social, uma teoria reacionária e conformista que buscava explicar a desigualdade de classe e entre os países a partir da ideia de "evolução dos mais aptos" foi bem recebida entre os teocratas estadunidenses.

Voltando ao Brasil do século XXI, agora temos um Congresso Nacional dominado por teocratas, a começar pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que promoveu alguns cultos pouco republicanos naquela casa que deveria prezar pela sua laicidade. A burrice habita nas altas esferas do poder e da representação parlamentar, que já deu mostras de não ter limites para impor enormes retrocessos.

Outra atitude burra estimulada é a de que os estudantes devem recusar e no limite denunciar o ensino de noções tidas como "contrárias à fé cristã", como, por exemplo, o respeito aos direitos humanos e mesmo a mais tênue empatia pelo outro.

Brasil, 2015: a burrice está vencendo.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

HÁ VAGAS NO CÉU...

A Bíblia fala que a porta que conduz ao céu é estreita e a que conduz para o inferno é larga. As pregações que a gente assiste em nossa igreja, em geral, são assustadoras. São pregações que usam o medo e a ameaça para que os féis escolham o caminho de Deus.
A impressão que passam em suas pregações para o povo é que Deus não está muito interessado com a felicidade dos filhos e filhas. Por isso vivemos uma educação religiosa de policial e de ameaça de castigo. É só observar como os pais, mães e professores conduzem a educação.
Mas, tenho a certeza de que Deus reservou, e nem só reservou, mas garantiu, vagas para todos os filhos e filhas, porque seu interesse é que todos participem de vida e felicidade. Mas esse tipo de céu não se compra com rezas, promessas, novenas e uma religiosidade doentia. O céu a gente consegue respondendo aos desejos do coração. Pode-se ter devoções e mesmo ser um leitor assíduo da Bíblia e viver fora do caminho de Deus.
Há vaga no céu para quem escuta, atende e satisfaz os desejos do coração. O coração humano tem como necessidade básica conviver e construir harmonia entre todos os seres e com todos os seres. Não há como mentir para o coração. Ou se satisfaz e se parte para a construção daquilo que é negação de pessoa humana e filho de Deus, que é a desarmonia. Que é o rompimento do plano do Criador.
Há vaga no céu para quem, desde agora, vai construindo a paz. Paz que é sentir-se ligado com todos os seres. O universo é céu, e dá para dizer, o céu é o universo. É certo que ele não está longe. Nem em outro lugar. O céu nós vamos sentindo e construindo onde estamos e com quem vivemos.
Há vagas no céu para quem desde agora vai acreditando na recompensa de quem vive bem, vive no caminho da fraternidade e justiça. O céu é do tamanho do universo, porque há lugar para bilhões e bilhões de seres humanos.
E onde ficam as pessoas que se recusam a aceitar a vaga de céu? Que se recusam a trabalhar na empresa de Deus? Que em vez de responder ao desejos do coração se fecham para eles?
No céu não há vagas para os ladrões e destruidores, para os corruptos e mentirosos, para os injustos e violentos, para os exploradores do sexo e para os que se escolhem a si mesmos.
Não há vagas para quem não escolhe Deus para si, como seu Senhor e Rei. E se Deus é paz e harmonia, vida e amor, luz e unidade, onde estão as vagas para quem escolhe uma situação de inferno, de destruição e de morte?
Nascemos para Deus. Nascemos e vivemos para a realização de nossos desejos. Que cada um de nós jamais se sinta um condenado à morte, mas sim, um escolhido e abençoado de Deus, um predestinado para as vagas eternas do Reino dos céus.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

CUIDAR DO PLANETA É OBRIGAÇÃO NOSSA.

U m teólogo famoso, no seu melhor livro - Introdução ao Cristianismo - ampliou a conhecida metáfora do fim do mundo formulada pelo dinamarquês Sören Kirkegaard. Ele reconta assim a história: num circo ambulante, um pouco fora da vila, instalou-se grave incêndio. O diretor chamou o palhaço que estava pronto para entrar em cena para que fosse até a vila pedir socorro. Foi incontinenti. Gritava pela praça central e pelas ruas, conclamando o povo para que viesse ajudar a apagar o incêndio. Todos achavam graça, pois pensavam que era um truque de propaganda para atrair o público. Quanto mais gritava, mais riam todos. O palhaço pôs-se a chorar e então todos riam mais ainda. Ocorre que o fogo se espalhou pelo campo, atingiu a vila e ela e o circo queimaram totalmente. Esse teólogo era Joseph Ratzinger. Ele foi Papa e não produz mais teologia, mas doutrinas oficiais. Sua metáfora, no entanto, se aplica bem à atual situação da humanidade,os  povos devem decidir as formas de controlar o fogo ameaçador. Mas a consciência do risco não está à altura da ameaça do incêndio generalizado. O calor crescente se faz sentir e a grande maioria continua indiferente, como nos tempos de Noé que é o “palhaço” bíblico alertando para o dilúvio iminente. Todos se divertiam, comiam e bebiam, como se nada pudesse acontecer. E então veio a catástrofe.
Mas há uma diferença entre Noé e nós. Ele construiu uma arca que salvou a muitos. Nós não estamos dispostos a construir arca nenhuma que salve a nós e a natureza. Isso só é possível se diminuirmos consideravelmente as substâncias que alimentam o aquecimento. Se este ultrapassar dois a três graus Celsius poderá devastar toda a natureza e, eventualmente, eliminar milhões de pessoas. O consenso é difícil e as metas de emissão, insuficientes. Preferimos nos enganar cobrindo o corpo da Mãe Terra com band-aids na ilusão de que estamos tratando de suas feridas.
Há um agravante: não há uma governança global para atuar de forma global. Predominam os estados-nações com seus projetos particulares sem pensarem no todo. Absurdamente dividimos esse todo de forma arbitrária, por continentes, regiões, culturas e etnias. Sabemos hoje que estas diferenciações não possuem base nenhuma. A pesquisa científica deixou claro que todos temos uma origem comum pois que todos viemos da África.
Consequentemente, todos somos coproprietários da única Casa Comum e somos corresponsáveis pela sua saúde. A Terra pertence a todos. Nós a pedimos emprestado das gerações futuras e nos foi entregue em confiança para que cuidássemos dela.
Se olharmos o que estamos fazendo, devemos reconhecer que a estamos traindo. Amamos mais o lucro que a vida, estamos mais empenhados em salvar o sistema econômico-financeiro que a humanidade e a Terra.
Aos humanos como um todo se aplicam as palavras de Einstein: “Somente há dois infinitos: o universo e a estupidez; e não estou seguro do primeiro”. Sim, vivemos numa cultura da estupidez e da insensatez. Não é estúpido e insano que 500 milhões sejam responsáveis por 50% de todas as emissões de gases de efeito estufa e que 3,4 bilhões respondam apenas por 7% e sendo as principais vítimas inocentes? É importante dizer que o aquecimento, mais que uma crise, configura uma irreversibilidade. A Terra já se aqueceu. Apenas nos resta diminuir seus níveis, adaptarmo-nos à nova situação e mitigar seus efeitos perversos para que não sejam catastróficos. Temos que torcer para que , não prevaleça a estupidez, mas o cuidado pelo nosso destino comum.

terça-feira, 23 de junho de 2015

VAMOS CONSTRUIR UM POÇO NO DESERTO...

Um líder africano implantou muitos benefícios para seu povo. Ao regressar de uma viagem comunicaram-lhe que sua esposa morrera. Depois de passar algum tempo na mais absoluta desolação, começou a preocupar-se em preservar sua memória. O que ele poderia fazer de grandioso para que sua esposa jamais fosse esquecida? O primeiro pensamento foi o de erguer um grande monumento fúnebre, que conservasse a memória da pessoa a quem ele mais amara em vida. Mas um mestre, carregado de anos e de sabedoria, aconselhou: construa um poço no deserto, assim todas as caravanas que passarem por ele lembrarão sua esposa. E darão graças a Deus por ela ter existido.
Na vida, tudo transcorre com rapidez e a morte estabelece a cortina do esquecimento sobre todos. O dinheiro, a glória, as realizações são logo esquecidos. Os próprios monumentos envelhecem e de uma vida cheia de acontecimentos sobra o registro de poucas linhas. Tudo passa, só o amor permanece. A história guarda poucos nomes e privilegia os que fizeram de suas vidas um poema de amor. Ainda lembramos Alexandre da Macedônia, César, Napoleão, mas amamos Francisco de Assis, João XXIII, Luther King, Gabriela Mistral, Teresa de Calcutá. Eles e elas, cada um do seu jeito, semearam amor.
A vida não é aquela que sonhamos, mas a que efetivamente temos. As perdas se acumulam ao longo dos anos. Pessoas queridas partiram quando menos esperávamos. De nada adiantaria morrer afogado nas próprias lágrimas. É muito mais inteligente abrir um poço de água para os outros. É o poço da gratuidade, de quem nada espera para si. É uma árvore que plantamos, sem a pretensão de colher os frutos. E se pudermos colhê-los, façamos isso sem euforia e com um sentimento de gratidão. São Francisco de Assis lembrava que era muito melhor amar do que ser amado.
Nosso tempo está cheio de desertos, repletos de pessoas, que carregam uma sede profunda. Sede de reconhecimento, sede de amor, sede de fé. E todos temos o incrível privilégio de poder abrir fontes límpidas. E isso jamais passará. Pablo Neruda desejava que em seu túmulo colocassem a legenda: aqui jaz um amante da liberdade. Feliz daquele que, em seu túmulo, alguém escrever: ele abriu muitos poços no deserto.
O apóstolo Paulo fala das possíveis realizações da pessoa e exemplifica: o dom da profecia, a eloquência, transportar montanhas, repartir a fortuna, entregar o corpo para ser queimado... E proclama: se não tiver caridade, isso nada me adiantará e conclui: tudo terá fim, mas o amor jamais acabará . Deus nos fez à sua imagem e semelhança. E Deus é amor

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O CORRUPTÔMETRO.

A Transparência Internacional divulgou, na Alemanha, o índice de corrupção no mundo. Numa escala de 0 (sem corrupção) a 10 (haja lanterna de Diógenes para descobrir um honesto!), o Brasil mereceu 3,7 pontos. Avançou da 80ª posição para a 75ª, entre 180 nações analisadas. Nosso país se equipara, agora, à Colômbia, ao Peru e ao Suriname. O país onde há menos corrupção é a Nova Zelândia.
Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade - a mãe dos corruptos. Você conhece o nome de um notório corrupto brasileiro? Ele foi processado e está na cadeia?
Padre Vieira, no sermão em homenagem à festa de Santo Antônio, em 1654, indagava: “O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?” A seu ver, havia duas causas principais: a contradição de quem deveria salgar e a incredulidade do povo diante de tantos atos que não correspondiam às palavras.
O corrupto caracteriza-se por não se admitir como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca peixe não belisca.
O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.
Há muitos tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para tirar proveitos a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas.
A lógica do corrupto é corrupta: “Se não aproveito, outro leva vantagem em meu lugar”. Seu único temor é ser apanhado em flagrante delito. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais. Confiante, jamais imagina a filha pequena a indagar-lhe: “Papai, é verdade que você é corrupto?”
Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua, cauteloso. Assim, torna-se o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor saberá ler nas entrelinhas.
O corrupto franciscano pratica o toma lá, dá cá. Seu lema é “quem não chora, não mama”. Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a indignar-se quando o assunto é a corrupção que grassa pelo país.
O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões e castelos, enche o latifúndio de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira. Vangloria-se de sua astúcia ao enganar e mentir.
O corrupto nostálgico orgulha-se do pai ferroviário, da mãe professora, da origem humilde, mas está intimamente convencido de que, tivessem as mesmas oportunidades de meter a mão na cumbuca, seus antepassados não deixariam passar.
O corrupto previdente, calculista, já está de olho nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Ele sabe que os jogos Pan-americanos no Rio, em 2007, tiveram orçamento de R$ 800 milhões e consumiram R$ 4 bilhões.
O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos. Aliás, o corrupto acredita piamente que todos o consideram de uma lisura capaz de causar inveja em madre Teresa de Calcutá.
O corrupto julga-se dotado de uma inteligência que o livra do mundo dos ingênuos e torna-o mais arguto e esperto do que o comum dos mortais. Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.

UM LIVRO QUE A HUMANIDADE AINDA NÃO TERMINOU DE LER

O dia era chuvoso e a mãe aproveitou a oportunidade para uma faxina geral na casa e convocou o filho de dez anos para ajudá-la. No primeiro momento tratava-se de separar os objetos que ainda tinham valor e os que deveriam ser jogados fora. No segundo momento seria necessário tirar a poeira e colocar os objetos em seu devido lugar. Enquanto a mãe separava os objetos que deveriam ficar, o filho tirava a poeira, começando de cima para baixo. Havia realmente o que fazer.
Quando começou a colocar abaixo tudo o que existia na velha prateleira, o garoto consultou a mãe: olhe mãe, achei um livro grosso e velho, cheio de mofo, é capaz até de abrigar algumas traças. Jogamos no lixo? A mãe, vendo que aquilo que o filho chamava de coisa velha era a Bíblia da família, disse-lhe em tom contrito: meu filho, cuide com carinho deste livro porque ele é sagrado, é o livro de Deus. Imagine jogar isso no lixo! Então, observou o filho, antes que as traças o destruam, é melhor devolvê-lo ao dono, pois aqui em casa nunca o usamos e - quem sabe - Deus encontre alguém interessado por ele.
A Bíblia, mais que um livro, é o conjunto de 73 livros inspirados por Deus, do Antigo e Novo Testamento. É o livro mais lido de toda a história da humanidade. Ele continua sendo o livro mais traduzido e vendido em todo o mundo. Poemas, pinturas, filmes, romances brotam de suas páginas. Foi a primeira obra impressa por Gutenberg, quando inventou a imprensa. É um livro que a humanidade ainda não terminou de ler e seu conteúdo ressoa de maneira diferente para cada situação e para cada leitor.
A Leitura Divina é uma antiga tradição da Igreja. Ela se desdobra em quatro momentos: leitura, meditação, oração e contemplação. É aquilo que hoje falamos: leitura orante da Palavra de Deus. Retomando os passos. Na leitura procuramos entender bem o texto. Pode-se ler várias vezes. Na meditação, imaginamos que este texto foi escrito para mim, pessoalmente. A pessoa se inclui no fato, na parábola, na história contada. No terceiro momento - oração - surge aquilo que o texto me faz dizer a Deus: agradecimento, perdão, súplica. Finalmente, na contemplação, nos colocamos, sem palavras, diante de Deus, numa atitude de encantamento.
Não basta ter a Bíblia, precisamos lê-la. Não basta lê-la, precisamos compreendê-la. Não basta compreendê-la, mas precisamos vivê-la. Não basta vivê-la, mas precisamos anunciá-la aos outros, pelo testemunho e pela palavra.

domingo, 21 de junho de 2015

A ARTE DE ESCREVER.

Como sublinha Bartolomeu Campos de Queiros, tudo que existe - esta publicação, o computador, a cadeira em que me sento, o cômodo no qual me encontro - foi fantasia na mente humana antes de se tornar realidade. Daí a força da literatura de ficção. Também ela foi fantasia na mente do autor e remete o leitor a uma realidade onírica que lhe possibilita encarar a vida com outros olhos. A fantasia impulsiona todos os nossos gestos, atitudes e opções.
A ficção funciona como um espelho que faz o leitor transcender a situação em que se encontra. O texto desvela o contexto e impregna o leitor de pretextos, de motivações que o enlevam, aquele entusiasmo de que falavam os gregos antigos, estar possuído de deuses, de energias anímicas que nos devolvem ao melhor de nós mesmos.
Toda ficção, narrativa ou poética, é des-cobrimento, revelação. Somos múltiplos e, ao ler, uma de nossas identidades emerge por força do encantamento suscitado pela quintessência da obra ficcional: a estética.
A literatura ficcional não tem que ser de esquerda ou de direita. Tem que ser bela. Fazer da ficção um palanque de causas é aprisioná-la numa camisa de força, transformando-a num espelho que não reflete o leitor, reflete o autor e seu proselitismo. A ficção não tem de ser engajada, o escritor sim tem o dever ético de se comprometer com a defesa dos direitos humanos neste mundo tão conflitivo e desigual.
O prólogo do evangelho de João, um dos textos mais poéticos da Bíblia, só comparável ao Cântico dos Cânticos, diz que “o Verbo se fez carne”. Na arte literária a carne - a criatividade do autor - se faz verbo. Instaura a palavra, que organiza o caos.
No Gênesis, Javé cria o Universo pelo poder da palavra. Ele se faz palavra, manifestação que nos remete, como na obra ficcional, à transcendência (o autor sobrepassa a cotidianeidade ou lhe imprime novo caráter), à transparência (o texto reflete o que está contido nas entrelinhas), a profundência (a narrativa ou o poema nos convida a algo mais profundo do que percebemos na superfície da realidade).
Ler ficção é uma experiência extática - estar em si e fora de si. Somos alçados ao imaginário, induzidos à experiência da catarse, de modo a oxigenar a nossa psiquê. A estética nos imprime um novo modo de encarar as coisas. Como lembra Mário Benedetti, a literatura não muda o mundo, mas sim as pessoas. E as pessoas mudam o mundo.
A estética literária nos envia ao não dito, à esfera do desejo, suscitando-nos sonhos, projetos, utopias, do encontro com o príncipe encantado (Branca de Neve) ao reencontro amoroso com a opressiva figura do pai (A metamorfose, de Kafka, e Lavoura arcaica, de Raduan Nassar). Como assinala Aristóteles, a poética completa o que falta à natureza e à vida. A arte não se satisfaz com o estado factual do ser. Convida-nos à diferença, à dessemelhança, ao tornar-se.
Suscitar em crianças e jovens o hábito da leitura é livrá-los da vida rasa, superficial, fútil, e educá-los no diálogo frequente com personagens, relatos e símbolos (a poesia) que haverão de dilatar neles a virtude da alteridade, de uma relação mais humana consigo mesmo, com o próximo, com a natureza e, quiçá, com Deus.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

UM PROBLEMA QUE PREJUDICA A TODOS

É cada vez maior o volume de recursos aplicado para que cidades e campo não se transformem em gigantescos depósitos de lixo. E mesmo assim as ações em geral não vão além de paliativos para um cenário construído nas últimas décadas pelo consumismo e pela falta consciência.
A busca de soluções levou à criação de sofisticados equipamentos, à montagem de esquemas complexos de coleta e destinação e ao surgimento da indústria da reciclagem, que envolve de pequenos grupos de catadores a empresas de grande porte. Este sistema livra as cidades do caos e ao mesmo tempo distribui renda.
A sua eficácia, no entanto, poderia ser muito maior, com resultados econômicos e sociais mais significativos, se houvesse a compreensão e um pouco de boa vontade de quem produz lixo. Pedidos, avisos e campanhas não conseguem sensibilizar boa parte das pessoas da importância de separar o lixo orgânico do seletivo, de embalá-los adequadamente e levá-los aos pontos de recolhimento. Um procedimento simples, que deveria ser rotineiro, é ignorado, desconsiderado, o que compromete a todos, inclusive aos que agem da forma correta.
A falta de educação de alguns - aqui envolvidos também os vândalos - obriga a utilização de dinheiro que poderia ser investido em outras áreas, como saúde e educação; retira a oportunidade de necessitados auferirem um rendimento melhor com a recuperação de materiais; e ainda causa danos ao meio ambiente.
Não dar importância à destinação do lixo é como poluir a água que se vai beber ou envenenar o alimento que se vai comer. Mas isso não parece contagiar os que, embora minoria, têm forte poder de destruição. E o lixo espalhado por poucos prejudica a todos. Talvez seja o momento de um novo esforço para tentar conscientizar a todos. E se não houver êxito, que pelo menos sejam punidos os que não fazem a sua parte, os que só sujam.

A SABEDORIA QUE NASCE DO CORAÇÃO.

Enriquecido pela experiência dos anos, um velho barqueiro transportava eventuais passageiros, de um lado para outro de um rio, largo e caudaloso. Numa das viagens transportou um advogado e uma professora. Acostumado a falar muito, o advogado perguntou ao barqueiro se ele conhecia as leis. E diante da negativa, afirmou: que pena, você perdeu metade da vida.
A professora, não querendo ficar para trás, quis saber se o barqueiro sabia ler e escrever, se conhecia história e geografia. Mais uma vez o barqueiro disse que nunca frequentara qualquer escola. Nesse caso, comentou a professora, está perdendo a metade da vida. Nisto veio uma onda maior e o barco foi lançado num redemoinho. Foi a vez do barqueiro perguntar, aflito: vocês sabem nadar? Ambos, apavorados, disseram que não. Neste caso, avisou o velho barqueiro, vocês estão correndo o risco de perder toda a vida. Porém, nadando com bravura, ele conseguiu salvar os dois de morrerem afogados.
São muitas as versões desta história antiga, mas a conclusão é sempre a mesma. O saudoso Paulo Freire dizia: “Não há saber maior ou menor; há saberes diferentes”. Cada um tem seu saber. E a vida é a maior de todas as universidades para quem quiser aprender.
Dezenas de diplomas não tornam ninguém sábio. Existe uma sabedoria que nasce do coração. Aquele que serve é o mais sábio de todos. O saber é importante, mas precisa ser direcionado. São Francisco de Assis permitiu que seus frades estudassem, não para dominar, mas para servir. “Saber mais para amar mais”, completava o santo.
Jesus foi excelente orador, mas nada deixou escrito. Ele falava em parábolas para que todos pudessem entender. Mais: evitava as sinagogas, dominadas pelos doutores e mestres da lei. Ele preferia os caminhos onde doutrinava as pessoas simples, falando dos lírios, dos trigais, dos pássaros, do pastor que procura a ovelha, do fermento que acaba por contagiar toda a massa.
Vivemos hoje a Sociedade do Saber. O poder concentra-se nas mãos daqueles que mais sabem e muitas vezes usam em proveito próprio o conhecimento. O saber é importante, mas o serviço é muito maior. Há doutores formados em universidades, há iluminados pela escola da vida. E o Evangelho garante: Deus revela sua sabedoria aos pequenos e humildes  e a esconde dos orgulhosos. E a história guarda com encanto e admiração homens e mulheres simples, numa certa ótica ignorantes, e deixa de lado sábios e autossuficientes. E a fé, o dom mais precioso, não brota dos livros, mas do coração visitado por Deus.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

POR AMOR A SABEDORIA.

Nunca soube que existisse um Dia do Filósofo. Descobri agora. Dia 16 de agosto festejam-se aqueles e aquelas que escolheram em suas vidas amar a sabedoria. Sim, pois é isso que, no grego, significa a palavra filosofia. Amor pela sabedoria.
A origem da palavra está na Antiga Grécia, berço da civilização ocidental, onde, em meio à riquíssima mitologia que povoava o panteão de deuses e deusas, alguns começaram a perguntar-se: Quem sou eu? De onde vim e para onde vou? Qual a origem do mundo?
Interpretada comumente como o marco do fim da era do mythos, com o apogeu do logos e da razão, a filosofia, na verdade, desde o início conjugou ambos. Suas origens se encontram em uma interpretação des-sacralizada dos mitos cosmogônicos, difundidos pelas diversas religiões. Para os que desejariam uma filosofia completamente “vacinada” contra o mito, aí está uma pedra de tropeço intransponível.
Segundo Aristóteles e Platão, a matéria inicial da reflexão dos filósofos foram os mitos. Estes se tornaram campo comum da reflexão da religião e da filosofia, revelando que a pretensa separação entre esses dois modos de o ser humano interpretar a realidade não é tão nítida como aparentemente se julga.
Nem só razão nem só mitologia, diz a amiga sabedoria que já desde o tempo de Tales de Mileto, 5.000 anos antes de Cristo, nos ensina que o mundo está cheio de deuses. E Platão viria a ser aquele que encontrou a raiz de seus mais belos pensamentos pela meditação dos mitos. Para a filosofia antiga, portanto, o mito dá o que pensar, provoca a razão e a faz produzir sabedoria. A meditação e a interpretação dos mitos serão, então, o que conduzirá o filósofo em sua busca da verdade.
Pois disso se ocupa o filosofar: buscar a verdade. Não poderia haver sabedoria se não houvesse verdade. O bom e o belo são outros nomes da verdade. Verdade que não se rende ao pensamento humano com a evidência laboratorialmente controlada do empirismo, mas vai des-velando seus segredos com o exercício espiritual da busca atenta e amante da filosofia. A filosofia acaba por ser, assim, a porta de entrada para pensar o mistério.
Ao pensar os mitos, o filósofo toca na universalidade das intuições e das experiências ancestrais, referindo a sua pertença comum e originária ao gênero humano. Por isso, os mitos são lugar privilegiado do enraizamento das pessoas e dos povos, conectando-os a seu passado. Tornam-se assim o fundamento da cultura humanista. Contemplando com atenção o mito, o filósofo vai se aproximando da raiz das recorrências humanas, o que lhe permitirá então tocar nas essências, elaborar definições, construir sínteses, montar harmoniosas arquiteturas de conhecimento.
No início, a filosofia se auto compreendia como responsável por tudo que era cognoscível e, portanto, passível de ser conhecido. Sob sua égide repousava o conhecimento humano em todas as suas especialidades, e até hoje a ela devem sua origem enquanto campos do pensar e do saber: os valores - a ética; a beleza - a estética; a busca da verdade - a lógica.
O tempo passou, o mundo mudou e a filosofia também. Fragmentou-se em muitas especialidades e muitos genitivos. No entanto, ainda é um marco de oposição ao desenraizamento e à atomização da sociedade moderna, alienada justamente porque perdeu o contato com o passado, permanecendo degenerada na busca e fixação em ídolos.
Enquanto houver filósofos apaixonados pela verdade e amigos da sabedoria, podemos ter esperança em que o que constitui o humano não se perdeu. Por isso, é digno e justo saudar e louvar aqueles que hoje continuam cultivando essa amizade e esse amor, impedindo nossa desumanização.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

PORQUE CONTAR HISTÓRIAS?

Sempre houve contadores de histórias. Os contadores de histórias fascinam as plateias. Dentro de cada história há uma lição de vida. As histórias são conteúdos já experimentados. São experiências que passam de geração em geração. Em nosso momento atual estamos esquecendo de contar histórias. Nosso argumento é que não temos tempo. Também é um fator. Mas, mais do que não ter tempo, a máquina da atividade, somada à pressa da vida, impede de sermos criativos e contadores de histórias. Preferimos comunicar o conteúdo numa frase sem vida e desencarnada. Falamos com conceitos e perdemos o encanto das histórias.
Pai e mãe contando mais histórias. Toda criança gosta de histórias. Aprende através de histórias. A história cria um imaginário, alimenta a criatividade e, acima de tudo, dá uma lição de vida. Os pais devem voltar a contar histórias. O argumento da “falta de tempo” não pode ser tomado em conta. Se a criança não merece tempo agora, então os pais não deveriam ter tido tempo para fazer essa criança. Muitos pais não sabem contar histórias. Não têm jeito, ou não escutam e nem leem histórias. É preciso ler e reler histórias para contá-las, criá-las, recriá-las e passá-las adiante. Ler e ler para não ficar só com histórias do “bicho-papão e do boitatá”. Os pais contadores de histórias encantam os filhos e com mais facilidade os educam, porque em cada história se pode passar uma lição de valores e de pessoas que venceram, que foram boas e fizeram coisas bonitas.
Professores contando mais histórias. É sabido que professor que não sabe passar o conteúdo em histórias é um professor chato. Cansa. Enjoa. Os palestrantes que ficam somente falando de conteúdo e de conceitos cansam. Quando iniciam uma história ou um fato, os olhos novamente se voltam para eles e a plateia fica muito mais atenta. Nas salas de aula devem voltar os professores contadores de histórias. Passar conteúdos através de histórias para que a escola se torne mais simpática e os conteúdos mais fáceis de serem assimilados.
O maior contador de histórias. O mundo é uma história. Esta terra é uma história. Cada criatura é uma história. Cada animal é uma história. Muito mais, cada pessoa humana. Cada pessoa é uma história viva, e tendo vivido bem, pode passar sua história para frente. Mas houve uma pessoa que foi o maior contador de histórias: Jesus Cristo. É só ler os evangelhos. Tudo é ensinado em histórias, ou parábolas. Seu ensinamento foi todo com histórias que davam a lição de como é o Reino dos Céus, de como é a vida em Deus. Muitas vezes ele começa: “O Reino dos Céus é como...” e lá vai uma história, no fim da qual Ele faz a conclusão ou deixa cada pessoa fazer sua conclusão. Ele sabia que as crianças gostam de histórias e nós somos crianças muito frágeis diante da vida e de Deus. Os pais devem ler e reler muitas vezes os evangelhos para contar essas histórias do mestre e professor Jesus para seus filhos.

terça-feira, 16 de junho de 2015

COM QUEM TU TE RELACIONAS?

Nossa vida são nossos relacionamentos. É muito antigo o dito da sabedoria popular que diz: “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. A Bíblia é a grande professora, e no livro do Eclesiástico vai ensinando: “Não abandones o velho amigo... Não sinta prazer em estar com os violentos... Afasta-te do homem que tem o poder de matar... Evita a companhia do falador... Viva com os sábios e prudentes... Quanto possível, desconfia de quem se aproxima de ti...”
Fruta sadia no meio de podres se estraga. Geralmente é assim que acontece. Podem existir exceções. A convivência com ladrões torna a pessoa ladra. Nossa sociedade está se tornando uma escola de ladrões. Engana-se com a maior facilidade. A convivência com corruptos vai corrompendo o coração. A política está sendo para o povo brasileiro uma dessas escolas. A convivência com doentes facilmente torna a pessoa doente. A peste pesteia. O vírus da morte vai penetrando o corpo.
Temos o direito de escolher um ambiente sadio. Que todos, ao despertar para um novo dia, possam rezar: “Senhor, livra-me da companhia dos maus e dos mentirosos. Livra-me das pessoas amargas”. Quem não conhece casos de rapazes e meninas que em casa eram de vida ideal, gente fina, nada a reclamar, e que, ligando-se a uma turminha da pesada, se tornaram insuportáveis no ambiente familiar? É a família que não presta? Não! É o novo ambiente escolhido. E quantas pessoas, especialmente jovens, se lançam como num rio em correnteza sem saber nadar, em ondas de mar violento sem saber se defender. Não se pode culpar essa gente indefesa, porque os leões que engolem os indefesos são de garras muito fortes e dentes que tudo devoram. São os adultos e os grupos dos meios de comunicação somados aos grupos do poder econômico, que fazem das pessoas máquinas de produção e de consumo. Especialmente a criança e o jovem se tornaram o seu alvo.
É preciso criar imunidade. Isso desde o ventre da mãe. Isso desde o colo, criando ao redor um clima que favoreça a vida, e que não permita uma invasão na mente e no coração de tantas futilidades que não ajudam a viver sadiamente. A imunidade surge de ambientes sadios de convivência. Imagens bonitas. Mensagens positivas. Clima de vida ameno, sem brigas e sem frieza. Que chovam mentiras, corrupção, enganos, indiferença, amargura, fofoca... tudo isso não importa se a gente consegue criar imunidade contra todo esse ambiente poluído e com cheiro de morte.
Somos nossos relacionamentos. Pessoas alegres e positivas. Pessoas bondosas e generosas. Pessoas de fé e de esperança. Pessoas de trabalho e de lazer. Pessoas de convivência fácil e confiável. Pessoas que se tornam um estímulo de vida. É nesse ambiente que a árvore, que se chama pessoa humana, cresce, se desenvolve e se fortifica.

O TEMPO PASSA E TUDO PARECE PERMANECER IGUAL.

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, indagou Marco Túlio Cícero ao senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusa a renunciar ao mandato.
Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, pôs em sua boca a indignação popular: “Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?”
“Ó tempos, ó costumes!”, exclamou Cícero movido por atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado. “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?”.
Jurista, Cícero se esforçou para que Catilina admitisse os seus graves erros: “É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia.”
Se Catilina permanecia no Senado, não era apenas a vontade própria que o sustentava, mas sobretudo a cumplicidade dos que teriam a perder, com a renúncia dele, proveitos políticos. Daí a exclamação de Cícero: “Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?”
Cícero não temia ameaças e expressava o que lhe ditava o decoro: “Já não podes conviver por mais tempo conosco; não o suporto, não o tolero, não o consinto. (…) Que nódoa de escândalos familiares não foi gravada a fogo na tua vida? Que ignomínia de vida particular não anda ligada à tua reputação? (…) Refiro-me a fatos que dizem respeito, não à infâmia pessoal dos teus vícios, não à tua penúria doméstica e à tua má fama, mas sim aos superiores interesses do Estado e à vida e segurança de todos nós.”
Os crimes de Catilina escancaravam-se à nação. Seus próprios pares o evitavam, como assinalou Cícero: “E agora, que vida é esta que levas? Desejo neste momento falar-te de modo que se veja que não sou movido pelo rancor, que eu te deveria ter, mas por uma compaixão que tu em nada mereces. Entraste há pouco neste Senado. Quem, dentre esta tão vasta assembleia, dentre todos os teus amigos e parentes, te saudou? Se isto, desde que há memória dos homens, a ninguém aconteceu, ainda esperas que te insultem com palavras, quando te encontras esmagado pela pesadíssima condenação do silêncio?”
Catilina fingia não se dar conta da gravidade da situação. Fazia ouvidos moucos, jurava inocência, agarrava-se doentiamente a seu mandato. “Se os meus escravos me temessem da maneira que todos os teus concidadãos te receiam” - bradou Cícero -, “eu, por Hércules, sentir-me-ia compelido a deixar a minha casa; e tu, a esta cidade, não pensas que é teu dever abandoná-la? E se eu me visse, ainda que injustamente, tão gravemente suspeito e detestado pelos meus concidadãos, preferiria ficar privado da sua vista a ser alvo do olhar hostil de toda a gente; e tu, apesar de reconheceres, pela consciência que tens dos teus crimes, que é justo e de há muito merecido o ódio que todos nutrem por ti, estás a hesitar em fugir da vista e da presença de todos aqueles a quem tu atinges na alma e no coração?”
Cícero não demonstrava esperança de que seu libelo fosse ouvido: “Mas de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?” E não poupou os políticos que, apesar de tudo, apoiavam Catilina: “Há, todavia, nesta Ordem de senadores, alguns que, ou não veem aquilo que nos ameaça, ou fingem ignorar aquilo que veem.”
Acuado, Catilina se refugiou na Etrúria e morreu em 62 a.C. Cícero, afastado do Senado por Júlio César, foi assassinado em 43 a.C. Um século depois, Calígula, desgostoso com o Senado, nomearia senador seu cavalo Incitatus, com direito a 18 assessores, um colar de pedras preciosas, mantas de cor púrpura e uma estátua, em tamanho real, de mármore com pedestal em marfim.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

VOX POPULI: ÓDIO AO PT ATINGE 12% DO ELEITORADO.

Nestes tempos em que a intolerância, o preconceito e o ódio se tornaram parte de nosso cotidiano político, é fácil se assustar. É mesmo tão grande quanto parece a onda autoritária em formação?

Quem se expõe aos meios de comunicação corre o risco de nada entender, pois só toma contato com o que pensa um lado. Será majoritária a parcela da opinião pública que se regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos comentaristas da televisão despejar seu ódio?

Recente pesquisa do Instituto Vox Populi permite responder a algumas dessas perguntas. E seus resultados ensejam otimismo: o ódio na política atinge um segmento menor do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio como se pinta.

Em vez de perguntar a respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na pesquisa foi pedido aos entrevistados que dissessem se “detestavam o PT”, “não gostavam do PT, mas sem detestá-lo”, “eram indiferentes ao partido”, “gostavam do PT, sem se sentir petistas” ou “sentiam-se petistas”.

Os resultados indicam: permanecem fundamentalmente inalteradas as proporções de “petistas” (em graus diversos), “antipetistas” (mais ou menos hostis ao partido) e “indiferentes” (os que não são uma coisa ou outra), cada qual com cerca de um terço do eleitorado. Vinte e cinco anos depois de o PT firmar-se nacionalmente e apesar de tudo o que aconteceu de lá para cá, pouca coisa mudou nesse aspecto.

Nessa análise, interessam-nos aqueles que “detestam o PT”. São 12% do total dos entrevistados. Esse contingente tem, claro, tamanho significativo. A existência de cerca de 10% do eleitorado que diz “detestar” um partido político não é pouco, mas é um número bem menor do que seria esperado se levarmos em conta a intensidade e a duração da campanha contra a legenda.

A contraparte dos 12% a detestar o PT são os quase 90% que não o detestam. Passada quase uma década de “denúncias” (o “mensalão” como pontapé inicial) e após três anos de bombardeio antipetista ininterrupto (do “julgamento do mensalão” a este momento), a vasta maioria da população não parece haver sido contagiada pelo ódio ao partido.

A pesquisa não perguntou há quanto tempo quem detesta o PT se sente assim. Mas é razoável supor que muitos são antipetistas de carteirinha. A proporção de entrevistados com aversão ao partido é maior entre indivíduos mais velhos, outro sinal de que é modesto o impacto na sociedade da militância antipetista da mídia.

Como seria de esperar, o ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea. Em termos regionais, atinge o ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no Nordeste (onde é de 8%). É maior nas capitais (no patamar de 17%) que no interior (4% em áreas rurais). É ligeiramente mais comum entre homens (14%) que mulheres (10%). Detestam a legenda 20% dos entrevistados com renda familiar maior que cinco salários mínimos, quase três vezes mais que entre quem ganha até dois salários. É a diferença mais dilatada apontada pela pesquisa, o que sugere que esse ódio tem um real componente de classe.

Na pesquisa, o recorte mais antipetista é formado pelo eleitorado de renda elevada das capitais do Sudeste. E o que menos odeia o PT é o dos eleitores de renda baixa de municípios menores do Nordeste. No primeiro, 21% dos entrevistados, em média, detestam o PT. No segundo, a proporção cai para 6%.

Não vamos de 0 a 100% em nenhuma parte. A sociologia, portanto, não explica tudo: não há lugares onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são petistas, por mais determinantes que possam ser as condições socioeconômicas. Há um significativo componente propriamente político na explicação desses fenômenos.

O principal: mesmo no ambiente mais propício, o ódio ao PT é minoritário e contamina apenas um quinto da população. Daí se extraem duas consequências. Erra a oposição ao fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista. Querer representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for vencer eleições majoritárias.

Erra o petismo ao se amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria do antipetismo radical. Só um desinformado ignora os problemas atuais da legenda. Mas superestimá-los é um equívoco igualmente grave.

domingo, 14 de junho de 2015

NOSSA VIDA PODE SER COMPARADA AO VINHO.

Sempre existiu a comparação entre jovens e velhos. As culturas determinam quem está em vantagem. No passado, a velhice vinha coroada de sabedoria. Hoje, ser jovem é símbolo do sucesso. A história da humanidade está cheia de jovens e velhos que venceram. E de jovens e velhos que fracassaram. A história registra crianças prodígios e idosos que amadureceram em sua arte.
Mozart, aos cinco anos, já compunha maravilhosas melodias. Sócrates, com 23 anos, confundiu o sofista Protágoras, com o dobro de sua idade. Isaac Newton, aos 21 anos, já elaborara a Lei da Gravidade. Santo Antônio morreu aos 36 anos e Santa Teresinha de Lisieux - doutora da Igreja - morreu com apenas 24 anos. Cristo morreu, aproximadamente, aos 33 anos. Mas temos brilhantes exemplos do outro lado. Santo Antão manteve-se lúcido até morrer aos 105 anos. Miguelângelo esculpiu a Pietá antes dos 30 anos e pintou o Juízo Final depois dos 80. Picasso fez obras primas aos 92 anos e Marc Chagall pintou, com maestria, até sua morte, aos 98 anos.
Existe também o outro lado, o da inutilidade. Há idosos amargos e jovens irresponsáveis. Há velhos com apenas 18 anos e há jovens depois dos 80. Não se trata de uma questão de tempo. É questão de escolha, bem ou mal feita.
Envelhecemos, em qualquer idade, se fecharmos os olhos ao novo, se o novo nos assusta e aposentamos nossos ideais. Envelhecemos quando pensamos demais em nós mesmos, em nosso comodismo e em nossos interesses. Somos velhos quando deixamos de lutar.
Estamos todos matriculados na escola da vida e o mestre se chama tempo. E esse mestre é um juiz inflexível. O passado serve como referência e não como desculpa. O carro precisa de retrovisor, mas é perigoso dirigir olhando para ele. A vida está em nossa frente. Na juventude aprendemos, na velhice compreendemos. Nossa vida pode ser comparada ao vinho. O tempo estraga os ruins e consagra os bons. Nos olhos dos jovens fulgura a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A idade, nós a criamos. Podemos ser jovens ou velhos. Não devemos contar a idade, mas festejar a vida. Nem a tristeza do passado, nem o medo do futuro, mas a alegria do presente. O romano Catão começou a estudar grego aos 80 anos. Quando questionado, justificou-se: se não o fizer agora, quando o farei?
O tempo de Deus é agora. Agora é o tempo de partilhar, de lutar, de ser feliz. Agora, se for o caso, é o tempo de recomeçar. À semelhança do bom ladrão, podemos amadurecer em qualquer idade, até nos cinco minutos finais. Afinal, você está vivo, não está?

sábado, 13 de junho de 2015

TUDO TEM UM TUDO.

Andei descobrindo que tudo na vida é encantar-se. Estar encantado é deixar-se possuir pela realidade que estamos contemplando, pela música que estamos escutando, pela pessoa com quem estamos conversando.
Encantar-se é esquecer-se para penetrar na realidade e nos fatos que estão diante de nós. É deixar de ser o centro de nós mesmos para que outro centro vá nos possuindo.
Estudei filosofia e me comunicaram que estudar filosofia é deixar-se encantar. Que todos os grandes filósofos e cientistas assim se tornaram porque se deixaram encantar por aquilo que se propuseram e pelo sonho que viam poder realizar.
Estudei teologia e me ensinaram que estudar teologia é encantar-se pelas coisas de Deus, que todos os santos se realizaram como santos porque se deixaram encantar por Deus e por tudo aquilo que manifesta Deus.
Assim fui aprendendo a me encantar. Apenas despertando para isso. Mas percebo que é o único caminho que satisfaz. É o único caminho que exercita para a liberdade. É o caminho do deixar-se possuir em vez de possuir. As pessoas de nossa sociedade não conseguem entender esse caminho pelo simples fato de que se deixam aprisionar pelo consumismo e pelo materialismo, pelo desejo de fama e de aparecer.
Estou descobrindo - outras pessoas já descobriram muito antes - que o desrespeito pela mãe e irmã terra se dá pela falta de encantamento. A flor já não vale pela beleza, pelo encantar-se pela sua beleza, mas pelo lucro que ela fornece. O pássaro faz pouca gente parar para escutar seu canto. Ele vale como comércio. Por isso existe o comércio dos pássaros. Não se planta um pinhão, que somente dará retorno daqui a vinte anos. É preferível plantar eucaliptos, que em poucos anos estarão respondendo à fome de lucro. Por mais que se fale em proteção de nossa terra, em não poluir as águas, em não colocar veneno na plantação, em não poluir o ar, a resposta é mínima. A pessoa materialista não fica sensibilizada com essas propostas. Em seu coração não há o encantamento, mas o desejo de ter e desfrutar o máximo em pouco tempo.
A pressa é resultado de quem não se encanta. Para encantar-se é preciso parar. É preciso ir devagar. Nenhum passageiro irá ver os pormenores das beiradas das estradas andando a cem por hora. E as pessoas, com vontade de tudo fazer e ter, correm a mais de cem por hora no dia-a-dia, chegando no final da jornada cansadas e chateadas.
Canta o poeta: “vou devagar porque tenho pressa”. Encantar-se é dar-se tempo para sentir o gosto da comida e do vinho. É sentar-se para saborear um livro ou um jornal. É dar-se tempo para uma caminhada e um conversa com as pessoas amigas. É sentar-se para tomar na mão as ações que se praticou, as emoções que se viveu, os encontros que se realizou. Encantar-se é perceber que neste universo - e mais ainda nesta terra - tudo tem seu sentido e sua beleza. Nada é por nada. Tudo tem um tudo.

TODOS QUEREM OS SEUS PRIVILÉGIOS.

O Brasil, em particular, e toda a América Latina em geral, salvo raríssimas exceções, vivem e convivem com uma grande perplexidade: economia, revestida de assimetrias, e alimentados pelo ódio com uma reservada luta entre classes.

Fazem a reforma política e mantêm o voto obrigatório... Necessitamos de uma contrarreforma... Escandaliza-nos a corrupção desenfreada, e os moralistas de plantão se permitem dizer que tudo passará depois das reformas e ajustes fiscais. Inflação em alta, desemprego de mais de um milhão de pessoas no primeiro semestre, a economia esfrangalhada e sem a perspectiva de reviravolta.

Aos corruptos que lesaram a pátria e mancharam a reputação das estatais defendemos que além das sanções penais e administrativas, durante cinco anos seguidos e ininterruptos sejam taxados na pessoa física e nas jurídicas, apenas os sócios ostensivos ou laranjas, em dez por cento sobre o patrimônio declarado e multa de cem por cento, cuja receita metade seria destinada para melhoria dos serviços públicos e a outra para as empresas vítimas de suas ações delituosas.

É supérfluo taxar o andar superior se o topo da pirâmide. Não nos mostra o bom exemplo e claudica em termos de governabilidade. Infelizmente estamos assistindo um momento delicado e assaz triste no qual legislativo e executivo se acusam, trocam farpas, mas não apresentam rumos de mudanças e alternativas para o País.

O segundo semestre será ainda mais problemático. As previsões já acenam... Não temos linhas de crédito e o pacote de infraestrutura de portos, aeroportos e ferrovias é muito incipiente para a grandeza do Brasil. O produto interno bruto será, e ninguém duvida, negativo, podendo chegar até 1,4% o que é catastrófico para um País das dimensões continentais e com uma população acima de 205 milhões de habitantes.

Partidos de oposição? Nenhum! Todos querendo seus privilégios. A permanência de cinco anos e a obrigatoriedade do voto é um curral eleitoral sem igual. Continuamos sendo tutelados e curatelados pelo velho Estado das capitanias hereditárias, e do cartorialismo aonde a burocracia vende dificuldades em troca da compra de facilidades.

O modelo não se sustenta, e todos sabemos que as esperanças de jovens e de trabalhadores se definham. Mais de 300 mil brasileiros foram aos EUA somente no primeiro semestre do ano, de acordo com estatísticas de vistos, passeios e viagens, mas o que preocupa é que boa parte se vai com intenção de não mais voltar, a comprovar que o Brasil não tem mais jeito, está tomado e dominado numa fogueira que ameaça se propagar para os quatro cantos da vida nacional.

As empresas estão dispensando em massa, licenciando, e reduzindo os investimentos. Além disso o endividamento do cidadão, a falta de liquidez, ausência de crédito, degringolam as esperanças de mudanças nas conjunturas da crise pública que afeta a iniciativa privada. Enquanto isso os juros sobem estratosfericamente acalentando a rentabilidade e o lucro das instituições financeiras, circulo vicioso sem igual na nossa situação atual.

A cada dia um escândalo diferente, diversos envolvidos, desvios de dinheiro público e o descrédito nas instituições, ao passo que o financiamento privado das campanhas representa retrocesso. Não há almoço de graça e quando cobram querem até a melhor sobremesa no prato da impunidade.

Ninguém acredita em sã consciência que teremos fôlego e campo de manobra. A tentativa de abertura do Mercosul para Europa demorou mais de uma década, e os americanos não estão entusiasmados com a visita de Dilma. Apenas duas personalidades podem mudar completamente o rumo da história: o presidente Barack Obama que tem sua jornada em término de mandato e o Papa Francisco. Ambos devem olhar e conclamar reformas, melhorias e mudanças pragmáticas para a sofrida, cansada e espoliada América Latina, cujos governantes representam o fosso da imoralidade e indecência.

Sem o pulso forte e firme de um líder político e outro religioso a tenebrosa situação se espalha com incontáveis ares de afetação da tessitura social e rompimento do tecido em algum momento mais agudo da crise.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

PARA OS NAMORADOS.

Dois namorados - Gustavo e Jocelane - universitários, pouco acima dos 20 anos, aguardavam o padre na secretaria paroquial. Assunto: casamento. Gostariam que o sacerdote presidisse seu casamento. Tomando a agenda, o padre aguardou dia e hora da cerimônia. O noivo esclareceu: quando o senhor tiver tempo, qualquer dia desses, qualquer hora... E como o padre continuasse sem entender, explicaram que pretendiam um casamento simples, sem festas. Eles namoravam há cinco anos e sabiam o que queriam. Estavam preocupados com aquilo que o casamento tem de sagrado e não com as exterioridades. Estavam preocupados com o quadro e não com a moldura.
Algumas semanas depois, numa pequena capela lateral disseram o sim um ao outro e ambos a Deus. Na lista dos convidados, apenas os pais, dois casais de padrinhos e o padre. Não houve fotógrafo, nem música, nem tapetes, nem vestido de noiva, nem banquete, nem curiosos. Mas, na realidade, não faltou nada. Passaram-se anos, a cegonha chegou e continuam cada vez mais felizes. Eles haviam construído sua casa sobre a rocha.
Na mesma igreja, mas no altar central, alguns dias após, outros dois jovens receberam o sacramento do matrimônio. Foi o casamento do ano. A igreja estava enfeitada com rosas e tulipas da Holanda e centenas de velas. Mais de 600 pessoas haviam sido convidadas para assistir ao espetáculo. O ambiente era de uma grande feira, com fotógrafos, cinegrafistas, aias, jornalistas e curiosos. Deslumbrados, os noivos não prestaram atenção à leitura do Evangelho que falava da casa construída sobre a areia. Depois houve uma grande festa, presentes e lua-de-mel em Arruba. Passaram-se apenas alguns meses e eles se separaram.
Na divisão dos presentes, ninguém quis ficar com o vídeo, que foi para o lixo. Nem mesmo chegou a ser visto pelos familiares. O mesmo destino tiveram as fotos com seus sorrisos forçados. Eles haviam dado atenção à moldura. Quadro e moldura, agora, foram para a lixeira.
O insuspeito jornalista da Veja, Stephen Kanitz, afirma: “O casamento é um momento de consagração de duas pessoas, de promessas que deverão ser lembradas e guardadas todo o dia e para sempre, não arquivadas numa fita magnética na última gaveta do armário menos acessível. O altar não é um lugar para ficar posando para fotógrafos, mas para refletir o que cada um está prometendo ao outro. A lembrança deste momento mágico deverá ficar registrada, mas na mente e no coração”.
Além de vocação humana, casamento é um projeto de Deus. Não se trata de um espetáculo para ser visto, mas um projeto para ser vivido. Não se trata de um show para o público, mas um compromisso pessoal marcado pela dimensão divina.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

ATÉ QUANDO? - TEXTO PARA UMA MENINA.

Você que é uma menina de apenas nove anos, que tem um corpo frágil e magrinho, cabelinhos compridos atados em rabo de cavalo. Você que deveria estar brincando com bonecas e, no entanto, teve sua infância brutalmente interrompida dentro de sua própria casa. Você de quem não sei o nome, mas de quem acompanhei a tragédia pelos jornais, televisão e toda a mídia disponível neste mundo que se excita de curiosidade com o sofrimento alheio.
Aquele que acabou com sua vida de menina vivia em sua própria casa e era marido de sua mãe. Mas ele não era uma pessoa normal e por isso, às escondidas como costumam agir os criminosos, além de ter sua mãe no leito, também para lá levava você e sua irmã mais velha, que além de ser menor é deficiente física. Abusava de vocês que, por medo ou por inocência, não se queixavam nem o descobriam diante de sua mãe. E o estupro silencioso continuava povoando a casa que devia ser de convivência familiar, transformando-a em bordel sem paga, usando duas menores para saciar a sede de sexo de um homem que não era marido nem padrasto e sim tarado e criminoso.
Você certamente não entendia nada do que estava se passando com seu corpinho de menina. Não entendia por que aqueles seios crescidos, as dores no ventre, o mal estar. Tinha medo de perguntar. Medo de ser mal compreendida, medo de apanhar, de ser castigada. Por isso calou até que as dores se tornaram insuportáveis e você se abriu com sua mãe, que constatou sua gravidez de gêmeos. Sua mãe que nunca desconfiou de nada, porque seu padrasto tratava você muito bem.
Eu acredito nela. São tão indefesas as mulheres diante do homem a quem amam e com quem vivem, muitas vezes. São tão impotentes para reconhecer que muitas vezes eles só querem fazê-las de ponte para usar as filhas menores que estão com elas. Não foi apenas sua mãe que sofreu esse horror. A grande atriz Mia Farrow teve que passar pela dor de ver seu marido, o talentosíssimo diretor Woody Allen, admitir que molestava sexualmente suas duas filhas - uma de 15 anos e outra menor ainda - e que ia separar-se dela para viver com a mais velha, uma linda vietnamita que os dois haviam adotado para criar e proteger.
Eu sei, querida, que mal de muitos não é consolo, a não ser de bobos. Seu caso, infelizmente, apenas engrossa estatísticas que já têm dimensões simplesmente terríveis. Por isso, quando todos celebram as conquistas da mulher emancipada no mercado de trabalho, na vida sexual e em não sei mais quantos terrenos, eu quero homenagear você. A mídia parecia não se interessar muito por sua pessoa. Estava mais preocupada em confrontar os médicos, o bispo, a polícia etc.
Eu estou preocupada com você. Gostaria de estar perto para poder abraçá-la, beijá-la, dizer-lhe que é uma pessoa amada e querida por Deus que a criou; que toda essa maldade que se abateu sobre você não pode destruir sua identidade de filha de Deus; que com a ajuda dele poderá superar tudo isso e transformar sua dor em ajuda, para que outras meninas não sofram o que você sofreu.
Como estou longe, não posso dar-lhe mais que esse texto. Que você o sinta como um afago, mesmo sem lê-lo. Que seu frágil corpinho nos sirva de ícone para lembrar-nos que enquanto a violência contra a mulher, sobretudo aquela que é menor de idade, for uma realidade tão constante em nosso país, não faz o menor sentido comemorarmos estatísticas que falam de libertação da mulher. As vítimas nos interpelam e a nossos discursos triunfalistas. Voltemo-nos para as prioridades que ainda não estão atendidas. E quando se virem os frutos, aí sim, poderemos celebrar.

E O CORAÇÃO PERMANECE O MESMO.

Vivemos grandes mudanças através da história e, ao mesmo tempo, permanecemos os mesmos. As pessoas se fazem as mesmas perguntas: quem sou, donde vim, para onde vai a humanidade, qual o destino humano? A humanidade muda em suas aparências, mas no seu interior permanece com as mesmas interrogações e inquietudes.
Há dois mil anos as pernas humanas eram indispensáveis. Apenas o cavalo e algum veleiro lhes davam extensão. Tudo era feito em caminhada e praticamente todas as atividades eram feitas a pé. Hoje, aeronaves, trens, carros, motocicletas e outros meios de transporte prolongam a atividade das pernas. E o coração permanece o mesmo.
Há dois mil anos as mãos e os braços eram essenciais para muitas tarefas. Os braços e os músculos eram fundamentais para produzir alimentos e para a sobrevivência. Hoje, a roda e os equipamentos de todos os tipos, a máquina de lavar roupa e todos os utensílios domésticos, os teclados e os sinais de digitação fazem o serviço com muita mais rapidez e eficiência. E o coração humano permanece o mesmo.
Há dois mil anos o homem enxergava apenas o horizonte. Hoje ele se multiplica no telescópio e microscópio, na televisão e na imprensa. Seus ouvidos escutam muito mais e sua fala se prolonga através do microfone e do rádio. Hoje não há limite para o som e a imagem. As imagens e os sons, que são gerados em qualquer parte do planeta, minhas mãos podem acolhê-los com um simples toque. E o coração humano permanece o mesmo.
Há dois mil anos o conhecimento era privilégio de poucas pessoas. O mesmo conhecimento era passado de pais para filhos, simplesmente na técnica do escutar e decorar. Hoje temos a maravilha da imprensa e a possibilidade de recolher todo o conhecimento humano em grandes bibliotecas, e mais recentemente ainda, na espetacular memória dos computadores e da internet. E o coração humano permanece o mesmo.
Há dois mil anos se morria de sarampo e de gripe. Hoje a medicina e os laboratórios prolongam a vida em muitos anos.
Porém, no meio de tantas mudanças, desde as pernas até o cérebro, em nada alterou o coração humano, que teimosamente continua com as mesmas angústias e incertezas, com os mesmos desejos de vida e de eternidade. A inquietação humana permanece. Na verdade, tantos triunfos da ciência e da tecnologia humana foram superficiais. Continua-se satisfazer o estômago, mas o coração e a mente humana continuam inquietos. Dominam-se as doenças e o corpo, mas não se consegue evoluir no domínio do comportamento humano.
Que ser é esse que continua sendo o grande mistério indecifrável e indomável perante a ciência e a técnica? Não haverá respostas para a ansiedade e a inquietação do coração humano? Qual a vantagem para o ser humano em possuir tantos meios que facilitam a comunicação e o viver se o coração permanece no mesmo ritmo de milhares de anos passados? Pelo que se constata, estamos ainda no começo da evolução global do ser humano. Tudo está por fazer.

terça-feira, 9 de junho de 2015

FATO É FATO.

Volúvel é o ser humano. Não se fixa em muitas coisas. Muitas vezes se fixa é no pecado, no qual não deveria perseverar enquanto abandona e trai a virtude, essa sim, motivo para perseverar. Não poucas vezes, o casal começa com juras de amor e de carinho eternos. Vem a dificuldade e um deles desiste. Pai ou mãe chora de emoção com o nascimento do filho no hospital. Vem um momento de dificuldade e ele ou ela acaba fugindo de casa, sem o filho por quem chorou no dia do nascimento.
O religioso se compromete, assume os votos. Vem a dificuldade e ele opta por outro caminho. Não estava mais aguentando aquele sacrifício. Descobriu que não estava pronto para tamanho peso.
Assim, os que trocam de empresa, de profissão, de amor, de família! Todos eles seguiram outro caminho, ou porque o achavam melhor ou porque o outro estava difícil demais.
Ninguém pode condenar alguém porque mudou. Sem conhecer todos os porquês, não há como emitir um julgamento. Na verdade, jamais conheceremos todos os porquês de uma pessoa.
Fato é fato. A nossa é uma sociedade em que pouco se favorece o dom da persistência e da perseverança. Pelo contrário, muitíssimas mensagens sugerem que sempre se busque o novo. Embutido na proposta, o conselho de que quando as coisas ficam difíceis não faz sentido continuar...
É graça que se deve pedir.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

HOJE FALEI DA MÃO. DA CABEÇA. VOU FALAR OUTRO DIA.

Desde criança tenho, como todo mundo, meus medos. Já foram maiores: medo de ver meu pai bravo, de ser obrigado a comer jiló, de tirar zero na prova de matemática. Medo, sob a ditadura, de me ver abordado por uma viatura policial. Medo, sob a chuva, de que meu barraco na favela, erguido à beira de um precipício, fosse levado pelas águas.
Hoje, coleciono outros medos. Um deles, medo da mão invisível do Mercado. Aliás, do que é invisível só não temo Deus. Temo bactérias e extraterrestres. As primeiras, combato com antibióticos.
Quanto aos extraterrestres, fiquei menos temeroso ao saber que o mais longo alcance no espaço conseguido por nossa tecnologia é atingido pelas emissões televisivas. Com certeza, ao captá-las, os exploradores interplanetários chegaram à conclusão de que na Terra não há vida inteligente...
Volto à mão invisível do Mercado. Onde ele a enfia? De preferência, no nosso bolso. Em especial, no dos mais pobres. Ela é invisível porque safada, como todo delito praticado às escondidas. Por exemplo, o Mercado pratica extorsão no bolso dos mais pobres através dos impostos embutidos em produtos e serviços. Tudo poderia nos custar mais barato se não fosse essa mão-boba que se imiscui no que consumimos.
Agora que o Mercado entrou em crise - pois a bolha que inflou estourou na cara dele - onde anda enfiando a sua mão invisível? A resposta é visível: no bolso do governo. Nos EUA, o Mercado, nos estertores da administração Bush (de infeliz memória), meteu a mão em US$ 830 bilhões e, agora, arranca mais US$ 900 bilhões da recém empossada administração Obama. Tudo pra enfiar essa fortuna no bolso furado do sistema financeiro.
Aliás, a mão invisível do Mercado ignora o bolso dos cidadãos. Viciada, sempre beneficia o bolso dos ricos. Minha avó advertia: “Veja lá, menino, onde põe esta mão!” E me obrigava a lavá-la antes de sentar à mesa. Acho que a mão do Mercado é invisível porque jamais se lava. Ao contrário, lava dinheiro sem se lavar da sujeira que a impregna. É o que deduzo ao ler a notícia de que, nos paraísos fiscais, a liquidez dos grandes bancos foi assegurada, nos últimos anos, graças aos depósitos do narcotráfico.
A mão pode ser invisível, mas suas impressões digitais não. Onde o Mercado bota a mão fica a marca. Sobretudo quando tira a mão, deixando ao relento milhares de desempregados, jogados na rua da inadimplência, enforcados em dívidas astronômicas.
O Mercado é como um deus. Você crê nele, põe fé nele, venera-o, faz sacrifícios para agradá-lo, sente-se culpado quando dá um passo em falso em relação a ele - ainda que a culpa seja dele, como no caso da compra de ações que ele lhe vendeu prometendo fortunas e, agora, elas valem uma ninharia.
Como um deus, só se pode conhecê-lo por seus efeitos: a Bolsa, o salário, a hipoteca, o crédito, a dívida etc. Ele se manifesta por meio de sua criação, sem no entanto se deixar ver ou localizar. Ninguém sabe exatamente a cara que tem e o lugar onde se esconde, embora seja onipresente. E mete a mão, a temida mão invisível, essa mão mais execrável que a de tarados que ousam enfiá-la sob a saia da mulher de pé no ônibus.
Nem adianta gritar: “Tira essa mão daí!” Apesar de a mão invisível manipular descaradamente nossa qualidade de vida, privilegiando uns poucos e asfixiando a maioria, dela ninguém se livra. Como é invisível, não se pode amputá-la. Só resta uma saída: cortar a cabeça do Mercado. Mas isso é outra história. Hoje falei da mão. A cabeça fica pra outro dia.

ELE SEMPRE DA MAIS DO QUE PEDIMOS;.

Já adiantado em anos, um velho camponês que levara uma vida exemplar, sentiu-se afetado pelo desânimo. Deus parecia não escutar suas preces. E ele externou seu ponto de vista a um velho e santo monge: “Por toda a vida invoquei a Deus com lágrimas nos olhos. Vivi uma vida pura. Servi aos amigos e desconhecidos da melhor maneira que pude. Mas Deus continua distante como sempre. Já estou começando a pensar que o tempo que eu dediquei a Deus foi um tempo perdido, um tempo jogado fora”.
O monge indicou, lá adiante, os campos cultivados e explicou: há dois tipos de lavradores. Há aqueles que sempre foram lavradores, semeiam todos os anos, mas nem sempre colhem. Por vezes é a seca, outras vezes a enchente, outras vezes ainda os insetos que impossibilitam a colheita. Isso pode continuar anos a fio. Mas eles não abandonam seus campos. Mas há outro tipo de lavrador: o que se entrega à agricultura com o único objetivo de conseguir lucros. E esse se deixa abater por uma única estação de seca.
E o mestre continuou: o verdadeiro discípulo nunca abandona suas orações e suas boas obras. Permanece firme, invocando o Senhor e servindo os irmãos. Ele canta louvores mesmo que não seja uma só vez abençoado com a visão do seu Deus. O caçador de pérolas mergulha muitas vezes seguidas no mar. Mesmo quando volta cansado e de mãos vazias não desespera. Mergulha de novo, de novo e de novo... na certeza que vai conseguir aquilo que busca. O peregrino, em busca de Deus, deve ser assim. Mais: deve redobrar os esforços. A demora não é recusa. Deus se mostra aos seus no tempo certo. Deus tem direito de dizer não. Ou, agora não. E Ele sempre dá muito mais do que pedimos. Ele dá a coisa certa, no tempo certo.
Desde Calvino, há cinco séculos, prospera a chamada Teologia da Prosperidade. Os seus seguidores exigem que Deus dê a eles a riqueza. Nesta ótica, Deus é um senhor cheio de bens. Os devotos se aproximam, não porque Ele é bom, mas para gozar seus favores. O foco de suas orações e suas ofertas não é Deus, mas seus tesouros. E a iniciativa é sempre deles. Eles dão um boi, mas esperam de Deus uma boiada.
Dentro da teologia calvinista, Deus mostra seu amor, dando bens materiais, sinal de predestinação. Quem é pobre, sempre nesta visão, não é amado por Deus. É natural que esse pensamento bata contra o Deus dos pobres, que “ouviu o clamor de seu povo”  e veio libertá-lo. Deus não quer, não precisa, de nossas esmolas. Mesmo porque não é mendigo. Ele quer nossa fidelidade, que se revela nos dois grandes mandamentos: amar a Deus e amar o próximo. De resto, Ele é nosso Pai. Precisamos um coração de filhos, que tem como pressuposto um amor incondicional. E que tem certeza nas surpresas do Pai, sem cobrar prazos e resultados.

SOMOS APENAS O COMEÇO DE UM GRANDE TUDO.

Leio livros. Entro em livrarias e vejo a quantidade enorme de livros nas prateleiras. Abro um, abro outro e fico com vontade de lê-los todos. Neles está a história da humanidade e da cultura de civilizações de todas as raças e épocas. Neles estão histórias de vidas que marcaram e transformaram a humanidade. Nos meus poucos anos de vida não consigo assimilar a sabedoria de todos eles. Preciso morrer para saber de tudo e de todos instantaneamente. Tudo estará em minha mente num aqui e agora.
Viajo por terras e cidades e tudo me parece tão grande e tão pequeno! Percebo que não conheço nada. Nada desta nossa terra e humanidade. Uma pirâmide, um monumento, um desenho numa caverna me falam de milhares de anos de história da humanidade. É o grande mistério da humanidade, cuja história são apenas algumas linhas de um livro infinito. Como penetrar na história dos maias e incas, dos chineses e africanos, que têm muitos milhares de anos? Como saber o que pensavam e faziam os seres humanos a noventa mil anos passados, a duzentos mil anos passados? Não sei nada disso e a humanidade apenas imagina, mas nada sabe da grande história da humanidade. Preciso morrer para, num aqui e agora, ter em minha frente todos os segredos da história de nossos antepassados.
Olho para o universo e fecho os olhos porque não aguento contemplar tamanha grandeza. Morando nesse grão de areia, que é nossa mãe terra, não dá para imaginar bilhões de astros, muito maiores que o sol, que formam esse universo infinito. Como conhecer os bilhões de galáxias e os buracos negros, que são de energia tão intensa que engolem em seu interior galáxias e estrelas? Não sabemos nada desse universo! Por isso, preciso morrer para estar em cada galáxia e estrela e poder ver a beleza e a grandiosidade do universo.
Vejo o pássaro voar e em minha mente a imaginação voa também. Por que o pássaro voa e eu não posso voar? Como desejo, e muito, estar dentro de um pássaro e ver do jeito que ele vê e tentar saborear a liberdade! É preciso morrer para saber porque há um urubu nas alturas espreitando uma carniça e um beija-flor sugando o néctar das flores.
Fico olhando para as crianças e os idosos e surgem em mim muito mais perguntas que respostas. O que pensa uma criança ao nascer? Cada pessoa começa ali sua história. História de frustrações e sucessos, de medos e coragem, de empreendimentos e desistências, de sonhos e fracassos, de vida e de morte. Como saber o que se passa em cada coração humano? Por que um ri e outro chora? Por que um luta para viver e outro faz tudo para morrer? Na verdade, não sabemos nada de nada. Somos apenas um começo de um grande tudo. Mas desde agora teimo e teimamos em saber e conhecer, porque sei que quanto mais alimento desejos, mais terei possibilidade de conquistá-los. Mas para saber e ter tudo em mim preciso morrer, porque esse meu corpo é um impedimento para chegar onde desejam chegar meus sonhos.

domingo, 7 de junho de 2015

QUEM DEFENDE A LIBERDADE DEFENDE TAMBÉM A LIBERDADE DO OUTRO.

O Senado dos Estados Unidos vota, a toque de caixa, uma nova lei que permita renovar a licença do governo norte-americano para espionar dados e movimentos de seus cidadãos sem necessidade de autorização judicial, expirada na semana passada, e de fazer o mesmo com cidadãos e autoridades estrangeiras – como fez com o Brasil e a Alemanha, entre outros países- mesmo depois das denúncias de Edward Snowden.

Na semana passada, os senadores haviam rejeitado a extensão do Patriot Act, considerado excessivamente rígido, promulgado pelo presidente Bush logo após os atentados terroristas de 11 de setembro.
O “establishment” norte-americano não suporta os diferentes, os rebeldes, os insatisfeitos, e precisa de uma lei que ajude a dominar e a manter sob rédeas seus próprios cidadãos, eliminando rapidamente qualquer contestação, como se viu no caso do Movimento Occupy Wall Street, em 2011.

Assim como precisa de leis que lhe permitam combater quem, em outros países, se opõe ao domínio norte-americano sobre o mundo.
Pródigos em usar o discurso da liberdade em defesa de seus interesses e dos interesses de suas grandes empresas e de seus donos, os Estados Unidos fazem questão de negar dois princípios fundamentais da liberdade humana: primeiro, o de que não se pode agredir, violentar, eliminar a liberdade, sob o pretexto de defendê-la, restringindo direitos, entre eles o de ir e vir e o da privacidade, de cidadãos que ainda não foram julgados ou condenados por seus supostos crimes.

O segundo, é o de que, quando se defende a liberdade, defende-se também o direito do outro a pensar, viver e agir de forma diferente àquela que pensamos, vivemos e agimos, na linha da afirmação incorretamente atribuída a Voltaire pela leitura do livro da escritora britânica Evelyn Hall a respeito do filósofo francês de que “eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo”.

Se os Estados Unidos procurassem entender melhor o mundo no lugar de confrontá-lo, e se despissem da condição de tutores iluminados nomeados por Deus para reger o planeta, aceitando a liberdade dos outros e suas eventuais diferenças com o espírito e o estilo de vida norte-americano, não teriam que espionar países teoricamente amigos ou teoricamente inimigos, nem precisariam de uma lei “antiterrorismo” para combater “terroristas” que eles mesmos “fabricaram” para destruir seus desafetos, como é o caso do Estado Islâmico.

sábado, 6 de junho de 2015

JULGADOS PELA ÉTICA DO AMOR.

Acena tem lugar numa grande cidade portuária. A praça está marcada pela diversidade: banca de revistas, vendedor de pipoca, crianças brincando e homens silenciosos, sentados nos bancos. No meio da praça dois fanáticos pregadores de seita neopentecostal ameaçavam os presentes com a ira divina. Depois de uma vida indigna, eles diziam ter encontrado Jesus. O fim está próximo, gritavam, Jesus virá em breve e com fogo e enxofre aniquilará os maus, mandando-os por toda a eternidade para o inferno.
Na praça portuária não podiam faltar algumas mulheres da chamada vida fácil. Alguém provocou uma delas: o que acha dos missionários, você não tem medo do castigo de Deus? Ela, com a simplicidade e a categoria de uma professora de teologia, garantiu: esse deus dos pregadores não é o meu Deus. O meu Deus é cheio de misericórdia, ama e perdoa os pobres e infelizes. Explicou ainda: não estou nesta vida porque quero, mas é a única chance que me restou para dar escola e alimentar minha filha, que eu não quero que seja como eu.
Ela disse mais: nas minhas tristes madrugadas, antes de deitar, ajoelho ao pé da cama, como minha mãe me ensinou, e peço proteção. Peço que me ajude a sair desta vida, peço, sobretudo, que ela esteja ao meu lado na hora de morte.
Jesus jamais rejeitou os pecadores, embora tenha tido palavras duras com os autossuficientes doutores da lei. Jamais teve uma palavra dura contra qualquer mulher. Ele foi combatido e crucificado pela hierarquia religiosa, os teólogos do tempo. Foi contra os fariseus, mestres e doutores da lei que Jesus proclamou: elas – as prostitutas – e os publicanos vos precederão no Reino de Deus.
Faz parte do bom senso e está no Evangelho a afirmação: quem muito recebeu, muito terá de prestar contas. As circunstâncias têm papel destacado na vida de todas as pessoas. Os pais, os mestres, os comandos iniciais da infância marcam profundamente uma existência. Muitas vezes, o espaço da liberdade é drasticamente reduzido. É por isso que Jesus aconselha: não julgueis e não sereis julgados. Para Ele, não existe nenhum caso perdido. As portas da misericórdia estarão sempre abertas. Deus sempre continuará amando seus filhos e filhas. O amor de Deus é infinito.
Mesmo assim é inteligente dar-nos conta que a duração de nossa vida é limitada. O tempo é um presente que Deus nos dá para nosso amadurecimento. E o tempo de Deus é hoje. E um dia, nossa vida será examinada, não pela ótica fria da lei, mas pela ótica do amor.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

LIBERDADE UM ASSUNTO VASTO, RICO E COMPLEXO.

Liberdade é assunto tão vasto, rico e complexo quanto o que representa na vida e para a vida das pessoas e da sociedade. Liberdade é uma questão básica que interessa a cada pessoa e toda a humanidade. Não é assunto só de ontem. Continua sendo de hoje e de sempre. Podemos dizer que a liberdade movimenta a história humana, tanto para o lado esperançoso quanto para o lado trágico.

A liberdade, como uma dimensão fundamental da pessoa, é um dos valores irrenunciáveis. Por ser uma dimensão sempre ameaçada e difícil de ser entendida e vivida, parece aumentar sempre mais a sensibilidade a tudo o que se refere à liberdade. O processo de autêntica libertação tornou-se o eixo central do empenho educativo, o tema diante do qual se confrontam os vários movimentos sociopolíticos, as ideologias e a religião.
De modo muito visível, especialmente entre os jovens, percebe-se o crescente desejo de um ambiente de espontaneidade e liberdade, reduzindo sempre mais os limites colocados à sua autonomia. Hoje busca-se com ansiedade o “tudo permitido”, a sensação das portas escancaradas e do aproveitamento máximo do momento. Junto a isso nota-se também a sensação do aumento de insegurança generalizada.
Com o ímpeto de buscar a liberdade facilmente se substitui o ideal de vida por ilusões provisórias, desgastando energias que deveriam ser investidas num projeto de vida e liberdade responsável. O certo é que não se pode viver sem liberdade. Se uma porta se fecha, tenta-se abrir uma outra. Se um caminho é barrado, busca-se outro ou se faz um atalho.
Não faltam provas de que a liberdade é uma força irresistível, tanto para a vida quanto para a morte. Basta ver as rebeliões contra as ditaduras, as ondas de violência e até mesmo a fuga no mundo das drogas. Diante de tão grande empreendimento que é o acontecer da liberdade surgem perguntas como estas:
- O que é mesmo a liberdade e qual o seu verdadeiro dinamismo?
- Como tornar-se verdadeiramente livres em nossos dias?
- Que forma de liberdade nos é oferecida, hoje?
- Que processo de libertação é o mais autêntico para nos tornar pessoas livres?
- Como tomar consciência das novas escravidões emergentes?
- Qual a proposta cristã de liberdade e como é possível torná-la conhecida?
Porque todos queremos ser livres, creio que vale a pena dar uma olhada a esta dimensão básica de nosso viver e de nossa convivência. Sendo assim, passaremos a dedicar alguns espaços “no coração da vida” para pensar juntos a liberdade.
Penso não ser demais pedir que o(a) leitor(a), ajude a fazer um caminho de sintonia e atenção diante dessa realidade tão sagrada e complexa
que é o dinamismo da liberdade. Entender-se
como seres livres, viver a liberdade e tornar-se livres é o empreendimento mais digno e permanente de nossa existência.
Conscientes de que nossa vida é única, irrepetível e intransferível, confirmaremos o amor para  nós mesmos ao darmos o merecido valor à liberdade.

SOMOS 7 BILHÕES DE PESSOAS: METADE VIVE ABAIXO DA FAIXA DA POBREZA.

A modernidade, período que se estendeu pelos últimos cinco séculos, está em crise. Vivemos, hoje, não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. No milênio que
começa emerge algo imprecisamente chamado de pós-modernidade, que imprime novo paradigma.
Na Idade Média, a cultura girava em torno da figura divina, na ideia de Deus. Na modernidade, centra-se no ser humano, na razão e em suas duas filhas diletas: a ciência e a tecnologia.
Um dos símbolos que melhor expressa esta passagem é a pintura de Michelangelo – A criação de Adão - no teto da Capela Sistina: Deus Pai, de barba longa, todo encoberto de mantos, representa o teocentrismo da época perante o homem desnudo, fortemente atraído para a Terra. O homem estende o dedo para não perder o contato com o transcendente, com o divino. A desnudez de Adão traduz o advento do antropocentrismo e a revolução que a modernidade representou em nossa cultura.
Episódio característico da modernidade ocorreu em 1682, quando mister Halley, baseado exclusivamente em cálculos matemáticos, previu que um cometa voltaria a aparecer nos céus de Londres dentro de 76 anos. Na ocasião, muitos o consideraram louco. “Quem, senão Deus, domina a abóbada celestial?”. Mister Halley morreu em 1742. Em 1758, o cometa, que hoje leva o seu nome, voltou a iluminar os céus de Londres. Era a glória da razão!
“Se é assim,” disseram, “se a razão é capaz de prever os movimentos dos astros como demonstraram Copérnico e Galileu - e depois Newton -, então ela haverá de resolver todos os dramas humanos! Porá fim ao sofrimento, à dor, à fome, à peste. Criará um mundo de luzes, progresso e felicidade!”
Cinco séculos depois, o saldo não é dos mais positivos. Muito pelo contrário. Os dados são da FAO: somos 7 bilhões de pessoas no planeta, das quais metade vive abaixo da faixa da pobreza, e 852 milhões sobrevivem com fome crônica.Há quem afirme que o problema da fome é causado pelo excesso de bocas. Em função disso, propõe o controle da natalidade. Oponho-me ao controle, e sou favorável ao planejamento familiar. O primeiro é compulsório, o segundo respeita a liberdade do casal. E não aceito o argumento de que há bocas em demasia. Nem falta de alimentos. Segundo a FAO, o mundo produz o suficiente para alimentar 11 bilhões de bocas. O que há é falta de justiça, partilha, e excessiva concentração da riqueza.
A crise da modernidade culmina no momento em que o sistema capitalista alcança a sua suprema hegemonia com o fim do socialismo, e adquire um novo caráter, chamado de neoliberal.
Quais as chaves de leitura dessa mudança do liberalismo para o neoliberalismo? Sob o liberalismo, falava-se muito em desenvolvimento. Na década de 1960, surgiu a teoria do desenvolvimento, que incluía também a noção de subdesenvolvimento.
A palavra ‘desenvolvimento’ tem certo componente ético, porque ao menos se imagina que todos devem ser beneficiados. Hoje, o termo é ‘modernização’, que não tem conteúdo humano, mas forte conotação tecnológica. Modernizar é equipar-se tecnologicamente, competir, lograr que a minha empresa, a minha cidade, o meu país, aproximem-se do paradigma primeiro-mundista, ainda que isso signifique sacrifício para milhões de pessoas.
O Mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Outrora, pela manhã nossos avós consultavam a Bíblia. Nossos pais, o serviço de meteorologia. Hoje, consultam-se os índices do Mercado...
Diante de um acontecimento inesperado, dizem os comentaristas econômicos: “Vamos ver como o Mercado reage”. Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, gritando pelo celular: “Não gostei da fala do ministro, estou irado.” E os telejornais destacam: “O Mercado não reagiu bem frente ao discurso ministerial”.
O mercado é, agora, globalizado,
move-se segundo suas próprias regras, e não de acordo com as necessidades humanas. De fato, predomina a globocolonização, a imposição ao
planeta do modelo anglo-saxônico de sociedade. Centrado no consumismo,
na especulação, na transformação do mundo em cassino global.
Diante da crise financeira que afeta o capitalismo e, em especial, direitos sociais conquistados nos últimos dois séculos, é hora de se perguntar: qual será o paradigma da pós-modernidade? Mercado ou a “globalização da solidariedade”?

terça-feira, 2 de junho de 2015

ESTÁ EM CRISE O PARADIGMA QUE IDENTIFICA A FELICIDADE

A pobreza já afeta 115 milhões de pessoas nos 27 países da União Europeia. Quase 25% da população. E ameaça mais 150 milhões de habitantes.
Na Espanha, a taxa de desemprego atinge 22,8%. Grécia e Itália encontram-se sob intervenção branca, governados por primeiros-ministros indicados pelo FMI. Irlanda e Portugal estão inadimplentes. Na Bélgica e no Reino Unido, manifestações de rua confirmam que “a festa acabou”.
Agora, o Banco Central da União Europeia quer nomear, para cada país em crise, um interventor de controle orçamentário. É a oficialização da ditadura econômica. Reino Unido e República Tcheca votaram contra. Porém, os outros 25 países da União Europeia aprovaram. Resta saber se a Grécia, o primeiro na lista da ditadura econômica, vai aceitar abrir mão de sua soberania e entregar suas contas
ao controle externo.
A atual crise internacional é muito mais profunda. Não se resume à turbulência financeira. Está em crise um paradigma civilizatório centrado na crença de que pode haver crescimento econômico ilimitado num planeta de recursos infinitos… Esse paradigma identifica felicidade com riqueza; bem-estar com acumulação de bens materiais; progresso com consumismo.
Todas as dimensões da vida – nossa e do planeta – sofrem hoje acelerado processo de mercantilização. O capitalismo é o reino do desejo infinito atolado no paradoxo de se impor num planeta finito, com recursos naturais limitados e capacidade populacional restrita.
A lógica da acumulação é mais autoritária que todos os sistemas ditatoriais conhecidos ao longo da história. Ela ignora a diversidade cultural, a biodiversidade, e comete o grave erro de dividir a humanidade entre os que têm acesso aos recentes avanços da tecnociência, em especial biotecnologia e nanotecnologia, e os que não têm. Daí seu efeito mais nefasto: a acumulação ou posse da riqueza em mãos de uns poucos se processa graças à desposessão e exclusão de muitos.
A questão não é saber se o capitalismo sairá ou não da enfermaria  em condições de sobrevida, ainda que obrigado a ingerir remédios cada vez mais amargos. A questão é saber se a humanidade, como civilização, sobreviverá ao colapso de um sistema que associa cidadania com posse e civilização com paradigma consumista anglossaxônico.
 Ninguém ignora que esta casa que habitamos, o planeta Terra, sofre alterações climáticas surpreendentes. Faz frio no verão e calor no inverno. Águas são contaminadas, florestas devastadas, alimentos envenenados por agrotóxicos e pesticidas.
O resultado são secas, inundações, perda da diversidade genética, solos desertificados… Há na comunidade científica consenso de que o efeito estufa e, portanto, o aquecimento global, resulta da ação deletérea do ser humano.
Todos os esforços para proteger a vida no planeta têm fracassado até agora. Em Durban, em dezembro de 2011, o máximo que se avançou foi a criação de um grupo de trabalho para negociar um novo acordo de redução do efeito estufa… a ser aprovado em 2015, e colocado em prática em 2020!
Enquanto isso, o Departamento de Energia dos EUA calculou que, em 2010, foram emitidas 564 milhões de toneladas de gases de aquecimento global. Isto é, 6% a mais do que no ano anterior.
Por que não se consegue avançar? Ora, a lógica mercantil impede. Basta dizer que os países do G8 propõem não salvar a vida humana e do planeta, mas criar um mercado internacional de carbono ou energia suja, de modo a permitir aos países desenvolvidos comprar cotas de poluição não preenchidas por outros países pobres ou em desenvolvimento.
E o que a ONU tem a dizer? Nada, porque não consegue livrar-se da prisão ideológica da lógica do mercado. Propõe, portanto,  uma falácia chamada “Economia Verde”. Acredita que a saída reside em mecanismos de mercado e soluções tecnológicas, sem alterar as relações de poder, reduzir a desigualdade social e criar um mundo ambientalmente sustentável no qual todos tenham direito ao bem-estar.
Os donos e grandes beneficiários do sistema capitalista – 10% da população mundial – abocanham 84% da riqueza global e cultivam o dogma da imaculada concepção de que basta limar os dentes do tubarão para que ele deixe de ser agressivo…


segunda-feira, 1 de junho de 2015

A VIDA É A VERDADEIRA FACULDADE.

Num pequeno povoado, ao sopé da montanha, muito se falava de um grande sábio que vivia solitário na floresta. Dizia-se que ele tinha soluções para tudo e seus conselhos conduziam à felicidade. Não era fácil encontrá-lo, pois ninguém sabia, com certeza, onde residia. A notícia chegou aos ouvidos do homem mais poderoso do lugar. Decidiu encontrar o sábio, custasse o que custasse, e escutar seus conselhos, que lhe dariam mais riquezas e poder.
Depois de muito procurar, no alto da montanha, encontrou um camponês, que cuidava de algumas ovelhas. Certamente, pensou o peregrino, ele tem alguma pista do sábio. Certamente reside num palácio, cercado de livros e jardins.
O camponês o acolheu com afabilidade e disse que tinha as informações que ele procurava. Convidou-o a entrar em sua cabana e ofereceu-lhe um copo da água pura da montanha. Depois convidou-o para uma caminhada pelos arredores. Isso o incomodou. Não estava interessado em passeios, queria ver o sábio. Mesmo assim, acompanhou-o com receio de perder uma pista preciosa.
Ao retornar, o visitante foi informado que seu tempo estava esgotado. Indignado reclamou: mas eu nem vi o Mestre, preciso falar com ele! Com tranquilidade, o morador da montanha disse-lhe: comece a dar atenção a todos os que você encontrar na vida. Todos têm muito a ensinar, mas para aprender é preciso estar de olhos, coração e mente abertos. E concluiu: se você se fechar em suas ideias e teimosias, mesmo que o homem mais sábio do mundo passe por você, não o reconhecerá. Anos depois, envelhecido e doente, o nobre deu-se conta que havia encontrado o sábio, mas não havia aproveitado a chance.
Todos nascemos sem maiores conhecimentos. Apenas o instinto nos guia no início da vida. Depois começamos um lento aprendizado, que começa bem antes da escola. A vida é a verdadeira universidade que pode nos dar a desejada sabedoria. Pais, sacerdotes, professores têm papel importante, mas não fornecem a ninguém toda a sabedoria. A partir de certo momento é a própria pessoa que assume as rédeas da vida. O mesmo fato pode ser desprezado por uns e aproveitado por outros. Por intolerância, por ideias fixas ou caprichos, perdemos preciosas oportunidades de conhecimento e crescimento.
Quando o jovem rei Salomão subiu ao trono de Israel pediu a Deus sabedoria para governar seu povo e distinguir o bem do mal. Deus atendeu seu pedido e deu-lhe um coração sábio. Isso implica em saber e amar. Pessoas muito inteligentes passaram pelo mundo sem deixar marcas. Outras pessoas, aparentemente menos sábias, modificaram a história. Hoje muito se fala em inteligência emocional. É a sabedoria do coração.