quinta-feira, 12 de setembro de 2013

PLANTAR UMA ÁRVORE.

Manhã de primavera. Árvores floridas, paisagens ensolaradas, perfumes, pássaros, borboletas marcavam a sinfonia da vida que renasce e se renova no milagre continuado da criação. Dois empregados estavam trabalhando num campo. Um deles abria uma grande cova, o outro enchia a cova com terra, não esquecendo de colocar um pouco de adubo, folhas secas e um pouco de água. E o gesto era repetido.
Um senhor, que passava pelo local, ficou intrigado com o fato. Um dos trabalhadores deu-lhe a explicação. Na realidade, a equipe deveria ser de três pessoas: a primeira abria a cova, a segunda plantava uma muda de árvore e a terceira colocava a terra e o adubo. Mas um deles - o que colocava a plantinha - adoeceu e não compareceu ao trabalho. Os outros – com noção do dever - faziam a sua parte.
A pequena história nos lembra uma comédia do imortal Charles Chaplin, quando ridicularizou o início da fabricação em série. O operário desempenhava pequena tarefa, sem saber o resultado da obra. A automação pode servir para fins industriais, mas é péssima para a vida. E isso porque conduz à rotina, que é uma anemia perigosa. Aparentemente não dói, não chama a atenção, mas pode levar à morte.
A vida é dinamismo, é paixão. De alguma maneira, a criação do mundo se renova a cada dia. Os antigos gregos diziam que ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio. É a lei do movimento e da renovação. Tudo o que não se renova, morre. Ou continua apenas na aparência. É mais um dia, é mais um beijo, é mais um sorriso que nada significam. Foram atingidos pela doença mortal da rotina. Ela empobrece os melhores gestos. Eles acontecem, mas sem alma, sem intensidade. Se não acontecessem seria a mesma coisa.
Numa antiga sacristia, uma frase chamava a atenção do sacerdote enquanto colocava os paramentos sagrados para a celebração: Deves celebrar esta missa como se fosse a primeira, a única, a última da vida. Essa filosofia convida a dar toda intensidade àquilo que estamos fazendo. O Livro dos Salmos insiste numa atitude: é preciso cantar um canto novo. Isso não significa um canto que acaba de ser composto. Significa dar uma intensidade única a um canto, que já pode ter sido cantado mil vezes.
Cada sorriso, cada aperto de mão, cada bom-dia, cada beijo, cada prece precisa ter a intensidade da primeira, da última e da única vez. Fernando Pessoa lembrava que o valor de um gesto depende da intensidade de que está revestido e concluía: “Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. É por isso que a vida pode – e precisa ser – sempre nova. Vivemos a primeira manhã do mundo. Não esqueça de plantar a árvore.

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