quinta-feira, 8 de outubro de 2020

SABEDORIA MILENAR.

 


O líder indígena e escritor Ailton Krenak foi o vencedor do 62º Troféu Juca Pato, prêmio literário brasileiro concedido anualmente pela União Brasileira de Escritores (UBE). Krenak foi escolhido, por meio de votação, para receber a homenagem de “Intelectual do Ano”.

"Se enxergamos que que estamos passando por uma transformação diz ele, teremos que admitir que nosso sonho coletivo de mundo e a inserção da humanidade na biosfera terão que se dar de outra maneira. Nós podemos habitar este planeta, mas deverá ser de outro jeito. Senão, seria como se alguém quisesse ir ao pico do Himalaia, mas pretendesse levar junto sua casa, a geladeira, o cachorro, o papagaio, a bicicleta.”

Seguindo a tradição milenar, o filósofo indígena transmite seu pensamento pela oralidade e, posteriormente, suas falas são convertidas em textos “escritos”. São mensagens diretas, que abalam as estruturas que sustentam nossa sociedade. “Quem sabe a própria ideia de humanidade, essa totalidade que nós aprendemos a chamar assim, venha a se dissolver com esses eventos que estamos experimentando. Se isso acontecer, como é que os caras que concentram a grana do mundo — que são poucos — vão ficar? Quem sabe a gente consiga tirar o chão debaixo dos pés deles. Porque eles precisam de uma humanidade, nem que seja ilusória, para aterrorizarem toda manhã com a ameaça de que a bolsa vai cair, de que o mercado está nervoso, de que o dólar vai subir. Quando tudo isso não tiver sentido nenhum — o dólar que se exploda, o mercado que se coma! —, aí não vai ter mais lugar para toda essa concentração de poder. Porque a concentração, de qualquer coisa, só pode existir num determinado ambiente.”

É bonito ver Aílton Krenak colocando na prática a fruição da vida que ensina, sem a especialização castradora pregada pelo mercado e seus coachs, onde você escolhe (ou é escolhido pela necessidade) uma profissão quando está saindo da adolescência e tem que se especializar nela pelo resto da vida, até se aposentar o mais idoso possível como um “apertador de parafusos sênior”, pronto para morrer. “Talvez o que incomode muito os brancos seja o fato de o povo indígena não admitir a propriedade privada como fundamento.”, escreve Aílton.


Companhia das Letras

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