sábado, 12 de abril de 2014

É PRECISO TIRAR TEMPO PARA LER, O TEMPO EXISTE.

Vivo numa cidade onde há treze farmácias e uma livraria. Sei que não é diferente em outras cidades. Sei que há outros estabelecimentos com nome de livraria, mas que na verdade poderiam ser chamados de papelaria, cadernaria, brinquedoria e outros nomes que se queira dar, porque o recanto dos livros ocupa apenas cinco por cento do espaço. Todo o espaço é ocupado com material escolar, brinquedos, cartões, plásticos etc.
As farmácias têm seu lugar e o nome que levam também é enganoso. Um engano sadio. Têm cara de farmácia, mas seu conteúdo e espaço são muito mais dedicados a material de higiene do corpo e a cosméticos. É o povo que vai nesse caminho. É cosmético para todo tipo de gente. É ridículo, mas uma menina de oito anos já estar envolvida em cosméticos parece mascarar o lindo rosto de quem tem tudo de beleza.
As livrarias estão vazias, mas não são elas as culpadas. A culpa está na mente doentia do povo. O povo tem uma mente vazia e não sente fome de leitura. Não sente fome de conhecimento. É como sentar-se numa mesa cheia de alimentos saborosos, mas não sentir vontade de comer. Ler não dá lucro imediato. A mentalidade geral é que gastar dinheiro em livros é jogar dinheiro fora. É preferível gastar dinheiro em cerveja e festa. E as cabeças e os corações permanecem vazios.
Vazias estão as livrarias de conteúdo. Lembro do professor de Sofia, no saboroso livro O Mundo de Sofia, menina de quinze anos, que entra numa livraria com o professor. O professor conduz Sofia para uma determinada estante de livros e diz: Sofia, aqui estão os livros de pornografia. Ela olhou e não viu nem mulher nua e nem figuras escandalosas. O professor continuou: aqui estão os livros de pornografia mental. Olhe bem, menina! São todos livros de “autoajuda, vidas passadas, anjos e demônios, astrologia, numerologia e tantos outros assuntos que alienam as mentes humanas.” Na verdade, o próprio livro se tornou objeto de consumo. É como novela. Vai se conduzindo o conteúdo ao sabor dos telespectadores. Assim os livros. São pensados e escritos em vista do consumo e do filme que vai ser produzido para se ter mais lucro.
A imagem está sufocando os livros. Há mais farmácias que livrarias. Mas, também há demais videotecas. Há muito mais lojas de videogames, DVDs e filmes do que livrarias. Passa-se muito mais tempo vendo filmes e videogames do que com livros na mão. Tudo é útil e gostoso. Mas tudo no seu tempo. A nova geração está sendo educada pela imagem e dentro da imagem. Como vai ser uma vida dirigida pela imagem? Não se sabe. Sabe-se que a capacidade de refletir e raciocinar está diminuindo. A pessoa humana continua sendo o único ser que tem o privilégio de usar a razão. Perdendo essa capacidade estará se igualando aos outros seres.
É preciso dar-se tempo para ler. O tempo existe. É questão de preferência. É certo que o ato de ler faz nossa mente crescer. Nosso mundo pessoal se tornar grande. Cada livro que leio é uma nova pessoa que entra em mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário