quarta-feira, 7 de maio de 2014

ESSA SOCIEDADE MERECE VIVER?

Todos estão conscientes de que os integrantes do G-20, por mais importantes que sejam, não conseguem representar os demais 172 países onde vivem as principais vítimas das turbulências atuais. D’Escoto pretende nos dias 1º, 2 e 3 de junho reunir na Assembleia da ONU todos os chefes de estado dos 192 países membros para juntos buscarem caminhos sustentáveis que atendam toda a humanidade e não apenas aos poderosos.
O mais importante, entretanto, reside na atmosfera que criou de diálogo aberto, de sentido de cooperação e de renúncia a toda a violência na solução dos problemas mundiais. Sua sala de trabalho está coberta com os ícones que inspiram sua vida e sua prática: Jesus Cristo, Tolstoi, Gandhi, Sandino, Chico Mendes entre outros. Todos o chamam de Padre, pois continua padre católico, com profunda inspiração evangélica. Ele é homem de grande bondade que lhe vem de dentro e que a todos contagia.
Foi sob sua influência que o presidente da Bolívia Evo Morales pôde propor à Assembleia Geral que se votasse a resolução de instaurar o dia 22 de abril como o Dia Internacional da Mãe Terra, o que foi aceito unanimemente. 
 Tudo isso parece natural e óbvio e de um humanismo palmar. Entretanto - vejam a ironia, representantes de países ricos acham o comportamento do padre muito esquisito. Apareceu há pouco tempo um artigo no Washington Post fazendo eco a esta qualidade. Dizia o articulista que Miguel d’Escoto fala de coisas estranhíssimas que nunca se ouvem na ONU tais como solidariedade, cooperação e amor. Em seus discursos saúda a todos como irmãos e irmãs. Mais estranho ainda, diz o articulista, é o fato de que muitos representantes e até chefes de estado como Holande estão assumindo a mesma linguagem estranha.
Meu Deus, em que nível do inferno de Dante nos encontramos? Como pode uma sociedade construir-se sem solidariedade, cooperação e amor, privada do sentimento profundo expresso na Carta dos Direitos Humanos da ONU de que somos todos iguais e por isso irmãos e irmãs?
Para um tipo de sociedade que optou transformar tudo em mercadoria: a Terra, a natureza, a água e a própria vida e que coloca como ideal supremo ganhar dinheiro e consumir, acima de qualquer outro valor, acima dos direitos humanos, da democracia e do respeito ao ambiente, as atitudes do Presidente da Assembleia da ONU parecem realmente estranhíssimas. Elas estão ausentes no dicionário capitalista.
Devemos nos perguntar pela qualidade humana e ética deste tipo de sociedade. Ela representa simplesmente um insulto a tudo o que a humanidade pregou e tentou viver ao longo de todos os séculos. Não sem razão está em crise que, mais que econômica e financeira, é crise de humanidade. Ela representa o pior que está em nós, nosso lado demens. Até financeiramente ela se mostrou insustentável, exatamente no ponto que para ela é central.
Esse tipo de civilização não merece ter futuro nenhum. Oxalá Gaia se apiede de nós e não exerça sua compreensível vingança. Mas se por causa de dez justos, consoante a Bíblia, Deus poupou Sodoma e Gomorra, esperamos também ser salvos pelos muitos justos que ainda florescem sobre a face da Terra.

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