terça-feira, 10 de maio de 2016

UM BILHETE PREMIADO,

O casamento se constitui no mais arrojado e ambicioso projeto que duas pessoas podem assumir. Num passado recente, se admitia: casaram e foram felicidades para sempre. Trata-se de uma loteria, onde todos os números são premiados. E o prêmio é a felicidade. Deus não nos criou para a solidão, mas para a comunhão. Sua história começa já nas primeiras páginas da Bíblia. Vinicius de Morais garantia que a vida é a arte dos encontros.

A prática mostra que muitos destes encontros acabam em desencontros. No Brasil acontecem mais de 140 mil divórcios por ano. Isto a partir do ordenamento jurídico.

O casamento cristão foi elevado à dignidade de sacramento. Trata-se de arquitetura humana e divina. Todos os cuidados devem ser assumidos para que o projeto dê certo. E este projeto desenvolve-se em três tempos: antes, durante e depois.

Por vezes são cometidos equívocos em relação ao antes e depois, não respeitando as etapas. Outro equívoco é apostar tudo no durante, que dura pouco mais de meia hora,

O antes do casamento deve ter razoável duração - dois ou três anos. É o tempo de organizar o projeto a dois, é tentar construir comunhão de vida. É tempo de deixar-se conhecer e conhecer o outro. É tempo de educação mútua. Não se trata apenas de sonhar, mas entram coisas muito práticas: onde vamos morar, qual será nosso orçamento, quando e quantos filhos planejamos ter? É interessante também esboçar o tipo de relacionamento do casal com a família de cada um.

Quando o projeto está maduro, vem o segundo momento. É o durante. É o menos importante. É meia hora de sonhos e representação. Cada pequeno detalhe é longamente preparado. Trata-se de dizer sim ao projeto sonhado. É um momento fugidio, eternizado num vídeo ou em fotografias.

Os convidados vão embora, a festa termina, as luzes se apagam e começa o terceiro tempo, que não deve terminar nunca. É o depois que deve transfigurar o cotidiano. É a hora de implementar as linhas mestras do projeto. É a hora de transformar o sonho em realidade. É a hora da rotina, que precisa ser transformada em eterna novidade.

O Evangelho lembra duas possibilidades: construir sobre a areia ou sobre a rocha . A areia lembra o comodismo, as aparências, o caminho fácil. Constroem sobre a areia os que pensam e dizem: nós nos amamos e isto basta. Construir sobre a rocha implica em conhecer e aceitar a realidade do outro. Implica em continuar conversando, um cuidando do outro, implica a necessidade de perdoar e pedir perdão. Implica em parar e perguntar-se: onde estão os nossos sonhos, onde erramos, quais as soluções? Não se pode rasgar ou jogar fora o bilhete: ele é premiado.

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