quarta-feira, 9 de março de 2016

HOSTÓRIA E MITOS

Contar histórias é da cultura humana. Desde a infância ouvimos nossos pais contarem histórias. Com sabedoria, seriedade e serenidade contavam histórias em linguagem de fácil compreensão. É verdade que entremeado às histórias falavam também do juízo e do castigo divino. Embora a infância tenha ficado distante, as lições permanecem na memória. Orientam e iluminam nossos passos na vida. É desafio hoje recuperar essa conversa pedagógica familiar, algo de imprescindível felicidade.

É preciso lembrar que em realidade familiar pobre e humilde a criança de outrora vivia ouvindo belas histórias ao redor da mesa, do fogão e no caminho da roça. Todos os enredos visavam transmitir ensinamentos e conselhos para os filhos vencerem na vida com dignidade e com moral. Em mundo corruptível que impede o dar-se conta das coisas de que não se pode abrir mão, se faz necessário discernimento do essencial e prioritário. Do contrário, corre-se perigo de viver sem a finalidade da qual a vida consiste.

Uma narrativa da mitologia grega ajuda a recordar o imprescindível para a vida. É o mito de Sísifo. A narrativa grega inspirou o autor francês Albert Camus (1913-1960), que em 1941 escreveu O Mito de Sísifo, obra na qual introduziu sua filosofia do absurdo, sobre um homem fútil em busca do sentido da vida num mundo ininteligível, sem Deus e sem eternidade. Sísifo é um pastor de ovelhas e filho de Éolo, o deus dos ventos. Sísifo era considerado a pessoa mais ardilosa que já existiu em sua cidade, Corinto. Porém, em sua esperteza pretendia driblar a frágil natureza humana.

Diante desta pretensão de Sísifo, a mitologia narra sobre os absurdos aos quais a vida humana se submete. O absurdo de Sísifo é, por ter dedurado Zeus, deus do Olimpo, submeter-se a passar o resto da vida no subterrâneo onde vivem os condenados. Para libertar-se do castigo é obrigado a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma alta montanha. Porém, quando chegava perto do topo, por meio de uma força irresistível a pedra rolava montanha abaixo até o ponto de partida. Sem sucesso, repetia isto diariamente, milhares de vezes e quando estava para alcançar o topo a pedra novamente retornava para o ponto de partida. E o povo vendo o absurdo a que Sísifo foi submetido aprendeu que ninguém devia enganar a morte. Isto é, ninguém tente ser deus, viver eternamente neste mundo.

O mito denuncia que a pretensão humana de reduzir o mundo a um princípio racional é um verdadeiro absurdo. Em tempo no qual se privilegiam os bens, as posses, o capital e o consumo, conduzir-se neste princípio é absurdo. O enfrentamento deste absurdo só pode ser dado pelo próprio homem, libertar-se desta condição que lhes é insuflada inúmeras vezes pelos pais ausentes, que não tem tempo de contar histórias edificantes, pois estão ocupados com privilegiar os bens, o capital, o consumo.

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