quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

POR UM MUNDO SEM CALENDÁRIOS


Muita gente me disse esta semana que o ano de 2013 ainda não começou. Primeiro de janeiro é uma data simbólica, mas o Brasil só engrena num novo ano um pouco depois. Para uns, é uma semana, para outros, o ano começa com o fim das férias, e para muitos e muitos o ano começa no Brasil só depois do Carnaval.
Há quem ache que esta história do ano novo ser depois do Carnaval começou na Bahia, com as festas que se iniciam em 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, se estendem por dezembro, depois janeiro, passando por muitas festas, como a da Lapinha e a do Bonfim, e só encerram com o Carnaval, que aliás é meio espichado. Foi-se o tempo em que o Carnaval terminava na terça-feira.
Mas isso do baiano ser festeiro é só meia verdade. Pelo menos hoje em dia, baiano trabalha muito.
De qualquer jeito, podemos dizer que o ano novo em primeiro de janeiro é uma formalidade. Se considerarmos a volta do país funcionar, a data varia.
Mas isso não devia ser encarado como algo errado, a escolha do primeiro de janeiro é mesmo uma formalidade iniciada na Europa e espalhada no mundo. Para muitos povos, o início de um novo ano começa em datas diferentes, e em boa parte deles a data é móvel, se baseia no calendário lunar ou outro qualquer.
E mesmo a contagem dos anos é diferente, o 2013 é uma contagem cristã, a partir do suposto nascimento de Jesus Cristo.
Vejamos os judeus… Para eles, o Ano Novo, a que chamam Rosh Hashaná ― expressão que significa “cabeça do ano” ― é uma data móvel. O próximo ano novo deles vai ser em 5 de setembro, quando começará, para os judeus, o ano 5774.
Para os chineses, que também têm uma data móvel para o ano novo, em 10 de fevereiro começará o ano 4711, e ano da cobra, pois eles homenageiam cada ano dando a ele a representação de um animal. São 12 os animais que teriam atendido a um chamado pelo Buda, para uma reunião. Gozado é que o dragão é um desses animais. Pela seqüência, os animais que dão nomes aos anos são o rato, o búfalo (ou boi), tigre, coelho, dragão, cobra, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e porco.
Para os povos islâmicos, o ano 1435 ano se iniciará em 14 de novembro. Eles contam os anos a partir da Hégira, nome que se dá à fuga de Maomé de Meca para Medina, no ano 622 da era cristã.
Bom… Até séculos podem começar fora da data oficial. Para alguns historiadores, o século XX, por exemplo, começou de fato com a Primeira Guerra Mundial, em 1914. E ouço muita gente falando também que o século XXI começou de fato em 11 de setembro de 2001, data do atentado contra as torres gêmeas de Nova York.
Mas bom mesmo é gente tão despreocupada que não conta os anos e nem mesmo os dias. Não estou falando dos nossos índios, mas de um povoado que já foi muito importante em Minas Gerais. Chama-se Desemboque, fica no município de Sacramento, teve uma população grande enquanto se explorava ouro, e é considerado um centro de formação da cultura mineira. Com o fim do ouro, foi-se esvaziando. Hoje restam algumas dezenas de casas e uma população minúscula.
Certamente, hoje contam os dias e os anos lá, mas não foi sempre assim.
Na década de 1960 ouvi um ator contar uma história, de que estava com esgotamento nervoso, nome que se dava na época ao que hoje chama-se estresse, e queria um lugar bem calmo pra descansar.
Foi então levado por um amigo, que acho que era o Lima Duarte, que nasceu lá, para passar um tempinho no Desemboque.
Um dia, de manhã, o cara perguntou ao amigo se era quarta ou quinta-feira, e o amigo não sabia. Bateu a curiosidade e perguntaram pro pessoal que os recebia, mas eles também não sabiam. Perguntaram ao vizinho, que nem ligava pra isso. Foram de casa em casa, ninguém sabia que dia da semana era.
Com aquela ânsia de querer saber que dia era, coisa de quem dá importância a datas, o que não acontecia lá, acabaram contratando um cavaleiro para ir à cidade só para perguntar em que dia da semana estavam e voltasse.
Ô, lugar que era bom de se viver!
Uma vez, já faz mais de uma década, fui passar o Carnaval na minha terra . Encontrei um amigo  que trabalhava numa TV da capital  e perguntei:
– E daí cara, te deram folga no Carnaval? Nessa época uma equipe reduzida de televisão, como a sua, não dá folga pra ninguém.
– Pedi demissão – respondeu calmamente.
Sabendo das dificuldades para jornalista arrumar emprego na região, ainda mais para alguém especializado em jornalismo televisivo, quis saber que projetos ele tinha.
Mais calmamente ainda, naquela sexta-feira modorrenta do início de fevereiro, ele respondeu:
– Vou descansar esse restinho de ano.

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