sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ESPERAR QUE ACONTEÇA OU FAZER?

Difícil a inspiração ao pensar no novo ano. Difícil porque se termina em geral o ano com o cansaço acumulado de tudo o que foi vivido, trabalhado, sofrido e frustrado, defraudado, perdido. E, no entanto, é preciso tentar animar-se, reerguer-se, preparar-se.
E como viver este ano novo sem esperança? Sem essa expectativa de que tudo será melhor, como enfrentar a longa sucessão de mais de 300 dias que se desdobra à nossa frente? Como acolhê-la, saudá-la? 
O fato é que, como dizia o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, “Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que, por decreto de esperança, a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”]
Pois então vamos lá. Sigo o poeta e penso: em lugar de esperar que aconteça, o que devo fazer para que o ano seja novo? O que em mim tem que nascer, renascer, ser recriado para que o ano tenha cheiro e gosto de manhã e não sabor murchado e dormido de anteontem? 
Creio que a primeira coisa é sacudir a poeira dos hábitos e acomodações instalados em meu interior. Com a idade vamos ficando ranzinzas, acostumados a certas coisas, horários, atitudes, sequências... Tentarei deixar que os mais jovens – filhos, netos, alunos - baguncem minha vida e meus esquemas. Que inventem e reinventem horários, prioridades, posição dos móveis, ordem de alimentos, programas. Deixar-se surpreender e passar o bastão de comando deve ser bom. Agora é a vez de eles inventarem a vida. Quem sabe não a inventam melhor do que eu?
Depois, em seguida, vem a atenção à minha renovação particular. Já que o tempo passa e certo declínio é inevitável, é bom no Novo Ano fazê-lo ao menos mais trabalhoso. Renovar-se fisicamente, com atenção, carinho e cuidado ao irmão corpo para que o mesmo não pife. Alimentá-lo saudavelmente, movimentá-lo para que não chie com artrites e males afins. Ou chie menos. Cuidar-se, respeitar os ritmos do corpo, ouvir suas queixas e clamores. Para oferecer aos outros uma presença mais tranquila e menos incômoda. 
Em seguida, e não digna de menos atenção, está a renovação interior, que anda muito descuidada e negligenciada. O acúmulo de trabalho acaba sempre obstruindo veias e artérias da integridade intelectual e sobretudo espiritual. O ativismo é febril e chega a sufocar. No cansaço que marca este fim de ano, quem sabe não tento no ano que vem discernir melhor os compromissos, separar tempo em quantidade adequada para a leitura, a oração, o lazer. E, assim, não atravessar madrugadas ou passar noites insones para dar conta de tudo. 
Renovar igualmente o cuidado com as relações. Refazer laços antigos que por alguma razão afrouxaram ou ameaçam romper-se. Cuidar com especial atenção dos novos amigos que ainda são plantas frágeis no jardim da vida e merecem olhar mais profundo e comunicação mais intensa. Incluir os distantes e os tristes, os sozinhos e os abandonados, aqueles que não percebemos que foram se afastando porque não podem mais participar das nossas circunstâncias por vários motivos: falta de forças, de dinheiro, de tranquilidade... enfim todas as faltas que cavam em nós abismos intransponíveis. 
E se tudo isso não conseguir ser feito, aportar ali onde sou sempre esperada e onde meus tantos anos já tão vividos são sempre renovados por um amor que jamais se desgasta, diminui ou envelhece. Em Deus, que é sempre novo e que a cada manhã me desperta como um Pai, ou um noivo, ou um Amigo maior, dizendo-me que a vida me espera e que sou sempre convidada a vivê-la intensa e plenamente. 

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