sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O MAL NUNCA É TÃO RUIM QUE IMPEÇA A PRESENÇA DO BEM.

 Ninguém melhor o expressou que o pobrezinho de Assis ao rezar: “Onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver trevas que eu leve a luz, onde houver erros que eu leve a verdade...”. Não se trata de negar ou anular um dos polos, mas de optar por um, o luminoso, e reforçá-lo a ponto de impedir que o outro negativo não seja tão destrutivo.
A que vem esta reflexão? Ela quer dizer que o mal nunca é tão mau que impeça a presença do bem; e que o bem nunca é tão bom que tolha a força do mal. Devemos aprender a negociar com estas contradições.
Num artigo anterior tentei um balanço do macro, negativo; assim como estamos, vamos de mal a pior. Mas dialeticamente há o lado positivo que importa realçar. Um balanço do micro nos revela que estamos assistindo, esperançosos, ao brotar de flores no deserto. E isso está ocorrendo por todas as partes do planeta. Basta frequentar os Fóruns Sociais Mundiais e as bases populares de muitas partes para notar que vida nova está explodindo no meio das vítimas do sistema e mesmo em empresas e em dirigentes que estão abandonando o velho paradigma e se põem a construir uma Arca de Noé salvadora.
Anotamos alguns pontos de mutação que poderão salvaguardar a vitalidade da Terra e garantir nossa civilização. O primeiro é a superação da ditadura da razão instrumental analítica, principal responsável pela devastação da natureza, mediante a incorporação da inteligência emocional ou cordial que nos leva a envolvermo-nos com o destino da vida e da Terra, cuidando, amando e buscando o bem-viver.
O segundo é o fortalecimento mundial da economia solidária, da agroecologia, da agricultura orgânica, da bioeconomia e do eco-desenvolvimento, alternativas ao crescimento material via PIB.
O terceiro é o eco-socialismo democrático que propõe uma forma nova de produção com a natureza e não contra ela e uma necessária governança global.
O quarto é o biorregionalismo que se apresenta como alternativa à globalização homogeneizadora, valorizando os bens e serviços de cada região com sua população e cultura.
O quinto é o bem viver dos povos originários andinos que supõe a construção do equilíbrio entre seres humanos e com a natureza à base de uma democracia comunitária e no respeito aos direitos da natureza e da Mãe Terra ou o Índice de Felicidade Bruta do governo do Butão.
O sexto é a sobriedade condividida ou a simplicidade voluntária que reforçam a soberania alimentar de todos, a justa medida e a autocontenção do desejo obsessivo de consumir.
O sétimo é o visível protagonismo das mulheres e dos povos originários que apresentam um nova benevolência para com a natureza e formas mais solidárias de produção e de consumo.
O oitavo é a lenta, mas crescente acolhida das categorias do cuidado como pré-condição para realizar uma real sustentabilidade. Esta está sendo descolada da categoria desenvolvimento e vista como a lógica da rede da vida que garante as interdependências de todos com todos assegurando a vida na Terra.
O nono é a penetração da ética da responsabilidade universal, pois todos somos responsáveis pelo destino comum nosso e o da Mãe Terra.
O décimo é o resgate da dimensão espiritual, para além das religiões, que consente nos sentir parte do Todo, perceber a Energia universal que tudo penetra e sustenta e nos faz os cuidadores e guardiães da herança sagrada recebida do universo e de Deus.
Todas estas iniciativas são mais que sementes. Já são brotos que mostram a possível florada de uma Terra nova com uma Humanidade que está aprendendo a se responsabilizar, a cuidar e a amar, o que afiança a sustentabilidade deste nosso pequeno Planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário