quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O SÍNODO DA AMAZÔNIA.


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O noticiário desta semana informa que os cardeais brasileiros estão sendo espionados pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que relata ao governo recentes encontros deles com o papa Francisco, no Vaticano, para prepararem o Sínodo (do grego, ‘caminhar juntos’) sobre a Amazônia, a se reunir em outubro, em Roma.

“Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí”, declarou o general Augusto Heleno. Isso faz recordar a famosa pergunta de Stálin na Segunda Grande Guerra: “Quantas divisões possui o Vaticano?”

Segundo o Documento Preparatório do Sínodo, predomina na Amazônia a “cultura do descarte”, somada à mentalidade extrativista, que convertem o planeta em lixão. “A Amazônia, região com rica biodiversidade, é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja”. (...) “É de vital importância escutar os povos indígenas e todas as comunidades que vivem na Amazônia, como os primeiros interlocutores deste Sínodo”.

A Igreja denuncia situações de injustiça na região, como o neocolonialismo das indústrias extrativistas, projetos de infraestrutura que destroem a biodiversidade, e imposição de modelos culturais e econômicos estranhos à vida dos povos.

Nos nove países que compõem a Pan-Amazônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo Guiana Francesa como território ultramar), registra-se presença de três milhões de indígenas, no total de 390 povos. Vivem nesse território também entre 110 a 130 “Povos Indígenas em Situação de Isolamento Voluntário”.

A bacia amazônica representa uma das maiores reservas de biodiversidade (30 a 50% da flora e fauna do mundo); de água doce (20% da água doce não congelada de todo o planeta); e possui mais de 1/3 das florestas primárias.

Segundo os bispos, “o crescimento desmedido das atividades agropecuárias, extrativistas e madeireiras da Amazônia, não só danificou a riqueza ecológica da região, de suas florestas e de suas águas, mas também empobreceu sua riqueza social e cultural, forçando um desenvolvimento urbano não integral nem inclusivo da bacia amazônica.”

Lamentavelmente, “ainda hoje existem restos do projeto colonizador que criou manifestações de inferiorização e demonização das culturas indígenas. Tais resquícios debilitam as estruturas sociais indígenas e permitem o desprezo de seus saberes intelectuais e de seus meios de expressão.”

O papa Francisco afirmou em Puerto Maldonado, Peru, em janeiro de 2018: «Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios com o estão agora».

O pontífice denunciou esse modelo de desenvolvimento asfixiante, com sua obsessão pelo consumo e seus ídolos de dinheiro e poder. Impõem-se novos colonialismos ideológicos disfarçados pelo mito do progresso que destroem as identidades culturais próprias. Francisco apela à defesa das culturas e à apropriação de sua herança, que é portadora de sabedoria ancestral. Essa herança propõe uma relação harmoniosa entre a natureza e o Criador, e expressa com clareza que «a defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida».

Hoje, o grito da Amazônia ao Criador é semelhante ao grito do Povo de Deus no Egito (cf. Ex3,7). É um grito desde a escravidão e o abandono, que clama por liberdade e escuta de Deus. Grito que pede a presença de Deus, especialmente quando os povos amazônicos, ao defenderem suas terras, têm seu protesto criminalizado, tanto por parte das autoridades como da opinião pública.


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