Tudo indica que a filosofia de fuga da dor está incluída também no
processo de educação. Os pais passam aos filhos muito mais o que são do
que o que falam. Todas as linhas psicológicas acentuam a internalização
dos modelos, não só na infância como em toda a existência. Até que ponto
a insatisfação das crianças e adolescentes não está mostrando o
desconforto vivencial dos pais? A permissividade paterna pode esconder
culpas por omissão, omissão até por não exigir o que deve. Sabe-se que a
segurança do líder é o elemento mais influente na conduta e
aquiescência do liderado.
Os pais, no geral, já estão se
conscientizando que o agir é mais importante que o falar e que a
autenticidade, até para assumir o erro, é mais valiosa quando alguém
investe na mudança do outro. Pais não são infalíveis, mas a dissonância
entre o sentir, pensar e falar, quando transmitida a novas gerações é
como uma semente a ser germinada numa terra sem compostos nutritivos.
Isto é válido para todo o educador, o qual seu medo e insegurança
transmite uma fragilidade causando um desconforto tão grande no
educando, que se defende agredindo. Como consequência de tudo isso,
constata-se diuturnamente uma violência que impera em todas as camadas
sociais, principalmente por parte de jovens sem orientação e sem normas
internas. As figuras de autoridade e respeito necessitam voltar a seu
posto, começando no seio familiar, sem a qual continuará este caos
social pelos comportamentos sem lei.
A escola hoje está sofrendo por
não se reestruturar e por ser também produto de um sistema que reforçou
a educação excessivamente permissiva com regras tênues e condutas
pedagógicas ineficazes. A supremacia dos conteúdos cognitivos
“técnico-científicos” para atender as contingências do mundo do trabalho
sobre as práticas formativas que estimulem o desenvolvimento da
inteligência emocional e os valores espirituais está colaborando também
para que se mantenha este processo “educativo” em vigência.
A
necessidade de unir a família à escola é um imperativo para que se
fortifiquem mutuamente tendo em vista o filho/aluno, é propalada há
décadas, mas o que se vê é o inverso, tendo como resultados cidadãos
pouco informados, com muitas defasagens no processo evolutivo. Há
décadas está sendo propalado esse trabalho conjunto, mas os resultados
têm apresentado defasagens evolutivas e formativas nada gratificantes.
Apesar dos aspectos negativos a família de hoje tem saldos positivos
que podem ser ressaltados como ganhos evidenciando-se o valor da mulher,
especificamente no mundo ocidental. O par conjugal tem direitos mais
igualitários e, embora a mulher tenha a vida mais atribulada com a dupla
jornada, hoje ela é mais validada em todos os setores. Isto é muito
significativo e esperançoso na medida em que o casal deixa de se
caracterizar como o dominador e o dominado por ter direitos iguais e
deveres compartilhados. A figura da mãe para os filhos foi mudando de
status no seio familiar e isto é importante, tanto para a realização
egoica dos filhos, como para a sociedade como um todo. A mulher atuando
nas mais variadas áreas trazendo sua sensibilidade e emocionalidade
amplia a possibilidade de amorização das relações humanas.
Os pais,
como consequência, estão mudando seu papel. As tarefas do homem no lar
foram ampliadas. Hoje o pai ajuda nas lidas domésticas e cuida dos
bebês, assumindo mais o papel de cuidador. Este é um grande bem para a
família, na medida que externa mais seu lado emotivo, sensível, dando-se
até o direito de chorar. A sensibilidade masculina objetivada numa
lágrima é uma das grandes revelações humanas reativando esperanças de
uma família mais afetiva em todos os sentidos.
Como resultado
altamente positivo, claro que também atribuído a uma alimentação e
melhoria de qualidade de vida, as crianças hoje são mais vivas, mais
inteligentes, mais surpreendentes na linguagem e, principalmente na
espontaneidade e criatividade.
Com referência às famílias
reconstituídas que muitas vezes causam problemas sérios nas crianças, em
especial na saída do lar de um progenitor, observa-se que apesar disso
quando os pais não incluem a criança no seu conflito, ela supera o
trauma com maior facilidade, aceitando melhor o padrasto, o meio irmão e
os outros familiares do novo cônjuge.
Em todos os aspectos as
crianças hoje brigam mais por seus direitos, mas se adaptam às variadas
circunstâncias quando os adultos sabem conduzi-la. Diante de tudo o que
está posto este é o nosso momento. Lutas, dificuldades, desafios, dores
são contingências do ser. Cabe à família dar um valor maior ao bem, à
vida com suas necessidades, redimensionando o que realmente constrói e
se alimentando com a alegria de ser a grande responsável pela
transformação de um mundo melhor.
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