quarta-feira, 3 de julho de 2013

O MEDO DO TERRORISMO DOMÉSTICO

O novo herói da transparência democrática se chama Edward Snowden, tem 29 anos, e nasceu em Maryland, vizinho da sede da poderosa NSA (sigla em inglês da Agência de Segurança Nacional dos EUA). Ele nunca completou o ensino médio e foi dispensado do serviço militar, em 2003, devido a um ferimento. Como demonstrava talento para a informática, a CIA o recrutou.
Agora ele se encontra refugiado por denunciar, com provas, que o governo dos EUA, através da NSA, controla a vida privada de milhões de cidadãos. Os jornais The Guardian, britânico, e Washington Post, estadunidense, publicaram os documentos sobre o projeto Prisma, vazados por Snowden em maio deste ano. Ele trabalhava para empresas contratadas pela NSA. 
Os documentos comprovam que a NSA tornou-se o verdadeiro Big Brother, descrito no célebre romance 1984, de George Orwell. Ela pode entrar em seu e-mail, gravar todos os seus telefonemas, apropriar-se de todos os dados de seu cartão de crédito, como já vem monitorando a vida privada de quase 5 milhões de cidadãos. Segundo Snowden, basta conhecer o e-mail de uma pessoa para se ter acesso a todo conteúdo do computador dela. 
Com a invenção do Facebook já não é preciso recrutar espiões. Muitos usuários descrevem ali sua rotina, preferências e até intimidades amorosas. Mark Zuckerberg, seu inventor, admite: “Utilizamos as informações (dos internautas) para prevenir atividades potencialmente ilegais.” Todo adepto do Facebook, ao clicar seu acordo às normas, aceita que todos os seus dados sejam “transferidos e estocados nos EUA”. Justificou-se Snowden: “Não quero viver num mundo em que tudo que faço e digo fica registrado”.
O governo Obama não sabe onde enfiar a cara. Os documentos comprovam que a NSA burla inúmeras leis dos EUA, além de ser protegida por “leis secretas”, recurso que, ao arrepio dos princípios do Direito, é adotado pelas ditaduras.
Edward Snowden ingressa, agora, na seleta lista dos whistleblowers (acionadores de alertas). Um dos mais famosos deles é Daniel Ellsberg, funcionário do Departamento de Estado que, em 1971, vazou os papéis do Pentágono denunciando o verdadeiro caráter da guerra do Vietnam. Na época, ele trabalhava para a Rand Corporation, instituto de pesquisa vinculado aos serviços secretos estadunidenses. 
Ellsberg fez vazar 43 volumes ultra confidenciais, com 7 mil páginas, provando que, de Eisenhower a Nixon, todos os presidentes mentiram sobre o envolvimento dos EUA no Vietnam. Isso fez mudar a opinião pública que passou a exigir o fim da guerra - que terminou com a derrota de Tio Sam. 
Nixon ficou tão furioso que ofendeu a progenitora do denunciante e mandou invadir o consultório do psiquiatra dele, em busca de informações que pudessem desacreditá-lo, e tentou colocar LSD em sua sopa. O processo se encerrou em 1973, quando a defesa de Ellsberg comprovou que houve escutas ilegais e “provas” fabricadas. Hoje, aos 82 anos, ele defende os jovens acionadores de alertas.
Outro é Bradley Manning, analista militar no Iraque que, aos 22 anos, repassou ao WikiLeaks de Julian Assange 700 mil documentos. 
Como Snowden e Manning, funcionários subalternos, puderam ter acesso a documentos ultra secretos? A resposta, segundo analistas, é o pânico que tomou conta dos EUA após a queda das Torres Gêmeas, em 2001. A pressa em recrutar agentes para os serviços de espionagem impede uma seleção mais criteriosa. 
Obama foi enfático: “É preciso admitir que não se pode ter 100% de segurança e, ao mesmo tempo, 100% de privacidade e nenhum inconveniente.”
Eis a consagração do Estado Policial, capaz de controlar todos os seus cidadãos. O medo do terrorismo doméstico faz com que, hoje, 56% dos estadunidenses apoiem a vigilância telefônica e eletrônica da população. 
Temos, então, um arremedo de democracia. Uma democracia sem liberdade e privacidade. Comprovar que democracia e liberdade individual não são compatíveis é, sem dúvida, uma vitória de Osama Bin Laden. 

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