terça-feira, 9 de julho de 2013

IMORTAIS.


A semana começou bem. Perguntaram em sala se D. Pedro II tinha sido presidente do Brasil, se o livro que Graciliano Ramos escreveu quando estava preso na Ilha Grande se chama Memórias de um Sargento de Malícias [com "a" mesmo] e, para completar, se São Jorge foi guilhotinado durante a Revolução Francesa. Faz parte.
Confesso, porém, que isso é pinto perto da notícia mais impressionante que recebi nos últimos anos, vinda de um camarada incapaz de qualquer brincadeira: No dia em que Fernando Henrique Cardoso foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, descobri que Fernando Collor de Mello é imortal da Academia Alagoana de Letras desde 2009 (foto, na posse). Como é que eu ainda não sabia disso, minha gente?
O atual senador é autor de grandes obras da prosa canarinho e eu não desconfiava. Collor escreveu, por exemplo, O desafio de MaceióMaceió: 20 anos em 3 e O Manual dos Municípios. Vou imediatamente correr atrás para ler as obras do imortal, eleito com esmagadora maioria dos votos para a casa a qual pertenceu o poeta Jorge de Lima.
Collor e FHC não são os únicos ex-presidentes do Brasil a alcançar a imortalidade. Getúlio Vargas e José Sarney foram eleitos para a Academia Brasileira de Letras. Vargas, inclusive, conseguiu a proeza de virar imortal sem escrever um mísero panfleto. Sarney, autor do livro de poemas Marimbondos de Fogo, derrotou na disputa o poeta Mário Quintana.
Eu bem que deveria ter desconfiado que Collor alcançasse a imortalidade quando o então presidente subiu a rampa do Planalto acompanhado por duplas sertanejas e a bandeira nacional foi hasteada ao som de Pense em Mim, o clássico de Leandro e Leonardo. Ou então quando Collor fez uma daquelas corridas matinais pelas ruas de Brasília, acompanhado por uns trinta índios a caráter, com direito a cocar, tanga e sandálias havaianas.
Se isso for tendência latino-americana, aguardo para breve a eleição de Carlos Menem para a Academia Argentina de Letras. O ex-presidente argentino, lembro-me bem, em certa ocasião apareceu em um programa de auditório e participou de uma brincadeira que incluía rodar em um bambolê, subir escadas, descer por um escorrega, cair dentro de um tanque de piche, rolar numa cama de penas de galinha e participar, feito uma d´angola, com o grupo Los Tremendos de uma coreografia da imortal dança do passarinho. Isso é garantia de imortalidade.
Meu imortal predileto, porém, continua sendo o general Aurélio de Lira Tavares. Ministro do Exército no governo Costa e Silva e entusiasmado defensor do AI-5, Lira Tavares fez parte da junta militar que assumiu o governo do Brasil quando Costa e Silva teve um derrame, num dos momentos mais pesados da ditadura. Governou o país, ao lado dos ministros da Marinha e da Aeronáutica, até a posse do general Médici.
Entre um ato institucional e outro, Tavares foi poeta bucólico [palavras do próprio] e dedicou-se especialmente aos sonetos. Não lançou livros assinando o nome de batismo. Preferia usar o fabuloso epíteto de Adelita: A de Aurélio; Li de Lira e Ta de Tavares. Adelita foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1970. Ocupou a cadeira número 20, que tem como patrono Joaquim Manuel de Macedo. Vou procurar algum poema do general para postar no Gente, Lugares e Cosas qualquer hora dessas.
Esse espaço, portanto, ciente da honra que eleva e consola, parabeniza com imperdoável atraso a Academia Alagoana de Letras pela escolha do imortal Collor de Mello. Saber que Collor é imortal me impactou de tal forma que sequer consigo pensar na eleição de FHC para a ABL. É irrelevante.
Fico por aqui lançando, desde já, a ideia de que a nobre instituição das Alagoas, após a imortalidade de Collor, eleja para seus quadros mais um alagoano ilustre, que muito contribuiu para as letras canarinhas: Mário Jorge Lobo Zagallo.

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