segunda-feira, 8 de julho de 2013

NA INTERNET, SOMOS ANJOS E DEMÔNIOS



A era digital torna superficiais as relações afetivas? Banaliza os sentimentos? Potencializa o circuito efêmero do “ficar”? Distancia as pessoas do “olho no olho” e do “cara a cara”, no filtro embaçado do Facebook e do Twitter? Favorece os vícios online, por exemplo, na zona obscura da pornografia?
As acusações contra os usos e abusos na web são muitas, mas o psicanalista Jorge Forbes tende a repetir quantos “nãos” forem necessários para responder às dúvidas regadas a ceticismo aí de cima.
Forbes é um otimista da modernidade. “O amor na era digital é responsável”, diz ele. “Se alguém está com alguém é porque quer livremente estar.” As relações afetivas não são mais intermediadas, como no passado, pela natureza, por algum deus ou pela razão iluminista. “O amor é o laço social por excelência desta nova era”, acredita.
“A internet é um meio de perdermos o medo juntos”, diz o sociólogo catalão Manuel Castells, estudioso dos hábitos e costumes de rede. Vale para a vida civil assim como para a vida afetiva. Nem em uma nem na outra o medo é bom parceiro. Castells, que se alterna entre Berkeley, o MIT e a Universidade Aberta da Catalunha, esteve no Brasil como convidado do Fronteiras do Pensamento. Está para lançar o livro Redes de Indignação e Esperança.
A ambiguidade do título reflete um dos papéis que Castells atribui à internet: a de aglutinar “demandas emocionais” até então desarticuladas e muitas vezes incoerentes. A era da “autocomunicação de massa”, que atropela a mídia convencional e desafia a representação política, tende a se converter em fator coletivo de mobilização, por um lado, mas acaba por radicalizar o culto umbilical de sua mera individualidade. “Somos anjos e demônios”, adverte Castells. “Viver na internet tem um perigo: nós mesmos.”

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