domingo, 14 de julho de 2013

É PRECISO ACREDITAR NO AMOR

Já dizia o grande teólogo suíço Hans Urs von Balthasar: só o amor é digno de fé. Para mim, a esta altura da vida,  não há nada que seja mais digno de fé. Não há outra coisa que mova montanhas, que seja digna de credibilidade e das apostas mais ousadas e absurdas que o amor.
Amor é coisa de experiência, de prática, mas também tem – e muito! – a ver com a fé. É preciso acreditar, para que o amor se constitua como sólido, belo, profundo. É preciso fé, para que não falhe o amor e se transforme em volatilidade irresponsável. Andar com fé é preciso e a fé não costuma falhar. Sobretudo quando é fé no amor. 
Os gregos distinguiam três formas de amor: Eros, feito de desejo, atração, pulsão sexual e energética; filia, o amor mais de amizade, fidelidade; e agape, feito de oblatividade desinteressada e gratuita, entrega total e generosidade, fé e confiança inesgotáveis, paciência que se reinventa a cada dia. 
Hoje se tem a impressão, olhando namoros e as experiências de vida a dois, uniões estáveis e casamentos, de que o primeiro sentido tem a tendência de engolir os demais e ser interpretado em dimensão totalizante. Isso tem como consequência relações curtas, efêmeras, deixando um rastro de frustração e infelicidade e, pior ainda, crianças inocentes, que acabam sendo frutos irresponsáveis de relações mal compreendidas. 
Analistas do assunto emitem diagnósticos que, em geral, vão na direção de um esgotamento do desejo, entendido aí como desejo sexual. Parece-me que o problema é outro. Pelo menos em muitos casos, pois a generalização é sempre odiosa. O problema é falta de fé, de acreditar que o amor não acaba, apenas muda de configuração com o passar do tempo. E que é preciso estar atento para poder reinventá-lo e redescobri-lo a cada passo.
Reinvestir, apostar de novo, cultivar o que parece morto é algo que ninguém está disposto a fazer. Tem pressa de livrar-se do parceiro ou parceira, sem o qual não parecia poder viver. Às vezes é apenas uma fase que, se enfrentada adequadamente, poderia reemergir com beleza e profundidade muito mais maduras e melhores. Mas não. Há que terminar, partir para outra. Há urgência em deixar para trás o amargo sabor dos últimos tempos não felizes, tão diferentes dos iniciais. E busca-se outra relação, que dentro de um tempo também se mostrará temporária, efêmera. E novas frustrações serão vividas, novos sofrimentos. 
Meu Deus! Será que não dá para investir um pouco mais? Acreditar nas promessas feitas e dias vividos quando o mundo parecia acabar se ele ou ela não estivessem presentes? Não dá para confiar que as noites passadas em claro esperando o dia raiar para ver de novo a pessoa amada foram reais e não produto da imaginação?
Jovens e adultos, tenham fé. Amor é graça, mas também tarefa. Aquilo que aconteceu às vezes sem esperar, tem que ser trabalhado e retrabalhado. Em cada etapa da vida. Da paixão alucinante se passa ao cotidiano compartilhado que é feito não só de alegrias e êxtases, mas também de cansaço, trabalho, tentativas constantes de superar dificuldades. 
Quando chega um filho, após a alegria do nascimento, a intimidade sofre. Há que atender o bebê em noites insones que resultam em dias pesados e em impaciências várias. Se há amor, há superação desta fase e o amor renasce. Senão, como haveria o segundo filho e, às vezes, o terceiro? Ou vai se achar que está na hora de acabar porque o menino chora de noite? O outro também chorará. E o outro. E o outro...
Já dizia o grande artista belga Jacques Brel, em sua inesquecível canção “Ne me quitte pas”, que “há terras queimadas que dão mais trigo que o melhor abril” e quando, ao cair da noite, o céu se inflama, “o vermelho e o negro se encontram e se fundem.” Há que acreditar que a terra seca voltará a ser fecunda. E dará frutos melhores que o melhor dos abris.

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